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PREVENIR OU REMEDIAR Os custos sociais e econdmicos da violéncia contra as mulheres ‘Manuel Lisboa (coerd) ‘Manuel Lisboa (coord.) Isabel do Carmo Luisa Branco Vicente Anténio Névoa Pedro Pita Barros ‘Ana Roque Sofia Marques da Silva Luisa Franco 4 < Sofia Amandio a a = a 4 2 3° = Zz a > a 4 a Edigdes Colibri SociNova At INTRODUCAO FFrequentemente, apés a realizagio de pesquisas em que as mulheres so cestudadas na condigio de vitimas, surge a questio, normalmente coloceda, Por homens, sobre a necessidade de se abordar também 0 universo mascul no. Nio questionamas a importincia de seleccionar miltiplos objectos ¢ Angulos de observagio, bem como de recorrer a metodologias variadas, nas pesquisas sobre a violéncia relacionada com os papéis de género. Todavia, os poucos estudos conhecidos sobre vitimagio em que os homens também surgem como vitimas, os resultados sio particularmente expressivos, a0 ‘evidenciarem uma prevaléneia maior das mulheres. Por exemplo, no ingueti- {o realizado nos Estados Unidos da América em 1995, com uma amostra de ‘ito mil homens e igual nGmero de mulheres, e em que so abordados actos de rapto,assaltos e perseguiglo, a percentagem das vitimas femininas tipli- ‘ca a das masculinas (Tjaden e Thoennes, 2000). Assim, aquele tipo de viti- ‘magio adquire uma tal importincia social que, 36 por si, justfiea a realiza ‘80 de estudos auténomos. De facto, apesar dos avangos conseguides nos siltimos dois séculos, no Ocidente, em relaglo aos Direitos Humanos em geral ea situagio das mulhe- res em particular, hé problemas de discriminacdo de género que subsistem e que contribuem para a manutengio de desigualdades de oportunidades e de poder, as quais se manifestam também sob a forma de violéncia. Portugal no € excepgdo, como o demonstram algumus investigagdes neste dominio (Lourengo, Lisboa Pais, 1997; Lisboa, Barroso e Marteleira, 2003), Por outro lado, apds um relativo vazio de estudos sobre este tipo de fendmenos, comega a compreender-se que a violencia ¢ socialmente cons truida a partir de uma teia complexa de factores histérieos, econémicos sociais ¢ cultura, cuja resolucao decorre de mudangas lentas, nem sempre confinéveis 2 adopedo de medidas legislaivas, pelo que qualquer interven- do que se pretenda eficaz deve contar também com a consugracdo de medi- das preventivas. Todavia, para que esta constatagdo ganhe forga de acql0 politica, é necessério demonstrar, por vezes, que neste dominio € melhor inyestir na prevengio do que simplesmente tatar as consequéncias. E esse, também, um dos objectivos deste estudo. ‘Assim, esta investigagio procura fazer ums abordagem mais ampla, ela- tiva ao género, a dimensbes da vida privada das mulheres, em que uma das va+ ridveis dependentes € a vitimagio de violéncia, analisando também os custos decorrentes da vitimacio. O seu desenvolvimento estrutura-se a partir de te imatrizes teéricas e conceptuais: violéncia, vida privads versus vida publica e \w 6 Prevenie ou Remediar ccustos da violéncia, Independentemente de futuros desenvolvimentos te6ricos nos capftulos seguintes, toma-se necessério deixar aqui algumas nota, ‘A assungao social de determinados actos como violentos, ou mesmo ‘como crimes, decorre da representagio que uma sociedade, ou umm segmento dela, faz desses actos e da necessidade de, por razdes politicas, econdmicas, sociais e cultura, adoptar medidas no sentido de os controlar € condicionar, bem como aos agentes que os praticam. ‘Em regra, 0 fenémeno é representado como um problema que é neces- sério resolver. A operacionalidade da acgdo correspondente passa pela sua rotulagem de modo a mais facilmente identificar ¢ objectivar os actos e, assim, poder intervr. Se, por um lado, ta! pode ser visto como um avango no sentido da resolugdo desse problema, por outro, a simples utilizagao de um r6tulo, sobretudo quando banalizada pelo tempo, encesra em si um meca- nismo de ocultaglo dos processos internos & prdpria acco que, esses sim, ‘constituem 0 ndcleo central que & imperioso conhecer para melhor intervir. [Nese sentido, lora-se necessério questionar o préprio conceito de vio- léncia, inserindo-o num quadro compreensivo mais amplo que tenha em conta as priticas. as representagies e as relagSes de forca que, em cada sociedade, os diferentes actores sociais fazem de determinados actos [Nao hd propriamente uma Unica definicio do conceito de viol8ncia. Dai {que pare as pessoas mais préximas da Criminologia e das Ciéncias Juridicas ele tenda a estar associado a0 conceito de crime. Para 0s que esto preocu- ppados com a materialidade dos actos observiveis macroscopicamente, privi- legiam-se as lesbes fisicas. Para outros. da rea da Psicologia, o¢ processo ‘meniais ganham maior relevo. Ou ainda, os actores sociaisligados a insttai- {902s e organizagées dio maior énfase a0 que o contexto de pertenca privile- Bia. Uma pluralidade de abordagens que obrigam a que nos fixemos numa definigao, cuja explicitagio permita, também, a operacionalizagio da pes su em termos sociolégicos. No capitulo sobre a Vitimagdo, far-se-d um maior desenvolvimento tes- rico sobre 0 tema da violéncis; todavia, gostariamos de deixar aqui és ideias centais: a explicitacio do conceito de violéncia remete para a ideia de represertagdo social, nos termos definidos por Jodelet (1989) e por Louren- G0 € Lisboa (1992): a violéncia no constitui uma totalidade homogéne ‘mas expressa-se scb formas diversas, de maior vsibilidade a0 nivel fisico, sexual, psicoldgico, de discriminagdo sociocultural, ou, como surge neste estudo, de um certo mal-estar social, inseguranga e incerteza no futuro que as vitimas explicitam por constrangimenta’violéncia socal; um acto conside- rado viclento & sempre representado como uma transgressio, constituindo, pelo menos para quem o representa, um poder arbitrrio no aceite. [esse sentido, para os segmentos sociais que tém poder para tal, a gra- vidade de certos actos pode traduzir-se sob a forma de crime punivel por lt ‘Todavia, tratase de conceitos diferentes ~ crime e violéncia ~ que podem ou Tevrodugdo ” coincidir. Dai que, no caso da violéncia doméstica, apesar de actualmen- te haver actos que ja podem ser configurados como crimes, para certos acto- res sociais (mesmo para algumes vitimas) ainda nfo o so. Igualmente no passado, apesar de lei nio os considerar como crimes, para outros actores sociais cles ja eram representados como violentos. Passando a outro eixo de andlise, a bordagem sociolégica da esfera do privado esbarra com inimeros obsticulos: trata-se de um terreno quase vir- _Bem para os socislogos, deixada sobretudo 20s psicélogos. porque esquecido ‘numa individualidade relativamente estangue 40 social. Pensamos que tal nio 6a posicio mais adequads: as duas perspectivas completam-se Concordames com Durkheim, quando diz que 0 privado também & socislmente construido. Temos vindo mesmo a constatar em outras pesqui- sas da equipa, ainda em curso, da esfera das Organizagées e da Sociologia Econémica, que o privado e o piiblico se entrelagam num feixe de implicu: «ges matuas. Por isso, decidimos empreender esta aventura, Ainda estamos & “marcaro terrté:io", a“escavar as amostras” ea ensaiar as primeiras hipste ses explicativas. E corto que Philippe Ariés e Georges Duby, na sua monu- ‘mental obra sobre a Historia da Vida Privada (1989-1991), bem como este Gltimo e Michelle Perrot na Historia das Mulheres (1993-1995) © mesmo Michel Foucault, com a Histéria da Sexualidade (1994), desbravaram jé muito do terrenc. No campo da Sociologia, também Anthony Giddens nos abre as portas & compreensio da transformagdo da intimidade nas sociedades ‘modernas, abordando aspectos como a idemtidade de género, a violéncia doméstica ¢ a sexualidade (1992, 199%), Mas 0 que entender por vida privada? Como & que 0 social se deixa dobservar nessa “zona de imunidade. reservada uo refigio, a0 recolhimento, ‘onde cada um pode depor as armas e as defesas com as quais convém estar ‘munido quando se arrisea no espago puilico”. como referem Ariés ¢ Duby (1989: 10), ow ainda um espaco de silencios que as mulheres tio bem conhe~ em, como nos avisa Michelle Perrot? Hoje, pensamos que esse espago pode ser observado na casa de familia, no cfrculo de amigos © nos grupos profis- sionais mais intimos, mas, também, no espago mental individual onde cada agente social recta, se defende e ensaia ax relagdes com os outros actores sociais. O pico € o privado so dois teritérios construidos 3 medida das ‘conveniéncias serias e individuais. Em alguns casos, podem mesmo assurnir uma diferenciagto de género: masculino no piblica e feminino no privado (Lipovetski, 1997). Separa-os uma linha ficticia, um campo neutro dos dois lados, permanentemente em tensio, de forgas e poderes que se entrincheiram de cada lado. se confrontam e se misturam, mesmo que no acto implicito ou na escuridao do siléncio e da noite. Dois rundos que se interpenetram e se realimencam para emergir sob novas formas colectivas, como bem mostram Maurice Halbwachs em Les Cadres Sociaux de la Mémoire (1994, 1 ed, 1925), ou Jurgen Habermas em L'Espace Public (1993). ye 6 Prevenie ov Remedise Em Portugal, particularmente com a legislagio de criminalizaglo da vio- Ieacia doméstica,o piblico reclama a sua parcela hd tanto tempo silenciada no privado. Se, em alguns casos, tal coresponde ao emergir de velhas necessida- des humanas e sociais recalcadas so longo dos anos, em outros, 0 privado resiste A invasio pOblics e anénima de um qualquer banco de dados que trans- ‘Forme o individuo num registo confinado a uma simples meméria digital. Finalmente, algumas consideragdes sobre os custos resultantes da vio- \éncia exercida contra as mulheres. Como os definir? Que indicadores ¢ ins- ‘rumestos utilizar para os observar © medir? Independentemente de desen- volvimentos mais especiticos nos capftulos seguintes, pensamos que esta problemdtica pode ser equacionada & partir de quatro eixos de andlise: 0 primeiro, que contempla as diversas escalas do fenémeno, mais individual ‘ou societal; o segundo, que tem em consideragio as viras dreas pessoais que podem ser afectadas pela violencia, o que configura desde logo uma tipolo- gia de custos relacionados com a vitima; o terceiro, que equaciona os custos 4 pati dos instrumentos de observacio e medida, mais qualitativos ou mais {quantiativos; © o quarto, em que se tem em atencio » amplitude social © temporal dos custos. ‘05 custas individuais expressam-se nas vitims e em outros agentes sociais relacionados com elas ou com 0s actos praticados. Os custos com ‘uma dimensio mais societal decorrem da comparticipagio acrescida em todas as organizagbes e instituigbes, resultante da ocorréncia do acto de vio- léncia. So disso exemplo: os custos com a Justiga (tribunais, advogados. DrisGes © outros agentes judiciais), decorrentes do julgamento, prisio ou reabilitagdo de vitimas e de outras pessoas afectadas pelos actos de violén- Cia; 05 custos com as policias, nomeadamente, agentes, instalagées ¢ outros ‘meios, programas especiais (por exemplo, 0 programa Inovar), 08 custos ‘com as “casas-abrigo” e outros servigos para apoiarem as mulheres vitima- ddas (APAV, ComissGes de Atendimento da CIDM, etc); 08 custos com as ‘organizagées de Satide (hospitais, centros de Satde ¢ outros agentes de Saide, ‘como cs médicos privados), No inguérito realizado so contemplados virios indicadores relativos 0s custos individuals, nas vitimas e nos filhos, e quanto & dimensdo societal introduzem-se alguns aspectos relatives & saide. (0s ensaios de avaliagio feitos neste dominio noutros pafses, por exem- plo, na Finlindia (Piispa e Heiskanen, 2001), mostram que € particularmente dificil observar todos os elementos afectados e, nos casos em que tal é pos vel, requerem um sistema de produglo de estatisticas fidveis, normalmente ‘desenvolvido ao longo de anos. Em Portugal, as dificuldades $40 ainda de maior mont, pelo que esperamos que este estudo possa dar algum contribu- to no sentido de iniciar 0s primeiros passos para a produgdo sistematica ¢ ccontinuada desses dados. Tniredgio 9 As dreas pessoais afectadas pelos actos de violéncia podem assumir vérias formas: social ~ na relagao com familiares ¢ amigos © na actividade profissional ~ e individual ~ na satde fisica, na saide psicol6gica e na edu- cacti, da vitima e dos fillos. As conclusdes de Gillioz, Puy e Ducret (1997), fem relagdo Suga, mostram claramente uma associacdo entre a violencia © (8 custos com a saide em geral e a salide psicoldgica. Todas estas ditmen- Bes, assim como 2 social, estio contempladas no presente estudo, pelo que cerca de dois tergos do questionsrio do inquérito sio dedicados & recolha de dados nesse sentido. ‘A questi dos instrumentos para medir os custos é, porventura. um dos Aspectos mais marcantes para a observago do fenémeno: mais qualitative e ‘mais quantitativa. Ha custos, que, pela sua natureza, num primeiro momento, 86 se deixam observar com instrumentos qualitaivos. Por exemplo, os varios ipos de rupturas interpessoais, com of afectos associados. as expectativas rio satisfetas ao nivel profissional e na edcacio, as frustragGes e prejuizos 4e carreira dai resultantes, 0s sintomas e as doencas fisicas e psiquicas. Todavia, num segundo momento, pode-se ensaiar 2 quamtficayio. rmedindo a frequéncia, a prevaléncia ea incidénein de cada destas qualidades (aridveis e categorias), bem como a associagiio entre quilidades ou conjun- tos agregados de qualidades (indices) ( que habitualmente se costuma designar por avaliagdo quantitativa dos custos diz respeito $6 a uma das suas dimensies: a econdmica. De facto, alguns desses custos podem ser objecto de cdleulo macroeconémico. 6 0 case dos que se expressam por faltas2o trabalho, perdassalarais devido & no pro- aressio na carreira ea despedimentos. tempo e dinheiro gastos com divércios, separagBes conjugais, médicos, medicamentos e meios suplementares de diag” néstico, idas aos hospitas ea centros de saide,internamentos,inespacidades © ‘outros prejuizos econdmicos resultantes do insucesso escolar das vitimas ¢ dos filhos. Igualmente sio de assinalar outros custos macrosconsmicos, rlativos a {gastos orgamentais de organizagées publicas e privadas e de instituigées do Estado; aqueles paricularmente dependentes da produydo de estatisticas oft. Cis, muitas vezesinsuficientes e, portanto.dificeis de avaliar. De um ponto de vista da amplitude dos custos, alguns expressamm-se directamente nas vitimas, 0 que poderd facilitar a sua observagdo, enquanto ‘outros tém uma incidéncia mais difusa no tecido social © nem sempre $30 detectéveis. Igualmente, numa perspectiva temporal, hi custos que decorrem imediatamente das acgdes de violéncia, enquanto outros sto diferides no tempo, vindo a manifestar-se mais tarde. A este propésito, sio significativas as conclustes de Walker (1993), relativas a0 Battered Woman's Syndrome, quando mostra que o efeito da violéncia pode prolongar-se por anos, como um sindroma pér-traumdtico, e manifestar-se nas mais diversas situagOes, ‘Com os instrumentos de observacio ja utilizados, a undlise centrar-se-i fundamentalmente nos custos directos e de curto praza: ainda que em menor ly 20 Prevenir os Remediar _grau, so também contemplados os custos indirectos com a educagdo dos filhos e os que sio percepcionados pelas mulheres a0 longo do tempo, desde 4 primeira vez em que consideram ter sido vitimas de vio€ncia. Os custos fecondmicos serio também analisados; nao com a profundicade desejével, ja aque tal dimensio requereria 86 por si um estudo especifico, mas o suficiente para se perceber que também neste dominio pode ser mais vantajoso preve- ni do que remediar os custos da violacia praticada contra as mulheres. Dificilmente um inquérito sociolSgico, por mais exteaso e pormenori~ zado que seja, ¢ este pretende s8-lo, pode dar conta da riqueza e do detalhe 4e tudo 0 que pretendemos abarcar neste estudo. Mas pode revelar indicios © pistas. Em pare, este & um trabalho de “batedores” na investigugio de um fenémeno com miltiplas dimensdes, como a variedade Jos especialsias participantes o atesta: observando sinais, seguindo pista, ensaiando interpre- lagdes para os grandes “ruidos” dos nimeros, mas também disponibilizando- -n0s para ouvir 0 “sussurrar” dos pequenos valores, sabeado ligé-los para procurar¢ testa hipSteses mais consistentes. Assim, num primeiro momento, foi necessério interpreta 0 significado ddos grandes nimeros, sem perder de vista que por detris dees esto actores sociais e pessoas concretas. Depois, aprofundar esta visio macro do fenéme- rno com estudos de caso que conduzam & compreensio das dinimicas e dos rocessos sociais que esto subjacentes as condutas dos aciores envolvidos. ‘AS duas perspectivas complementam-se: parti dos grand=s nimeros, que ‘nos dio 08 contomes do social, e orientar @ anise no sentido de encontrar a pessoas; patir das pessous e procuraro social ‘Com este trabalho, fica um esforgo pioneiro ao nivel de avaliago quali- tativa e quantitativa dos custos da violéncia exercida contra as mulheres com 18 ou mais anos, mas faz-se,igualmente, a primeira articulagio entre a and- lise quamttativa dos resultados de um inguérito nacional sobre aquele objec- to de estudo, com 0 seu aprofundamento através de entrevistas em profundi- dade a casos tipo. ‘Uma tho elevada diversidade de especialstas panticipantes ~ Sociologia, Medicina, Psiquiatra, Psicologia, Cincias da Educagio e Economia -. de disciplinas igualmemte plurais nas metodologias e formas de abordar os seus problemas, dificilmente deixaria de conduzir uma cera heterogeneidade nos lextos produzidos. Enquanto cootdenador deste estudo, e apesar da minha filiagio numa destas disciplinas, procurei respeitar a especificdade cientfica ‘de cada um. Creio mesmo que tal representa uma das riquezas do trabalho. Os capitulos que se seguem permitirfo percorrer os caminhos seguidos: ‘metodologia e contextualizago sociocultural da amostra; contexto social da vitimagdo; custos sociais; custos com a saide fisica: custos com a saide psicoldgica: custos com a educagio: custos econémicos; percursos, proces 505 € dindmicas sociais da vitimagio e dos custos. Manuel Lisboa

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