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EDUCAÇÃO

à E EXTENSÃO
Ã
SOCIOAMBIENTAL
Caderno Técnico do IPÊ – Instituto de Pesquisas
q Ecológicas
g

Ano 1, Número 1, Abril de 2009

• AS AÇÕES DO IPÊ NO PARNA SUPERAGÜI E O GERENCIAMENTO COSTEIRO INTEGRADO: QUAL A


RELAÇÃO?

• CADEIA DE PRODUTOS DA SOCIOBIODIVERSIDADE NA REGIÃO DO MOSAICO DE ÁREAS PROTEGIDAS


DO BAIXO RIO NEGRO: UMA EXPERIENCIA DE MAPEAMENTO PARTICIPATIVO

• O ENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO NA INTERVENÇÃO DA PREDAÇÃO DE REBANHOS DOMÉSTICOS NO


ALTO RIO PARANÁ

• ÁREAS PROTEGIDAS E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL NA AMAZÔNIA: QUAIS AS IMPLICAÇÕES


METODOLÓGICAS?

• COMENTÁRIOS DO LEITOR

• EVENTOS E SUGESTÃO DE LEITURA


Educação e Extensão Socioambiental é um Caderno de Estudos e Experiências
publicado pelo IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, sob iniciativa do Grupo de
Educação e Extensão Socioambiental. Tem como objetivo de apresentar e debater textos
que versam sobre as iniciativas de conservação da biodiversidade, valorização da
diversidade cultural, participação comunitária e desenvolvimento sustentável nos biomas
Mata Atlântica, Zona Costeira, Pantanal e Amazônia.

Presidente
Suzana Pádua

Diretor Executivo
Ed d Ditt
Eduardo Di

Diretor Científico
Claudio Valladares Pádua

Conselho Editorial
Oscar Sarcinelli
Thiago Mota Cardoso
Humberto Zontini

Membros do Grupo de Educação e Extensão (participantes do I Seminário de


Extensão)
Alessandra Nava Leonardo Kurihara
Hercules Quelu Roberto Haddad
Nailza de Souza Débora Bandeira
Alexandre Nascimento Laury Cullen Jr.
Humberto Zontini Suzana Padua
Nivaldo Campos Eduardo Badialli
Andrea Peçanha Lidiane de Paula
Jeferson Lima Taís Claire
Oscar Sarcinelli Eduardo Ditt
A
Antonio
i Vi
Vicente Moscogliato
M li L i
Luciana Antunes
A
Karla Paranhos Thiago Cardoso
Rafael Illenser Fernanda Rosseto
Camila Toledo Luciana Rolim
Kauê Abreu Tiago Beltran
Rafael Martins Fernanda Zimbres
Cassio Peterka Mirian Ikeda
Toma Almeida
Tomaz Valentim Degasperi
Gislaine Carvalho Haroldo Gomes
Maria das Graças Souza Mariana Semeghine
Apresentação

As diferentes realidades sociais e ambientais encontradas num país megadiverso como o


Brasil
B il fazem
f com que a abordagem
b d d extensão
da ã socioambiental
i bi l seja
j específica,
ífi individualizada
i di id li d
para cada grupo social estabelecido nas áreas prioritárias à conservação dos recursos naturais, em
contextos sociais e culturais diversos. Existe ainda a preocupação de se construir coletivamente
os conhecimentos e habilidades necessários para se estabelecer um processo de conciliação entre
o viver digno destes grupos com a preservação e conservação da biodiversidade brasileira.
A diversidade de realidades encontradas pelos pesquisadores e extensionistas do IPE em
seus trabalhos diários de educação e extensão socioambiental nos oferece a oportunidade de
compartilhar, discutir e trocar experiências em extensão. Neste sentido é que este Caderno foi
proposto, para que seja utilizado como um espaço de divulgação dos trabalhos e, ao mesmo
tempo, de reflexão e proposição de novas abordagens em educação e extensão socioambiental
para um publico interno e interessados.
Esta primeira edição, fruto do I Seminário de Educação e Extensão do IPÊ conseguiu ser
democrática na medida em que apresenta diferentes experiências de trabalho em diferentes
regiões e realidades de onde o IPÊ atua. O primeiro texto apresenta uma reflexão sobre as
estratégias adotadas pelo IPE no Parque Nacional de Superagui à luz do Plano de Gerenciamento
g
Costeiro Integrado. O texto sugere
g a necessidade de ajustes
j nestas estratégias
g e de novas
abordagens nos trabalhos de educação ambiental e extensão socioambiental como forma de
ampliar a qualidade de vida da população local e a conservação dos recursos naturais naquela
região.
O segundo texto apresenta uma experiência de mapeamento participativo dos produtos da
sociobiodiversidade na região do baixo rio Negro, no Amazonas. O enfoque do texto está na
metodologia desenvolvida pela equipe do projeto Mosaico para entender a realidade
socioeconômica e cultural da região e, a partir do envolvimento nas questões locais, mapear os
produtos da sociobiodiversidade e suas cadeias produtivas.
produtivas O terceiro texto apresenta a
metodologia desenvolvida e alguns resultados parciais do projeto Predação, inserido dentro do
programa Detetives da Paisagem. Destaca-se no texto o envolvimento da comunidade local tanto
nas estratégias de registros e coleta de dados do projeto sobre os ataques de grandes felinos aos
rebanhos comerciais, como também a participação da população local nas estratégias de controle
destes ataques e no abate indiscriminado dos animais silvestres. Por fim, apresentamos um “texto
para reflexão e discussão”,de um autor convidado, onde é questionada a eficácias das Áreas
Protegidas, da forma como hoje estão implementadas, para a preservação ambiental e destaca o
potencial destas áreas,
áreas caso sejam realizadas
reali adas as mudanças
m danças necessárias em suas
s as estruturas,
estr t ras para o
desenvolvimento local.
O objetivo principal deste Boletim Interno sobre Extensão Socioambiental é também o de
incitar o debate entre o grupo de extensionistas do IPE, motivando a busca de soluções criativas e
inovadoras para os desafios do desenvolvimento sustentável no Brasil. Desejo a todos uma boa
leitura e um bom aproveitamento das experiências aqui apresentadas.
Conselho Editorial
Abril de 2009
SUMÁRIO

ARTIGOS

5 AS AÇÕES DO IPÊ NO PARNA SUPERAGÜI E O GERENCIAMENTO COSTEIRO


INTEGRADO: QUAL A RELAÇÃO?
Humberto Zontini Malheiros

13 CADEIA DE PRODUTOS DA SOCIOBIODIVERSIDADE NA REGIÃO DO


MOSAICO DE ÁREAS PROTEGIDAS DO BAIXO RIO NEGRO: UMA EXPERIENCIA
DE MAPEAMENTO PARTICIPATIVO
Oscar Sarcinelli, Thiago Mota Cardoso, Rafael Illenser, Sarita de Moura

24 O ENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO NA INTERVENÇÃO DA PREDAÇÃO DE


REBANHOS DOMÉSTICOS NO ALTO RIO PARANÁ
Kauê Cachuba de Abreu; Daniel Mandric Mellek; Fernando Lima; Laury
Cullen Jr.

38 ÁREAS PROTEGIDAS E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL NA AMAZÔNIA:


QUAIS AS IMPLICAÇÕES METODOLÓGICAS?
Richard Pasquis

COMENTÁRIOS DO LEITOR

EVENTOS

SUGESTÃO DE LEITURA
Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

ARTIGOS

AS AÇÕES DO IPÊ NO PARNA SUPERAGÜI E O GERENCIAMENTO


COSTEIRO INTEGRADO: QUAL A RELAÇÃO?
Humberto Zontini Malheiros
beto@ipe.org.br

RESUMO

O IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas é uma ONG que atua desde 1995 no Parque Nacional do Superagüi,
localizado no litoral norte do Paraná. No inicio, suas ações eram voltadas apenas para pesquisa do mico-leão-de-
cara-preta (Leontopithecus caissara), mas com o passar dos anos, o IPÊ começou a desenvolver ações no âmbito
comunitário e de gestão de recursos naturais. Mas será que estas ações contemplam as diretrizes do Plano Nacional
de Gerenciamento Costeiro? E os resultados obtidos estão enquadrados nos resultados esperados para o
Gerenciamento Costeiro? Este trabalho é uma reflexão que tem por objetivo avaliar as ações do IPÊ no PARNA
Superagüi sob a ótica do Gerenciamento Costeiro Integrado e propor ajustes no modelo conceitual adotado pela
instituição nesta região.

1. O inicio da atuação do IPÊ na região do Seguindo o modelo IPÊ de conservação, em


PARNA Superagüi pouco tempo começou o trabalho de Educação
Ambiental junto às crianças e as mulheres,
Em 1989, nos limites da Ilha do Superagüi, foi
envolvendo a conservação do mico e temas
capturada por pesquisadores da universidade socioambientais. Na idéia de envolver a
uma espécie de primata ainda não conhecido
comunidade nas ações conservacionista,
pela ciência. Em 1990 foi descrito iniciou-se em 2001 o projeto Manejo de Pesca
cientificamente a espécie Leontopithecus
e Maricultura, com o objetivo de resguardar
caissara, conhecido popularmente como os recursos naturais através do manejo
mico-leão-da-cara-preta. O fato de ser um
racional pesqueiro e melhorar a qualidade de
mamífero descrito recentemente fez com que
vida da população através de práticas
diversos cientistas se interessassem em econômicas sustentáveis como a maricultura.
estudar a espécie, já que os pesquisadores que
capturaram não se interessaram em estudá-lo. 2. Guaraqueçaba e as Unidades de
Na época, o primatólogo Cláudio Pádua Conservação
diretor científico do IPÊ, desenvolvia um
trabalho com outra espécie do mesmo gênero Guaraqueçaba é o sétimo município mais
Leontopithecus chrysoyigus, o mico-leão- pobre da região sul do Brasil. Sua economia
está baseada na pesca artesanal e na
preto. Seu conhecimento sobre o gênero e o
agricultura familiar que possui um histórico
reconhecimento como conservacionista, fez bastante lutuoso.
com que assumisse a pesquisa sobre a espécie
recém descrita. Este foi o primeiro trabalho A partir dos anos 30, Guaraqueçaba iniciou
desenvolvido pelo IPÊ no Parque Nacional do sua decadência econômica através do
Superagüi. empobrecimento dos agricultores que

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

perderam mercado para outras regiões. Nos Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba
anos 60, a situação se agravou com a chegada com 313.484 ha. Em 1989 e ampliado em
de grupos madeireiros e comerciais, 1997, foi criado o Parque Nacional do
destinados à exploração de madeira e palmito Superagüi, que possui hoje 34.254 ha e tem
e a criação de búfalos. Sem compromisso real como objetivo preservar áreas de Mata
com o desenvolvimento econômico e social, Atlântica, planícies aluviais, restinga,
tais atividades intensificaram a ocupação manguezais, praias e dunas, bem como a
territorial e os conflitos de uso pela terra, existência de duas espécies endêmicas: o
desapropriando a população local e mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus
acentuando a pobreza na região. Essas caissara) e o papagaio-de-cara-roxa
práticas contribuem para o desaparecimento (Amazona brasiliensis).
da atividade agrícola em comunidades
ribeirinhas e a migração de agricultores para Apesar de alcançar o objetivo principal de
as comunidades estuarinas, para se tornarem resguardar os últimos remanescentes
pescadores (MIGUEL, 1997; contínuos de Mata Atlântica do sul do país e
ANDRIGUETTO-FILHO, 2003). sua fauna associada, as novas Unidades de
Conservação se tornaram mais um obstáculo
Neste contexto, a pesca entra em crise em para as comunidades locais, pois sua
decorrência da superexploração dos recursos legislação é incompatível com as práticas
pesqueiros. A pesca industrial, predatória e tradicionais (MIGUEL, 1997). Conforme o
ilegal, vinda de outros estados assim como o Sistema Nacional de Unidades de
aumento do número de pescadores, antes Conservação e a Lei de Crimes Ambientais
agricultores, e a falta de ordenamento ficam proibidos a retirada de madeira, corte
pesqueiro fazem reduzir os estoques que raso de floresta para roça e a caça em áreas
abasteciam as comunidades tradicionais de protegidas, tudo o que as comunidades
pescadores artesanais (ROUGELLE, 1993). tradicionais faziam para sua sobrevivência.

Apesar das grandes dificuldades econômicas e Cabe ressaltar que o método tradicional para a
sociais, o município possui uma das maiores criação de Unidades de Conservação
porcentagens de cobertura florestal do Estado desenvolvido pelo Ministério do Meio
do Paraná, considerada como um dos cinco Ambiente, estabelece estas áreas sem a
ecossistemas costeiros mais notáveis do globo participação da população local, não incluindo
terrestre e considerada a terceira floresta seus modos de uso e técnicas tradicionais de
tropical mais ameaçada (PRIMACK, 1993). produção, restringindo assim o acesso aos
recursos naturais terrestres necessários à suas
Com o objetivo de frear tais atividades atividades produtivas e de subsistência.
degradantes ao meio ambiente iniciou na
década de 80, um movimento de criação de 3. A região do Parque Nacional do
Unidades de Conservação na região. A Superagüi
primeira a ser criada em 1982 foi a Estação
Ecológica (ESEC) de Guaraqueçaba com
cerca de 4.834 ha. Em 1985, englobando a
ESEC de Guaraqueçaba, foi criada a Área de

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

Figura 1: Localização do PARNA Superagüi e vilas do entorno 

O Parque é formado por quatro ilhas bem Em toda a sua extensão, o Parque Nacional do
como por uma parte continental, que abrange Superagüi está cercado por pequenas baias
o Vale do Rio dos Patos, totalizando 34.254 que fazem parte de um complexo de baias
ha (Figura 01). Na ilha das Peças e do interligadas, chamado Complexo Estuarino
Superagüi existem onze comunidades que se Paranaguá. A existência desse estuário na
dedicam primordialmente à pesca. A região tem grande importância ecológica e
população atual das duas Ilhas é de econômica, pois recebem o aporte de água
aproximadamente 2.000 habitantes. São doce vinda dos continentes trazendo inúmeros
denominados “caiçaras”, possuidores de uma nutrientes orgânicos. Esses nutrientes sofrem
rica identidade cultural; resultado das um processo de ciclagem nos estuários
interações com a natureza e da mistura de juntamente com outros nutrientes ali
grupos indígenas e colonizadores europeus.

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

originados, e se transformam na base da teia renda e o alimento. Portanto, ocorrem


trófica marinha na região costeira. freqüentemente conflitos de uso do espaço e
dos recursos pesqueiros ali existentes,
A pesca se favorece desses ambientes já que a principalmente com embarcações maiores
base alimentar de peixes explorados vindas de outros estados.
comercialmente provém de áreas de
manguezais incluídos em ambientes Outras vilas ou pescadores de outros
estuarinos. A principal espécie alvo da pesca, municípios também artesanais que querem
ou seja, a que tem um volume maior de pescar nessas áreas devem utilizar das
produção é o camarão-sete-barbas mesmas artes de pesca e petrechos que as
Xiphopenaeus kroyeri, pescada por botes e comunidades locais utilizam. O fato da pesca
bateiras na plataforma rasa continental o ano estar em declino preocupa muitos os
todo. Outro camarão bastante procurado, mas pescadores locais, que com medo de ficarem
com bem menos produção é o camarão-branco sem renda, buscam conhecimento em outras
Lithopenaeus schimitti. No grupo dos peixes, atividades como é o caso da maricultura.
a espécie mais capturada é a pescadinha
membeca Macrodon ancylodon. A maior parte das vilas cultiva ostra do
mangue Crassostrea rhizophorae em cultivos
O turismo é outra atividade que vem rústicos, criados a partir de vivencia com a
crescendo no PARNA do Superagüi. Pela natureza, observando como estes animais
Unidade de Conservação estar enquadrada na vivem. As ostras são retiradas das raízes do
categoria de proteção integral, poucas são as mangue, localizados próximos as vilas. Como
praticas permitidas dentro de seus limites, a atividade é pequena, ainda não ocorre
porem o turismo, além de permitido é nenhum tipo de conflito pelo recurso ostra,
incentivado pelos órgãos ambientais. Como a porem se a população de ostra não for
beleza natural é a atração para os turistas, a manejada corretamente, logo vai se acabar.
atividade usa esse recurso costeiro, e quem
tem se beneficiado disso são as comunidades O turismo é outra atividade crescente nas vilas
laçais, através de pousadas, restaurantes, guias do PARNA Superagüi. A atividade só não tem
e transporte marítimo. crescido mais rápido, pois o Parque não
possui Plano de Manejo e por isso não existe
3.1. Usos e modos de apropriação dos regulação turística. Mesmo assim o numero de
recursos costeiros e seus principais conflitos pousadas e campings vêm crescendo,
principalmente nas vilas maiores. Entre as
A pesca artesanal é caracterizada pelo comunidades não existem problemas com o
objetivo comercial combinado com o de turismo, porem ocorre um conflito com o
obtenção de alimento para a família, IBAMA que limita o crescimento por não
utilizando embarcações de madeira de haver regras de utilização do Parque.
pequeno porte construídas pelos próprios
pescadores, com propulsão motorizada Apesar da existência do PARNA, ainda existe
limitada, petrechos e insumos adquiridos no a roça e a caça de subsistência. Essas são a
mercado local e áreas de atuação próximas a fonte alimentar de algumas vilas,
costa. Estas áreas, ou simplesmente “os principalmente as que estão localizadas no
pesqueiros” são defendido pelos pescadores interior da Baia dos Pinheiros, onde o peixe é
locais como um território de onde é extraído a mais escasso. Estas atividades são as mais

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

conflitantes, ocorrendo multas do IBAMA outros dois, com ações específicas para cada
para a comunidade, porem tem um papel um. Para dar foco dentro do tema de
importante para a segurança alimentar dessas Gerenciamento Costeiro, serão analisadas as
famílias. ações desenvolvidas dentro do Projeto Manejo
de Pesca e Maricultura diferenciando
Ainda dentro da atividade pesqueira, existe atividades que são desenvolvidas no âmbito
um conflito entre os pescadores e a Colônia de do Projeto de Educação Ambiental.
Pesca de Guaraqueçaba. Teoricamente, a
Colônia é a representante de classe dos O Projeto Manejo de Pesca e Maricultura,
pescadores, porem existe em Guaraqueçaba como o próprio nome já diz, têm duas
casos de corrupção e falta de apoio aos principais linhas que se integram: Manejo de
pescadores, apoio este que reflete em outros pesca e Maricultura. A linha maricultura tem
conflitos. como objetivo desenvolver a maricultura
como prática econômica sustentável,
Outro conflito existente no Parque é a falta de promovendo a melhoria da qualidade de vida
transparência da Prefeitura Municipal para os das comunidades. A linha Manejo de Pesca
moradores das comunidades, principalmente tem como objetivo promover a gestão
no que diz respeito ao uso do ICMS Ecológico participativa da pesca, visando o ordenamento
proveniente da existência do PARNA. As pesqueiro regional, de forma a resguardar os
comunidades têm um ônus econômico pela recursos marinhos, a economia local e a
existência do PARNA, o que deveria ser riqueza cultural relacionada à pesca. A opção
recompensado pela Prefeitura utilizando esse de promover a gestão de forma participativa
recurso em obras de infra-estrutura, saúde e foi do IPÊ, pois a instituição acredita que só
educação para as comunidades o que não assim a gestão é efetiva e realista. A equipe
ocorre. chegou nessa conclusão quando percebeu que
era importante os usuários do recurso fazerem
Descrição da ação de GERCO parte dessa gestão e, que projetos de gestão
pesqueira bem sucedidos tinham a mesma
Como vimos anteriormente, as ações do IPÊ filosofia: gestão participativa. Assumindo que
no Paraná se concentram na região do essa linha tem maior relação com o
PARNA Superagüi e estão divididas em três Gerenciamento Costeiro, pois a gestão da
projetos: Projeto de Conservação do mico- pesca faz parte dele, serão discutidas suas
leão-de-cara-preta, Projeto de Educação ações sobre a ótica do Gerenciamento
Ambiental e Projeto Manejo de Pesca e Costeiro Integrado.
Maricultura. O primeiro não se enquadra
como um projeto de Gerenciamento Costeiro, Em busca de uma gestão participativa
pois foca suas ações na conservação do pesqueira o IPÊ desenvolveu ações nos
primata ameaçado. O papel de gerenciar as campos da pesquisa, extensão/educação,
atividades potencialmente impactantes ao organização comunitária e fóruns
mico está sendo desenvolvido pelas atividades participativos. Na pesquisa as atividades se
dos outros dois projetos, ponto este que focaram no monitoramento do desembarque
caracteriza a integração entre eles. pesqueiro na Vila das Peças e Barra do
Superagüi no período de novembro de 2001 a
O projeto de Educação Ambiental, além de ser março de 2005; no acompanhamento mensal
um projeto independente, está contido nos da população de camarão-sete-barbas através

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

da biometria, sexagem e estágio de maturação 4. Planos de Ação para melhoria da pesca na


também no mesmo período; a realização de região;
um diagnóstico da pesca amadora para o 5. Comunidade mais confiante e atuante nas
ordenamento da atividade no período de 2003 reuniões.
e 2004; e a realização de um Diagnóstico
Participativo da Pesca levantando dados de 4.1. Governança e suas mudanças depois da
locais de pesca, petrechos e artes de pesca, ação de GERCO
principais espécies capturadas, canais de
comercialização, estocagem e conservação do Todas as atividades desenvolvidas pelo IPÊ
pescado, impactos ambientais causados pela têm o objetivo de influenciar políticas
pesca, conflitos e formas de regulação, públicas em benefício da conservação e do
relações institucionais e forma de lideranças. desenvolvimento sustentável. No caso do
projeto Manejo de Pesca, isto se faz possível
No âmbito da educação e extensão, o IPÊ através dos fóruns participativos.
juntamente com outros parceiros (e.g.
Instituto de Pesca e Capitania dos Portos), e A existência de fóruns participativos faz com
visitas domiciliares dos técnicos do IPÊ para que os direitos de uso tradicional voltem para
auxiliar os pescadores e maricultores em suas a pauta da discussão. Antes o estado impôs
atividades. Na organização comunitária, os uma regra para as comunidades que estavam
técnicos apóiam e capacitam os pescadores na ao redor e dentro da UC, mas agora ele divide
criação e gestão de associações além da o poder da sua gestão, a partir de um segundo
participação das Conferências Nacionais de momento onde percebe que se não estiver do
Pesca promovidas pela SEAP em 2003 e lado das comunidades a conservação da UC
2004. Já os fóruns participativos tiveram não é eficiente. Além disso, os fóruns
como objetivo criar espaços de discussões e participativos trazem as comunidades para a
decisões de forma participativa da gestão da discussão da gestão da UC criando um
pesca na região do PARNA Superagüi. Foram compromisso da população local com a UC.
realizados dois fóruns que geraram Planos de
Ações para a melhoria da situação pesqueira, Agora a responsabilidade da gestão e dos
com responsabilidades dos órgãos gestores, objetivos da conservação não só do IBAMA,
das ONGs e das comunidades. mas também das comunidades. (Senso de
propriedade). É importante salientar que o
Todas essas atividades geraram as seguintes PARNA é de propriedade estatal, porém com
mudanças e resultados: livre acesso aos recursos. Com os fóruns
participativos espera-se que sejam criadas
1. Resultados de pesquisa que subsidiem a regras de usos (zoneamento, plano de manejo
gestão: estatística pesqueira, diagnósticos e acordos) tornando a propriedade estatal com
dos conflitos, petrechos, artes de pesca, regras de propriedade de uso comunal
canais de comercialização, áreas de usos (comunidades).
etc.;
2. Capacitação e Educação para os Como a área de estudo se trata de um Parque
pescadores; Nacional, o IBAMA é o órgão federal
3. A criação de espaços democráticos de responsável pela administração do PARNA.
discussão da gestão pesqueira de forma Dentro dos poderes legais ele é a instância
participativa; superior de decisão de gestão da UC, baseada

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

na legislação ambiental. Com a existência de trabalhem em parceria (e.g. IPÊ e pescadores).


fóruns participativos e a criação de Planos de A fiscalização mais forte é feita pelos órgãos
Ações com responsabilidades divididas entre gestores, mas os usuários também a fazem,
os atores, o poder passa a ser dividido entre os pois sabem que aquilo que foi decidido é a
órgãos gestores e os usuários dos recursos melhor opção para a maioria. Também ocorre
naturais. uma espécie de prestação de contas todas as
vezes que esses atores se reúnem novamente.
Esse tipo de ação além de ser muito bem
aceito pela sociedade civil como um todo, é 4.3. Problemas críticos sendo abordados ou
aceito pelo MMA/IBAMA, a SEAP – não pela ação de GERCO
Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, o
IAP – Instituto Ambiental do Paraná, pelos A abordagem no tema do ordenamento
poderes governamentais municipais, pelas pesqueiro é válida, pois este é a principal
entidades de classe e pela comunidade local. fonte de renda e de alimentação, porém
existem outros temas que não são discutidos e
4.2. Tomada de decisão também são importantes com vemos no
próximo item. Diversos outros problemas não
Os fóruns participativos sempre são formados são abordados como pro exemplo: saúde,
por representantes dos órgãos e das educação, saneamento básico, problemas
comunidades. Todos podem opinar nas fundiários, erosão. Mas focando nas ações de
decisões e tudo é levado para acordos. Se caso ordenamento pesqueiro, dois problemas
a discussão não conseguir chegar a um críticos não são abordados: canais de
acordo, o assunto é levado para votação, onde comercialização mais justos excluindo
o peso do voto é igual para todos. Os critérios atravessadores e organização da classe com
usados para tomada de decisão são os de atingindo maior representatividade. Acredito
prioridade. Os temas sofrem uma reflexão e as que esses dois problemas mais complexos,
prioridades são eleitas pelos usuários. As pois existe uma acomodação por parte dos
informações usadas são de dois tipos: pescadores para com os atravessadores,
informações técnicas e conhecimento mesmo com os pescadores ganhando menos
tradicional. As informações técnicas são dinheiro.
coletadas anteriormente através de dinâmicas
de grupo e apresentada no momento do fórum. Já na questão de organização, a cultura
Como estas informações já contemplam o individualista aliado com a falta de
conhecimento tradicional, este aparece se conhecimento de como mudar essa situação,
alguma informação estiver errada ou faz com que o tema não seja pauta dos
incompleta. Os principais fatores problemas. Os principais problemas de
influenciando a tomada de decisão são: implementação sofridos ou antecipados são:
prioridade de ações discutidas em grupo; a) em alguns momentos falta abertura para os
grande número de pessoas querendo a pescadores falarem, principalmente quando a
resolução do conflito/problema; discussão fica no âmbito dos interesses das
conflitos/Problemas que fazem parte da instituições; b) faltam também cuidados de
agenda dos órgãos. linguagem por parte dos técnicos para não
inibirem os pescadores.
As ações são implementadas por uma
instituição ou por um conjunto de atores que

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

O modo bonito e difícil de falar de alguns • Trabalhar mais na organização


técnicos deixa os pescadores inibidos, comunitária. Extensão (esclarecimentos),
podendo atrapalhar uma posição importante Capacitação (legislação, direitos e deveres
dos pescadores; c) desconfiança por parte dos dos pescadores, gestão de grupos).
usuários, pois o processo é demorado e nem Maricultura
sempre concluído; d) falta de participação
• Fortalecer a extensão aqüícola;
continuada dos representantes dos usuários.
Em muitas comunidades que não há um líder, • Aumentar capacitação para a
não há um continuidade do mesmo comercialização (Estudo de Mercado,
representante em todas as reuniões; f) Plano de Negócios, Marketing, agregação
participação não ativa por representantes dos de valor ao produto); e
órgãos e das comunidades. Muitas vezes a • Organização comunitária para a
pessoa só está na reunião para sair do seu maricultura (gestão de associações, gestão
escritório ou da sua comunidade, mas sem de grupo, política, legislação).
participar das discussões. Educação Ambiental
4.4. Perspectivas de mudanças • Desenvolver uma Educação Ambiental
mais ampla. Não trabalhar só com a
Atualmente existem na região dois conselhos
educação informativa sobre a importância
de Unidade de Conservação: o CONAPA –
da natureza, mas influenciar nas mudanças
Conselho Gestor da APA de Guaraqueçaba,
de comportamento:
na qual o PARNA está incluído e o
CONPARQUE – Conselho Gestor do Parque • Gestão de grupos;
Nacional do Superagüi. Os dois conselhos têm • Planejamento familiar (filhos,
reuniões em conjunto com representantes das administração do dinheiro familiar,
duas áreas. A gestão é do tipo participativa, ou educação dos filhos em casa);
seja, o IBAMA divide poderes e • Educação sanitária (boa saúde e razoável
responsabilidades com todos os atores expectativa de vida).
envolvidos com a área. Para o IPÊ, a criação
dos conselhos foi uma solução muito boa, pois Referências Bibliográficas
dá continuidade nos planos de ações, além de
estar na agenda de órgãos públicos e
instituições. O recurso financeiro para ocorrer ANDRIGUETTO-FILHO, J.M. 2003. Technical
as reuniões do conselho é buscado por todos change and differentiation of small-scale
os envolvidos, o que garante um sucesso de fisheries production systems in the coast of
realização das reuniões. A estrutura de Paraná, Brazil. in ANDRIGUETTO-FILHO,
governança também aumentou com os J.M. (Org.) Desenvolvimento e Meio Ambiente.
conselhos, além de aumentar a aproximação Dinâmicas Naturais dos Ambientes Costeiros:
dos órgãos gestores e o os usuários dos Usos e Conflitos. Curitiba. Editora UFPR: 43-58.
recursos. GROOM, M. J.; MEFFE, G. K.; CAROLL, C. R.
2005. Principles of Conservation Biology, Third
4.5. O que mudar nas ações do IPÊ depois Edition.
dessa reflexão? MIGUEL, L. de A . 1997. Formation, evolution
Manejo de Pesca er transformation d’um système agraire dans le
sud du Brésil (Litoral Nord de l’état du
• Usar dados de pesquisa para Paraná). Une Paysannerie face à une politique
regulamentação de pescarias. de protection de l’environnment: “Cronique

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

d’une mort annoncée?”. Paris, 1997. 293p. Tese


(Doutorado) – Institut National Agronomique
Paris/Grignon.
PRIMACK, 1993. Essencials of Conservation
Biology. Massachussetts, Sunderland.
ROUGELLE, V. 1993 La crise de la péche
artisanale: transformation de léspace et
destructuration de l’activité – le cas de
Guaraqueçaba (Paraná, Brésil). Nantes (FR).
410p. Tese (Doutorado) – Université de Nantes.

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

CADEIA DE PRODUTOS DA SOCIOBIODIVERSIDADE NA REGIÃO


DO MOSAICO DE ÁREAS PROTEGIDAS DO BAIXO RIO NEGRO:
UMA EXPERIENCIA DE MAPEAMENTO PARTICIPATIVO

Oscar Sarcinelli, Rafael Illenseer, Sarita de Moura e Thiago Mota Cardoso


oscar@ipe.org.br

RESUMO

O objetivo principal deste trabalho é apresentar a metodologia utilizada e resultados parciais do mapeamento
das cadeias de produtos e serviços da sociobiodiversidade na região do baixo rio Negro. Os produtos e serviços
da sociobiodiversidade são gerados à partir da apropriação dos recursos naturais pelos povos tradicionais e
asseguram a manutenção e a valorização de seus laços sociais, suas práticas e saberes. Acreditamos que a
especificidade da forma de produção destes produtos seja seu grande diferencial de mercado e que o incentivo,
o fortalecimento e a valorização destas cadeias produtivas representam uma oportunidade real de
desenvolvimento econômico e conservação in situ da biodiversidade para a região.

1. INTRODUÇÃO municipais (BORGES ET AL, 2007; MMA,


2008).
O principal instrumento de política pública
para conservação da biodiversidade é o A história demonstra que o processo de
estabelecimento de Áreas Protegidas criação destas Áreas sempre foi conflituoso.
(BARRETO, 1999). Nos últimos 20 anos, Os conflitos decorreram e, em muitos casos
com o advento de recursos internacionais ainda decorrem, de fatos como: os processos
destinados à conservação do meio ambiente de consulta popular inexistiram ou
no Brasil, o poder público vem fazendo existiram, mas foram conduzidos de forma
grande uso deste instrumento legal como parcial; a categoria estabelecida para a nova
forma de garantir proteção às áreas Área protegida não estava de acordo com a
consideradas “... de extrema importância realidade da região; as novas Áreas foram
para conservação da biodiversidade” criadas em sobreposição com outras Áreas
(MMA, 2002). Protegidas ou com territórios
tradicionalmente já ocupados (BARRETO,
Existem atualmente no Brasil 1999). A precária situação de gestão da
aproximadamente 200 milhões de hectares grande maioria das Áreas Protegidas no
de terras, nos diferentes biomas, legalmente Brasil, e em particular no Amazonas,
inseridos dentro de Áreas protegidas e, deste contribui favoravelmente para ampliação
total, 116 milhões de hectares estão dentro destes conflitos.
do domínio da Amazônia legal brasileira.
Somente no estado do Amazonas, uma das Com a finalidade de buscar soluções para
regiões com maior área protegida do mundo, tamanho desafio, o Ministério do Meio
existe 78 milhões de hectares de Áreas Ambiente vem por meio do Decreto nº
Protegidas, distribuídas entre: 46 milhões de 4.340/2002, que regulamenta o Sistema
hectares dentro de Terras Indígenas e outros Nacional de Unidades de Conservação (Lei
32 milhões de hectares dentro de Unidades n˚ 9.985/2000), incentivando a constituição
de Conservação federais, estaduais e de Mosaicos de Áreas Protegidas. Os
Mosaicos devem ser reconhecidos pelo

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

Ministério do Meio Ambiente e geridos por As estratégias de desenvolvimento


Conselho Consultivo, garantindo a propostas para o baixo rio Negro têm como
participação da população diretamente objetivo principal dinamizar a economia
envolvida neste processo. local ao mesmo tempo em que apresenta
uma perspectiva alternativa de
O objetivo principal dos Mosaicos é desenvolvimento. O plano está embasado na
conseguir articular um conjunto de Áreas valorização sociocultural dos povos
Protegidas, seus gestores e a sociedade civil tradicionais, seus produtos/serviços e na
diretamente envolvida, em torno de dois conservação in situ da biodiversidade local
propósitos básicos: a proteção e conservação em longo prazo. A proposta apóia-se em
da biodiversidade in situ com a valorização dois grandes “eixos” de desenvolvimento
da diversidade sociocultural e o local, a saber:
desenvolvimento local sustentável. 1. Identificar, caracterizar e propor ações
no sentido de fortalecer as cadeias de
Na região do baixo rio Negro, o IPÊ, com produtos e serviços da sociobiodiversidade
apoio do Fundo Nacional do Meio da região e;
Ambiente (Fnma) e de parceiros, vem
fomentando o planejamento, a articulação 2. Propor ações direcionadas ao
interinstitucional e a mobilização da pagamento/remuneração aos povos
sociedade civil com o propósito de formar tradicionais da região pela conservação in
um grande Mosaico de Áreas Protegidas. É situ dos serviços ambientais e
a partir desta iniciativa que o projeto socioculturais;
“Mosaico de Unidades de Conservação do
baixo rio Negro” foi submetido ao Edital A primeira estratégia está relacionada à
01/2005 do Fnma e aprovado, tendo inicio utilização dos produtos da
ao final de 2006. Os objetivos deste projeto sociobiodiversidade do baixo rio Negro
são: (i) formar o Mosaico de Áreas como o grande potencial de geração de
Protegidas do baixo rio Negro, envolvendo riqueza e desenvolvimento sustentável da
os atores sociais na sua gestão; (ii) elaborar economia local. Para tanto, apóia-se no
e implementar o plano de Desenvolvimento incentivo à produção comunitária em bases
Territorial do Mosaico; (iii) criar um banco sustentáveis, na capacitação dos produtores,
de dados do Mosaico. na comercialização de forma mais justa e
equitativa da produção, na valorização e
O foco deste artigo está na apresentação das fortalecimento dos patrimônio cultural
estratégias utilizadas pela equipe do projeto material e imaterial dos povos tradicionais
para o cumprimento das atividades da região e na conservação in situ da
relacionadas à Meta 2 do projeto: Elaborar biodiversidade local.
e implementar o plano de Desenvolvimento
Territorial do Mosaico e dos resultados até Espera-se conseguir um “sobre-preço” para
agora alcançados. os produtos da região do baixo rio Negro
devido a sua especificidade e base produtiva
1.1. A proposta de desenvolvimento ecológica e com bases na tradição. Pretende-
territorial se utilizar as especificidades economia
solidária nesta região como a principal base

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

para seu desenvolvimento econômico (estágios técnicos de produção e


sustentável de longo prazo. distribuição) integradas, realizadas por
diversas unidades de produção interligadas
O Ministério do Desenvolvimento Agrário como uma corrente e/ou rede, desde a
(2008) apresenta a seguinte definição para extração e manuseio da matéria-prima até a
produtos da sociobiodiversidade: distribuição do produto final nos mercados
consumidores (AFNOR, 1987 apud
“... produtos da sociobiodiversidade são
SEMANI, 1992; MIELKE, 2002).
bens e serviços gerados a partir de
recursos da biodiversidade local,
Os estudos de cadeias produtivas têm como
voltados à formação de cadeias
objetivo principal uma maior compreensão
produtivas de interesse dos Povos e
da participação de cada agente econômico
Comunidades Tradicionais e de
na produção e suas interconexões através
Agricultores Familiares (PCTAF), numa
dos fluxos de materiais, capital e
relação harmônica entre si, com
informação. Utilizam-se suas ferramentas
sustentabilidade, justiça social e respeito
analíticas, para a identificação dos pontos
às especificidades culturais e territoriais,
fortes e dos pontos fracos de cada cadeia
que assegurem a manutenção e a
produtiva, assim como para a formulação de
valorização de seus laços sociais, suas
estratégias e políticas para os diferentes
práticas e saberes, dos direitos
segmentos relacionados à produção.
decorrentes, da melhoria do ambiente em
que vivem e da sua qualidade de vida”.
O segundo “eixo” de desenvolvimento está
relacionado ao incentivo e promoção da
Especialistas consideram que o
conservação in situ da biodiversidade na
fortalecimento das cadeias de produtos e
serviços gerados a partir dos recursos da bacia do rio Negro. A estratégia apóia-se na
sociobiodiversidade é fundamental para valoração econômica dos serviços
ambientais decorrentes da manutenção do
possibilitar a integração da conservação e
uso sustentável dos ecossistemas ao equilíbrio ecológico da floresta conseguido
desenvolvimento econômico. A inclusão apenas quando as estratégias de
sobrevivência da população local estão,
produtiva das práticas e saberes dos povos
tradicionais dentro desse processo historicamente, integradas e adaptadas ao
possibilitam a valorização deste meio ambiente natural.
conhecimento e de seus produtos no
mercado devido à sua grande especificidade A idéia central desta proposta é utilizar-se
(MDA, 2008). dos mecanismos de mercado justo para
remunerar a população local pelo uso de
Conceitualmente uma cadeia produtiva pode técnicas de produção tradicionais, pela baixa
ser entendida como um encadeamento de escala produtiva e pelo baixo impacto sobre
a biodiversidade local, assim como pela
modificações da matéria-prima, com
finalidade econômica, que inclui desde a manutenção da floresta e de seus serviços
exploração desta matéria-prima em seu ambientais.
ambiente natural, até a disponibilização do
produto final nos mercados consumidores. Os incentivos de ordem econômica
De forma geral, as cadeias produtivas são funcionam como estímulo aos comunitários
construídas por uma sucessão de operações para que internalizem os ganhos econômicos

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

potenciais destas atividades em suas Este processo de consulta aos dados


decisões sobre a permanência (ou não) da secundários levou aproximadamente seis
família no interior, sobre o tipo de uso do meses e criou uma importante base de dados
solo e o manejo dos recursos florestais. que nos possibilitou direcionar a coleta de
dados primários em campo. As informações
2. A METODOLOGIA DO secundárias foram obtidas, principalmente,
MAPEAMENTO através do acesso aos bancos de dados da
Secretaria de Desenvolvimento Sustentável
A estratégica metodológica utilzada no do Estado do Amazonas (SDS), do Instituto
mapeamento das cadeias de produtos da Chico Mendes de Proteção da
sociobiodiversidade foi dividida em três Biodiversidade (ICMBio), da FVA -
etapas básicas, a saber: a) consulta da dados Fundação Vitória Amazônica, do IPE –
secundários; b) entrevistas com os atores Instituto de Pesquisas Ecológicas, do ISA –
sociais e institucionais que compõem o Instituto Socioambiental, do INPA –
Mosaico e; c) a apresentação, discussão e a Instituto Nacional de Pesquisas Amazonia e
validação em plenária com o maior número da Universidade Estadual do Amazonas;
de representantes comunitários e IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia
institucionais dos resultados do Estatística, dentre uma centena de tese,
mapeamento. artigos e relatórios elaborados por
pesquisadores do rio Negro.
2.1 A estratégia de consulta a dados
secundários 2.3. Coleta de dados primários

Observamos em campo que muitas das A coleta dos dados primários foi
informações gerais sobre a região, suas direcionada ao mapeamento e
características físicas, biodiversidade e espacialização das iniciativas de produção
povos já haviam sido diagnosticados por comunitária. O objetivo princiapl desta
diversas instituições e pesquisadores e, atividade foi identificar os produtos e
sendo assim, sair a campo para coletar serviços da sociobiodiversidade na região, a
novamente estes dados seria inviável tanto forma de apropriação dos recursos naturais
em termos de tempo como também em pelas comunidades e as formas de
termos de recursos. comercialização destes produtos e serviços.

Portanto, optou-se por realizar uma ampla A metodologia utilizada foi o


pesquisa bibliográfica incluindo os plano de estabelecimento de “Diálogos semi-
Manejo da então ESEC Anavilhanas, do estruturados” com os diferentes atores
PARNA Jau e do PAREST Rio Negro, institucionais, da sociedade civil e
setores Norte e Sul com o objetivo de representantes comunitários como forma de
caracterizar a paisagem, seus recursos e identificar os produtos tradicionalmente
modo de vida da população local. Também produzidos na região e mapear as áreas de
foram consultados dados sobre as atividades ocorrência destes produtos.
econômicas e os projetos de geração de
renda estabelecidos na região. Os “diálogos semi-estruturados” consistem
num método onde conversas com
representantes-chave das comunidades,

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

pesquisadores, organizações da sociedade FIGURA 1: Ilustrações da forma de coleta de dados


civil e das instituições públicas possibilitam sobre a cadeia de produtos da sociobiodiversidade na
região do baixo rio Negro.
o entendimento da realidade local por parte
dos pesquisadores. A figura 1 ilustra o
O cronograma das atividades realizadas pela
processo de coleta de dados junto aos
equipe pode ser observado na tabela 1 e a
representantes comunitários.
área onde foi realizado o mapeamento está
apresentada na figura 2.
As perguntas vão sendo desenvolvidas
durante o transcurso das entrevistas, TABELA 1: Lista das expedições/vsitas realizadas e
utilizando-se da metodologia geradora de nome de gestores, pesquisadores e representantes
dados (POSEY, 1987), onde questões mais comunitários entrevistados.
fechadas se entrecruzam com questões Atividade de mapeamento dos
subjetivas e as mais abertas possíveis. Data produtos da sociobiodiversidade
no baixo rio Negro
Durante a entrevista, são utilizados mapas
com a identificação das comunidades Expedição para entrevistas e
10/01 a
inseridas na região do Mosaico e pranchas 17/02/2007
mapeamento das atividades no
de anotações onde as respostas, os PAREST rio Negro setor Sul.
apontamentos, as opiniões e sugestões dos
Participação em Oficina realizada
entrevistados são devidamente registradas e 07 e pela FVA com organizações sociais
demarcadas no mapa. As entrevistas foram 08/06/2007 do município de Novo Airão e
realizadas durante todo o ano de 2007 e em entrevistas com atores sociais.
parte do ano de 2008.
10, 11 e Reunião do Conselho Consultivo
12/07/ PAREST rio Negro setor Norte.
2007 Entrevistas com atores sociais.

Entrevistas com representantes da


AANA, STRNA, Colinia Z34,
17, 18 e
APNA, Nov’Arte, APINA que são
19/07/2007
organizacões de classe do município
de Novo Airão.

Expedição ao PAREST rio Negro


21 e
setor Norte. Entrevistas com atores
22/07/2007
sociais.

Expedição/Visita a RDS Tupé.


06/08/2007
Entrevistas com atores sociais.

Expedição/Visita ao PAREST rio


13 e 14/09
Negro setor Sul. Entrevistas com
/2007
atores sociais.

Expedição/Visita APA Margem


26/09/2007 Esquerda do rio Negro. Entrevistas
com atores sociais.

Reunião do Conselho Consultivo


26/11/2007 ESEC Anavilhanas. Entrevistas com
atores sociais.

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

Expedição pelas comunidades da Como resultado deste processo obteve-se a


margem esquerda do rio Negro identificação das principais
26 e
(PAREST Sul, APA e PDS Apuaú-
27/02/2008
Cuieiras) . Entrevistas com atores
iniciativas/atividades econômicas
sociais. desenvolvidas em cada comunidade da
região, assim como os principais potencias
Reunião do Conselho Consultivo de produção de novos produtos, segundo os
12 e
PAREST rio Negro setor Norte. próprios atores locais. Os dados sobre estas
13/03/2008
Entrevistas com atores sociais.
iniciativas/atividades econômicas foram
Reunião do Conselho Consultivo reunidos em um banco de dados
14/03/2008 ESEC Anavilhanas. Entrevistas com georeferenciado, que permite à equipe
atores sociais. elaborar mapas com a localização destas
07 a Entrevistas com diversos atores atividades. A figura 2 apresenta uma janela
12/07/2008 sociais de Novo Airão. de visualização do programa ArcGIS 9.2
onde o banco de dados está sendo
Conselho Consultivo do PARNA trabalhado.
17 a
Jaú e da RESEX Unini. Entrevistas
21/07/2008
com atores sociais.

FIGURA 2: Abrangência da área de coleta dos dados FIGURA 2 – Janela de visualização do ArcGis 9.2
primários com destaque para a tabela de atributos do shape
“comunidades”.
Os dados coletados nos diálogos com os
atores locais foram posteriormente 2.3. Apresentação, discussão e validação
analisados e lançados em uma matriz que dos resultados em plenária
cruza as iniciativas/atividades produtivas
com as comunidades que as desenvolvem. A terceira etapa, a ser realizada ainda no
Todos os entrevistados são incentivados a primeiro semestre de 2009, será uma
relatar as iniciativas/atividades produtivas apresentação em plenária dos resultados do
que reconhecem como sendo importantes mapeamento dos produtos da
para a sua própria comunidade, mas também sociobiodiversidade da região e contará com
para as comunidades do entorno. a aprticipação dos diferentes atores
envolvidos no processo de criação do
Mosaico.

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

A realização de oficina tem como objetivo que acompanham a cheia e a seca, amplia
principal apresentar os resultados do assim a diversidade de produtos da
projeto, validá-los junto aos principais sociobiodiversidade e torna as relações
interessados, inserir informações relevantes sociais de produção mais complexas.
que tenham eventualmente ficado de fora do
plano e, de forma participativa, propor as A pluriatividade dos agentes econômicos se
estratégias de implementação do referido inter-relaciona a uma complexa rede de
plano. O resulado esperado para esta oficina relações socioculturais de trocas de saberes,
será o apoio e o envolvimento dos atores de saber-fazer, de trabalhos coletivos
sociais do Mosaico do baixo rio Negro nas comunitários e de trocas de produtos,
estratégias de implementação do plano. informações e conhecimentos. Os resultados
da inter-relação social entre as formas de
3. RESULTADOS PARCIAIS DO produção e a cultura tradicional moldam
MAPEAMENTO redes sociais de produção pouco
segmentadas, relativamente curtas e com um
Na região do baixo rio Negro as cadeias de alto nível de interdependência entre si
produtos e serviços da sociobiodiversidade através das trocas e comercialização intra-
caracterizam-se por ser curtas e, ao mesmo comunidades e das comunidades com os
tempo, formadas por redes socioculturais intermediários (denominados na região
muito complexas. O encurtamento das como “aviadores” ou “regatões”).
cadeias pode ser explicado pela baixa
especialização dos agentes produtivos e pelo Esta região beneficia-se ainda pela relativa
baixo nível de processamento de seus proximidade da cidade de Manaus, principal
produtos. Nesta região, a maioria dos centro consumidor da região, e pela
produtos comunitários é comercializada in existência de outras cidades menores como
natura passando apenas por processos o município de Barcelos (localizada ao norte
simples de coleta, seleção, limpeza e da região), de Novo Airão (ao centro) e de
beneficiamento básico, como é caso da Iranduba e Manacapuru (ao sul). A
retirada de óleos, fibras, cipós e coleta de proximidade dos centros consumidores
frutas das plantas e árvores da região. exerce grande pressão sobre as atividades
produtivas na região, a final são quase dois
O segmento produtivo é composto por milhões de consumidores. De forma geral,
agentes pluriativos que se dedicam a um esta proximidade dos mercados
grande número de atividades e à produção consumidores apresenta vantagens e
de uma significativa diversidade de desvantagens para o desenvolvimento da
produtos. Nestas condições são os próprios região. As vantagens relacionam-se
comunitários os responsáveis pela coleta, principalmente com a certeza de acesso a
pesca, caça e/ou cultivo de plantas e erva mercados para os produtos do baixo rio
medicinais, seu beneficiamento, Negro, mas, por outro lado, também
processamento, comercialização e, em estimula a produção/extração de produtos
alguns casos, até mesmo pela distribuição ilegais, como é o caso do extrativismo
aos mercados consumidores. Esta madeiro, da caça e da mineração.
característica, de pluriatividade, representa
uma estratégia de sobrevivência das famílias De forma geral, a economia dos povos
nos diferentes ciclos sazonais de produção tradicionais da região do baixo rio Negro se

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

apóia na produção/extração de uma ampla As comunidades tradicionais e urbanas que


variedade de recursos naturais locais habitavam e habitam esta região
cultivados ou apropriados pelos desenvolveram técnicas criativas e
comunitários em seu dia-a-dia com a comportamentos bem elaborados que
finalidade do autoconsumo familiar e respeitam os ciclos naturais anuais. Como
subsistência1, garantindo a propria exemplos destas técnicas citam-se:
sobrevivência das famílias. Neste sistema agricultura de pousio, cultivo rico em
econômico a produção de excedentes para diversidade de espécies e variedades; acesso
comercialização é pequena (baixa escala a diversidade de plantas nativas; uso dos
produtiva) e destina-se principalmente para vegetais de forma associada espacial e
a troca e obtenção de outros gêneros temporalmente com a caça e a pesca;
essenciais à sobrevivência das famílias. reciprocidade econômica.

As relações de troca entre comunitários, Nota-se uma grande influência deste modo
comunidades e comerciantes se dão quase típico de vida sobre as atividades
que totalmente sem a mediação da moeda, econômicas estabelecidas na região. O
num sistema de dádivas. As trocas e saber-fazer e as formas de acesso, manejo e
doações geralmente são entre gêneros exploração dos recursos naturais locais
alimentícios (produtos agrícolas e do obedecem a saberes e técnicas de produção
extrativismo florestal) por bens alimentícios tradicionais idealizadas com baixo
processados em outras comunidades, por investimento de capital, baixa produtividade
bens básicos provenientes das cidades e pequena escala produtiva, mas respeitando
(bens/produtos de necessidade básica) e, por os ciclos ecológicos e a sazonalidade da
equipamentos destinados a facilitar o produção.
trabalho dos comunitários no interior.
Como não poderia ser diferente, a população
Na região a flutuação no nível da água do residente nesta região tem na pesca uma de
rio Negro dirige o funcionamento ecológico- suas principais atividades socioculturais,
produtivo de todo o sistema, ou seja, durante estando integrada a agricultura de coivara, a
o período de cheia a capacidade de pesca é caça e ao extrativismo vegetal, como fontes
reduzida então as atividades agrícolas e fundamentais de recursos alimentares e
extrativistas prevalecem. No período de medicinais. A pesca representa a melhor
seca, a capacidade de pesca das populações fonte de obtenção de proteína animal nas
aumenta e então as atividades extrativistas e bacias de água preta, rendendo mais por
agrícolas são reduzidas. hora aplicada do que a caça na maioria dos
casos documentados na Amazônia.

                                                             Todas as famílias estabelecidas nesta região


1
Economia de subsistência é um termo usado para praticam a pesca, mas a pesca como
referenciar os sectores ou áreas de produção que não atividade econômica está concentrada ao
se integraram na economia tributária e mercantil. É norte do território, mais especificamente ao
uma forma de economia em que a produção é
direcionada a satisfação das necessidades pessoais e
longo do rio Unini. É ao longo do rio Unini,
para o consumo da sua família. Neste tipo de onde está estabelecida a Reserva Extrativista
economia, uma parcela desses bens excedentes é do rio Unini, que as atividades de pesca
permutada ou vendida em mercados e/ou feiras, comercial, a comercialização de peixes
diretamente ou por intermédio de mercadores.

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

ornamentais e a criação de quelônios cultivada em consórcio com ervas


mediante acordos entre associações de medicinais, plantas e árvores das quais se
moradores e o órgão gestor da Unidade de extraem frutas, fibras, cipós e óleos
Conservação são permitidas. vegetais. Mesmo que estas atividades
estejam voltadas principalmente à
A fauna de caça é importante para manter os subsistência e à segurança alimentar das
ciclos ecológicos do ambiente, atuando na famílias, existe a geração de excedentes que
dispersão e predação de sementes, são comercializados pelas famílias como
herbívora, polinização e na predação de forma de adquirir outros bens de
outros animais. De forma geral, os necessidade básica.
caçadores contam com um conhecimento
detalhado sobre a floresta e o Observa-se que ao sul do baixo rio Negro
comportamento dos animais (ARRUDA existe uma maior preocupação das famílias
CAMPOS, 2008). Juntamente com a pesca, com a geração de excedentes e com a
a caça é uma das principais atividades diversificação da produção que ao norte. A
realizadas em todas as comunidades proximidade da cidade de Manaus e a
ribeirinhas do rio Negro, sendo uma possibilidade de uso sustentável dos
fundamental fonte de calorias e proteínas, recursos naturais na Reserva de
mesmo em um ambiente com baixa Desenvolvimento Sustentável do Tupé são
biomassa animal (MORAN, 1990; SILVA fatores que incentivam a diversificação da
& BEGOSSI, 2004). produção. Nesta reserva é possível encontrar
o cultivo de frutas como abacaxi, banana,
O Artigo 37 da lei de crimes ambientais (Lei cupuaçu (além da farinha de mandioca),
9.605) não estabelece como crime o abate assim como o cultivo de uma mor
de animais, quando realizado em estado de diversidade de plantas e ervas medicinais,
necessidade e, tratando-se de populações coleta de sementes, cipós e fibras voltados
tradicionais, deve-se antever um tratamento para o grande mercado consumidor que é a
diferenciado da questão, que não seja a cidade de Manaus.
punição (Corredores Ecológicos, 2003).
Segundo os próprios caçadores das A proximidade da cidade de Manaus e a
comunidades que foram entrevistados, a possibilidade de acesso e manejo dos
caça é utilizada primordialmente para recursos naturais na RDS do Tupé criam
consumo familiar, sendo realizada sob “novas oportunidades de trabalho” da
constante “medo” da fiscalização dos órgãos região. Observa-se que os comunitários
ambientais. Contudo, os mesmos estão iniciando, com a ajuda do órgão gestor
comunitários apontaram para o fato de que, e das instituições de ensino e pesquisa da
muitas vezes, ocorre a caça predatória em região, “novos negócios sustentáveis” como
seus “espaços comunitários” por caçadores a piscicultura, a meliponicultura, o
de outras regiões. planejamento do turismo de base
comunitária e a agroindústria comunitária de
Em toda a região a agricultura é associada doces e derivados do cupuaçu.
ao extrativismo de produtos florestais não-
madeireiros. Os roçados são cultivados em As atividades de pecuária de corte, extração
sistemas agroflorestais onde a mandioca, madeireira, pequena indústria moveleira,
principal produto da agricultora regional, é pequena indústria náutica, olaria e carvoaria

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

concentram-se na região centro-sul da ornament regionais


ais
região, ao longo da rodovia AM 147, Ecoturis
Cupuaçu Cipó ambé Caça
construída na Área de proteção Ambiental mo
Farinha de Pecuária Hoteis de
da Margem Direita do rio Negro, que liga os mandioca
Cipó titica
de corte selva
municípios de Novo Airão e Manacapuru. Laranja Cumaru
Pisicultur Pesca
a esportiva
Observa-se que as atividades de maior Turismo
Meliponi
impacto ambiental estão concentradas nesta Maracujá Cupuaçu
cultura
de
aventura
região o que, de certa forma, possibilita um Visitação
Extração de
melhor ordenamento e fiscalização destas Sementes
areia
educacio
nal
atividades. Visitação
Óleo de
Tucupi histórico-
andiroba
cultural
O turismo está presente em toda a região do Plantas Óleo de
baixo rio Negro, mas muito pouco integrado medicinais Copaíba
Plantas
às comunidades. Esta atividade vem medicinais
recebendo grande incentivos públicos e Resina de
privados nos últimos anos, mas existem Breu
Sementes
poucas ações no sentido de ordená-lo Timbó-açú
adequadamente e planejá-lo de forma a Fonte: Dados coletados junto aos representantes
integrar as comunidades ribeirinhas aos seus comunitários, Sindicatos, Organizações e
benefícios. Associações sociais de classe no município de
Novo Airão e Barcelos, Secretaria de
As atividades turísticas estão concentradas Desenvolvimento Sustentável do Estado do
no centro-sul da região do Mosaico Amazonas, Instituto Chico Mendes de Proteção
principalmente porque esta região está mais da Biodiversidade, Fundação Vitória Amazônica
(FVA) e IPE – Instituto de Pesquisas
próxima da cidade de Manaus e, por isso,
Ecológicas.
oferece melhores estruturas de visitação
como hotéis de selva e embarcações com
O mapeamento dos produtos da
passeios diários pela região. Entretanto, o
sociobiodiversidade na região do baixo rio
município de Barcelos vem recebendo um
Negro permitiu o conhecimento de grande
grande número de turistas principalmente
parte destes produtos, sua localização
interessados na pesca esportiva. A tabela 2
espacial e sua importância para a economia
apresenta os cinco grandes eixos, os
regional. O próximo passo é o estudo da
produtos e serviços da sociobiodiversidade
cadeia de cada produto da
mapeados na região do baixo rio Negro.
sociobiodiversidade como forma de
Tabela 2: Produtos e serviços da sociobiodiversidade identificar seus pontos fortes e os principais
mapeados na região do baixo rio Negro. entraves ao seu desenvolvimento e, com
Extrativi Manejo isso, apontar estratégias para seu
Extrativis
Agricultura smo e criação desenvolvimento sustentável na região.
mo não- Turismo
tradicional madeirei de
madeireiro
ro animais

Pesca
Artesanat 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Madeira o em
Abacaxi Arumã subsistên
laminada fibras e
cia
sementes Planejar um modelo de desenvolvimento
Artesanat
Açaí
Pau -
Buriti
Pesca
o em
local socialmente justo e ecologicamente
escora comercial
cerâmica sustentável para a região do Mosaico do
Banana Castanha Peixes Comidas baixo rio Negro significa mais que

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

incentivar e potencializar as iniciativas CORREDORES ECOLÓGICOS. 2003. Plano


tradicionais de produção desta região. O que piloto de fiscalização, vigilância e
se pretende é, por meio da valorização dos monitoramento do Corredor Central da
saberes e do saber-fazer tradicional, criar Amazônia: diagnóstico da área piloto. 2ª
versão preliminar. Manaus.
um processo amplo de inserção produtiva
que garanta a melhoria da qualidade de vida Ministério do Desenvolvimento Agrário.
desta população ao mesmo tempo em que 2008.Cadeias dos produtos da
garante a proteção da biodiversidade em sociobiodiversidade: agregação de valor e
longo prazo. consolidação de mercados sustentáveis.
Relatório final do Seminário Nacional sobre
cadeia de produtos da sociobiodiversidade.
Contudo, a equipe sabe que este processo Brasília.
somente se tornará duradouro no momento
em que os povos do baixo rio Negro, Ministério do Meio Ambiente. 2002. Sistema
principais interessados no plano, se sentirem Nacional de Unidades de Conservação.
participantes e atuantes ao longo da Brasília.
construção deste processo. É por esse MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE. 2002.
motivo que, desde o início dos Plano de Manejo da Estação Ecológica de
planejamentos sempre existiu a preocupação Anavilhanas - Fase 2. Brasília.
da equipe em escutar as demandas dos MORAN, E. 1990. A Ecologia humana das
atores sociais, entender a realidade social e populações da Amazônia. Petrópolis: Editora
os conflitos sociambientais da região. Vozes. São Paulo.
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24
Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

O ENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO NA INTERVENÇÃO DA


PREDAÇÃO DE REBANHOS DOMÉSTICOS NO ALTO RIO PARANÁ

Kauê Cachuba de Abreu; Daniel Mandric Mellek; Fernando Lima; Laury Cullen Jr.
cachubaabreu@hotmail.com

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados parciais do trabalho realizado pelo IPE, em parceria
com o LABCEAS, na região dos remanescentes florestais do alto Rio Paraná. Este projeto busca, ao mesmo tempo,
informações sobre as ocorrências de ataques dos grandes felinos em rebanhos de animais domésticos e intervir nos
conflitos entre as atividades agropecuárias vs manutenção de carnívoros silvestres. Espera-se promover, através das
atividades do projeto, a possibilidade de manejo destes conflitos e, enfim, conseguir minimizar as perdas econômicas
aos agricultores decorrentes dos ataques dos grandes felinos e, por outro lado, evitar o abate indiscriminado destes
animais. O método utilizado é a realização de testes de intervenção agropastoril, a partir de técnicas como áreas de
exclusão, cães de proteção, cercas elétricas, estímulos aversivos, repelentes e outras metodologias sugeridas para
controle. Neste processo, a participação e envolvimento dos diferentes setores da sociedade tornam-se fundamentais
tanto para o sucesso das ações como para a proposição de cenários e estratégias de intervenção efetivas, contribuindo
assim para a melhoria da qualidade de vida regional.

1. INTRODUÇÃO uso além de apresentar alto índice de


territorialidade. Neste cenário, a classe
O histórico de exploração da Floresta Mammalia citada por alguns autores como a
Estacional Semidecidual (Eiten, 1974) mais exposta a ameaças de extinção
resultou no que é hoje a mais ameaçada (Schierholz 1991).
tipologia florestal do bioma Floresta
Atlântica. Este bioma encontra-se atualmente Atividades para propiciar ações de
distribuído em fragmentos florestais que, em intervenção para controle não-letal de
conjunto, representam aproximadamente (5%) carnívoros silvestres envolvidos em conflitos
de sua área original (Dean, 1996; SOS Mata com rebanhos domésticos (Swartz, 1991;
Atlântica & INPE, 1993). Dentro deste Kellert et al., 1996; USDA, 1999; Crawshaw,
cenário de destruição, os médios e grandes 2003; Cavalcanti, 2002; 2003), funcionando
mamíferos silvestres sofreram, e ainda sofrem como alternativa as condições de perseguição
de um rápido declínio populacional que é e abate indiscriminados realizados para
associado a perda de habitat, endogamia e controle da população de espécies carnívoras,
problemas genéticos associados ao isolamento bem como o controle e prevenção de danos
geográfico e epizootias, que variam de acordo causados aos rebanhos domésticos, atitudes
com a região. estas que encontramos na cultura humana de
exercer perseguições sistemáticas as espécies
Mesmo que sejam encontrados registros de de grandes felinos (onça-pintada ou jaguar,
indivíduos em fragmentos florestais, a Panthera onca e o puma ou suçuarana, Puma
quantidade de indivíduos e a disponibilidade concolor) como forma de controle
de recursos, na maioria das localidades, não (Crawshaw, 2002; Cavalcanti, 2002;
são suficientes para manter uma população Hoogesteijn & Hoogesteijn, 2003; Cavalcanti,
estável em longo prazo (i.e. de 50 a 100 2003; Crawshaw, 2003; Crawshaw et al.
anos). Isto ocorre porque os mamíferos, de 2004; Palmeira, 2004; Cullen et al, 2005²;
maneira geral, necessitam de grandes áreas de Cullen, 2007).

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

Alem de termos a existência de legislação Padua et al, 2002; Diehl, 2003; Cullen et al,
especifica para abate de animais silvestres 2005²; Tofoli & Lima, 2007; Cullen, 2007;
(Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998). “O Abreu et al, 2008).
artigo 36 abre uma exceção e não considera
crime quando o abate de animais silvestres é Para os testes foram selecionadas
realizado para proteger lavouras e rebanhos da propriedades em localidades com existência
ação predatória ou destruidora de animais. de remanescentes florestais que foram
Porém, situações em que o controle seja visitados na busca de informações sobre a
necessário, devem ser legalmente autorizadas estrutura do ambiente florestal e a integridade
e fundamentadas com bases científicas da comunidade de mamíferos silvestres.
provenientes de trabalhos com bases Nestas regiões também foram realizadas
ecológicas e comportamentais das populações buscas de informações sobre os diferentes
silvestres” (Cavalcanti, 2003; Boutin, 2005; conflitos entre as atividades humanas e
Cullen et al, 2007). espécies silvestres, buscando pessoas da
comunidade local com características para
Esperamos com a realização de extensão rural participação nas diferentes atividades
e ação pratica de intervenção, testar algumas realizadas.
técnicas de controle não-letal dos carnívoros As áreas onde estão inseridas as propriedades
silvestres, intervindo no manejo agropastoril e rurais em que realizamos os testes, tem
proporcionar a comunidade, um melhor realidades diferenciadas em características de
entendimento deste conflito (Swartz, 1991; paisagens, conflitos, conectividade do
USDA, 1999; Crawshaw, 2003; Cavalcanti, mosaico florestal remanescente e
2002, 2003; Hoogestejin & Hoogestejin, proximidades com áreas fontes de
2003). biodiversidade.

2. MATERIAIS E MÉTODOS Foram monitoradas propriedades particulares


com diferentes realidades nas atividades
2.1. Área de estudo desenvolvidas, tipos de rebanhos domésticos,
Na região do remanescente natural dos tipo de manejo dos rebanhos, qualidade
ecossistemas florestais associados da planície ambiental e qualidade social.
de inundação do alto Rio Paraná (Figura 1), Devido a muitas destas características,
tem como os grandes remanescentes naturais tentamos nos manter imparciais na escolha
protegidos nos Estado de São Paulo, Paraná e das ações a serem testadas para incentivarmos
Mato Grosso do Sul encontramos o Parque a participação e o envolvimento dos
Estadual do Morro do Diabo (36.000 ha), interessados.
Estação Ecológica Mico-Leão-Preto
(EsEcMLP) (6.677 ha), a Estação Ecológica 3. MÉTODOS
do Caiuá (EsEcC) (1.647 ha) o Parque
Nacional de Ilha Grande (PNIG) (78.000 ha) Para mantermos as atividades de intervenção
o Monumento Natural de Naviraí (MNN) com critérios para obtermos boas informações
(15.000 ha) e o Parque Estadual das Ilhas e sobre o conflito em questão, nas propriedades
Várzeas do Rio Ivinhema (PEVRI) (73.000 monitoradas, foram identificadas pessoas da
ha) como os remanescentes mais expressivos comunidade regional que apresentaram
do mosaico caracterizado na região (Ferrari- interesse e características de aptidão para
Leite, 1998; Ditt et al, 2002; Valladares- realizarem as atividades.

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

Estas pessoas são representantes dos 3. Utilizamos uma ferramenta utilizada para
diferentes setores da sociedade local, como defesa de rebanhos domésticos, diferentes
campeiros e funcionários das propriedades raças caninas foram desenvolvidas com a
envolvidas, bem como pessoas da finalidade de aprimorar cães inigualáveis
REMAVOU (Rede de Monitores Ambientais capazes de impedirem o acesso de qualquer
Voluntários no Corredor de Biodiversidade agressor ao rebanho e fiel ao protegido. Está
Caiuá – Ilha Grande), funcionários do IAP técnica uso para o manejo de rebanhos
(Instituto Ambiental do Paraná), CORIPA domésticos.
(Consórcio Intermunicipal para Conservação
4. Propiciamos a iluminação das áreas de
do Remanescente do Rio Paraná e Áreas de confinamento e pastoreio noturno dos
Influencia), COMAFEN (Consórcio rebanhos domésticos.
Intermunicipal da APA Federal do Noroeste
do Paraná), EMATER (Instituto Paranaense 5. Trabalhamos com afugentamento de
de Assistência Técnica e Extensão Rural), agressores para inibir atitudes de
FUNASA (Fundação Nacional de Saúde), reincidência dos ataques em rebanhos
SEAB (Secretaria Estadual de Abastecimento domésticos.
e Agricultura). Os voluntários foram 6. Implantamos áreas de exclusão para os
envolvidos em atividades de extensão rural, rebanhos domésticos, diminuindo o acesso
coletas de informações em campo, auxiliando das criações aos remanescentes florestais.
na manutenção da base de dados e, quando
preciso, realizar vistorias in loco. 7. Realizamos um micro-zoneamento da
paisagem nas áreas aonde ocorrem ataques.
Para a obtenção de dados referentes à 8. Somente acompanhamos o manejo atual
comunidade silvestre e espécimes envolvidos do rebanho.
em conflitos foram utilizadas armadilhas
fotográficas usadas em eventos pontuais para Para termos os parâmetros de comparação em
obter informações de espécimes em ocasiões diferentes condições, mantemos áreas
de conflitos e dispostas em grids controle em diferentes localidades no alto Rio
sistematizados em áreas de remanescentes Paraná (Estado do Mato Grosso do Sul).
florestais em Unidades de Conservação e Nesta região é possível encontrar
propriedades particulares. remanescentes florestais com a ocorrência das
espécies carnívoras em diferentes densidades
Na realização dos testes de intervenção foram nas áreas limítrofes com áreas utilizadas para
utilizadas diferentes ferramentas nas seguintes a criação de rebanhos domésticos de
ações em diferentes propriedades rurais diferentes raças, técnicas de manejo,
(n°=27). condições ambientais e qualidade da
paisagem.
1. Realizamos modificações no manejo do
gado, através de modificações de áreas de 9 Controle 1
pastoreio, categorias de idades dos rebanhos,
confinamento noturno. Rio Pirajuy: Está área de controle é o retrato
da situação instalada na maior parte da região.
2. Instalamos cercas elétricas e de Apresenta grandes propriedades vizinhas a
alambrado como barreiras físicas com a assentamentos de reforma agrária,
finalidade de impedir acessos das diferentes caracterizada por pequenas propriedades.
espécies de carnívoros. Apresenta densidades baixas para as espécies

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

de grandes felinos, problemas de uso de carneiros. Temos uma condição de


desmedido dos recursos e espaços naturais, conexão com certa ligação existente entre os
divisões das terras particulares, falta de APP – fragmentos florestais e remanescentes de
Área de Preservação Permanente e RL - APP. Nesta área controle temos implantada
Reserva Legal e atividade cinegética como forma de intervenção, cães de proteção
acentuada. nos rebanhos de ovino e bovino.

Em uma das propriedades da área foram 9 Controle 4


implantados cães de proteção há três anos Rio Esperança: Temos nesta paisagem uma
juntamente com um sistema de rodízio dos condição ambiental com fragmentos de
piquetes no rebanho bovino e em outra diferentes tipologias florestais em meio às
propriedade foram mantidos animais nos
áreas de pastagem extensiva de rebanhos de
rebanhos com o comportamento de proteção gado bovino e uma proximidade com uma das
do rebanho bovino que é mantido de forma maiores fontes de biodiversidade do alto Rio
extensiva.
Paraná.

Testamos a eficiência de diferentes técnicas


de manejo, comparando os seus resultados
9 Controle 2 quanto à eficiência para evitar perdas
Rio Mirim: A oportunidade que temos nesta econômicas e ambientais, sendo em sua quase
área controle é única na região, pois a totalidade as diferentes recomendações que
condição ambiental é de um continuo florestal utilizamos já descritas e submetidas a testes,
conectado com as maiores e mais importantes para minimizar os conflitos entre a existência
áreas de remanescentes na planície de dos carnívoros silvestres e produção de
inundação, caracterizando as unidades de rebanhos domésticos (Swartz, 1991; USDA,
conservação de uso indireto na região do alto 1999; Crawshaw, 2003; Cavalcanti, 2002,
Rio Paraná. 2003; Hoogentejin & Hoogestejin, 2003;
Macdonald & Sillero-Zubiri, 2002; Treves &
Esta área de controle está dividida em duas Karranth, 2003).
áreas de pastoreio distintas: uma com Para a realização dos testes nas fazendas com
condições de pastoreio rotacional e outra com características e fatores facilitadores para
um sistema extensivo de manutenção dos programar as diferentes intervenções, foram
rebanhos de gado bovino. Nesta área controle definidas as ações juntamente com os
a única intervenção realizada pelas atividades proprietários e trabalhadores. Assim temos
do projeto foi a mudança de categorias de que a maioria das ações foram realizadas em
idade nos rebanhos que são mantidos em associações entre as diferentes técnicas.
piquetes com maior incidência de ataques de
grandes felinos aos animais domésticos. Assumimos siglas, que dão referencias aos
testes de intervenção, divididos pelas
9 Controle 3 diferentes espécies silvestres registradas nos
eventos de conflitos e manter a integridade
Rio Curupay: Nesta paisagem temos uma
das propriedades envolvidas no estudo, (Ex.:
condição de remanescentes florestais em meio
PO-1, PC-2.6; onde PO – Panthera onca
às pastagens utilizadas em um sistema
(onça-pintada), PC – Puma concolor (puma),
rotacional do gado bovino e criação intensiva
PY - Puma yagouarundi (gato-mourisco), CB

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

- Crisocyon brachyurus (lobo-guará) e os minimizar os problemas de conflitos


números se referem às diferentes ações carnívoros vs rebanhos domésticos,
implantadas). apresentando-se como a metodologia de
controle mais seletiva (Dolbeer et al. 1994;
Das diferentes técnicas para realização de Gese, 2006; Swartz, 1991; USDA, 1999;
intervenções no conflito entre a produção de Crawshaw, 2003; Cavalcanti, 2002, 2003).
rebanhos domésticos vs carnívoros silvestres,
nós realizamos ações principalmente Temos na utilização dos cães rastreadores
consistindo em barreiras físicas e agentes uma importante ferramenta para otimizarmos
aversivos, propiciando oportunidades de a obtenção de diferentes informações a
convivência para a manutenção das espécies respeito das espécies de felinos e suas
silvestres e manutenção da qualidade de atividades na paisagem fragmentada do alto
produção (Eriksson et al. 2002; Crawshaw, Rio Paraná, rastreando longas distancias na
2002; Kellert et al. 1996; Cullen, 2007). busca de material biológico derivado das
espécies de grandes felinos existentes na
Barreiras físicas consistem em utilizarmos região.
ferramentas que irão inibir e dificultar o
acesso de predadores silvestres aos animais de Quando necessário os cães de rastreamento
um rebanho doméstico, através de cercas nas serão utilizados em diferentes atividades,
áreas de pastagem, bem como em áreas de como no rastreio e busca de marcas deixadas
exclusão de animais domésticos, dificultando no ambiente pelas atividades das espécies de
o acesso do rebanho aos remanescentes felinos, ações de repelente e afugentamento
florestais, para diminuirmos as chances de de animais reincidentes envolvidos em
ataques com sucesso das espécies carnívoras. ocorrências de ataques a rebanhos domésticos.

Agentes aversivos são toda e qualquer 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO


ferramenta que possamos utilizar para causar
certo desconforto para a espécie predadora, Realizamos testes de intervenção em 27
podendo assim agir com estímulos físicos, propriedades rurais, envolvimento direto de
sensoriais e comportamentais. Utilizando para 55 propriedades e indireto de 127
isto ferramentas como substancias com propriedades, assim envolvemos 322 famílias,
paladar desagradável, cães treinados para realizamos 5 seminários comunitários em
impedirem acesso de invasores, “inprints” locais de fácil acesso para moradores nas
comportamentais de medo, como repelentes e diferentes localidades da região,
utilização de agentes sonoros, entre outras envolvimento direto de 79 gestores,
possibilidades. municipais, estaduais e particulares.

Mantemos ações de manejo agropastoril Com as atividades voltadas para o


utilizando cães de proteção para os rebanhos, extensionismo rural, realizamos a capacitação
sendo esta ferramenta reconhecida como de 16 componentes da REMAVOU (Rede de
eficiente técnica para inibir ataques de Monitores ambientais Voluntários), 5
espécies carnívoras ou invasoras. A utilização estagiários de nível médio.
de cães rastreadores e pastores funcionam
como alternativa de intervenção, Para propiciarmos um melhor entendimento
reconhecidamente eficiente, para remediar e do problema para os populares, estamos

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

utilizando 500 cartilhas, abordando os muitas vezes é o problema mais sério


problemas e manejo dos conflitos de predação enfrentado por produtores (Frank &
de rebanhos domésticos por grandes felinos, Woodroffe, 2001), enquanto que em rebanhos
distribuídas para os proprietários da região do na região do estudo temos como principais
Corredor Caiuá – Ilha Grande, e causas de baixas os incidentes com raios,
proporcionado pela ação conjunta do IPÊ acidentes ofídicos, roubos e incidência de
(Instituto de Pesquisas Ecológicas) e o doenças (Abreu et al, no prelo).
COMAFEN (Consorcio municipal para a
conservação do Rio Paraná). A ocorrência de ataques na região do estudo é
considerada baixa em vista a outras
Das fazendas amostradas no estudo (nº=27), documentações do gênero (Boulhosa, 2000,
em apenas 6 propriedades foram registrados Palmeira, 2002) sendo que na maioria das
ataque dos carnívoros com sucesso, ocorrências como principal criação envolvidas
desferidos por carnívoros silvestres em temos ovinos e bovinos com menos de um
rebanhos domésticos. resultando em 27 ano de idade e o predador geralmente
cabeças de rebanhos abatidos por carnívoros envolvido é o puma (Puma concolor),
silvestre, sendo 6 abatidos por puma (Puma coincidindo com propriedades ou
concolor), 16 por Panthera onca (onça- proximidades que apresentam na paisagem,
pintada), 2 por lobo-guará (Crisocyon falhas no uso das técnicas de manejo
brachyurus) e 2 por cães domésticos (Canis agropastoril, uso e manejo do solo indevido,
familiares). sem características ou aptidão para a produção
agropecuária; atividades cinegéticas com
Nestas propriedades realizamos a implantação diferente intensidade e pressão sobre a
e construção de 78m² de estabelecimento comunidade remanescente, principalmente de
físico para manutenção das atividades de mamíferos de médio e grande porte, tendo
cinofilia, implementamos 280m de barreiras estes fatores grande influencia sobre a
físicas em diferentes propriedades, ocorrência dos eventos (Crawshaw, 1995;
adequações de manejo com estruturas físicas, Cullen et al. 1999; Sanderson et al. 2002;
somando-se 102m² em diferentes Macdonald & Sillero-Zubiri, 2002; Crawshaw
propriedades e realização de investimentos et al. 2003; Cullen et al. 2005; Cullen, 2007;
por parte dos diferentes particulares, em suas Abreu et al. no prelo).
propriedades envolvidas nas atividades do
Projeto Predação, somando-se aproximados • Puma yagouarundi (É. Geoffroy Sant-
R$80.000 (variando de pequenas Hilare, 1885)
modificações estruturais de baixo custo até
investimentos consideráveis, variando de Nome regional: gato-gráfite, gato-mourisco
R$60,00em adequações e benfeitorias
adequadas a cada realidade das propriedades Em um dos testes de intervenção PY1.2.6,
rurais. tivemos a oportunidade de amostrarmos
eventos de um Puma yagouarundi (gato-
Em muitos países temos maior demanda de mourisco) que desferiu dois ataques com
atividades de manejo direcionadas a sucesso em uma área de confinamento de
minimizar as perdas econômicas causadas por frangos, após a implementação de cercas de
espécies de carnívoros em fazendas de alambrados e fios de arame se mostrou
produção de rebanhos domésticos, pois eficiente, inibindo ataques de Felideos e

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

Procyonideos como o Nasua nasua (quati) cão de proteção e tivemos 12 baixas no


durante o período de testes. rebanho.

• Puma concolor (Linnaeus 1771) Em uma das propriedades aonde era mantido
um cão de proteção em um rebanho de gado
Nome regional: puma, suçuarana, onça-parda bovino, tivemos um acidente ofídico que
ocasionou a morte do cão, forçando a
Em uma propriedade com criação rotacional instalação de cercas elétricas em área de
de bovinos e ovinos, aonde foram registrados confinamento e implantação das áreas de
três ovinos predados por Puma concolor exclusão para os rebanhos domésticos.
(puma), como intervenção foram realizados
testes (PC2.3.4.5) com manejo do rebanho de • Panthera onca (Linnaeus 1758)
ovinos e iluminação do confino de dormitório
no período noturno, consorciado com a Nome regional: onça-pintada, pantera, tigre,
implantação de um cão de proteção que canguçu
permanece com o rebanho no período
noturno. Até o presente momento o rebanho A espécie tem registros raros e esparsos na
não teve mais baixas ocasionadas por região oeste e noroeste do estado do Paraná,
predação. sendo mais freqüente seu registro nas grandes
Unidades de Conservação da região do alto
Na mesma propriedade os testes (PC1.2.3.6) Rio Paraná (Di Bitteti et al. 2003; Abreu,
utilizando a consorciação de cercas de fios 2002; Abreu et al. 2004; Koproski, 2004;
elétricos e cães de proteção foram eficientes Cullen et al. 2005; Boscarato 2005; Sana et al.
quanto as tentativas de Puma concolor 2006; Cullen, 2007; Abreu et al. Submetido).
(puma), em duas ocasiões que um espécime
desferiu ataques sobre um rebanho de bovinos Em uma das fazendas monitoradas (PO 1.5)
da raça nelore, sem obter sucesso. Após estes próxima a AE1 e AP1, tivemos uma única
eventos não foram registradas mais tentativas ocorrência de predação sobre o rebanho
de ataques ao rebanho, mesmo o predador doméstico, sendo este ataque comprovado
permanecendo na área da propriedade. para uma onça-pintada que transita na região,
sendo esta importante área do entorno
Comparada a propriedade vizinha (Teste imediato do Parque Estadual do Morro do
PC1.8) aonde foram mantidas as condições Diabo (PEMD), no estado de São Paulo.
de pastoreio extensivo dos rebanhos de ovinos
e bovinos, tivemos registrados dois ataques Em outras duas propriedades monitoradas
com sucesso de um Puma concolor (puma, (PO 1.7) na região de entorno imediato do
suçuarana) no rebanho de ovinos. PEMD, onde foram iniciadas e
implementadas mudanças na paisagem local
Em outra propriedade, depois de dois das propriedades e foi efetivada a fiscalização
registros de ataques realizamos a quanto as atividades cinegéticas, este ano
implementação do teste (PC2.3.4.5.6), aonde tivemos 10 gados bovinos da raça nelore
tivemos resultados positivos contra espécies abatidos por exemplares de onça-pintada.
silvestres, porem com o evento de roubo
ocorrido no rebanho resultou na morte de um Em uma das propriedades na área Controle 2,
tivemos o primeiro registro de ataques de um

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

espécime de onça-pintada em rebanhos de Estes testes terão informações consistentes


ovino, em uma paisagem aonde encontramos sobre a sua eficiência com o passar do tempo e
um grande fragmento florestal com manutenção das ferramentas utilizadas, pois
conectividade as maiores porções para sabermos a eficiência de determinada
remanescentes, em meio as áreas intervenção devemos esperar que ocorram
transformadas para pastagens, sendo que na eventos de conflito, para que novas investidas
região os rebanhos mais encontrados são os sejam realizadas pelas espécies carnívoras
de gado bovino. focadas nas atividades propostas para este
projeto de pesquisa.
• Crysocyon brachyurus (Illiger, 1815)
Como exemplo, temos a redução real em
Nome regional: lobo-guará números de cabeças de diferentes criações
abatidas, em dois casos considerados graves
Durante o ano de 2008 atendemos muitas (fazendas com características peculiares,
ocorrências de possíveis ataques em rebanhos como; proximidade com área com
domésticos, em duas ocorrências envolvendo considerável densidade das espécies Panthera
o provável ataque em rebanhos de ovinos onca (onça-pintada) e Puma concolor (puma)
ocasionados por um lobo-guará. Como o ou grande pressão de atividades cinegéticas
verificado in loco, tratava-se realmente de um dirigidas principalmente as espécies de
espécime que já havia predado dois animais médios e grandes mamíferos), envolvendo
jovens do rebanho durante o período noturno, abates de 67 cabeças anualmente, foi reduzido
no interior de um piquete pequeno, sem área para 11 cabeças de criações domésticas.
de confinamento.
Temos a eficiência das ações testadas nesta
Após o ultimo ataque com sucesso do proposta de pesquisa, demonstrada a partir
exemplar de lobo-guará em período dos registros de movimentação e permanência
crepuscular noturno, foi tomada a iniciativa das espécies de carnívoros em áreas de
de manter um dos cães da propriedade (SRD influência das pastagens dos rebanhos
de médio\grande porte) junto ao rebanho nos domésticos, sem termos registrados ataques
períodos noturnos. com sucesso.

Esta atitude bastou para inibir toda e qualquer Temos uma constância nas características
tentativa do espécime quanto a realizar presentes no contexto da paisagem na maioria
ataques ao rebanho. Sendo que durante dos ataques, por estarem em coordenadas de
atividades de monitoramento na propriedade áreas de APP, indicando que podem estar
foi verificada a permanência de dois sendo realizados por espécimes que estão
exemplares da espécie que transitam entre realizando incursões pela paisagem altamente
remanescentes florestais na APP e RL, fragmentada da região oeste e noroeste no
utilizando plantios de cana-de-açúcar, café e estado do Paraná (Boulhosa, 2000;
pastagens. Também tivemos o registro de Hoogestejin et al. 2002; Palmeira et al. 2002;
ataques de cães domésticos em rebanhos de Pitman et al. 2002; Cullen et al. 2005³;
ovinos, causando a morte de 2 cabeças de um Michalski et al. 2006; Cullen, 2007; Abreu et
rebanho de ovinos. al. no prelo).

5. CONCLUSÃO

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

Durante o monitoramento das propriedades muito eficiente e de gastos de manutenção


notamos que a existência de carnívoros moderados, dês de que os cães sejam bem
silvestres considerados problemas, por mantidos, conduzidos e muito bem
causarem repetidos ataques em rebanhos orientados, por pessoas que tenham
domésticos são frutos de atividades de caça conhecimento de causa para efetivamente
dirigida aos carnívoros e que não abatem o manter cães eficientes (Figura 2).
animal, sim causam graves ferimentos aos
exemplares, forçando estes a utilizarem o A utilização dos cães como rastreadores foi
recurso de mais fácil obtenção, que são os fundamental para obtermos diferentes
animais domésticos. informações em campo, principalmente
quanto às informações obtidas em áreas aonde
Quanto à viabilidade econômica das ações de é esperado poucos registros para as espécies
intervenção contra a ocorrência de predações de grandes felinos (Figura 3). Esta ferramenta
em rebanhos domésticos causada por demanda de alto investimento monetário
carnívoros silvestres, depende em muito das inicial e manutenção, sendo de fácil trato, dês
condições da localidade a serem trabalhadas e de que os técnicos envolvidos tenham
principalmente disponibilidade e vontade de entendimento suficiente para condução e uso
técnicos e proprietário envolvidos com o da ferramenta.
problema.
A principal característica que determina o
A implantação de cercas elétricas se mostrou sucesso de uma matilha de cães de
eficiente quando utilizadas em pequenas rastreamento é a obtenção de bons cães das
áreas, principalmente confinamento, por diferentes linhagens de sabujos, sendo que
necessitarem de manutenção constante para o muitas destas raças são raras e de alto valor
seu eficiente funcionamento. Devido a ser comercial e fundamental experiência para
uma ferramenta relativamente de alto custo, formação de bons cães, direcionados para a
orienta-se que sejam aplicadas em pequenas busca de determinada espécies silvestres, se
dimensões. mostrando como a mais seletiva ferramenta
para procura de espécies animais.
Implantação de áreas de exclusão se mostrou
eficiente quanto a prevenção de ataques nos As situações aonde utilizamos os cães como
rebanhos, diminuindo as chances para as ferramenta para afugentar ou repelir espécies
espécies predadoras e inibindo o acesso das de carnívoros silvestres, obtemos indicativos
espécies predadoras. Aproveitando que muitas satisfatórios, pois a simples presença de um
das fazendas tem que respeitar as áreas de cachorro que acompanhe o rebanho, já inibe
APP mantidas com vegetação nativa, esta qualquer atitude e ação de determinado
ferramenta é muito indicada para propiciar espécime de carnívoro silvestre, depois das
estas condições, sendo mais eficiente em atividades de repelente, pois estes aprendem
áreas de pastagem limpas e baixas, devido a que os cães presentes em um rebanho
necessidade de certo investimento. dificultam em muito as ações furtivas das
espécies de carnívoros silvestres.
Quanto a utilização de cães de proteção para
os rebanhos domésticos, está ferramenta é

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

Porem demanda de uma grande logística modificações em quase todo o sistema de


envolvida para a realização de atividades com piquetes de uma propriedade.
o uso desta ferramenta e uma boa matilha de
cães adestrados especificamente para a A realização de mudanças na paisagem local
espécie que esta realizando ataques em um de uma propriedade é muitas vezes
rebanho doméstico. fundamental para diminuir a ocorrência de
ataques de carnívoros ao rebanho doméstico,
O conjunto de técnicas com menor valor em muitos dos exemplos basta para diminuir
monetário agregado é a implantação de em 60% as baixas causadas por grandes
holofotes nas áreas de confinamento noturno felinos (dados observados em fazendas

Figura 1. Localização da Área de Proteção Ambiental das Ilhas e Várzeas do Rio Paraná e região onde
realizamos os diferentes testes de intervenção em localidades com incidências de ataques de carnívoros
silvestres em rebanhos domésticos. Fonte: IBAMA\ICMBio

e mudanças no manejo de pastoreio dos monitoradas pelo Projeto Predação).


rebanhos domésticos, sendo que a eficiência
destas mudanças de manejo dependem em Porem está técnica é mais direcionada e
muito das condições da propriedade de aplicada em propriedades que tenham
realizá-las, pois muitas vezes uma simples possibilidades de realizarem mudanças nas
mudança de passagem de corredor, requer categorias de diferentes usos do solo,
principalmente devido a investimentos

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

monetários e disponibilidade de espaços para


as mudanças de uso do solo, promovendo
assim uma diversificação da paisagem,
principalmente em áreas próximas aos
remanescentes florestais e espaços degradados
sem aptidão para atividades de produção.

As indicações dos testes mostram que as


ações de intervenções são mais eficientes
quando utilizadas consorciadas nas diferentes
condições dos testes.

Para que se tenha êxito na manutenção das Figura 3. Atividade de rastreamento em propriedade
espécies de grandes carnívoros no alto Rio com registros de ataques em rebanhos de ovinos,
Paraná será necessário por em pratica ações envolvendo os diferentes setores da sociedade. Foto:
adequadas as diferentes realidades, em escala Projeto Predação
regional e continental, e mantidas por
períodos maiores que cinco anos ou mais
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elétrica e cães de proteção em área de pastoreio com
histórico de ataques a rebanhos confirmada para onça- ABREU, Kauê Cachuba de; BOSCARATO,
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38
Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

ÁREAS PROTEGIDAS E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL NA


AMAZÔNIA: QUAIS AS IMPLICAÇÕES METODOLÓGICAS?

Richard Pasquis
Pesquisador CIRAD “Environnements et Sociétés” UMR TETIS.
pasquis@cirad.fr
(artigo publicado originalmente no França Flash 61 em 2008)

RESUMO

Este artigo relaciona-se aos trabalhos realizados no contexto do projeto Diálogos. Ele
complementa a análise das recentes decisões do Ministério do Meio Ambiente brasileiro com
relação ao ordenamento territorial na Amazônia, publicada no FF59.

1. POLÍTICAS COERCITIVAS PARA O Pouco respeitado, o código florestal ainda dá


DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL margem a muitos debates e é objeto de
interpretações tão diversas quanto os
A Amazônia apresenta um modelo de interesses e os atores. De fato, o limite da
desenvolvimento que se baseia essencialmente Amazônia Legal, que se deve a antigas
na exploração predatória dos recursos naturais intenções de ordem política, não corresponde
e no avanço de uma frente de colonização ao bioma da Amazônia e é fortemente
rumo ao centro da floresta. Mal haviam se questionado. O limite entre o cerrado e a
passado 20 anos e esse modelo de floresta ombrófila agora é mais nítido, mas
“valorização” já mostrava seus limites e suas antes existia a categoria “floresta de
enormes conseqüências sociais e ambientais. transição”, que era muito difícil de determinar,
Até o momento, as políticas públicas principalmente em regiões já muito
utilizadas para frear esse processo procuraram desmatadas, e que também possibilitava
retardá-lo com medidas coercitivas e ao interpretações contraditórias.
mesmo tempo criar obstáculos a seu avanço,
por meio de áreas protegidas. Outro ponto muito controverso é o documento
básico que serve de referência para definir se
Para retardar o avanço da fronteira agrícola os uma propriedade está ou não no domínio
sucessivos governos recorreram ao corpus das ombrófilo, e que é nada mais nada menos que
políticas ditas “de comando e controle”. Entre o mapa de vegetação estabelecido há mais de
elas pode-se citar o Código Florestal, que dá o 30 anos pelo Projeto Radam Brasil!
contexto jurídico geral e que na Amazônia
limita o índice de desmatamento das Entre os obstáculos criados pelo governo para
propriedades agrícolas a apenas 20% de sua dificultar o avanço da frente pioneira, as áreas
superfície. Também obriga a preservar as protegidas são os mais representativos. No
chamadas “áreas legais”, o que consiste em Brasil elas acompanharam o processo de
manter um cordão de floresta-galeria ao longo ocupação da Amazônia a partir da década de
dos cursos de água e conservar a cobertura 70, sendo que as classificadas como “de uso
vegetal das encostas e outras escarpas. direto” (principalmente reservas extrativistas)
tiveram um verdadeiro arranque a partir do

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Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

final dos anos 80. São as mais eficazes? Têm O conceito de desenvolvimento sustentável, se
efetivamente alguma eficácia, sobretudo as não é questionável, não propôs métodos
terras indígenas, porque possuem “defensores” concretos em matéria de apropriação do
naturais. Na falta de outras medidas, espaço, uso dos recursos naturais e negociação
constituem um paliativo. entre atores, tampouco inovações em matéria
de políticas públicas e de estratégias privadas.
Em 2003, no primeiro governo Lula, o
desenvolvimento territorial chega com força. É esse desafio que o desenvolvimento
Entretanto não se trata de uma noção nova; territorial deveria enfrentar, enquanto proposta
mas talvez seja a primeira vez que ela é concreta de coordenação e integração das
proposta em um nível governamental tão alto políticas públicas, dentro de um espaço
– principalmente com a criação de uma geográfico delimitado e marcado por um
secretaria federal dentro do Ministério do processo estruturante de ação social. Nesse
Desenvolvimento Agrário (Secretaria do sentido, ele é portador de desenvolvimento
Desenvolvimento Sustentável – SDT-MDA) – sustentável.
e em escala de um “país-continente”.
2. ÁREAS PROTEGIDAS E
É importante notar que, ao assumir suas DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL:
funções no mesmo governo, a ministra do SETORES RETICENTES
Meio Ambiente, Marina Silva, anunciava
também que o meio ambiente precisava deixar Se agora está assente que as áreas protegidas
de ser exclusividade de um ministério e tornar- desempenham um papel real para a
se uma obsessão que devia se impor como um conservação da biodiversidade in situ, em
elemento transversal a todas as políticas contrapartida sua eficácia está longe de ser
setoriais. satisfatória. Mas é preciso não se enganar de
diagnóstico.
Na Amazônia, o fracasso bastante
significativo da aplicação do novo paradigma Mesmo estando demonstrado que na
de desenvolvimento sustentável, ilustrado Amazônia as áreas protegidas apresentam
principalmente pelos avatares do famoso condições muito precárias e um verdadeiro
PPG7 (projeto de proteção das florestas déficit de meios humanos e financeiros,
tropicais brasileiras, financiado pelos sete provavelmente não é em seu fortalecimento
países mais ricos) e cujo terreno de aplicação que reside a solução. Na Amazônia, mais que
privilegiado seria a Amazônia brasileira, em outros lugares, é a própria concepção de
segundo decretaram os participantes da ECO espaços protegidos, por subtrair populações
92 (a Conferência das Nações Unidas sobre locais e desenvolvimento regional, que deve
Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de ser revista. Entretanto, ainda existem
Janeiro), evidenciou que boas intenções não numerosos setores que se recusam a
bastam: precisam ser acompanhadas de reconhecer que a concepção clássica de
reformas efetivas. A desarticulação do proteger a natureza contra a presença humana
conjunto de políticas públicas e falhou.
principalmente a diferença na relação de força
entre as poderosas políticas de A multiplicação de áreas protegidas por um
desenvolvimento e as do meio ambiente é poder central autoritário à força de declarações
provavelmente o fator principal. freqüentemente exageradas não faz mais que

40
Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

aumentar a tensão, que é palpável na maioria Como seus espaços não podem ser valorizados
das regiões amazônicas, e provocar conflitos economicamente, para as autoridades locais
que provavelmente poderiam ter sido evitados. elas representam perda de ganhos potenciais.
Disso resultam isolamento da instituição Evidentemente existe aí um verdadeiro
ambiental e redução do investimento público desafio, mas do qual não é possível escapar.
para a conservação, fragilizando a ainda mais As áreas protegidas serão instrumentos do
e dificultando a aplicação de estratégias e de desenvolvimento regional ou não existirão
planos para a conservação da biodiversidade. mais – nesse sentido em que são consideradas
não como “parques de papel”, mas como
Essa situação é ainda mais deplorável na instrumentos efetivos de conservação da
medida em que a instabilidade econômica e a biodiversidade.
globalização limitam as opções em matéria de
gestão sustentável dos recursos naturais e Para isso é necessário rever o atual modelo de
intensificam a pressão sobre as áreas gestão governamental – unilateral
protegidas, por meio de uma colonização “excludente” e conflituoso – e substituí-lo por
acelerada dos espaços naturais. um processo e instrumentos de negociação
social, com vistas a uma gestão melhor das
3. MUDANÇAS CONCEITUAIS terras para benefício de todos.
NECESSÁRIAS
As áreas protegidas devem ser encaradas
A maioria dos problemas que afetam as áreas como um potencial real e um instrumento para
protegidas provém de uma percepção o desenvolvimento. É o que propõe a
exclusivamente biológica do meio ambiente. abordagem de desenvolvimento territorial,
Mas meio ambiente é não apenas os elementos principalmente do Ministério do Meio
naturais e materiais, mas também as pessoas, Ambiente - MMA, com relação a mosaicos e
suas atividades, suas relações, suas culturas, corredores biológicos. Os mosaicos ainda
suas instituições – em resumo, o resultado de suscitam um acalorado debate entre certos
um processo de construção social, de um setores tradicionais do IBAMA que os vêem
sistema de valores, de conhecimentos e como uma seqüência de áreas protegidas, com
comportamentos. a criação de áreas “trampolim” quando a
distância entre duas áreas vizinhas é
A biodiversidade é também um produto social. considerada grande demais, e a nova equipe
Isso não significa que não se deva protegê-la do MMA, para a qual eles são autênticos
das agressões de um grupo social em um projetos de desenvolvimento territorial com
determinado momento; mas raramente o base conservacionista.
antagonismo entre social e biológico permitirá
encontrar as soluções de longo prazo para Existem de fato diferentes abordagens em
esses problemas. matéria de desenvolvimento territorial: a partir
da estruturação da produção agrícola familiar
Se as populações locais não são bem vistas para o programa Fome Zero, a partir do
dentro das áreas protegidas, estas, por sua vez, fortalecimento de processos de organização
são excluídas do desenvolvimento regional. social para o MDA ou da criação de mosaicos
São encaradas como encraves, até mesmo de áreas protegidas para o MMA.
entraves ao desenvolvimento.

41
Caderno do Grupo de Educação e Extensão Socioambiental, Ano 1, n.1, Abril de 2009.
 

Com sua abordagem, o MMA ratifica a Pensar o meio ambiente como uma categoria
inclusão das áreas protegidas no processo de social, colocar a sociedade no centro do
desenvolvimento regional e como elemento de processo de conservação e valorizar o capital
pleno direito do desenvolvimento territorial; social deve levar a resolver as fortes
reconhece a importância da participação, do reticências de alguns setores da sociedade
protagonismo e da autonomia da população local com relação às áreas protegidas e a
local e das instituições, o planejamento reforçá-las mobilizando positivamente as
ascendente, o papel central do fator importantes capacidades que participam do
econômico, bem como uma série de processo de desenvolvimento territorial. Em
abordagens cujo objetivo final é melhorar as contrapartida, pode-se indagar: como fazer
condições de vida de todos os habitantes. isso?

Isso significa que os custos e benefícios serão No Brasil o governo lançou um grande
divididos equitativamente entre todos os processo de consulta popular e a sociedade
atores. Esta última condição era uma civil aceitou imediatamente o desafio da
reivindicação antiga das populações locais, participação. Reorganizado pouco a pouco ao
que se negavam a continuar suportando término do regime militar dos anos 80, o
sozinhas os entraves colocados pelas áreas movimento denominado “socioambiental” no
protegidas sem tirarem delas benefício algum. Brasil é muito ativo e mesmo penetrou
amplamente as fileiras dos poderes públicos
Se o capital social for posto no centro do federais e federados.
dispositivo de desenvolvimento territorial,
sobretudo para garantir a eqüidade ao longo de Numerosas iniciativas da sociedade civil estão
todo o processo, sua sustentabilidade é em vias de tornar-se políticas públicas.
assegurada por uma boa gestão do meio Concretamente e em detalhes, instaura-se um
ambiente, a competitividade econômica do grande número de comitês, criam-se
território é assegurada por uma valorização de comissões paritárias e multiplicam-se as
suas vantagens comparativas e principalmente experiências de co-gestão. O Estado
de seus serviços ambientais e a governança conseguiu, portanto estabelecer uma política
reforça o desenvolvimento institucional. “de diálogo” que se traduz também no
importante processo de descentralização em
A governança ambiental, enquanto conjunto matéria de gestão florestal.
dos processos sociais, políticos, econômicos e
administrativos, formais e informais, O Estado ganhou a primeira etapa do desafio,
associados a interesses e regras, pelos quais os que consistia em articular melhor sua ação
atores sociais negociam e definem o acesso e a com a sociedade. É mais internamente que as
gestão dos recursos naturais e sua relação com coisas se complicam. O Ministério do Meio
o meio ambiente, aparece como eixo central Ambiente não ganhou nenhuma das grandes
dessa nova revolução em matéria de batalhas que o opunham aos “fortões”
planejamento e de gestão das áreas protegidas representados pelos Ministérios do
na Amazônia e provavelmente além dela. Planejamento, da Indústria e sobretudo da
Agricultura. Outra etapa que falta vencer
4. AS IMPLICAÇÕES consiste em conquistar mais maciçamente os
METODOLÓGICAS governos estaduais. Para ir rápido o MDA
estabeleceu relações privilegiadas com os

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movimentos sociais locais, com excessiva Em matéria de gestão, deverão ser encontrados
freqüência saltando os outros níveis novos arranjos institucionais que reconheçam
administrativos, muitas vezes fazendo os os direitos das populações locais e valorizem
estados e as prefeituras rejeitarem a política suas experiências. Esses novos espaços de co-
federal de desenvolvimento territorial do gestão permitirão unir os engajamentos dos
Ministério. diversos tipos de atores, gerir melhor as
interações entre os diferentes interesses,
A atual relação privilegiada entre o governo percepções e alternativas de solução, a fim de
central e os movimentos sociais pode ser uma chegar a compromissos mútuos que propiciem
força, mas representa também um empecilho a convergência dos interesses e das ações.
ao fortalecimento das relações com estados-
chave do setor agroalimentar, como Mato As ações da gestão não se restringirão
Grosso, onde as áreas protegidas são unicamente à conservação da biodiversidade:
desrespeitadas. O Estado então é levado a abrangerão também a organização do uso dos
modificar um pouco sua posição, embaralha as recursos, a diversificação das atividades, a
cartas fazendo declarações ambíguas e corre incorporação das populações residentes e a
risco de pôr novamente em questão o que já formação de atores e usuários.
foi conseguido.
5. CONCLUSÃO
Portanto, continua muito estreito o caminho
para uma solução política que contente a todos Como são levadas em conta no processo de
os setores. Da mesma forma, o Estado ainda desenvolvimento, as áreas protegidas, por sua
não consegue implantar políticas de incentivo vez, podem modificá-lo e produzir novos
significativas, que possam complementar a territórios, com novas instituições e novas
panóplia das políticas de comando. A formas de governança. Pois sua participação
retomada das políticas de planejamento já é no desenvolvimento regional e os novos
um passo na direção certa, mas ainda faltam debates que propõem à sociedade provocam
iniciativas mais expressivas em matéria de obrigatoriamente mudanças nas percepções
educação ambiental, de divulgação dos dos atores e em seus modos de apropriação e
conhecimentos e das informações sobre o gestão dos recursos naturais. Passando do
bioma amazônico, bem como uma difusão papel inicial de obstáculo ao desenvolvimento
mais ampla das ferramentas institucionais e e de fronteira para barrar o avanço da frente
econômicas disponíveis para valorizar pioneira, as áreas protegidas tornam-se um
economicamente os serviços das áreas elemento chave de um novo modelo de
protegidas. desenvolvimento que, espera-se, atenderá às
expectativas de um desenvolvimento
Com relação a essas áreas, as atividades de sustentável na Amazônia, expressas há 15
planejamento deverão perseguir o objetivo anos na Conferência do Rio.
comum dos atores em termos de
desenvolvimento territorial e de melhora de Mais informações
suas condições de vida. O processo deverá www.dialogos.org.br
ocorrer em constante interação com as www.cirad.org.br
comunidades locais e o resultado deverá www.wwf.org.br/natureza_brasileira/meio_ambien
possibilitar uma distribuição equitativa dos te_brasil/dialogos/index.
custos e benefícios das áreas protegidas.

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COMENTÁRIOS DO LEITOR

Este espaço está em construção. Esperamos receber comentários e análises críticas e propositivas
dos leitores sobre os artigos publicados, afim de ampliarmos o debate e aprofundarmos
conhecimentos sobre educação e extensão socioambiental. Os comentários devem ser enviados
para o Conselho Editorial do Caderno (e-mail: oscar@ipe.org.br). Os mesmos serão
encaminhados antes da próxima edição para os autores responderem.

EVENTOS

VI CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA E II CONGRESSO


LATINOAMERICANO DE AGROECOLOGIA. Local: Curitiba, PR. 09 a 12 de Novembro.
www.agroecologia2009.org.br

IX CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL. Local:. São Lourenço, MG. 13 a 17 de


Setembro. www.seb-ecologia.org.br/ixceb

61ª REUNIÃO ANUAL DA SBPC. Local: Manaus, AM. 12 a 17 de julho.


www.sbpcnet.org.br/manaus

VI CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO (CBUC2009). Local:


Curitiba, PR. 20 a 24 de setembro.
www.itarget.com.br/newclients/fundacaoboticario.org.br/cbuc2009/?op=paginas&tipo=pagina&s
ecao=1&pagina=3

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SUGESTÃO DE LEITURA

A Editora da Fundação Universidade Federal do Rio


Grande/FURG lança a edição em português do livro
"Gestão da pesca de pequena escala: diretrizes e
métodos alternativos". Originalmente publicado em
inglês por Fikret Berkes, Robin Mahon, Patrick
McConney, Richard Pollnac e Robert Pomeroy, pelo
International Development Research Centre, Canadá.
Esta edição em português foi organizada por Daniela C.
Kalikoski.
Gestão da pesca de pequena escala vai além dos limites
da gestão pesqueira convencional. Apresenta conceitos,
ferramentas, métodos e estratégias de conservação
alternativos e mostra como usar esses métodos de
maneira prática, com forte ênfase no manejo de
ecossistemas e na tomada de decisões participativas.

Esta versão em português apresenta alguns exemplos de como a gestão da pesca de pequena
escala está sendo desenvolvida no Brasil, quais são os seus avanços e quais os seus grandes
desafios, proporcionando uma informação rica tanto do ponto de vista prático como teórico, que
contribui para a evolução do paradigma científico que lida com a pesca de pequena escala no
Brasil.

O livro será de interesse para gestores pesqueiros, tanto do meio governamental quanto não-
governamental; professores e estudantes de gestão pesqueira; organizações de desenvolvimento e
profissionais que trabalham com a pesca de pequena escala, e pescadores e comunidades
pesqueiras que desejam assumir a responsabilidade pela gestão de seus recursos.

Gestão da pesca de pequena escala: diretrizes e métodos alternativos poderá ser adquirido na
Livraria da FURG, situada à rua Luiz Lorea, 261, Rio Grande/RS, ou por e-mail
(editfurg@mikrus.com.br), ao preço de R$ 25,00 (vinte e cinco reais).

Humberto Z. Malheiros
06/04/2009.

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