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15 JAN Notas encantadas

Mal Marta Gambôa transpõe a porta principal do Lar de Idosos da Fundação D. Pedro IV, em Marvila,
07 Lisboa, o ambiente altera-se. A solidão dá lugar à amizade e a indiferença ao sorriso. Marta leva-lhes música
e alegria

«Pensamos nos idosos como alguém que está à espera que o tempo passe», comenta Marta, de 26 anos. «Tentamos
trazer algo de novo, procurar a parte saudável e viva da pessoa».

É este o objectivo da Associação Portuguesa de Música nos Hospitais e Instituições de Solidariedade (APMHIS), na sua
acção pelo país.

A ideia que está na génese desta iniciativa – Música nos Hospitais – foi importada de França. «Uma parceria entre
profissionais da saúde e da cultura», explica Marta, uma das fundadoras da associação.

Todas as semanas, 16 músicos profissionais deslocam-se a instituições como o Hospital Garcia da Horta ou a Santa
Casa da Misericórdia de Almada para aquecer, com música, o coração de doentes ou idosos.

Na Fundação D. Pedro IV, os que podem seguem Marta pelos corredores. O som da pandeireta ou da viola entoa pelas
enfermarias e espalha-se pela freguesia através do pátio. A voz de Marta é melódica e há sempre quem a acompanhe nas
canções.

À sua volta forma-se um ‘grupo musical’ e improvisam-se ritmos. O que conta é participar. Há instrumentos para todos
os gostos: até um regador serve de trombone.

Porque há quem tenha mais dificuldade em mover-se, Marta vai sempre às camaratas. A entrada no quarto faz-se com
uma canção de boas-vindas. Diminui-se o volume da televisão e rasgam-se sorrisos.

«Mas nem sempre é assim», conta Marta. «Há quem não queira a nossa presença. Dizem ‘não’, talvez por esse ser
o único ‘não’ que podem dizer».

A música sempre fez parte da vida de Marta. Aos nove anos começou a tocar na banda filarmónica da aldeia onde
nasceu, em Olhalvo, Alenquer, e aos 12 anos já aprendia no Conservatório de Torres Vedras.

No 12º ano optou por formar-se em Arquitectura Paisagística, em Évora, mas a música impôs-se e, depois de formada,
nunca chegou a praticar o curso.

Já antes participava na Tuna Académica e em grupos de cantares tradicionais, e quando leu no jornal que ia decorrer
uma formação para músicos em ambiente hospitalar, não hesitou. «Lembro-me de pensar: ‘eu quero fazer isto!’».

Hoje, o seu tempo é dividido entre a Música nos Hospitais e aulas de Educação Musical ao Ensino Básico. Entrega-se
sempre de alma e coração. Por isso, na hora da saída do lar, com o seu colega Nuno, a porta fecha-se com a saudação
sentida de quem fica: «Até para a semana, meus queridos!».
catarina.cristao@sol.pt

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