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P rojeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanga a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta


da nossa esperanga e da nossa fé hoje é
■■ mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
- correntes filosóficas e religiosas contrarias á
fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenga católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propoe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega no
Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar
este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

Ad. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada


em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
C/)JÉ
s

ANOXXXVm DEZEMBRO 1997427


"Ó Testemunho da Alma naturalmente crista!"
A Historicidade dos Evangeihos, por José Miguel
Garcia

A Historicidade Perdida e Recuperada de Jesús de


Nazaré", por Juan Luis Segundo

A Exploracáo Sexual de Criancas

O Trabalho Infantil

"Há Outro Cristo?" por J. T. C.

"Ñervo Exposto"

índice Geral de 1997


PERGUNTE E RESPONDEREMOS DEZEMBRO1997
Publica9áo Mensal N°427

Diretor Responsável SUMARIO


Estáváo Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia
"Ó Testemunho da Alma
naturalmente crista!" 529
publicada nesle periódico
Novas Conclusóes da Exegese Bíblica:
Diretor-Administrador:
A Historicidade dos Evangelhos,
D. Hildebrando P. Martins OSB por José Miguel Garcia 530

Administrado e Distribuicáo: Dúvida Metódica:


Edicóes "Lumen Christi" "A Historicidade Perdida e
Recuperada de Jesús de Nazaré", por
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5° andar -sala 501
Juan Luis Segundo 548
Tel.: (021) 291-7122
Fax (021) 263-5679 Tragedia Silenciosa:
A Exploracáo Sexual de Criancas 555
Enderezo para Correspondencia:
Ed. "Lumen Christi" Outro Abuso Clamoroso:
O Trabalho Infantil 562
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CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Pergunta protestante:
"Há outro Cristo?", por J.T.C 568
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Resposta a Rubem Alves:
e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
"Ñervo Exposto" 575
na INTERNET: http://www.osb.org.br
e-mail: LUMEN.CHRISTI @ PEMAIL.NET índice Geral de 1997 577
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"MA R QUES SA RAI VA "
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Os Direitos da Maternidade (Prof3 Janne Haaland Matlary). - Clonagem em Debate. -


Homem e Macaco: Diferencas Psíquicas. - A Policlínica (CIFE) de Ismael Nunes. - A
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Caixa Postal 2666
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"Ó TESTEMUNHO DA ALMA NATURALMENTE CRISTA!"
(Tertuliano, t 220)

A vinte séculos de distancia, o cristáo nao está táo habilitado quanto os


primeiros discípulos para compreender o significado da vinda e da mensagem de
Cristo. Daí a conveniencia de recuar aos primeiros tempos e ouvirantigos escrito
res cristáos recém-saídos do paganismo: como reagiram á pregacao do Evange-
Iho? Como a consideraram? Entre outros notáveis autores, está Quinto Setímio
Florencio Tertuliano (160-220 aproximadamente); era filho de familia paga; conver
tido, tornou-se arauto e defensor da fé frente aos Imperadores Romanos; exprimiu
seu pensamento numa famosa exclamacáo: "Ó testemunho da alma natural
mente crista!" (Apologeticum).
É este o brado de quem conheceu bem o paño de fundo ao qual sobreveio o
Cristianismo: a mitología fazia dos deuses seres humanos com suas paixóes e
lutas; a filosofía reconhecia um Primeiro Motor frío e indiferente aos homens; o
povo se entregava ao sincretismo religioso e procurava panem et circenses (pao
e circo); sentia-se também acabrunhado pelo infeliz curso da historia no Imperio
Romano, onde se esperavam catástrofes e outros males que poriam fim a urna
situacáo angustiante. Daí o cántico poético de Virgilio (t 19 d. C):
"Eis que vém os últimos tempos marcados pelo oráculo de Cumes:
A tonga serie dos séculos recomega,
Eis que volta a Virgem, volta o reino de Saturno,
Eis que desee do céu urna raga nova.
Ao menino recém-nascido, que eliminará a geragáo de ferro
E suscitará por todo o mundo urna geragáo de ouro,
Daiacolhida..."
Pois bem. Sobre este fundo de cena sobreveio o Cristianismo, que, junta
mente com sinais de autenticidade, disse aos homens o que os mais ousados
pensadores jamáis haviam concebido: existe um só Deus, e Este "é o Amor que
primeiro nos amou" (1 Jo 4,19); amou, criando-nos para fazer-nos consortes da sua
vida bem-aventurada, e recriou-nos pelo misterio da Encarnacáo, que santificou a
existencia cotidiana de todos os homens e fez da morte a passagem para a VIDA.
Todo tipo de destino e forcas ocultas foi dissipado; o homem passou a se sentir
livre frente ao mundo e responsável diante de Deus. "Tudo é vosso (o mundo, ávida,
a morte, as coisas presentes e as futuras); vos sois de Cristo, e Cristo é de Deus"
(1 Cor 3,21 s). Quem o dina? Quem acreditaría? - Cristo o disse, e o heroísmo de gera-
cóes e geraooes de discípulos (dos quais somos herdeiros) o comprovou sobejamente.
Como dito, talvez o cristáo hoje nao consiga avaliartodo o alcance da men
sagem que ele professa, pois a rotina de vinte séculos a pode ter empalidecido.
Todavía, ao celebrarmos mais um Natal, faz-se oportuno tomar nova conscíéncía
do seu valor imenso, que ultrapassa as expectativas mais ousadas dos homens e
nos convence de que a alma humana foí feita naturalmente para o Cristianismo; só
este traz as respostas adequadas as mais íntimas e genuínas aspiracóes da hu-
manidade. - SANTO NATAL E FELIZ 1998 PARA TODOS OS NOSSOS LEITORES!
E.B.

529
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXXVIII - N° 427 - Dezembro de 1997

Novas Conclusóes da Exegese Bíblica:

A HISTORICIDADE DOS EVANGELHOS


por José Miguel García

Em sintese: Ao passo que no sáculo passado os críticos propu-


nham a redagáo dos Evangelhos em datas muito distantes de Jesús,
adentrándose por decenios no secuto II, a fim de "dar o prazo" necessá-
rio á criagáo do mito "Jesús Deus e Homem", muitos dos críticos do sécu-
lo XX tém outra perspectiva. Nao sao guiados por premissas filosóficas
apenas, mas pela evidencia de numerosos papiros antigos que vém sen
do descobertos e interpretados; estes mostram que a redagáo dos Evan
gelhos ocorreu em datas muito próximas de Jesús. Como espécimens de
tais descobertas, podem-se citara de José O'Callaghan S. J., que atribuí
a redagáo de Marcos a meados do sáculo I, e a Carsten Peter Thiede,
que chega a semelhante conclusáo com referencia a S. Mateus.

O Pe. José Miguel Garda, por outra via, defende a antigüidade da


composigao dos Evangelhos: julga que muitas das passagens respecti
vas só podem ser adequadamente entendidas se traduzidas para o
aramaico, que era a língua falada por Jesús e pelos prímeiros pregado-
res da Palavra. Isto demonstra que o texto grego dos Evangelhos vem a
ser urna quase tradugáo da pregagáo de Jesús e dos Apostólos.
* * *

A fixacáo da data de origem dos Evangelhos é ponto muito delica


do, pois está ligada á questáo da historicidade e fidelidade histórica dos
mesmos.

No século passado, os críticos impregnados de racionalismo,


atribuiam á origem.dos Evangelhos datas tardías, distanciando-a de Je
sús por decenios ou mesmo mais de um século. Com isto queriam "dar
um prazo" para que a figura de Jesús fosse aureolada, embelezada e
endeusada pelos discípulos; afinal a historia de Jesús narrada pelos
530
A HISTORICIDADE DOS EVANGELHOS

evangelistas teria muito pouco de fidedigno <3 muito de ficcáo. É o que


exprime o quadro abaixo:

<
3. Mateus S. Marcos S. Lucas S.Joáo

Baur1847 130-134 150 cerca de 150 160-170

Volkmar 1870 105-110 75-80 cerca de 100 150-160

Keim1873 68 120 90 130

Hilgenfeld 1875 70 81-96 100 120-140

Renán 1877 84 76 94 125

Holtzmann 1885 87 68 70-100 100-133

Weiss 1890 70 69 80 95

Jültcher 1894 81-96 70-100 80-120 após 100

Réville 1897 a breves intervalos entre 98-117 130-140

Harnack 1897 70-75 65-70 78-93 80-110

No século XX, o quadro tem mudado. Muitos dos estudiosos nao


se guiam apenas por premissas filosóficas, mas tém a seu dispor um
novo acervo de material papiráceo, que evidencia datas muito mais pró
ximas de Jesús para a redacáo dos Evangelhos. Com efeito; a papirologia
ou a descoberta e o estudo de papiros antigos tém levado a ver que os
Evangelhos datam do século I; a Palavra escrita parece fazer eco direto
á pregacao oral dos Apostólos. Já citamos a propósito o caso de José
O'Callaghan S. J., que julga poder situar a redacáo de Marcos em mea
dos do século I; ver PR 288/1986, pp. 194-200. Foi citado também em
PR 398/1995, pp. 290-294 o trabalho de Carsten Peter Thiede, que che-
ga a conclusáo semelhantes para o texto de S. Mateus.

O Pe. José Miguel García propóe as mesmas teses analisando o


texto grego dos Evangelhos á luz de urna possível traducáo aramaica do
mesmo; verifica que vinte ou mais passagens obscuras ou controverti
das dos Evangelhos se tornam claras ou mais inteligíveis se se supóe
um arquetipo aramaico subjacente ao atual texto grego. Isto quer dizer
que o texto escrito dos Evangelhos é a ressonáncia grega da pregacáo
aramaica de Jesús e dos primeiros discípulos. Há, pois, continuidade
entre Jesús e o texto escrito dos Evangelhos; este nao refere as idéias
imaginosas de antigás geracóes cristas, mas sim o conteúdo da mensa-
gem apregoada pelo próprio Senhor Jesús.

O texto que se segué, é o de urna conferencia proferida pelo Pe.


José Miguel García no Rio de Janeiro aos 18/9/97. - O autor é Doutor

531
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

em Teología pela Faculdade de Teología do Norte da Espanha, com sede


em Burgos. Em 1980/81 estudou na École Biblique de Jerusalém sob a
orientacáo do famoso Pe. Prof. Pierre Benoít O. P., obtendo o título de
Aluno Diplomado. A seguir, dedicou-se intensamente aos estudos bíbli
cos, consagrando-se muito especialmente as pesquisas concernentes
ao texto grego e a urna possível versáo aramaica do mesmo.

A nossa revista é muito grata ao Pe. José Miguel García pela vali
osa colaboracáo que Ihe presta.

I. Introducáo

No ano 253 houve urna grande peste na cidade de Alexandria.


Daquela epidemia, que acoitou por igual pagaos e cristáos, nos dá noti
cia urna carta de Dionisio, o bispo da referida cidade. Nela descreve o
comportamento dos cristáos com estas palavras.

"A maioria dos nossos irmáos, por excesso de seu amor e de seu
afeto fraterno, esquecendo-se de si mesmos e unidos uns aos outros,
visitavam sem precaugáo os enfermos, serviam-nos com abundancia,
cuidavam deles em Cristo eaté morriam contentíssimos com eles, conta
giados pelo mal dos outros; atraiam sobre si a enfermidade do próximo e
assumiam voluntariamente suas dores. Muitos que curaram e fortalece-
ram a outros, morreram, transferindo para si mesmos a morte daqueles
e convertendo em realidade o dito popular, que sempre parecía mera
cortesía: 'Despedindo-se deles como humildes servidores'. Em todo caso,
os melhores de nossos irmáos partiram da vida deste mundo, presbíteros
- alguns -, diáconos e leigos, todos muito elogiados, ¡á que este género
de morte, por multa piedade e fé robusta que entranha, em nada parece
ser inferior ao martirio. Assim, tomavam com as palmas de suas máos e
em seus regagos os corpos dos santos (cristáos), limpavam-lhes os olhos,
fechavam suas bocas e, agarrándose a eles e abragando-os, depois de
lavá-los e envolvé-los em sudarios, os levavam nos ombros e os enterra-
vam. Pouco depois, recebiam eles estes mesmos cuidados, pois sempre
os que ficavam seguiam os passos de quem os precederam."

E, acrescenta, referindo-se aos cidadáos nao cristáos:

"Ao contrario, entre os pagaos dava-se o oposto: apartavam os


que comegavam a adoecer; evitavam os mais queridos e atiravam mori
bundos as mas e cadáveres insepultos ao lixo, tentando evitar o conta
gio e a companhia da morte, tarefa nada fácil até para os que tinham
mais interesse em executá-la"1.

Lendo o relato, salta-nos á vista o contraste entre os dois modos


de se comportar. Tal contraste deve ter parecido evidente aos olhos dos
532
A HISTORICIDADE DOS EVANGELHOS

vizinhos e familiares dos cristáos de Alexandria. E, todavía, uns e outros


eram homens e mulheres da mesma raga, vestiam e falavam a mesma
língua, compartilhavam com eles as mesmas casas, pragas e mercados,
realizavam com empenho as mesmas tarefas e trabalhos. Que é que
levava os cristáos a proceder de modo táo diferente? Qual era a origem
desta humanidade nova? Dionisio de Alexandria no-lo disse rápidamen
te, como se fosse algo conhecido por aqueles aos quais escrevia sua
carta: "por excesso de seu amor fraterno cuidavam deles em Cristo". A
origem nao era um dever, nem a forca de sua decisáo, nem muito menos
a recordacáo sentimental de algo sucedido no passado. Tudo realiza
vam dentro de urna presenca real que haviam encontrado, Cristo, movi
dos pelo amor mutuo que esta presenga, presente no meio deles, havia
gerado. A novidade de vida nascia de algo diferente de suas capacida
des, de algo exterior a eles e atuava neles. Sua vida diferente, mudada,
era sinal de outra coisa. Eram como seus concidadáos pagaos, porém
em sua humanidade florescia algo que vinha de Outrem.

Como nos informa o autor deste relato, o comportamento daqueles


cristáos foi o motivo pelo qual muitos pagaos se aproximaram da fé crista.
Na realidade, alguém se interessa por um passado por causa de um pre
sente atraente, fascinante. Se nos interessa urna mostra sobre a origem do
Cristianismo, é pelo encontró feito com esta humanidade transformada.
Acontece-nos o que se dá com o rapaz apaixonado: preocupa-se em co-
nhecer a historia passada, a infancia e a adolescencia da moga que ama,
por causa da experiencia de afeto real que tem por essa pessoa viva que
encontrou e acompanha. Naturalmente, urna pessoa nao se interessa pelo
Cristianismo através do exame de sua historia ou da leitura dos Evange-
Ihos. Como na origem, como no sáculo IV, também hoje tudo comega com
um encontró humano, que nos faz contemporáneos ao acontecimento cris-
táo, quer dizer, a Cristo. Um encontró humano no qual se percebe urna
correspondencia com os desejos do coracáo, com a ansia de humanidade,
de vida, que alguém experimenta no seu íntimo; em tais casos, aquelas
pessoas encontradas contém urna Presenca que se experimenta e se reco-
nhece como resposta as exigencias e perguntas que a realidade nos des-
perta. Por isto alguém é atraído, fascinado por esses homens mudados.
Dito com outras palavras: em um fato presente se manifesta e se reconhece
um acontecimento do passado, que se revela como significado e origem do
fato presente. Se alguém recém-chegado a Alexandria durante a peste,
surpreendido pelo modo de se comportar dos cristáos, perguntasse a al-
gum deles: "Quem sois vos?", esse mesmo nao poderia responder de modo
adequado, nao daria urna razáo suficiente, a nao ser referindo-se a um fato
passado, no qual comegou a historia, a novidade da qual participa. Se nao
se chegasse áquela origem, nao se chegaria a compreender o que sucede
no presente; o que percebem os sentidos, é incompreensível, se nao se

533
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

reconhece o acontecimento passado que o origina. A excepcionalidade do


fato presente, da pessoa mudada que encontró, nasce daquele aconteci
mento do passado. Um acontecimento que está narrado nos Evangelhos.

2. Urna Tradicáo Sagrada

A peculiaridade destes livros reside principalmente no seu conteúdo,


que se propoe como acontecimento único: o fato de que Deus se fez ho-
mem em Jesús, para ser companhia e Salvador do homem. Proclamam algo
nunca ouvido: que um homem, Jesús de Nazaré, é Deus. Os Evangelhos
sao o testemunho daqueles que encontraram Jesús e conviveram com Ele.
Nestes livros recolheram as palavras e os atos de Jesús de Nazaré, sua vida
de pregacáo, Paixáo, morte e ressurreicáo. Mas, sobretudo, através da
narracáo destes acontecimentos anunciam quem é este Jesús, qual é a sua
"pretensáo". Nao transmitem apenas urna doutrina ou um conjunto de ver
dades, mas também o ser de urna pessoa. De fato, o motivo principal pelo
qual foram escritos os Evangelhos, segundo se lé neles, é comunicar a
todos este acontecimento extraordinario, é conhecer Jesús. Ao final de seu
Evangelho, Sao Joáo afirma: "Isto foi escrito para que creíais que Jesús é o
Messias, o Filho de Deus" (Jo 20,31). Ou, como disse Sao Lucas no prólogo
a seu Evangelho:"... para que confias a firmeza dos ensinamentos que
recebeste de viva voz"; isto quer dizer: o que foi anunciado, e que nao é
outra coisa senáo o visto, contemplado e tocado pelas testemunhas, como
afirma Sao Joáo na sua primeira carta (cf. 1 Jo 1, 1-4).

Sao documentos, pois, vinculados á intencáo de anunciar, de dar


a conhecer algo que aconteceu e que se reconhece como vital para a
vida do homem. Compreende-se fácilmente que todos aqueles que cre-
ram em Cristo, tenham manifestado por esses escritos um afeto, urna
predilecáo especial. A Igreja, desde os seus primordios, como nos infor-
mam as noticias dos antigos Padres da Igreja (Papias de Hierápolis, Inácio
de Antioquia, Irineu de Liáo, Justino, Clemente de Alexandria, etc.), os
venerou e leu publicamente em suas celebracóes. Assim mantinha viva
a memoria do que havia sucedido. Ao mesmo tempo, serviam de criterio
para discernir a verdade da experiencia transmitida por aqueles que ha-
viam sido testemunhas desse acontecimento nunca escutado.

O motivo da veneracáo da Igreja por tais livros reside certamente


em que falam de Jesús, ou seja, daquele que é a origem e o sentido da
própria Igreja. Mas, também... porque transmitem a pregacáo de Jesús;
sao suas palavras e seus atos, venerados desde o inicio como tradicáo
sagrada. O exegeta escandinavo H. Riesenfeld, em seu famoso trabalho
sobre as origens da tradicáo evangélica, publicado em 1959, afirma:

"As palavras de Jesús e as narragóes de seus atos foram concebi


dos desde urna data muito antiga como urna nova e definitiva Alianga".

534
A HISTORICIDADE DOS EVANGELHOS

Segundo este estudioso, certamente a causa pela qual a tradigáo


das palavras e atos de Jesús foi considerada como sagrada, é nao so-
mente o conteúdo da mesma, mas também a sua origem: deriva do mes-
mo Jesús. De fato, nos Evangelhos aparece Jesús como um Mestre que
instruí seus discípulos. E, mais, neles se faz mencáo explícita á transmis-
sáo de urna doutrina: "Ele os instruía" (cf. Mt 13,11; Me 9,30; Le 11,1,
etc). Isto significa que Jesús fez seus discípulos e, antes de tudo, os'
Doze aprender; mais ainda... que os fez aprender de memoria suas pa
lavras2. De fato, muitas palavras de Jesús foram cuidadosamente formu
ladas com vista á sua transmissáo. Com isto, nao se pretende afirmar
evidentemente que os Evangelhos, tais como nos chegaram, provém de
Jesús. Sem dúvida alguma, os evangelistas, para escrever seus livros,
tiveram que recolher as palavras e os relatos, agrupá-los e dar-lhes um
marco definitivo, trabalho do qual nos informa Sao Lucas no comeco de
seu Evangelho (Le 1,1 -4). Porém, certamente, esta tradicáo que se cris-
talizou em nossos Evangelhos, se memorizava e recitava como palavra
sagrada, em vírtude do fato de que suas orígens e linhas fundamentáis
estao em Jesús como Mestre de seus discípulos.

Por algumas afirmacóes contidas no Novo Testamento - segué afir


mando H. Riesenfeld - sabemos que esta tradicáo sagrada foi transmiti
da nao de forma anárquica e anónima, como sustentam certos estudio
sos da historia das formas (Formgeschichte), mas seguindo leis pré-
estabelecidas e através daqueles designados para tal fim: os apostó
los3. Com efeito, algumas passagens da obra de Sao Lucas afirmam que
urna das principáis obrigacóes dos Doze era, junto com a pregacáo e o
cuidado das comunicacóes, o servico da Palavra (At 6, 2). E, no prólogo
de seu Evangelho, ao informar-nos da existencia de outros relatos se-
melhantes, sitúa sua origem na "transmissáo daqueles que, desde o ini
cio, foram testemunhas oculares e convertidos em ministros da palavra"
(Le 1,2). Daí a importancia, depois da traicáo e morte de Judas Iscariotes,
de encontrar um substituto, como disse Sao Pedro em seu breve discur
so no primeiro capítulo dos Atos, "entre os homens que nos acompanha-
ram todo o tempo em que viveu entre nos o Senhor Jesús, a partir do
batismo de Joáo até o dia em que do nosso meio foi arrebatado para o
alto" (At 1, 21 s). A eles corresponde a transmissáo desta tradicáo sobre
Jesús, desta palavra sagrada, que data de muito cedo, como dissemos,
e que é considerada a palavra de Deus da Nova Alianca.

O lugar onde se recitava ou proclamava o conteúdo desta tradi


gáo eram as assembléias de comunidade.

Desde entáo, até hoje, a Igreja proclama os santos Evangelhos


ñas celebracóes eucarísticas, indicando que o Evangelho só pode ser

535
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

lido e compreendido na Igreja. Quer dizer, a verdadeira compreensáo só


se dá se se participa da experiencia humana que a gerou..., do mesmo
modo como a poesía amorosa só é compreensível a quem participa des-
sa experiencia humana, ou urna sinfonía clássica só é apreciada por
quem está familiarizado com tal tipo de música. Pois bem, como a tradi
cáo sagrada da Antiga Alianca, recolhida nos livros do Antigo Testamen
to, era proclamada ñas celebracoes rituais judaicas da sinagoga e do
Templo, de modo igual foram também as celebracoes próprias do Cristi
anismo o contexto de proclamacáo da Palavra de Deus na Nova Alianca,
ou seja, da tradicáo de Jesús. Pelos Atos dos Apostólos sabemos que os
cristáos de Jerusalém participavam do culto judaico e ali escutavam a
leitura dos livros da Antiga Alianga e rezavam as oracóes que haviam
aprendido quando criangas. Contudo, junto á sua participagáo no culto
judaico, desde o comeco, a comunidade crista se reunía em casas par
ticulares para a fragáo do pao, a oragáo e o ensinamento dos Apostó
los (At 2, 42). É natural considerar este ensinamento apostólico, antes
de tudo, como a narragáo dos atos e das palavras de Jesús. Certamente
nao só como um complemento ao ensinamento que recebiam na sinago
ga, mas como seu cumprimento. Esta é a razáo, provavelmente, pela
qual as palavras e os atos de Jesús nao se encontram citados ñas pre-
gagóes missionárias e, muito raramente, ñas instrugóes á comunidade,
como observamos ñas epístolas recolhidas do Novo Testamento. Nao
obstante, a pregagáo missionária e a instrugáo as comunidades pressu-
punham e dependiam das palavras e dos atos de Jesús.

Evidentemente o número de "tradentes" autorizados (aqueles que


tinham a permissáo de transmitir esta tradigáo) cresceu com a difusáo do
Cristianismo, ou seja, ao aumentar o número das comunidades. Prova
velmente esta circunstancia também influiu na necessidade nao só de
fixar por escrito esta tradigáo (processo que deve ter comegado logo),
mas de realizar urna narragáo seguida desde a aparigáo pública de Je
sús até sua ascensáo ao céu, isto é, o que sao nossos Evangelhos atu-
ais. O fato de que os Apostólos, as testemunhas oculares, nao puderam
chegar a todas as comunidades ou se viram obrigados a abandonar aque-
las que haviam fundado por causa de sua atividade missionária, suscitou
a necessidade de redigir por escrito a tradigáo sagrada e de escrever um
relato continuo do que Jesús disse e fez, e nao apenas colegóes de pa
lavras ou milagres (semelhantes á colegáo que se pode reconstruir da
fonte comum a Mateus e Lucas = fonte Q). Transmitindo urna informagáo
antiga, assegura Eusébio de Cesaréia que este foi o motivo pelo qual Mateus
decidiu escrever seu Evangelho: "Mateus, que primeiro havia pregado aos
hebreus, quando estava a ponto de partir até outros, entregou por escrito
seu Evangelho, em sua língua materna, suprindo assim por meio da escritu
ra o que faltava de sua presenga entre aqueles de quem se afastava".4

536
A HISTORICIDADE DOS EVANGELHOS

3. A Crítica Moderna

A fgreja desde sempre defendeu o valor histórico desses livros


chamados "Evangelhos"; ela os leu com a certeza de que as coisas afir
madas neles correspondiam ao que Jesús disse de si mesmo e os tatos
narrados coincidiam substancialmente com o que havia sucedido. Em
poucas palavras: a Igreja considerou tais livros como testemunhos de
fatos ocorridos na historia. Para o corroborar, bastam algumas citacóes
da Constituicáo Dogmática sobre a Divina Revelacáo do Concilio do
Vaticano II. Aílemos:

"A Santa Madre Igreja defendeu sempre a historicidade dos Evan


gelhos; afirma que narram fielmente o que Jesús, o Filho de Deus, viven-
do entre os homens, fez e ensinou realmente até o día da Ascensáo".
Mais adiante, assegura-se que a Igreja afirmou sem titubear, com firme
za e máxima constancia, que os Evangelhos "nos transmitiram dados
auténticos e genuínos sobre Jesús" (DV 19).

Por isto a Igreja teve sempre a conviccao de que sua fé em Jesús


se baseia no que Este disse e fez, há dois mil anos, na Palestina. A fé
católica está táo vinculada ao sucedido históricamente que a Igreja nao
duvidou em incluir no Credo, que recitamos a cada domingo, a referen
cia a um personagem histórico, um personagem odiado por sua cruelda-
de e intransigencia: Póncio Pilatos.

Todavía esta certeza da Igreja nao impediu que muitos estudiosos


dos últimos séculos tenham questionado com insistencia o valor históri
co dos Evangelhos. Segundo o parecer destes autores, os Evangelhos
sao de valor histórico limitado ou nulo, pois sua ¡ntencao é puramente
propagandista. Segundo o parecer desses autores, os Evangelhos nos
transmitem o que pensavam os cristáos e nao o que realmente sucedeu.
A respeito do que Jesús disse e fez, nao poderíamos alcancar certeza
alguma. Basta ver, como exemplo, o que um Dicionário das Religioes
afirma sobre Jesús:

"Legendario fundador da religiáo crista, cuja existencia histórica


nao pode ser demonstrada com certeza, reconhecido como Deus no
culto" (A. Donini).

E um dos exegetas do Novo Testamento, da maior influencia, R.


Bultmann afirma que nada sabemos a respeito de como Jesús viveu, falou e
procedeu; nada do conteúdo de sua pregacáo e de sua humanidade histó
rica. A única coisa que sabemos com seguranca, é que foi um judeu do
século primeiro que a Igreja proclamou Deus. Na realidade, a única coisa
que temos nos Evangelhos é o que a Igreja confessa a respeito de Jesús.

Apesar da suspeita sobre o valor histórico, estes estudiosos mo-

537
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

demos enfrentam um dado que nao se pode evitar: a existencia dos Evan-
gelhos e o tato de que neles se afirma que um homem, Jesús de Nazaré,
é considerado Filho de Deus por um grupo de judeus da Palestina do
século primeiro. Ao nao aceitar a explicacáo que a Igreja deu desde suas
origens, criaram urna explicacáo alternativa. Segundo esta explicacáo,
os Evangelhos seriam o resultado de um processo de mitificacáo da pes-
soa de Jesús, segundo o qual quem nao era mais que um profeta foi
transformado em Filho de Deus. Com efeito - afirmam -, ao se difundir a
fé crista pelo Imperio Romano, os missionários cristáos tiveram que com
petir com os fundadores de outros grupos religiosos, descritos como se
res surpreendentes, de qualidades divinas, capazes de realizar atos pro
digiosos. Esta circunstancia obrigou-os a engrandecer aquele judeu, Je
sús de Nazaré, que estava na origem da nova fé. Para isso, nao duvida-
ram em atribui-lhes fatos que nao realizou ou colocar em seus labios
palavras que nao pronunciou. Os Evangelhos, segundo esta concepcáo,
sao o produto da fé e da vida da comunidade primitiva e nao o testemu-
nho fiel que nos permite chegar á verdade histórica de Jesús.

Este processo de mitificacáo de Jesús que a comunidade crista


realizou sem temor de ser contraditada, atribuindo-lhe coisas que nao suce-
deram ou agigantando fatos normáis de sua vida, - seguem afirmando
estes estudiosos - encontra urna fácil explicacáo, dado o período de tempo
que transcorreu desde a morte de Jesús até a redacáo final dos Evange
lhos. Em sua opiniáo, estes livros foram escritos uns cinqüenta anos de-
pois dos fatos narrados. Além disso, em urna língua diferente daquela
que falaram Jesús e seus contemporáneos, o grego, e sob o influxo do
helenismo, isto é, da multiplicidade dos cultos e religióes helénicas, pois
é de todo inconcebível que esta mitificacáo fosse realizada por judeus,
dado seu monoteísmo rígido. Eis aqui como se expressa um dos pioneiros
da investigacáo histórica de Jesús, H. S. Reimarus, falando dos milagres:

"Até trinta ou sessenta anos depois da morte de Jesús, nao se


comegou a escrever um relato dos milagres que realizou; isto foi feito em
urna língua que os judeus da Palestina nao conheciam. Judo isso ocor-
ria em um tempo em que a nagáo judaica se encontrava num estado de
enorme enfraquecimento e confusáo - por causa da destruigáo de Jeru-
salém no ano 70 -, na qual viviam já muito poucos dos que haviam co-
nhecido Jesús. Nada, portanto, mais fácil para os autores dos Evange
lhos do que inventar tantos milagres quantos quisessem, sem medo de
que seus escritos fossem fácilmente entendidos ou refutados"5.

Do que foi dito até agora, compreende-se a importancia da histori-


cidade dos Evangelhos. Segundo os resultados da linha dominante da
investigacáo moderna, o que a Igreja eré e anuncia é urna pura invencáo
ou, no melhor dos casos, um exagero, nao urna realidade histórica. Em

538
A HISTORICIDADE DOS EVANGELHOS

outras palavras: o que a fé confessa é mentira; portanto, o Cristianismo


seria urna fraude e os fiéis cristáos alguns crédulos ingenuos ou igno
rantes. Formula-se assim a relagáo entre a fé e a historia: se é certo que
a maior parte do narrado nos Evangelhos nao é histórico, mas pura cri-
acáo da comunidade, em que é que se eré? Qual é o conteúdo da fé
crista? - Negar o valor histórico da fé crista é destrui-la, confiná-la á
irracionalidade. Pois, á diferenca de outras crencas, o Cristianismo nao
é apenas um sentimento religioso nem urna experiencia religiosa mera
mente subjetiva nem, muito menos, o simples cumprimento de algumas
máximas de comportamento, mas é a adesáo a um acontecimento, a
urna Pessoa que viveu e morreu faz dois mil anos na Palestina e que,
ressuscitado, vive para sempre e está presente no mundo até o final dos
séculos. Por isso, a histoheidade do que a Igreja anuncia é condicáo
indispensável para a existencia do Cristianismo e requisito primario para
que o homem dé sua aceitagáo de forma razoável, humana. O estudo da
historicidade dos Evangelhos trata, pois, de saber se o narrado nos Evan
gelhos sucedeu ou nao, se o fato que anunciam - Deus se fez homem -
aconteceu históricamente. Nao responder ao problema suscitado pela
investigacáo moderna seria cair no fideísmo; seria dizer que os fiéis po-
dem continuar crendo em algo contrario á razáo, aceitando assim que a
fé e a razáo sejam duas linhas paralelas, sem contato algum. É esta urna
posicio totalmente contraria á que caracterizou a Igreja desde sempre,
já que, segundo afirma, nao existe verdadeira adesáo de fé sem a ade
sáo completa da razáo.

4. As investigares sobre a origem aramaica dos Evangelhos

InvestigacÓes recentes colocaram a público a falsidade das con-


clusoes as quais chegou a crítica moderna da suspeita. Em primeiro
lugar, verifica-se que os quatro Evangelhos estáo cheios de semitismos,
o que demonstra que atrás deles existe um texto original aramaico. Expli-
carei brevemente o que pretendo afirmar ao falar de semitismos no Evan-
gelho grego.

É fácil observar que o texto grego dos Evangelhos que chegou até
nos, está cheio de anomalías. Estas podem ser fundamentalmente de
dois tipos: 1) um texto grego gramaticalmente correto e claro, mas cujo
conteúdo é estranho e, com freqüéncia, está em contraste com o con
texto, 2) urna formulacáo estranha ou, até, impossível dentro da gramá
tica grega.

Os dois tipos de dificuldade encontram urna explicacáo muito sim


ples, se se reconhece o influxo que exerceu sobre o grego a língua
aramaica, que era a língua da Palestina no primeiro século, a língua que
Jesús falava. Com efeito, estas anomalías sao fácilmente explicáveis, se
se leva em conta que, diante de um texto aramaico, o tradutor pode ser
539
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

demasiadamente servil na versáo grega, violentando a gramática


helénica, ou realizar urna traducáo equivocada por causa de entendi-
mento equivocado do texto original. Por outro lado, nao podemos es-
quecer que toda língua possui um certo número de peculiaridades que,
traduzidas tais e quais para outra língua, "ao pé da letra", dizem coisas
absurdas. Assim, se tentarmos traduzir literalmente para o espanhol o
ditado portugués "fulano dorme com as galinhas", diríamos urna coisa
absurda: "dormir com as galinhas", quando na realidade isto é urna for
ma própria (popular) de referir-se a alguém que vai dormir muito cedo.
Por outro lado, como assinalou há algum tempo o estudioso americano
Millar-Burrows, o único modo de provar que um texto corresponde a urna
traducáo e nao é o texto original, é a descoberta de casos evidentes de
redacáo ¡ncorreta. Se estivéssemos diante de urna redacáo correta, se
ria impossível saber que se trata de urna traducáo, pois faltariam as
anomalías que o delatam.

Pois bem; em nosso estudo, tivemos que enfrentar numerosas ano


malías do texto grego do Evangelho, que foram resolvidas apelando-se para
o substrato aramaico, o que demonstra que, por detrás, existe um original
aramaico. Mas o fato de que a tradigáo de Jesús tenha sido escrita em
aramaico significa que sua redacáo foi realizada na Palestina e em urna
língua conhecida pelos judeus; portante, em urna data muito mais próxima
do que aquela que se sugeriu. De fato, os evangelistas geralmente dáo por
obvio o conhecimento da situacáo da Palestina, de sua geografía, costu-
mes, modos de construir e cultivar etc., mostrando que os Evangelhos fo
ram escritos por gente para quem tudo isso resulta familiar e destinados a
um grupo de pessoas que nao necessitavam de explicacáo alguma. Em
outras palavras, a inegável origem aramaica dos nossos Evangelhos gre-
gos nos obliga a concluir a existencia de urna tradicáo fixada muito cedo em
aramaico, a pouca distancia dos fatos narrados nos Evangelhos. Chega-
mos á urna idéntica conclusáo se levarmos em conta a finalidade pela qual
foram escritos os Evangelhos. Já afirmamos que a dita finalidade era a liturgia
das comunidades cristas. Pois bem, visto que tais comunidades existiram
logo depois da ressurreicáo de Jesús na Palestina e arredores, onde a
língua falada era o aramaico, se impóe categóricamente a conclusáo de
que, muito cedo, foram necessários documentos escritos em aramaico que
narravam as palavras e os atos de Jesús, para que fossem lidos durante as
reunióes dominicais que as comunidades da Palestina celebravam. Tal lei-
tura acontecía na presenca daqueles que haviam sido testemunhas dos
atos e das palavras de Jesús, isto é, de seus contemporáneos. Vejamos em
dois exemplos o que acabamos de afirmar sobre a origem aramaico-
palestinense. Para tal, faremos referencia a duas passagens do Evangelho
de S. Marcos, que, segundo os críticos, é o mais primitivo, aquele que me-
Ihor reflete a tradigáo original.

540
A HISTORICIDADE DOS EVANGELHOS 13

A) Jesús chega a Jerusalém

No capítulo onze de seu Evangelho, Sao Marcos narra os aconte-


cimentos previos á Paixáo e morie de Jesús. O comeco deste capítulo
descreve a subida de Jesús e seus discípulos desde Jericó até Jerusa
lém, com estas palavras: "E quando se aproximavam de Jerusalém, de
Betfagé e Betánia, junto ao Monte das Oliveiras ..." (v. 1). A descricáo do
caminho que percorre Jesús e seus discípulos é verdadeiramente estra-
nha, pois diz o contrario do que ocorreu na realidade. Com efeito, se
pela enumeracáo destes lugares o evangelista quer assinalar o caminho
percorrido desde Jericó até Jerusalém, a ordem lógica teria que ter sido
o inverso. Além disso, a redacao do evangelista nao parece pretender
descrever um percurso, pois, depois de assinalar o ponto de chegada,
Jerusalém, acrescenta em aposicáo os nomes de duas aldeias, Betfagé
e Betánia, como se elas também fossem a meta da viagem. Sao Mateus
e Sao Lucas preferiram urna redacao diferente, na qual desapareceram
todas as anomalías. Nao é estranho que alguns estudiosos tenham con
siderado a descricáo do caminho que Sao Marcos propóe como um sinal
claro de que este evangelista nao conhecia a geografía da Palestina e,
por isso, as descricoes geográficas que temos em seu Evangelho seri-
am de caráter geral, aproximativo. Mas, se esta suposicáo está certa,
temos que concluir que o autor do segundo Evangelho nao pode ser
Joáo Marcos, pois este era originario de Jerusalém; devia estar familiari
zado com a geografía de sua térra e nos dar, portanto, urna informacáo
precisa, exata.

No nosso modo de entender, a estranha redacáo do texto grego


de Sao Marcos tem fácil explicacáo a partir do aramaico que podemos
supor por tras dele. Com efeito; a preposicáo grega que rege os nomes
de Betfagé e Betánia (eis), é a traducáo de urna partícula aramaica (b),
que serve para indicar nao só o lugar aonde de um movimento, mas
também o lugar por onde. O tradutor ao grego pensou que a preposi
cáo aramaica diante dos nomes de Betfagé e Betánia indicava também
aonde, quando na realidade o que indicava era o lugar por onde Jesús
chegava a Jerusalém, vindo de Jericó. Lido assim, o texto aramaico dizia:
"E quando se aproximavam de Jerusalém por Betfagé e Betánia...". Re
cordemos que, nos tempos de Jesús, o caminho que ia de Jericó a Jeru
salém, antes de subir a ladeira oriental do Monte das Oliveiras, tinha á
esquerda, a pouca distancia, a aldeia de Betfagé e, um pouco mais afas-
tada, Betánia. Portanto, é natural dizer que, para chegar a Jerusalém
desde Jericó, Jesús subia ao Monte das Oliveiras, passando por Betfagé
e Betánia. Assim, pois, o texto aramaico primitivo de Sao Marcos nao só
nao continha nenhuma inexatidáo geográfica, mas era de urna precisáo
perfeita nesse sentido.

541
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

B) Jesús perante o tribunal de Pilatos

No relato evangélico da Paixáo, existe um episodio muito conheci-


do dentro do processo de Jesús perante Pilatos. Nos nos referimos ao
fato de que o Procurador romano, nao encontrando delito digno de mor-
te no acusado, o quer por em liberdade. Porém, as autoridades judaicas
pedem sua morte na cruz e reclamam a liberdade de Barrabás, que, sem
dúvida, era um delinqüente político, culpado, de urna ou outra forma, do
delito de sedicáo contra Roma. Este episodio nao causaría nenhuma
surpresa, se nao fosse pelo fato de que os Evangelhos parecem fundar
a peticáo dos judeus em um costume jurídico. Eis aqui como a descreve
Sao Joáo: "É costume entre vos que vos ponha em liberdade alguém
pela Páscoa {Jo 18, 39). Pois bem, fora dos Evangelhos, nem em escri
tos judaicos nem em documentos pagaos encontramos a menor alusáo
a esta especie de anistia anual que o Procurador romano da Judéia con
cedía por ocasiáo da festa da Páscoa. Esta ausencia de documentos
que falem de semelhante anistia, suscitou urna avalanche de críticas
contra a historicidade do relato evangélico. Urna prova a mais - segundo
certos críticos - da inconsistencia histórica da tradicáo evangélica. Urna
mostra disso sao estas palavras cheias de irania do francés C. Guignebert:
"Eis aqui outro episodio notavelmente estranho. Em primeiro lugar,
nao possuímos, fora dos Evangelhos, nenhum testemunho sobre o sur-
preendente costume. Como é possi'vel que um malfeitor, inclusive muito
perigoso, deva ser posto em liberdade, se o povo o reclama, sem que
nenhum escrito judeu nos fale deste exorbitante privilegio?"6.

E, mais, a ausencia de corroboracáo histórica, fora dos Evange


lhos, do suposto costume que serve de base ao episodio da libertacáo
de Barrabás, levou os estudiosos a considerar todo o relato como
legendario; estaríamos diante de urna lenda cuja intencáo seria por em
relevo o enorme delito dos judeus, que preferiram a liberdade de um
homicida á do Salvador, pois pediram a morte de Jesús. Apesar de que o
Procurador romano quis libertar Jesús, a multidáo, á qual o fantástico
costume da anistia pascal dava o direito de decidir, se negou. Para repli
car a estas objecóes, comecemos por perguntar: é certo que os Evan
gelhos falam unánimemente desse costume?
a) Análise dos textos

Urna leitura atenta das passagens evangélicas que falam da anis


tia pascal como um costume, póe ¡mediatamente de manifestó que o
testemunho deste costume nao é precisamente unánime. Só em Sao
Joáo (18, 39) parece haver urna referencia explícita ao "costume" de
libertar um preso por ocasiáo da Páscoa. No extremo oposto se encon-
tra Sao Lucas: seu relato do episodio nao menciona em absoluto o cos-

542
A HISTORICIDADE DOS EVANGELHOS ]5

turne. De Sao Mateus, costuma-se dizer que, em linhas gerais, seu rela
to da Paixáo é uma versáo literariamente melhorada do segundo Evan
gelho. Neste caso da libertacáo de Barrabás, podemos falar certamente
de melhor redacáo em Sao Mateus, porém nao é seguro que venha a
dizer o mesmo que Sao Marcos. Impóe-se, portanto, um atento estudo
do relato como o lemos no Evangelho de Sao Marcos, que os estudiosos
consideram ser o mais primitivo.

Me 15, 6. Das duas passagens ñas quais se costuma ler neste


Evangelho uma alusáo ao costume da anistia, segundo uma tradigáo
muito extensa, a primeira diz: "Cada ano pela festa costumava soltar-
Ihes um preso, o que pediam" (Me 15, 6). Todavía devemos pontualizar:
esta traducao do texto grego nao se impóe em absoluto. A expressáo
inicial grega nao tem necessariamente sentido distributivo de "cada fes
ta" (da Páscoa). Pode-se usar também para designar o momento em
que tem lugar um fato único, nao repetido nem repetitivo, como demons-
tram exemplos evidentes ñas obras de Flávio Josefo (Bel. 1,229; Ant,
208). Esta expressáo, portanto, pode-se traduzir simplesmente por "na
festa", "por ocasiáo da festa", sem que seja necessário ler nela alguma
alusáo a uma repeticáo da anistia. O segundo elemento deste versículo
que parece indicar um costume, é o valor iterativo que se costuma dar
ao imperfeito grego, tal como faz a Vulgata: "solebat". Pois bem, este
valor iterativo nao é o único que tem o imperfeito grego. Junto a ele, é
freqüente o que podemos chamar valor de futuro próximo no passado. E
assim Sao Marcos pode querer dizer: "Na festa, ou por ocasiáo da festa,
ia-lhes soltar um preso, que pediam".
Portanto, este versículo do relato pode-se entender no sentido de
que Pilatos, que tinha sua residencia regular em Cesaréia, por ocasiáo
da Páscoa, durante a qual se trasladava a Jerusalém, daria a liberdade
a um preso político que as autoridades judaicas e os amigos apoiavam.
Nada nos obriga a ver aqui uma alusáo a suposta anistia regular de um
réu a pedido do povo por ocasiáo da Páscoa.
Me 15,8: parece que dois versículos mais adiante o texto grego de
Sao Marcos fala abertamente de uma anistia costumeira. Pelo menos
assim o dáo por certo algumas traducóes, como esta: "A multidáo, subin-
do, se pos a pedir a graga acostumada" (Huby-Benoit). Pois bem, é pre
ciso reconhecer, pelo puro exame lingüístico, que o texto grego nao tem
este sentido. De fato, quando se faz uma traducáo estritamente literal, a
versáo que resulta é muito violenta, a saber: "E, subindo, a multidáo
comecou a pedir como costumava fazer-lhe (s)" (E. Lohmeyer). A
estridencia do texto reside na troca de sujeito ao passar da primeira
oracáo - "comecou a pedir" - á segunda - "costumava fazer-lhes". - Na
primeira parte o sujeito é a multidáo, na segunda Pilatos. O fato de que

543
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

na primeira parte o sujeito é a multidáo, parece exigir que na segunda se


fale também de algo que fazia a multidáo. A redacáo de Sao Marcos é de
urna lógica desconcertante.

Urna vez mais, a explicacáo deste estranho texto grego de Sao Mar
cos e a eliminacao da nao menos estranha anistia pascal nos sao dadas
pela origem aramaica. Vejamos. Se por baixo do imperfeito do verbo grego
fazer supomos um participio do verbo aramaico que tenha o mesmo signi
ficado (o aramaico utiliza com muita freqüéncia os participios, quando nos
usamos outras formas verbais), nos nos encontramos perante o paradoxo
de que o participio aramaico deste verbo pode ser lido como ativo ou como
passivo. O texto grego de Sao Marcos neste versículo, com suas estranhe-
zas de redacáo, é o resultado de se haver concedido ao participio aramaico
o valor ativo cujo sujeito - implícito, nao se esqueca - é Pilatos. Mas pode
ocorrerque na passagem do aramaico para o grego se lera mal, ou seja, se
interpretara como ativo um participio passivo escrito com as mesmas con-
soantes. Nesta confusao está a causa da estridencia do texto que hoje
lemos. Bem agora, no aramaico o participio passivo do verbo "fazer", além
de "feito", pode significar "acostumado a"; e, construido em oracáo nominal,
pode equivaler a "acostumar".

Em conseqüéncia, o original aramaico de Sao Marcos pode querer


dizer algo bastante diverso, a saber: "E, subindo, a multidáo comecou a
pedir como era de costume deles, ou seja, como costumavam. Nao há,
portante, troca de sujeito ao passar do primeiro membro, "comecou a pe
dir", ao segundo, "como era de costume". Encontramo-nos assim diante de
urna proposicáo que nada tem de elíptico e que faz sentido sem necessida-
de de suprir coisa alguma. A estridencia do grego tem sua origem - repeti
mos - em um erro de leitura, fácilmente explicável em urna escritura quase
exclusivamente de consoantes; o tradutor leu as consoantes como partici
pio ativo, e lógicamente se serviu do imperfeto ativo grego para traduzi-lo.
A possibilidade de confusao dos participios aramaicos foi confirmada pelos
descobrimentos do deserto de Judá, a partir de 1947, onde encontramos
ambos os participios escritos com idéntica perfeicáo.
b) O costume de Me 15,8

Forcados pelo estranho grego de Sao Marcos e pela surpreen-


dente alusáo a urna anistia anual, da qual nao há noticia fora dos Evange-
Ihos, recorremos ao substrato aramaico, que nos deu este resultado: "E,
subindo, a multidáo comecou a pedir como era de seu costume." O origi
nal semítico, portanto, nao diz que Pilatos, ou o procurador romano, ti-
nha o costume de libertar um preso na Páscoa, nem diz que a multidáo
costumava apresentar-se diante do pretorio para reclamar este privile
gio ao chegar tal data, mas simplesmente alude a que a multidáo tinha o
544
A HISTORICIDADE DOS EVANGELHOS 17

costume de reunir-se diante do palácio-pretório e reclamar algo. Deste


costume temos muitos testemunhos nos escritos de Flávio Josefo. O tex
to original nos fala, portanto, de um fato ¡solado e perfeitamente explicá-
vel ao marco da carreira política de Pilatos: tratava-se de urna anistia
concreta para conseguir o favor do povo em um momento difícil de sua
carreira. Qual fosse a causa desta tensáo que pretendeu resolver medi
ante tal anistia, nao o sabemos com certeza, aínda que bem pudesse ser
a morte de Sejano {ano 31 d. C). Sejano era o homem mais poderoso
do Imperio Romano depois de Tiberio; acusado de conspiragáo foi
esquartejado pelas turbas em Roma. Com sua morte, foram caindo tam-
bém os que haviam sido amigos do Ministro desaparecido. Neste contex
to se explicaria muito bem que Pilatos, para se congracar com os judeus
e nao perder o cargo (pois era amigo de Sejano), tenha recorrido ao
expediente de libertar presos a pedido do povo.

Tenha-se em conta que nao sao estas duas passagens de Sao


Marcos as únicas em que urna dificuldade geográfica ou histórica pode
ser resolvida mediante a sólida hipótese de que a lingua original deste
Evangelho nao foi o grego, mas o aramaico. Semelhantes aos dois tex
tos citados, e inclusive bem mais difíceis que estes, podemos apresentar
uns vinte a mais. E nao esquejamos que o Evangelho de Sao Marcos é
o mais breve de todos, pois consta apenas de 16 capítulos.

5. Conclusáo

Ao nosso entender, urna das causas pelas quais se questiona o


valor histórico dos Evangelhos é o fato de terem sido escritos para cris-
taos, por testemunhas que nao sao neutras. Todavía, ninguém rechacou
o valor histórico dos dados biográficos de Sócrates transmitidos por seus
discípulos Xenofonte e Platáo, nem se nega a realidade das facanhas
de César narradas por ele mesmo, ou seja, por testemunhas interessa-
das. Mas na realidade o verdadeiro motivo de que se tenha ¡ntroduzido a
dúvida sobre a fidelidade dos Evangelhos, é que se julga impossível o
que afirmam: que Deus se tenha feito homem. Assim se expressava D. F.
Strauss, autor de urna famosa vida de Jesús:

"Nao consigo imaginar como a natureza divina e a natureza huma


na podiam ser partes integrantes, diferentes e todavía unidas de urna
pessoa histórica. Aquilo que a razáo concebe se converte em medida do
que possa acontecer na realidade. O que nao entra dentro dessa medi
da, nao existe ou é absurdo".

Semelhante atitude implica a negacáo da categoría da possibilida-


de, fechando a razáo em sua própria medida e impossibilitando-a de
conhecer a realidade ou realizar um verdadeiro estudo dos dados histó-

545
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

ricos. Seria necessário recordar o que dizia Hamlet a seu bom amigo
Horacio: "Existem mais coisas no céu e na térra, Horacio, que na tua
filosofía", isto é, a realidade é maior do que a nossa percepcáo ou con-
cepcáo da mesma.

A ¡nvestigacao histórica, é verdade, nao pode concluir coisa algu-


ma sobre a Divindade de Jesús, mas pode estudar as pegadas que um
fato excepcional deixou na historia e reconhecer que sua explicagáo
exaustiva nao encontra outra hipótese mais adequada que a oferecida
pelas testemunhas do fato. Neste sentido, a ¡nvestigacao histórica nao
gera a fé, mas pode mostrar a racionalidade da mesma, respondendo as
objecoes que a crítica moderna e racionalista construiu ao longo dos
últimos séculos. E, isto, nao o fazemos por defender os direitos divinos
de Jesús, mas os direitos do homem concreto. Nos nos negamos a acei
tar as falsidades que certa exegese construiu como barreiras que impe-
dem o homem de hoje de se aproximar de Jesús e reconhecer o verda-
deiro dom, a vida plena. Assim como Sao Paulo discutía e debatía todos
aqueles que se opunham ao Cristianismo, considerando-os nao ínimi-
gos de Deus, mas inimigos dos homens, pois pretendiam impedir sua
participacáo na plenitude da vida que é o Acontecimento Cristáo, assim
também nos nos esforzamos por resolver as dificuldades ou objecoes
que contra a fé da Igreja tém levantado certos críticos modernos em
nome de urna suposta exaltacáo e libertacáo do homem, que resultou
ser a maior e mais maldita escravidáo.

A racionalidade da fé é provada por nosso estudo dos Evange-


Ihos, mas sobretudo é confirmada pela resposta as exigencias humanas
por quem adere aos que testemunham e vivem o Acontecimento Cristao.
Só esta experiencia explica a rápida difusáo do Cristianismo. Recorde-
se que, muito poucos anos depois da morte e ressurreicáo de Jesús,
Sao Paulo vai a Damasco para encarcerar os judeus que haviam crido
nele; também muito rápidamente existem cristáos em Antioquia da Siria
e, no comeco da década de 40, existia urna comunidade crista em Roma
{para fazer referencia só aos dados do NT). Por outro lado, a leitura dos
escritos do NT, sobretudo as cartas de Sao Paulo e o livro dos Atos, nos
causam surpresa pela organizacáo formidável com que atua e vive a
Igreja. Nestes escritos da Igreja primitiva também apalpamos o calor com
que os primeiros crentes em Jesús Cristo se sentiam enriquecidos pela
nova fé que Ihes haviam trazido os Apostólos, suas testemunhas diretas.
Tais escritos falam de um fato extraordinario que se apresenta como
definitivo para as exigencias e expectativas do coracio humano.

Fontes

1 Eusébio de Cesaréia. HE, Vil, 22, 7-10.

546
A HISTORICIDADE DOS EVANGELHOS 19

2 H. Riesenfeld, p. 20 - 22.

3 H. Riesenfeld, p. Os encontros do NT aos quais alude sao: 1 Cor 11,23-


25; 15,3; Gal 1,12 etc.

4 Eusébio de Cesaréla. HE, III, 24-6.

5 H. S. Reimarus, A ambicáo de Jesús e seus discípulos, Leiden


1970,119

6 C. Guignebert

7 Cf., por exemplo, Hebreu: GenAp 2,17; 10,14; Aramaico: óstracon e


contrato de Murabba'at.

8 Flávio Josefo, Bel 2,4 (sucessáo de Arquelau no reino; para conseguir


a simpatía do povo); Bel 2,175-176 (revolta por causa do uso que
Pilatos fez do dinheiro do templo); Ant 18,60 (mesmo episodio, contém
esta frase: "comecaram a gritar... como costuma fazer a multidáo");
Ant 20,215 (substituicáo do procurador Albino por Gesio Floro).
9 D. F. Strauss, A vida de Jesús ou o exame crítico de sua historia,
Milao 1965, 628.

10 W. Shakspeare, Hamlet.

Testemunho e Relatos I, organizagáo de Ruthe Rocha Pombo. -


Ed. Vozes, Petrópolis 1977, 135x210mm, 110 pp.

A Sra. Ruthe Rocha Pombo colecionou testemunhos de vida e re


latos de conversáo de vinte e urna pessoas (homens e mulheres, cléri
gos e leigos). Comega apresentando a origem da Renovagáo Carísmática
Católica - o que é muito importante, pois mostra que a Renovagáo nas-
ceu em ambiente católico, como conseqüéncia da procura de maior uniáo
com Deus por parte de professores e alunos da Universidade de Duquesne
(U.S.A.), sem pretender imitar ou substituir o pentecostalismo protestan
te no ano de 1966; é atualmente o Movimento que mais rápidamente se
expande dentro da Igreja Católica. Seguem-se os depoimentos de pes
soas que descobriram Deus através de peripecias dolorosas, enfrentan
do ambientes de drogas e más companhias, mas finalmente vitoriosas
com a graga de Deus; a Renovagáo Carísmática desempenhou papel de
relevo na agáo da Providencia Divina, que foi guiando tais irmáos para a
verdade e o amor do Evangelho. Na segunda orelha do livro escreve a
Sra. Ruthe: "Este nao é um livro comum, mas um livro-farol, que indica
caminhos de vitória para todos os que, com simplicidade de alma, mer-
gulharem ñas suas mensagens, pois ele vai diretamente ao encontró
daqueles que estáo sedentos e prontos para encontrar a Nascente das
aguas". Está em preparagáo o volume II.
547
Dúvida Metódica:

'A HISTORIA PERDIDA E RECUPERADA DE


JESÚS DE NAZARÉ"
por Juan Luis Segundo

Em síntese: O livro de Juan Luis Segundo parece reservado a


pessoas acostumadas as modernas teorias exegéticas do Novo Testa
mento: Método da Historia das Formas, Demitizagáo de R. Bultmann... A
linguagem é densa e, por isto, um tanto difícil. Quer chegar a reconstituir
o Jesús pré-pascal ou anterior á "teologizagáo" que Ihe terá sido acres-
centada depois de Páscoa; para tanto apoia-se em hipóteses e teorias,
que em proporgáo maior ou menor sao pessoais e arbitrarias. Verdade é
que o autor concluí a sua obra reconhecendo Jesús como Deus e Ho-
mem, mas o seu procedimento de "dúvida metódica" é discutível pelo
que tem de subjetivo ou de preconceito: o autor quer descobrir em Jesús
um reformador social, que morre como agitador político.

Na verdade, só conhecemos Jesús através dos escritos do Novo Tes


tamento. Nao há outro documentário que fale de Jesús de maneira fidedig
na na antigüidade, de modo que nao há como comparar a fonte "Novo
Testamento" com outra fonte para perceber o que os autores cristáos te-
nham acrescentado de "teológico" á figura humana de Jesús de Nazaré.
* * *

O Pe. Juan Luis Segundo é um jesuíta uruguaio, que Deus chamou a


Si em Janeiro de 1996, após intensa militáncia bibliográfica em prol da Teo
logía da Libertacáo. Deixou como obra final o livro intitulado "A Historia Per
dida e Recuperada de Jesús de Nazaré. Dos Sinóticos a Paulo"1, livro que,
ao ser iangado na Franca, foi premiado como o melhor livro teológico do
ano. É trabalho de erudicáo, de estilo denso, que torna a leitura um tanto
pesada; o autor tenciona ir ao ámago de suas teses, enfrentando e dissi-
pando todas as objecóes que se Ihes possam fazer. Vamos, a seguir, exa
minar as grandes linhas da obra e propor-lhes breve comentario.

Saltará aos olhos do leitor a diferenca entre os modos de encarar


os Evangelhos adotados por J. L. Segundo e por José Miguel García.

1 Ed. Paulus, Sao Paulo 1997, 135 x 210mm, 666p. Tradugáo de Magda Fuñado de
Queiroz.

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"A HISTORIA PERDIDA E RECUPERADA DE JESÚS DE NAZARÉ" 21

Este se deixa levar por pesquisas feitas sobre o próprio texto e a sua
lingüística, ao passo que aquele está muito imbuido de espirito
reducionista preconcebido, tendente a hipóteses mais ou menos gratui
tas que destroem um tanto da credibilidade dos Evangelhos.

1. O Livro

Juan Luis Segundo procura reconstituir a figura de Jesús pré-pascal


ou o Jesús como era antes que Ihe acrescentassem os aspectos teológicos
que os escritos do Novo Testamento propoem; para tanto vale-se muito
especialmente dos Sinóticos, dando preferencia a Marcos, considerado o
mais tosco e rude dos Evangelhos. Entre as intencóes do autor, está a de
apresentar aos ateus urna figura de Jesús anterior á de Jesús Deus e Ho
mem, possibilitando-lhes assim o acesso a Jesús; passariam da "fé antro
pológica" á "fé religiosa" mediante a leitura dessa "Teología Fundamental"
(p. 58 e 354). - O propósito do livro é explicitado as pp. 7 e 8.
«A quem pode interessar hoje esse ser histórico, humano, que se
chamou Jesús de Nazaré? A pergunta parece ter apenas urna resposta
obvia: aos cristáos. No entanto, refletindo um pouco, esse caráter obvio
da resposta se desvanece. De fato, percebemos que se baseia em pres-
supostos que seria conveniente ajustar melhor e que talvez nao resistam
- pelo menos, em parte - a esse exame.

Por exemplo: a pergunta supóe que exista urna continuidade definida


entre Jesús de Nazaré e o que hoje chamamos "cristianismo". Mas isso está
bem longe de ser urna evidencia absoluta. Nenhum historiador serio aceita
- ou, pelo menos, nenhum deveria aceitar, a priori - que exista tal continui
dade, ou que ela dispense a apresentagáo de provas correspondentes.
Nada é menos ceño - repito: a priori - que Jesús de Nazaré, caso vivesse
hoje, coubesse nos parámetros que permitem qualificar urna pessoa, ou um
grupo, ou urna estrutura social como "cristáos". Seria até enormemente sau-
dável'se as igrejas assim chamadas deixassem de confiar num rótulo táo
duvidoso e se propusessem com todo rigor e radicalidade - atualmente -
essa estranha pergunta sobre tal continuidade.
Outra semelhante associagáo de idéias faz de Jesús o fundador
de urna das grandes religióes da humanidade, o que, aparentemente,
circunscreve seu interesse ao ámbito do "religioso". Obviamente, hoje,
com os conhecimentos históricos de que dispomos, ninguém mais nega
rá que Jesús tenha sido efetivamente um homem religioso. Por outro
lado, seria muito difícil encontrar, em sua época, homens importantes
para' a humanidade que nao participassem, de urna maneira ou de ou
tra, de urna concepcáo do divino e de como o homem se aproxima a essa
dimensáo. No entanto, nao é com isso que fica tudo dito, e é possível
que, assim, nem sequer se diga o essencial sobre ele. Jesús de Nazaré
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22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

enfrentou duramente as autoridades religiosas de sua época. O valor


dessa crítica está aínda bem longe de ser aceito por essa mesma reli
giáo que - supóe-se - tenha sido fundada por Jesús. Um de seus mais
profundos intérpretes, Paulo de Tarso, aprofundou e generalizou essa
crítica do religioso em nome da maturidade e liberdade do homem, dono
e "herdeiro do universo". E a primeira comunidade crista, em sua época,
foi motivo de escándalo por sua notoria falta de religiosidade, ou - se se
prefere em termos modernos - por seu secularismo.

A partir destas ou de outras consideragoes parecidas, nao oculta-


rei ao leitor que me sinto seduzido pela idéia de retomar, com mais méto
do e lógica - se fora capaz -, a tarefa que Milán Machovec se propós:
escrever um Jesús para ateus. Em outras palavras, arrancar da religiáo
ou de sua interpretagáo teórica (teología) o monopolio do interesse e da
explicagáo de Jesús».

Juan Luis Segundo acrescenta, logo a seguir, que eré em Jesús. No


fim do livro professa a fé em Jesús Deus e Homem; quer ser fiel ao essencial
do Credo católico; ver pp. 627-662. Todavía no decorrer do livro, ao querer
eliminar da figura de Jesús tudo o que possa ter sido acrescentado em
chave teológica, cede (como se compreende) a hipóteses e teorías precon
cebidas; diz muíta coisa discutível, assumida como base para tirar conclu-
sóes. Eis, entre outras, alguns tópicos vulneráveis do livro em foco:

- á p. 353 Segundo julga que as palavras de Jesús Crucificado


"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" exprimem o desatino
e a perplexidade de Jesús, que terá ignorado o desfecho de sua vida
mortal: "Jesús nao pensava diretamente numa redencáo vicaria da hu-
manidade no momento de morrer" {p. 353);

- á p. 355 Jesús aparece como alguém que "nao compreende ple


namente as intencóes do Pai"; vai descobrindo aos poucos o designio
de Deus a seu respeito;

- á p. 300, nota 28, lé-se: "O erro de situar o fim do mundo na


mesma geracáo de Jesús é erro cometido por Jesús ou pela Igreja primi
tiva ou pelos evangelistas";

- á p. 352 as palavras de Jesús que, em Me 10,45, apresentam a


morte de Jesús como resgate ou "Paixáo Redentora" sao tidas como
"urna adicáo pós-pascal";

- á p. 339 as palavras do Ressuscitado sao produto da experien


cia dos Apostólos - o que as reduz á interpretacáo subjetiva dos Apostó
los (ter-se-ia ai um género literario próprio);

- á p. 634 a virgindade de María parece ser metafórica ou mera


mente espiritual, e nao corpórea.

550
"A HISTORIA PERDIDA E RECUPERADA DE JESÚS DE NAZARÉ" 23

• Estes traeos sao suficientes para se poder passar a um comenta


rio da obra.

2. Que dizer?

Pode-se reconhecer que a intencáo apologética do autor é válida;


quer falar aos ateus, apresentando-lhes um Jesús aceitável aos olhos
de quem nao tem fé; no caso... um Jesús preocupado com a miseria e
arauto de novas condicóes sociais. Esta perspectiva precedería a ade-
sáo a Jesús Deus e Homem.

Todavía a tentativa de descobrir nos Evangelhos urna imagem de


Jesús anterior áquela que os Apostólos professaram após Páscoa, é
subjetiva e sujeita a arbitrariedades. Com efeito; nao há outro
documentário fidegno sobre Jesús além dos Evangelhos; conseqüente-
mente nao há como comparar os escritos do Novo Testamento com ou-
tra Fonte para averiguar as diferencas e daí deduzir o que possa ter
sido acrescentado após Páscoa. O próprio Juan Luis Segundo reconhe-
ce que os Evangelistas escreveram após Páscoa á luz da fé que a Res-
surreicáo do Senhor suscitou em suas mentes; cf. p. 104s. Por isto a
tarefa que Segundo tenta executar, está sujeita a hípóteses discutíveis
ou mesmo preconceitos pessoais.

Nao se pode negar que haja no Novo Testamento um desenvolvi-


mento da imagem de Jesús. Com efeito; os Apostólos comecaram a se
guir Jesús muito tímidos e ainda impregnados de concepcóes messianicas
nacionalistas e temporais. O acontecimento de Páscoa ou a Vitoria de
Cristo sobre a morte fez que os Apostólos aprofundassem suas concep
cóes e compreendessem melhor o misterio de Jesús Deus e Homem. Em
conseqüéncia, os evangelistas apresentaram (ora mais, ora menos) o
Jesús mortal á luz do Jesús Ressuscítado, penetrando fundo no íntimo
de Jesús. Esse aprofundamento foi auténtico e homogéneo; pos no de-
vido e genuino relevo o que havia dentro daquele Grande Homem que
era Jesús peregrino na térra da Palestina. Juan Luis Segundo no fim do
livro reconhece isto; mas no decorrer da obra faz concessoes ao
racionalismo, que apresentam Jesús como se fosse um mero profeta,
sujeito a erros e incertezas. Quem lé a obra, verifica a ambigüidade do
respectivo texto, que cede ao racionalismo sem querer ser racionalista.
Em particular, repassamos os pontos nevrálgicos do livro.

2.1. A consciéncia psicológica e o saber de Jesús

O autor aborda urna questáo que nao pode ser resolvida satisfa-
toriamente a quase dois mil anos de distancia e com tao escassa docu-
mentacáo. Como podemos nos hoje definir o que é que Jesús sabia e o
que Ele ignorava em seu íntimo? Como o penetrar a tal intervalo de

551
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

tempo? - A fé (conforme o Concilio de Calcedonia, 451) ensina que


Jesús Deus e Homem tinha um só eu, urna só Pessoa (divina), que nada
perdeu do que é de Deus ao se fazer homem; portanto guardou a onipo-
téncia e a oniciéncia de Deus; Ele podia ignorar e paulatinamente apren
der, como homem, o que Ele já sabia como Deus, á semelhanca de al-
guém que aprendeu matemática em portugués e vai para o Japáo, onde
tem que aprender em japonés o que já sabe em portugués. O estudioso
que professa a fé de Calcedonia, nao pode fazer de Jesús um profeta
que descobre aos poucos o seu paradeiro e se desespera na Cruz.

Jesús crucificado recitou o salmo 22, composto por um cantor ju-


deu dos sáculos anteriores e que comeca com as palavras: "Meu Deus,
meu Deus, por que me abandonaste?". Este salmo descreve as dores
atrozes de um justo cujos ossos sao contados por seus algozes e cujas
vestes sao por eles repartidas; mas, após descrever tao minuciosamen
te os sofrimentos do justo aflito, propóe a Vitoria do mesmo e a reuniáo
dos justos numa grande assembléia. É um salmo messiánico, isto é, apro-
priado ao Messias; por isto Jesús o recitou, assumindo também as suas
palavras iniciáis, nao num gesto de desespero, mas sim na atitijde de
quem aceita sofrer o estado de ánimo do homem que em sua dor parece
abandonado por Deus.

2.2. A Virgindade de María

A virgindade de Maria nao é meramente espiritual, mas é também


física. É um sinal de que o Filho de Maria nao é mero homem, mas é
Deus Filho, que tem seu Pai no céu e só precisa de Máe na térra. Maria
foi proclamada Mae de Deus no Concilio de Éfeso (431) precisamente
porque deu á luz Deus Filho feito homem, tendo recebido do Pai Eterno
o fruto de suas entranhas. Sao José fez as vezes de pai legal ou adotivo
e de tutor da Sagrada Familia.

2.3. As aparicóes do Ressuscitado

Conforme Juan Luis Segundo, as narrativas das aparicóes do Res-


suscitado pertencem a um género literario próprio, de modo que as pala
vras atribuidas a Jesús podem nao ser senáo a expressáo da experien
cia pessoal e subjetiva dos Apostólos. Assim o fato das aparicóes seria
reduzido, em grande parte, á subjetividade dos discípulos: subjetividade
fidedigna?... apoiada em fatos objetivos? Poderia a questáo ficar aberta.

A fé ensina que Jesús apareceu corporalmente aos Apostólos; foi


apalpado por Tomé incrédulo (Jo 20, 27s), comeu com eles (Le 24, 43)
de modo que a mensagem do Ressuscitado nao é algo de meramente
subjetivo, devido a alguma alucinacao dos Apostólos, mas provém do
próprio Cristo.

552
"A HISTORIA PERDIDA E RECUPERADA DE JESÚS DE NAZARÉ" 25

2.4. A Expulsáo dos Vendilhóes do Templo

Conforme Juan Luis Segundo, Sao Joáo apresenta tal episodio no


inicio da vida pública de Jesús (cf. Jo 2,13-22), ao passo que Mateus,
Marcos e Lucas colocam tal cena no fim da vida pública do Senhor (cf.
Mt 21,12s; Me 11,15-17; Le 19,45s); donde deduz Segundo que Joáo
fugiu do trámite histórico e fez teologizacáo. - O autor nao considera um
aspecto da questáo muito importante: Mateus, Marcos e Lucas referem
a vida pública de Jesús no quadro de um ano apenas: Jesús, tendo
pregado na Galiléia, subiu a Jerusalém no fim desse ano; conseqüente-
mente, a expulsáo dos vendilhóes do Templo só podia ser colocada por
eles no fim da vida pública, já que o Templo nao fica na Galiléia, mas em
Jerusalém. Ao contrario, Sao Joáo refere tres anos de ministerio público
de Jesús; se ele coloca a expulsáo dos vendilhóes no comeco desse
período, quando a podia colocar no fim, isto pode ser muito bem atribu
ido ao fato de que ela se deu realmente no inicio da vida pública; assim
nao haveria teologizacáo do fato em Joáo, ao invés do que admite Juan
Luis Segundo, que nao leva em conta a explicacáo aqui proposta.

2.5. Jesús e a Política

Juan Luis Segundo, como teólogo da libertacáo, faz questáo de


afirmar que Jesús foi condenado por sua atividade política agitadora.
Reconhece que nao se incompatibilizou com as autoridades romanas,
pois mandava pagar o imposto a César (cf. Mt 22,20s), mas sim com as
autoridades israelitas, que mantinham o povo sob opressáo, ou seja,
com os fariseus. Explica que Jesús preparou um novo Governo e urna
nova sociedade em Israel; "transformou as consciéncias - especialmen
te as dos pobres - para colocar-se de acordó com essas mudancas
inevitáveis. E isso é política, isto é, urna ideología política" (p. 178).

A propósito verificamos que tal tipo de pregacáo nao faz de Jesús


um político propriamente dito. Jesús pregou urna mensagem religiosa
(Deus enviou seu Filho ao mundo para remir o homem pecador), e essa
mensagem, como toda mensagem religiosa, teve repercussóes éticas,
visando á justica social. Isto nao define um político. Juan Luis Segundo
tem clara nocáo de que a fé católica rejeita a imagem de Jesús instigador
de revolucáo armada ou guerrilheiro, pois cita as palavras do Papa Joáo
Paulo II por ocasiáo da abertura da III Conferencia do Episcopado Lati
no-americano em Puebla aos 28/1/1979 (parágrafo I, 4):

"Pois bem, ocorrem atualmente em muitos lugares - o fenómeno


nao é novo - 'releituras' do Evangelho, resultado de especulacóes teóri
cas, mais do que de auténtica meditagáo da palavra de Deus e de um
verdadeiro compromisso evangélico... Em outros casos, preténdese

553
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

mostrar Jesús como comprometido politicamente, como um lutador con


tra a dominagáo romana e contra os poderes, e inclusive implicado na
luta de classes. Essa concepgáo de Cristo como político, revolucionario,
como o subversivo de Nazaré, nao se compagina com a catequese da
Igreja. Confundindo o pretexto insidioso dos acusadores de Jesús com a
atitude do próprio Jesús - bem diferente -, explicase como causa de
sua morte o desenlace de um confuto político e se cala a vontade de
entrega do Senhor e até a consciéncia de sua missáo redentora. Os
evangelhos mostram claramente como para Jesús era urna tentagáo al
terar sua missáo de Servidor de Javé (cf. Mt 4, 8; Le 4, 5). Nao aceita a
posicáo daqueles que misturavam as coisas de Deus com atitudes mera
mente políticas (cf. Mt 22,21; Me 12,17; Jo 18,36). Rejeita inequívoca
mente o recurso á violencia. Abre sua mensagem de conversáo a todos,
sem excluir nem mesmo os publícanos. A perspectiva de sua missáo é
muito mais profunda. Consiste na salvagáo integral por um amor trans
formador, pacificador, de perdáo e reconciliagáo" (Puebla. Conclusóes
Fináis, Ed. Paulinas, S. Paulo 1979).

Em suma, o livro de Juan Luis Segundo parece reservado a pes-


soas acostumadas as modernas teorías exegéticas: Método da Historia
das Formas, Demitizacáo de R. Bultmann... A linguagem é densa e difí
cil. Quer chegar a reconstituir o Jesús pré-pascal apoiando-se em hipo-
teses e teorías, que sao pessoais ou sujeitas a dúvidas por falta de fun
damento seguro. O autor concluí reconhecendo Jesús como Deus e
Homem, mas o seu procedimento é assaz subjetivo e arbitrario. Só co-
nhecemos Jesús pelo canal dos Evangelhos, de modo que nao há como
comparar a fonte "Evangelhos" ou "Novo Testamento" com outra fonte
para tentar perceber o que os autores sagrados teráo acrescentado de
"teológico" e "ideológico" á real figura de Jesús histórico. O livro é certa-
mente um depósito de erudicao, mas apresentada de modo a deixar o
leitor mais confuso do que esclarecido em sua mente.

Vida de Santa Teresinha, por Orlando Gambi. - Ed. Santuario,


Aparecida 1997, 105 x 175mm, 219 pp.

Encerrase o ano centenario da morte de Santa Teresinha de


Liseieux (1873-1897), que foi também o ano em que a Santa recebeu o
título de Doutora da Igreja, a 38a. Doutora. Daía oportunidade de se ler
a biografía da Santa e meditar sobre a sua espiritualidade. O Pe. Gambi
oferece a propósito um trabalho bem elaborado, de leitura fácil e rico de
conteúdo; o autor sabe mostrar o heroísmo e a grandeza de alma da
jovem Carmelita, que na sua simplicitade nao chamava a atengáo das
Irmas, embora fosse urna das maiores Santas dos tempos modernos.
Em boa hora a Editora Santuario publica tal volume.

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Tragedia silenciosa:

A EXPLORAQÁO SEXUAL DE CRIANQAS

Em síntese: A exploragáo sexual de criangas e adolescentes tem


tomado vulto crescente, chegando as raías de profunda degradagáo dos
exploradores, que fazem milhóes de vítimas inocentes e indefesas. Sábe
se que há organizagdes e planejamentos bem definidos para fomentar o
turismo sexual, a venda e compra de meninos e meninas, especialmente
os dos países pobres da Asia, da África e da América Latina. O lucro daf
decorrente para os empresarios é enorme; corresponde ao hedonismo
ou a procura de prazer requintado que move individuos e grupos nume
rosos em nossos dias.

A Conferencia Internacional de Estocolmo realizada de 27 a 31 de


agosto de 1996 langou um apelo aos Governos do mundo inteiro no
sentido de legislarem severamente contra tais abusos. Todavía é ceño
que toda e qualquer lei será sempre ineficaz se os homens nao recupe-
rarem o senso moral perdido, que leva a respeitar os semelhantes e
repudiar o materialismo hedonista desenfreado.

A imprensa tem noticiado freqüentemente casos de exploragáo


sexual de criangas, adolescentes e jovens. Tém-se levantado protestos
contra tais abusos clamorosos no Brasil e no estrangeiro, sendo que o
Brasil é dos principáis países onde se verificam tao graves males. Os
protestos pouca eficacia tém tido até agora, pois a onda do crime é or
ganizada e 'lucrativa".

Em vista das dimensóes do problema, vamos abordá-lo, comecan-


do por expor alguns dados numéricos e sugerindo pistas de solucáo,
tais como sao apresentadas por autores que tém refletido sobre o as-
sunto.

1. Dados do Problema

Já em PR 416/1997, pp. 89-95 abordamos os tristes episodios


ocorridos em Marcinelle (Bélgica) em 1996: o Sr. Marc Dutroux foi preso
por ter raptado, violentado e deixado morrer de fome as duas meninas
Julie Lajeune (7 anos de idade) e Melissa Russo (9 anos). Encarcerado,
Dutroux confessou que guardava ainda em cativeiro duas outras meni-

555
28 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

ñas - Laetitia Delhez e Sabine Bardenne -, que ele tinha violentado e


estuprado. Estas duas últimas vítimas foram encontradas e postas em
liberdade.

Nos últimos anos, somente na Bélgica desapareceram 343 meno


res de idade.

O caso de Marcinelle despertou nao somente a Bélgica, mas tam-


bém a Europa e o mundo inteiro para o gravíssimo problema da perver-
sáo sexual. Verificou-se que a pedofilia' "viaja" pela Internet; dezesseis
ou mais sites fornecem informacóes sobre onde e como encontrar ma
terial pornográfico para pedófilos, como também sobre o modo de
contactar menores de idade para práticas eróticas. Assim, por exemplo,
na Alemanha foi divulgado o anuncio de um casal da Baviera que dizia:
"És um pedófilo á procura de vítimas? Queres urna enanca para tortúra
la até a morte? Dirige-te a nos pela Internet e pelos servaos on line da
Telekom. Nos dois, o carrasco sádico e a bruxa revestida de couro ne
gro, daremos satisfacáo a todos os teus desejos". A mensagem foi apre-
endida e decodificada por um apaixonado do computador, o qual se pos
em contato com o carrasco e a bruxa; estes ofereceram-lhe meninos
entre dez e quatorze anos para "jogos sem fronteiras" ao preco de 12.000
marcos, acrescentando que "nao se preocupassem se o objeto se que-
brasse (isto é, se a menina morresse pelos maus tratos), pois, "com um
suplemento de 3.000 marcos de despesas, nos nos encarregaremos de
fazer desaparecer o cadáver". O casal foi denunciado e preso (noticias
publicadas pelo jornal italiano La Repubblica, aos 25/1/1997).

Outro caso clamoroso foi o do cidadáo do Camboja Kao Leng Huot:


aos 30/11/1996 foi preso no aeroporto de Fiumicino (Roma) com quatro
criancas - dois meninos e duas meninas - que ele dizia ser seus filhos
(mas a mais velha das meninas leve a coragem de dizer: II n'est pas
mon pére). Viajava com passaporte belga e dirigia-se a Poppel (Bélgi
ca). Na sua bagagem foram encontrados varios bilhetes de viagem aé
rea já utilizados, que demonstravam suas freqüentes viagens entre o
Camboja e os países asiáticos, entre Hong-Kong e a Europa, onde de-
sembarcou diversas vezes entre agosto e novembro de 1996, levando
sempre consigo urna enanca apresentada como "seu filho" que ficava
sempre na Europa. Aínda na sua maleta foram encontrados alguns re
tratos, enderecos de pessoas residentes em cidades da Europa. As sus-
peitas de que fosse um traficante de criancas, a servico de europeus
nao puderam ser confirmadas, visto que essa área de pesquisa é cheia
de segredos e siglas.

1 Pedofilia vem do grego país, paidos, menino, e pht'lia, amizade. Designa a "amiza-
de colorida" de quem se quer satisfazer com menores de idade.

556
A EXPLORAQÁO SEXUAL DE CRIANQAS 29

O fato é que a pedofilia se vai difundindo e organizando sempre


mais no mundo inteiro, mediante troca de informacóes, de material por
nográfico e de enancas. Para só mencionar o que ocorre na Italia, seja
citado o Grupo P (Pedófilos), que surgiu em público no mes de julho de
1993 na cidade de Miláo espalhando um folheto volante, que dizia: "Nas-
ce também na Italia um movimento político de amantes de criancas";
estava relacionado com pedófilos de outras cidades da Italia, da Franga,
da Holanda, dos Estados Unidos. Em 1995 foram descobertos em Viterbo
e Palermo centros de producto de filmes e videocassetes, realizados
com a participacáo de meninos e meninas, táo importantes que a Italia
exporta atualmente esse material para países onde é proibida a fabrica-
cáo de tais coisas.

Nota-se que o maior contingente de exploracáo sexual de criancas


ocorre nos países pobres; para lá váo muitos cidadáos das nacóes ri
cas, a fim de realizar práticas sexuais com criancas, já que tém vergonha
de o fazer em seus próprios lares ou na sua térra de origem. Mas a
exploracáo por parte de cidadáos locáis asiáticos também é muito inten
sa: ñas Filipinas, por exemplo, as meninas prostitutas tém mais clientes
filipinos do que japoneses e ocidentais; elas sao procuradas por dez ou
doze milhóes de homens por semana; na Asia a terca parte das prostitu
tas sao HIV positivas

Na Asia o centro de maior movimento é a Tailandia: as prostitutas


sao 800.000, das quais 200.000 sao meninas de menos de 17 anos,
segundo urna denuncia dos Bispos católicos locáis; sao recrutadas por
urna empresa multinacional no Camboja, na Birmánia, no Laos e em
Yunnan (China).

Na África distinguem-se Quénia, Marrocos e Madagascar.

Na América Latina, o Brasil destaca-se sob o aspecto da explora


cáo sexual infantil, juntamente com a Jamaica, a República Dominicana
e a ilha de Cuba; nesta o turismo sexual é favorecido pelo Governo por
que o país precisa de divisas.

No Brasil em particular, o jornal O GLOBO, de 25/8/97 p. 4 , noticia


varios males ocorrentes, mas também a impunidade que cobre esses
males:

«Protesto contra prostituicáo infantil reúne 3 mil no Para


Manifestantes fazem caminhada por rúas do Centro de Belém pedin-
do o fim da impunidade

• Belém. Cerca de tres mil pessoas participaram ontem de manha,


em Belém (PA), de um ato público para pedir o fim da impunidade nos

557
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

crimes contra menores e adolescentes, como a exploragáo, a prostituí-


gao infantil e os assassinatos...

- Como em todo o Brasil, há no Para uma grande deficiencia do


Poder Judiciário. A media é de um juiz para cada 20 mil pessoas, o que
dificulta a análise dos processos de crimes - disse Celina Hamoy, coor
denadora do Centro de Defesa do Menor.

Segundo ela, de 1994 a setembro do ano passado foram regis


trados ñas delegadas do Estado 156.118 casos de violencia contra cri-
angas e adolescentes. Apenas 10.718 (ou 6,86%) resultaram em inqué-
ritos. Ainda de acordó com o centro, dos 56 assassinatos de menores
registrados em 1993, apenas dois foram a julgamento e só um resultou
em condenagáo. Em 1995, 145 criangas e adolescentes foram assassi-
nados no Para. Destes, 45 por disparos de armas de fogo».

2. Tres Modalidades de Exploragáo

A exploragáo sexual de menores pode ocorrer de tres maneiras:

2.1. A "Venda" de Menores (Boys for sale)

Os meninos e meninas de países pobres sao vendidos a países


ricos. Os maiores clientes sao os Estados Unidos e a Europa Setentrio-
nal; os traficantes Ihes respondem generosamente oferecendo
tailandeses e cambojanos (os quais sao raptados ñas estradas), meni
nas brasileiras e dominicanas como também do Leste Europeu. Além
daqueles países, sao clientes a Australia, a india, o Sri-Lanka. Nao há
pregos fixos: a menina vale mais quando a procura é maior; o valor pode
oscilar de 100 dólares por uma menina prostituta de Bancoc com nove
anos de ídade a alguns milhares de dólares. Como quer que seja, o
lucro anual dos traficantes de criangas para uso sexual chega aos cinco
bilhóes de dólares aproximadamente, conforme a ECPAT (End Child
Prostitution in Asian Tourism).

2.2. Exploragáo em Bordéis

Nao raro os próprios genitores vendem suas filhas as casas de


prostituigáo por prego que varia, segundo a capacidade atrativa da me
nina, entre 200 e 600 dólares. Sao condenadas a viver em condigóes de
vida desumana até ser despedidas do bordel por haverem contraído a
AIDS. A revista Time de 27/1/1997 traz uma noticia assinada por T. Me
Girk, que informa haver 200.000 meninas e jovens do Nepal nos bordéis
da india, especialmente em Bombaím, no bairro de Kamathipura, onde
mais de 70.000 prostitutas se acumulam em dormitorios, dos quais é
difícil fugir porque todo bordel tem seus guardas.

558
A EXPLORAgÁO SEXUAL DE CRIANQAS SH

A maior concentracáo, porém, se encontra em Bancoc (Tailandia),


que é a meta preferida pelos turistas do sexo. Outras metas desse tipo
de turismo individual ou coletivo sao o Brasil, o Sri Lanka, o Camboja,
Quénia e Cuba.

Urna das razóes alegadas para justificar a procura de menores é


que as relacóes sexuais com estas correm menos risco de se contrair a
AIDS. Ora há nisto urna ilusáo: precisamente as meninas e adolescentes
sao mais expostas ao contagio, seja por motivos biológicos, seja porque
sao menos corajosas para recusar as propostas ousadas dos clientes
(menos corajosas... especialmente quando o cliente duplica ou triplica o
preco para manipular á vontade a sua parceira).

A terceira maneira de exploracáo é a utilizacáo de criancas e ado


lescentes para a producáo de material pornográfico - tema que já foi
abordado pouco atrás.

3. Por que tal Onda Libertina?

Quem considera o inferno da prostituicáo infantil, tende a pergun-


tar espontáneamente: como se explica táo degradante fenómeno?

Os abusos sexuais, em particular nos sex tours, sao realizados


geralmenté por pessoas tidas como "normáis", que tém familia bem cons
tituida com filhos e filhas, da mesma idade das criancas que os turistas
procuram. Como é possível que tal fenómeno se dé em táo vultosas
proporcóes, sem que os usuarios percebam o que tem de horrendo e
sem que a sua própria consciéncia o repudie?

As explicacóes mais obvias parecem ser as seguintes:

a) Um dos sinais do nosso tempo é o apagamento da consciéncia


moral; justificam-se entáo as mais aberrantes perversoes sexuais, tidas
apenas como "diversas das demais modalidades de relacáo sexual", to-
davia plenamente aceitáveis.

b) O hedonismo ou a procura requintada do prazer, facilitada pelo


avanco tecnológico contemporáneo, explica outrossim a onda pornográ
fica ¡novadora. No campo sexual entáo caem todos os limites que se
poderiam impor á satisfacáo dos instintos. Nos lugares de turismo sexu
al, é vigente a norma segundo a qual "com as meninas se pode fazer
tudo, exceto matá-las".

c) Muitos adultos tém vergonha de soltar seus impulsos frente a


outros adultos ou a menores conhecidos. Por isto váo procurar nos pa
íses distantes a satisfacáo que nao ousam procurar "em casa". Ademáis
as meninas vendidas ou alugadas sao dóceis e submissas, incapazes

559
32 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

de opor-se a "experiencias particulares", de modo que podem ser utiliza


das com plena volúpia.

Os exploradores de criancas e adolescentes pretendem, de algum


modo, tranquilizar as consciéncias (na medida em que estas ainda repli-
cam) alegando que 1) eles pagam e proporcionam um pequeño lucro, e
2) elas consentem. Ora estas justificativas sao totalmente falsas, porque

1) o relacionamento sexual entre duas pessoas nao é mercadoria


que se possa vender e comprar. Já a venda do corpo de um pessoa
adulta é muito grave e sórdida. Pior, porém, ainda é a compra do corpo
de urna adolescente ou de urna jovem, obrigada, por violencia física ou
psíquica, a submeter-se a práticas constrangedoras e humiihantes, donde
resultará urna chaga profunda e ¡ncurável para todo o resto da sua vida.

2) É erróneo dizer que as meninas consentem. Na verdade, nao


consentem porque nao tém condicóes de maturidade para consentir res-
ponsavelmente; além do qué, estáo sujeitas a regime de cativeiro ou
mesmo de escravidáo, do qual nao podem escapar.

Trata-se, pois, de gravíssimos delitos, que degradam quem os co


mete e clamam aos céus.

4. A Conferencia de Estocolmo

De 27 a 31 de agosto de 1996 realizou-se em Estocolmo (Suécia) a


Primeira Conferencia Internacional contra a Exploracáo e o Comercio
Sexual de Menores organizada pelo Governo sueco, a UNICEF e o ECPAT,
organizacáo esta que luta contra a prostituicao infantil na Asia. Da as-
sembléia participaram 126 países e numerosas Organizacóes Náo-Go-
vemamentais. Segundo as estimativas dos conferencistas, anualmente
sao um milháo os menores (meninas, na proporcao de 90%) que se jun-
tam ao enorme contingente de meninos, meninas e adolescentes já víti-
mas da exploracáo sexual ou mediante contatos sexuais ou mediante a
confeccáo de material pornográfico. A Conferencia terminou com um apelo:

"Pedimos aos Governos do mundo inteiro que reprimam severa


mente todo tipo de exploracáo sexual dos menores".

Este apelo é muito nobre, mas encontra seria resistencia por parte
do enorme lucro financeiro que a exploracáo sexual proporciona aque
les que a praticam. É preciso que estes se convencam de que o dinheiro
ganho com o turismo sexual nao compensa os ingentes sofrimentos físi
cos e moráis, a perda da saúde e dos valores espirituais decorrentes da
exploracáo sexual. Milhares de seres humanos, inocentes e indefesos,
sao assim sacrificados. Tal dinheiro, que sua sangue, é maldito.

560
A EXPLORAQÁO SEXUAL DE CRIANgAS 33

O apelo de Estocolmo foi acompanhado de urna Nota, assinada


pelos 126 países presentes, na qual se afirma que o abuso de criancas
é uma modalidade moderna de escravidáo, "um verdadeiro e auténtico
crime contra o género humano", que deve ser punido por leis adequa-
das". As nacóes signatarias se comprometeram a tudo fazer para que as
leis repressivas da exploracao sexual infantil gozem do beneficio da
extraterritorialidade, de tal modo que os crimes respectivos possam ser
punidos em qualquer país onde ocorram. Foi outrossim solicitado que os
menores libertados do cativeiro sexual sejam tratados com sentimentos
humanitarios e só sejam devolvidos aos seus países de origem se as
respectivas familias os puderem acolher com dignidade.

É de notar, porém, que, se as leis contrarias aos abusos sexuais


se fazem necessárias, elas nao sao suficientes. As leis podem existir, e
em muitos casos já existem, para coibir os vicios, mas sao ineficazes em
grande parte, porque os homens perderam o senso moral ou a consci-
éncia dos principios moráis e religiosos, sem os quais o crime nao en-
contra barreiras. As concepcóes materialistas e hedonistas do mundo
contemporáneo dificultam a muitos perceber o valor de uma vida discipli
nada e coerente, que recuse reduzir a pessoa humana a objeto ou coisa
destinada ao prazer sexual. Sem uma conversáo profunda e sincera dos
coracoes, as leis seráo sempre burladas, com detrimento dos próprios
culpados e da humanidade.

O presente artigo muito deve ao de Giuseppe de Rosa, Una


Tragedia Silenziosa del nostro Tempo: Lo sfruttamento dei Bambini,
em La Civiltá Cattolica de 17/5/1997, pp. 333-344.

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CÁO DOUTRINÁRIA, VISTO QUE A SOCIEDADE PLURALISTA ESTÁ
CONTINUAMENTE A PEDIR-LHE RAZÓES DE SUA FÉ.

561
Outro abuso clamoroso:

O TRABALHO INFANTIL

Em síntese: Além da exploragáo sexual, a escravidáo de menores


forgados ao trabalho vem a ser urna das mais dolorosas chagas do mun
do contemporáneo. O presente artigo oferece alguns dados numéricos
e fatos reais concernentes ao assunto. O problema é devido, em grande
parte, á ganancia de pessoas e empresas poderosas, que pagam sala
rios reduzidos ou nao pagam as criangas. Estas sofrem graves riscos de
saúde e de vida, além de ficarem privadas da escola - o que comprome
te o futuro dos países subdesenvolvidos. Somente o despertar da cons-
ciencia moral dos homens de nossos tempos poderá proporcionar solu-
gáo satisfatória a tal tragedia, que é vivida em silencio por centenas de
milhóes de criangas.

Além da escravidáo sexual, os menores sao explorados pelo tra


balho toreado, que Ihes é altamente prejudicial e desumano. Com efeito;
existem no mundo meninos e adolescentes entre cinco e quatorze anos
de idade coagidos a trabalhar durante muitas horas em condicoes que
Ihes comprometem a saúde física e, muitas vezes, a própria vida. Sao de
tal modo obrigados a isto que nao Ihe podem escapar.

Ñas páginas subseqüentes será exposto o problema, sobre o qual


se formularáo algumas reflexóes.

1. O Problema

A forma mais freqüente desse tipo de trabalho focado é o servico


em casa de familia; os patróes fazem o que querem com as criancas
cedidas por seus próprios genitores; além de Ihes impor carga pesada
de trabalho, pagam mal ou nao pagam e, nao raro, abusam sexualmente
dessas chancas. A UNICEF publicou um relatório intitulado "A Condicáo
da Infancia no Mundo 1977", em que observa que "nos países em via de
desenvolvimento dois tercos das enancas que nao freqüentam a escola,
sao meninas que muitas vezes trabalham em ámbito doméstico, cum-
prindo longos horarios de servico; em Jacarta (Indonesia), por exemplo,
400.000 domésticas tém menos de quinze anos, e servem entre doze e
quinze horas por dia; em Dacca (Bangladesh), o horario compreende
entre quinze e dezoito horas diarias; no Haiti, 20% do pessoal doméstico

562
O TRABALHO INFANTIL 35

ñas casas abastadas tem idade entre sete e dez anos e, por vezes,
trabalham até de noite. Em geral, as meninas sao pagas com sapatos e
vestes já usadas; desnutridas e desconsideradas, sao freqüentemente
obrigadas a sofrer humilhacóes e abusos sexuais da parte dos membros
da familia.

Alias, o abuso sexual de meninas trabalhadoras ocorre também


em fábricas de tapetes, onde os patróes instalam, nao raro, auténticos
bordéis.

Outra forma de trabalho infantil escravizador se dá quando os pró-


prios genitores alugam seus filhos e filhas de oito, nove anos de idade a
proprietários de fábricas ou aos seus agentes em troca de pequeños
beneficios. Diz o relatório atrás citado:

"Na India este género de transagáo é difundido ñas industrias que


fabricam cigarros, fósforos ou trabalham com tapetes, ardósia e seda. A
mais famigerada é a industria dos tapetes em Mirzapur, Bhadohi e Varansi,
no Estado de Uttar Pradesh, onde 200 ou 300 mil enancas sao obriga
das a trabalhar em condigóes desumanas, com pouca luz e em ambien
tes poeirentos. Os menores precisam de agacharse e assim trabalhar
do nascer ao por do sol - o que prejudica o seu crescimento e favorece
o surto de doengas dos olhos e dos pulmóes. Em conseqüéncia, che-
gam á idade adulta com a saúde comprometida sem ter freqüentado
alguma escola".

Urna terceira modalidade de trabalho precoce bastante difundida


é o trabalho no campo, especialmente ñas plantacoes de café, cana e
algodáo. Segundo inquérito realizado em meados da década de 1990
no Bangladesh, 82% do 6.100.000 de enancas trabalhadoras no país,
estáo nos campos, expostos a perigos que váo desde o envenenamento
por pesticidas a mordidas de insetos e de serpentes venenosas, além
de doencas pulmonares. Julga-se que um quarto dos trabalhadores
manuais de Quénia é constituido de enancas. Em 1993 no Malavi (Áfri
ca) trabalhavam ñas plantacóes de fumo 18% dos adolescentes dos dez
aos quatorze anos e 55% das enancas de sete a nove anos de ¡dade.

Por último, a quarta modalidade é a daqueles que trabalham no


setor da construcáo e ñas fábricas em geral. O fato de que as enancas e
nao os pais, desocupados, ai trabalham, se explica a dois títulos: as
enancas sao mais suscetíveis de ser aplicadas a trabalhos que reque-
rem agilidade e menor consciéncia do perigo; além do qué, o emprega-
dor tem interesse no caso, porque paga as criancas a metade do que
pagaría aos adultos. Mais ainda: a extrema pobreza faz que os genitores
desempregados ou subempregados mandem seus filhos pequeños a tra
balhar ñas fábricas e nos campos, mesmo que recebam modesta paga e

563
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

corram riscos de saúde e de vida. Assim é que as industrias naciona/s e


multinacionais exploram vergonhosamente o trabalho das enancas, com-
prometendo o seu futuro, pois as deixam sem a mínima ¡nstrucáo

2. Quantas sao as vítimas?

Pergunta-se: quantos sao no mundo os menores condenados ao


trabalho forcado? - É difícil dizé-lo, porque as estatísticas de muitos
países consideram o trabalho dos menores como "nao existente"; tam-
bém, porque grande parte desse tipo de trabalho é realizado de modo
um tanto clandestino, ou seja, dentro dos muros de casa ou nos cam
pos. É certo, porém, que se trata de centenas de milhoes. O citado rela-
tório da UNICEF observa:

"Mais de 200 milhoes de menores dos cinco aos quatorze anos


sao encaminhados prematuramente ao trabalho; tratase, muitas vezes,
de trabalho com riscos para a saúde ou para a vida, quando nao de
verdadeira escravidáo".

Por sua vez, um noticiario da International Labour Organization


(ILO) de Genebra afirma que 120 milhoes de menores entre 5 e 14 anos
trabalham no mundo inteiro em horario integral. O número sobe a 250
milhoes, se se consideram aqueles que trabalham em horario parcial.
Em particular, a ILO menciona que na África, na Asia e na América Latina
ao menos 17 milhoes de adolescentes masculinos dos 10 aos 14 anos
trabalham em condicóes desumanas. Em muitos casos ficam em contato
com substancias tóxicas e cancerígenas. Diz o Texto da ILO:

"Os meninos sao biológicamente diversos dos adultos, e estas di-


ferencas os tornam mais vulneráveis aos riscos profissionais. A sua saú
de, o seu desenvolvimento físico e psicológico correm o risco de ser
prejudicados, tornándose esses menores deficientes físicos ou mentáis
para o resto da vida".

Deve-se acrescentar que em 39 países os menores sao vítimas de


guerra civil, em conseqüéncia da qual sao seqüestrados, como no Sudáo,
e reduzidos á escravidáo; semanalmente, estima a UNICEF, morrem
300.000 criancas de fome ou de doenca. Mesmo nos países ricos há
milhoes de criancas abaixo de 10 anos que vivem em circunstancias de
miseria {nos Estados Unidos, seriam 6.100.000).

3. Por que tal Fenómeno?

O trágico fenómeno do trabalho forcado de menores explica-se


por tres fatores principáis:

1) O desenvolvimento de nacóes do Terceiro Mundo. Tem exigido


mais trabalho; donde o recurso aos pequeninos, que, além do mais, sao

564
O TRABALHO INFANTIL 37

assalariados em moldes menos custosos ou nao assalariados.

2) Mais importante, porém, é a ganancia de patróes e chefes de


empresa que véem no trabalho de menores aspectos vantajosos e ren-
táveis, como salario reduzido, máo de obra mais dócil e comandável,
dada a índole inexperiente e indefesa dos pequeños trabalhadores.

3) A cobica estende-se indiretamente á exploracáo sexual. Os


menores, mais ou menos escravizados, sao presa fácil dos mais velhos.

4. A Voz dos que nao tém Vez

As tragedias que acabam de ser expostas, sao, em grande parte,


ignoradas ou, se nao ignoradas, ao menos nao suficientemente consi
deradas, pois nao seráo os próprios menores que levantaráo a voz (sao
milhóes de seres humanos sufocados e dominados) nem serao as clas-
ses poderosas dos países subdesenvolvidos, interessadas como estáo
em manter a situacáo a elas vantajosa, nem as multinacionais dos paí
ses desenvolvidos, que trataráo de revolver os dados do problema.

O grito das enancas exploradas, se nao sobe até os ouvidos dos


homens que Ihes poderiam ser úteis, sobe até Deus; o Senhor Jesús, no
Evangelho, declarou que, se alguém escandaliza - corrompe espiritual
ou físicamente - um desses pequeninos, merece que se Ihe pendure ao
pescoco urna pesada mó e seja precipitado ñas profundezas do mar (cf.
Mt 18,6).

O Santo Padre Joáo Paulo II tem levantado a voz a respeito. Assim


aos 6/12/1996, dirigindo-se a um grupo de Juristas Católicos Italianos,
afirmou:

"Como nao recordar tantas criangas exploradas da maneira mais


torpe e brutal, de modos altamente sutis, embora igualmente típicos da
moderna sociedade de espetáculo? Ou como nao lembrar aqueles con
denados a crescer em ambientes económica, moral e afetivamente de
cadentes? O cuidado para com essas criangas, a defesa de suas espe-
rangas fundamentáis e o esforgo para que cresgam normalmente
correspondem a um fundamental dever de justiga, que as ieis e os juris
tas nao podem ignorar" (L'Osservatore Romano, 8/12/1996)..'
1 A propósito notamos que também no Brasil há relatónos sobre a exploracáo do
trabalho infantil, como noticia o jornal O GLOBO, aos 11/9/97, p. 15:
«A exploragáo da mao-de-obra infantil no campo será denunciada ao Papa Joáo
Paulo II em sua visita ao Brasil. Por intermedio do cardeal-arcebispo do Rio, dom
Eugenio Sales, a Confederagáo Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag)
fará chegar ás máos de Joáo Paulo II um relatório sobre a infancia brasileira que se
perde ñas lavouras de cana-de-agúcar, ñas minas de carváo e na produgáo de sisal.
O relatório será montado a partir de cartas escritas pelas changas».

565
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

O Papa citou quatro documentos da Comunidade Internacional


destinados a tutelar os menores: a Declaracáo de Genebra sobre os
Direitos da Crianca (1924), os artigos relativos aos menores da Declara-
gao Internacional dos Direitos do Homem (1948), a Declaracáo dos Di
reitos do Menor e a Convencáo Internacional sobre os Direitos da Infan
cia adotada pela ONU em sua Assembléia Geral de 20/11/1959 e rea
firmada aos 20/11/1989. Neste último documento está dito que, em situ-
acáo de confuto entre os interesses dos menores e os dos adultos, "aos
interesses dos menores se deve sempre reconhecer a precedencia".

Na verdade, tais documentos quase nao tiveram repercussáo na


prática, pois a exploracáo de menores nao tem diminuido, mas, ao con
trario, vem-se avolumando. Novas perspectivas de lucro, como o turismo
e a industrializacáo, prevalecem sobre qualquer advertencia referente
aos direitos dos menores. Nao se leva em conta o fato de que, se a
crianca nao vai á escola, o país se condena a nunca sair das malhas do
subdesenvolvimento e da fome.

Daí a necessidade de se enfrentarem dois principios de solucáo


com seriedade e honestidade:

1) o primeiro e mais importante é o reavivamento da consciéncia


moral, que nao pode deixar de se sentir lesada pela violencia infligida
aos menores, seja no setor da sexualidade, seja no do trabalho. A cons
ciéncia deve bradar mais forte do que os interesses materiais.

2) Em segunda instancia, aponta-se a necessidade de que a en


anca seja possibilitado e facilitado o acesso á escola, em oposicáo a
todo tipo de escravidáo infantil. Um inquérito realizado em nove países
da América Latina revelou que, se se dispensasse a máo de obra dos
menores de 13 a 17 anos, a pobreza aumentaria de 10 a 20%. Donde se
percebe um paradoxo: o trabalho infantil preserva de maior miseria, mas,
ao mesmo tempo, impede a superacáo da miseria, pois a crianga que
nao vai á escola nao se habilita para o futuro. No mundo há atualmente
150.000.000 de criancas (a maioria é de meninas) entre cinco e onze
anos que nao freqüentam a escola ou a abandonaram para trabalhar.

A UNICEF afirma que dar a instrucáo básica a todas as criancas


dos países pobres "nao é urna questáo de recursos insuficientes, mas é
urna escolha política; segundo as estimativas, isto custaria 6 bilhóes de
dólares por ano. Isto pode parecer urna quantia enorme, mas é menos
de 1% de quanto o mundo gasta todos os anos para se prover de arma
mentos". É este um dos mais dolorosos aspectos das contradicóes do
mundo contemporáneo: este possui os recursos para resolver o grave
problema do subdesenvolvimento de bilhóes de homens, mas prefere
utilizá-los para fomentar a destruicáo e a morte (que as armas produ-

566
O TRABALHO INFANTIL 39

zem) e nao a vida. Esta contradicáo deve ser tida como pecaminosa,
pois, em última análise, ela se deriva do egoísmo dos individuos e das
nacóes, da sede de poder e dinheiro, da procura de prazer requintado,
mesmo que este redunde em destruicáo perversa de pessoas iracas e
indefesas, como sao os menores e as enancas dos países pobres.

Para o cristáo, tal situacáo é altamente significativa e desafiadora:


pede-lhe que tenha a coragem de despertar o restante da sociedade
moderna para os valores moráis, sem os quais jamáis o homem encon
trará felicidade e plena realizacáo.

Este artigo muito deve ao de Giuseppe de Rosa citado á p. deste


fascículo.

Quem é Deus? Elementos de Teologia filosófica, por Battista


Mondin. Traducao de José Maria de Almeida. - Ed. Paulus, Sao Paulo,
1997, 160 x 238 mm, 447 pp.

O Pe. Battista Mondin é conhecido por diversas obras filosóficas e


teológicas de grande valor. Aprésenla um belo volume sobre Deus, divi
dido em duas Partes: 1) Fenomenología do Sagrado e da Religiáo; 2)
Teologia filosófica ou Teologia natural, racional. O autor prescinde das
verdades dafé-o que torna o livro muito útil nao somente aos cristáos,
mas também aos que nao tém fé, mas procuram sinceramente a verda-
de. A obra demonstra ampia erudicáo, pois o autor faz questáo de expor
o pensamento de varios filósofos antigos e modernos, de maneira que o
leitor tenha urna visao panorámica de cada tema; concluí sempre apre-
sentando a auténtica perspectiva da filosofía perene (crista). A obra é
enriquecida com dois Apéndices, respectivamente um índice por assun-
tos e um Glossário dos principáis termos da teologia filosófica. O livro é
altamente recomendável. Eis como o autor mesmo o apresenta em seu
Prefacio, p. 8:

«O homem distingüese dos animáis e dos robos porque nao se


contenta em registrar experiencias sensíveis, dados e informagóes; ele
levanta questoes, agita as mentes, propóe problemas, formula pergun-
tas... Entre as muitas questoes que a mente humana nunca deixou de se
propon as relativas a Deus sempre tiveram um grande destaque e estáo
presentes em todas as culturas que deixaram rastros na historia: 'Deus
existe?', 'Quem é Deus?', 'O que Deus faz?', 'Deus cuida do homem?';
sao questoes de enorme importancia, porque á solugáo délas está liga
do o sentido da nossa existencia, a realizagáo do nosso projeto de hu-
manidade, a efetivagáo do valor absoluto da nossa pessoa. Questoes
fundamentáis e graves como essas é que pretendemos abordar, com
confianga e tremor, neste livro».

567
Pergunta protestante:

'HA OUTRO CRISTO?"


por J.T.C.

Em síntese: O panfleto "Há outro Cristo?" ataca o sacerdocio ca


tólico e seu ministerio, especialmente a S. Eucaristía, usando linguagem
irónica e agressiva. Para tanto, interpreta a Biblia a maneira do autor
(J.T.C), rejeitando o sentido próprio das paiavras de Jesús relativas ao
Pao da Vida (Jo 6,48-58) e a última ceia (Mt 26,26-28 e paralelos). O
folheto faz parte de urna colegáo de escritos protestantes que difamam
sem fundamento a Igreja e sua fé, numa atitude que transpira inimizade
nao crista. „ <. ^

Tem sido espalhado entre os fiéis católicos um panfleto protestante


intitulado "Há outro Cristo?", da autoría de J.T.C. É impresso nos Estados
Unidos da América pela C.L.C. Editora em língua portuguesa. Ataca vio
lentamente o sacerdocio católico e o ministerio por ele exercido, recor-
rendo a linguagem popular e maldosa, pois, entre outras coisas, atribuí a
Satanás a instituicáo da S. Míssa e o ensinamento da Igreja relativo ao
culto divino.

Ñas páginas subseqüentes será analisado o conteúdo do panfleto


e Ihe seráo propostas as devidas respostas.

1. O Conteúdo do Panfleto

O autor do impresso afirma que ao padre sao atribuidos poderes


que só competem a Jesús Cristo e ao Senhor Deus, a tal ponto que o
sacerdote é chamado "um outro Cristo". Com referencia á S. Eucaristía, o
texto afirma:

"Segundo a doutrina católica romana, ao sacerdote sao dados po


deres que estarrecem a mente. O sacerdote é táo divino que pode man
dar Jesús Cristo descer do céu (Rm 10, 2-9)".

"As ordens do padre, o Rei dos Reís e Senhor dos Exércitos se


sujeita a ser engolido por quaiquer pessoa a quem o sacerdote o der".

"Esse sacerdote católico romano é mais do que um Deus... Ele é


Criador do seu Criador".

568
"HÁ OUTRO CRISTO?" 41

"O sacrificio de Jesús pelos pecados, há quase 2.000 anos, no


Calvario foi períeito. Nao há nada que vocé ou qualquer igreja possa
fazer para melhorá-lo".

"Jesús odeia esse sistema religioso falso, que tem blasfemado o


seu santo nome, sua santa Palavra, engañado bilhóes de pessoas".

Essas frases dáo idéia suficiente do teor agressivo do panfleto,


que assim provoca urna resposta adequada.

2. Que dizer?

Dividiremos a resposta em tres partes.

2.1. O Padre

1. Na verdade, muitos livros de espiritualidade atribuem ao padre o


apelativo de "outro Cristo" (alter Christus). Atualmente esta designacao
está sendo dada a todo cristáo, pois este, pelo Batismo, é inserido em
Cristo ou feito membro do Corpo Místico de Cristo. É Sao Paulo quem
escreve: "Vivo eu, nao eu; é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20). Como se
compreende, nao se trata de dizer que há muitos Cristos propriamente
ditos, mas afirma-se que o cristáo, pelos sacramentos do Batismo, da
Eucaristía e da Ordem, entra em íntima comunhao com Cristo,... íntima
comunhao que Jesús mesmo ilustra mediante a imagem da videira: "Eu
sou a videira verdadeira, e vos sois os ramos. Aquele que permanece em
mim, e em quem eu permaneco, produz muito fruto" (Jo 15,5).

2. Essa comunhao faz que o padre participe do sacerdocio de Cris


to e se torne a máo estendida de Cristo para a salvacáo do mundo. Foi o
próprio Jesús quem o quis, ao dizer aos Apostólos após a consagracáo
do pao e do vinho na última ceia: "Fazei isto em memoria de mim" (Le
22,19); Jesús mandou converter o pao em seu corpo e o vinho em seu
sangue. Em Jo 6,53-56 o Senhor fez do sacramento do seu Corpo e
Sangue condicáo para que os fiéis tenham a vida:

"Em verdade, em verdade vos digo: se nao comerdes a carne do


Filho do Homem e nao beberdes o seu sangue, nao tereis a vida em vos.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, e eu
o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdaderamente urna
comida e o meu sangue é verdaderamente urna bebida. Quem come a
minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim, e eu nele".

3. Outra atividade do ministerio sacerdotal é o perdáo dos pecados


conferido em nome de Cristo. Disse o Senhor aos Apostólos na noite da
Páscoa:

"Recebei o Espirito Santo. Aqueles a quem perdoardes os peca-


569
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

dos, seráo perdoados; aqueles aos quais os retiverdes, seráo retidos"


(Jo 20,22s).

Para que o sacerdote possa conferir ou nao o perdáo, deve co-


nhecer o estado de alma do pecador; isto se faz mediante a confissáo
das faltas, que assim foi instituida por Cristo. Se o pecador nao manifes-
ta arrependimento e o propósito de evitar o pecado, é evidente que nao
tem condicoes para ser absolvido. O sacerdote deve entáo ajudá-lo a se
preparar para receber a absolvicao devidamente contrito e disposto a
fugir das ocasioes de pecado. - O exercício do ministerio da reconcilia-
cáo é indiretamente atestado por Mt 9,8: após o perdáo dos pecados e a
cura do paralítico, as multidoes "glorificaram a Deus, que deu tal poder
aos homens". O plural "aos homens" nao se entende a partir dos ante
cedentes, pois somente Jesús havia perdoado os pecados do paralítico;
o plural só se explica se o evangelista, ao redigir o texto, pensou na
faculdade de perdoar concedida por Jesús aos seus ministros.

4. Mais urna funcáo sacerdotal se encontra enunciada no Novo


Testamento: em Tg 5,14 lé-se: "Alguém dentre vos está doente? Mande
chamar os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o
com óleo em nome do Senhor. A oracáo da fé salvará o doente, e o
Senhor o pora de pé; e, se tiver cometido pecados, estes Ihe seráo per
doados". S. Tiago supóe a existencia de ministros da Igreja chamados
"presbíteros", os quais, entre outras funcóes, exercem a uncáo dos en
fermos para o alivio do corpo e da alma dos doentes.

5. Quanto ao Batismo, é também confiado aos Apostólos e seus


sucessores até o fim dos tempos:

"¡de, e fazei que todas as nagóes se tornem meus discípulos,


batizando-as em nome do Pal, do Filho e do Espirito Santo" (Mt 28,19).

6. Estas diversas ordens do Senhor instituem a ordem sacerdotal,


que é a extensáo do sacerdocio de Cristo; produz efeitos que só o próprio
Deus pode realizar, fazendo passar da morte espiritual para a vida
definitiva. Nem por isto o sacerdote é um Deus; é táo somente instrumento
de Jesús Cristo, tanto mais obrigado a cultivar a humildade quanto mais
intimamente associado ao ministerio de Cristo. É, pois, despropositado,
falso e caluniador dizer que o padre é o criador do Criador ou mais do
que um deus. Bem disse S. Agostinho, referindo-se ao seu sacerdocio:

"Atemoriza-me o que soupara vos; consola-me o que sou convosco.


Pois para vos sou Bispo; convosco sou cristáo. Aquilo é um dever; isto,
urna graga. O primeiro é um perigo; o segundo, salvagáo" (Sermáo 340,1).

A responsabilidade do ministerio sacerdotal deve inspirar ao pa


dre um santo temor, que é a antítese da arrogancia ou da presuncáo.

570
"HÁOUTRO CRISTO?" 43

O Concilio do Vaticano II desenvolve o mesmo pensamento nestes


termos:

"Os sacerdotes do Novo testamento - embora exergam, em razáo


do sacramento da Ordem, a tarefa mais elevada e indispensável de país
e mestres no seio do povo e em favor do povo de Deus -juntamente com
todos os fiéis cristáos sao discípulos do Senhor; feitos participantes do
reino dele, pela graga de Deus que os chamou. Na companhia de todos
os que se regeneraran) na fonte do Batismo, os presbíteros sao irmáos
entre irmáos, como membros de um só e mesmo Corpo de Cristo, cuja
edificagáo a todos foi confiada" (Presbyterorum Ordinis n9 9).

2.2. A Eucaristía

É inegável que o pao e o vinho consagrados se tornam o Corpo e


o Sangue de Jesús. Isto se depreende nao só das palavras do Senhor
pronunciadas na última ceia (cf. Mt 26,26-28; Me 14,22-25; Le 22,19s;
1Cor 11,21-25), mas também do sermáo do pao da vida ocorrente em
Jo 6,48-58. Quem nega a real presenca de Cristo na Eucaristía, nega a
própria Escritura; daí ser grave irreverencia chamar "biscoito" o pao
consagrado, como faz J.T.C.

Mais: deduz-se do texto sagrado que Jesús nao quis apenas tornar
se presente estáticamente sobre os altares, mas quis instituir a
celebracáo do sacrificio da nova e eterna Alianca ou da sua Páscoa,
pois a Cruz de Jesús é inseparável da Ressurreicáo do Mestre; Jesús
nao é "um Cristo morto", como diz o panfleto em foco. - Com efeito;
merece atencáo o fato de que na última ceia o Senhor nao ofereceu
apenas o seu Corpo e o seu Sangue aos discípulos como alimento, mas
ofereceu-os pelos discípulos, em favor destes (hyper hymoon) - o
que incute o caráter sacrificial do rito (cf. Le 22,19s).

Mais ainda: ao falar do sangue da nova Alianca na ceia, Jesús aludía


a Ex 24,8, texto em que Moisés apresenta o sangue da antiga Alianca ("Este
é o sangue da Alianca que Javé pactuou convosco"); Cristo assim oferecia-
se como vítima para selar a definitiva Alianca, em lugar da vítima irracional
cujo sangue selava a primeira Alianca no Sinai; Jesús assim opunha sangue
a sangue, sacrificio a sacrificio, imolacáo realizada na última ceia á imolacáo
realizada outrora no deserto. A última ceia aparece como a nova Páscoa,
que, mediante o sangue do verdadeiro Cordeiro imolado pelos pecados do
mundo (cf. Jo 1,29), faz cessar os numerosos e imperfeitos sacrificios do
Antigo Testamento; cf 1Cor 5,7; Jr 31,31-33.

Nao seria plausível replicar que na quinta-feira santa Jesús oferecia


"seu corpo e seu sangue imolados" como símbolos vazios de conteúdo e
meramente figurativos daquilo que devia acontecer na sexta-feira santa.

571
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

Nao, as palavras do Senhor sao simples e claras; Jesús nao teria


empregado termos ambiguos e metafóricos em circunstancias táo
solenes, provocando confusáo na mente dos discípulos. Por conseguinte,
podemos repeti-lo, sobre a mesa (que se transformava em altar) Jesús
se colocava em estado de Vítima realizando urna acáo sacrificial. Quem
aínda concebesse dúvidas sobre o sentido do texto evangélico, poderia
resolvé-las considerando a praxe e o ensinamento das geracoes cristas
que, desde os inicios da Igreja, tomaram as palavras de Cristo no seu
significado próprio e natural.

2. Levemos agora em conta que Jesús mandou aos Apostólos que


repetissem o rito da última ceia,... dessa última ceia á qual Jesús atribuiu
o significado de sacrificio; ver Le 22,19; 1Cor 11,24. Desta ordem
concluiram os Apostólos e as geracoes subseqüentes que, todas as vezes
que renovavam a Ceia do Senhor (também chamada Eucaristía), realizavam
a oblacáo de urna Vítima (Cristo) ou de um sacrificio. Este, porém, nao
podía nem pode ser a repeticáo do sacrificio da Cruz, pois Jesús se imolou
urna vez por todas conforme a epístola aos Hebreus. A epístola aos
Hebreus inculca solenemente a unicidade do sacrificio de Cristo oferecido
outrora no Calvario. Sim, Cristo ai aparece como o Sacerdote Único
(cf. Hb 4,14; 6,20; 7,21.23s), que se oferece como Vítima Única e
Perfeita (cf. 7,28) numa oblacáo definitiva (cf. 9,11-14.25-28; 10,10-
14). O Senhor Jesús nao precisa de se oferecer muitas vezes, mas sua
oblacáo foi feita urna vez por todas, porque, á diferenca do que se dava
com os sacrificios de animáis irracionais do Antigo Testamento, a oferta
de Cristo possui valor infinito, capaz de expiar todos os pecados,
passados, presentes e futuros, do género humano; cf. Hb 4,14; 7,27,
9,12.25s. 28; 10,12.14. A ceia, por conseguinte, nao pode ser senáo o
ato de "tornar presente" (sem multiplicar) através dos tempos, e de
maneira incruenta (ou sacramental), o único sacrificio de Cristo oferecido
cruentamente no Calvario há vinte séculos. Concluímos, portanto:

a) na quinta-feira santa Jesús perante os discípulos tornou presente


de modo real, mas incruento, o sacrificio que Ele no día seguinte devia
realizar cruentamente na Cruz; tornou-o antecipadamente presente;

b) atualmente em cada S. Missa Jesús torna presente de modo


real, mas incruento, esse mesmo e único sacrificio que Ele já realízou
cruentamente na Cruz.

Justamente este "tornar presente" a todos os tempos, sem implicar


repeticáo nem multiplicacao, constituí o "misterio da fé", título dado por
excelencia á S. Eucaristía.

E por que terá Jesús instituido a celebracáo ritual do sacrificio do


Calvario?

572
"HÁOUTRO CRISTO?" 45

- Ele o fez para que a sua Igreja, os fiéis, se oferecessem com Ele
ao Pai na qualidade de oferentes e oferecidos ou na qualidade de
sacerdotes (cada qual participando, a seu modo, do sacerdocio de Cristo)
e hostias (cada qual participando da condicáo de Cristo-Hostia). A oblacáo
de Cristo na Cruz nao é um ato meramente pretérito, mas é algo que se
perpetua sobre os altares para que o cristáo, enxertado em Cristo pelo
Batismo, ofereca sua vida, suas tarefas, labutas e esperanzas ao Pai
com o Senhor Jesús.

2.3. A igreja e a Biblia

Os protestantes se ufanam de ter a Biblia como única fonte das


verdades da fé e autoridade decisiva, sem levarem em conta a Palavra
oral, que é anterior á Biblia e a acompanha como referencial necessário
para a interpretar. A conseqüéncia desta premissa sao as centenas de
denominacoes protestantes, que usam todas a mesma Biblia, mas déla
deduzem conclusóes contraditórias: uns observam o domingo, outros o
sábado; uns batizam enancas, outros só batizam adultos; uns tém
hierarquia com "bispos", outros nao a tém... Levados pelo subjetivismo
ou pelo livre exame realizado por cada crente individualmente, os
protestantes deduzem da Biblia o que "Ihes parece", a ponto de
recusarem a evidencia da real presenca de Cristo na Eucaristía.

É falsa a posicáo de quem só leva em conta a Biblia, pois a própria


Escritura nos diz que nem tudo o que Jesús fez se encontra no texto
sagrado (cf. Jo 20,30s; 21, 24s). Por isto Sao Paulo manda observar as
tradicoes que vém dos Apostólos (é claro que nao qualquer tradicáo é
válida); cf. 2Ts 2,5s; 1Tm 6,20s; 2Tm 2,2; Hb 2,3. Só se pode entender a
Biblia á luz da Palavra oral, que Ihe é anterior e a bercou,... Palavra que
ressoa na Igreja. Afinal a Igreja é anterior aos escritos do Novo Testa
mento; a Igreja viveu decenios sem a Palavra escrita do Novo Testa
mento, orientando-se pela Palavra oral de Jesús e dos Apostólos. É a
Igreja que entrega a Biblia aos fiéis e a explana, assistida como é pela
acáo do Espirito Santo (cf. Jo 14,26; 16,13-15). Esta verdade é
sabiamente lembrada pelo Pe. Alvaro Barreiro em seu livro "Povo Santo
e Pecador. A Igreja questionada e acreditada", pp. 52s:

"Os livros do ATsáo o fruto de um longo mutiráo, do qual participou


todo o Povo de Deus. Antes de serem fixados por escrito, suas historias
foram contadas e cantadas em prosa e em verso ñas familias, ñas rodas
de conversa, ñas festas e no culto, e assim foram conservadas na memoria
do povo e transmitidas oralmente de geragáo em geragáo. As historias
consideradas de maior importancia para a caminhada do Povo de Deus,
como expressóes mais ricas e mais betas da fé e da esperanga, das
Vitorias e das derrotas, das fidelidades e das infidelidades do povo de

573
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

Israel, foram selecionadas e transmitidas, e assim permaneceram na


consciéncia do Povo de Deus como Palavra de Deus. A fé do Povo de
Deus é, portanto, anterior a sua expressáo escrita ñas Escrituras.

A Igreja do Novo Testamento é também anteriora Palavra de Deus


na sua forma escrita. Qualquerque seja a explicagáo dada á questáo da
origem dos Evangelhos, eles sao posteriores á existencia da Igreja, pois
nasceram da fé da Igreja; surgiram na Igreja e para a Igreja. Os
Evangelhos sao, como todos os outros textos do Novo Testamento, a
expressáo escrita da fé e da vida da Igreja, de sua pregagáo e de suas
praticas. Nao se pode, portanto, afirmar sem mais que a Escritura funda
a Igreja. Com relagáo a Igreja apostólica temos de afirmar que, histórica
e teológicamente, a existencia das Escrituras do NT é urna realidade
segunda com relagáo á Igreja, realidade primeira. Os escritos do NT sao
o testemunho consignado por escrito do designio histórico-salvifico de
Deus realizado visiveimente na Igreja. Este fato demonstra que o principio
da sola Scriptura, entendido literal e globalmente, é histórica e
teológicamente insustentável...

A Igreja nao pode ser julgada por mim individualmente usando a


Escritura como arma na minha máo contra a Igreja. A Escritura nasceu
da fé da Igreja e continua pertencendo á Igreja".

É, pois, para lamentar que se propaguem folhetos do tipo do que


focalizamos; sao preconcebidos e engañadores, além de descaridosos
e irónicos. O cristáo ama a verdade; ama também a caridade.

CATEQUESE DOS SACRAMENTOS

O Pe. Cristovam lubel publicou dois interessantes volumes sobre


os Sacramentos: "Os Sacramentos. Roteiros para Grupos de Reflexáo"
e "Catequese em Preparagáo para a Confirmagáo". O primeiro aborda
os sete Sacramentos em 25 Encontros, que procedem segundo urna
didática bem estipulada: Oragáo Inicial, Cantos, Explanagáo do Tema
sob forma de diálogo, Leitura Bíblica, Questionário, Resumo do Encon
tró, Oragáo Final, Tarefa para Casa. O autor está consciente de que "os
sacramentos sao como torgas que saem do Corpo de Cristo, sempre
vivo e vivificante, agdes do Espirito Santo, em operagáo no seu Corpo,
que é a Igreja; sao as obras-primas de Deus na nova e eterna Alianga"
(Catecismo da Igreja Católica n" 1116). O segundo volume supoe a
idade madura do cristáo a ser crismado, oferecendo-lhe urna catequese
mais completa. Os dois volumes sao aptos a prestar bons servigos numa
época em que se procuram obras seguras para a formagáo dos jovens.
Pedidos ao autor, Caixa Postal 66, 85010-970 Guarapuava (PR); fone/
Fax (042) 739-1153.

574
Resposta a Rubem Alves:

"O ÑERVO EXPOSTO"

Rubem Alves, autor protestante, contesta a posicáo da Igreja frente ao


aborto num artigo publicado na Folha de Sao Paulo aos 29/9/97, sob o título
"Ñervo Exposto". Já que se trata de uma explanacáo aparentemente persuasi
va, mas falha por seus sofismas, vamos, a seguir, propor-lhe uma resposta.

1. Os Dizeres do Autor

Rubem Alves acha que o aborto é sempre um ato de violencia. Mas...


violencia justificada para salvar a honra ou a vida de uma mulher. Quem
deve decidir pro ou contra o aborto, segundo R. Alves, é a consciéncia da
pessoa interessada. Nenhum principio ético seria válido para sempre. Por
conseguirte, nem o principio de "nao cometer aborto". A própria Igreja, diz
R. Alves, se, de um lado, condena o aborto, de outro lado aceitou a pena de
morte na Inquisicáo; nao censurou o Generalíssimo Franco, que aplicava o
"garrote vil" na Espanha; nem jamáis excomungou fabricantes e vendedo
res de armas. Disto tudo concluí R. Alves que a Igreja recusa o aborto nao
porque seja um crime contra a vida, mas porque tal prática está relacionada
com o sexo. O sexo seria o "ñervo exposto" da Igreja, que nao quer tolerar
qualquer permissividade na área sexual.
2. Em Resposta...

Tres sao as ponderacóes que nos ocorrem:

2.1. Principio éticos e Consciéncia moral


A consciéncia é a norma ¡mediata da moralidade. É ela quem dita o
comportamento humano, preceituando ou proibindo. A consciéncia, porém,
nao é norma absoluta ou autónoma; é relativa á lei moral, que é objetiva e
vale para todos os homens; á consciéncia toca o papel de considerar, de
um lado, a lei moral ou os principios éticos e, de outro lado, as circunstanci
as concretas em que se encontra o individuo, para daí concluir sobre a
obrigatoriedade ou nao da lei moral em tal caso preciso. Assim, por exem-
plo, se a lei universal me manda restituir os bens alheios, mas se vejo que,
se eu restituir uma arma ao seu proprietário, este se aproveitará déla para
cometer um crime, a consciéncia me dispensará de devolver, aqui e agora,
essa arma. Tal excecáo ou outras semelhantes podem ocorrer quando os
principios éticos tém formulacáo positiva: devolver a propriedade alheia,
ajudar a quem precisa, visitar os enfermos, instruir os ignorantes... Nunca,
porém, a consciéncia pode dispensar alguém de cumprir um preceito cuja
formulacáo seja negativa: nao matar o inocente, nao roubar o alheio, nao
adulterar, nao caluniar... Jamáis á consciéncia, considerando circunstanci
as concretas, será lícito dizer: "Mata o inocente, rouba, adultera, calunia".
575
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

Os preceitos negativos jamáis admitem excecáo, pois qualquer excecáo a


eles implica cair no mal proibido ou significa cometer um pecado. Ora o
principio que proibe o aborto é de índole negativa {nao matar o inocente);
por conseguirte, nao admite excecáo nem mesmo quando se trata de sal
var a honra ou a vida da mulher gestante. O médico procurará salvar a vida,
tanto da máe quanto a da enanca; jamáis há de matar diretamente, pois isto
contraria o juramento por ele feito. Quanto á mulher estuprada, a conscién-
cia moral pede-lhe que nao mate seu filho {pois isto traumatiza nao somente
a enanca, mas a própria máe); de¡xe-o nascer, e entregue-o a quem o pos-
sa educar, se ela nao o deseja.

2.2. Os Exemplos Aduzidos

1) Rubem Alves diz que a Igreja tolerou a pena de morte na Inquisicáo


e na vida civil da Espanha. Notemos que nestes casos a morte era infligida
a criminosos ou a pretensos criminosos, e nao a um inocente. Para os anti-
gos, a heresia era um grave delito, que, segundo a mentalidade da época,
devia ser punido com a pena capital. Alias o Antigo Testamento aplicava a
pena de morte; cf. Lv 20,9-18; Ex 21,12-17. Até mesmo os protestantes
aplicaram a pena de morte em Genebra, quando Joáo Calvino encontrou
resistencias á reforma religiosa que ele quería implantar naquela cidade: os
grandes pecadores, como os adúlteros, os sacrilegos e os adversarios da
reforma eram entregues ao Conselho da Cidade para o castigo. Foram
pronunciadas muitas condenacoes á morte (58, até 1546) e mais ainda ao
exilio; o médico espanhol Miguel Servet foi queimado vivo em 27 de outubro
de 1553 por ter negado o dogma da SS. Trindade; o médico Jerónimo Bolset,
proveniente de Paris, tendo ousado contestar a doutrina calvinista sobre a
predestinado, foi exilado em 1551. A tortura foi posta em prática com todo
o rigor. A cidade teve que se submeter á disciplina férrea de Calvino.
2) Quanto á fabricacáo e venda de armas, observe-se que as armas
sao algo que pode servir tanto ao ataque quanto á defesa. Nao é ilícito a um
cristáo individual ou a urna nacáo crista recorrer ás armas para se defender
de um injusto agressor. Por isto nao se pode pleitear a excomunháo indis
tintamente para os fabricantes de armas. A Moral católica rejeita a guerra injusta
ou de conquista e imperialista, mas nao condena a guerra de legítima defesa.
2.3. O "Ñervo Exposto"

A Igreja se opóe ao aborto nao porque esteja ligado á prática do sexo


(este é outro assunto, que nao vem diretamente ao caso), mas, sim, porque
é o assassínio de um inocente, abominável crime e vergonha da humanida-
de. Ao dizer isto, a Igreja nao é insensível á dor da mulher estuprada ou em
perigo de vida; o amor cristáo manda que se Ihes dé todo atendimento
possível, mas sem cometer delitos, pois o fim nao justifica os meios; a crian-
ca tem o direito de viver, como o tem o aidético, o canceroso, o paralítico...
É de interesse da humanidade promover a cultura da vida, e nao a da morte.
Estéváo Bettencourt, O.S.B.
Pergunte

Responderemos

índice Geral de 1997


50 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

ÍNDICE

(Os números á direita indicam, respectivamente, fascículo, ano de edicáo e página)

ABORTO- ANTICONCEPCÁO - MÉTODO NATURAL 420/1997, p. 221;


E BERNARD NATHANSON 424/1997, p. 418;
LEGAL? 423/1997, p. 350;
NA COLOMBIA: projeto derrotado 423/1997, p. 365;
SIM OU NAO? 420/1997, p. 238.
E PENA DE MORTE (R. Alves) 427/1997, p. 575.
ALMA HUMANA E EVOLUCÁO 419/1997, p. 182.
ALUCINACAO: que é? 426/1997, p. 515.
ALVES, J. E. DOS SANTOS, E CONTRACEPQÁO 419/1997, p. 176;
420/1997, p. 219;
421/1997, p. 260;
422/1997, p. 312;
423/1997, p. 358.
ANABATISTAS: quem sao? 418/1997, p. 132.
ANJOS E "CHAMADA DA MEIA-NOITE" 426/1997, p. 525.
APOCALIPSE E FALSAS PROFECÍAS 421/1997, p. 251.
ARMENIOS PROFESSAM A FÉ CATÓLICA 421/1997, p. 242.
ASSEMBLÉIA DE DEUS: origem e propagacáo 424/1997, p. 406.
ALVES, RUBEM: "O ÑERVO EXPOSTO" 427/1997, p. 575.
ASTROLOGIA E OCULTISMO EM NOVA ERA 421/1997, p. 272.
ATENTADO CONTRA O PAPA 420/1997, p. 202.
ATIVIDADE HUMANITARIA DE JOÁO PAULO II 422/1997, p. 313.

"BASILÉIA.O REINO DE DEUS", por D. Boaventura Klo-


penburg, OFM 425/1997, p. 471.
BATISMO EM FAVOR DOS MORTOS? 425/1997, p. 478.
BATISTAS: quem sao? 418/1997, p. 136.
BERNARD NATHANSON, Dr.: ex-Rei do Aborto 424/1997, p. 418.
BERNSTEIN E POLITI: "SUA SANTIDADE" 420/1997, p. 200.
BÍBLIAE CORPO HUMANO 419/1997, p. 185;
ESCONDIDA DEBAIXO DA BÍBLIA 426/1997, p. 482.
BILL BALES - pastor protestante convertido 419/1997, p. 147.
BOFF, LEONARDO - ENTREVISTA 424/1997, p. 394.
"BUDISMO, O DESAFIO DA MODERNIDADE" 419/1997, p. 188.

578
ÍNDICE GERAL DE 1997 51

CALENDARIO GREGORIANO - que é? 423/1997, p. 341.


"CAROS AMIGOS" - Entrevista de Leonardo Boff 424/1997, p. 394.
CASAMENTO DE HOMOSSEXUAIS E LÉSBICAS 416/1997, p. 47.
CEFERINO JIMÉNEZ MALLA - cigano beatificado 423/1997, p. 373.
CELIBATO - justificativa de Fulton Sheen 425/1997, p. 441.
- reflexoes 418/1997, p. 120.
"CHAMADA DA MEIA NOITE" : que ó? 426/1997, p. 519.
CIENCIA DESAFIA RELIGIAO? 425/1997, p. 434.
CIENTOLOGIA: que é? 417/1997, p. 66.
CIGANOS - quem sao? 423/1997, p. 366.
CISMA DE 1378 - 1417 423/1997, p. 344.
CLONAGEM: que pensar? 420/1997, p. 237.
COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE: ENCONTRÓ EM
SAO LUÍS 423/1997, p. 376.
COMUNISMO - QUEDA E JOÁO PAULO II 420/1997, p. 201.
CONCILIARISMO: que é? 423/1997, p. 338.
CONFERENCIA DE ESTOCOLMO 427/1997, p. 560.
ISTAMBUL: HABITAT II 416/1997, p. 39.
CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE A EXPLORA-
CÁO SEXUAL DE CRIANCAS 417/1997, p. 89.
CONSCIÉNCIA PSICOLÓGICA E SABER DE JESÚS 427/1997, p. 551.
CONSTANCA - CONCÍLIO E CONCILIARISMO 423/1997, p. 338.
CONTINENCIA PERIÓDICA 422/1997, p. 322.
CORPO HUMANO - origem 419/1997, p. 182.
"CRENTE QUEIMA UMA FORTUNA" 424/1997, p. 412.
CRIACÁO, OBRA DE DEUS 425/1997, p. 442.
CRIACÁO OU EVOLUCÁO? em "Chamada da Meia-Noite" 426/1997, p. 526.
CRIME DE MARCINELLE (Bélgica) 417/1997, p. 90.
CRISTIANISMO DA ARMENIA 421/1997, p. 243.

DAMIÁO DE BOZZANO, FREÍ: características 424/1997, p. 415.


"DESCASADOS COM FÉ" (VEJA) 424/1997, p. 398.
"DEUS ESTILISTA": depoimento de Antonella Moccia 422/1997, p. 336.
DINHEIRO NEM TUDO CONSEGUE 424/1997, p. 432.
DISCOS VOADORES E "CHAMADA DA MEIA-NOITE".... 426/1997, p. 520.
DIU (dispositivo intra-uterino) 420/1997, p. 224.
DISTANÁSIA 420/1997, p. 212.
DIVORCIADOS DE NOVO CASADOS 422/1997, p. 290.
DOM LEFÉBVRE, atualmente 426/1997, p. 495.

579
52 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

EDUCACÁO SEXUAL COMPREENSIVA NOS EE.UU.:


que é? 416/1997, p. 2.
ELIMINAR UM FETO DEFEITUOSO? 416/1997, p. 44
"EM NOME DA CIENCIA, PAREM..." 426/1997, p. 491
ENSINO RELIGIOSO ACONFESSIONAL?... SEM ÓNUS
PARA O ESTADO? 419/1997, p. 161.
E CONSTITUICÁO DO BRASIL 424/1997, p. 421.
- NOVA DISPOSIQÁO DO GO-
VERNO 425/1997, p. 474.
ENTREVISTA DE JACQUES TESTART, biólogo francés... 426/1997, p. 492.
LEONARDO BOFF Á REVISTA "CAROS
AMIGOS" 424/1997, p. 394.
ENVELHECIMENTO DA POPULA?ÁO DO BRASIL 426/1997, p. 488.
ESPÍRITOS-GUIAS E "CHAMADA DA MEIA-NOITE" 426/1997, p 523
ESTERILIDADE INVOLUNTARIA 423/1997, p. 358.
ESTERILIZACÁO LIBERADA NO BRASIL 426/1997, p. 486.
ESTIGMAS: que sao? Por que sao? 426/1997, p. 499.
ÉTICA DA CIENTOLOGIA 417/1997 p 70
EUCARISTÍA 427/1997, p. 571.
"EUNUCOS PELO REINO DE DEUS", por Uta Ranke-Hei-
nemann 422/1997, p. 318.

EUTANASIA ATIVA E PASSIVA 420/1997, p. 213.


E CONSCIÉNCIA CATÓLICA 416/1997, p. 23.
"EUTANASIA, UM DESAFIO PARA A CONSCIÉNCIA", por
Marciano Vidal 420/1997, p. 210.
EVANGELHO DE TOMÉ: que é? 425/1997, p. 451.
EVANGELHOS: FIDELIDADE HISTÓRICA 427/1997, p. 539.
EVOLUCAO DO NASCITURO 419/1997, p. 178.
EXPLORACÁO SEXUAL DAS CRIANCAS 427/1997, p. 557.
EXPULSÁO DOS VENDILHÓES DO TEMPLO: quando
ocorreu? 427/1997, p. 553.
ÉXTASE: que é? 426/1997, p. 509.

FÁTIMA: TERCEIRO SEGREDO 421/1997, p. 248.


FETO DEFEITUOSO: ELIMINÁ-LO? 416/1997, p. 44.
FILHOS DE DIVORCIADOS 422/1997, p. 30.
"FOLHA UNIVERSAL" da Igreja Universal do Reino de Deus:
Fidedigna? 422/1997, p. 325 e
423/1997, p. 381.
FREDERICO FELLINI - declaracóes sobre a morte 420/1997, p. 217.
FREÍ DAMIÁO DE BOZZANO: características 424/1997, p. 415.
FUNDAMENTALISMO: que é? 421/1997, p. 276;
426/1997, p. 519^
580
ÍNDICE GERAL DE 1997 53

GNOSTICISMO E EVANGELHO DE TOMÉ 425/1997, p. 451.


GREGORI, A: "A VINDA INTERMEDIA DE JESÚS" 416/1997, p. 32.

HABITANTES DE OUTROS PLANETAS 425/1997, p. 438.


"HÁ OUTRO CRISTO?", por J.J.C 427/1997, p. 568.
HIERARQUIA E ORGANIZAQÁO DA CIENTOLOGIA 417/1997, p. 71.
"HISTORIA PERDIDA E RECUPERADA..." {J. L. Segundo). 427/1997, p. 548.
HISTORICIDADE DOS EVANGELHOS (J. M. Garda) 427/1997, p. 530.
HOLISMO E NOVA ERA 421/1997, p. 275.
HOMEM: DESCENDENTE DO MACACO? 419/1997, p. 181.
HOMOSSEXUAIS - "casamento" 416/1997, p. 47.

"IDENTIKIT" DE CRISTO 420/1997, p. 194.


IGREJA E BÍBLIA 427/1997, p. 573.
CASAMENTO 422/1997, p. 321.
DIVORCIADOS DE NOVO CASADOS 422/1997, p. 290.
MULHER 422/1997, p. 332.
AUTENTICIDADE DO SUDARIO 418/1997, p. 107.
UNIVERSAL DO REINO DE DEUS 422/1997, p. 325;
423/1997, p. 381;
425/1997, p. 457.
IMUNOBANHOS OU BANHOS DE AR 417/1997, p. 79.
INDISSOLUBILIDADE DO MATRIMONIO 426/1997, p. 329.
INDIVIDUALISMO E SEITAS 417/1997, p. 60.
INSEGURANCA DO HOMEM MODERNO E SEITAS 417/1997, p. 61.

JESÚS CASADO? 422/1997, p. 319.


CRISTO EM NOVA ERA 421/1997, p. 273.
QUEM É PARA VOCÉ? 420/1997, p. 194.
E POLÍTICA 427/1997, p. 553.
NUM TERREIRO DE UMBANDA 423/1997, p. 377.
RESSUSCITOU! 420/1997, p. 199.

581
54 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

JOÁO PAULO II, HOMEM DE DEUS 418/1997, p. 115;


O HOMEM DO ANO DE 1996 422/1997, p. 317;
- PERFIL 418/1997, p. 115;
- ATIVIDADE HUMANITARIA 422/1997, p. 313;
- "SUA SANTIDADE" (Bernstein-Politi) 420/1997, p. 200-209.
JUBILEU SACERDOTAL DO PAPA 418/1997, p. 113.

KLOPPENBURG, BOAVENTURA: "BASILÉIA" 423/1997, p. 471.

LEFÉBVRE, DOM - atualmente o Cisma 426/1997, p. 495.


LIBERDADE RELIGIOSA: significado 425/1997, p. 473.
LIGADURA DE TROMPAS E VASECTOMIA 421/1997, p. 261.
LIMITES ÉTICOS DA INTERVENCÁO SOBRE O SER
HUMANO 418/1997, p. 139.
LIVRO DE URANTIA 422/1997, p. 328
LOURDES E MILAGRES 425/1997 p 439

MACONARIA: HISTORIA 425/1997, p. 467.


MAHIKARI: profecías desmentidas 421/1997, p. 256.
MANIPULAQÁO DA VIDA E LIMITES ÉTICOS 418/1997, p 134
MARCINELLE: CRIME DE 417/1997, p. 90.
MARCUS GRODI - Pastor protestante convertido 419/1997, p. 149.
MARÍA E PRAZER SEXUAL 422/1997, p 320
MÁRTIRES DO MÉXICO 425/1997, p. 468.
MATRIMONIO CONSUMADO 424/1997, p. 399.
INVÁLIDAMENTE CONTRAÍDO 424/1997^ p. 399.
MEDIANEIRA, CO-REDENTORA E ADVOGADA: discus-
sáo 425/1997, p. 445.
MENONITAS: quem sao? 418/1997, p. 135.
MESTERS, CARLOS: PARÁBOLA 423/1997Í p. 376^
MÉTODOS CONTRACEPTIVOS 421/1997, p. 282.
NATURAIS DE CONTENCÁO DA NATALIDADE 422/1997, p. 309
MILAGRES E "MILAGRES" 425/1997, p. 438.
MISSA DO CAMPEIRO OU DO BOIADEIRO 420/1997,' p. 234.
582
ÍNDICE GERAL DE 1997 55

MISSA PELOS DEFUNTOS - POR QUE CELEBRAR?... 419/1997, p. 172.


_ que é? 419/1997, p. 171.
MOCCIA, ANTONELLA: depoimento de convertida 422/1997, p. 336.
MOONISMO: PROSELITISMO DESONESTO 425/1997, p. 477.
MORAL CATÓLICA E "TESTAMENTOS DE VIDA" 416/1997, p. 27.
SUPREMA 424/1997, p. 429.
MORALOGIA: que é? 424/1997, p. 427.
MORTE DE JOÁO PAULO I 420/1997, p. 203.
MOSER, ANTONIO: "O PECADO" 418/1997, p. 126.
MULHER E HOMEM APRECIADOS POR VÍCTOR HUGO . 424/1997, p. 432.

NASCITURO - evolu9áo do feto 419/1997, p. 178.


NATHANSON, BERNARD. "ex-Re¡" do Aborto 424/1997, p. 418.
NIRVANA: que é? 419/1997, p. 191.
NOSTRADAMUS: profecías desmentidas 421/1997, p. 254.
NOVA ERA - que é? 421/1997, p. 269.

"O DIABO NO REINO DE DEUS", por Margarida Oliva 425/1997, p. 457.


OLIVA, MARGARIDA: "O DIABO NO REINO DE DEUS".. 425/1997, p. 457.
"O ÑERVO EXPOSTO", por Rubem Alves 427/1997, p. 575.
"O PECADO", por Frei Antonio Moser 418/1997, p. 126.
ORAQÁO E NOVA ERA 421/1997, p. 274.
ORIGEM ARAMAICA DOS EVANGELHOS - ¡nvestigacoes 427/1997, p. 539.
ORTOTANÁSIA 420/1997, p. 212.
"OUCO VOZES DO ALÉM QUE ME ATORMENTAM..." ... 426/1997, p. 514.

PADRE: quem é? 427/1997, p. 569.


PANTEÍSMO E NOVA ERA 421/1997, p. 273.
PAPA E DIGNIDADE DA MULHER 422/1997, p. 333;
INDIGNADO 420/1997, p. 204.
PARÁBOLA DO ADMINISTRADOR INFIEL 418/1997, p. 98;
DOS OPERARIOS CHAMADOS Á VINHA... 417/1997, p. 50;
"QUANDO DEUS ANDOU NO MUNDO, A
SAO PEDRO DISSE ASSIM..." Frei Carlos
Mesters 423/1997, p. 337;

583
56 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

PARÁBOLA RABÍNICA 417/1997, p. 55


PÁSCOA - DATA ÚNICA? 423/1997 p 346
PASTOR UNIVERSAL 420/1997, p. 205.
PASTORES PROTESTANTES SE TORNAM CATÓLICOS 419/1997, p. 146.
PECADO ORIGINAL: discussáo 418/1997, p. 127.
SÓCIO-ESTRUTURAL: discussáo 418/1997, p. 130.
PENTECOSTALISMO PROTESTANTE: origem e divisóes... 424/1997, p. 403
PERFIL DE JOAO PAULO II 418/1997, p. 115
PESSIMISMO NO FUNDAMENTAUSMO 421/1997, p. 283.
PÍLULA ANTICONCEPCIONAL E PRESERVATIVO CON
VENCIONAL 416/1997. p 8
"PÍLULA DO DÍA SEGUINTE" 420/1997, p. 226.
PÍLULAS ANTICONCEPCIONAL 421/1997, p. 262
PIÓ XII E OS JUDEUS 418/1997, p. 118 e
424/1997, p. 386.
PLANEJAMENTO FAMILIAR E ANTICONCEPCÁO pelo Dr.
Joáo Evangelista dos Santos Alves 420/1997, p. 219.
POLITI E BERNSTEIN: "SUA SANTIDADE" 420/1997 p 200
PRESERVATIVO ÑAS ESCOLAS 423/1997, p. 362
PROFECÍAS DESMENTIDAS 421/1997, p. 248.
PROFETA NAO É UM FUTURÓLOGO 426/1997' p 482
PROFETAS QUE ERRARAM 421/1997, p. 253.
PROJETO 666 416/1997, p. 22.
PROSELITISMO DESONESTO 425/1997, p. 477.

"QUANDO DEUS ANDOU NO MUNDO, A SAO PEDRO


DISSE ASSIM" 423/1997, p. 376.

RANKE-HEINEMANN, UTA: "EUNUCOS PELO REINO


DE DEUS" 422/1997, p. 318.
"REÍ DO ABORTO": O DEFENSOR DA VIDA 424/1997, p. 418.
RELIGIÓES ORIENTÁIS E NOVA ERA 421/1997, p. 271.
REZAR PELOS MORTOS, QUE SIGNIFICA? 419/1997, p. 171.
ROMÉNIA: SACERDOTE ENCARCERADO 424/1997, p. 424.

SACERDOTES CASADOS CELEBRANDO MISSA 424/1997, p. 390


SALAÜN, PAÚL: "SEPARADOS, DIVORCIADOS..." 422/1997, p. 297.
584
ÍNDICE GERAL DE 1997 57

SALVAQÁO POR CAMINHOS DESCONHECIDOS 425/1997, p. 471.


SANTO SUDARIO DE TURIM - a mais recente descoberta 418/1997, p. 104;
425/1997, p. 440.
SANTOS CASADOS 423/1997, p. 383.
SEGUNDO J. L, "A HISTORIA PERDIDA E RECUPE
RADA..." 427/1997, p. 548.
SEITA - que é? 417/1997, p. " 56.
"SEPARADOS, DIVORCIADOS. UMA ESPERANCA POS-
SÍVEL" por Paúl Salaün 422/1997, p. 297.
SER HUMANO - QUANDO COMECA? 417/1997, p. 83.
SHEEN, FULTON, E CELIBATO 418/1997, p. 120.
STEVE WORD - pastor protestante convertido 419/1997, p. 152.
"SUA SANTIDADE" por C. Bernstein e M. Politi 420/1997, p. 200.

TELEVISÁO E ÉTICA 421/1997, p. 284.


TERCEIRO SEGREDO DE FÁTIMA 421/1997, p. 248.
"TESTAMENTO DE VIDA" 416/1997, p. 27.
TESTART, JACQUES, E MANIPULACÁO GENÉTICA 426/1997, p. 492.
TESTEMUNHAS DE JEOVÁ: PROFECÍAS DESMENTIDAS 421/1997, p. 255.
TRABALHO INFANTIL FORCADO 427/1997, p. 562.
TRADICÁO SAGRADA DO EVANGELHO 427/1997, p. 534.
TRANSE E ÉXTASE: que sao? 426/1997, p. 508.
TRANSPLANTE DE CEREBRO: MUDANQA DE PERSO-
NALIDADE? 416/1997, p. 16.
ÓRGÁO E DOACÁO COMPULSORIA 425/1997, p. 475.

UNIBIÓTICA OU IMUNOCULTURA: que é? 417/1997, p. 76.


URANTIA, LIVRO DE: que é? 422/1997, p. 328.

VASSULA RYDEN — NOTIFICAQÓES DA SANTA SÉ .... 419/1997, p. 167.


"VENDA" DE MENORES 427/1997, p. 558.
VÍCTOR HUGO: "HOMEM E MULHER" 424/1997, p. 432.
VIDA HUMANA — COMO É TRANSMITIDA 419/1997, p. 176.
"VINDA INTERMEDIA DE JESÚS" (A. Gregori) 416/1997, p. 32.
VISITA DE KAREKIN I AO PAPA 421/1997, p. 245.
DO PAPA Á FRANQA 418/1997, p. 108.
VOZES DO ALÉM: que pensar? 426/1997, p. 514.

585
58 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

EDITORI AIS

A IGREJA DOMÉSTICA 423/1997, p. 337.


"ALEGRA-TE, CHEIA DE GRACA" (Le 1. 28) 420/1997, p. 193.
A PRIMEIRA HORA DO DÍA 422/1997, p. 289.
"CANTAI UM CÁNTICO NOVO..." ...(SI 96, 1) 419/1997, p. 145.
"COM CLAMOR E LÁGRIMAS... FOI ATENDIDO11 <Hb 5, 7) 418/1997, p. 97.
"ENQUANTO TEMOS TEMPO..." (Gl 6, 10) 417/1997, p. 49.
O HOMEM DESTE FIM DE SÉCULO 425/1997, p. 433.
"Ó MORTE, ONDE ESTÁ A TUA VITORIA?" (1Cor 15, 55) 426/1997, p. 481.
"Ó TESTEMUNHO DA ALMA NATURALMENTE CRISTA!"
(Tertuliano) 427/1997, p. 529.
"POR CAUSA DO SEU GRANDE AMOR..." (Ef 2, 4) 421/1997, p. 241.
"SENHOR, ONDE ESTÁS?" 424/1997, p. 385.
VELHOS TEMPOS... NOVOS TEMPOS 416/1997, p. 1.

LIVROS APRECIADOS

BARRERA, Julio Trebolle. A Biblia Judaica e a Biblia


Crista 418/1997, p. 142.
BATTISTINI, Freí Francisco. Cristo total. Identificacáo de
Jesús com sua Igreja 426/1997, p. 498.
BECKÁUSER, Frei Alberto. Rezar a Vida e viver a Ora-
9áo 421/1997, p. 259.
BERGER, Klaus. Qumran e Jesús 418/1997, p. 141.
BOFF, Leonardo. A Águia e a Galinha 426/1997, p. 528.
BOROWSKI, Anna Campos e Ceci Baptista Mariani. Este
Menino é um Anjo! 416/1997, p. 31;
Dionisio e o Paraíso 416/1997, p. 31.
BRUN, Padre Nadir José. Palavra aos Noivos em varias
circunstancias 423/1997, p. 345.
CALLIARI, Ivo. D. Jaime Cámara. Diario do Cardeal-Ar-
cebispo do Rio de Janeiro 417/1997, p. 75.
C.N.B.B. Novo Testamento - traducáo oficial 426/1997, p. 527.
COLUMBAS, M. B., D. Garda M. Diálogo com Deus. ... 481/1997, p. 285.
CUNHA, Egionor. "E vos, quem dizeis que eu sou?".
Um esclarecimento para o povo 422/1997, p. 317.
DYBOWSKI, Ladislau. Catecismo Integral 422/1997, p. 331.
GAMBI, Padre Orlando. Quero dizer a Deus que 424/1997, p. 426;
Vida de Santa Teresinha 427/1997, p. 554.

586
ÍNDICE GERAL DE 1997 59

IUBEL, Padre Cristovam. Catequeseem preparacáo para


a Confirmacáo. Os Sacramentos, Roteiros
para Grupos de Reflexáo 427/1997, p. 574.
LACERDA, Milton Paulo de. Um lugar ao Sol. Sua Vida
pode ter Sentido 418/1997, p. 138.
MARTÍNEZ, Florentino García. Os Textos de Qumran 418/1997, p. 117.
MONDIN, Battista. Quem é Deus? Elementos de Teolo
gía filosófica 427/1997, p. 567.
MURAD, Irmáo Afonso. Quem é esta Mulher? 425/1997, p. 444.
PECCATORE, J. L Freiré. Esse Homem Único 418/1997, p. 125.
POMBO, Ruth Rocha. Testemunhos e Relatos 427/1997, p. 547.
QUEVEDO, S.J., Osear González. Milagres. A Ciencia
confirma a Fé 421/1997, p. 286.
RENOVACÁO CARISMÁTICA CATÓLICA. Lectio Divina. 424/1997, p. 431.
SALVAIL, Ghislaine. Na confluencia das Escrituras. Ini-
ciacáo á Lectio Divina 422/1997, p. 296.
SANTOS, Padre Manoel Augusto dos. O Primado Ponti
ficio 425/1997, p. 480.
STRABELI, Frei Mauro. Carta aos Romanos 425/1997, p. 479.
SUGAL, Wellington. Existe urna Verdade 423/1997, p. 357.
THIEDE, Carsten Peter e Mattew d'Ancora. Testemunha
ocular de Jesús. Novas Provas em Manuscri
to sobre a Origem dos Evangeihos 423/1997, p. 361.
VARIOS AUTORES. Crescer em Comunháo com o Pai. 426/1997, p. 490.

587
60 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 427/1997

SENHOR, REZA TU MESMO EM MIM!

SENHOR, NAO SEI O QUE HEI DE TE PEDIR.


TU, PORÉM, CONHECES AS MINHAS NECESSIDADES,
PORQUE TU ME AMAS MAIS DO QUE EU ME AMO.
CONCEDE A MIM, TEU SERVO, O QUE NAO SEI PEDIR A TI.
NAO OUSO PEDIR-TE NEM CRUZES NEM CONSOLACÓES.
APENAS FICO EM VIGÍLIA DIANTE DE TI.
TU VÉS O QUE EU IGNORO.
AGE SEGUNDO A TUA MISERICORDIA.
SE QUERES, FERE-ME E CURA-ME, PROSTRA-ME E LEVANTA-ME.
CONTINUAREI A ADORAR A TUA VONTADE.
E PERMANECEREI DIANTE DE TI EM SILENCIO.
A TI EU ME ENTREGO INTEIRAMENTE.
NAO TENHO OUTRO DESEJO; QUERO APENAS QUE SE CUMPRA A TUA
VONTADE.
ENSINA-ME A REZAR,
ANTES, REZA TU MESMO EM MIM.
Filareto de Moscou (1782-1867)

AOS AMIGOS

CARO(A) LEITOR(A), JÁ QUE SE APROXIMA O NATAL, POR QUE


NAO PENSAR EM OFERECER A SEUS AMIGOS UMA ASSINATURA
DE PR, QUE TORNE VOCÉ PRESENTE A CADA UM(A) DELE(A)S TO
DOS OS MESES DE 1998? A NOSSA REVISTA PRETENDE SER UM
INFORMATIVO QUE AJUDE A PONDERAR OS PROBLEMAS DE NOS-
SOS DÍAS. TODOS PRECISAMOS DE PENSAR PARA MAIS AMAR O
NOSSO IDEAL.

VOCÉ TAMBÉM TEM Á SUA DISPOSICÁO QUINZE CURSOS POR


CORRESPONDENCIA, QUE LHE PERMITIRÁO CONSOLIDAR A SUA
FÉ, TÁO SOLICITADA POR PROPOSTAS RELIGIOSAS HETEROGÉ
NEAS, E AJUDAR SEUS AMIGOS A DESCOBRIR A VERDADE. O MAIS
RECENTE DESSES CURSOS É O DE ANTROPOLOGÍA (CRIACÁO E
PECADO) COM APÉNDICE SOBRE OS ANJOS. EIS OS DEMAIS: INI-
CIACÁO BÍBLICA, INICIACÁO TEOLÓGICA, TEOLOGÍA MORAL, HIS
TORIA DA IGREJA, LITURGIA, DIÁLOGO ECUMÉNICO, OCULTISMO,
PARÁBOLAS E PÁGINAS DIFÍCEIS DO EVANGELHO, DOUTRINA SO
CIAL DA IGREJA, ESCATOLOGIA, FILOSOFÍA, CRISTOLOGIA,
MARIOLOGIA, ECLESIOLOGIA.

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588
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legíveis. 110 págs. Formato de bolso (15x11) RS1.45.

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Comentario sobre o Prólogo e os capítulos 53,58,72,73 da Regra Beneditina-Tradu
cáo do alemáo por D. Mateus Rocha OSB.
A Autora é professa no Pontificio Ateneu de Santo Anselmo em Roma (Monte Aventino).
Tem divulgado suas pesquisas nao só na Alemanha, Italia, Franca, Portugal, Espanha,
como também nos Estados Unidos, Brasil, Tanzania, Coréia e Filipinas, por ocasiáo de
Cursos e Retiros. 364 págs R$ 10,20.

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BENTO - transformou-o em exemplo vivo, em mestre e em legislador de um estado de vida
crista, empanhado na procura crescente da face e da verdade de Deus, espelhada na traje-
tória de um viver humano renascido do sangue redentor de Cristo. - Assim, o discípulo de
Sao Bento ouve o chamado para fazer-se monge, para assumir a "profissao" de monge".

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Santo Tomás de Aquino em Roma. Para Professores e Alunos de Teologia, é
um Tratado de "Deus Uno e Trino", de orientacáo tomista e de índole dídátíca.
230 págs R$ 16,80.

3. LITURGIA PARA O POVO DE DEUS (4a ed., 1984), pelo Salesiano Don Cario
Fiore, traducáo de D. Híldebrando P. Martíns OSB. Edicáo ampliada e atualiza-
da, apresenta em linguagem simples toda a doutrína da Constituicáo Litúrgica
do Vat. II. É um breve manual para uso de Seminario, Noviciados, Colegios,
Grupos de reflexáo, Retiros, etc., 216 págs R$7,20.

4. DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos. 33 Edicáo.


Seu Autor, D. Estéváo Bettencourt, considera os principáis pontos daclássica
controversia, entre Católicos e Protestantes, procurando mostrar que a discus-
sáo no plano teológico perdeu muito de sua razáo de ser, pois, nao raro, versa
mais sobre palavras do que sobre conceitos ou proposicóes- 380 páginas.

SUMARIO: 1.0 catálogo bíblico: lívros canónicos e livros apócrifos - 2. Somen-


te a Escritura? - 3. Somente a fé? Nao as obras? - 4. A SS. Trindade, Fórmula
paga? - 5. O primado de Pedro - 6. Eucaristía: Sacrificio e Sacramento - 7. A
Confissáo dos pecados - 8. O Purgatorio - 9. As indulgencias - 10. Maria,
Virgem e Máe - 11. Jesús teve irmáos? -12. O Culto aos Santos - 13. E as
imagens sagradas? -14. Alterado o Decálogo? -15. Sábado ou Domingo? -
16. 666 (Ap. 13,18) - 17. Vocé sabe quando? -18. Seita e Espirito Sectario -
19. Apéndice geral: Aera Constantina : R$ 16,80.

Edicóes ''Lumen Christi".


Pedidos pelo Reembolso Postal ou conforme indicacáo na 2a capa.

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