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ÍNDICE
1*48.
i. filosofía e religiáo
II. DOGMÁTICA
IV. MORAL
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
1. Dados biográficos
4 . •
Sonriente Deus sabe até que ponto ser¿ válida a interpretacáo
dada por Chevaher á conduta de Bergson. Nao recusamos crer que
seja auténtica.
Faz-se agora mister expor
— 5 —
Aquela seria própria de quem se contenta com o estrito cum
plimento da lei, fechando-se a qualquer iniciativa de perfeicáo
que ultrapasse os limites do dever; é, em suma, a ética do
burgués rotineiro. A moral dinámica, ao contrario, caracte
rizaría as almas abertas a todos os nobres objetivos, almas
tendentes a fazer mais do que aquilo que é de estrita obri-
ga;áo; exercer-se-ia, por exemplo, na prática das bem-aven-
turancas evangélicas («Bem-aventurados os pobres..., bem-
-aventurados os que tém fome e sede..., bem-aventurados
os que sofrem perseguigáo...»). É pela Moral dinámica que
o homem se adata por excelencia ao «impulso vital», e chega
á vida mística. Esta significa emancipacáo frente a toda lei
e todo dogma religioso; Deus fala interiormente aos místicos,
levando-os a rejeitar as proposigóes das religióes positivas,
pois os dogmas, para Bergson, nao sao mais do que a expressáo
subjetiva e simbólica da experiencia mística. Assim se esva-
nece qualquer forma de Religiáo objetiva, com suas proposi-
cóes dogmáticas e moráis.
Tais sao as grandes linhas do pensamento bergsoniano,
tal como se depreende das obras do filósofo.
— 6 —
É nesta, portante, que todo homem tendente á vida mística
há de aprender as sendas que levam a Deus. — Sobre as cre-
denciais de Cristo e da Igreja Católica, cf. «P.R.» 7/1957,
qu. 1; 7/1958, qu. 4 ; 14/1959, qu. 2.
— 7 —
II. DOGMÁTICA
INTERESSADO (Curitiba) :
1. Vocagao em geral
— 8 —
uma dessas vocagóes o Senhor anexou os aux:lios necessáriog
ao bom desempenho da mesma e á santificagáo do individuo.
É sómente na sua vocagáo própria que a pessoa humana en-
contra as gragas divinas de que precisa para chegar á con
sumado ; fora da sua vocagáo, o homem perde tempo e es-
forgos ; váo, pois, seria tentar tarefa que o Senhor nao tivesse
assinalado, por mais sedutora que fósse tal incumbencia.
— 9 —
religiosos de pobreza, obediencia e castidade; casa-se, e tem filhos
felizes, mas, embora se dé muito bem com todos os seus, sente-se
continuamente perturbada; parece-lhe que o seu quadro de vida está
radicalmente viciado por nao estar e!a seguindo a vocacáo religiosa.
— Será que tal senhora nao tem realmente razáo para recear estar
caminhando íora da via ? — Nao; mesmo na hipótese de que o
Senhor Deus Ihe assinalasse a entrada na vida religiosa regular
quando ela tinha 18 anos de idade e de que da tenha pecado rejei-
tando tal convite, mesmo em tal hipótese, no momento atual a
Vontade de Deus estaría certamente mandando que ela vivesse
como esposa e máe, cumprindo sua tarefa nao em tristeza, escrúpulos
e remorsos, mas na alegría de servir a Deus com amor e confianca.
Ainda que essa pessoa tivesse pecado seriamente aos 18 anos, tal
pecado, urna vez devidamente acusado e perdoado pelo sacramento
da Penitencia, nao deveria mais absorver a sua atencao, pois isto
seria, da parte déla, derrogar á virtude da esperanca. O Senhor,
permitindo que ela entrasse no estado conjugal pela via ácima
enunciada, certamente Ihe assinalou as gracas necessárias para se
santificar na vida matrimonial. Essa vida matrimonial, portanto,
ela a pode seguir com paz de animo e alegría, desde que estela
arrependida de seus pecados.
— 10 —
ser santo, segundo as suas notas pessoais, que tal homem é
chamado á missáo de escritor, tal outro a exercer a medicina,
um terceiro á tarefa de educador, etc. Repitamo-lo: há urna
vocagáo comum, para a qual as demais convergem — a voca
gáo á santidade.
— 11 —
Ésses íatos, embora elevem as fórcas da natureza, elevam-nas
infinitamente e nao podem de modo algum ser submetidas as leis
físicas, pois o Espirito sopra onde quer* (ene. «Divini illius Magistrb).
Por conseguinte. depois de se considerar a psicología do candidato,
será forcoso levar em conta criterios sobrenaturais, dos quais uns
sao positivos, os outros negativos.
— 12 —
modalidade de vocacáo é geralmente maior que o das outras. Essa
pura visto sobrenatural acompanhada de urna vontade firme e perse
verante de dar tudo ao Senhor, independentemente da compensagáo
sensível que tal doagáo passa acarretar para o sujeito respectivo,
é étimo indicio de vocagáo. A experiencia, porém, ensina que Deus,
cuja sabedoria tudo dispóe com fórga e suavidade, nao costuma
subtrair o deleite sensivel aqueles que Ele escolhe.
Urna vez apurados os diversos indicios de vocacáo, o juizo decisivo
cabe geralmente, em cada caso, ao Diretor espiritual.
— 13 —
3. Qucstoes complementares
Deus nos ensinou a d'Éle nao exigir milagres (caso file os queira
realizar, efetua-os gratuita e imprevistamente); cf. Mt 4,7. Ora
exigiría milagre a criatura que expusesse o germen de sua vida
sobrenatural aos perigos déste mundo (espetáculos licenciosos, leituras
mórbidas, companhias de má fama...) e, apesar dlsso, pretendesse
que Deus nela conservarse o atrativo pelo estado religioso ou sacer
dotal. Tal criatura faria o que a Escritura condena sob o título
de «tentar a Deus» (= pedir sem motivo justificado derrogacáo ao
curso normal das coisas).
Com isto nao queremos dizer seja ilícito experimentar as vocacóes,
submetendo-as a testes de índole sobrenatural: reconher-se-á tanto
aos candidatos como a seus país e superiores o direito de o fazer.
Contudo teráo todo o cuidado para n&o empreender, sob éste pre
texto, alguma obra pecaminosa e para nao recorrer a provas tais
que. conforme as previsdes da prudencia, sejam aptas a destruir
na alma a chama da fé e do amor a Deus.
«Se (os pais) receiam que a vocacáo (da crianca) nao passe
de impressao fugitiva, submetam-na á prova. Mas, saibam-no bem:
submeter á prova nao significa sufocar; seria realmente um crime
tomar urna crianga sob pretexto de melhor conhecer a sua fórca
de vontade, e envia-la fríamente para lugar em que estivesse fatal
mente exposta á perda da inocencia e da fé!» (Mons. Lobbedey, bispo
de Arras. Franca : Carta Quaresmal de 1913).
— 14 —
Verdade é que a vocagáo vem de Deus. Nao menos ver-
dade, porém, é que o Senhor a quer conceder envolvendo ge-
ralmente a colaborado e, em particular, a prece dos homens.
— 15 —
1) Logo no primeiro vaticinio da Biblia (chamado «o
Proto-evangelho»), o Salvador é anunciado como genuino
memoro da estirpe humana :
— 16 —
regio de comando, até que venha o Messias, a quem tocará
a realeza e ao qual as nacóes prestaráo obediencia» ícf.
Gen 49,10).
— 17 —
«Quando teus dias se completarem e te repousares com teus
pais, conservare! após ti a linhagem procedente de tuas entranhas
e corroborarei a sua realeza... Serei para Ele (o Filho de Davi
por excelencia, o Messias) um Pai, e Ele será para Mim um filho.
Tua casa e tua realeza subsistirao para sempre diante de Mim,
teu trono será confirmado para sempre» (2 Sam 7,12.14.16; cf. SI88).
A tais dizeres correspondem no Novo Testamento as palavras do
anjo a María Santissima :
«(O Salvador) será grande, e chama-Lo-ao Filho do Altíssimo.
O Senhor Lhe dará o trono de Davi, seu pai; reinará sobre a Casa
de Jaco para sempre, e seu reino nao terá fim» (Le l,32s).
— 18 —
«Um menino nos nasceu,
um íilho ñas íoi dado;
a soberanía repousa sobre seus ombros,
e ele se chama:
Conselheiro admirável, Deus lorte,
Pai eterno, Príncipe da paz.
O seu imperio será grande e a paz sem fim
sobre o trono de Davi e em seu reino,
file o firmará e o mantera
pelo direito e pela Justina
desde agora e para sempre».
(Is 9, 5s)
— 19 —
2) A mansidio de alma do Messias e sua obediencia sao
descritas com grande beleza de estilo nos famosos cánticos
do «Servo de Javé» :
— 20 —
A propósito déste texto observe-se o seguinte: o profeta divide
a historia inteira em dois tempos: o passado e o futuro, os quais,
segundo a teologia do Antigo Testamento, correspondem respectiva
mente á época do pecado e á do Messias. A primeira, no trecho
ácima, é caracterizada por humilhacáo, e humilhacáo das regiSes de
Zabulón e Neftalí, regides muito expostas a incursóes de exércitos
estrangeiros (a guerra assim é apresentada como característica do
mundo atetado pelo pecado). A época posterior, messiánica, é marcada
por gloria, e gloria no distrito das nagoes (gentíos) ou seja, na
Galiléia (em hebraico, Gelll significa «distrito»); a escolha da Galiléia
como lugar de Revelacáo da gloria, no texto de Is 8,23, insinúa
a universalidade do reino do Messias.
Ora íoi justamente na Galiléia que Jesús Cristo comecou a
exercer o seu ministerio público, cumprindo destarte a profecía de
Isaías, conforme nota SSo Mateus (4,12-16):
«Jesús voltou á Galiléia, e, deixando Nazaré. foi estabelecer-se
em Cafarnaum, a beira-mar, nos confins de Zabulón e Neftalí. Assim
se cumpriu o oráculo do profeta Isaías: 8,23-9,1».
— 21 —
sido apreendidos por estrita revelagáo sobrenatural. Tenham-se
em vista os seguintes tragos :
1) O Profeta Zacarías (9,9s) prevé a acolhida regia,
triunfal, do Senhor em Jerusalém, montado sobre um jumen-
tinho, a dar o exemplo da humildade e da mansidáo :
Sao Mateus observa como tal visao profética teve seu cumpri-
mento quando o Senhor entrou em Jerusalém no domingo de Ramos
(21,5). O jumento, em oposicáo ao cávalo de guerra (cf. Zac 9,10),
simboliza o caráter brando e pacifico do Rei-Messias; era a montadura
dos antigos reis e chefes (cí. Jz 5,10; 10,4).
— 22 —
c) A íiagelacáo no dorso, os escarnios na face injuriada por
escarros dos adversarios sao de antemáo contemplados em Is 50,6-9.
— 23 —
— Nao há dúvida. Será preciso, porém, lembrar o seguinte: a
Previdencia Divina decretou salvar o mundo entre duas vindas do
Senhor Jesús a esta térra: na primeira o Messias devia sujeitar-se
as conseqüéncias do pecado de Adáo, isto é, á dor e á morte padecidas
numa auténtica natureza humana, a fim de santificar a própria dor
e a própria morte; em conseqüéncia, estas deixaram de ser mero
castigo, para se tornarem como que algo de divino e instrumento
de redengáo para o género humano. Cristo triunfou da morte, déla
fazendo o canal da imortalidade gloriosa. Tendo dado ésse sentido
novo as realidades antigás, o Senhor houve por bem substrair aos
homens sua presenca visivel e deixar que a historia prossiga, marcada
agora por estas duas notas antagónicas: morte e, nao obstante,
certeza de Vitoria final sobre a morte, desordem decorrente do pecado
e, nao obstante, esplendor (latente ñas almas) oriundo da graca
do Redentor... Os tempos se desenrolaráo assim até a segunda
vinda de Cristo, que no dia determinado pela sabedoria do Pai
se manifestará de novo, dessa vez na plenitude de sua gloria de
Rei. Entáo encerrar-se-á a obra do Redentor nos remidos: os corpos
dos homens que tiverem aceito a salvacáo, serao ressuscitados
gloriosos a semelhanca do corpo de Cristo (a gloria que hoje é
latente ñas almas dos filhos de Deus, transfigurará os corpos), c o
mundo irracional, que junto com o homem sofre atualmente as
conseqüéncias do pecado, será remodelado, havendo entáo «céus novos
e térra nova» (cf. Apc 21,1; Is 66,22). Entrementes, enquanto vivemos
entre a primeira e a segunda vinda do Messias, o género humano
e a natureza inteira encontram-se sob o regime do «Sim» e do «Nao»:
um germen e penhor de renovacáo foi-lhes dado, sim, mas ainda nao
se acha plenamente desabrochado.
Feita esta observacAo, vcrifica-se que sao as profecías referentes
ao desdobramento da Redencáo e á renovacáo do universo que ainda
aguardam sua total realizacáo ao passo que os oráculos concernentes
á vida do Salvador na Palestina já se cumpriram.
Inegávelmente, os profetas do Antigo Testamento era suas
predicóes fundiram os eíeitos da primeira e da segunda vinda do
Salvador como se a Redencáo se devesse dar numa única etapa; dai
a perplexidade que por vézes surge na mente dos leitores. Tenhamos
consciéncia, porém, de que tal é o modo de ver dos profetas bíblicos:
nao costumam distinguir as intervalos que medeiam entre diversos
acontecimentos futuros. Neste ponto assemelham-se a um observador
que, colocado sobre o cume de u'a montanha, contempla o panorama
á sua frente; desvenda bem as cristas das cordilheiras que se
sucedem paralelas urnas as outras diante déle, mas nao distingue
os vales que separam tais cristas entre si; a tal observador parece
que tais cristas se ligam entre si scm hiato. Ora algo de análogo
se verifica na visáo espiritual dos profetas: apreenderam os aconteci
mentos da primeira e da segunda vinda do Messias como se se
devessem realizar simultáneamente, sem o intervalo que aíualmente
vamos percorrendo.
Consciente de que tal é o modo de perceber dos videntes escritu-
risticos, o estudioso nao se perturbará, mas, ao contrario, voltará
mais seguramente ainda sua atencáo para a harmoniosa correspon
dencia existente entre os SS. Evangelhos e as profecías do Antigo
Testamento; reconhecerá, conseqüentemente, que o Autor de tal
correspondencia so pode ter sido o próprio Deus, O qual desta forma
quis atestar a autenticidade da missáo de Jesús Cristo. Verdadeiro
Deus feito Verdadeiro Homem para dar novo sentido á vida e á morte
dos homens.
— 24 —
IV. MORAL
1. Os principios gerais
— 25 —
nomia, saúde, educacáo da prole, etc.) ; nao se admitem, po-
fem', motivos de comodismo e egoísmo.
, Na execucáo de tais normas, que por vézes se torna ardua, os
'. esposos cristáos nao se deixam abater; coníiam, antes, na graca de
Deus, conscientes de que o Pai do Céu nunca poe seus filhos
' em situacñes perplexas, ñas quais seja impossível evitar o pecado.
— 26 —
corno.efeito secundario, provoque a morte da crianga. O recurso
á" tal tratamento (ingestáo de remedio, aplicagáo de injecóes,
operagáo...) nao pode ser tido como ilícito, pois se trata de
urna agáo que por si nao é mortífera e cuja finalidade direta
é boa. Sim ; é um trátaménto que se aplica a um estado doen-
tio, como tal, da mulher, e que se lhe aplicaría independente-
mente da gravidez anexa.
— 27 —
animado por alma humana intelectiva; por isto, nessas circunstancias
será licito eliminá-lo sem se cometer homicidio».
— Tal diíiculdade já foi considerada em «P. R.» 3/1957, qu. 3.
Sumariamente lemhraremos que a maioria dos fisiólogos e filósofas
modernos tende a admitir a existencia de alma intelectiva no embriáo
desde p_ inicio da_gestaeáo. Em qualquer caso, porém, o aborto nao
udeixaria de ser homicidio, porque, como foi dito atrás, extinguiría
Jjum processo vital destinado por si a terminar em um ser humano.
o bb) «A cr¡an<;a é parte ou apéndice da mae. Ora, assim como
M a esta é licito cortar urna de suas maos para salvar a própria vida,
assim também será permitido eliminar o embriáo que a ponha em
perigo de vida».
— É erróneo supor que a crianca seja parte de sua máe; desde
o principio da gestagáo, o feto se manifesta como organismo autónomo,
dotado de circulagáo de sangue e de pulságóés próprias; é verdade
que recebe de sua máe o alimento, mas elabora-o e assimila-o por
um principio vital próprio.
■) i ce) «O embriáo se equipara a um injusto agressor a atentar
- ' contra a vida materna!»
— Tal afirmagáo é gratuita. Poder-se-ia igualmente dizer que
a máe é que faz as vézes de agressora. pois, padecendo de alguma
molestia, como insuficiencia hepática, mau funcionamento de glán
dulas, etc., vem a ser causa pela qual o filho carece dos elementos
necessários ao seu desenvolvimento normal. De resto a crianca nao
tem culpa alguma de ter vindo a^ste mundo. "
,' dáí «Mas entao perder-se-áo duas vidas — a da máe e a da
'*'• crianca — em vez de salvar ao menos a vida da máe!»
— O lema do médico católico, num caso de gestagáo dificil,
nunca poderá ser: perder urna das duas vidas para salvar a outra,
mas será sempre: salvar asiduas vidas. O médico, por conseguinte,
nao formulará o problema nos termos": «ou a máe ou o filho», mas
antes propor-se-á «salvar lanto a máe como o.filho». Sim; mae e
filho sao duas pessoas humanas, dotadas ambas do direito de viver,
Itíe sorte que nao se pode diretamente sacrificar urna para salvar a
¡putra, como num caso de naufragio nao é licito arrancar o salva-
Mvida de um náufrago para entregá-lo a outro.
ee) «É hediondo deixar morrer u'a mae de familia, amparo
-> insubstituível do marido e dos filhos. só para nao matar urna crian-
cinha cuia personalidade ninguém conhece!»
— Nao há dúvida. é sempre dolorosa a morte de u'a máe de
familia. Por isto o médico há de empregar todas os recursos da
ciencia a fim de evitar tal desenlace. Caso, porém. nao se possa
salvar a vida materna, o médico e os familiares cristáos aceitaráo
com fé e confianca o designio da Providencia; o Pai do Céu nao
abandona seus filhos, mesmo quando lhes subtrai o estéio (no
caso, —. a "esposa e mae) aparentemente-indispensável. — Algo de
semelhante, alias, se dá em um incendio ou em um naufragio:
ás vézes é preciso em tais ocasióes contemplar simplesmente a aguo da
morte sem que haja algum expediente para que se possa intervlr.
«Dejxarjnorrer» nao significa, de per si, «matar».
! \ tí) «Em" casos de gravidez contraída fora do matrimonio, se
nao se tolera o aborto, compromete-se a honra de urna jovem ou
quigá a de urna familia inteira».
— Ninguém pretenderá sanear um defeito acrescentando-lhe
outro; um erro cometido por cópula sexual ilícita nao será corrigido
por um homicidio. O auténtico remedio em tais casos consistirá em
— 28 —
reeducar ou em excitar e corroborar a resistencia moral e o vigor
de ánimo das pessoas envolvidas no pecado para que nao recaiam
no mesmo.
Dito isto, passemos a considerar as situacoes particulares criadas
pelo íator Rh, que só recentemente foi descoberto pela medicina,
parecendo exigir atencáo especial da parte dos moralistas.
— 29 —
) nao costuma verificar-se na primeira gestagáo, mas, sim, na
segunda ou na terceira...). O feto entáo passa a sofrer de
eritroblastose fetal , molestia que freqüentemente ataca o
figado, o cerebro e outros tecidos, podendo chegar a provocar
a morte no seio materno. Caso estas perturbares se déem,
nao há dúvida de que a situagáo se torna melindrosa para a
gestante ; nao é, porém, fatal: submetendo-se a máe grávida
a controle médico periódico, pode-se averiguar em que condigóes
se acha o feto e, caso se verifique ter morrido no seio materno,
procede-se a extracáoJmediata-do mesmo, salvando-se a vida
da paciente. Ogjjons .médicos nao julgam necessárío nem opor
tuno, para evitar ürñá eventual situagáo dessas (aborto infec
tado), recorrer ao aborto artificial e voluntario, eliminando
sistemáticamente o feto de pai Rh positivo e máe Rh nega
tivo. Admitir-se-á, porém, o seguinte : desde que haja indica-
góes favoráveis a tanto, proceder-se-á á extragáo do feto com
vida e perfeitamente viável após o sextp__ou--o -sétimo mes,
evitando-se destarte aiguma complicagáo prevista para o fim
do periodo de gestagáo.
Dado que a gravidez chegue naturalmente a termo, os
médicos teráo o cuidado de examinar particularmente a crian-
ca : a eritroblastose manifesta-se por vézes no intervalo de
(72 hs. após o nascimento, provocando urna crise hcmolítica e
"a morte da crianga; caso nao induza a morte, pode acarretar
anemia e estados patológicos crónicos. Em outros termos, dir-
se-ia : o organismo do recém-nascido tende a produzir sangue
jRh positivo (heran^a paterna), mas é portador de urna dose
¡imais ou menos grande de anticorpos herdados do organismo
.¡materno. Se a quantidade distes últimos fór avultada, haverá
perigo de auto-destruigáo do sangue da crianga. A fim de
evitar os males assim previstos, os médicos procedem a urna
transfusáo de sangue: tendo extraído todo o sangue com que
a crianga nasce, infundem-lhe sangue novo, do tipo daquele
que o recém-nascido tende a produzir dentro do seu organismo.
Fica assim removido o perigo de conflito no sangue da crianga,
confuto que provocaría a morte da mesma ou urna grave
anomalía (psíquica ou somática). Como se vé, também na
hipótese de chegar a gravidez a termo, contomam-se com os
recursos da medicina moderna os possíveis desastres (morte
ou doenga) na crianga.
— 30 —
á luz seis ou oito íilhos sadios, salvando-se devidamente a saúde
materna. Nena_o. anticoncepcionismo nem o aborto voluntario seriam
necessários para evitar as desgracas posslveis em tais repetidas
gestaeSes.
— 31 —
organismo da crianca devidas á incompatibilidade de sangue paterno
e sangue materno.
As diversas consideragdes ácima habilitam os autores hoje em
día a nao atribuir ao fator Rh preponderancia dirimente no estudo
dos problemas atinentes á vida conjugal.
Veja-se a propósito o criterioso estudo de Charles J. McFadden:
Medical Ethics. 2d. ed. Philadelphia 1951 (F. A. Davis Company Pu-
blishers). Outrossim T. Bosio, II fattore Rhesus nelle recenti scoperte
e studi sul sangue, em «Civiltá Cattolica» 1950 IV 326-337.
— 32 -.
Tendo exposto os dados do problema no trecho ácima, S. S. Pió XII
voltava ao assunto urna semana mais tarde (12/IX/1958) em
outra alocucáo, dessa vez dirigida ao VII Congresso Internacional
dé Hematología, que reunia perto de 2000 médicos e peritos perten-
centes a um total de 53 países. Foi entáo que Sua Santidade
formulou o ponto de vista da Moral católica frente á situado Rh :
J. A. P. (Tcrcsina) :
— 33 —
1. A posigáo do problema
34
b) os «catárticos», islo é, partidarios da kathürsis ou purifica gao,
os quais afirmam que a arte possui um poder purlficador, removendo
as imperíeic5es moráis do artista.
2. Os principios de solugáo
— 35 —
mesma nao é etapa nem instrumento para a consecucáo de
algum bem criado ;
— 36 —
ser diversamente apreciadas : ñas «Confissóes» o vicio é apre-
sentado como objeto de arrependimento e repudio por parte
do autor (o que vem a ser construtivo), ao passo que no
«Decamerone» se percebe complacencia no pecado e glorifi-
cacáo déste (atitudes reprováveis). Em geral, observa-se que
descrever o mal sem insinuar algum juízo sobre o mesmo equi
vale práticamente a incutí-lo e recomendá-lo (tal é o poden
de sedugáo do pecado) ; por isto o artista nao se pode eximir
de censura da Moral quando ele apenas descreve os homens
e os acontecimentos lascivos como éles se apresentam na sua
realidade cotidiana. Nao basta a descrigáo honesta ou «ínte
gra» das realidades visíveis, para que o artista seja isento
de culpa ; desde que se trate de objetos moralmente maus,
estes tém que ser (elegantemente, se quisermos) denunciados
como tais, pois difícilmente se pode crer que, para o público,
a singela descricáo nao redunde em detrimento de consciencia.
— 37 —
3. Conclusáo
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
R. N. (Rio de Janeiro) :
— 38 —
de Roma nao poderia tomar atitude diferente, facilitando assim a
volta dos irmáos da Inglaterra ao único Rebanho sob um só Pastor.
Já que a solucáo do problema depende de fatos históricos, e nao
prdpriamente de boa ou má vontade dos católicos, vamos sumaria
mente analisar tais fatos e averiguar como deram fundamento á
posicáo negativa dos teólogos.
— 39 —
William Barlow, ex-titxilar da diocese de Bath, sagrado ainda
sob Henrique VIII; assistiam-lhe os bispos John Scory e
Miles Coverdale, depostos das dioceses respectivamente de
Chichester e Exeter (ambos sagrados segundo o ritual de
Eduardo VI), e John Hodgkin, sufragáneo de Bedford, orde
nado segundo o antigo rito, ainda sob Henrique VIH.
— 40 —
o Cardeal Gasquet, o Cónego Moisés e o franciscano Flemming) das
ordenares anglicanas. Os arquivos do Vaticano íoram postos á
disposicáo de tais estudiosos.
A comissao se reuniu em doze sessóes de 24 de margo a
7 de maio de 1896; foi muito focalizado o aspecto histórico da
questáo, com a colaboracáo dos anglicanos Lacey e Puller, que,
especialmente convidados para residirem em Roma, apresentaram
toda a documentacáo que lhes parecia oportuna a um estudo objetivo.
Após analisar todas as pecas do arquivo «pro» e «contra», e após
comparar entre si as fórmulas de ordenacáo dos varios grupos
cristáos cismáticos, a comissao aos 8 de junho de 1896 apresentou
suas conclusóes a urna junta de Cardeais; estes, após um mes de
ponderacáo, confirmaram o resultado do minucioso inquérito, decla
rando que a análise atenta dos documentos corroborara a senteruja
já práticamente adotada pela Igreja: as ordenacóes anglicanas deviam
ser tidas realmente como nulas.
Diz-se que Leáo XIII esperava ardentemente poder dar aos
anglicanos urna resposta agradável, considerando suas ordenacdes ao
menos como duvidosas, o que obrigaria os convertidos a urna reor-
denacSo condicional apenas; esperava, se isto nao Ihe fósse possivel,
ao menos abster-se de algum pronunciamento sobre o assunto, a fim
de nao melindrar os ánimos. Verificou-se, porém, que os estudos
previos haviam chamado a atencao do público a tal ponto que a
observancia de silencio por parte do Papa seria demasiado ambigua,
capaz mesmo de induzir em erro. Diante disto, Leño XIII ainda
dedicou tres meses á reflexáo, após os quais publicou, aos 13 de
setembro de 1896, a bula «Apostolicae curae».
— 41 —
tnáos, sinal que de maneira geral significa a comunicagáo de
um dom ou ds urna graga ; o «Ordinal» de Eduardo VI (se
gundo o qual Mateus Parker foi sagrado) prescrevia como
forma concomitante as palavras : «Accipe Spiritum Sanctum
— Recebe o Espirito Santo». Tal fórmula é, por sua vez, assaz
indeterminada, ficando longe de indicar qualquer atividade
específicamente sacerdotal; e isto, porque os autores do
«Ordinal» trataram propositadamente de remover do antigo
Ritual todas as palavras que indicavam os poderes sacerdotais
e, em particular, o de consagrar a Eucaristía e oferecer o
S. Sacrificio da Missa (poder sacerdotal por excelencia). Tal
cancelamento de vocábulos nao era senáo a expressáo da tese
errónea protestante segundo a qual a Eucaristía nao é ge-
nu'na ceia sacrifical.
— 42 —
Explanadas as razóes ácima, Leáo XIII declarava final
mente «ordinationes ritu anglicano actas, irritas prorsus fuisse
et esse omninoque millas — ... que as ordenagóes realizadas
segundo o rito anglicano foram e sao de todo inválidas e, sem
dúvida alguma, nulas».
A bula se encerrava com urna exortagáo paterna do Pon
tífice aos cristáos anglicanos, principalmente aos membros da
hierarquia, no sentido de voltarem ao aprisco do Bom Pastor.
— 43 —
«Apostólicas curae», publicado no tomo 16 da colecüo «Leonis XIII
Pontificis Maximi Acta» (Roma 1897), oliminou o vocábulo «disci-
plinae» na expressáo «caput disciplinae». O significado doutrinário
déste cancelamento tem sido objeto d.e estudos especiáis por parte
dos teólogos católicos; cf. G. D. Smith, The Church and her Sacra-
ments, em «The Clergy Review» 33 (1957) 228-230. Como quer que
seja, enquanto ainda pairam dúvidas sobre o assunto, parece nao ser
¡licito admitir a revogabilidade da declaracüo de Lea o XIII (a qual
teria em vista apenas a disciplina a ser adotada na Igreja de acordó
com as circunstancias de urna época); entre os partidarios recentes
desta tese, pode-se citar o Pe. L. Renwart S. J. no artigo «Ordinations
anglicanes et intention du ministre», em «Nouvclle Revue Théologique»
79 (1957) 1034. Dever-se-á apenas notar que a sentenca da revogabi
lidade condiz muito pouco com a mente dos documentos focalizados.
Além do mais, os argumentos aduzidos por Leáo XIII na bula
«Apostolicae curae» ,sáo suficientemente claros e persuasivos para
gerar, independentemente de alguma definicáo papal infalivel, a
conviecáo definitiva de que as ordenagóes anglicanas nao íoram
válidas.
Somonte a acáo da Santa Igreja Romana através dos tempos
próximos poderá projetar luz dirimente sobre os argumentos e as
observagóes que hoje em dia se movem em torno da famosa questáo
das ordenagóes anglicanas.
Apraz por fim notar que, vista á luz da experiencia recente,
a questáo da revogabilidade da decisáo de Leáo XIII nao é de
importancia capital para a reuniáo de anglicanos e católicos. Eis,
de fato, observacoes que já em 1912 (quando foram feitas) tinham
seu propósito e que em nossos días ainda mais adequadas parecem :
«A decisáo de Leño XIII contristou notftvel número de anglicanos
dentre os melhores; muitos oulros, porém, e dentre éstos nume
rosos bispos. reconheceram que Roma era fiel a si mesma e que
a lealdade n§o lhe permitía agir de maneira diversa. De maio de
1895 a setembro tic 1806. contou-se um total de 10 a 11.00 convers6es
de anglicanos; éste fato prova que a bula «Apostolicae curae* de
modo nenhum afastou da Igreja Romana o povo inglés, como
alguns quiseram dar a entender. Deve-se observar que os rnelhores
historiadores da Reforma interpretam como Roma os textos litúrgicos
anglicanos o os documentos dos teólogos fio Eduardo VI c Elteanete»
(J. de La Serviére, La controverse .sur la valldité des «ordinations
anglicanes», em «Études» t. CXXXII 665).
D. ESTÉVAO BETTENCOURT O. S. B.
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