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por
Wayne Grudem
A. Introdução e definição
1. A esfera física. Os descrentes continuam a viver neste mundo somente por causa
da graça comum de Deus — cada vez que as pessoas respiram é pela graça, pois o
salário do pecado é a morte, não a vida. Além disso, a terra não produz somente
espinhos e ervas daninhas (Gênesis 3:18), nem permanece um deserto ressequido,
mas a graça comum de Deus provê comida e material para roupa e abrigo, muitas
vezes em grande abundância e diversidade. Jesus disse: “Amem os seus inimigos e
orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai
que está nos céus. Porque Ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva
sobre justos e injustos” (Mateus 5:44,45). Aqui Jesus apela para a abundante graça
comum de Deus como encorajamento aos seus discípulos, para que eles também
concedam amor e orem para que os descrentes sejam abençoados (cf. Lucas
6:35,36). Semelhantemente, Paulo disse ao povo de Listra: “No passado [Deus]
permitiu que todas as nações seguissem os seus próprios caminhos. Contudo. Deus
não ficou sem testemunho: mostrou sua bondade, dando-lhes chuva do céu e colheitas
no tempo certo, concedendo-lhes sustento com fartura e um coração cheio de alegria” (Atos
14:16,17).
O Antigo Testamento também fala da graça comum de Deus que vem aos
descrentes tanto quanto aos crentes. Um exemplo específico é o de Potifar, o
capitão da guarda do Egito que comprou José como escravo: “o Senhor abençoou a
casa do egípcio por causa de José. A bênção do Senhor estava sobre tudo o que
Potifar possuía, tanto em casa como no campo” (Gênesis 39:5). Davi fala de modo
muito mais geral a respeito das criaturas que o Senhor fez:
“O Senhor é bom para todos; a sua compaixão alcança todas as suas criaturas. [...]
Os olhos de todos estão voltados para ti, e tu lhes dás o alimento no devido tempo.
Abres a tua mão e satisfazes os desejos de todos os seres vivos” (Salmos
145:9,15,16).
Estes versículos são outro lembrete de que a bondade que é encontrada em toda a
criação não acontece automaticamente — ela se deve à bondade de Deus e Sua
compaixão.
3. A esfera moral. Pela graça comum Deus também refreia as pessoas de serem tão
más quanto poderiam. Novamente o reino demoníaco, totalmente dedicado ao mal
e à destruição, proporciona um contraste claro com a sociedade humana, na qual o
mal é claramente refreado. Se as pessoas persistem dura e repetidamente em seguir
o pecado durante o curso de sua vida, Deus finalmente as entregará ao maior de
todos os pecados (cf. Salmos 81:12; Romanos 1:24,26,28), mas no caso da maioria
dos seres humanos eles não caem nas profundezas às quais seus pecados
normalmente os levariam, porque Deus intervém e coloca freio na sua conduta.
Um refreamento muito eficaz é a força da consciência. Paulo diz: “De fato, quando
os gentios, que não têm a Lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se
lei para si mesmos, embora não possuam a Lei; pois mostram que as exigências da
Lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os
pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os” (Romanos 1:32). E em
muitos outros casos, essa sensação interior da consciência leva os indivíduos a
estabelecer leis e costumes na sociedade que são, em termos da conduta exterior
que eles aprovam ou proíbem, totalmente iguais às leis morais da Escritura. As
pessoas muitas vezes estabelecem leis ou têm costumes que respeitam a santidade
do casamento e da família, protegem a vida humana e proíbem o roubo e a
falsidade no falar. Por causa disso, elas muitas vezes seguem caminhos
moralmente retos e exteriormente andam conforme os padrões morais encontrados
na Escritura. Embora a conduta moral delas não possa ganhar méritos com Deus,
visto que a Escritura claramente diz que “diante de Deus ninguém é justificado
pela Lei” (Gálatas 3:11) e “Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis;
não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer” (Romanos 3:12), contudo,
em algum sentido menor que ganhar a aprovação ou o mérito eterno de Deus, os
descrentes realmente fazem “o bem”. Jesus sugere isso quando diz: “E que mérito
terão, se fizerem o bem àqueles que são bons para com vocês? Até os 'pecadores' agem
assim” (Lucas 6:33).
Deus responde às orações dos descrentes? Embora Deus não tenha prometido
responder às orações dos descrentes como prometeu responder às orações dos que
vêm a Ele em nome de Jesus, e embora Ele não tenha obrigação de responder às
orações dos descrentes, mesmo assim Deus pode por Sua graça comum ouvir e
responder positivamente às orações deles, demonstrando dessa forma Sua
misericórdia e bondade de outro modo ainda (cf. Salmos 145:9,15; Mateus 7:22;
Lucas 6:35,36). Esse é provavelmente o sentido de 1 Timóteo 4:10, que diz que Deus
é o “Salvador de todos os homens, especialmente dos que crêem”. Aqui “Salvador”
não significa restritamente “quem perdoa pecados e dá vida eterna”, porque tais
coisas não são dadas aos que não crêem. “Salvador” deve ter aqui um sentido mais
geral — a saber, “quem resgata da miséria, quem liberta”. Em caso de pobreza e
miséria, Deus muitas vezes ouve as orações dos descrentes e os livra
graciosamente de seus problemas. Além disso, mesmo os descrentes muitas vezes
possuem um senso de gratidão para com Deus pela bondade da criação, pela
libertação em meio ao perigo e pelas bênçãos da família, do lar, das amizades e do
país.
7. A graça comum não salva pessoas. A despeito de tudo isso, devemos perceber
que a graça comum é diferente da graça salvadora. A graça comum não muda o
coração humano nem traz pessoas ao genuíno arrependimento ou à fé — ela não
pode salvar e não salva pessoas (embora na esfera intelectual e moral ela possa
preparar as pessoas para torná-las mais dispostas a aceitar o evangelho). A graça
comum refreia o pecado, mas não muda a disposição fundamental de pecar nem
purifica a natureza humana decaída.
Devemos também reconhecer que as ações que os descrentes realizam por causa da
graça comum não merecem a aprovação ou o favor de Deus. Essas ações não
procedem da fé (“tudo o que não provém da fé é pecado”, Romanos 14:23) nem são
motivadas pelo amor a Deus (Mateus 22:37), e sim pelo amor ao ego sob uma ou
outra forma. Portanto, embora possamos prontamente dizer que as obras dos
descrentes que se conformam externamente às leis de Deus são “boas” em algum
sentido, contudo elas não são boas em termos de merecer a aprovação de Deus
nem de tornar Deus endividado para com o pecador em sentido algum.
Por que Deus concede graça comum a pessoas imerecedoras que nunca virão à
salvação? Podemos sugerir ao menos quatro razões.
1. Para redimir os que serão salvos. Pedro diz que o dia do juízo e da execução
final de punição está sendo retardado porque há ainda mais pessoas que serão
salvas. “O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns.
Ao contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que
todos cheguem ao arrependimento.” (2 Pedro 3:9,10). De fato, essa razão foi verdadeira
desde o princípio da história humana, pois, se Deus quisesse salvar qualquer
pessoa entre todos que compõem a humanidade pecaminosa, Ele não poderia
destruir todos os pecadores imediatamente (nesse caso não sobraria ninguém da
raça humana). Ao contrário, Ele resolveu permitir que seres humanos pecaminosos
vivessem algum tempo de modo a ter uma oportunidade de arrependimento e
também para que pudessem gerar filhos, capacitando gerações subseqüentes a
viver, a ouvir o evangelho e se arrepender.
Pensando sobre as várias espécies de bondades vistas na vida dos descrentes por
causa da graça comum que Deus dá abundantemente, devemos ter em mente três
pontos.
1. Graça comum não significa que quem a recebe será salvo. Mesmo uma porção
excepcional de graça comum não significa que quem a recebe será salvo. Até as
pessoas mais habilidosas, mas inteligentes, mais ricas e poderosas no mundo ainda
carecem do evangelho de Jesus Cristo ou serão condenadas eternamente! Os
nossos vizinhos mais bondosos e de moral mais elevada ainda carecem do
evangelho de Jesus Cristo ou serão condenados eternamente! Exteriormente pode
parecer que eles não têm necessidade algumas, mas a Escritura ainda diz que os
descrentes são “inimigos de Deus” (Romanos 5:10; cf. Colossenses. 1:21; Tiago 4:4)
e são “contra” Cristo (Mateus 12:30). Eles são “inimigos da cruz de Cristo” e “só
pensam nas coisas terrenas” (Filipenses 3:18,19), sendo “por natureza merecedores
da ira” (Efésios 2:3).
2. Devemos ser cuidados em não rejeitar as coisas boas que os descrentes fazem,
considerando-as totalmente más. Pela graça comum os descrentes fazem algumas
coisas boas, e devemos ver a mão de Deus nelas, sendo agradecidos por elas, como
por exemplo nas amizades, em cada ato de bondade, no que elas trazem de
bênçãos para outras pessoas. Tudo isso — embora o descrente não o saiba —
procede em última análise de Deus, e Deus merece a glória por tudo.
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