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A AVALIAGRO MORAL senta somente por causa desta rfgida oposicdo kantiana entre o agir por dever ¢ qualquer outro tipo de agir que nao se baseie neste moti- vo, ainda que se trate de operar de acordo com o dever. Em suma, a concep¢éo kantiana da “boa vontade”, por seu caré- ter ideal, abstrato universal, oferece-nos um conceito do bom total- mente inexeqitvel neste mundo real e, portanto, inoperante para a regulamentacao das relagées entre os homens concretos. 6.0 BOM COMO UTIL (UTILITARISMO) A concepgo do bom como stil tem seus principais expoentes em Jeremy Bentham (1748-1832) ¢ John Stuart Mill (1806-1873); por esta raz, ao expor € criticar o utilitarismo neste ponto, teremos pre~ sentes particularmente as suas idéias. Para esclarecer a relag4o que os utilitaristas estabelecem entre 0 bom e 0 titil, & necessdrio compreender suas respostas a duas pergun- tas fundamentais, quais sejam: a) Uril para quem? 'b) Em que consiste o vil? A primeira pergunta se justifica para dissipar uma falsa opinido sobre o utilitarismo, interpretado no sentido egofsta, bastante divul- gada e de acordo com a qual o bom seria somente 0 titil ou proveito- so para mim: isto & 0 que contribui para o bem-estar de um indivi- duo, prescindindo de que seja vantajoso também para outras pessoas, ou para a sociedade inteira. Numa concep¢io semelhante, seria incon- cebivel o sactificio de um a favor do outro ou da coletividade. O uti- litarismo assim concebido seria uma forma de egoismo ético, coisa que nao sustentam os grandes pensadores utilitaristas antes citados. Eliminada esta significagao do “étil” (como o util para mim, independentemente de que 0 seja ou ndo para os outros), seria possi- 168 erica, vel interpretar 0 utilitarismo no sentido oposto: como uma doutrina ‘que concebe o bom como o itil para os outros, independentemente de que coincida ou nao com nosso préprio bem-estar pessoal. De acordo ‘com esta posicao, o bem seria o titil para os outros, ainda que esta uti- Tidade entrasse em contradigao com meus interesses pessoais. O utili- tarismo seria assim — em diametral oposi¢ao ao egoismo ético — um altruismo ético. ois bem; © utilitarismo pretende ser mais exatamente a supera- ‘do de ambas as posicdes extremas e unilaterais. © egoismo ético ex- lui os demais: 0 bom é somente o que serve a um interesse pessoal. O altruismo ético exclui este interesse pessoal e vé o bom somente naqui- Jo que visa a um interesse geral (0 dos outros). O utilitarismo susten- ‘Mas, como conciliar os diversos interesses — 0 dos demais e 0 meu — quando entram em conflito? Um conflito semelhante pode apresentar-se, por exemplo, quando um pais pequeno é agredido por ‘uma poténcia estrangeira e se trava entdo uma guerra justa, defensiva e patriética. O interesse pessoal exige, de um lado, que se conserve a propria vida ou que no se renuncie &s suas comodidades, mas 0 inte- resse geral reclama, por sua vez, a rentincia a estas comodidades e la no campo de batalha. O utilitarismo accitard neste do interesse pessoal, da Felicidade propria ou até da propria vida a favor dos demiais ou em beneficio da comunidade intei- ra, Mas este saérificio no sera considerado bom ou Gril em si, mas na medida em que contribua para aumentar ou estender a quantidade de bem para o maior mimero. Inclusive sacrificar a vida, neste caso, seré til ou proveitoso (isto é, bom) porque, do contrério, ocorreriam males maiores (ou seja, as conseqiigncias seriam piores) do que se se realizasse qualquer outro ato em seu lugar. ‘Vé-se entdo que o bom (o itil) depende das conseqiiéncias. Um ato sera bom se tem boas conseqiiéncias, independentemente do moti- vo que levou a fazé-lo ou da intengdo que se pretendeu concretizar. (Ou seja: independentemente do fato de que o agente moral se tenha 169 A AVALIAGAO MORAL proposto ou no que um seu ato seja vantajoso para si, para os demais, ou para toda a comunidade, o ato — se é benéfico nas suas conse- qiéncias — seré util e, por conseguinte, bom. Mas como s6 podemos conhecer as conseqiiéncias depois de realizar ato moral, exige-se sempre uma avaliago ou um célculo prévio dos efeitos ou conseqiién- cias provaveis, que Bentham inclusive tentou quantificar. utilitarismo concebe, portanto, 0 bom como o itil, mas nao num sentido egoista on altruista, e sim no sentido geral de bom para _o maior mimero de homens. Responde, assim, & primeira pergunta: ‘Util para quem?) Vejamos agora a segunda. ‘A segunda pergunta se refere ao contedido do titil: © que € consi- derado mais proveitoso para o maior ntimero? As respostas variam: para Bentham, unicamente o-prazer € 0 bom ou itil; o utilitarismo combina-se aqui com o hedonismo. Para Stuart Mill, 0 étil ou bom & a felicidade. E, como por ela ndo se entende exclusivamente a felicida- de pessoal, mas a do maior ntimero possivel de homens, a sua doutri- na vem a ser uma forma de eudemonismo social. Mas 0 que se consi- dera bom on atil pode ser também o conhecimento, o poder, a rique- 2a ete, €, neste caso, teremos tipos diferentes de utilitarismo segundo a maneira diferente de conceber o contetido do ctil para o maior niimero. Se os bens intrinsecos que os nossos atos podem causar nio se reduzem a um $6, mas a uma pluralidade dos mesmos, teremos entdo um utilitarismo pluralista, de acordo com 0 qual o bom nao é uma 86 coisa — ou o prazer ou a felicidade — mas varias coisas que podem, ao mesmo tempo, considerar-se como boas. G. E. Moore, por exemplo, sustenta uma concepedo pluralista semelhante. ‘Ao utilitarismo se pode fazer uma série de objegdes. As mais importantes visam 0 seu principio distributive: “a maior felicidade para 0 maior niimero de homens”. Este principio esbarra em graves conflitos na sua aplicagao. Por exemplo: se 0 ato A produz mais feli- cidade para um mimero X de pessoas, e 0 ato B traz menos felicidade a um nimero ¥ maior, qual dos dois escolher? O que da maior felici- dade a um ntimero menor ou o que dé menor felicidade a um mimero maior? Se recorremos ao principio utilitarista da “maior felicidade 170 erica para o maior nimero”, veremos que no nos livra da dificuldade, por- que somos forgados a decompor o principio em dois critérios unilate- rais que entram em conflito, e aplicar por forga um ou outro (0 da “maior felicidade” ou o do “maior mimero”), sem poder combinar os dois ao mesmo tempo, como quer 0 utilitarismo. Mas, de outro lado, as dificuldades crescem se se considera que, numa sociedade dividida em classes antagonicas, 0 “maior_nimero possivel” tropeca em limites insuperaveis impostos pela propria estru- tara social. Assim, por exemplo, se contetido do itil se identifica com a felicidade, o poder ou a riqueza, veremos que a distribuicao destes bens que se julgam valiosos nao pode estender-se além dos limi- tes impostos pela propria estrutura econémico-social da sociedade (Gipo de relagdes de propriedade, correlagao de classes, organiza estatal etc.). Finalmente, por ndo considerar as condigées sociais nas quais deve ser aplicado o seu prin cesquece que, nas sociedades baseadas na exploragio do homem pelo homem, a felicidade do maior ntimero de homens nao pode ser sepa~ rada da infelicidade que a toma possivel. Se, como exemplo, temos presente a sociedade escravista grega e, particularmente, a polis ate- niense, veremos que a felicidade do maior nimero (de homens livres) sinha por base a infelicidade de um ntimero ainda maior (de escravos). O mesmo se deve dizer de uma sociedade colonial na qual a felicida- de do maior ntimero (a minoria dos colonizadores) se constr6i sobre ‘a base da infelicidade da imensa maiotia (dos colonizados); ou no caso de um Estado industrial, regido pela lei da producao da mais- lia, no qual, com o progresso da industria e da técnica ¢ com 0 bens de consumo, @ infelicidade do homem manipula- do e coisificado nao faz sendo estender-se, embora as vezes nem sequer tenha consciéncia — a tal ponto chega a sua alienagio — de sua pr6pria infelicidade. A OBRIGATORIEDADE MORAL nao abandonar a sua mie e nao expé-la ao desespero ou talvez a mor- te —nio bé regra geral que possa ajudé-lo a escolher. ‘Mas, por outro lado, nao se pode deixar de escolher ou, como diz Sartre, de comprometer-se. Diante de duas possibilidades de ago, € preciso necessariamente escolher. Mas como escolher se nao se dispée de regras gerais ou de sinais que nos indiquem o caminho a seguir? A resposta de Sartre & a seguinte: se a liberdade é o supremo valor, 0 que importa € 0 grau de liberdade com que escolho ¢ realizo um ato. Nao importa, portanto, 0 que possa escolher ou fazer, mas 0 fato de com- prometer-se livremente. Nao hé, portanto, regra geral que nos diga 0 ‘que devemos fazer. Em cada ato concreto, 0 que importa é 0 grau de iberdade com que se age. Nao existe outro caminho a seguir; ¢ este ‘caminho cada um deve tracé-lo por si mesmo. Deixando de lado os pressupostos filoséficos sartrianos desta posicao em face do problema do contetido da obrigatoriedade moral, ‘© que nos interessa sublinhar é a sua caracteristica como “deontolo- gismo do ato”, na medida em que rejeita que se possa apelar para rincipios ou normas a fim de decidir, num caso concreto, o que se deva fazer. E preciso considerar que assim se reconhece — a diferenga de outras concepgdes especulativas ou metafisicas — 0 cardter parti- cular, concreto e inclusive nico de uma situagdo determinada, na qual devo escolher e agir. Isso é importante, mas no significa que diferentes sieuages particulares sejam to singulares que nao apresen- tem elementos comuns ou essenciais e, por conseguinte, nao s¢ lhes posso aplicar uma mesma norma. De outro uma norma geral e todas as decisdes € agoes grau de liberdade, ndo se poderia argilir, em rigor, que uma escolha ou uma aco é preferivel a outra. Final tra que, na pratica, é impossfvel um deor do se pretende decidir sem recorrer tivamente se apela para uma norma geral. O proprio Sartre formula implicitamente uma regra geral, apli- cdvel a todos os casos concretos — “escolhe livremente”, ou “decide com plena liberdade” —, embora, em rigor, nfo fique claro por que te, a experiéncia demons- 192 erica alguém se compromete ou por que se compromete quando escolhe livremente entre varias alternativas. 7. TEORIAS DEONTOLOGICAS DA NORMA (A TEORIA KANTIANA DA. ‘OBRIGAGAO MORAL) ‘As teorias deontolégicas da norma sustentam que 0 dever em cada caso particular deve ser determinado por normas que s4o validas independentemente das conseqiiéncias de sua aplicagao. Entre os representantes contempordneos desta concepcao da obrigatoriedade moral figuram Richard Price, Thomas Reid e W. D. Ross, mas a sua forma mais ilustrativa é a teoria da obrigatoriedade moral de Kant, tal como foi exposta na sua Critica da raziio pritica. Por conseguinte, examinemos esta doutrina kantiana entendida como deontologia da norma. Mas, em primeiro lugar, lembremos a sua concep¢o do bom, que jé expusemos, e com a qual a sua teoria da obrigacZo moral se relaciona intimamente. Da citada concep¢io do bom, tenhamos presentes estas teses fundamentais: a) 0 Gnico bom moralmente, sem restrigdes, € a boa vontades b) a boa vontade é a vontade de agir por deverse ©) a ago moralmente boa, como aco querida por uma boa von- tade, € aquela que se realiza néo somente de acordo com 0 dever, mas pelo dever. ‘Uma ago pode cumprir-se conforme o dever, mas ndo por dever, ¢ sim por inclinagdo ou interesse; neste €aso, nao sera moralmente boa. Mas quando é possivel dizer que atuamos realmente por dever € io obedecendo a uma inclinacdo ou a um interesse, por temor do castigo ou calculando as conseqiiéncias vantajosas ou prejudiciais de nossos atos? Quando agimos como seres racionais. Assim sendo, como a razo € a faculdade do universal, dizer que a boa vontade age 193 A OBRIGATORIEDADE MORAL por dever significa que age apenas de um modo universal, ou seja, de acordo com uma maxima universalizdvel (valida ndo s6 para mim, mas para os demais: maxima que, por conseguinte, ndo admite exce- ‘ges em nosso favor). A exigéncia da razao é uma exigencia de univer- esta exigéncia com a qual apresenta a sua lei — lei moral “a valida para todos os seres racionais — vontade do homem, que é, 20 mesmo tempo, racional e sensivel, assume a forma de um mandamento ou de um imperativo. Todos os imperativos ‘expressam o que deve fazer uma vonta pertencendo a um ser ao mesmo tempo racional e sens infalivelmente determinada por uma lei racional objetiva. Os impera- tivos indicam, portanto, um dever & vontade imperfeita (humana, nes- tecas0)- : Kant os imperativos em categ6ricos ¢ hipotéticos. Um imperativo é categérico quando declara que uma acdo € objetivamen- te necessdria sem que a sua realizacdo esteja subordinada a um fim ou a uma condigao; por isto, é uma norma que vale sem excesao. Segundo Kant, todas as normas morais (como “nao matar”, “nao roubar”, “ndo mentir”, “néo quebrar uma promessa” etc.) sdo deste tipo. Um imperativo € hiporético quando postula uma aco pratica- te necessdria se a vontade se propde determinado fim; por conse- guinte, subordina a sua realizagdo aos fins previstos como condig6es. ‘As regras préticas, da habilidade, sao deste tipo; por exemplo, “se {queres informar-te sobre este assunto, Ié esse livro”. A validade desta regra depende de uma condicio: querer informar-se. A acdo deve ser realizada somente enquanto se pretende alcangar este fim, e, portan- to, € a sua condi¢ao ou meio de realizacao. O imperativo categérico profbe os atos que néo podem ser universalizados e, portanto, nao admite excesio alguma em favor de ninguém. 'A formula suprema do mandamento da razao é aquela na qual a universalidade é absolutas ela prescreve o seguinte: “Age de mancira {que possas querer gue © motivo que te levou a agir seja uma lei uni- versal.” Esta fOrmula permite deduzir todas as méximas de onde pro- ‘vém nossas ages morais; mas no o seu contetido, e sim a sua forma 194 erica universal. Por isto, é 0 pri expresso da prépria lei moral. ‘Agir por dever é operar puramente conforme a lei moral que se expressa nos imperativos universalizaveis, e a vontade que age desta maneira, movida pelo sentimento do dever, independentemente de condigées e circunsténci ges, € uma vontade “boa”. O dever nfo € outra coisa sendo exigéncia de cumprimento da lei moral, em face da qual as paixdes, os apetites e inclinagGes silen- ciam. O dever se cumpre pelo préprio dever, pelo sentimento do dever de obedecer aos imperativos universalizéveis. ‘A teoria kantiana da obrigacao moral e, particularmente, a sua rigorosa exigéncia da universalidade nas normas morais, foi freqiien- temente objeto de sérias objecdes. Jé no seu tempo, em dois epigramas intitulados Escriépulo de consciéncia e Decisao, Schiller zombava de uma doutrina segundo a qual quem ajuda a seus amigos, seguindo 0 impulso do seu coragio, nao age moralmente, porque se deve despre- zar este impulso, e entao fazer, embora com repugnancia, 0 que 0 dever ordena. Por conseguinte, de dois atos visando a0 mesmo fim, ajudar os amigos, e dos quais um se realiza obedecendo a um impul- 80 ou inclinagao, enquanto 0 outro se efetua por dever, o primeiro seria moralmente mau e 0 segundo bom. ‘Mas as dificuldades crescem se comparamos dois atos distintos ‘por seus motivos e resultados: um ato realizado por dever que causa um mal outros e um ato realizado seguindo um impulso que, pelo contrario, produz um bem. Que devemos preferir? Se seguimos o rigor kantiano, teremos de decidir a favor do ato realizado por dever, ainda que acarrete um mal a outros, e nao a favor daquele que causa um bem, jé que a vontade boa é independente nao s6 de toda motiva- ga que no seja o sentimento do dever, como também das conse- qiiéncias dos atos. Novas dificuldades surgem a respeito da exigéncia de universali- dade das maximas ou normas derivadas da formula suprema do impe- rativo categérico, antes citada, e segundo a qual nada se deve fazer que no se queira ver transformado em lei universal. Segue que, se nos io formal de todos os deveres, ou a 195 A OBRIGATORIEDADE MORAL perguntamos o que devemos fazer numa situasio determinada, ares- Bosta nos serd dada pelo imperativo categSrico respectivo. Veremos ergo que © que devemos fazer € algo que pode ser universalizado que, pelo contrério, devemos evitar 0 que no pode ser universalizado fou que constitui uma excegio de uma norma universal. (© proprio Kant propée uma série de exemplos. Vejamos alguns eles, bem como as razbes em que se baseia para rejeitar as excesses ‘3 maxima respectiva e as objegbes que podemos fazer. “Argumento da promessa — A faz: uma promessa a B, que esta dispos- ‘to a ndo cumprir se assim lhe convém, de acordo com uma maxima que poderia ser a seguinte: “Se me convém, farei esta promessa, com ¢ intengio de nfo cumpri-la quando julgar oportuno.” Mas A no pode lopicamente querer que esta maxima se tome universal, POrauey ae se aceitasse universalmente que se pode fazer promessas que todos rir e tal norma se observasse universalmente, nao inguém que fizesse promessas €, logo, ndo haveria absolutamente mais promessas. Conclui-se que nunca se pode deixar de cumprir as promessas ¢ que € meu dever cumpri-las sempre. Esta a argumentagao de Kant. Pois bem; mas a norma moral segundo a qual devemos cumprir nossas promessas no pode admitir excegdes? Suponhamos que A promete a B vé-lo em horério determinado para tratar de assunto importante, € que, inesperadamente, precisa acudir a um amigo que cofreu um acidente. Ando pode cumprir a promessa ¢, portant, néo pode manter a universalidade da maxima “compre o que prometes”s vonteda, nem por isto o ndo cumprimento da promessa poderia ser reprovado moralmente neste caso, mas exatamente o contrdrio. ‘Qual é aqui a falha do argumento de Kant? © fato de no tomar ema consideragao um confliro de deveres e a necessidade de estabelecer uma ordem de prioridade entre eles. A deve cumprir o dever a, mas também o dever b, Se cumpre o primeiro, ndo pode cumprir 0 segun- do. Deve necessariamente ‘escolher entre os dois; mas qual deve ser 0 Gnitério para superar este conflito? Kant no pode indicé-lo, porque 196 erica, tudo aquilo que se faz por dever (cumprir a promessa ou ajudar um amigo) est no mesmo plano, por se sujeitar a0 mesmo principio for- mal, , logo, € igualmente bom. Seria necessétio entdo considerar 0 contetido do dever — coisa que Kant se profbe—, com 0 que poderia- mos estabelecer como, em circunsténcias determinadas ¢ em caso de conflito, um dever — o de ajudar um amigo — é mais imperioso do que 0 outro (manter uma promessa). Argento da mentira — & mxima ou norma moral “nao mentic” no pode sofrer excegdes, porque nao se poderia universalizar, de uma maneira coerente, a mentia. Alguém pode ficar calados mas, s¢ diz alguma coisa, deve dizer a verdade. Ou seja, Kant condena qual- quer smentira, sem exceco. Mas existem mentiras ¢ mentiras: a) men- tiras que prejudicam um colega, para fazer-se atribuir um mérito a que ndo se tem direito, para subtrair-se a uma responsabilidade pes- soal etc.; b) mentiras para evitar sofrimentos a um doente, para nao revelar segredos profissionais, para no prejudicar um colega etc. £ evidente que as primeiras merecem nossa reprovacao moral em nome de uma regra geral, e que as segundas ndo podem ser reprovadas, embora constinuem exceges mesma regra. E, pois, necessrio fazer distingSes, tendo presentes condicées e circunstncias, assim como as conseqiiéncias de nossos atos e, novamente, em face de um conflito de deveres, nado podemos deixar de considerar o seu conteiido para deci- die a favor do mais imperioso e vital. Argumento da cust6dia de bens — Alguém entrega a outro a cust6dia de seus bens. Seria justo que este ficasse com eles? A questo deve ser resolvida com a ajuda do imperativo categérico, mediante a conside- racdo de saber se 0 ato de ficar com os bens que foram confiados pode set universalizado. Kant diré que no, porque, se assim fosse, nin- ‘guém confiaria os seus bens a outro. Ja Hegel fazia uma objecdo a este argumento exclamando: E que nos importa que no possam ser con- fiados estes bens? Mas alguém talvez replique que entio se tornaria impossivel a propriedade privada. Ao que um terceiro, por sua vez, 197 ‘A OBRIGATORIEDADE MORAL poderia responder: E que importa a propriedade? Resulta assim — podemos acrescentar — que a universalidade da norma “nao te apro- ries dos bens que te sao confiados” assentaria sobre ume base precd- lo ponto de vista hist6rico, ou seja, a instituigao social da pro- ide privada, que nem sempre existiu e que, no que toca a uma série de bens — particularmente os meios de le producto —, jé oe admi- noutros jé foi abolida. Os exemplos antes citados, dados pelo proprio Kant, mostram que a rigida e absoluta exigéncia de universalidade postulada pela sua teoria da obrigacdo moral pode ser mantida exclusivamente num mundo humano que faz abstracdo dos conflitos entre deveres, do con- tetido concreto das maximas e déveres, assim como das coneretas nas quais se deve agir moralmente e das conseqiié nossos atos. Por conseguinte, trata-se de uma teoria da obrigacdo moral inoperante e inexegfifvel para o homem real. ‘8. TEORIAS TELEOLOGICAS (EGO{SMO E UTILITARISMO) Estas teorias tém em comum 0 relacionar a nossa obrigacao moral (0 ‘que devemos fazer) com as conseqiiéncias de nossa aco; vantagem ou beneficio que podem trazer, quer para nds mesmos quer ara os demais. Se, antes de tudo, se toma em consideragio o bem pessoal, teremos ent a teoria da obrigac&io moral do egoismo ético (“deves fazer 0 que te traz o maior bem, independentemente das con- seqiiéncias — boas ou mas — que derivem para os outros”). Se, antes de tudo, se considera o bem dos outros, sem implicar porém necessa- iamente na rentincia a0 proprio bem, teremos a teoria da obrigagao moral sob as diversas formas de atilitarismo (“faz aquilo que benefi- cia, fandamentalmente, 0s outros, ou o maior niimero de homens”). A tese fundamental do egoismo ético se pode formular como é,coma 198 ett segue: cada um deve agir de acordo com 0 seu interesse pessoal, pro- movendo, portanto, aquilo que é bom ou vant smio'€tiGo tem seu fundamento numa doutrina humana, ou da motivagao dos atos humanc homem é psiquicamente constituido de tal modc pre tende a satisfazer o seu interesse pessoal. Ou seja, o homem é por natureza um ser egoista. No passado esta doutrina foi defendida por ‘Thomas Hobbes (1588-1679) e, no nosso tempo, com variados mati- es, por Moritz Schick e outros. A teoria do egoismo psicolégico encontra uma confirmagao ape- nas precéria na experiéncia, porque esta nos ensina que 0s individuos fazem coisas para 0s outros que esto bem longe de satisfazer os seus PrOprios interesses, sobretudo se estes se interpretam num sentido estreitamente egoista (por exemplo, nos casos em que se defende uma ‘causa comum sacrificando até a propria vida). Como se poderia afir- mar, ento, que se deve procurar em beneficio pessoal — para satisfa- ‘go do “ego” ou porque nos proporciona o maior prazer — aquilo que & prejudicial para a prépria pessoa? E, se é discutivel que a natu- qual todos os homens devem ser egoistas, vé debilitado o seu fanda- mento. Assim, pois, como teoria da obrigacao moral, o egofsmo ético ‘Ou seja, o que devemos fazer ndo poderia basear-se naquilo que por nossa constituigo psiquica nos vemos impelidos a fazer (impulsos que nem sempre so egoistas). Mas se o egoismo ético no se baseia num suposto egoismo psicol6gico, resutaria que devemos fazer 0 que a fazer. Em suma, o egoismo — quer se baseie no egoismo psicolégico, quer nao se baseie nele — fracassa na sua intenc&o de explicar 0s atos a favor do outro que nao podem ser considerados como satisfagdo de interesse ou tendéncias egoistas. Sea teoria da obrigacdo moral no sentido de que devemos fazer 0 que sacia nosso egoismo ou puramente o interesse pessoal é inaceitd- vel, dever-se-4 examinar a teoria da obrigacdo que sustenta que deve- mos, antes de tudo, fazer 0 que traz vantagem para 0s outros e, por- 199 A OBRIGATORIEDADE MORAL tanto, em nosso comportamento devemos visar, acima de tudo, as conseqiiéncias que nossos atos podem acarretar para 0s outros mem- bros da comunidade. Esta teoria da obrigacio moral — dependente ‘esrreitamente da respectiva concepgio do’bom, que jé tratamos no capitulo anterior — é sustentada pelo stilizarismo. ‘Neste caso também — como nas teorias deontoligicas — é preci- s0 distinguir dois tipos de utilitarismo, conforme a obrigatoriedade moral se relacione principalmente com 0 ato (nosso dever, entlo. é realizar 0 ato que produz 0 méximo bem no somente para mim Gomid para 05 Outros) ou com a norma (nosso dever é agir de acordo ‘oma norma cuja aplicacdo produza o maior bem nao sé para mim, mas também para 0s outros). Existe, portanto, um utilitarismo do ato ‘eum utilitarismo da norma, mas; em ambos os casos, é preciso consi- derar, sobrerudo, as conseqiiéncias — proveitosas ou niio — de nossos ‘atos ou da aplicagao de uma norma para o maior ntimero de pessoas. 9, UTILITARISMO DO ATO E UTILITARISMO DA NORMA. De acordo com esta doutrina, cujos principais representantes so Jeremy Bentham ¢ Jobn Stuart Mill, devemos fazer aquilo que traz melhores resultados para o maior niimero, © que, em principio, no parece sujeito a objegSes. Portanto, em cada situacio concreta, deve- nos determinar qual € o efeito ou conseqiiéncia de um ato possivel Gecidir-nos pela realizago daquilo que pode trazer maior bem para 0 gnaior némero, lembrando que para Bentham o prazer € 0 tinico bem. "Mas 0 calculo dos efeitos ou conseqiiéncias nao é uma tarefa facil, ‘ainda que se faga por unidades numéricas, como pretendia Bentham no seu famoso “cdlculo hedonista”, no qual as unidades de bem eram nidades de prazer. De outro lado, a quantificagao do prazer est lon- ge de resolver o verdadeiro problema que interessa & consciéncia moral. ‘Suponhamos, por exemplo, que se podem calcular os efeitos de 200 erica dois atos a e b € que chegamos & conclusio de que produzem o mes- mo bem (100 unidades). Mas a implica uma injustica e b nao. Apesar disto, considerando que ambos os atos trazem o mesmo resultado numérico, o utilitarista diré que ambos so igualmente bons do pon- to de vista moral. Este argumento, empregado por Butler e Ross contra o utilitaris- mo do ato, atinge de fato somente a sua verso quantitativa, que dei- xa de lado — por nao ser possivel calculé-la — uma conseqiiéncia tao importante como a injustiga que acarreta. Pois bem; o referido argu- mento demonstra, na verdade, a impossibilidade pratica de calcular diretamente os efeitos ou conseqiiéncias dos atos morais ¢, por isto, 0 fato de que nao se pode deixar de apelar para a norma. Sendo a nor- ma uma generalizacao de experiéncias anteriores, com as quais a nova situagdo apresenta alguma analogia, podem-se prever — nao calcular diretamente — as conseqiiéncias de um ato possivel. Com este fim, devem-se tomar em consideracao os resultados anteriores da aplica- a0 da norma numa situago andloga precedente, assim como os fato- res peculiares da nova situagao. ‘Isso significa que, ao determinar 0s efeitos de um ato possivel € 20 estabelecer assim 0 que se deve fazer, ndo se pode prescindir da nor- iga mais adequada. bes e dificuldades do utilitarismo do ato levaram outros utilitaristas a aceitar a importéncia da norma. Segundo estes, devemios, agir de acordo com a norma cuja aplicagao garanta o maior bem para ‘© maior ntimero, no sentido de setor da sociedade, de uma comunida- de particular ou da sociedade inteira. Assim, pois, & pergunta sobre ‘como devemos agir numa situa¢o concreta, estes utilitaristas respon- Ses: escolhendo a norma cuja aplicagdo tenha melho- res conseqiiéncias para o maior mimero, ~"Mas aqui surgem graves dificuldades, em parte ja assinaladas, quando se trata de combinar os dois aspectos do principio utilitarista geral: 0 “maximo bem” e o “maior mimero”. Suponhamos que nos encontramos diante da necessidade de escolher entre duas normas a € b aplicaveis a um mesmo caso particular; a aplicagdo de @ traria um 201 A OBRIGATORIEDADE MORAL bem maior do que a de b, mas, no entanto, o niimero de pessoas que ficariam beneficiadas com a aplicagdo de a seria inferior ao da norma >. Texfamos entdo que a norma a, na sua aplicacao, produziria um maior bem para um menor niimero de pessoas, a0 passo que a aplica- ‘¢do de b causaria um bem menor para um maior nimero. Como deci- Gir neste caso? E preciso optar entre estas duas alternativas: maior bem para menor néimero de pessoas ou menor bem para um maior niimero, Tlustremos isso com um exemplo. Num pais bloqueado, certos ali- racionamento deve obedecer ao principio util pa 1x niimero”. Como proceder neste caso? Serd justo distri jr o leite eqiitativamente entre todos os membros da populacio, ou a mesma ragdo para todos? Assim, aparentemente, teriamos 0 maximo bem possivel para o maior ntimero; mas, neste caso, cada habitante do pais bloqueado receberia uma quantidade de leite tao ‘pequena que, praticamente, ndo poderia satisfazer as exigéncias mini- mas. com a agravante de que os mais fracos e mais necessitados dele — ‘as criancas e os doentes, bem como os trabalhadores mais ativos — se veriam prejudicados na sua satide ou na sua capacidade de trabalho por causa desta distribuicéo igualitaria. Ocorreria assim que um bem igual para todos, consideradas as necessidades de uma parte da popu- lagio, se transformaria de fato num bem minimo ou num bem desi- gual para essa parte. Portanto, seria preciso procurar — ao estabele- cer o racionamento — o maior bem para um niimero menor: isto é, distribuindo uma ragdo maior entre as eriangas, os doentes, os ancigos e a populagao trabalhadora mais ativa. ‘Ora, isso ndo significa langar por terra o principio utilicarista? Evidentemente que sim, mas desta maneira nada mais se faz do que 1¢ 0 nosso exemplo demonstra com funda- mento, a saber: 9 principio do “maior bem para o maior némero” néo ‘sem tomar em consideragao uma série de _ASpectos concretos. Mas, desde que séo tomados em consideracio, 0 principio readquire a sua validade, pois, continuando com 0 exemplo 202 erica anterior, poderd ver-se que a aplicacéo da norma respectiva, longe de io, contribuira para afirmé-lo. De fato, embora a aplicagio da norma em questo — numa situagio concreta — nao tra- ‘ga 0 maior bem para o maior nimero, servird todavia para enfrentar essa situac4o e, assim, para ajudar a obter — neste caso (o relaciona- mento) em outros — um maior bern para o maior ntimero de pessoas. [As vezes, apresentam-se outros argumentos contra o utilitarismo da norma, como o ilustrado no exemplo seguinte. Um juiz deve julgar um criminoso que todas as provas patecem incriminar, Certamente, a condenacdo traré maior bem para o maior niimero (a comunidade social) do que a absolvigio. Mas 0 juiz, e somente ele, sabe que existe uma prova da sua inocncia que, por outra parte, o criminoso nto poderd apresentar em seu favor. Que deve fazer de um ponto de vista moral? Condend-lo e livrar assim a sociedade de possiveis delitos do culpado, embora sabendo que é inocente, coisa que ninguém poderé provar? Ou deve absolvé-lo, ainda que de um ponto de vista legal pudesse condené-lo, e, com esta absolvis veis e ameagadores delitos? juiz podia ater-se & norma geral (a) segundo a qual “jamais € em nenhum caso se deve condenar um inocente”, mas a sua aplicagao, i ncias positivas (menor bem para o maior considerar valida porque, atuando de acordo com ele, nio se estaria necessariamente obrigado a decidir em favor da segunda norma (b). ‘De fato, condenar um inocente produz maior prejuizo para a comuni- dade (perda de f€ 1: honorabilidade dos juizes) do que 0 mal — nao real, mas possivel — que o criminoso poderia causar no futuro. Vé-se, portanto, que longe de trazer um bem — embora assim pudesse parecer a uma consideragao superficial — trard com o tempo maiores prejuizos para um maior nfimero de pessoas, contrariando ‘assim o principio utilitarista fundamental. 203 A OBRIGATORIEDADE MORAL Uma outra e tiltima objecdo pode ser feita o utilitarismo da nor- ma. Deve-se escolher — diz-nos este — a norma cuja aplicagao traga melhores conseqiiéncias para maior nimero. Mas se quer dizer, com isso, que a norma escolhida nao admite excegdes? Sendo assim, resul- taria absoluta demais ¢, a0 no levar em consideracdo as circunstan- cias concretas da sua aplicago, cairia no mesmo rigorismo que censu- avamos em Kant, quando, na sua deontologia da norma, postulava ‘uma universalidade absoluta, sem excegdo. Para evitar esta censura, 0 utilitarismo da norma teria de indicar as circunstdncias em que 2 nor- sma seria valida, ou as suas excegbes. Guiando-se sempre pelas conse- qiincias possfveis da sua aplicacao, teria de dar & norma uma formu- Jacdo como a seguinte: “Faz x nas circunstancias de tipo y”, ou tam- bém: “Faz x nos casos 4, b, c..” Regras de ago semelhantes a estas seriam, por exemplo, as seguintes: “Quando um doente grave te per- ‘gunta sobre o seu estado real, nao lhe digas a verdade.” No caso, assi- nala-se a circunstincia concreta em que se aplica uma norma. Mas 0 problema surge, sobretudo, quando se trata de uma norma cuja uni- versalidade nao se pode manter, como ja vimos a propésito da teoria kantiana da obrigacao, em cujo caso seria preciso indicar, junto com ‘a norma, as respectivas excegies. Seja, por exemplo, a norma “ndo mintas”. Seria preciso dizer: “Nao mintas, salvo: a) quando um doen- te grave te pergunte sobre o seu estado real; b) quando um alcodlatra ‘te pega a localizagao do bar mais pr uma informagao que um profi assim se poderia salvar o principio do utilitarismo da norma, mas isto ndo deixa de apresentar uma dificuldade insuperavel. De fato, € impossivel indicar todas as excegdes “sem exce¢o”, entre outras razées porque nao é praticamente possfvel imaginar todas as situagées 4s quais se teria que aplicar a norma em questao. Diante deste fato, 0 utilitarismo s6 poderia aferrar-se & sua regra suprema: “Age de acor- do com a norma cuja aplicacZo traga melhores conseqiiéncias.” Mas cesta regra seria suprema somente por seu cardter formal. ‘Vemos assim que, para responder as objegdes antes indicadas, 0 utilitarismo se vé forcado a passar do geral ao particular e deste aque- 204 erica le numa espécie de circulo vicioso. Certamente, para escapar do rigo- rismo da universalidade absoluta, deve assinalar as circunstancias da aplicagio da norma ou as suas excegdes; mas, como nem todas estas, se podem indicar, resta unicamente uma norma a salvo de circunstn- cias imprevistas ou excesdes: exatamente aquela que nfo tem contet- do concreto e que, por ser uma norma vazia, é aplicavel em todos os casos. O utilitarismo da norma acabaria coincidindo com a teoria deontolégica — kantiana — da obrigacio moral, 10. CONCLUSOES 1°) O defeito comum das teorias da obrigac4o moral antes examina~ das consiste no fato de partirem de uma concep¢ao abstrata do homem. Por isto, sua concepgao da obrigatoriedade moral também é abstrata, alheia & sociedade e & historia. 2°) A obrigagdo moral deve ser concebida como prépria de um homem concreto que, na sua pratica moral real, vai modificando 0 contetido de suas obrigagdes morais de acordo com as mudancas que se ieee no modo como a moral cumpre a sua especifica fungao social. 3*) A obrigatoriedade mor adesao intima, voluntaria Jam as suas relagdes numa ceito de obrigatoriedade mor. social, no seio de uma comunidade. em maior ou menor grau, uma 3s individuos as normas que regu- ida comunidade. Por isto, 0 con- tem sentido no contexto da vida 4°) O sistema de normas e, com isto, o contetido da obrigacio moral muda, historicamente, de uma sociedade para outra ¢, inclusive, no seio de uma mesma comunidade. O permitido h ontem. O que atualmente se profbe, talvez seja pe roibido lo amanha. 205 A OBRIGATORIEDADE MORAL Contudo, seja qual for a época ou a sociedade de que se trate, os homens sempre admitiram uma obrigatoriedade moral. Sempre exis- tin um sistema de normas que define os limites do obrigatério e do nao obrigatério. 5°) Nao € somente 0 contesido da obrigagio moral que se modifica hist6rica e socialmente —e, com ele, as normas que prescrevem deter- minada forma de comportamento —, mas se modifica também 0 modo de interiorizar ou de ascumir as normas em forma de deveres. 6) Nenhuma teoria— e ainda menos aquela que nao conceba a obri- gatoriedade moral em fun¢do de necessidades sociais — pode indicar ‘o que o homem deve fazer em todos os tempos e em todas as socieda- des, E, quando uma teoria faz semelhante tentativa, encontramo-nos diante do formalismo ou universalismo abstrato, no qual caem no somente as doutrinas deontolégicas (como a de Kant), mas também as teleol6gicas (como a do utilitarismo da norma). cartuox A realizagdo da moral

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