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©Públio Athayde
Gosto muito de ver meu nome antecedido desta bolinha que
comeu um c. Fica a sensação (falsa) de que me copiar valeria
alguma coisa.
Ou a ilusão de que, se alguém ler, poderá se dar ao trabalho de
querer copiar tudo ou algo do que escrevi.
e
Mas é tudo mentira, o direito de cópia não existe. Ou melhor,
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existe o direito de copiar e ser copiado, inventaram inclusive o
ha
Ctrl+C pra facilitar o plágio, o enruste e a apropriação indébita
At
de textos e idéias. Afinal, texto é só mesmo algo que está na
io
bl
internet e serve pra ser remontado a bel prazer. E a idéia é
Pú
apenas um pensamento tão fugaz que precisa do texto pra
©
subsistir.
Os senhores da informática ainda criarão um Ctrl+©, de modo
a facilitar a apropriação à socapa dos textos, das idéias e dos
lucros que deles advierem.
Mas é bom ver a bolinha comedora de c antes do nome da
gente, pois os que temos esse privilégio somos uma minoria.
Integramos aquela parte da humanidade que, enobrecida pelo
prefixo © tem o direito de servir de parâmetro aos demais, o
direito de sermos os modelos e modeladores de idéias –
mesmo que elas valham tão pouco e possam ser vampirizadas
ao gosto do freguês.
Num passado remoto, as pessoas eram enobrecidas pelo a
engolido pelo caracol: @ ‐ mas esse sufixo dos nomes e
apelidos deixou de ser signo de nobilitância ou notabilidade.
Qualquer cidadão alfabetizado do Planeta já sapecou uma
arroba entre seus apelidos e um domínio comercial alheio,
sentindo‐se muito feliz e realizado com o feito. Parece que a @
engordava o ego em exatamente 32 arratéis. O mundo foi
inflacionado desse símbolo haurido do pretérito e hoje ele é
apenas um fardo a mais que carregamos. Sem falar no
trabalho que dá ditar para os outros o malabarismo que
fizemos com nossos nomes antes do @ para encaixar nos
domínios mais comuns, deturpando os apelidos que
ganhamos no primeiro vagido: pathayde@***mail.com
e
Mas eu vim aqui pra falar do ©, não gastemos mais verbo com
yd
o ignóbil primo pobre.
ha
At
A bolinha engolidora de c é tão mais importante que antecede
io
os nomes. Ela é tão mais conservadora que não detona os
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cognomes que trazemos na cédula de identidade. © Públio
Pú
Athayde. Isso é belo, repitamos: © Públio Athayde.
©
Quase todos temos especial afeição pelos nossos nomes
próprios. Convenhamos que o © enfeita bem mais nossas
alcunhas que os desgastados Dr. e seus pares que significam
formação ou pretensão bacharelesca, patente, atividade
clerical e quejandos.
Ah! Não deve ser tarde pra explicar a plebe ignara: © significa
copyright (leia: copirraite – que é a forma vernácula da
palavra e o som se aproxima da leitura que fariam os
anglófonos). A coisa (©) significa, ou pretenderia significar,
que, naquele caso, o fulano cujo nome aparece depois, pessoa
física ou jurídica, é do detentor direito exclusivo do autor,
compositor ou editor, podendo de imprimir, reproduzir e até
vender obra literária, artística, científica; quer dizer que ele
tem o direito autoral. Isso é o que consta e tentam fazer valer.
Mas não vale. Dizem que vale mais alhures, mas em
Pindorama – terra em que mais vale ter que saber – o direito
autoral é uma piada, mesmo as piadas aqui são surrupiadas de
quem as cria, sabem‐no os comediantes.
Contentemo‐nos com o que nos cabe de vaidade por termos
um apêndice tão redondo antes de nosso nome. Eu fico feliz
sempre que escrevo meu nome desta forma: © Públio
Athayde (pra não perder a oportunidade).
Imagino que, cedo ou tarde, eu vá encontrar esse texto com
outro nome, que não o meu, depois dos © que espalhei por
e
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aqui. Já escrevi isso tudo conformado com essa probabilidade
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e sobreviverei ao trauma.
At
io
bl
Pú
©