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Alexandre Herculano

Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo nasceu em Lisboa no ano


1810, descendente de comerciantes e de predreiros. Era filho de um modesto
funcionário administrativo. Preparou-se no colégio dos Oratorianos para
matricular-se na Universidade, mas a morte do pai obrigou-o a desviar-se para
um curso mais utilitário e rápido com vista a um emprego no funcionalismo. A
sua informação cultural realizou-se na época incerta que sucede às Invasões.
Fugiu em Inglaterra porque em 1831 compromete-se na revolta contra o regime
de D. Manuel. Depois regressou em Portugal e foi nomeado segundo-
bibliotecário da Biblioteca Pública. Em 1866 casa-se com uma senhora de quem
se enamorara na juventude e com quem interompera o noivado alegando que o
matrimónio era incompatível com a vida literária. O seu falecimento, em 1877,
deu lugar a uma grande manifestação nacional de luto.
Desde as primeiras produções conhecidas, a poesia de Herculano insere-se
em pleno ambiente pomântico. Herculano nunca se afastou do tipo de poesia
definido na sua mais antiga composição conhecida: uma meditação a propósito
de uma paisagem, de um facto, de um monumento ou de ruínas; reflexões muito
explícitas sobre a morte, sobre Deus, sobre a liberdade, sobre o contraste emtre a
transitoriedade humana e o infinito que a transcende. Todas as poesias de
Herculano tendem para problemas genéricos ou sentimentais: a paisagem, como
as próprias atitudes emotivas, servem de veículo a meditações filosóficas,
morais religiosas e outras. Falta a esta poesia o lirismo confessional. Em troca
abundam a reflexão e o testemunho. Salientemos de entre o conjunto os poemas
que se referem à querra civil e ao exílio. É um dos raros testemunhos poéticos da
grande crise social da instauração do liberalismo em Portugal.
Semlhantemente a Vítor Hugo, Herculano atrbui à poesia uma função
pública, doutrinária e intervencionista, e tenta também dar através dela

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expressão à contemporaneidade, versando temas de interesse político, social e
religioso. Interessam-lhe predominantemente questões como a apologia do
Cristianismo contra a irreligião iluminista (A Cruz Matilda por exemplo); a
responsabilidade do clero monástico na querra civil; o apoio à legislação
antimonástica; o perdão para os vencidos da querra. O amor quase não tem lugar
na posesia de Herculano.
Formalmente, ela justapõe o discurso solene e retórico insistindo num
vocabulário evocativo do belo horrível, apocalíptico ou sepulcral, usando
circunlóquios eufemísticos e até certos recursos clássicos como o hipérbato, a
expressão directa de ideias e factos. É certo que, entre a grandiloquência
profética e a factualidade, faltam ao estilo poético de Herculano as imagens
transfiguradoras do esquema conceptual. Quanto a versificação, predominam em
Herculano a estrofe livre em verso branco, segundo a tradição arcádica, e a
quadra, sobretudo em redondilha. Pode considerar-se romântica a diversidade
métrica dos seus poemas longos.
Alexandre Herculano introduziu em Portugal o novo género do romance
consagrado por Walter Scott, o romance histórico. Nos seus romances e
narrativas históricas, Herculano deu expressão a múltiplas tendências e
interesses que As Poesias, as obras polémicas e as obras históricas apenas
parcialmente revelam. O sentimento da eternidade em contraste com o efémero
das vidas humanas é o sentimento muito característico das narrativas históricas
do autor. São igualmente de origem religiosa certos temas característicos dos
romances de Herculano. Em quase todos eles ocupa posição central o tema do
sacrilégio, isto é, a violção de mandados divinos, que precipita os protagonistas
na expiação cruciante.
As principais personagens dos romances de Herculano são como que
encarnações, dotadas de forças sobre-humanas, anjos ou diabos, consagrados a
uma obra da maldição ou de santificação. A polarização bem romântica entre os
dois extremos do sagrado (o divino e o demoníaco) transparece também na

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adjectivação e em imagens tiradas do culto. É uma estrutura comum à poesia de
Herculano.
Outra característica geral do seu romance é o gosto da reconstituição
minuciosa de trajos, interiores, arquitecturas, ceremónias e festividades. Há
ainda a considerar como característica geral do romance histórico de Herculano
o culto do cavaleiresco.
Finalmente, passando por alto vários spectos, Herculano deixou
assinalado na novelística o seu interesse pelos estudos históricos e toda uma
concepção da história. Os seus diversos romances abarcam o conjunto da Idade
Média portuguesa, a cuja investigação se consagrou especialmente: no Eurico,
no Alcaide de Santarém, o domínio árabe; na Dama Pé de Cabra, a época da
Reconquista; no Bobo, a formação da nacionalidade; em Arras por Foro de
Espanha, n’O Monge de Cister, na Abóbada, a crise que marca o advento da
centralização régia.
A prosa de Herculano tem uma intenção poética em que o ritmo,
combinado com o vocabulário nobre, com o vigor sugerido pela tendência
amplificadora e pela dinâmica dos contrastes que reside ainda hoje um dos
atractivos da sua leitura.
Em lugar das histórias dos indivíduos e perípecias, Herculano procura dar-
nos a da colectividade através das instituições, direito, sentimentos colectivos,
relações políticas entre as diversas forças e classes sociais.
História de Portugal é uma história das instituições, completada com a
dos factos políticos. Os limites desta obra são de duas ordens – por um lado, a
insuficiente informação relativa às estruturas económicas e laborais e por outro
lado – a quase ausência da problemática etnolóica, linguística e cultural.
A actividade de Herculano como historiador é um aspecto da sua
participação no debate dos problemas primaciais do seu tempo. Na obra do autor
ocupam um lugar muito importante os artigos de polémica circunstancial. Uma
parte deste material nasceu de uma intensa actividade jornalística.

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A actividade de Herculano como jornalista e polemista tem duas épocas:
na primeira predominam os assuntos políticos, pedagógicos e literários
relacionados com a adaptação das novas instituições; na segunda predominam os
temas relacionados com a crise social europeia, com as novas condições sociais
portugueses que se desenvolvem a partir da Regeneração (1851) e com a
adaptação da hierarquia religiosa à nova estabilidade hegemonizada pela alta
burguesia, em grande parte nobilitada.
Algumas das melhores qualidades literárias de Herculano ressaltam nos
seus artigos e obras polémicas, que o consagram como o maior polemista
português. Em resumo pode afirmar-se que Herculano foi um dos introdutores
do Romantismo em Portugal juntamente com Almeida Garett. Foi, além de um
dos mais importantes escritores portugueses do século XIX, o renovador do
estudo da história de Portugal.

BIBLIOGRAFIA:
1. MACHADO, Àlvaro Manuel (org., coord.), Dicionário da Literatura

Portuguesa, Lisboa, Ed. Presença, 1996.


2. SARAIVA, António José, LOPES, Óscar, História da Literatura

Portuguesa, 13.ª ed. rev., Porto, Porto Ed., 1985

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