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Quando aceitou o desafio de participar no Dakar não faltou quem elogiasse a atitude de Carlos Sousa. O
piloto regressava à competição depois de alguns meses arredado por problemas de saúde, voltava a ter
a humildade de integrar uma mais limitada equipa privada e, sobretudo, não se coibia de ser o único dos
privados a alinhar aos comandos de uma viatura com uma restrição de motor e caixa de velocidades.
“Enalteço o enorme ‘fair-play’ do Carlos ao aceitar participar nestas condições, até porque a diferença
de andamento para os outros carros, infelizmente, será real, representando uma perda de 30 cavalos
e cerca de 25 km/h de velocidade de ponta”, afirmava Dominique Serieys, “team-manager” da equipa,
nos dias que antecederam a partida.
Volvidos seis dias de prova, os objectivos não estão alcançados... Estão completamente superados! O
piloto não só está classificado entre os 10 primeiros (o que se tinha proposto à partida) como já está no
top-5. Melhor aliás... É já o quarto classificado da geral, só sendo superado por três dos cinco VW oficiais
que partiram da cidade de Buenos Aires. Um resultado verdadeiramente notável para aquele que é o
melhor piloto português de todo-o-terreno (o palmarés desfaz qualquer dúvida...), já que para além de
ser o quarto da geral, Carlos Sousa é também o primeiro dos privados, o primeiro dos portugueses e o
primeiro dos pilotos aos comandos de uma viatura equipada com motor a gasolina!
“A etapa correu bem”, começou por afirmar Carlos Sousa à chegada ao bivouac instalado em Iquique,
depois de ter estabelecido o sétimo melhor tempo nos 418 quilómetros cronometrados da especial.
“Nos primeiros quilómetros e a exemplo do que aconteceu com muitos outros pilotos, cometemos um
erro de navegação, mas depois tudo correu normalmente, sem incidentes. Aliás, até foi uma etapa
algo solitária, já que depois de ter sido ultrapassado pelos Hummer na zona de dunas, rodei
praticamente sozinho até final”.
Quando instado a comentar o excelente quarto lugar da geral em que se encontra classificado, Carlos
Sousa confessa que “é óbvio que não estava à espera de um resultado destes, ainda para mais na
primeira semana de prova. No entanto, ainda há muito rali para percorrer e o dia de amanhã é,
indiscutivelmente, um dos maiores desafios que vamos ter de enfrentar. O dia de sábado é de
descanso, mas no domingo é como se começasse um segundo Dakar”. Para o português, o segredo do
resultado reside em três factores essenciais: “A concentração com que tenho enfrentado cada dia, a
boa navegação do Matthieu Baumel, mas também a extraordinária fiabilidade que o meu Mitsubishi
continua a revelar. Como me sinto muito bem fisicamente e psicologicamente, vamos ver como as
coisas correm a partir daqui, sendo que, para o dia de amanhã, os objectivos passam por chegar ao
final da etapa e conservar a quarta posição”.
É a mais longa especial do rali e também a mais variada. Após deixarem Iquique, os concorrentes terão
de ultrapassar um imenso cordão de dunas logo na primeira parte do dia. Mas pior será encontrar a
técnica ideal quando tiverem que atravessar uma planície salgada de cerca de três quilómetros. Neste
terreno repleto de grandes blocos de sal, nunca visto pela maior parte dos concorrentes, a velocidade
descerá para menos de 10 km/h! Depois de digerida esta prova, as pistas em direcção a Antofagasta
serão, na sua maioria, rápidas e abertas. O regulamento permitirá aos pilotos chegar ao bivouac até às
6h do dia seguinte.