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XIII - Leve

Leve, leve, muito leve,


Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu no sei o que penso
Nem procuro sab-lo.

XIV - No me Importo com as Rimas


No me importo com as rimas. Raras vezes
H duas rvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores tm cor
Mas com menos perfeio no meu modo de exprimir-me
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo s o meu exterior
Olho e comovo-me,
Comovo-me como a gua corre quando o cho inclinado,
E a minha poesia natural como o levantar-se vento...

XLIX - Meto-me para Dentro


Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e do as boas noites,
E a minha voz contente d as boas noites.
Oxal a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O ltimo olhar amigo dado ao sossego das rvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.
E l fora um grande silncio como um deus que dorme.

Nunca Sei

Nunca sei como que se pode achar um poente triste.


S se por um poente no ter uma madrugada.
Mas se ele um poente, como que ele havia de ser uma
madrugada?

Noite de So Joo
Noite de S. Joo para alm do muro do meu quintal.
Do lado de c, eu sem noite de S. Joo.
Porque h S. Joo onde o festejam.
Para mim h uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um rudo de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem no sabe que eu existo.

Navio que Partes


Navio que partes para longe,
Por que que, ao contrrio dos outros,
No fico, depois de desapareceres, com saudades de ti?
Porque quando te no vejo, deixaste de existir.
E se se tem saudades do que no existe,
Sinto-a em relao a cousa nenhuma;
No do navio, de ns, que sentimos saudade.

No Basta
No basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
No bastante no ser cego
Para ver as rvores e as flores.
preciso tambm no ter filosofia nenhuma.
Com filosofia no h rvores: h idias apenas.
H s cada um de ns, como uma cave.
H s uma janela fechada, e todo o mundo l fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca o que se v quando se abre a janela.

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