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Cultivos Ecológicos 01
Diante desse grave quadro de exclusão social e degradação cultural e
ambiental, o Pólo Sindical da Borborema inicia, desde 1996, um intenso
processo de construção coletiva de um modelo de desenvolvimento rural em
que os agricultores e agricultoras passam a ser os principais motores da
promoção desse desenvolvimento.
Cultivos Ecológicos 01
A natureza nossa grande mãe
A mata é o roçado de Deus
Quando a gente olha para uma mata e vê grandes árvores, muitas outras
plantas de médio e pequeno porte, ficamos imaginando quanto adubo foi
preciso colocar naquele local, para que todas crescessem em harmonia, sem
competição e com saúde. Observamos também que, lá na mata, vive uma
grande variedade de animais, sendo muitos insetos.
Na mata ninguém colocou adubo, muito menos foi usado agrotóxico para
controlar o mato ou matar as pragas. Lá existe capim, cipó, espinheiro, junto
com pau-d'arco, cedro, mulungú, angico, côco catolé, umbú, aroeira, jucá,
juazeiro, catingueira, feijão bravo, jurema preta, macambira, xique-xique,
mandacaru, todos crescendo juntos e produzindo frutos. Na mata, também
existem animais. O maior se alimenta do menor e todos vivem juntos. Lá tem
formiga para alimentar os pássaros e servir de sobremesa para o tamanduá,
tatu, teiú e o peba.
Associativismo Vegetal
Padre Antonio Vieira, Sertão Bravo, 1968.
Muita coisa mexeu com os meus nervos e o meu sentimento na Festa do
Agricultor, recentemente realizada na Paróquia de Milhã. Sertanejo, por dentro
e por fora, eu vivi o meu clima natural. E tudo foi direto ao coração com grandes
dosagens de adrenalina.
Uma Musa logo me chamou a atenção. E foi que todos os enfeites das casas,
dos carros, do palanque, do altar, não eram flores artificiais ou flores de jardim,
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que tudo isto é requinte de cidade
hipercivilizada. Os adornos e enfeites
eram pés de milho arrancados do roçado,
com todo o seu viço, com pendão, folhas
verdes e espigas de cabelos alourados
pelo sol. Reparava tudo com gosto e sabor.
Ali bem perto do altar, aqueles pés de
milho pareciam bandeiras verdes, soltas
em atividade triunfal, cantando nas suas
folhas, tangidas pelo vento, o Hino
Nacional da fartura, da riqueza, do
trabalho.
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energias, de elementos vitais. Nesta hora trágica para a humanidade, onde o
ódio se fez norma pública do agir, valia ouvirmos a linguagem cristã do pé de
milho e de feijão da Paróquia de Milhã.
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conta José Leal que carregou mais de 100 balaios
de folhas secas para as fruteiras. Em 2002, a família
mais que dobrou a quantidade, carregaram 250 de
balaios para dentro das fruteiras.Nesta área, a
família trabalha com as plantas para produzir
estacas e ainda serve como um banco de mudas da
natureza que levam para outras áreas do sítio.
Seu sítio é cercado com várias plantas: cajá, cajá-umbú, gliricídia, burra leiteira
e outras. Forma com isso uma cerca viva que produz alimentos para casa e para
terra.
Com mesmo prazer e zelo que a família cuida de seu sítio, cuida também de sua
casa e do terreiro. Várias qualidades de flores e árvores embelezam e
perfumam o seu arredor. E no oitão da casa, construíram a primeira cisterna de
placas do município de Lagoa Seca.
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encontrar mais de 75 variedades diferentes de árvores, 17 tipos diferentes de
plantas de remédio e mais de 67 tipos diferentes de frutas. E as plantas de
enfeite? Ah! essas eles desistiram de contar porque são muitas, trazidas de
vários lugares por onde eles passaram.
Cultivos Ecológicos 01
compra seus produtos. Veja a prova nas contas do que ele gastava quando
comprava veneno e agora, usando produtos alternativos.
Há mais ou menos 10
anos, eles conheceram o semeio. Uma
experiência que um amigo missionário, o Citonho,
trouxe lá do Maranhão.
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o basculho ali mesmo. Ele vai virar adubo para a terra. Depois é só esperar a
chuva molhar o chão e fazer o feijão e o milho nascer, florar e render os grãos.
Depois da colheita, seu Antônio deixa a área repousando por 1 ano. Só no ano
seguinte é que repete o semeio naquele local. Assim, dependendo do inverno,
permite que a capoeira engrosse novamente.
A família ainda faz outras experiências em suas terras sem usar o fogo. Em um
espaço entre duas capoeiras grossas, seu Antônio abriu um terreno
espalhando as folhas no chão, separando os garranchos no aceiro . Ele explica
que o tempo transforma tudo em adubo.
Neste local, plantou milho em linhas
atravessadas. Plantou numa terra escura,
úmida, cheirosa e cheia de vida.
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A experimentação de produtos
naturais
Manipueira e Urina de Vaca: a experiência de
Zezinho Plácido
José Plácido do Nascimento, mais conhecido
como Zezinho Plácido, é agricultor e desenvolve
importante trabalho de experimentação e
divulgação de experiências junto ao Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Lagoa Seca.
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Para aplicar nas culturas, Zezinho sempre dilui
1 litro de manipuiera em 20 litros de água
quando vai aplicar no feijão. E para as verduras
novas, ele usa ½ litro de manipueira para os 20
litros de água, depois vai aumentando a
dosagem até chegar 1 litro. Aplica sempre como
prevenção, ou seja, antes que a praga se
espalhe pela cultura.
Para aplicar a urina de vaca nas culturas, deve-se misturar 300 mililitros de
urina em 20 litros de água. Ou seja, uma garrafinha de 600 mililitros dá para
fazer duas bombas de 20 litros. Zezinho explica que serve para todas as
culturas e hortaliças e aplica de 8 em 8 dias. E para as culturas de roçado,
conta que pode misturar a manipueira com a urina.
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plantada, a baraka, uma variedade que produz pouco, mas que é importante
para os agricultores por ser de ciclo curto.
Para manter a saúde de suas plantas, utiliza alguns produtos naturais. Usa a
calda de fumo para evitar o ataque de rosca na raiz do pimentão. Coloca ½
quilo de péia de fumo em 5 litros de água. Deixa de molho na
água por 4 dias. Depois, quando vai mudar o pimentão, passa
somente as raízes na calda pura por 2 minutos. Já utilizou a
calda de fumo para pulverizar a lêndea preta na folha do
pepino. E o controle foi positivo.
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Calda Bordalesa: a experiência dos irmãos
Maciel
Severino é agricultor familiar e também
representante da Comissão Água e Meio Ambiente
do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa
Seca. Ele, sua esposa e seus três filhos moram na
vila Alvinho. E, quando não vai participar das
reuniões no Sindicato, Severino sai sempre bem
cedo para trabalhar nas terras de sua família no sítio
Almeida.
Severino recomenda aplicar a calda nos momentos mais frios do dia, ou seja,
pela manhã cedinho ou no final da tarde. Segundo ele, é que nos momentos
mais quentes o produto evapora e perde o seu efeito. As aplicações devem ser
feitas uma vez em cada 15 em 15 dias. Severino ainda observa que a calda
deve ser feita na hora em que for aplicar.
Modo de preparo da calda bordalesa
Ingredientes para 20 litros Em um balde plástico, penere o cal; depois despeje aos poucos
- 200 gramas de sulfato de cobre um copo de água e mexa bem até formar uma pasta. Espere a
- 200 gramas de cal comum cal queimar por 8 a 12 minutos. Em seguida, acrescente 10 litros
- 20 litros de água limpa de água, sempre mexendo bem. Em outro balde, coloque o sulfato
de cobre e acrescente dois copos deágua quente. Mexa bem.
Material necessário Acrescente 10 litros de água fria, sempre mexendo bem. Encha
- 3 baldes de plástico uma caneca com calda de cal e a outra caneca com a calda de
- 1 pá de madeira sulfato de cobre. Depois vá despejando as duas ao
- 1 peneira mesmo tempo em um terceiro balde. Mexa com a pá de
- 2 canecas de plástico madeira. Faça assim até passar toda a calda de cal e de
- 1 coador cobre para o terceiro balde, sempre mexendo. Desta forma,
a calda ficará bem misturada. Por fim, é só coar a calda.
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Óleo de Nim: a experiência de seu Guimarães
João Guimarães, mais conhecido por seu
Guimarães, possui quase 3 hectares de terra no
sítio Oiti, em Lagoa Seca. Nascido há 67 anos no
Ceará, seu Guimarães se considera meio
cearense e meio paraibano. Depois de ter rodado
quase todo o Brasil, já conheceu do Rio Grande do
Norte ao Rio Grande do Sul, do Acre à João
Pessoa, seu Guimarães resolveu vender suas
terras no Piauí para se mudar para Lagoa Seca.
Faz três anos que deixou de usar veneno e tudo na sua terra é natural. Apesar
de morar em Campina Grande com sua esposa, dona Alzira, seu Guimarães
vai ao sítio todos os dias.
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sobrinha que mora no Ceará. Ela tem plantado
322 pés e usa para fazer chapéus, sabonete e
pasta de dente. Seu Guimarães usa o extrato
ou o óleo de nim sempre que precisa para
combater o pulgão, lagarta e a mosca branca.
E suas estacas dão um ótimo cabo de enxada.
O óleo de nim é
comprado. Para usar ele
pega um litro de óleo e acrescenta 200 litros de água. Para
fazer o extrato, ele pega 1 quilo de folha, bate no
liquidificador com água. Côa e coloca numa bomba de 20
litros.
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por experimentar o extrato e participar desta pesquisa deverão entrar em
contato com o STR de seu município, com a AS-PTA ou na UFPB de
Bananeiras com o professor Paulo Wanderley.
Cultivos Ecológicos 01
João Miranda e Terezinha guardam com muito zelo
as sementes das plantas de seu sítio. Selecionam e
guardam tanto as sementes das plantas da região
como as que irão plantar no roçado, na horta, na
vazante e aquelas utilizadas como remédio.
Para o tomate, separa os frutos da primeira carga. Deixa ficar bem maduro e
coloca para apodrecer. Com 3 dias de podre, passa numa arupemba para
separar a semente e espalha no lajedo para secar. Coloca de manhã e ao meio
dia está pronto.
João colhe os pimentões maiores e sadios bem maduros. Abre, passa uma
escovinha e coloca para secar. Um dia de sol valente dentro de uma bacia de
zinco, as sementes ficam prontas. Elas podem ser guardadas consorciadas
com as sementes de tomate. Assim, diz João Miranda, faz um canteiro só na
hora de plantar, aproveitando também a água.
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do paú, o que ele chama de semente sebosa ou pode-se guardar a semente
ventada. Para isso, João aconselha fazer uma cortina de pano, para bater as
sementes.
Terezinha nunca deixa de ter sementes de mostarda em casa. Acredita ser uma
ótima planta de remédio e não fica sem, por isso sempre semeia pelo roçado.
Para separar as sementes ela colhe o pé inteiro bem maduro, quase seco, mas
observa que tem que ser antes de começar a debulhar.
João nos lembra que para fazer semente tem que ter muita paciência e gosto
pelo ofício.
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bastante apurada, dona Maria vem separando ao longo dos anos aquelas
qualidades que dão mais, que são mais rendosa, que são vendável e as mais
saborosas.
Todos os anos, separa as suas sementes e as coloca para secar ao sol. Depois
que elas estiverem bem secas e frias, dona Maria coloca em seus garrafões ou
em silos de 10 ou 20 quilos, construídos por seu filho, Toinho, especialmente
para armazenar suas sementes. Mas antes de guardar, dona Maria mistura
suas sementes com as cinzas da fogueira de São João. Distribui as sementes
nos recipientes e para bem vedar, faz uma lama, como chama, da cinza com
água e coloca uma camada na tampa do recipiente. Quando seca, essa lama
transforma-se em um torrão que irá vedar com eficiência seus silos. Garante
que, em todos esses anos, nunca perdeu suas sementes com gorgulho.
Na época em que chega o inverno, divide suas sementes com seus filhos e
vizinhos. Se eu perder, meus vizinhos podem ainda ter. Não quero as sementes
só para mim. Quero para mim, para meus filhos e vizinhos, conta dona Maria.
Quando o inverno é ruim e as sementes estão mais limitadas, eu dou limitado,
mas quando dá mais, eu distribuo
bastante.
Dona Maria procura passar suas experiências para seus filhos e Toinho de
Edísio já é grande divulgador de seus conhecimentos. Já viajou dentro Brasil e
até mesmo para o exterior, divulgando essa e outras experiências de sua
família.
Experimentação de alternativas
para libertar dos adubos químicos
Adubo da Independência: modo de preparo
O adubo da independência é um adubo que os próprios agricultores e
agricultoras podem fazer com o que eles encontram em sua região. É um
adubo natural preparado
Veja como é fácil fazer este adubo: com as coisas que se
Ingredientes necessários para fazer 2 toneladas: tem na própria terra, por
500 quilos de terra argilosa de barranco isso é importante que
350 quilos de húmus de minhoca cada agricultor ou
200 quilos de esterco bovino (pode ser de cabra ou agricultora experimente
ovelha) sua própria receita. Seu
160 quilos de MB-4 preparo é muito fácil,
160 quilos de calcário porém trabalhoso. O
80 quilos de farinha de osso ideal é fazer em regime
330 quilos de farelo de trigo de mutirão.
140 quilos de pó de carvão
6 litros de mel de cana-de-açúcar A motivação para a
2 litros de E.M ou 500 gramas de fermento de pão descoberta deste
20 quilos de batata-doce produto, experiência de
20 quilos de pó de telha um grupo de agricultores
20 quilos de fosfato natural do Paraná, foi a partir da
20 quilos de rocha potássica necessidade dos
agricultores produtores
Cultivos Ecológicos 01
“Esse adubo misturado
De tudo se aproveita
de batatinha do Agreste da Paraíba, que Terra e esterco de gado
ainda são muito dependentes de Até com carvão se ajeita
produtos químicos como a uréia e Pedra moída no motor
sulfato de amônia. Terra de barranco onde for perto da
terra ou no mato
A Comissão de Cultivos Ecológicos do Só dá pena a gente ver
Pólo Sindical da Borborema vem, Que em vez de se comer
portanto, promovendo diversos Joga-se dentro a batata”.
Euzébio Cavalcante.
mutirões de fabricação do adubo da
independência e vem estimulando a sua
experimentação nos vários tipos de
cultivos como batatinha, horta, frutas e também na produção de mudas. Nesses
mutirões estão envolvidos agricultores e agricultoras dos diversos municípios
do Pólo, que ao final saem com o compromisso de partilhar os resultados dessa
experiência com outras famílias de agricultores.
Modo de preparar
1º Passo: reunir os ingredientes necessários no local onde será preparado, de
preferência longe de casa, devido ao cheiro forte nos primeiros dias de
fermentação. É bom escolher um lugar coberto de chão batido ou piso de
cimento.
2º Passo: Colocar a terra de barranco no lugar onde vai ser fabricado.
3º Passo: Cozinhe 10 quilos de batata-doce ralada numa vasilha com 20 litros
de água. Esmagar bem até formar um mingau.
4º Passo: Quando o mingau esfriar, colocar 3 litros de mel de cana-de-açúcar.
Mexa bem e coloque o fermento de padaria.
5º Passo: Espalhar os ingredientes secos no chão batido, fazendo camadas
finas. Primeiro, comece pela terra de barranco e depois os outros ingredientes.
Traçar bem os ingredientes.
6º Passo: Derrame o mingau sobre os ingredientes secos já traçados. Em
seguida, molhe com água pura, mexendo bem para conseguir uma boa
mistura. Essa mistura deve ficar com 50% de umidade.
7º Passo: Faça um monte de aproximadamente 50 centímetros de altura.
8º Passo: Mexa o monte todos os dias para que ele não esquente demais.
Cuide para que o calor não passe de 60 graus centígrados. Se for preciso, esfrie
com água na hora que for mexer.
Cultivos Ecológicos 01
9º Passo: Quando parar de esquentar, o adubo da independência pode ser
guardado em sacos ou num monte. Preste atenção para que ele não fique
molhado novamente. Caso aconteça, coloque para secar um pouco na
sombra.
Adaptado da cartilha Adubos caseiros e caldas: receitas para nutrição e proteção das plantas. Fórum
das organizações dos trabalhadores e trabalhadoras rurais do Centro Sul do Paraná e AS-PTA.
Separou quatro cortes do roçado para fazer um teste com um novo adubo, o
adubo da independência. No primeiro corte, Robinho colocou, na encama do
leirão, meio quilo de adubo da independência por metro corrido. E depois
aguou com biofertilizante, na concentração de 1 litro de bio para 10 litros de
água. Para isso, usou meio litro
dessa mistura por 1 metro corrido.
Cultivos Ecológicos 01
No terceiro corte, não foi colocado nem
adubo da independência e nem
biofertilizante na encama do leirão.
Robinho plantou a batatinha e depois
que ela nasceu, contou 15 dias e
colocou o adubo da independência na
cova. De forma semelhante, Robinho
trabalhou no quarto corte. Só que
aplicou o adubo depois de 20 dias.
No segundo corte, a produção foi de 17 sacos, porém observou que com esse
tratamento as batatas não eram tão pesadas quanto o do primeiro.
Cultivos Ecológicos 01
No terceiro e quarto corte, a produção foi bem abaixo dos dois primeiros
tratamentos; 13 sacos para o terceiro e 7 sacos para o quarto corte. Nessas
áreas, as batatas ficaram pequenas e com qualidade inferior.
Robinho conseguiu vender toda sua produção num preço acima do valor de
mercado. Vendeu 55 sacos de batata comércio para o mercado de produtos
orgânicos a 25,00 reais cada saco. Vendeu 7 sacos de batata refugo no
comércio normal, conseguindo um preço de 15,00 reais por saco, ou seja, o
mesmo preço da batata produzida com veneno. E ainda, separou 5 sacos de
batata semente.
No ano de 2003, Robinho repetiu, portanto, o procedimento que ele achou mais
interessante, ou seja, aplicou 1 tonelada do adubo e o biofertilizante na
encama. Os resultados novamente foram surpreendentes. Plantou 16 caixas
de batata semente e colheu 6 toneladas de batata comércio e mais 45 caixas
de batata semente.
Cultivos Ecológicos 01
colocar mais um pouco de deste adubo na cova
desses tomates para ajudar na ponta de rama.
Uma adubação para o crescimento dos frutos.
Por fim, ele fez o teste no coentro. Ele e seus clientes têm notado bastante
diferença. Depois 20 dias em que plantou e estrumou, o coentro começa a ficar
amarelado. Aí resolveu samear uns 2 quilos de adubo da independência. O que
notou foi que o coentro ficou verde novamente em 8 dias e seus clientes
repararam que ele dura verde por mais tempo depois que chega em casa.
Naldo acredita ser o adubo da independência um bom produto porque ele dura
mais na terra. Depois que se coloca sob a terra, ele fica disponível para a planta
quando molha. Quando o sol seca a terra, seca também o adubo, que
permanece em cima da terra. Aí na próxima aguação, ele torna-se disponível
novamente para as plantas. Para Naldo, este adubo foi aprovado.
Comercialização de produtos
agroecológicos da agricultura
familiar
A feira Agroecológica de Lagoa Seca
A experimentação de produtos naturais no município de Lagoa
Seca começou a partir de uma visita de intercâmbio realizada
ao Centro-sul do Paraná. A partir dessa visita, o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais passou a se preocupar com o uso
indiscriminado de veneno dentro do município, principalmente
por serem produtores e exportadores de verduras.
Cultivos Ecológicos 01
sábado seguinte, quando promoveram o Ano Novo sem veneno. A partir daí,
nunca mais faltaram um sábado.
Todas as ações desse grupo são compartilhadas, foi assim também na hora de
decidirem pela imagem da feira. Fizeram algumas visitas de intercâmbio, em
Brejo da Madre de Deus e João Pessoa, para estudarem qual seria a melhor
banca e organizaram um fundo rotativo para a aquisição das barracas. O fundo
rotativo recebeu um impulso ainda de dois projetos e em outubro de 2003 já
possuem 29 barracas.
Cultivos Ecológicos 01
A experiência da Feira Agroecológica de Lagoa Seca é, sem dúvida, um
aprendizado para todos os agricultores do Pólo Sindical da Borborema. Essa
experiência está permitindo ao grupo poder criar uma cultura solidária de
comercialização e, sobretudo, fortalecer um espaço de troca de experiência e
de conhecimentos. E, aos poucos, estão se preparando para enfrentar um
desafio ainda maior, levar a feira agroecológica para Campina Grande,
Paraíba.
Em 1986, conta seu Guimarães que vendeu 600 hectares no Piauí para
comprar 2,5 hectares no sítio Oiti, em Lagoa Seca. Logo que chegou, admite
que fazia grandes monocultivos. Plantava campos inteiros de uma verdura só,
fazendo apenas rotação de culturas. Plantava alface, coentro, repolho,
pimentão, cebola, tomate, mas nessa época era obrigado a usar muito veneno.
Assim trabalhava seus vizinhos, não sabiam plantar de outra forma. Vendia
toda sua produção na CEASA. De 1990 a 1996, chegou a vender em 8
supermercados em Campina Grande.
Em 1998 e 1999, houve uma grande seca no estado. A água acabou, o açude
secou. Nessa época chegou ainda a plantar dentro do açude jiló e milho. O olho
d´água de duas terras deu apenas para sustentar 50 canteiros e também dar de
beber a mais de 200 famílias da região.
Foi exatamente nessa época que
deixou de usar veneno, trabalhou muito
pouco o terreno.
Cultivos Ecológicos 01
cada freguês deseja. As pessoas ligam então para
sua casa e sua esposa, dona Alzira, faz as
anotações. Ao final do dia, monta uma nova lista.
Essa agora enumerando as qualidades pedidas e as
quantidades de cada produto. De posse desta lista,
seu Guimarães retira dos canteiros, no outro dia
bem cedo, as quantidades certas que serão
entregues naquele dia. Depois, com ajuda de seus
companheiros, separa em sacolas a quantidade que
cada pessoa solicitou, agora ele utiliza novamente a
comanda preenchida por dona Alzira. Aí é só
distribuir por toda a cidade.
Para o futuro pretende fazer novas parcerias. Quer conseguir montar em seu
sítio uma câmara fria. Assim como a batatinha, poderá por um preço justo
outros produtos como tomate, pimentão, quiabo que não são produzidos em
suas terras, mas que possuem grande saída no mercado. Desta forma,
acredita poder manter o preço estável, melhor para quem compra, porque sabe
que não está sendo explorado, melhor
para quem vende. E lembra mais uma
vez que seu tipo de comércio é antes
de tudo uma relação de amizade. Sua
maior satisfação em estar servindo é a
satisfação do cliente em estar bem
servido.
Cultivos Ecológicos 01
Primeiro tem que ter a mercadoria, só não se vende aquilo que não existe.
Depois, um bom vendedor tem que conhecer bem sua mercadoria, saber como
preparar o produto, de onde ele veio, como fazer e, sobretudo, tem que ter boa
conversa. Confessa que assim já conseguiu vender até fruta de palma para um
caririzeiro.
Para cada fruta, a família tem um cuidado. A manga, por exemplo, é tirada de
vez. Dona Helena leva na cabeça um cento ou cento e meio. E ainda faz
qualquer tipo de negócio. Troca na feira por pedaço de carne. E assim vai
trocando uma coisa por outra. Da laranja, dona Helena leva as frutas e as
folhas, que são usadas como remédio.
A jaca, dona Helena vende no grosso ou no retalho, o que acha melhor. Apesar
do trabalho a mais, vender no retalho dá um
pouco mais de dinheiro, conta dona Helena. Mas
temos que ter muito cuidado com o asseio, o
público é muito exigente. Corta a fruta na hora e
vai colocando os bagos em um saco plástico que
compra em Campina Grande mesmo. Chega a
levar de 5 a 20 jacas que variam de preço de
acordo com seu tamanho. Uma jaca grande é
vendida até 5,00 reais e uma pequena, por uns
0,50 centavos.
Cultivos Ecológicos 01
frutas com o mesmo cuidado nas caixas pra também não estragar. Aquelas
frutas que não passaram em seu exame de qualidade, dona Helena retira a
castanha e torra. A castanha é outra fonte de riqueza para dona Helena. E o
restante do caju ela dá para os bichos ou deixa virar estrume. O caju é uma
ótima fruta de comércio, conta dona Helena que confessa que suas contas são
pagas com sua venda.
Para vender bem, a gente tem que fazer uma gracinha, ensina dona Helena. E
assim vai cativando sua freguesia. Muitos de seus produtos são levados por
encomenda, principalmente os remédios e as mudas. E com toda sua
simplicidade, dona Helena vai nos dando lições de como continuar a vida
batalhando sempre.
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