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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMCS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESErsrTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
£L vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacao.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
r^

■*&!
t

índice

'DEUS ESTA VIVO!" 49

Aínda o binomio "horizontal-vertical":


"CRISTAOS PARA O SOCIALISMO" 51

Quem sao?
OS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DÍA 70

Decentemente, mate urna vez :


CASA MAL-ASSOMBRADA ? 81

ESTANTE DE LIVROS 3? capa

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

• * •

NO PRÓXIMO NÚMERO :
Declarado luterano-católica sobre o papado. — Rosa-Cruz: Que é?
Alcoólicos anónimos em revista. — E a maneira de citar a
Biblia ?
• • •

Errata: Em PR 181/1975, p. 5, llnha 7 de bacxo para cima, leia-se:


"Metapsiquica" em lugar de "Metafísica".

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Assinatural anual Cr$ 50,00
Número avulso de qualquer mes Cr$ 5 00
Volumes encadernados de 1958 e 1959 (preco unitario) ... Cr$ 35,00
índice Geral de 1957 a 1964 Cr$ 10,00

EDITORA LAUDES S. A.
REDAQAO DE PR ADMINISTRAgAO
Caixa Postal 2.666 Rúa SSo Rafael, 38, ZC-09
ZC-00 20000 Rio de Janeiro (GB)
20.000 Rio de Janeiro (GB) Tela.: 268-0981 e 268-2790

Na GB, a Rúa Real Grandeza 108, a Ir. María Rosa Porto


tem um depósito de PR e recebe pedidos de assinatura da
revista. Tel.: 226-1822.
"DEUS ESTÁ VIVO!"
"Deus está vivo. Apenas mudou de enderezo... A pro
cura religiosa j¿ nSo se dirige para um Supremo Ser fora,
no espago, mas para os misterios íntimos e pessoais... Mu-
da-se o foco da fé: Deus ñas profundidades".

É assim que a revista norte-americana «Psychology To


-Day», nov. 1974, p. 131, introduz um noticiario referente a
inquérito realizado em 1974 entre os seus leitores a respeito
de questóes religiosas: existencia de Deus, vida postuma, feli-
cidade, sentido da vida presente, sofrimento, oracóes^ freqüen-
tacáo da Igreja, etc.

Esta mánchete é importante, máxime se se leva em conta


que, há cerca de dez anos nos EE.UU., se falava de «morte
de Deus»! Na verdade, para inultos morreu a imagem de um
Deus sentado ñas nuvens, residente «lá no alto» (pois é infan
til demais para os homens que pela televisáo acompanharam
as viagens á Lúa); mas, em lugar daquela imagem, toma vulto
a de um Deus que reside no íntimo do ser humano — o que
poderia ser entendido no sentido dos místicos (S. Teresa de
Ávila falava do «Castelo interior», com as suas sete moradas).

«O inquérito tocou num ñervo exposto» (p. 131). Mais de


40.000 leitores lhe responderam, a maioria dos quais entre
18 e 34 anos de idade; dessas respostas, 2.000 foram seleclo-
nadas para análise mais exata. Entre as observagóes dos
comentadores dos depoimentos, destacam-se as seguintes:

— bom número (49%) dos americanos que responderán!,


ainda se identifica com um dos tres grandes grupos religiosos:
protestantes, católicos, judeus;

— pequeña porcentagem pertence a outros grupos reli


giosos; 37% é a porcáo dos que se dizem ateus;

— cerca de 75% dos jovens, dos 18 aos 24 anos (idade


critica!), dizem pertencer a urna das tres grandes denomina-
cóes religiosas ácima mencionadas;

— a maioria daqueles que assim professam a crenca em


Deus, afastaram-se do convivio da sua igreja ou templo, em*
bora nao poucos descendam de familias religiosas praticantes.
Essa ausencia no culto comum nao significa ateísmo; grande

— 49 —
número dessás pessoas diz ter «sua religiáo própria». «Tenho
horror a pensar que nos, homens, possamos ser os entes supre
mos», afirmava um depoimento.

Os resultados assim registrados ficam, sem dúvida, aquém


das perspectivas do Cristianismo. Mas nem por isto deixam
de ser significativos; revelam que, por debaixo das cinzas do
aparente materialismo e indiferentismo religioso, existe fogo
latente; a fibra mística ou a consciéncia do misterio que carac
teriza a natureza do homem, nao morreu; ao contrario, parece
insurgir-se contra concepgóes infantis ou rudimentares («Deus
lá no alto») para descobrir novo e mais genuino enderego de
Deus: o coragáo do homem, que os profetas bíblicos e os san
tos, em sua linguagem característica, tanto valorizaram! A
mudanza de enderego assim concebida pelos homens pode sig
nificar um passo positivo e alvissareiro; redundará talvez numa
imagem mais pura de Deus, ao mesmo tempo que mais cor
respondente aos interesses antropológicos e psicológicos dos
nossos contemporáneos. Verdade é que o homem de fé nunca
pederá dispensar as suas manifestagóes de culto comunitarias,
pois a natureza humana é psicossomática e social; como quer
que seja, é do fundo do coragáo que devem proceder as genui-
nas expressóes da fé.

É interessante outrossim notar que os resultados do inqué-


rito mencionado permitem compreender sob nova luz o elo-
qiiente convite dirigido na noite de Natal passada por S. S.
Paulo VI a todos os homens, mesmo aos de coragáo fechado
e refractario á religiáo:

"Vlndal Porque esta é a vía na qual se Inlclaram os vossos pas-


sos... Vlndel E nos vos faremos encontrar ou descobrir de novo esse
Deus vivo que nunca delxastes de procurar. Vóa O procuráis quando a
linha da vossa vida é simples e natural, pote, como por urna atracSo natu
ral, somos todos orientados para o polo de orlgem e o polo final da nossa
existencia: 'Tu nos fizeste para Ti, Senhor, e inquieto ó o nosso cora$&o
enquanto nao repousa em Ti1 (S. Agostinho)... A verdade é sempre esta,
hoja mais do que nunca: onde vfio terminar o pensamento e o progresso
em suas conclusoes extremas, quando n&o se querem perder na noite do
nada, senfio em urna asplracfio suprema e num hlno extático dirigido eo
Ser absoluto e necessárlo, ao Deus da luz e da vida?"

Os tempos atuais falam nao apenas em termos trágicos.


Apontam também valores positivos, e, mesmo através do ne-
grume e da decadencia de certas situacóes, parece querer des-
pontar a reacáo do bom senso e da genuína natureza do ho
mem, que nao pode deixar de sentir o tormento do Infinito,
o tormento de Deus!
E.B.

— 50 —
«PEROUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XVI — N» 182 — Fevereíro de 1975

Aínda o binomio "horizontal-vertical":

"cristáos para o socialismo"


Em slnlese: O Movlmenlo de "Cristfios para o Socialismo" fol fun
dado em Santiago do Chile no ano de 1972 e se propagou até mesmo
pela Europa, pois em 1973 reallzou Congressos em Avila (Espanha) e Bolo^
nha (Italia).

Pretendendo atender á realidade dos pafses subdesenvolvldos, os


"cristáos para o socialismo" concebem a sua missfio como a de plena
colaboracao com o marxismo, a llm de sacudlrem o jugo do capitalismo.
Rejellando a índole transcendental dos valores da fé, gulam-se por crite
rios de sociología, economía e filosofía; afirmam que as verdades da fe
hao de ser julgadas á luz das normas da política revolucionaria. Segundo
eles, é o próprio Evangelho que exige tal atltude dos cristáos.

Frente a tal filosofía, deve-so observar que ela nao salva as propo-
slcfies do auténtico Cristianismo, mas equivale a Implícita renegacSo da
fó crista. Esta é essenclalmente sobrenatural; vem a ser a resposta que
o homem dá á Palavra de Deus que se Ihe revela e comunica. O crlst&o
tem conscléncia de que só haverá llbertacáo e salvagfio consumadas no
flm dos lempos, quando Cristo rematar a historia. Entrementes, o crlstáo
tem, sim, a obrigac&o de lutar corajosamente pela Instauracfio da justlca
e do amor entre os homens (nao Ihe ó licito cruzar os bracos ou omltir-se
em nome de valores transcendentals). Todavía o crlstáo nSo Julga que
a sua missáo se esgota com a tentativa de construir um mundo mals
humano e fraterno. Ao contrario, é para antecipar, de certo modo, os
bons eternos e definitivos que o crlstáo labuta em meló aos valores tem-
porals; é a perspectiva daqueles que o Incita a nSo perder animo e valo
rizar devidamente as realidades temporals.

O Movimento de "Cristfios para o Socialismo", embora se distancie


do Cristianismo, há de ser um Incentivo para que todos os discípulos de
Cristo tomem consciéncla sempre mals viva e atuante da dlgnldade de
todo homem e da necessldade de dar projecáo histórica e dimensOes
visívels á fó sobrenatural colhfda na pura fonte do Evangelho.

Comentario: Fenómeno característico dos nossos dias é


a atragáo exercida pelo Socialismo sobre os cristáos, atragáo

— 51 —
4 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

a que se refere o S. Padre Paulo VI na sua Carta Apostólica


«Octogésima Adveniens»; cf. PR 143-144/1971, pp. 506-521.

Tém-se dado casos de «opgáo socialista» por parte de gru


pos de Agáo Católica da Franga, da Italia, da Alemanha. Na
Franca o Partido Socialista Unificado de Michel Rochard com-
póe-se, em larga escala, de militantes provenientes da Agáo
Católica especializada ou de grupos congéneres. Acontece que
até mesmo clérigos da Europa, da América Latina, da África
e da Asia tém dado a sua adesáo ao socialismo. Constituiu-se
assim o «Movimento de Cristáos para o Socialismo», cujas
estruturas se expandem em nivel internacional. Vista a reper-
cussáo desta organizado na América Latina, examinaremos
abaixo o surto e as teses principáis do Movimento; a seguir,
proporemos algumas reflexóes sobre o mesmo.

Este artigo, de certo modo, prolonga o de PR 181/1975,


pp. 10-28.

1. Origens tío Movimento

1. Foi entre clérigos do Chile que surgiu pela primeira


vez a idéia de um Movimento de Cristáos em favor do Socia
lismo. Com efeito, de 14 a 16 de abril de 1971 oitenta sacer
dotes e Religiosos reuniram-se em Santiago, a fim de debater
o tema «Participagáo dos Cristáos na construgáo do Socialismo
no Chile». Ao fim desse encontró, «los ochenta» (como logo
foram chamados) fundaram o Secretariado sacerdotal dos
«Cristáos para o Socialismo». O adjetivo «sacerdotal» seria
cancelado oito meses mais tarde, quando decidiram abrir o
Movimento aos leigos. Elaboraram outrossim a «Declaración
de los ochenta», na qual afirmavam o seu propósito de cola
borar com os marxistas na instituigáo dú socialismo no Chile.
O seu programa constaría de duas linhas principáis: fazer do
marxismo o instrumento científico de análise e transformacjio
da sociedade, e «libertar» a fé crista do seu comprometimento
com certas estruturas que tenham impedido até os nossos
tempos a colaboragáo revolucionaría dos cristáos com os mar
xistas.

Oito dias mais tarde, aos 23/IV/1971, doze professores


de teología da Universidade Católica do Chile publicaram urna
carta de solidariedade com a Declaragáo dos Oitenta.

— 52 —
«CRISTAOS PARA O SOCIALISMO»

Tres meses depois, deu-se a primeira «Jornada» (16-18/


/Vn/1971) dos «Cristáos para o Socialismo». Eram duzentos
os sacerdotes e Religiosos que parücipavam dessa assembléia.

Em novembro de 1971, o Secretariado do Movimento pro-


moveu um encontró com o líder cubano Fidel Castro, que entáo
visitava o Chile. Cento e quarenta sacerdotes participaran! da
reuniáo, na qual ficaram estabelecidos dois principios funda
mentáis sugeridos por Fidel Castro: 1) os cristáos deveríam
considerar-se aliados estratégicos (e nao apenas fóticos) dos
mandstas no único processo de libertagáo da América Latina?
2) o cristáo poderla, de consciéncia tranquila, aceitar o mar
xismo como método, sem comprometer em absoluto a sua fé.

Nessa ocasiáo Fidel Castro convidou doze sacerdotes chi


lenos para irem passar algumas semanas em Cuba. Ora no
fim dessa experiencia os mesmos elaboraram urna Declaragáo
que foi publicada pelo jomal cubano «Gramna» aos 6/ÜI/1972;
Esse documento, que teve ampia difusáo, formulava as teses
fundamentáis do Movimento: denuncia do capitalismo como
fonte de todos os males da América Latina; necessidade his
tórica do Socialismo; obrigacáo moral, para os cristáos, de
lutar juntamente com os mandstas em prol da repulsa da
violencia institucionalizada.

A data de origem oficial do Movimento foi o I Encontró


Latino-americano dos «Cristáos para o Socialismo», que se
realizou em Santiago do Chile de 23 a 30 de abril de 1972.
Reuniu 400 participantes, entre sacerdotes, Religiosos e leigos,
que se propunham tres metas principáis: 1) dar a conhecer na
América Latina e no mundo inteiro o empenho dos cristáos
em favor da classe operaría e da mudanoa de estruturas para
o Socialismo; 2) ocasionar o intercambio de idéias e experien
cias entre os cristáos comprometidos com o processo revolu
cionario; 3) sustentar os cristáos que lutam pela libertagáo.
■t

Nesse mesmo Encontró, estabeleceram-se as linhas de


expansáo do Movimento para fora do Chile e até mesmo do
continente americano. Na verdade, o Movimento chegou sem
demora á Europa, realizando em 1973 dois Congressos nación
nais: o primeiro em Avila na Espanha (Janeiro de 1973) sob
forma clandestina, e o segundo em Bolonha na Italia (setem-
bro de 1973); a este último comparecerán! cerca de 2.000
participantes.

— 53 —
6 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

2. Enquanto o Movimento se ia formando nos anos de


1971-1973, a hierarquia da Igreja nao deixou de se manifestar,
alertando os interessados para os desvíos em que os mesmos
iam incorrendo.

Assim em 1971 apareceu a «Declaración de los obispos


chilenos reunidos en Asamblea plenaria en Temuco» (15-22
abril 1971); era urna resposta á «Declaración de los 80». Aos
12/1/1972, Mons. C. Oviedo Cavada, Secretário-Geral da Con
ferencia dos Bispos do Chile, escreveu urna «Carta a las otras
Conferencias episcopales latino-americanas», em que fornecia
informagóes sobre o próximo Congresso em Santiago. — Aos
3/IÜ/1972, o Cardeal Silva Henriquez, de Santiago, escreveu
urna «Carta al P. G. Arroyo», em que expunha os porqués de
sua náo-participacáo no referido Congresso e criticava o «Do
cumento de Trabajo» dos «neo-socialistas». — Aos ll/IV/72,
os bispos do Chile escreveram «Sacerdocio y compromiso polí
tico», carta aberta aos doze sacerdotes que tinham voltado de
Cuba. — Na mesma data, os mesmos bispos assinaram urna
mensagem intitulada «Por un camino de esperanza y alegría».
— Aos 16/X/1973, a Conferencia dos Bispos do Chile publi-
cou o estudo «Fé cristiana y actuación política». — Estes
escritos todos procuravam elucidar questóes delicadas que o
Movimento ia suscitando entre sacerdotes e leigos do Chile;
contribuiram validamente para definir a posicáo do episcopado
chileno frente aos «Cristáos para o Socialismo».

Vejamos agora quais as idéias que se iam esbogando de


modo a constituir as posigóes doctrinarias dos adeptos do «Mo
vimento de Cristáos para o Socialismo».

2. Idéias-mestras do Movimento

Como se depreende dos documentos respectivos, os «Cris


táos para o Socialismo» afirmam tres teses, que para eles sao
evidentes e nao necessitam de demonstragáo. Ei-las em síntese:

1) A revolugáo e o socialismo tornaram-se urna reali-


dade histórica mevitável.

2) A luta dos cristáos ao lado dos marxistas em prol do


socialismo nao constituí problema de consciéncia, mas é dever
imposto pela própria fé.

— 54 —
«CRISTAOS PARA O SOCIALISMO»

3) Por conseguinte, é preciso reformular a Igreja, a teo


logía e a fé a partir da «praxis» revolucionaria, ou seja atra-
vés da leitura da realidade segundo o método científico do
marxismo.

Exporemos abaixo estes principios, para depois submeté-


-los a urna crítica objetiva.

2.1. Necessldade histórica da revolucSo socialista

Os «Cristáos para o Socialismo» voltam-se, antes do mais,


para as condicóes socioeconómicas das populagóes do Terceiro
Mundo. Assim, por exemplo, verificavam em Santiago, no
Congresso de abril 1972:

"A sltuacSo sóclo-economica, política e cultural dos povos latino*


-americanos desafia a nossa conscléncla crista. A falta de emprego, a
desnutrlcSo, o alcoolismo, a mortalidade infantil, o analfabetismo, a pros*
tituic&o, as desigualdades sempre crescentes entre ricos e pobres, a discri
minado racial e cultural, a exploracáo, etc., sSo tatos que constituem
urna sltuacSo de violencia institucionalizada na América Latina" ("Santiago.
Documento final" I, 1.1. Cf. "Documento de trabajo" 4,6; "Respuesta del
Comité coordinador" 1).

A análise dos fatos leva a procurar as causas das situa-


cóes ass'm denunciadas. Ora, segundo os textos oficiáis do
Movimento, estas se reduzem a urna só: o sistema capitalista
com sua lógica perversa. É o que se lé, por exemplo, no Do
cumento final de Santiago 1972:

"As estruturas económicas e soclais dos nossos pafses latlno-ame-


rlcanos estSo fundadas sob e a opressSo e a injustlca, consequenclas de
urna sltuacño de capitalismo dependente dos grandes centros de poderlo.
Dentro de cada um dos nossos países, pequeñas minorías cúmpllces e
vendidas ao capitalismo internacional entretem com todos os ríñelos pos-
slvels urna situacao que Ihes é vantajosa. Esta Injustlca de estruturas
equivale a violencia, aberta ou camuflada... Isto nao é humano e, por
conseguinte, nSo é cslstfio" (IntroducSo 1s).

Poder-se-ia, porém, corrigir ou reformar o capitalismo, de


modo a torná-lo mais humano e evitar a revolucSo? — Oa
«Cristáos para o Socialismo» respondem que os esforcos
neste sentido Ihes parecem inúteis, se nao contraproducentes,
pois o capitalismo é intrínsecamente incorrigível. Assim se
exprimem:

"Denunciamos como insuficientes todas as solucOes que se Inspiram


no desenvolvimento do capitalismo, no reformlsmo capitalista ou neo-capl-

— 55 —
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

iallsta. Só contrlbuem para manter e agravar a situacfio de subdesenvol»


vlmento" ("Santiago. Resposta do Comité coordenador" 2).

"Compreendemos que as solucoes Intermediarias, qualquer tipo de


reformismo, as 'terceiras vías' sao apenas paliativos que no fundo servem
exclusivamente para entreter um capitalismo larvado" (Ávila. Documento
conclusivo" 32).

Por conseguinte, concluem todos os textos oficiáis do Mo-


vimento, a revolugáo para o socialismo é urna necessidade
histórica:

"Hoje em dia existem apenas duas alternativas posslvels: capitalismo,


que entretem o subdesenvolvimento, de um lado, e socialismo, do outro
lado" ("Santiago. Documento final" I, 1.13).

"Empenhando-nos na construcáo do socialismo, fazemo-lo porque obje


tivamente — fundando-nos sobre a experiencia histórica e esforzando-nos
por anallsar os fatos de modo rigoroso e científico — concluimos que
esta ó a única manelra eficaz de combater o imperialismo e de superar a
nossa sltuacáo de dependencia" (ib., Introducto 3).

Ao falar de socialismo, os adeptos do Movimento enten-


dem o socialismo marxista, embora reconhegam falhas nos
resultados obtidos pelo marxismo até hoje. O socialismo mar
xista assim apregoado incluiría, sem dúvida, a conquista do
poder por parte do proletariado e o coletivismo económico
resultante da aboligáo da propriedade privada dos meios de
produgáo:

"O povo... está tomando consclencia da necessidade de encaml-


nhar-se para a conquista do poder por parte da classe trabalhadora. Só
assim será possfvel a construcáo de autentico socialismo, única forma, até
agora, capaz de realizar urna libertacSo total" ("Santiago. Documento
Jlnal11 I, 1. 20).

"O marxismo fez-nos ver a grande mlssáo que toca ao proletariado


neste processo de llbertacáo: a supressfio do sistema capitalista mediante
o socialismo, a eliminado da propriedade privada dos meios de producáo,
a crlagáo de urna cultura nova, que esteja realmente a servigo do homem
novo, sem distlncdes nem privilegios de classe" ("Ávila. Documento con
clusivo" 36).

Ficam, pois, excluidas todas as formas de socialismo que


procurem urna fórmula de conciliagáo entre as classes da socie-
dade atual; nem bastaría a nacionalizacáo das industrias e
dos grandes meios de produgáo, pois esta nao implicaría urna
transformagáo global da forma de governo e da cultura.

_ 56 —
«CRISTAOS PARA O SOCIALISMO»

2.2. Cooperario de cristaos com marxistas

a) A segunda tese fundamental do Movimento ensina


que os cristaos se devem comprometer ao lado dos marxistas
na prática da revolugáo. Este dever decorre, para eles, nao só
da necessidade histórica do momento, mas da própria fé e do
Evangelho. Dizia G. Arroyo, um dos fundadores do Movimento,
no discurso de abertura do Encontró de Santiago:
"A fó nSo Impede o crente de empenhar-se ao lado dos nSo crentea.
é preciso reconstruir a cidade devastada Juntamente com aqueles que sfio
mais capazas de o fazer. Nao nos podemos permitir o luxo de escolher 03
altados; mas (eremos por aliados aqueles mesmos que a vida nos oferece,
nao outros... Por Isto as divisóos filosóficas entre cristaos e marxistas
passam para o segundo plano, diante da urgencia de urna acSo revolucio
naria eficaz" (G. Arroyo, Discurso inaugural 3).

O documento conclusivo (n« 26) do Encontró de Ávila


acrescentava:

"A nossa fó nSo tem sentido se nSo é vivida na historia de um povo


em marcha e no Interior de urna realidade de luta de classes, a qual
necessarlamente Incluí um Impulsivo chamado ao compromisso político".

b) Eis, porém, que urna dúvida talvez surja na conscién-


cia do cristáo incitado a praticar a luta de classes juntamente
com os marxistas: o cristáo nao é portador de valores especí
ficos e origináis? Como poderia ele identificar-se com as con-
cepcóes que o socialismo marxista apregoa a respeito do homem
e da historia?

A esta objegáo os inspiradores do Movimento respondem


que, em se tratando de assunto político e prático, o Cristia
nismo nada tem de novo e próprio a apresentar aos seus seme-
lhantes. Assim, por exemplo, se lé no «Documento de traba-
lho» (n* 4s) datado de dezembro 1971:

é preciso "eliminar todo tipo de Idealismo ao determinar-se o que é


crlstao, pois aquí deseemos ao terreno histórico da luta revolucionarla.
Trata-se de urna tomada de poslcáo dlretamente polftica, porque revolucio
naria. Neste terreno histórico nao tem absolutamente sentido a questSo de
saber se o cristáo deve ou nfio escolher politicamente... Somente a nossa
particIpacSo efetiva ou a nossa prática revolucionarla mostrará a consis
tencia da contrlbuicáo crista ao processo da revolucSo, e nfio as afirma-
cees superflcials e apressadas referentes á contrlbuicSo especifica dos
Cflstáos, aflrmacóes que costumam ser feltas no diálogo entre cristaos e
marxistas".

No Encontró de Bolonha, G. Girardi rejeitou com veemén-


cia o «específicamente cristáo» no setor dos compromissos
temporais: • • ■ '

— 57 —
10 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

"No contexto da secularlzacio, o homem descobre que as presumidas


solucóes específicamente cristas nao exlstem. Todas as vezes que a dou-
trina crista se pronuncia sobre algum problema temporal (de Índole mo al,
política, econdmica ou pedagógica, pouco Importa), ela nfio leva urna con-
trlbulcfio especifica, mas assume a solucáo humana que naauele momento
histórico Ihe parece mais coerente com a InspIracSo evangélica". E con-
clulu o conferencista: "A descoberta desta verdade impoe a reformulacfio
do problema, hoje táo debatido, do 'especifico crlslao1. Na verdade, exls
tem valores essenclalmente crlstáos, mas humanos. Antes, os valores crls-
táos fundamentáis nao sao específicamente c.lslios" ("Relazlone al Con-
gresso di Bologna" 18).

c) Tais idéias acarretam graves conseqüántías. Com


efeito; délas se segué que a fé já nao é adesáo a urna Palavra
que vem de cima, mas a urna revelagáo que procede de baixo;
nao é anterior ao compromisso do cristáo no mundo, mas nasce
e se manifesta no próprio compromisso do cristáo em prol da
libertagáo do homem. Sao palavras do Documento final de
Santiago (30/IV/72):

A orlglnalldade da contribuido crista consls'e no tato de que a fS


"estimula a exigencia de que a luta de classes se dasenrole decididamente
para libertar todos os homens... A fé asslm dá a sua contilbulcao á
construcSo de urna socledade qualltatlvamente dife en'e e ao nasdmeito
do homem novo. Nao se julgue que o que o C Islanhmo traz d3 espe
cifico é algo de anterior á prátlca revolucionada, algo que o cilstáo já
trarla definido ao se dispor para a revolucfio. Ao contra.lo, no decuisj
da experiencia revolucionaria a fé se revela ciladora de novas contrlbui-
cfles, que nem o cristáo nem outro homem pode prever" ("Santiago. Da-
cumento final" II 3,2).

O mesmo Documento insiste em dizer que é a própria fé


ou o Evangelho que leva o cristáo a assumir compromisso polí
tico ao lado dos marxistas:

"Os crlstfios, movidos pelo espirito do Evangelho, váo-se integrando


nos grupos e partidos proletarios, sem ter mals dlreltos e deve es do que
qualquer outro revolucionarlo" (I, 2,6). Na vedada, a "vltalidade da fé"
nao é pró-polltica, mas se manifesta e descobre apenas "no coracáo mesmo
da prátlca revolucionarla" (II, 3.2).

Á título de ilustracáo, val aqui citado também um trecho


da exposigáo feita por G. Girardi no Encontró de Bolonha:

"Quando o amor crlstfio descobre no mundo de ho|e a amplidáo


angustiosa da miseria, da tome, da Injustlca, da opressfio, ele se tians-
forma em protesto e revolta... O amor cristáo nao é compa.fvel com a
adesáo ao sistema capitalista... Quando procura os instrumentos cien
tíficos e políticos para tornar-so urna torca histórica libertado.'a, ele se
concretlza como ... escolha socialista e revoluciona' ia; ele encontra no
marxismo, na medida em que este ó teo.la da revolucao..., um fecundo fio

— 58 —
«CRISTÁOS PARA O SOCIALISMO» 11

condutor na leitura da historia; encontra outrosslm nos movlmentos de Ins-


pirac&o maixista as forjas organizadas e aplicadas á realizacSo desse
projeto" ("II Rogno doc." 1/X/73, p. 488s).

d) Alguém perguntará: Mas por que assumirá o cristáo


um compromisso ao lado dos marxistas?

— A razáo indicada pelos mentores do Movimento é a


eficacia da proposta marxista:

"O método (marxista) poe em evidencia, melhor do que os outros, o


caráter global e interdependente dos diversos fenómenos que Impedem a
nossa IlúertacSo" ("Resposta do Comité Coordenador" 4).

Ou ainda:

"Cresce a conscléncla de urna alianca estratégica dos crlstSos revo-


lucioné.los com os marxistas no processo de llbertacfio. Alianca estra
tégica, que supera as allancas táticas ou oportunistas de breve durac&o.
Alianga estratégica, que slgnl ica caminharmos Juntos numa a;So política
comum, em demanda de um profeto histórico de libertacáo" ("Santiago.
Documento final" II 3,7).

O Documento de Ávila ainda é mais explícito, falando de


participagáo dos cristáos ñas organizagóes marxistas:

"Nao adotamos poslgdes de mera colaboracSo nem queremos sei


apenas companhei.os de viagem, mas, sim, auténticos militantes ñas orga-
nizacoes de ciasse ma.xlstas" (''Documento conclusivo" 3).

e) Os «Cristáos para o Socialismo» afirmam unánime


mente que csse engajamento dos fiéis ñas fileiras do marxismo
nao afeta a fé católica, nem deve criar problema para a cons-
ciéncia dos cristáos. Para tanto, baseiam-se na distingáo entre
a visáo global do homem que a fé propóe e a libertagáo sócio-
-económica que o marxismo apregoa:

"Urna coisa é crer que em Jesús Cristo ocorre a única libertacáo


total dos homens, e outra coisa (nao oposta á anterior) é referlr-se aos
instrumentos humanos de llbertacfio socio-económica, que nfio é alhela
á libertacáo de C.lsto nem a esgota" ("Resposta do Comité Coorde
nador" 10).

Era essa distingo, alias, que Fidel Castro propunha aos


30/XI/71, quando realizou em Santiago um Encontró com 140
sacerdotes:

"Flca o problema da fé. Mas os pontos estritamente filosóficos nBo


sao o problema fundamental, pols o que se entende por marxismo é a
economía. Pode alguém ser cristfio é marxista na economía e na polí-

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12 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

tica... sem entrar no terreno da filosofía, que jamáis se debate" (citado


por H. Daubechles, "Fidel Castro habla a los 80", em "Mensaje" n? 206,
1972, p. 60).

Os «Cristáos para o Socialismo» costumam dizer que nao


tencionam aceitar, sem críticas, o marxismo, mas desejam
repensá-lo ou reformulá-lo, envolvendo-o numa síntese de pen-
samento cristáo. Pergunta-se, porém: na prática, será pos-
sivel distinguir entre lática marxista e filosofía marxista? Será
possível aceitar o marxismo únicamente enquanto incita a uma
análise científica da sociedade e rejeitá-lo enquanto é ideolo
gía? — Na realidade, isto nao parece exeqüível. No Con-
gresso de «Cristáos para o Socialismo» realizado em Bolonha
circulou um estudo de G. Girardi (de caráter privado) no qual
o autor sustentava a possibilidade, para os cristáos, de assumir
o marxismo até mesmo como filosofía, efetuando uma neces-
sária «unidade dialética entre marxismo e Cristianismo». É a
isto realmente que tendem, talvez nem sempre muito conscien
temente, os cristáos que se dispóem a colaborar com o mar
xismo. Todavía, para chegar a esta «síntese», é-lhes neces-
sário construir novas teorías referentes á fé e á Igreja, pois
as clássicas nocóes teológicas constituem obstáculo a tal ini
ciativa.

Eis por que se coloca lógicamente um terceiro ponto nesta


seqüéncia:

2.3. Reformulacóes teológicas

As linhas da nova teología já foram esbogadas no artigo


de PR 181/1975, pp. 10-28 concernente <k «Teología da Liber-
tacáo». Sejam aqui resumidas.

G. Arroyo, no discurso de abertura do Encontró de San


tiago, afirmava:

"O ponto de partida desta teología nfio é, como no caso de um vago


humanismo crlstfio, uma reflexáo filosófica sobre a essóncla do homem
em geral ou a Interpretado que a Igreja deu á revelacfio. A situac&o de
opressfio na qual o povo vive injustamente, ó o ponto de partida para a
reflexáo do crist&o revolucionarlo" (n? 3).

O arauto mais explícito da nova teología é G. Girardi.


Em sua conferencia ao Congrésso de Bolonha, dedicou longo
inciso á «nova opcáo teológica», ou seja, á tese do «primado

— 60 —
«CRISTÁOS PARA O SOCIALISMO» 13

dos valores temporais sobre os espirituais»: esta posicáo nao


significa apenas que os teólogos reconhécam a autonomía dos
bens temporais, profanos e políticos em relasao á Religiáo,
mas vai além, como se depreende das palavras do próprio
Girardi:

"A nova teología ImDÜca, antes do mals, que, na Interpretado da


historia,... seja reconheclda a Influencia mals fundamental dos fatores pro
fanos e, entre estes, dos fatores materlals, ou seja, económicos.

Isto significa... reconhecer que a verdade religiosa deve ser Juigada


a luz da verdade humana:... tudo o que na mensagem religiosa contradlz
ás conclusfies de autentica pesquisa humana, cortamente nfio se deriva
de Oeus, mas reflete a cultura de outra época e outra classe. Isto, por
certo, nio equivale a atribuir Infalibllldade & verdade humana, mas simples*
mente reconhecer que na interpretacSo da verdade religiosa o homem nio
pode n3o passar através da fallvel verdade humana...

Em particular, tudo o que ñas verdades religiosas contradlz ás exi


gencias da llbertacSo humana, nfio provém de Deus. Tudo o que na dou-
trlna e na vida crista constituí um obstáculo á luta de llbertacfio das cías-
ses populares e dos povos assu|eltados, nfio provém de Deus" ("Relazlona
ao Convegno di Bologna" 17).

Na «nova teología», a luta (praxis) de libertaqáo dos


opressos vem a ser o único criterio para a releitura da Pala-
vra de Deus, da Tradicáo crista e das verdades da fé.

Em relagáo á Igreja institucional ou visível os «Cristáos


socialistas» assumem urna atitude de contestacáo, pois a jul-
sram aliada do capitalismo internacional e incapaz de atender
as necessidades dos pobres. Proclamam o surto de «nova
maneira de ser Igreja».

Assim se percebe a evolucáo das idéias dentro das fileiras


do «Movimento»: os «Cristáos socialistas» partiram da verlfi-
caeáo de reais situacóes de injustica vigentes na sociedade;
denunciaram-nas k luz do Evangelho. Tentaram dar urna
interpretacáo de tais situacóes com o recurso ao método mar-
xista: este lhes inspirou a idéia da revolucáo como único mete
de dissipar a «injustica instalada». Todavía a assimilaqáo do
método marxiste sugeriu aos poucos a adesáo á própria filo
sofía marxista com a conseqüente revisáo das categorías de
fé, teología e Igreja.

A tentativa de conciliar marxismo e Cristianismo tem


gerado conflitos angustiantes em muitos «Cristáos socialistas»;
em determinado momento, véem-se obrigados a optar clara-

— 61 —
14 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

mente entre marxismo e Cristianismo; muitos entáo abando-


nam a Igreja e a fé, para ser nitida e simplesmente socialistas
ou marxistas.

Depois de expor sumariamente o surto e as concepsoss


principáis do «Movimento de Cristáos para o Socialismo», im
porta-nos tecer algumas consideragóes em torno do mesmo.

3. Reflexóes sobre o Movimento

Proporemos primeiramente os pontos negativos da men-


sagem dos «Cristáos para o Socialismo»; após o que, procura
mos formular urna conclusáo de toda a análise feita.

3.1. A solucáo "científica" do marxismo

Os «Cristáos para o Socialismo» julgam oferecer urna


resposta «científica» aos desafios da sociedade contemporánea,
quando denunciam o sistema capitalista de produgáo; este teria
sua lógica e suas estruturas essencialmente viciadas, de modo
a só poder ser abatido por revoluffáo armada.

Ora diante desta afirmagáo podem-se fazer tres obser-


vagóes:

a) A posigáo ácima nao leva suficientemente em conta


fatores políticos, culturáis e moráis que contribuem outrossim
para fomentar a injustiga no nosso continente.

Isto quer dizer: nao se deve esquecer que os males sócio-


-econ&micos da América Latina nao dependem apenas de cstru-
turas e constitoigoes, mas, em última análise, tém raizes nos
homens,... nos homens que participam de tais situares:
cedendo a interesses políticos mesquinhos, alimentando o
egoísmo e falhas éticas, a pessoa se torna responsável por
situagóes e estruturas sociais injustas e aberrantes. — Pode-se
deslocar o problema e focalizá-lo errónea ou unilateralmente
se apenas se consideram as estruturas da sociedade e nao a
responsabilidade dos homens que compóem a sociedade e sao
capazes de fazer ou desfazer estruturas.

Mesmo entre os homens responsáveis direta ou indireta-


mente pelas sortes da América Latina, deve-se reconhecer que
muitos sofrem, conscientes das necessidades de seus irmáos,

— 62 —
«CRISTAOS PARA O SOCIALJSMO> 15

e se esforcam por mitigá-las ou solucioná-las. A solugáo dos


problemas enunciados depende, por vezes, de um conjunto de
pessoas e fatores que nem sempre podem ser mobilizados devl-
damente. Por isto é necessário evitar julgamentos generali
zados com detrimento da própria justiga.

Álém disto, a «incorrigibilidade» do capitalismo nao é


fato «científico» como se presume. Há economistas — em
número avultado — que julgam possível a corre-áo dos des
víos do processo capitalista de producáo. Em alguns casos,
as respectivas tentativas deram resultado: o plañejamento da
produgáo, a intervengáo do governo para evitar lucros exage
rados e favorecer a justa redistribuigáo do dinheiro adquirido,
certos monopolios do Estado... tém concorrido para impedir
aberrares do capitalismo. Estes e outros fatos nao permi-
tem dizer que o capitalismo provoca a necessidade «científica»
da revolugáo.

b) Hoje em día varios estudiosos declaram a falencia


dos sistemas socialistas marxistas implantados em lugar do
capitalismo nos últimos decenios. Com efeito, a abolicáo da
propriedade particular dos bens de producáo nao resolveu o
problema da «exploragáo do homem pelo homem», mas o colo-
cou de outro modo: o grande proprietário capitalista, num
pa!s marxista, é o Estado, frente ao qual os cidadáos sao
dependentes ou alienados, tendo sua liberdade pessoal indevi-
damente diminuida (sao mutilados os direitos do cidadáo &
informajáo objetiva, á livre expressáo de pensamento, á loco-
mogáo ou a viagens, o direito de associagáo ou agremia-
Cóes, etc.). No contexto dos países marxistas, formaram-se
novas classes privilegiadas em lugar da dos capitalistas de
outrora: a dos govemantes, a dos militares, a dos dentistas
que trabalham em prol da ideología reinante no pais...

c) A distintáo entre método (ou praxis) marxista, de um


lado, e filosofía ou ideología marxista, dé outro lado, nao pode
ser sustentada na realidáde concreta. É difícil, se nao impos-
sivel, que alguém deixe de abracar as concepcoes marxistas
referentes ao homem e a historia, desde que abrace a prática
marxista da revolúcáo. É o que a maibria dos mestres mar
xistas reconhece.

Eis, porém, que os «Cristáos para o Socialismo» preten-


dem basear as suas atitudes em teses teológicas mesmas; afir-
mam que a sua posigáo nao so nao é incoerente em relagáo á

— 63 —
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

fé, mas chega a ser um dever imposto pelo Evangelho, visto


que somente através da prática revolucionaria se poderiam
obter a justiga, a projegáo histórica da fé e a renovagáo da
Igreja que o Espirito Santo inspira hoje em dia aos fiéis. É
por isto que os cristáos «socialistas» apregoam certas teses de
teología que já foram atrás brevemente expostas e que é
necessário agora passar pelo crivo da avaliagáo.

3.2. O equívoco básico: o conceito de fó

a) A nogáo de fé adotada pelos cristáos «socialistas» é


exposta nos textos que publicaram. Tenha-se em vista, por
exemplo, a seguinte passagem do Documento final do Encon
tró de Bolonha (21-23/IX/73):

"A fá se exprime necessarlamente em relacáo a um projeto de homem


e de socledade, sem por isto se reduzir a tal projeto. Ela escolhe entre
os possivels projetos humanos, mas nunca se coloca além deles. Toda
pretensfio de colocar a fó além das culturas humanas e dos conflitos
soclals é Ilusoria. Aqueles que recusam a polltizacáo da fé em nome da
sua transcendencia, recusam, em última anállse, urna polltizacáo explícita
em nome duma polhizacfio mascarada; tecusam a politizac&o revolucio
naria em nome da urna politizacSo conservadora" (n? 3).

Em outras palavras: os cristáos «socialistas» afirmam a


necessidade de que a fé dos cristáos se encarne na vida e na
historia da humanidade. Afirmam, porém, essa encarnagáo a
ponto mesmo de negar a índole transcendental da fé ou a refe
rencia da mesma a valores superiores ao homem (Deus, a
vida espiritual, a eternidade...). Em conseqüéncia, a fé fica
sendo essencialmente marcada pelas notas das diversas cultu
ras humanas, dos conflitos sociais e da política; a politizagáo
da fé (ou o engajamento político da fé) torna-se inevitável;
«fé» assim vem a ser o sinónimo de «praxe política» (ou
mesmo... «marxista»). Destas proposigóes segue-se aínda
que a fé é «verdadeira» na medida em que é «eficaz», ou seja,
na medida em que promove e sustenta a praxe revolucionaria;
a «ortodoxia» é avallada pela «ortopráxis».

b) É evidente que tais nogoes nao se conciliam com o


conceito católico de fé. Este afirma que a fé é a resposta
dada pelo homem a Deus que revela o misterio da sua pró-
pria vida e os seus designios de salvagáo. Tal resposta nao
pode ser dada senáo com o auxilio da grasa sobrenatural. Eis,
por exemplo, o que professa o Concilio do Vaticano II:

— 64 —
«CRISTAOS PARA O SOCIALISMO» 17

"A Deus que revela se deve a obediencia da (é, pela qual o hometn
llvremente se entrega todo a Deus, ao Deus revelador, prestando-lhe o
pleno obsequio da inteligencia e da vontade e dando voluntario assentl-
mento á verdade por Ele revelada...

Para que alguém possa prestar esta fé, ó necessérla a greca de


Deus, que se antecipa e.que auxilia..." (Constitulcáo "Del Verbum" n? S).

"Pela revelagáo divina Deus quls manlfestar-se e comunlcar-se asslm


como revelar os decretos eternos de sua vontade acerca da salvacfio dos
homens" ("Del Verbum" n? 6).

A salvagáo que Deus assim revela e comunica, visa, antes


do mais, á libertagáo do homem cativo do pecado e da morte.
Ela repercute, porém, ñas estruturas temporais e materiais da
vida dos individuos e da sociedade. Por isto o cristáo, cons
ciente do dom de Deus, tende com afinco e empenho a remo
ver as estruturas injustas que aviltam o ser humano. Todavía
ele sabe que, enquanto nao se der a consumagáo da historia
pela segunda vinda de Cristo, o pecado, sob todas as suas for
mas (inclusive as modalidades sociais), estará atuando entre
os homens.

A fé, portante, tem um caráter sobrenatural e transcen


dental que nao Ihe pode ser cancelado. Ela mostra aos ho
mens valores novos, assim como criterios e pontos de referen
cia que as ciencias sociais e políticas sao inoapazes de indicar.
A fé, longe de impedir que o cristáo se empenhe pela instau-
racáo da justica e do senso de fraternidade na sociedade,
incita-o veementemente a tanto; todavía orienta o engajamento
político do cristáo segundo criterios próprios e inconfundiveis.
A veracidade da fé nao se identifica com a sua eficacia poli-
tica, pois de antemáo a fé ensina que o Reino de Deus, Reino
de amor e justica, apregoado por Cristo só estará plenamente
realizado quando a última inimiga, a morte, tiver sido debe
lada (cf. 1 Cor 15,24).

3.3. SaivacSo crista e libertacSo política

Escreve G. Girardi na sua tese apresentada ao Encontró


de Bolonha:

"Para o homem llvre, a llberdade é regida apenas pela libertada...


llberdade que tem relacfio essencial com a llberdade dos outros homens
e a llberdade coletlva... A llbertacfio pessoal e coletiva toma-se o cri
terio do bem e do mal; ImpSe a destrulcfio de todas as formas de escra-
vldáo, a destrulcfio das estruturas que geram a estas, e das Idéias que

— 65 —
18 «PKRGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

justificam a escravidSo" ("Relazlone al Convegno di Bologna", em "II Rogno


doc." 1/X/73, pi 487s).

Isto quer dizer que a revelagáo divina nao traz norma


alguma para a liberdade humana. O Evangelho nao propóe
á consciéncia criterios próprios para que esta distinga o bem
e o mal.

b) Ora tal concepgáo contradiz a quanto ensina a dou-


trina católica.

Assim, por exemplo, o Concilio do Vaticano II denunciou


a tese que «identifica a liberdade com o fato de que o homem
seja seu fim próprio, único artífice e demiurgo da historia»
(Const. «Gaudium et Spes» n* 20).

Na verdade, o homem nao basta a si mesmo e, por isto,


nao pode ser o seu próprio fim supremo. O uso da liberdade,
conseqüentemente, está subordinado a. consecugáo do único
fim capaz de corresponder as aspiragóes do homem: fim abso
luto, infinito, que é o próprio Deus.

É por isto também que a libertado do homem, embora


vise a proporcionar a este condigóes sócio-económicas dignas e
justas, nao se limita a este objetivo. Ela incluí essencialmente
também a libertagáo do homem em relagáo ao seu próprio
egoísmo, a ganancia de dinheiro, poder e prestigio. Em suma,
nao pode haver plena libertagáo enquanto o homem nao se
emancipa do pecado que o condiciona interiormente: «O que
sai do homem, é que torna o homem impuro. É do interior
do coragáo dos homens que procedem as más intengóes: pros-
tituigóes, roubos, assassínios, adulterios, ambigóes, perversi-
dade, má-fé, devassidáo, inveja, maledicencia, orgulho, desva
rios...» (Me 7,21).

Alias, a experiencia de.todos os dias confirma estas pala-


vras do Evangelho: as estruturas jurídicas e sociais mais bem
concebidas nao tornam o homem livre se nao na medida em
que a mudanga de estruturas é acompanhada por urna pro-
gressiva transformagáo das consciéncias. É o que afirma
Paulo VI na Carta Apostólica «Octogésima Adveniens»:

"Hoja os homens aspiran) a llbertar-se da necessldade e da depen


dencia. Mas esta NbertasSq tem inicio-com a liberdade Inteilor que devem
recuperar frente aos seus bens e poderes... Se esta nao existe — e ó

— 66 —
<CRISTAOS PARA O SOCIALISMO» 19

o que se vé mullo freqüentemonte —, mesmo as mals revolucionarias Ideo


logías obteiáo apenas urna troca de patries: colocados no poder, os novos
patrOes se cercam de privilegios, llmitam a liberdade alhela e permitem
que se instlluam outras formas de injustlca" {n? 45).

Ora, se a auténtica libertagáo do homem visa nao somente


a novas estruturas sociais, mas também á renovagáo interior
das consciéncias, deve-se dizer que 'á Igreja toca, antes do mais,
agir junto ás consciéncias: Ela há de fornecer os elementos
necessários para que os homens se comportem com sentimentos
de justiga e amor fraterno dentro de estruturas adequadas.
Tal é o ensinamento do Concilio do Vaticano II:

"Por certo, a missio própria que Cristo conflou 6 sua Igreja, nao
é do índole política, económica e social; na verdade, a flnalidade que Ele
Ihe asslnalou, é de índole religiosa. Todavía precisamente desta mlssao
religiosa se derlvam tárelas, luz e forcas que podem contribuir para cons
truir e consolidar a comunldade dos homens segundo a leí de Deus (Const.
"Gaudlum et Spes" n<? 42).

Donde se vé que reduzir a missáo da Igreja ao combate


a algum sistema sódo-político significa ignorar por completo
o que sejam o Cristianismo e sua tarefa na historia dos
homens.

3.4. O primado do temporal sobre o espiritual

Os «Cristáos para o Socialismo» chegam a professar a


prevaléncia dos valores materiais (temporais) sobre os espi-
rituais.

Ora nao é isto o que o Evangelho ensina. Segundo o Se-


nhor Jesús, é do amor a Deus que se deriva o auténtico amor
ao próximo: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu
coragáo, toda a tua alma e toda a tua mente. Este é o maior
e primeiro dos mandamentos. O segundo é semelhante ao
primeiro: Amas o teu próximo como a ti mesmo» (Mt 22, 37s).

O Apostólo Sao Joáo faz eco a estas palavras dizendo:


«Sabemos que amamos os filhos de Deus, se amamos a Deus
d observamos os seus mandamentos» (1 Jo 5,2).

Nao há dúvida, o amor a Deus, para ser genuino, deve


necessariamente traduzir-se em amor ao próximo: <Se alguém
diz 'Amo a Deus', mas odeia o seu irmáo, é um mentiroso.
Na verdade, quem nao ara o seu irmáo que ele vé, nao pode

— 67 —
20 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

amar a Deus que ele nao vé. Este é o mandamento que dele
recebemos: quem ama a Deus, ame também o seu irmáo»
(1 Jo 4,20s).

Em síntese, pode-se dizer que o amor de Deus e o amor ao


próximo sao inseparáveis um do outro, de tal modo, porém,
que o primado toca ao amor a Deus: «Como eu vos amei,
amai-vos uns aos outros» (Jo 13,55). — Dado que alguém
ame os seus semelhantes atribuindo o primado ao homem,
realiza urna filantropía natural, que ainda nao é o amor cris-
táo propriamente dito; este constituí um novo mandamento
pelo fato de ser imitaeáo e participacáo do amor que Deus
primeiramente dedicou aos homens.

Passemos agora a urna

4. Condusao

As consideracóes até aqui propostas evidenciam que nao


se devem confundir salvacáo crista e libertacáo marxista ou,
ainda, esperanca crista no futuro transcendental do homem e
esperanga marxista num futuro terrestre. Conseqüentemente,
a a$áo transformadora do Cristianismo no mundo nao pode ser
identificada com a praxis marxista.

Isto, porém, nao quer dizer que o Cristianismo fique indi


ferente aos problemas sócio-economicos da humanidade, prin
cipalmente dos povos subdesenvolvidos. A consciéncia da dig-
nidade do homem está, hoje mais do que nunca, viva dentro
da Igreja. Por isto os cristáos nao podem cruzar os bracos
diante de injustigas e opressóes.

. Também hoje mais do que nunca, está viva na Igreja a


consciéncia de que a fé crista tem urna projecáo histórica,
assim como dimensóes que abrangem o homem todo e todos
os homens.

Conseqüentemente, os cristáos se sentem interpelados


pelos problemas da fome, da ignorancia, da falta de higiene e!
do subdesenvolvimento em geral. Esses males vém a ser
«sinais dos tempos», como se costuma dizer. Todavía os cris
táos os enquadram em contexto diferente e os consideram com
olhos diversos dos do marxismo: Deus e os valores espirituais
continuam a ser, para os cristáos, valores absolutos, pois o

— 68 —
«CRISTAOS PARA O SOCIALISMO» JS1

discipulo de Cristo sabe que os bens materiais sao exiguos e


insuficientes para satisfazer á capaddade de Infinito que existe
em todo homem. Por isto o cristáo, embora se deva empe-
nhar corajosamente por um mundo de estruturas sócio-eco-
nómicas justas e humanas, nao julga que o valor da sua mis-
sao possa ser analisado pelos resultados obtidos através desses
esforcos; nao poderá ser removida por completo a iniqüidade
da face da térra senáo na consumacjio dos tempos. Por
enquanto, a luta do cristáo é participacáo da Páscoa de Cristo,
Páscoa que consta de Cruz e Ressurreigáo. A Cruz já é ilumi
nada pela Ressurreigáo; mesmo que ela nao falte (apesar da
luta do cristáo para afastá-la), ela tem seu significado de modo
a nao desanimar nem abater o cristáo. É á luz destas ver
dades que o discipulo de Cristo se compromete a procurar
renovar e santificar o mundo pela prática da justica e do
amor. — Como se vé, urna tarefa assim concebida jamáis
poderá ser executada em colaborado com o marxismo; este é
nao somente urna tática, mas também urna filosofía, filosofía
radicalmente diversa da crista. Marxismo e Cristianismo tém
em comum a esperanza da salvagáo e a consciéncia de que
esta se realiza pe'o sacrificio... Todavía partem de premissas
diversas e tendem a termos essencialmente diferentes um do
outro, de modo que quem opta por um nao pode optar pelo
outro.

Bbllogratla:

B. Sorge, "II Movlmento del Cristian! per II Socialismo", em "La


Clvlltá Cattolica" 1974 I!, 111-130.

ídem, "Ragloni e amblgultá del Crlstlanl per II Socialismo", em "La


Clvlltá Cattolica" 1974 III, pp. 456, 474. 456-474.

L. Accattoll, "I ctlstlanl per il socialismo e la real'á di cul sonó


e8pressfone", em "II Regno documentazlone", 18, 1S/XI/74, pp. 464-474.

H. Oschwald, "Chrlsten für den Sozlalismus", em "Orlantlerung",


rfi 22, 30/XI/74, pp. 2398.
"Llbertacfio". CEI, Suplemento n? 11, dezembro 1974.
S. Galilea, "A NbertacSo na Conferencia de Medellln", em CEAS,
fí9 34, nov.-dez. 1974, pp. 56-61.

Ver bibliografía Indicada em PR 181/1975, pp. 28.

— 69—
Quem sflo?

os adventistas do sétimo dia

Em sfnlese: Os Adventistas tem orlgem na obra de Wllllam Millar


(1782-1849), crente batista, que julgou poder calcular, a partir de textos
do profeta Daniel, a data da segunda vlnda de Cristo: entre 21/111/1843 e
21/111/1844. Após o teimo deste prazo, Snow, seu discípulo, refez o cal-
culo e Indlcou o dia 22/X/1644. Já que nada acontecía nesta data, mullos
adeptos de Millar se alastaram do mestre. Todavía Ellen Gould Whl.e,
mulner de grande energía, apelando para "visees", assegurou que de falo
em 1844 algo de novo se dera nSo na térra, mas no céu: Cristo entáo
entrou no santuario celeste, onde está julgando os homens; após o que, se
manifestará sobre a térra para reinar durante mil anos com os fiéis e
santos. O ílm do mundo, asslm Iniciado, se consúmala em breve. Ellen
Whlte, além dessa profecía, incutiu a norma da observancia do sábado em
lugar do domingo e um conjunto de preceltos dietéticos e higiénicos, que
perfazem a slntese doutrlnárla dos Adventistas do Sétimo Dia. — Nem
todos os Adventistas concordan) na Integra com a Sra. Whlte e seus adep
tos, de modo que existem seis denominacSes ou Congregares Adventistas
independentes urnas das outras.

A adventismo significa notável guiñada na tradicfio protestante. Rea


firma proposicfies do Antigo Testamento, que a revelacfio do Novo Testa*
mentó ultrapassou. A fantasía arbitrada Inspira grande número de suas
efl.macSes. — Quanto a data do fim do mundo, o pióprlo Cristo recusou-se
a revelá-la, exortando os homens a vigilancia em qualquer momento. Em
consequéncia, tanto se pode afirmar que o juizo final está próximo como se
pode cier que a historia do mundo aínda dure séculos.

Comentario: Os Adventistas constituem urna posicáo


religiosa de nosso povo que tem marcado a vida pública com
templos, escolas, hospitais, programas de radio e folhetos im-
pressos, através dos quais se apregoam profecías sobre o fim
do mundo. Muitas pessoas se impressionam com as afirma-
Cóes e as observancias religiosas desses cnstáos. Daí a opor-
tunidade de urna exposigáo da historia e das doutrinas dos
Adventistas.

1. Origem do Adventismo

1. O sáculo XIX nos Estados Unidos da América foi


marcado por varios reavivamentos (reviváis) religiosos, cheios
de fervor entusiasta alimentado por «prodigios, iluminacóes e

— 70 —
OS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DÍA 23

revelagóes»; tenham-se em vista o movimento dos Morraons,


fundado por Joseph Smith, o da Ghristían Science (Ciencia
Crista), encabegado por Mary Baker-Eddy, o dos Qaakers (Tre-
medores), devido a Ann Lee, o dos Seguidores de Cristo, oriun
dos do vale do Sao Lourenjo (Canadá), o dos Harmonistas,
provenientes da Alemanha... Nesse contexto histórico é que
Be coloca o surto do Adventismo.

2. William Miller (1782-1849) era um camponés de Mas-


Eachusetts, nascido de país piedosos, batistas. Abandonou a
práticu religiosa batista, mas aos 34 anos de idade, em 1816,
voltou-se para Deus e o estudo da Biblia. Comparando os
textos sagrados entre si, chegou á conclusáo de que a segunda
vinda de Cristo se daría em 1843. Com efeito, os 2.300 dias
mencionados em Dan 8,5-11 deveriam ser tidos como anos,
que ele comcgava a contar a partir do retorno de Esdras a
Jerusalém, ou soja, a partir de 457 a.C. Donde 2.300 —
457 = 1843. O fim do mundo, por conseguinte, havia de se
dar, precisamente, entre 21 de mareo de 1843 e 21 de marco
de 1844; nesse período de tempo, Cristo reaparecería sobre a
térra e reinaría visivelmente com os santos pelo espago de
mil anos, durante os quais se daría a exaltagáo dos bons e a
condenagáo dos maus. O reinado de mil anos de Cristo sobre a
term era sugerido a William Miller pelos dizeres de Apc 20,6s.

Tendo feito essa descoberta, William pós-se a apregoá-la


com eloqüéncia, percorrendo cidades e aideias dos EE.UU.
Conseguiu numerosos prosélitos para as suas idéias, que ele
expós no livro intitulado «Evidence from Scripture and His-
tory of the Second Coming of Christ about the year 1843»
(Brandon, Vermont, 1842).

Em 1842-1843 Miller realizou cento e vinte assembléias


nos campos com a participagáo global de quinhentos mil ouvin-
tes. A Igreja Batista excomungou-o. Miller tinha cinco mil
discípulos aos 22/X/1843.

Na verdade, porém, o prazo previsto passou-se sem novi-


dade alguma... Entáo o discípulo de Miller, S.S. Snow,
refez o cálculo, mostrando que o ano hebreu nao corresponde
ao ano cristáo; por conseguinte, o termo exato da segunda
vinda do Senhor sería o día 22 de outubro de 1844. B'oi por
essa ocasiáo que os seguidores de Miller tomaram o nome de
«Adventistas».

— 71 —
24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

Todavía também esta nova data decorreu sem alteracáo


da historia. O entusiasmo de muitos discípulos arrefeceu. Os
que ficaram fiéis a Miller, reuniram-se em assembléia geral em
Albany aos 25/IV/1845, quando Miller resolveu constituir urna
Igreja própria; esta professaria a iminéncia da segunda vinda
de Cristo, por ocasiáo da qual os santos ressuscitariam e come-
cariam a reinar por mil anos; nao se indicaría data para tal
acontecimento!

3. Foi a essa altura da historia que surgiu a figura ardo


rosa da Sra. Ellen Gould White. Nascida na Igreja Meto
dista, aderiu á pregacáo de Miller, e esperou a vinda de Cristo
em 1844. Em 1846 casou-se com James White, pregador
adventista, e resolveu compartilhar o apostolado deste. Ellen
dizia ter revelacóes, que ela assim explicava:

Em 1844 deu-se realmente algo de novo, nao na térra,


mas no céu. O santuario de que fala Dan- 8,14, é o santuario
celeste, do qual trata também Hebr 9,lls: Jesús Cristo, que
só oficiava no lugar santo, naquele ano entrou no «Santo dos
Santos» dos céus. A Sra. White dizia té-lo visto com seus
próprios olhos: podia atestar que, a partir de 22/X/1844, Je
sús Cristo estava a examinar o valor dos homens defuntos,
aprovando ou reprovando cada um deles. Quando essa obra
gigantesca acabasse, os vivos passariam por semelhante julga-
mento e o fim do mundo estaría próximo.

A tese assim proposta por Ellen White encontrou oposi-


cáo por parte de muitos discípulos de Miller, dado que era
altamente fantasiosa e arbitraria, carecendo de sólido funda
mento exegético. Todavía a vidente conseguiu convencer os
opositores, apelando constantemente para as suas visdes e
revelacóes. Depois que Miller morreu (1848), tornou-se Ellen
White a grande mestra do Adventismo.

Outra tese que a profetiza incutiu aos adventistas, foi a


da observancia do sábado... Entre 1840 e 1844, alguns gru
pos batistas passaram a santificar o sábado em lugar do
domingo. A Sra. Presten chegou a fundar urna seita batista
adepta do sábado. Ora Presten tornou-se adventista e comu-
nicou a crenca sabatista a numerosos discípulos de Ellen
White, inclusive ao marido desta, o pastor James White.
Ellen, a principio, hesitou diante de tal proposicáo, mas final
mente adotou-a; em 1847 teve urna visáo por ocasiáo da qual

— 72 —
OS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DÍA 2S

avistou no santuario celeste as tábuas da Lei de Moisés, e,


nessas tábuas, o quarto mandamento cercado de urna auréola
fulgurante. Desde entáo, o casal White se empenhou corajo
samente pela difusáo da doutrina adventista, que professava
a eminente vinda de Cristo, a existencia do santuario celeste
e a observancia do sábado. Ellen White, como «mensageira
do Senhor», viaiou pela América do Norte, a Europa e a Aus
tralia, difundindo incansavelmente as suas idéias.

A Igreja Adventista do Sétimo Día exige a fé nao somente


ñas Escrituras B'blicas, mas também no espirito de profecía
de Ellen White. Eis a pergunta decisiva feita a todo candi
dato: «Aceita o espirito de profecía tal como se manifestou
no seio da Igreja escatológica pelo ministerio e os escritos de
E. G. White?»

Impunha-se também aos novos crentes a abstinencia de


fumo e álcool sob pena de excomunháo da vida etema. A
Ceia do Senhor era celebrada com suco de uva, sem álcool.
Este rigorismo contribuiu para que os adventistas do 7» dia
se tornassem urna comunidade de élite, exigente e fanática, á
semelhanca das seitas (cf. PR 172/1974, pp. 155-165, onde se
fala da diferenja entre Igreja e seita).

4. Á medida que os adventistas se foram organizando e


autoafirmando, as cisóes foram-se multiplicando em seu ám
bito, de modo que hoje, ao lado dos Adventistas do Sétimo
Dia, existem cinco outras denomina-oes advent'stas: os Adven
tistas Evangélicos, os Cristaos Adventistas, a Igreja de Deus,
a UniSo da Vida e do Advento, os Adventistas da Era Vin-
doura, a respeito dos quais seja dada breve noticia:

a) Os Adventistas Evangélicos (Evangélica! Adventista)


representam o tronco mais antlgo do Adventismo: aceitam
como iminente a segunda vinda de Cristo, mas nao aderem a
observancia do sábado. Existem em pequeños grupos apenas.

b) Os Cristaos Adventistas (Advent Christians) origina-


ram-se em 1861, tendo sua sede principal em Bostón (U.S.A.).
Julgam que as almas dos pecadores nao seráo imortais.

c) A Igreja de Deus (Church of God) separou-se dos


Adventistas do Sétimo Dia em 1864-65, sob a guia do pastor
Cranmer. Recusavam a palavra «inspirada» de Ellen G.
26 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

White, assim como as exigencias de abstengáo em relacáo ao


vinho, ao café, á carne, ao fumo.

d) A Uniáo da Vida e do Advento (The Life and Advent


Unión) separou-se do seu tronco em 1864. Seus membros
constituem a menor secgáo dissidente. Professam que o mile
nio (Apc 20,6s) já passou; nao foi um periodo de paz e feli-
cidade, mas de perseguicáo e sofrimento para os cristáos. Nao
haverá ressurreicáo para os maus; a vida eterna será o pre
mio outorgado apenas aos bons.

e) Os Adventistas da Era Vindoura (Age-to-Come Ad-


ventists ou Churtíhes of God in Christ Jesús) cindiram-se do
tronco em 1888. Afirmam que Cristo, voltando á térra, fará
de Jerusalém a capital do seu reino e restaurará o povo judeu
no beneplácito de Deus. Por isto sao também chamados Ees-
taoracionistas ou Restitucionistas.

A seguir, proporemos, de maneira sistemática, as crencas


típicas dos Adventistas do Sétimo Dia, que sao os mais pro
pagados no mundo inteiro (especialmente no Brasil).

2. Adventistas do Sétimo Dia: características

Os Adventistas do Sétimo Dia acreditam em Deus Uno e


Trino (Pai, Filho e Espirito Santo). Aceitam Jesús como
Deus e Homem.

Afirmam, porém, que o homem é por si mortal. Foi


criado a imagem e semelhanga de Deus como candidato &
imortalidade. Todavía, submetido á prova no estado original,
caiu e passou a ser réu de morte.

A morte física nao é senio um sonó das almas. Os mor-


tos, inconscientes como estáo, ignoram por completo o que
ocorre na térra. Todos os defuntos, bons e maus, permane-
ceráo em seus túmulos até a1 ressurreigáo. Entáo santos e
pecadores ressuscitaráo: os santos... quando Cristo voltar
para reinar mil anos em paz; os pecadores, após o reinado de
mil anos.

Os santos receberáo o dom da Imortalidade, quando Cristo


voltar. No fim do milenio de reinado de Cristo, os impios
ressuscitaráo para ser aniquilados juntamente com Satanás.

— 74 —
OS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DÍA Z7

Assim nao ficará resquicio de pecado na eternidade. O mundo


visível, purificado de todo pecado, tomar-se-á o paraíso ter
restre restaurado. Haverá nova térra, dada como heranda aos
santos.

O fim do mundo come^ou em 1844. Nesse ano, Cristo


entrou no santuario celeste e comecou a purificá-lo (cf. Dan
8,14). Desde aquela data, Cristo está examinando quais os
mortos que serio dignos de tomar parte na primeira ressur-
reicáo. Quando esse exame estiver terminado, dar-se-á a
vinda visível de Cristo sobre a térra. O cumprimento de pro
fecías de Daniel e do Apocalipse concernentes á situagáo física,
social, política, religiosa, industrial do nosso mundo prova que
a vinda de Cristo está próxima. Nao se pode indicar data;
mas é preciso que os homens estejam prontos a qualquer hora.

O Batismo é conferido por imersáo, e somente aos adul


tos. É símbolo da conversáo já realizada anteriormente pela
fé e pela mudanga de vida do candidato. Nao é meio eficaz
de santificagáo.

O dia do Senhor é o sábado, e nao o domingo.

Além de professarem tais crencas, os Adventistas do Sé


timo Dia promovem campanhas em favor da higiene e da
saúde do corpo. Chegam a distribuir livros de dietética e
revistas de arte culinaria ou de higiene ; esses impressos as
vezes precedem os livros religiosos que os Adventistas ofere-
cem; servem, portante, para abrir caminho ao apostolado
missionário adventista.

Todavía nao é esta a única razáo de ser de tais impressos.

A solicitude para coma saüde foi concebida pela Senhora


White ém conseqiiéncia de urna visáol Seü marido, James
White, estava doente. Ellen White orou entáo, e o Senhbr
revelou-lhe, por via portentosa, as normas fundamentáis sobre
as quais se baseiam as regras adventistas concernentes &
saüde. Ei-las:

O corpo é templo do Espirito Santo; está destinado a res-


suscitar. Por isto é preciso usar todas as coisas com mode-
racáo a fim de que a carne nao se insubordine contra o espi
rito. Nessa perspectiva, certos alimentos devem mesmo ser
banidos: tais as bebidas alcoólicas, a carne de porco, o café,

_75~
28 <PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

o cha, todos os produtos excitantes, os narcóticos... A Se-


nhora White era propensa ao vegetarianismo; mas nao chegou
a impor, por completo, a abstinencia de carne aos seus segui
dores; contudo esta é vivamente recomendada por mestres
adventistas. É claro que, neste contexto, também o fumo é
banido.

O adventista que nao se conforma a essas normas, é


banido da comunidade; dir-lhe-áo que nao poderá obter a vida
eterna.

O interesse dos Adventistas pela saúde física é notorio.


Fundam e dirigem hospitais, sanatorios, dispensarios no
mundo inteiro; esses centros de medicina vém a ser indireta-
mente também centros de propaganda religiosa. É com muito
dinheiro norte-americano que os pregadores e missionários
adventistas difundem suas idéias através de templos, clínicas,
impressos varios... A nota marcante dessa propaganda é sem-
pre o anuncio de que o fim do mundo está próximo.

Resta agora dizer sobre o assunto

3. Urna palavra final

O Adventismo pretende basear suas doutrinas sobre as


Escrituras Sagradas. A maneira, porém, como os adventistas
interpretam a Biblia, é assaz arbitraria; até meados do sé-
culo XK nenhuma confissáo crista professou semelhantes
interpretares da S. Escritura. O que há de singular nessas
teses, é a volta a proposic.5es do Antigo Testamento, proposi-
cóes que o Novo Testamento elucidou e reformulou. Te-
nham-se em vista, por exemplo, os seguintes pontos:

1) A tese de que as almas adormecem pela morte do


homem e se tornam inconscientes na outra vida, equivale a
urna crenca do Antigo Testamento: este admitía o cheol, re-
giáo subterránea, onde bons e maus se encontravam reuni
dos em estado inconsciente; cf. SI 6,6; 87,11-13; Is 38,18s...

O Novo Testamento, ao contrario, ensina que, logo após


a morte, o homem entra na sua sorte definitiva; os bons veráo
a Deus face-a-face; cf. Flp 1,21-23; 2 Cor 5,6-10.

2) A crenca num reinado de Cristo por mil anos sobre


a térra tem suas raizes na literatura apocalíptica judaica; foi

— 76 —
OS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DÍA 29

professada por alguns antigos escritores cristáos. Mas sem


demora a Igreja a abandonou, consciente de que nao corres-
ponde á pregagáo de Cristo.

O texto de Apc 20,6s, que alude a esse reinado milenario,


há de ser visto á luz de Jo 5,25-29 (Sao Joáo é o autor tanto
do IV Evangelho como do Apocalipse). Eis o texto do Evan-
gelho:

Jo 5: "as Em ventado, em ventada vos digo que a hora vem — e


já velo — em que os morios hSo de ouvir a voz do Pllho da Deus, e
os que a ouvlrem, vtverfio...

vos admírela disto, pols vem a hora em que ouvirSo a sua


voz todos os que estSo nos sepulcros. 20 Os que pratlcaram o bem, sairSo
para a ressurrelcfio da vida; mas os que pratlcaram o mal, salrSo para
a ressurrelcSo do Julzo".

Nesta passagem, Jesús fala de duas ressurreicóes (cf. w.


25 e 28-29): a primeira se dá imediatamente («já veio»)j a
segunda é futura. Essas duas ressurreicóes corresponden! á
ressurreigáo primeira e á ressurreigáo segunda de Apc 20,5-7.
Significam a passagem da morte para a vida que se dá pelo
Batismo e a graga santificante (ressurreigáo primeira), e a
que ocorrerá no fim dos tempos, quando os corpos ressuscita-
ráo para que o homem — em corpo e alma possua a sua
sorte etema (ressurreigáo segunda). Entre urna e outra res
surreigáo existe um intervalo de mil anos, conforme Apc
20,5-7... O número 1.000 aqui designa bonanga, vida... E
com razáo, pois viver em graga é viver desde já a vida eterna,
feliz; é, pois, viver 1.000 anos (segundo o simbolismo dos
antigos!).

3) A tese da restauragáo do paraíso terrestre tem tam-


bém suas bases no Antigo Testamento; cf. Is 11,6-8; 66,17-24.
Todavía a bonanga e a harmonía descritas em tais passagens
sao evidentemente simbólicas. O estilo apocalíptico dos pro
fetas quer apenas dizer que a natureza irracional — arrestada
pelo homem para a desordem — será solidaria com o homem
também na glorificagáo finai. Isto, porém, nao significa
necessariamente que as leis da natureza seráo violadas, como
sugere o texto de Isaías: «Entáo o leáo habitará com o cor-
deiro; o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o novilho e
o leáo comeráo juntos, e um menino os conduzirá... O leáo
comerá palha com o boi» (Is ll,6s).

4) Quanto ao cálculo da data do fim do mundo (1844),


apoia-se em interpretagóes fantasistas do livro de Daniel...

— 77 —
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

Cristo nao precisa de 130 ou mais anos (já estamos om 1975)


para fazer o discernimento dos bons e dos maus! O mundo
pode durar aínda muitos sáculos. O próprlo Jesús recusou
revelar aos apostólos a data do juízo final; apenas guis incutir
aos homens vigilancia e disponibilidade para que a qualquer
momento possam receber o Juiz de toda a humanidade: «VI-
giai, pois, porque nao sabéis o dia nem a hora» (Mt 25,3);
«Vigiai, pois, porque nao sabéis em que dia vira o vosso Se-
nhor... Estai preparados, porque o Filho do Homem vira na
hora em que menos pensardes» (Mt 24,42.44). Cf. Me 13,32;
At

Por conseguinte, nao é de crer que a data do juízo final


possa ser deduzida das Escrituras Sagradas.

5) A proibigáo de certos alimentos também é vestigio


do Antigo Testamento, ultrapassado pelos textos do Novo
Testamento. Estes recomendam sobriedade e mortificagáo,
mas já nao proibem os alimentos que a Leí de Moisés, por
motivos de higiene e de pureza ritual, proscrevia. Assim, por
exemplo, diz o Senhor Jesús:

"NSo percebels que tudo quanto de fora entra no homem, nao o


pode tornar Impuro, porque nao penetra no corag&o...?" {Me 7,18s).

Sao Paulo, por sua vez, escreve:

"Alguns Impostores proibem o uso de alimentos que o Senhor crlou,


para que, com acáo de grapas, participen» deles os fiéis e aqueles que
conhecem a verdade. Porque tudo o que Deus crlou é bom, e nao ó
para desprezar, contanto que se lome com acáo de g.acas, pois é santifi
cado pela palavra de Oeus e a oracáo" (1 Tlm 4,2-5).

6) Quanto á observancia do sábado, em lugar do


domingo, já foi comentada em PR 158/1973, pp. 63-73.

A palavra hebraica shabbath significa «sete» e «repouso»,


de modo que qualquer sétimo dia (na seqüéncia dos días do
ano) consagrado ao repouso é sábado. Os cristáos desloca-
ram de um dia a'observancia do repouso ou do sétimo dia,
porque foi no dia posterior ao sábado ou no domingo que o
Senhor Jesuse ressuscitou dos morios, apresentando ao mundo
a nova criatura! O próprio Deus, colocando a ressurreigáo de
Cristo no dia seguinte ao sábado, deu a entender que o dia
do Senhor por excelencia ou o sábado dos cristáos deveria ser
deslocado de um dia.

«78
OS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA 31

7) Quando os textos do Antigo Testamento ameacam de


mortc o homem pecador, tém em vista a perda da vida no
sentido bíblico desta palavra; na Biblia, a vida implica sempre
iiniao eom Deus e fejicidade. Nao significam, porém, aniqui-
lagáo da vida no sentido f'sico. Existia entre os judeus a
consdéncia de que todo homem tem um principio de vida que
subsiste após o termo da sua existencia terrestre em urna vida
postuma. Cf. PR 138/1971, pp. 253-255.

Da denominado adventista sairam ramos dissidentes, que


tomaram os nomes de Testemunhas de Jeová e Amigos de
Homem. Utilizaram as teses estranhas do Adventismo, desen-
volvendo-as de modo a enfatizar mais ainda as concepgóes do
Antigo Testamento em pleno século XX! As Testemunhas de
Jeová e os Amigos do Homem já nao sao cristáos, pois nao
reconhecem a Divindade de Cristo.

8) A realidade do Adventismo serve para lembrar ao


leitor quanto é importante nao se ler a Biblia independente-
mente da Tradigáo oral que a antecedeu e a acompanha até
hoje, como criterio de auténtica interpretagáo.

Para ilustrar como pode ser arbitraria a interpretagáo da


Biblia desvinculada da Tradigáo oral, seja citado o seguinte
exemp!o:

Para muitos advent'stas, a Besta do Apocalipse que é


designada pelo número 666 (cf. Apc 13,18), vem a ser o Santo
Padre o Papa. Este, tendo o titulo de «Vicarius Filii Dei»
(Vigário do Filho de Deus), estaría compreendido sob a
sigla 666:

VICARIUS FILII DEI

5 1 100 15 1 50 1 1 500 1 = 666

Note-se, porém, que exatamente o mesmo número pode


designar a profetiza fundadora do Adventismo do Sétimo Dia:

ELLEN GOULD WHITE


(V V)
50 50 5 50 500 5 5 1 = 666

Ellen Gould White seria entáo a Besta do Apocalipse!

— 79 —
32 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

Na verSade, nem o Papa nem Ellen White sao encarados


pelo autor do Apocalipse, que so podía ter em vista um perso-
nagem já conhecido pelos seus leitores no fím do séc. I. A
explicagáo mais verossímil julga que esse era o Imperador
Ñero, tido como prototipo de todos os perseguidores dos cris-
táos. Cf. PR 4/1958, pp. 145-149.

A propósito vejam-se

"Os Adventistas". Colec&o "Vozes em Defesa da Fé" rfi 19. Petró-


polls 1959.

"As Testemunhas de Jeová". Ib n? 22. Petrópolls 1959.

H.-Ch. Chéry, "L'offenslve des sectes". París 1954.

Os livros de Ellen White sao largamente difundidos pela Imprensa


adventista.

ANO SANTO

PEREGRINAQAO A ROMA

1 a 29 de abril de 1975

VISITA AOS SANTUARIOS DE FÁTIMA — ÁVILA —


LOURDES — SOLLESMES — LISIEUX — CHARTRES —
MEDALHA MILAGROSA (PARÍS) — SENA — ASSIS —
SUBIACO — MONTE CASSINO — ROMA (OPCIONAL:
TÉRRA SANTA).

ORGANIZADA PELAS OBLATAS DO MOSTEIRO DE


SAO BENTO DO RIO DE JANEIRO.

ACOMPANHANTE: D. LEAO DE ALMEIDA MATTOS


O.S.B. INFORMALES: IR. NICOLAU MÜLLER O.S.B.
LIVRARIA «LUMEN CHRISTI» — TEL.: 223-4226 — GB.

— 80 —
Recentemenfe, mals urna vez:

casa mal-assombrada?

Em slnlese: Em novembro de 1974, a Imprensa dlvulgou o episodio


de urna casa mal-assombrada em Brldgeport (U.S.A.). Urna das explica
res que para o fenómeno se tém dado, é a de Intervencfio do Além
(espiritas desencarnados ou talvez demonio) na vida da familia Goodln
asslm atingida. O Vlgário-Geral da dlocese de Brldgeport, poróm, Julga
que deve haver urna elucldacfio científica ou racional para o caso.

Na verdade, hoje em día a Parapsicología, como clónela que estuda


o comportamento paranomnal do pslqulsmo humano, Julga poder enquadrar
o fenómeno da "casa mal-assombrada" dentro das categorías da psico-
clnese (PK) ou mocSo por torcas nfio físicas, mas psíquicas. Com efelto,
observa-se que, no centro dos fenómenos de assombracSo, há geralmente
urna pessoa ou um grupo de pessoas cuja presenta parece estar associada
á producáo de tais fenómenos: trata-se multas vezes de pessoas que, devt-
damente anallsadas, trazem em si um confuto psíquico; este se espelha
em termos físicos, provocando choques ou luta no ambiente respectivo.
Slegmund Freud, o fundador da Pslcanálise, concordou com tal expllcacao.

Alguns casos de 'assombracfio" crlterlosamente estudados parecem


corroborar tal eluddacSo dos fenómenos de "casa mal-assombrada"; estes
nao dependem do Além, mas da psicoclnese pratlcada Inconscientemente
por pessoas envolvidas em tais fenómenos.

Comentario: Aos 27/XI/74, a imprensa noticiou, mais


urna vez, um episodio de «casa mal-assombrada»:

Em Bridgeport, Connecticut (U.S.A.), a residencia do


casal Gerald Goodin, já há dois anos, vem sendo perturbada
por estranhos fenómenos: mesas viram de pés para o alto,
voam cinzeiros, flutuam no ar poltronas, armarios e eletrodo-
mésticos, portas batem sozinhas... O sacerdote Mons. John
Toomey, Vigário-Geral da diocese de Bridgeport, chamado a
praticar o exorcismo nessa casa, declarou que «deve haver
urna explicagáo natural para os acontecimentos».

Todavia o casal de «parapsicólogos» Lorraine e Edward


Warren julga que a causa de toda a desordem é o «espirito
invejoso do filho de Goodin»; dizem que o menino, falecido há
cinco anos, deve estar querendo vingar-se dos país por terem
adotado a menina Meredith. Esta, com dez anos de idade,

— 81 —
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

tem sido sujeito de fenómenos singulares: foi jojada contra


urna parede, bateu ai com a cabega e desmaiou; coutra feita,
estava sentada em uma poltrona quando esta se levantou no
ar com a menina (que pesa 32 quilos).

Os bombeiros e a policía, chamados ao local, nao desco-


briram causa plausível para tais fenómenos; apenas relataram
os acontecimentos surpreendentes de que foram testemunhas
oculares na casa dos Goodin.

Como se depreende do noticiario dos jomáis, a explicado


que mais freqüentemente se tem dado ao fenómeno é a da
intervengáo de algum espirito desencarnado; este désejaría
mostrar o seu mau animo em relagáo á fam lia Goodin... Há
também quem pense em infestagáo diabólica ou ac.áo do demo
nio na atormentada residencia...

Visto que o episodio chamou a atengáo do nosso público,


vamos abaixo analisá-lo do ponto de vista estritamente cien
tífico.

1. Casas mal-assombradas na historia

O fenómeno da casa mal-assombrada é descrito na litera


tura dos diversos povos da térra desde remotas épocas; com
ele tém-se ocupado cronistas, escritores, dentistas de todas as
regióes e culturas do globo.

Plauto (254-184 a.C), por exemplo, escreveu a comedia


«Mostellaria» ou «Do pequeño fantasma» (mostelhim é o dimi
nutivo de monstrum, monstro, fantasma). Nessa obra des-
creve os portentos de uma casa mal-assombrada.

Depois de Plauto, escritores como Plínio o Jovem


(t 114 d.C), Plutarco (t 125), Suetónio (t 128), Luciano
(f 192), S. Agostinho (t 430). S. Gregorio Magno (t 604)
e muitos outros aínda deixaram narragóes, mais ou menos
minuciosas, dos fenómenos da infestagáo (ou assombragáo) da
casas.

Recentemente dois estudiosos norte-americanos — o


parapsicólogo Hereward Carrington e o psicanalista Nandor
Fodor — publicaram interessante livro no qual colecionaram
cerca de 375 episodios de casa mal-assombrada, num período
de historia que vai desde 355 d.C. (o primeiro caso da serie

— 82 —
CASAS MAL-ASSOMBRADAS 35

deu-se na cidade de Bingen-am-Rhein na Alemanha) até 1949.


Os dois autores estudam cada caso ñas suas circunstancias his
tóricas e ambientáis.

Quem hoje em dia acompanha os jomáis, pode dizer que


periódicamente a imprensa dá noticia de algum episodio de
casa mal-assombrada ocorrente ñas mais diversas partes do
mundo, constituindo problema interessante para os estudiosos.

O que caracteriza esses casos em geral, é um conjunto de


acontecimientos estranhos e, á primeira vista, inexplicáveis por
agentes deste mundo — o que sugere a explicacáo por inter-
ven;áo de seres do Além na casa desgratada. Tais aconteci
mentos surpreendentes sao: deslocamentos de movéis, quebra
de objetos, queda de quadros de parede, estouro de lampadas,
vóo de utens'lios pelas salas e os quartos, aparecimento e desa-
parecimento de corpos jamáis vistos em casa, pedras ou tijo-
los que entram pelas janelas da residencia... Sao estes, sem
dúvida, os fenómenos que os noticiarios descrevem; note-se,
porém, que nao se pode sempre garantir que as noticias sejam
objetivas e fiéis ou sejam isentas de aumento ou distorcjio por
parte daqueles que as referem. Tudo o que é portentoso, cos-
tuma impressionar o público e está sujeito a ser «aumentado»
de a^m modo, segundo as tendencias de quem ouve e passa
adiante.

Os estudiosos alemáes criaram, para designar tais fenó


menos, o termo Poltergeist, que se tornou usual entre os den
tistas; Poltergeíst seria o «espirito barulhento ou zombador».

Pergunta-se agora:

2. Quaís as causas da assombrajao ?

Para comegar, recensearcmos tres tentativas de explica-


gáo dos mencionados fenómenos:

2.1. lnterven$io do Além

Esta explicacáo supóe espirites desencarnados bu também


demonios na origem dos fenómenos de assombracáo. Aínda
hoje há quem aceite tal interpretacSo dos fatos, dé modo que,
em presenca de urna «casa mal-assombrada>, pensam em recor
rer ou a um sacerdote para pedir-lhe o exorcismo (contra o

— 83 —
36 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

demonio) ou a um médium, para rogar-lhe que acalme ou


afugente o espirito que supostamente infesta a casa.

A hipótese de que o demonio provoque os fenómenos da


assombracjáo é conciliável com a fé católica, mas nao é fácil
mente aceita pelos teólogos. Tal explicacáo só pode ser levada
a serio depois que nao se encontré elucidagáo científica ou
racional para o caso em foco.

Quanto ao recurso a espíritos desencarnados, é freqüente


entre espiritas e umbandistas, mas vem a ser gratuito e fan
tasioso; pode-se dizer que é mesmo anticientífico, pois as pes
quisas científicas, como veremos, costumam explicar por fato-
res psíquicos e humanos os fenómenos que outrora eram atri
buidos a espíritos do Além. — A fé católica nao admite que
os espíritos dos defuntos intervenham de maneira habitual e
sensível na vida dos homens na térra. Caso se dé realmente
algum caso ¿Teste tipo, é algo de esporádico, permitido extraor
dinariamente pelo Senhor Deus.

2.2. Causas geográficas

Já houve quem procurasse explicar os fenómenos de


assombragáo supondo movimentos da crosta da térra, fenó
menos sísmicos ou de índole hidro-geológica; estes provoca-
riam a queda e a quebra de objetos, o arremesso de pedras e
tijolos para dentro da casa, o deslocamento de movéis, etc.

Todavía tal hipótese nao encontra grande eco entre os


estudiosos, visto que os fenómenos de assombragáo parecem
ser intencionáis, isto é, dependentes de «inteligencia», de modo
que é preciso associá-los ao poder da mente humana. Esporá
dicamente, sim, (e com raridade) pode-se admitir que um ou
outro fenómeno de assombracáo esteja na dependencia de
alguma causa geológica, hidrodinámica ou elétrica...

2.3. llusionismo

Em alguns casos, os estudiosos propóem a hipótese do tru


que e do ilusionismo para elucidar os fenómenos em foco. Tal
explicacáo nao está fora de propósito, embora seja também
de raríssima ocorréncia.

Resta, pois, considerar a explicagáo mais convincente


que é

-84 —
CASAS MAL-ASSOMBRADAS 37

3. A tese psicocinética

O fenómeno da casa mal-assombrada tem sido estudado


também pela parapsicología... Esta, no atual estado de seus
conhecimentos (que dependem de ulteriores estudos e obser-
vagóes), julga poder enquadrá-lo dentro da chamada psico-
cinese (do grego psychokínesis, donde o sigla PK); a palavra
Irínesis significa mocao, moviinentacáo, enquanto psyché quer
dizer alma. A psicocinese seria, pois, a movimentagáo de cor-
pos produzidos nao por torgas físicas, mas únicamente pelas
torgas psíquicas do agente.

Ora existem razóes fundamentáis e válidas para se afir


mar que a mogáo de corpos, surpreendente e assustadora, ñas
casas mal-assombradas, pode ser entendida como resultante
do influxo do psiquismo perturbado do ser humano; esse psi-
quismo pode ser o de um individuo ou o de urna coletivi-
dade. Na verdade, em muitos casos de assombragáo deseo-
briu-se que, no centro dos fenómenos estranhos, se encontra
urna pessoa ou um grupo de pessoas, em cujas profundidades
intimas se agitam complexos psicológicos ou situagóes de con
futo, que nao raro culminam em manifestagóes sensíveis como
sao os fenómenos da infestagáo. A luta interior exacerbada
em pessoas especialmente sensiveis passa assim a se espelhar
na desordem ou na «guerra» de objetos do lar ou do respec
tivo ambiente de trabalho.

Esta explicagáo toi proposta inicialmente por psicanalistas


e contou com a aprovagáo de Siegmund Freud. Em favor de
tal hipótese, pode-se observar que, em cerca de 70% dos casos
de assombragáo, existe, como centro das manifestagóes estra-
nhas e apavorantes, urna pessoa (geralmente um rapaz ou
urna mo"a, podendo também ser um menino ou urna menina)
em torno da qual se desenrola toda a tragedia dos fenómenos
de assombragáo. O exame do psiquismo e do caráter das pes
soas que tém sido centro de tais fenómenos, mostrou em mui
tos casos que se tratava de tipos de caráter instável e de afe-
tividade insegura, desajustados na sua familia ou no seu am
biente, portadores de carga sexual e de agressividade reprimi
das. ..; todos esses elementos íntimos bem podiam encontrar
o seu desafogo em fenómenos de psicocinese ou em alguma(s)
das manifestacóes que caracterizan! a casa mal-assombrada.

Cita-se de modo especial o fato ocorrido, há poucos anos,


na residencia de um advogado em Rosenheim (Alemanha Oci-

— 85 —
38 «PERGUNTE E RESPOND£REMOS> 182/1975

dental). Nessa casa, além de quebra de objetos, vidros, lam


padarios..., havia também fenómenos de natureza elétrfea
(aumentos de corrente com explosáo de lámpadas e derreti-
mento de fios). Tais desordens se davam quando estaya pre
sente na casa a jovem datilógrafa do advogado. A situagáo
foi examinada por técnicos de eletricidade, eletrónica e telefó
nica da empresa Siemens, como também pelo psicólogo e
parapsicólogo Prof. Hans Bender, titular da cátedra de para
psicología em Friburgo em Breisgau, acompanhado de sua
equipe. Os exames deram a ver que a moja tinha os tragos
de personalidade insegura, histeróide, retardada em sua vida
emotiva, incapaz de controlar seus impulsos e de suportar
frustragáo, tendente a transferir a sua agressividade para
objetos efetivamente neutros, propensa a diss'mular os seus
conflitos e tensóes... Tal pessoa era o tipo do sujeito ideal
para produzir manifestagóes de índole psicocinética agressiva
como sao as manifestares da assombragáo. Este caso proje-
tou luz sobre os episodios de casa mal-assombrada, concor-
rendo para confirmar a explica -áo parapsicología dos mes-
mos. Leve-se em conta, de resto, que no episodio de Brid-
geport, ao qual nos referimos no in'c'o deste artigo, a pessoa-
-chave, em torno da qual se dáo os fenómenos infestatórios,
é a menina Meredith.

Passamos agora a apresentar tres episodios de assom


bragáo de casa que, com verossemelhanga, sao tidos polos estu
diosos como fenómenos parapsicológicos.

4. Tres casos significativos

O primeiro exemplo é inglés, o segundo é norteamericano,


ao passo que o terceiro é brasileiro.

4.1. Na Grá-Bretanha

Este caso foi examinado pessoalmente pelo Dr. Nandor


Fodor, conhecido psicanalista e parapsicólogo norte-americano.

Em meados de fevereiro de 1938, deu-se urna onda de


pavor na casa da familia Forbes em Thornton Heath (Grá-
-Bretanha): copos e x'caras explodiam sob os golpes de um
«martek» invisível; cinzeiros, ovos, pedagos de carváo, tape-

_ 86 —
CASAS MAL-ASSOMBRADAS 39

tes flutuavam no ar e pareciam atravessar portas fechadas;


Os repórteres comegaram a freqüentar a casa a fim de obser
var os táo estranhos fenómenos e chegaram á conclusáo de
que os mesmos tínham seu centro na pessoa da Sra. Forbes,
frágil e doentia.

O próprio Dr. Fodor enviou a tal casa o seu assistente,


que relatou as reagóes da Sra. Forbes: parecía extremamente
aterrorizada, o seu pulso subia a 120 por minuto e todo o seu
corpo era violentamente sacudido a cada explosáo. Em setenta
e duas horas após o inicio dos fenómenos, haviam sido que
brados trinta e seis copos de vinho, vinte e cinco tagas, cinco
xicaras de cha, quatro pratos pequeños, urna saladeira, tres
lámpadas, nove ovos, urna garrafa cheia de leite, etc. Os obje
tos, nao raro, voavam e explodiam no ar.

O próprio Dr. Nandor Fodor, cientificado da importancia


dos fenómenos, foi ter pessoalmente á casa «mal-assombrada».
E, após numerosas observagóes, conduiu que a Sra. Forbes
era vítima de psiquismo profundamente perturbado ou de
grave dissociagáo mental. As explosóes do seu psíquico pare
ciam prender-se a dois graves conflitos que ela vivera em sua
vida passada:

O primeiro dera-se oito anos atrás. Durante um jogo de


cartas, em sua própria casa, a Sra. Forbes caiu em sonó nao
natural... Sonhou que seu pai, já falecido, a puxava e que,
inclinando-se sobre ela, lhe desenliara urna cruz com os dedos
sobre o lado esquerdo das costas. Ora, quando a Sra. Forbes
voltou do sonó a si, escorria-lhe sangue daquele lado das cos
tas e viam-se os vestigios tenues de urna cruz. Foi entáo
levada ao Hospital de S. Tomás, onde os médicos, debaixo da
cruz, descobriram um carcinoma, que foi extirpado.

O segundo conñito relacionava-se com os seguintes fatos:


a Sra. Forbes havia-se casado aos 17 anos contra a vontade
do pai. Este, porém, perdoou-lhe o fato posteriormente, de
sorte que a mencionada senhora dizia ser feliz e serena em
seu casamento. Todavía o Dr. Fodor pós-se a duvidar desta
afirmagáo. Com efeito, nove anos antes de se dar a «ássom¿
bracáo» da casa, a Sra. Forbes tivera um ataque de cégueirá
histérica, que durou seis semanas. E, tres anos antes da
assombragáo, sofrera de urna intoxicacáo causada por um
furúnculo na boca; em conseqüéncia, agredirá violentamente
o seu marido... Tais fatos pareciam indicar que o estado de

— 87 —
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS? 182/1975

ánimo da Sra. Forbes nao era tranquilo, mas antes se ressen-


tia de reprimida agressividade contra o marido.

ODr. Fodor quis averiguar se os mesmos fenómenos de


assombragáo se produziriam em torno da Sra. Forbes, caso
esta fosse levada para a Clínica que o mesmo dirigía em Lon
dres. Ora de fato tais fenómenos se deram — o que mostrava
que o caso nao era de casa mal-assombrada, mas de pessoa
psíquicamente perturbada.

As observagóes e os exames realizados na Clínica eviden-


ciaram claramente que a Sra. Forbes sofría de grave dissocia-
cáo de personalidade; em conseqüéncia, de maneira ora cons
ciente, ora inconsciente, ela manifestava seu conflito e sua luta
interiores através de estranhos fenómenos psicocinéticos, que
marcavam sensivelmente o seu ambiente.

4.2. O caso de Seaford, Long Isiand (EE. UU.)

Os fenómenos se deram de 3 de fevereiro a 10 de margo


de 1958.

A casa em que se verificaram, era a da familia Herrmann,


composta de Mister James, oficial de aviagáo, da Sra. Lucille H.,
norse diplomada, e de seus dois filhos: James, de 12 anos de
idade, e Lucille, de 13 anos.

. Na casa, que tinha um jardim ao redor, os fenómenos


comecaram a se registrar na segunda-feira 3 de fevereiro
de 1958. Deu-se entáo verdadeira explosáo: seis garrafas bem
fechadas se abriram simultáneamente e o seu conteúdo (álcool,
agua benta...) se derramou sobre o pavimento. Um cruci-
fixo caiu.da parede do quarto de Jimmy, assim como um prato
de porcelana e um anjo de plástico.

, . No domingo 9 de fevereiro, enquanto a familia fazia o


seu desjejum, teve inicio urna serie de explosóes, respectiva
mente com um vidro de perfume, outro de agua benta e outro
de amoniaco!

N,o dia 11 de fevereiro, um vidro de perfume com vapori


zador se derramou. Precisamente nesta data o detective Joseph
Tozzi deu inicio as suas investigagóes. O vidro de perfume foi

— 88 —
CASAS MAL-ASSOMBRADAS

levado ao laboratorio da policía; alguns vidros chelos de agua


íoram colocados nos mesmos lugares donde haviam caído os
anteriores.

No dia 12, um dos novos frascos derramou-se; a policia


nada de estranho nele encontrou. Foram instalados varios
«detectores» na casa para se descobrirem eventuais vibragóes
de alta freqüéncia nos diversos cómodos, mas sem resultado.

No dia seguinte, o frasco de agua benta caiu de novo.


Os dois filhos do casal e urna sua prima viram urna estatueta
de porcelana mover-se pelos ares.

A tarde do dia 16, enquanto Jimmy dormía em seu quarto,


caiu a lámpada da mesa de cabeceira; o mesmo aconteceu com
um mapa geográfico pregado á parede. Outros objetos foram
posteriormente derrabados no quarto.

Em vista de tais fatos, a familia resolveu afastar-se da


casa por alguns dias. Voltou no dia 23 de fevereiro.

No dia 24 á noite, durante urna visita feita ao casal por


um jornaüsta do «Newsday», um mapa geográfico saiu do
quarto de Jimmy e foi parar perto da poltrona onde estava
sentado o repórter.

No dia 25 outros objetos moveram-se e se quebraram:


um gravador, urna estatua, um espelho.

Fenómenos semelhantes foram-se registrando nos dias


seguintes, em freqüéncia cada vez mais rarefeita, até cessar
por completo no dia 10 de marco.

Em junho de 1958, o «Journal of Parapsychology» publi-


cou a lista minuciosa dos sessenta e sete acontecimentos estra-
nhos recém-ocorridos na casa dos Herrmann.

O caso de Seaford assim enunciado foi estudado por diver


sos mestres, entre os quais alguns parapsícólogos profissionais:
os Prof. Roll e Pratt, assistentes do Dr. Joseph Rhine na Uni-
versidade de Düke; o diretor do Departamento de Pesquisas da
«Parapsychology Foundation», Prof. Karlis Osis, e, ainda, pelo
Prof. Woodruff, memoro da Sociedade Americana de Pesqui
sas Psíquicas. O Prof. Osis, no seu relatório final, chegou as
seguintes conclusóes:

— 89 —
42 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

1) Varios controles técnicos provaram que a casa nao


era agitada por torgas físicas (cursos de agua, erosáo, sismos
profundos...). Os movimentos dos objetos deslocados na
casa nao insinuavam algutn agente ñsico.

2) O fato de que só eram deslocados certos objetos, e


nao outros próximos a estes, no decorrer de días sucessivos,
dava a crer que tais objetos eram escolhidos intencionalmente,
ou seja, por um agente inteligente, e nao meramente mecá
nico; este se interessava exclusivamente pelo álcool, pela agua
benta, pelo mapa geográfico, pelas lámpadas...

3) Os fenómenos ocorreram sempre ñas horas em que o


menino James e a menina Lucille estavam em casa acordados;
nunca se deram ñas horas em que os dois certamente estavam
dormindo. Podiam-se dar ñas horas em que somente James
estava em casa. Depois de 20 h 30 min, hora em que Jimmy
ia deitar-se, os fatos aconteciam somente no seu quarto ou
has imediagóes deste.

O Sr. Herrmann esteve ausente a quase a metade dos


fenómenos extraordinarios do seu lar. A sua esposa esteve
presente a todos, mas ñas horas ém que ela se achava sozinha
em casa (estando os filhos na escola) nunca se deu alguma
manifestagáo estranha.

De tudo isto, conclui-se que havia afinidade entre os fenó


menos extraordinarios e a pessoa de Jimmy acordado, os seus
hábitos e o lugar em que este se achava por ocasiáo dos fenó
menos... — É o que leva os estudiosos a crer que Jimmy
condicionou os fatos inconscientemente, provocando-os por vias
paranormais (ou parapsicológicas) \

4.3. No Brasil

Tenha a palavra o Pe. Edvino Augusto Friderichs S. J.,


do Centro Latino-Americano de Parapsicología (CLAP, SP),
Caixa Postal 11.587, 05000 Sao Paulo (SP). Este autor publi-
cou a seguinte noticia no jornal «Lar Católico» de 25/XI/73,
p. 7:

1 Sobre o significado de paranormal e parapslcológlco, veja o artigo


de PR 181/1975, pp. 6s.

— 90 —
CASAS MAL-ASSOMBRADAS

Pancadas fortes e ruidos de tempestades


numa casa-ássombrada

Urna familia, residente em um dos balrros de SSo Paulo, havla cinco


anos, estava sendo vltlma de "casa-assombrada".

Ora enguicava a televIsBo, ora a geladelra. Consertava-se urna, ostra»


gava a outra. Após a mela-nolte, com freqüéncla, ouvlam-se pancadas
estridentes ñas portas. Por vezes os ruidos assumlam proporcSes de ver-
dadelra tempestado a desabar sobre a casa; outras vezes eram latos da
agua, arremessados, como em sacos de plástico, por sobre os vid ros da
porta principal, lavando-a por completo.

Pelas paredes abaixo escorria grande quantidade de agua, sem, no


entanto, haver faina no encanamento e na caixa dágua, vlstorlados qus
foram por um prollssfonal. Estelos secos foram ouvldos, por media, duas
vezes por semana, ruidos que lembravam, nfio raro, bollnhas de pingue-
-pongue a rolar por cima do teto.
Da mesma forma, foram percebldos barulhos estranhos nos pratos
e na louca da cozinha, sem contudo se quebrar colsa alguma.

Dona Elvira, a dona da casa, lavou um par de melas, e, após curto


lapso de tempo, eis que desapareceu urna das melas, como por encanto;
Idéntico tato registrou-se com cinco boas facas de mesa, que Inexpllca-
velmente sumlram, sem deixar vestigio até hoja. . ,

Havla em casa sete travesseiros, costurados todos á máquina com


dois forros. Nfio obstante, asslm bem fechados, poratn encontrados den*
tro deles: grfios de feljfio e de mllho, café, urna pernlnha seca da passa-
rlnho, blcos de aves, sementes de eucaliptos e de glrassol, pedacinhos de
árame e de_madelra (como se, caprichosamente, houvessem sido corlados
em fragmentos iguais), llnha com agulha, retalhos de paño, papel de Jornal,
papelzlnhos redondos brancos, picados como conistes e outros Ingre
dientes desse genero.

Achavam-se os travesseiros repletos desse curioso conteúdp. Mal?


notável se nos afigura a seguinte circunstancia: ao limpar sistemáticamente
os travesseiros, e chegando ao último, |á o primelro se encontrava nova-
mente no mesmo estado, podando relnlclar-se a Ingrata operagSo...

Els a seqOencla dos fatos, cíclicamente repetidos durante um lustro.

QUAL A CAUSA?

Diversos acontecimentos da familia contribuirán) para urna das fllhas


de Dona Elvira tornar-se cada vez mals nervosa e criar casos, tanto no
emprego como em casa. Pelo espaco de um ano, sofreu de terrlvels
Insonías. Tres meses nfio eonsegulu dormir nada, mantendo a luz acesa,
lando e ocupando-se de qualquer manelra útil.

Sua mfie, por seu turno, vem sofrendo de constantes preocupagCes. a


foblas...

— 91 —
44 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 182/1975

Talvez tonha problemas Íntimos dos quals nao me falou, nem eu


quls indagar, por delicadeza... De tSo angustiada, foi pedir Inúmeras
vezes a béncSo a determinado padre da sua confianca, sem nenhum resul
tado positivo.

Espiritas e umbandistas, Já por sete ou olto vezes visltaram a casa,


aplicando seus ritos mágicos, sem nada adiantar. Conhecldos e vlzlnhos
esplrltóides aconselharam-na a acendar urna vela aos esplrltos-gulas. Tudo
em vflo, com a.agravante aquí de se manifestar urna acentuada tendencia,
a plorar cada vez mals a situacáo. Em desespero de causa, dlilgiu-se
entflo, por diversas vezes, á residencia de dl.lgentes espiritas, com o
angustiante pedido de auxilio. Como as demals, também esia Iniciativa
naaa resolveu.

A PARAPSICOLOGÍA RESOLVE O PROBLEMA

A causa das ocorrenclas nao se encontra em nada daqullo que os


assustados moradores supunham: em esplilios maus do outro mundo, espl-
ritos encostados, almas penadas, exus ou demonios.

S3o duas pessoas da própria familia que engendram tais fenómenos.


é a m&e que ó nervosa e dominada pelo pavor, causando nela um dese
quilibrio físico-psíquico. Neste estado emocional, ela desprende urna forja
fislca chamada teleigla, que atua sobre os oojeios: tais como pedias, ou
algo parecido, agua... produzlndo batidas, ruido de bolinhas e outios mals,
1o.ua essa aiiigiua pela pstcoDulla do suoconsclente da mae, outras vezes
da filha, Jurema, ou entáo, em deteimlnadaa ocasióes. pelo polipslqulsmo
das duas, em conjunto.

Expllquel Isso a eles, dando-lhes toda garantía de aquí nao entrar


sequer em cogltacflo qualquer interteiéncia do "Além".

Anlmel-os á fé e confianca em Deus, fiz um relaxamento neuro-mus-


cular com as provéveis causadoras dos "enfelilvamentos", justamente pa.a
estabilizar essa atmosfera de tianqüilldade e, por <im, tezamos juntos um
Pai-Nosso, Ave-Marla e Gloria para pedir e garantir a especial protesto
de Deus; dei-lhes a mlnha bencfio de sacerdote católico, e minha mlssáo
para aqueta día estava cumprida.

Um mes mals tarde flz urna visita k referida familia e, com satisfac&o,
üquei sabendo que tudo se normalizara.

Existem, sem dúvida, outros episodios que, atentamente


analisaüoSi levam a crer que os fenómenos de casa mal-assom-
brada se reduzem á categoría de expressóes parapsicológicas
que se chama psioocinese. O subconsciente e o inconsciente
do ser humano tém amplidáo e profundidade que difícilmente
concebemos; gozam também de inteligencia e forga de asáo
que, á primeira vista, parecem incríveis.

— 92 —
Ainda é com certa modestia que a parapsicología julga
poder explicar dentro das suas perspectivas os casos de assom-
brac.áo; parece, porém, que o estudo do psiquismo humano,
através da psicanálise e das manifestagóes do paranormal, for-
nece a pista para se enquadrarem os ditos fenómenos de casa
mal-assombrada. Nestas circunstancias, evidencia-se inútil ou
mesmo falso o recurso a esp:ritos desencarnados do Além para
elucidar a «assombraeáo».
Estevao Bettencourt OS.B.

estante de livros
Esperanza e Escatologla, por Hubert Lepargneur. Colegfio "Homem
em questao" n9 9. — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1974, 130 x 200 mm, 293 pp.

O autor apresenta grandiosa sfntese do que seja a esperanca na Biblia


e na Tradicfio crista até hoje. Nos Profetas, a esperanca se voltava para
a vlnda do Messlas, que faria Imediatamente o julzo das nacSes e instau
rarla visivelmente o Reino de Deus sobre a térra. Os antigos cristáos
conceblam a segunda vinda de Cristo como algo de Imlnente; o próprio
SSo Paulo compartilhava tal esperanca (cf. 1 Ts 5,1-11). Todavía, com o
passar dos lempos, a expectativa de consumacSo e plenitude dos bens
messlánicos se fol dilatando entre os crlstSos, de tal modo que estes deixa-
ram de procurar antever ou descrever a segunda vlnda do Senhor como
algo de próximo.
Nos últimos decenios, a teología católica, agucada por correntes filo
sóficas contemporáneas, dedicou-se a conceber a reallzacfio da esperanca
crista, de certo modo, em termos sociais, políticos, intramundanos; a teo
logía da libertacéo, a teología do desenvolvlmento, a da revolucSo foram
asslm concebidas.
O Pe. Lepargneur, após percorrer, com notável erudicSo e documen-
tacio, as diversas fases da historia da esperanca crista, termina seu livro
com um despertar de consclenclas para os valores sobrenaturals e trans
cenderíais que devem, antes do mais, polarizar a esperanca crista. O
progresso material é cortamente um bem em prol do qual os cristáos nfio
podem deixar de se empenhar numa perspectiva evangélica, ou seja, a f!m
de continuar a obra criadora de Deus e proporcionar a todos os homens dig
nas condicoes de vida (saúde, instrucSo, trabalho...). Todavía o progresso
material jamáis deverá tornar-se um mito para o cristSo contemporáneo:
"O mito do progresso nao pode expulsar da historia a realidade dos
ciclos. Após a embriaguez da 'secularlzaipSo-progresso', viré, sem dúvlda,
um tempo de profetismo da parte de alguns cristáos que voltarSo a ler o
Evangelho com outros olhos: buscarSo menos urna eficacia do que um
sentido. Depois de ter construido urna Impresslonante Babel, alguns mora
dores perguntarao: E agora? E tudo isso, por qué? Urna nova onda
de esperanca crista poderá surgir da Biblia. Será tarefa da geracao
seguinte explicar melhor o porqué" (p. 285).
O llvro, rico em dados, chacees, teses e antiteses, nSo é de fácil
leltura. Em um ou outro ponto, o autor pode deixar insatlsfelto ou per-
plexo o leltor menos Iniciado em teología. Como quer que seja, a nova
publicado do Pe. Lepargneur representa um monumento teológico que
multo servirá a estudos em profundidade e do qual nao poucas páginas
poderSo servir também a quem se quelra edificar numa medltacSo crista
sobre o sentido da historia, o plano de Deus e a consumacao dos tempos
e do homem em Cristo.
E. B.
ORAQAO DO SÉCULO XX

«SENHOR, FAZE DE MIM UM INSTRUMENTO DA TUA COMUNICACAOI

ONDE TANTOS ENVIAM BOMBAS E DESTRUICAO,


QUE EU LEVE UMA PALAVRA DE UNIÁO !

ONDE TANTOS PROCURAM SER SERVIDOS,


QUE EU LEVE A ALEGRÍA DE SERVIR !

ONDE TANTOS FECHAM A MÁO PARA BATER,


QUE EU ABRA MEU CORACÁO PARA ACOLHER !

ONDE TANTOS ADORAM A MAQUINA,


QUE EU SAIBA VENERAR O HOMEM I

ONDE TANTOS ENDEUSAM A TÉCNICA,


QUE EU SAIBA HUMANIZAR A PESSOA !

ONDE A VIDA PERDEU O SENTIDO,


QUE EU LEVE O SENTIDO DE VIVER !

ONDE TANTOS ME PEDEM UM PEIXE,


QUE EU SAIBA ENSINAR A PESCAR I

ONDE TANTOS ME PEDEM UM PAO,


QUE EU SAIBA ENSINAR A PLANTAR !

ONDE TANTOS ESTÁO SEMPRE DISTANTES,


QUE EU SEJA ALGUÉM SEMPRE PRESENTE !

ONDE TANTOS SOFREM DE SOLIDÁO QUE FAZ MORRER,


QUE EU SEJA O AMIGO QUE FAZ VIVER !

ONDE TANTOS MORREM NA MATERIA QUE PASSA,


QUE EU VIVA NO ESPIRITO QUE FICA !

ONDE TANTOS OLHAM PARA A TÉRRA,


QUE EU SAIBA OLHAR PARA O CEU b

Attílio Hartmann

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