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TRIAGEM, TRANSBORDO E RECICLAGEM DE ENTULHO NO JD PANTANAL

Estudo de viabilidade técnica para a Fundação Tide Setúbal

1. Resíduos de Construção e Demolição ...................................................................2


1.1 - Função econômica e legal da triagem de entulho .............................................2
1.2 - Reciclagem de entulho como produção de agregados inertes..........................5
1.3 - A operação da triagem, transbordo e reciclagem de entulho ............................8

2. Estudo de viabilidade técnica ...............................................................................11


2.1 - Os terrenos disponíveis no Jd Pantanal e seu licenciamento .........................11
2.2 - Finalidade da ATTR no Jd Pantanal e adequação de equipamentos .............13

3. Documentos de referência ....................................................................................16

OUTUBRO DE 2007
NOTA EXPLICATIVA
Esta publicação é resultado de consulta a documentos e obras de referência (listadas ao final
do volume) e de visitas técnicas realizadas a Áreas de Triagem, Transbordo e Reciclagem
(ATTR) operantes nas cidades de São Paulo, Guarulhos e São Bernardo em agosto e
setembro de 2007. A primeira parte do texto visa fornecer, em linguagem acessível porém
precisa, parâmetros técnicos mínimos para o estudo de viabilidade técnica apresentado na
segunda parte, que recomenda a instalação de uma ATTR com conjunto britador móvel no
terreno atualmente destinado ao futuro Parque Poliesportivo do Jd Pantanal. As condições de
viabilidade técnica apresentadas para a ATTR não dispensam a execução subseqüente de
orçamentos e projetos de engenharia e arquitetura para sua realização.

Arq. Francisco Toledo Barros Diederichsen


Arq. José Eduardo Baravelli
Arq. Renata Maria Pinto Moreira

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1. RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

1.1 - Função econômica e legal da triagem de entulho

O sistema de separação, reutilização e reciclagem de resíduos originados do lixo doméstico,


bem divulgado atualmente, é um modelo imperfeito para entender o sistema de triagem,
transbordo e reciclagem do entulho. No caso do lixo doméstico, trata-se de separar da massa
de resíduos gerados pelo consumo doméstico uma parte minoritária de material que pode ser
beneficiado, principalmente vidro, metais e papéis. No caso do entulho, trata-se, pelo contrário,
de separar da massa de resíduos gerados pela construção e demolição de edifícios e obras de
infra-estrutura urbana uma parte minoritária de material que não pode ser usado novamente na
construção civil. O objetivo portanto é permitir o beneficiamento da parte majoritária dos
resíduos, e não da minoritária.
Até a publicação em 2002 da resolução 307 do Conselho Nacional de Meio Ambiente
(Conama), o Brasil não possuía um marco regulatório válido em todo país que desse conta das
especificidades desta atividade. A partir de então, o entulho fica legalmente restrito ao “resíduo
de construção e demolição” (RCD) e sua deposição clandestina em ruas e terrenos baldios
passa a ser enquadrada dentro da Lei de Crimes Ambientais de 1998. A elaboração de um
sistema de gestão de coleta e destinação se torna obrigatória para Estados e Municípios, o que
deu origem em São Paulo a diversas iniciativas de incentivo à triagem de entulho, como o
programa “Obra Limpa” do Sinduscon/SP, e de reciclagem, como o recente Decreto Municipal
48.075 que obriga o uso de agregados reciclados na pavimentação de vias públicas da cidade.
Mesmo dentro destes limites legais, o entulho continua sendo o mais heterogêneo dos resíduos
gerados por uma atividade produtiva, heterogeneidade que aparece na documentação
mostrado na tabela seguinte, adaptada de Jadovski (2005):

Composição do entulho em pesquisas recentes


Classes de resíduos de construção e demolição
“A” “B" “C” “D”
Papel / plástico

Gesso e outros
Solos e Areias
Rocha britada

Mat. asfáltico
Argamassas

Ano Local pesquisado


Cerâmicas
Alvenarias

Borrachas
Concreto

Madeira
Aço

1999 São Paulo 8 24 30 33 5


1997 São Paulo - Aterro Itatinga 12 3 82 3
1999 São Paulo - Aterro Itatinga 15 38 20 1 2 24
2001 São Paulo - Freguesia do Ó 65 13 8 14
2001 São Paulo - Jacanã 84 16
1997 Ribeirão Preto 21 37 24 18
1997 Ribeirão Preto 15 46 19 19
2000 Ribeirão Preto 14 48 15 23
1998 Guaratinguetá 7 41 22 30
2001 Florianópolis 30 19 28 23
2000 Salvador 53 5 22 6
1999 Santo André 4 64 18 11 3
1999 Hong Kong 31 6 12 3 3 8 1 34 1 1
1995 Bélgica 38 45 3 2 2 2 8
1995 União Européia 40 45 4 8 3
1996 Reino Unido 9 5 75

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Em face desta heterogeneidade, a resolução 307 do Conama aplica aos materiais que
compõem o RCD as classes de “resíduos sólidos” estabelecidas pela norma técnica brasileira,
segundo a qual os resíduos sólidos da atividade humana podem ser “perigosos”, quando
contém substâncias inflamáveis, tóxicas ou causadoras de doenças, “não-inertes”, isto é, “com
propriedades de biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água”, e “inertes”,
que em contato com água não dissolvem substâncias em concentrações que tirem a sua
potabilidade. Esta aplicação resultou na classificação dos materiais componentes de RCD em
classe A, B, C e D. Na tabela acima, os materiais, levantados em datas e países fora da
vigência da resolução do Conama, estão agrupados segundo as características destas classes
de RCD. Estas características são:
Classe A: é a parte propriamente mineral dos resíduos de construção e demolição,
obtendo daí sua condição de “inerte”, com alta resistência a alterações de estado. Como
“fração mineral”, são subdividos para fins de reciclagem entre entulho cimentíceo
(visualmente identificados pela cor cinza), com predomínio de concreto, argamassa e
fragmentos de rocha, e entulho cerâmico (classificado pela cor vermelha), composto
basicamente por blocos cerâmicos e solos argilosos. Um RCD classe A por excelência é
o solo transportado como entulho em caçambas: é um inerte que pode ser usado em
construções civis (como um aterro) sem que seja necessário beneficiá-lo.
Classe B: é o resíduo da construção e demolição que pode ser reciclado, mas que não
faz parte da sua fração mineral inerte: papéis, plásticos e metais.
Classe C: resíduos de construção e demolição para os quais não existe tecnologia para
serem reciclados, com destaque para o gesso. Por ser expansível em contato com água,
a presença cada vez maior deste material no entulho dificulta sua reciclagem.
Classe D: resíduos de construção e demolição perigosos, como tintas, vernizes e
solventes usados em revestimentos, além de materiais tóxicos, como amianto e baterias,
ou contaminantes, como asfaltos e pneus.
O uso para reciclagem mais popularmente conhecido se dá com os materiais que integram a
classe B de resíduos da construção e demolição. Nas áreas de triagem visitadas, a separação
destes materiais é organizada em função de compradores externos, que fornecem os
dispositivos de armazenagem para onde deve ocorrer o transbordo do material a ser reciclado
em empreendimentos especializados. O pagamento frequentemente se limita à retirada deste
material sem custo para o receptor de entulho. O mais volumoso destes resíduos no entulho, a
madeira, principalmente a proveniente de podas, é depositado gratuitamente em caçambas
fornecidas por fabricantes de painéis industriais. Seu beneficiamento por picadoras mecânicas
é raro, enquanto que o material plástico e o papel não são recebidos em volume suficiente para
serem vendidos em aparas. Em recicladoras de grande porte, nem sequer são admitidas
caçambas com material plástico ou madeira, cuja triagem é considerada apenas como custo
operacional.

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[1] Pilha de embalagens plásticas separada para reciclagem na ATTR Base Ambiental. O material é triado e embalado no
fechamento das atividades diárias com entulho.
[2] Caçamba para separação de material ferroso na ATTR Urbem. A caçamba é propriedade da empresa recicladora, que tem
contrato exclusivo de serviço.

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O RCD classe B de maior valor são as peças metálicas: aço de construção (vergalhões,
estribos, telas, arame, cabos), perfis de alumínio, fiação de cobre revestida e lataria. Também
têm mercado comprador algumas embalagens plásticas e os sacos de ráfia usados para
acondicionamento de entulho. Em empresas de triagem e transbordo de pequeno porte, a
separação e venda destes materiais assume papel relevante, chegando a remunerar parte
significativa das despesas operacionais. Segundo Gentil Ferraz, proprietário da recicladora
Base Ambiental, cada caçamba de entulho triada gera R$ 1,45 em material para venda direta,
sem beneficiamento.
Ainda assim, o sentido econômico da triagem e transbordo de RCD é isolar o resíduo classe A,
de forma que a fração mineral do entulho composta por material cimentíceo e cerâmico possa
ser novamente usado na construção civil. É um sentido econômico decorrente dos próprios
custos impostos pelo novo marco legal da resolução 307 do Conama, que obriga que o entulho
seja destinado a aterros públicos ou privados de materiais inertes depurado de grandes
concentrações de outras classes de resíduos, principalmente os perigosos ou o gesso,
capazes de contaminar água subterrânea e de comprometer a estabilidade do solo. O custo de
manutenção destes aterros é assumido pelos geradores de entulho em dois momentos:
primeiramente remunerando os transportadores de entulho, os “caçambeiros”, que, por sua
vez, remuneram os proprietários de aterros privados ou gestores de aterros públicos para que
recebam o material.
Daí que as atividades de triagem e transbordo sejam em geral associadas economicamente às
atividades tanto de transporte quanto de aterro de entulho. Por parte dos proprietários de
caçambas para locação, há o interesse em diminuir o volume de entulho que destinam ao
aterro de inertes, o que também diminui o número de viagens e o desgaste da sua frota. Por
parte dos proprietários e gestores de aterros, há o interesse que as áreas de aterro
permaneçam livres de matéria orgânica e substâncias contaminantes. Assim, ao diminuir o
custo do atendimento à legislação ambiental, a triagem do RCD classe A cria valor antes
mesmo que este resíduo seja destinado a reciclagem.

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[1] Vista geral da área de aterro associada ao ATT Sete Praias: os eucaliptos ao fundo indicam a altura do buraco de mineração a
ser preenchido com RCD classe A.
[2] Entrada da ATT Sete Praias, com caçambas para retirada de madeira; a caçamba escura, a serviço da empresa Eucatex não
remunera pela madeira triada.

Neste sentido, a visita à ATT Sete Praias, uma das maiores da cidade de São Paulo, foi
reveladora da associação econômica entre triagem e transbordo de RCD com a gestão de sua
deposição final. A empresa existe desde 1966 explorando uma pedreira dentro da área de
proteção do manacial Guarapiranga. Com o esgotamento dos veios rochosos naturais e para
cumprir a obrigação legal de estabilização do terreno, fez acordo com a prefeitura de São
Paulo para aterrar o buraco deixado pela atividade de mineração, sobre o qual será criado um
parque particular. Neste sentido, é uma ATT simbólica da passagem entre a extração de
materiais de construção da natureza e o uso racional de seus resíduos. A solução econômica
para o aterro foi implantar uma ATT em terreno vizinho, com contabilidade própria e autonomia
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de gestão. A proximidade da ATT com o aterro tornou a triagem lucrativa, pois os custos de
transporte para aterrar o RCD classe A triado são largamente cobertos pelas taxas cobradas
das caçambas que fornecem entulho para triagem e transbordo.

Síntese: A triagem e transbordo do entulho visa depurar dos resíduos de construção e demolição
os materiais que não podem ser usados novamente na construção civil na condição de
materiais inertes. Uma vez triados, estes materiais de composição cimentícea e cerâmica
já cumprem uma função econômica no sistema de coleta e deposição de entulho tal
como atualmente regulado no país, ao baratear o transporte e a gestão dos aterros
específicos para entulho.

1.2 - Reciclagem de entulho como produção de agregados inertes

Uma vez que aterros são obras de terra destinadas a um uso humano, a deposição controlada
da fração mineral do resíduo de construção e demolição faz parte por si mesmo de uma nova
obra civil. Mas o uso mais promissor deste resíduo triado na construção civil se dá através da
reciclagem em agregados inertes, materiais sólidos de dimensões variadas usados em
praticamente todas as fases de obras civis que fazem estabilização de solo, pavimentação,
concretagem e alvenaria. Em geral o “agregado inerte” é extraído de leitos de rio (no caso das
areias) ou de rochas (no caso de pedras britadas) e o uso variado que pode ter na construção
civil está diretamente ligado à variação de suas dimensões. Para a construção civil, a
composição de diferentes tamanhos de agregados (chamada “granulometria”) é tão importante
quanto a dureza de seus elementos.
Agregados inertes para construção civil - dimensões e usos convencionais
Agregado Dim. máx. Uso principal
Areia 4,8 mm Argamassas para assentamento de blocos e revestimento de paredes; artefatos de concreto
Pedrisco 6,3 mm Artefatos de concreto como blocos, pisos e tubos
Brita 1 e Brita 2 39 mm Concreto para formas e lastros para redes de infra-estrutura e pavimentos
Brita Corrida 63 mm Lastro para pavimentos e regularização de terrenos
Rachão 150 mm Contenção de terra e terraplanagem

A principal dificuldade na aceitação do agregado inerte reciclado por clientes e empreiteiros de


obras civis é que o controle de qualidade da construção busca lidar apenas com materiais de
características homogêneas, enquanto que a reciclagem lida com materiais de características
heterogêneas. É uma condição que reduz sua confiabilidade, ainda que não necessariamente

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[1] Agregado reciclado em dimensões de brita 1 e 2 obtido a partir de mistura de RCD classe A cimentíceo e cerâmico.
[2] Agregado reciclado em dimensões de areia média obtido a partir de RCD classe A cimentíceo. A areia foi lavada para
eliminação de partículas finas que comprometeriam a produção de argamassas de revestimento.
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seu desempenho estrutural. No caso do concreto, a eventual presença de material cerâmico e
argiloso diminui a resistência da mistura da brita reciclada com o cimento, por causa das partes
lisas e de pouca aderência. No caso das argamassas, a eventual existência de partículas finas
na areia facilita a aparição de fissuras.
No Brasil, o uso de agregado reciclado foi normatizada tecnicamente apenas em 2004 através
da NBR 15115 e NBR 15116, que deram parâmetros para o seu emprego com segurança tanto
nas obras com solo (valas, regularizações e pavimentos) quanto nas obras com cimento e cal
(argamassas, concretos e artefatos como blocos e pisos).
Nas obras com solo, a função estrutural dos agregados inertes está na interação entre seus
elementos sob compactação. Aqui, o material reciclado têm amplo potencial de uso,
principalmente para o cascalhamento e para a construção das diferentes camadas de
estabilização de pavimentos. Para seu uso em camadas de pavimentação, a norma técnica
NBR 15115 especifica controles tecnológicos a serem empregados por meio de ensaios ou de
verificação no recebimento dos materiais reciclados. Ainda assim, é comum que empreiteiros
usem apenas 20% de agregados reciclados em pavimentações. A primeira obra de grande
porte que adotou integralmente o agregado reciclado na pavimentação de áreas externas foi o
campus da USP Leste, próximo ao Jd Pantanal.
Nas obras com concreto e argamassa, a função estrutural dos agregado inerte está na
interação com o cimento e a cal, substâncias ditas “aglomerantes”, que unem e enrijecem suas
partículas quando reagem com água. Neste caso a norma técnica brasileira restringe o uso de
agregados reciclados a artefatos de concreto que não têm função estrutural, mas apenas de
vedação ou revestimento. O agregado reciclado pode então servir para construir blocos e
painéis de concreto para vedação de ambientes ou peças para uso ao ar livre, como
dispositivos de drenagem ou pisos para calçadas e ruas. A NBR 15116 admite “o emprego do
agregado classe ‘A’, substituindo parcial ou totalmente os agregados convencionais em
concreto sem função estrutural” e estipula requisitos técnicos para controle de desempenho do
agregado reciclado.
[1] Foto da construção do campus da USP-Leste em
São Miguel. Em primeiro plano aparece a base de
pavimentação com rachão reciclado a partir de
RCD classe A, a maior parte fornecido pela ATTR
Base Ambiental.
[2] Foto do Jd Pantanal mostra agregados naturais de
brita e areia, além de blocos de concreto que
incorporam ainda mais agregados, ao lado de uma
pilha de entulhos para descarte.

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Uma vez que os agregados reciclados podem substituir tecnicamente os agregados naturais, é
o caso de investigar se esta substituição é economicamente vantajosa. Embora tenham um uso
intenso, os agregados são produtos de baixo valor unitário e têm peso reduzido para o total dos
custos de um pavimento ou de um bloco de concreto.
Na região metropolitana de São Paulo, as recicladoras Urbem e Base Ambiental vendem na
fábrica o m³ de areia ou brita 1 e 2 por R$ 16 (com alguma variação dependendo do volume
comprado). É menos da metade do custo do m³ de areia e brita naturais, cujo preço atualmente
em São Paulo oscila em torno de R$ 40 e R$ 35, respectivamente. É possível avaliar os efeitos
desta diferença de preço no custo total de insumos para um componente construtivo básico,
como o concreto de média resistência (150 kgf/cm² ou 15 MPa), adequado para fabricação de
artefatos como guias e sarjetas e cuja preparação de 1 m³ consome aproximadamente 250 Kg
de cimento (5 sacos), 0,55 m³ de areia (30 latas), 0,9 m³ de brita (50 latas). As tabelas de custo
abaixo mostram que a opção pelo agregado reciclado para produção deste concreto reduz o
custo com insumos em 26,7% em relação ao concreto produzido com agregados naturais.

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Custo de insumos do concreto 15 Mpa com agregados naturais
Insumo Quantidade Custo unitário médio Custo total
Cimento tipo CP II 5 sacos R$ 12 / sc R$ 60,00
Areia natural 0,55 m³ R$ 40 / m³ R$ 22,00
Brita 1 e 2 natural 0,9 m³ R$ 34 / m³ R$ 31,50
Total R$ 113,50

Custo de insumos do concreto 15 Mpa com agregados reciclados


Insumo Quantidade Custo unitário Custo total
Cimento tipo CP II 5 sacos R$ 12 / sc R$ 60,00
Areia reciclada 0,55 m³ R$ 16 / m³ R$ 8,80
Brita 1 e 2 reciclada 0,9 m³ R$ 16 / m³ R$ 14,40
Total R$ 83,20

É preciso porém fazer um cálculo que relativiza o custo do agregado nos custos de edificação.
Segundo o método orçamentário TCPO (com preços praticados no Estado de São Paulo em
2006), cada m² de uma parede de vedação convencional tem custo de material de construção
em R$ 12,60, sendo o componente mais importante deste custo o preço do bloco de vedação
(R$ 11,55 / m² de parede). A areia utilizada na argamassa de assentamento custa apenas R$
0,45 / m² de parede, considerando um custo médio “posto em obra”, isto é, com frete e em
volume pequeno. Quando se inclui no custo do m² de parede os serviços de mão-de-obra,
aluguel de equipamento e despesas indiretas de empreiteiro, este custo superdimensionado da
areia representa apenas 1,58 % do custo total da construção de uma parede convencional.
Para se manter nos limites de um orçamento de obra, é sobre este custo que é preciso avaliar
a economia promovida pelo uso de agregados reciclados.
O exemplo mais próximo da realidade de São Paulo de uso intensivo de agregados reciclados
em edificações é um condomínio de classe média implantado pela construtora Setin em 2003,
num terreno anteriormente ocupado por uma fábrica. Como era necessário demolir o piso de
concreto remanescente da fábrica, foi decidido reciclar o entulho para produzir 12 mil m³ de
brita, usados numa mini-usina de blocos e componentes de concreto erguida no local. Para
este tipo de empreendimento, a economia decisiva não estava na diferença de custo entre o
agregado natural e reciclado, que foi estimada em menos de 1% do valor do metro quadrado
construído, mas na eliminação dos custos para transportar e aterrar o material demolido.

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[1] Conjutno britador alugado pela construtora Setin para reciclagem do entulho produzido por demolições no local de implantação
do condomínio “Villagio Maia”, em Guarulhos. A plataforma de inspeção onde está o operário está posicionada sobre a máquina
de britagem, cujo produto é lançado num conjunto peneirador que faz a separação dos agregados reciclados.
[2] A foto das casas do condomínio “Villagio Maia” antes de serem revestidas permite observar o aspecto avermelhado dos bloco e
marcos de janela usinados com agregado reciclado. As placas de concreto que separam os quintais também foram construídas
com agregado reciclado.

Um raciocínio semelhante se aplica aos inúmeros exemplos de edificações com material


reciclado de entulho existentes em outros países, principalmente na Europa: o uso do
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agregado reciclado não se justifica pela diminuição de custos de edificação, mas pela
diminuição de custos operacionais quando a produção de grandes volumes de material de
demolição no canteiro de obras é uma situação dada de saída para o empreendimento.

Síntese: A reciclagem do RCD classe A visa produzir agregados para obras com solo ou para
concreto e argamassa não estruturais nas dimensões convencionais da construção civil,
ainda que a heterogeneidade de origem imponha restrições que são objeto de normas
técnicas específicas. Nos usos em que é uma alternativa ao agregado natural, o
agregado reciclado representa uma economia significativa em orçamentos de materiais
de construção, embora de pouco peso na composição de custos total de uma obra civil.

1.3 - A operação da triagem, transbordo e reciclagem de entulho

O principal requisito ambiental para operação de uma ATTR é o controle da poeira produzida
pelos sucessivos transbordos do entulho, desde o esvaziamento das caçambas até a
alimentação da britadeira. Para controle da poeira, é preciso instalar dispositivos de isolamento
do terreno, como cercas e portão, e piso primário (que pode ser brita reciclada) no acesso e
nas áreas de operação e estocagem. Outras medidas de compensação que podem ser
necessárias, dependendo da proximidade com vizinhos, são cercas especiais para contenção
de poeira, instalação de aspersores de água nos percursos de caminhões e construção de
dispositívos para controle de ruídos.

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[1] Acesso ao alimentador do conjunto de britagem da Urbem tem mangueiras suspensas com aspersores de água para controle
de poeira. Este dispositvo foi essencial para a recicladora obter a licença ambiental expedida pela Cetesb.
[2] Na visita técnica à ATTR Base Ambiental, a recicladora estava alugada, o que permitia ver um recurso criativo para controle de
ruído: a britadora de mandíbula que fica no ponto mais baixo do conjunto de máquinas trabalha enterrada numa baia com
esperas metálicas, facilitando a sua alimentação e reduzindo significativamente o ruído de operação.

Estes requisitos ambientais constam na norma técnica específica para ATT, NBR 15112, que
exige também o controle de origem e destino dos resíduos recebidos e construção de uma
pequena área coberta para estocar RCD classe D.
Na fase de triagem do RCD, a principal operação é o espalhamento do material recebido, que
pode ser realizado pela deposição do entulho com o caminhão de caçamba em movimento ou
com a ação da máquina pá-carregadeira. Esta última forma de espalhamento foi a mais
observada, pois exige menos espaço e prescinde de colaboração por parte do motorista do
caminhão poliguindaste.
Durante o espalhamento, há um encarregado pela inspeção visual do RCD que determina a
quantidade de trabalho de triagem exigida para o material descarregado, o que reflete
imediatamente na taxa de deposição a ser cobrada do caçambeiro. A ATT Sete Praias cobra
R$ 35 por caçamba com predomínio de RCD cimentíceo, o “entulho cinza”, e R$ 55 por
caçamba com predomínio de RCD cerâmico, o “entulho vermelho”, ou com grandes

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quantidades de madeira ou gesso. Já a presença de grandes quantidades de lixo doméstico
implica na não aceitação da caçamba, muitas vezes com o devolução por pá-carregadeira.
Para uma empresa que concentra sua atividade na reciclagem, como é o caso da Urbem, a
fase de triagem é mínima e supervisionada por uma inspeção rigorosa das caçambas, pois só é
admitido entulho triado no próprio local de geração. A Urbem cobra uma taxa de apenas R$ 20
(valor médio) para receber entulho, mas não aceita sequer caçambas com grande
concentração de “entulho vermelho”.
A máquina essencial para a operação de triagem e transbordo do RCD é a pá-carregadeira. É
uma das máquinas mais versáteis da construção civil, usada numa ATTR desde o
espalhamento do entulho recebido até o carregamento final do agregado reciclado. Nas visitas
técnicas, foi sempre observada sua operação por funcionários próprios e especializados da
ATTR, que muitas vezes mantêm uma área para reparos e manutenção específica para esta
máquina. Os caminhões basculantes, usados para transporte do material reciclado ou do
material rejeitado pela triagem, são geralmente terceirizado com os motoristas.

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[1] Espalhamento de uma caçamba com pá-carregadeira no ATT Sete Praias: o operador é o funcionário mais qualificado da ATT
[2] Manutenção de uma das duas pás-carregadeiras em oficina própria da ATTR Urbem.
[2] O estoque de RCD da ATTR Urbem conta apenas com “entulho cinza”, triado no próprio local de geração. A concentração de
atividades unicamente na reciclagem pode ser visto no funcionário fracionando com britadeira manual um entulho muito
valorizado nas recicladoras: o descarte de massa de usinas de concreto.

Já a máquina essencial para a operação de reciclagem é extremamente especializada: a


britadeira, sempre usada em associação com outros conjuntos motorizados que integram uma
família de máquinas modulares desenvolvida no setor de mineração para fracionamento e
peneiramento de rochas.
Resumidamente, as máquinas em associação numa britadeira obedecem à seqüência
“alimentador vibratório” > “britador” > “transportador por correia” > “conjunto peneirador”:
1) “Alimentador vibratório”: caçamba metálica que recebe e encaminha com regularidade
o material a ser britado, fazendo uma primeira separação de partes por vibração, que em
geral resulta na “bica corrida”.
2) “Britadeira”: elemento central do conjunto, que fragmenta o RCD mineral por
esmagamento (britador de mandíbulas) ou por impacto (britador de impacto);
Recicladoras pequenas utilizam o britador de mandíbulas, de menor porte mas de
operação mais complexa, algumas vezes em duas fases.

Imagens de um britador de madíbulas Metso

3) “Transportador de correia”: esteira sobre rolamentos que conduz o material até seu
peneiramento; outros transportadores podem ser usados para criar pilhas separadas do
material peneirado.
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4) “Conjunto peneirador”: peneiras dispostas em “decks” horizontais ou inclinados e que
separam o material britado nas dimensões comerciais dos agregados para construção.
Segundo Gentil Ferraz, proprietário da recicladora Base Ambiental e de uma britadora de
mandíbulas, a reciclagem de resíduos de construção e demolição provoca um desgaste
pequeno para o britador, pois se trata de empregar um maquinário projetado para triturar
materiais mais resistentes que as frações de entulho, o que torna economicamente vantajoso o
uso de máquinas usadas no caso de uma recicladora de RCD.
Já para obtenção de uma produtividade que torne a reciclagem competitiva no mercado de
agregados inertes, é preciso um investimento elevado no conjunto britador. É o que indica a
experiência da recicladora Urbem, que possui uma britadora de impacto capaz de fragmentar
50 toneladas de entulho por hora e é a empresa de maior capital entre as recicladoras
visitadas.
A Urbem evidencia o duplo mercado concorrencial em que se insere a reciclagem de RCD: o
de áreas privadas de aterro e o de fornecimento de agregados para construção civil. Como
área de destinação de entulho, ela concorre com os aterros privados Lara, em Mauá, e o Sete
Praias, no extremo sul de São Paulo. Pratica um taxa de deposição relativamente barata, mas
exige que a triagem do material seja feito no local de geração. Para o entulho gerado no
grande ABC ou na região sudeste de São Paulo, nenhuma outra destinação final é mais
econômica. Como produtor de agregados, concorre com as grandes pedreiras que fornecem
para obras de infra-estrutura em São Paulo, onde o fator decisivo é o transporte, sempre mais
barato para o minerador de agregados naturais devido à escala desta produção.

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[1] No alto à direita pode-se ver parte da câmara metálica que contém a britadora de impacto da ATTR Urbem. O agregado é
recolhido dentro de uma câmara ventilada abaixo por um primeiro trecho de transportador por correia, onde um eletroimã retira
os restos metálicos da britagem.
[2] No segundo trecho de transportadores por correia, os agregados são levados até o conjunto peneirador, onde as diversas
granulometrias são conduzidas para pilhas de reciclados separadas por tamanho.

Para o gerador e transportador de entulho, só faz sentido destinar material para uma
recicladora se ela for uma alternativa às áreas de aterro reconhecidas dentro do sistema
público de gestão de RCD. Neste sentido, o combate à deposição clandestina de entulho é
uma condição necessária para preservar a própria atividade de reciclagem.

Síntese: Do ponto de vista ambiental, tanto a operação de triagem e transbordo quanto a de


reciclagem de RCD devem exercer um controle de poeira e ruído. Do ponto de vista
operacional, a triagem e transbordo se assenta no uso de uma máquina comum na
construção civil, a pá-carregadeira, enquanto que a operação de reciclagem se assenta
num conjunto especializado de máquinas oriundas da mineração, o conjunto britador,
que recebe, fragmenta, transporta e peneira o material reciclado.

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2. ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICA

2.1 - Os terrenos disponíveis no Jd Pantanal e seu licenciamento

Os dois terrenos nos limites do Jd Pantanal apresentados como disponíveis para implantação
de uma ATTR são similares no que diz respeito ao acesso à infra-estrutura de energia elétrica
e de água: ambos comportam ligação simples com a rede pública de água (com hidrômetro de
¾”) e uma ligação trifásica com a rede de média tensão da concessionária Eletropaulo,
considerando um consumo energético máximo em torno de 35 kW. No entanto, os terrenos
apresentam disparidades importantes no que diz respeito a dimensões, acessos e
regularização de ocupação urbana.

ETE São Miguel Terreno do Pq. Poliesportivo

Obras do viaduto Jacu-Pêssego Cia Nitroquímica Terreno da r. Tietê

O primeiro terreno tem grandes dimensões, sendo uma área livre contínua entre a várzea do rio
Tietê e os fundos de casas acessadas pela Av. José Martins Lisboa e Av. Kumaki Aoki, com
um perímetro significativo formado por ruas que ainda não estão lançadas no Mapa Oficial da
Cidade. A delimitação de uma parte mais acessível do terreno posicionada ao sul de um
prolongamento imaginário da Av. Kumaki Aoki resultaria numa área de 60 mil m².
A localização próxima a vias importantes entre a linha da CPTM e a Rodovia Ayrton Senna
(entre elas a Av. Prof. Alípio de Barros), favorece especialmente a implantação de uma ATTR
neste terreno. O tráfego de caminhões de caçamba exige arruamento largo e que seja
acessível por ligações viárias de escala regional. O próprio fato do terreno receber grande
carga de entulho clandestino, formando um aterro em linha ao longo de seu eixo longitudinal,
se deve mais à sua acessibilidade do que ao seu tamanho.
O segundo terreno tem área menor de 3200 m², formada por um retângulo de 40 m x 80 m
aproximadamente, delimitado em um de seus lados maiores por via pública: a rua Tietê na
altura do nº 705. Um outro lado menor seria delimitado pelo prolongamento da rua São Paulo,
que nunca foi construída e se encontra em parte obstruída por edificações clandestinas. O
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terreno está inserido em área de densa ocupação habitacional e conta com uma casa térrea
em bom estado.
A localização do terreno num trecho limítrofe do arruamento oficial de São Miguel dificulta o
acesso de caminhões de caçamba ou caminhões basculantes, tanto pelo tamanho das ruas
quanto pela distância em relação às principais ligações viárias do distrito de São Miguel.

As imagens aéreas dos dois terrenos


disponíveis para implantação de uma ATTR no
Jd Pantanal estão na mesma escala, o que
mostra a diferença quanto a área disponível
para construção e a amplitude do arrumento de
acesso.
No terreno do pq poliesportivo é possível ver
duas entradas de deposição clandestina de
entulho, pela Av. Kumoki Aoki e pela r. Cosme
dos Santos.
No terreno da rua Tietê é possível ver a
proximidade com as habitações vizinhas,
incluindo o Instituto Alana, cujo telhado aparece
à esquerda da imagem.

Av. Kumaki Aoki Av. José Martins Lisboa r. Cosme dos Santos Inst. Alana r. Tietê

Além da acessibilidade, as dimensões do terreno da rua Tietê implicam em restrições


operacionais para a implantação de uma ATTR. Estas restrições não inviabilizam tecnicamente
a operação de triagem, transbordo e estocagem do agregado reciclado - a recicladora Base
Ambiental utiliza efetivamente 2890 m² do terreno de 3500 m² que ocupa junto à Via Fernão
Dias - mas encarecem o controle de poeira e ruído, pois sua operação acontecerá muito

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[1] Vista do terreno da rua Tietê - onde está a pilha de entulho deveria passar a rua São Paulo. A casa à esquerda faz parte do
terreno, bem como a estrutura metálica sem cobertura.
[2] Entulho clandestino no terreno onde será implantado o pq. poliestportivo do Jd Pantanal. A foto mostra a diferença de altura
entre o nível natural do terreno e a pista formada pelo entulho.

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próxima das residências vizinhas. Seria preciso um grande investimento em aspersores de
água e cercamento, o que dificulta o licenciamento ambiental junto à empresa estadual Cetesb.
No entanto, a análise do aspecto fundiário do terreno da rua Tietê indica que apenas nele uma
ATTR no Jd Pantanal poderia ter viabilidade comercial, pois, dos dois terrenos disponíveis, é o
único com propriedade privada registrada em cartório de imóveis e com inscrição fiscal como
contribuinte de IPTU. Esta regularidade fundiária e cadastral é essencial para obtenção da
licença de operação para triagem e transbordo junto à Prefeitura de São Paulo. Apenas desta
forma, a ATTR do Jd Pantanal poderia ser um empreendimento integrante do Plano de Gestão
municipal de RCD e se beneficiar do apoio institucional da Limpurb.
Para reforçar esta disparidade de situação legal, o terreno próximo à Av. José Martins Lisboa e
Av. Kumaki Aoki não é de propriedade privada e está destinado à construção de um parque
poliesportivo por determinação do Comitê de Gestão de Bacia do Alto Tietê. A implantação de
uma ATTR dentro de um terreno destinado a um parque poliesportivo, se por um lado é
especialmente viável do ponto de vista técnico, por outro lado implica descartar que a operação
de triagem, transbordo e reciclagem de RCD tenha uma finalidade comercial, finalidade que só
poderia ser exercida no terreno da rua Tietê.

Síntese: Por sua dimensão e acessibilidade, o terreno junto à Av. Kumaki Aoki é tecnicamente
mais indicado para a implantação de uma ATTR junto ao Jd Pantanal. No entanto, esta
implantação precisa descartar o licenciamento de sua operação comercial, que só é
possível no terreno da rua Tietê.

2.2 - Finalidade da ATTR no Jd Pantanal e adequação de equipamentos

Para que a viabilidade técnica de implantação de ATTR no terreno destinado ao parque


poliesportivo do Jd Pantanal tenha viabilidade social, ela deve estar à serviço de um projeto de
recuperação ambiental. Ao invés de fornecer agregado para obras civis fora do Jd Pantanal,
em concorrência com os demais produtores de agregado da cidade, a atividade de reciclagem
forneceria agregados exclusivamente para baratear as obras de sua própria urbanização, para
a qual a produção de agregados inertes no local pode ser um insumo importante. Outra frente
de urbanização importante que poderia se beneficiar da atividade de triagem e transbordo de
RCD classe A é a execução de aterros com controle tecnológico e a serviço de um projeto de
urbanização rigoroso, algo que os aterros clandestinos comuns no Jd Pantanal não podem
oferecer uma vez que acontecem sem compactação e com material expansível ou
contaminante.
Associar a viabilidade social da reciclagem de entulho diretamente a um programa de renda
seria mais difícil, pois uma ATTR em pleno funcionamento não é uma grande empregadora de
mão-de-obra. Segundo José Rubens Gomes, gerente da ATT Sete Praias, a reciclagem de
entulho só gera um posto de trabalho a cada 500 m³ de RCD processado, além de se tratar de
atividade em ambiente com alguma periculosidade e que exige qualificação para lidar com
maquinário caro e complexo. Na mais eficiente e bem sucedida recicladora de entulho, a
Urbem, são empregados menos de 10 funcionários, além de auxiliar administrativo e gerente.
Na recicladora Base Ambiental, há apenas 4 funcionários.
O equipamento mais adequado para esta atividade de reciclagem voltado às próprias
necessidades de urbanização do Jd Pantanal é uma usina de britagem de planta móvel, uma
adaptação do conjunto de britagem para construção e reforma de estradas em regiões com
abundância de pedra. O alimentador e a máquina de britagem primária são montados sobre
chassis de caminhão ou em base rebocável com pneus. Existem conjuntos de grandes
dimensões e capacidade de britagem, mas o mais recomendável são os modelos compactos,
dimensionados para britagens de pequenos volumes, pois assim o conjunto de britagem
poderia se deslocar por diversos pontos do Jd Pantanal em que fosse mais conveniente para a
produção de agregado inerte, seja para evitar viagens constantes de caminhão, seja para se
aproximar de locais de deposição de entulho. Uma outra vantagem é uma diminuição relativa
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das exigências de licenciamento ambiental, pois o conjunto móvel é uma máquina associada a
obras transitórias de infra-estrutura.
Uma especificação ótima seria um alimentador com grelha vibratória com motor de 10 cv;
britador de mandíbula com potência instalada de 10 cv e capacidade para produzir 2 m³/h de
brita 1 (brita menor que 19 mm de diâmetro - a mais usada em edificação); uma única correia
transportadora com potência de 3 cv e peneira vibratória de 2 decks com potência de 5 cv. Um
estudo mais detalhado de um programa de produção de agregados pode especificar mais um
britador, desta vez unicamente para britagem secundária de agregados e uma lavadora de
tambor para retirada das partículas finas da areia reciclada. Além da pá-carregadeira, uma
britadeira manual pode ser usada para diminuir o volume de entulho.

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[1] Conjunto móvel de britagem fabricado pela empresa Metso, em arranjo compacto de chassis único. A correia que move o
britador também vibra um conjunto peneirador horizontal, com dois decks. No caso do menor modelo, chamado de “Mineirinho”,
as dimensões indicadas no desenho são L = 3,8 m, H = 2,0 m e h = 1,6 m.
[2] O desenho esquemático do conjunto móvel, que mostra sua complementação possível com um conjunto peneirador inclinado
alimentado por transportador de correia..

O custo de aquisição do equipamento especificado pode ser estimado em R$ 140 mil para
máquinas usadas. Uma pá-carregadeira usada para uso na ATTR pode ser comprada em São
Paulo por R$ 20 mil. Como parâmetro para o consumo mensal de energia deste equipamento,
pode-se adotar 1 kW/mês para cada 3 m³ de entulho reciclado e 50 l de óleo diesel por turno
de 8 horas da pá-carregadeira.
O potencial de deslocamento da usina de reciclagem poderia ser aproveitado no próprio
terreno do parque poliesportivo, pois ela poderia se instalar próxima aos diferentes pontos de
lançamento clandestino de entulho no terreno para britar a parte mineral, enquanto a parte
contaminante é triada e transportada para outro destino.

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[1] Britador móvel em operação numa rodovia de São Paulo. O deslocamento desta máquina permite produzir agregados em locais
próximos a jazidas de rochas ou frentes de trabalho.
[2] Entulho de gesso depositado clandestinamente no terreno do Pq Poliesportivo. A triagem do material depositado ilegalmente
pode estar a serviço também de seu beneficiamento por uma recicladora móvel.

Vê-se então que o uso da usina de reciclagem para fins de urbanização necessita ser
subsidiado, pois lida com um estoque de RCD já existente, sobre o qual não pode ser cobrado
uma taxa de deposição e cuja triagem e reciclagem in situ implica em diversos custos de
deslocamento e operação.

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Toda racionalidade comercial da triagem, transbordo e reciclagem de entulho se assenta na
cobrança de uma taxa para recebimento do material (“cada grão de areia que entrar numa
ATTR deve ser cobrado”, como disse em entrevista o gerente da Limpurb, Valdecir Papazissis).
Pela situação fundiário do terreno em que é viável manter como base de operação, a ATTR no
Jd Pantanal está impossibilitada de seguir esta racionalidade comercial e deve atuar de forma
restrita dentro dos custos subsidiados de urbanização da própria região. Neste lógica
subsidiada, ela é uma forma de barateamento das obras de infra-estrutura e saneamento que
são necessárias para melhoria de qualidade de vida no Jd Pantanal e para as quais o
equipamento de reciclagem mais adequado deve ter características de mobilidade e
compacidade.

Síntese: as obras de urbanização do Jd Pantanal, a começar pela urbanização do próprio terreno


do futuro Parque Poliesportivo, formam um campo de atuação de longo prazo para uma
ATTR no Jd Pantanal, adequado para aquisição de um equipamento móvel e compacto.
A sustentação econômica da ATTR deve se dar pela diminuição dos custos da
urbanização local e não pela geração de renda em concorrência com os demais aterros e
recicladoras de RCD de São Paulo.

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3. DOCUMENTOS DE REFERÊNCIA
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004). NBR 15112: resíduos da construção
civil e resíduos volumosos - áreas de transbordo e triagem. São Paulo: ABNT
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004). NBR 15113: resíduos sólidos da
construção civil e resíduos inertes - aterros. São Paulo: ABNT
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004). NBR 15114: resíduos da construção
civil e resíduos volumosos - áreas de reciclagem. São Paulo: ABNT
ATHAYDE JR, Gilson; FERRARI JR, Marle (2004). Viabilidade econômica de uma usina de
reciclagem de entulhos em Governador Valadares. Gov. Valadares: Universidade Vale do Rio
Doce.
CASSA, João Silva (2001). Reciclagem de entulho para produção de materiais de construção.
Salvador: EDUFBA / CEF.
JADOVSKI, Iuri (2005). Diretrizes técnicas e econômicas para usinas de reciclagem de
resíduos de construção e demolição. Porto Alegre: Trabalho de conclusão de curso -
EE/UFRGS.
LEVY, Salomon (2006). Desafios enfrentados pelos agregados reciclados. São Paulo: Palestra
proferida no seminário Ecovale 2006 - Uninove / Ibracon.
METSO (2004). Manual de britagem Metso, 6ª edição. São Paulo: Anepac.
SCHNEIDER, Dan Moche; PHILIPPI JR, Arlindo (2004). “Gestão pública de resíduos da
construção civil no município de São Paulo”. In: Ambiente Construído, nº 4. Porto Alegre:
Antac.

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