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CONCEITOS DE MORAL E ÉTICA

Os conteúdos estruturam-se em torno de 4


Domínios de Referência para a acção:

 O domínio privado ou DR1


 O domínio profissional ou DR2
 O domínio institucional ou DR3
 O domínio global ou DR4
 Em cada domínio ou contexto há um
conjunto de objectivos que vão sempre do
mais simples ao mais complexo.

 A aprendizagem incide sobre várias áreas – o


saber, o ser e o fazer e tem vários níveis –
desde o repetir, compreender, aplicar, etc
Objectivos:

 Identificar e tomar consciência de diferentes


valores culturais;
 Distinguir diferentes hierarquizações de
valores culturais;
 Posicionar-
Posicionar-se face a eles (argumentando em
favor de uns e não de outros);
 Escolher e Intervir em situação de tensão
cultural e ética.
 Identificar deontologia e normas profissionais
 Distinguir organizações na base de diferentes
valores
 Articular responsabilidade pessoal e
profissional, actuando criticamente.
 Adoptar normas deontológicas e
profissionais.
 Identificar valores necessários para o
desenvolvimento institucional
 Explorar posturas valorativas em contexto
organizacional
 Contribuir para a construção de um código
de conduta ético
 Pensar e agir em termos de convicção e
firmeza ética no seio das organizações e
instituições.
 Identificar condutas solidárias a nível global
 Tomar consciência de diferentes escolhas
morais para a comunidade global:
dignidade/desumanidade;
desenvolvimento/pobreza; justiça/assimetria.
 Defender e posicionar-se face a valores
universais da humanidade
Questões éticas:

 Na vida, temos sempre diferentes


alternativas, diferentes escolhas.
 Procuramos tomar a melhor decisão.
 Mas, melhor para quem? De acordo com
que critérios? O que é bem e o que é mal?
Em todas as sociedades existem valores
referentes ao bem e ao mal, ao que é
desejável e indesejável, que geram apreço
e que são respeitados.
São ideais colectivos mais ou menos
estáveis..
Alguns valores da nossa sociedade ocidental:

Liberdade
Igualdade

Democracia Respeito
Noutras Sociedades…

 Países muçulmanos – não valorizam a


igualdade entre Homem e Mulher,
condenação à pena de morte por
homossexualidade, poligamia…
 Países onde se pratica a pena de morte…
Os valores variam:
 Em função da pessoa: são referências
individuais para a acção, justificam-na.
 Em função do grupo social: os valores são
partilhados por uma comunidade, um
grupo.
 Em função da cultura, da sociedade.
Características dos valores:
 Matéria – a justiça e a beleza dizem respeito
a realidades diferentes
 Polaridade – para cada valor encontramos um
pólo positivo e outro negativo
 Hierarquia – todos os valores valem, mas uns
são mais valiosos que outros, a justiça é mais
importante que a beleza
 O termo moral é derivado do latim
mores, que significa relativo aos
costumes.
Diz respeito às acções praticadas por
hábito e aos costumes em geral.
Estabelece-se ou define-se socialmente
o correcto e o incorrecto, o permitido
e proibido.
 A Moral é o conjunto de preceitos e
normas, baseados em valores, que a
generalidade dos indivíduos de uma
comunidade aceita como bons e
válidos e que tem por hábito ou
costume respeitar.
 Inerente um sentido prescritivo, de
ordens, tabus e proibições.
 Inerente também um sentido de
aprovação - o respeito por estas
normas faz com que os outros nos
aprovem.
 E ainda um sentido de ordem
social.
 A aprendizagem destas normas faz-se
especialmente nos primeiros anos de vida, no
seio da família.
 Faz parte do processo de socialização
primário.

Socialização é um processo contínuo e


permanente de aprendizagem de formas de
conduta e de adaptação à vida em sociedade.
 Os valores são transformados em regras e
gravados em nós, sem disso termos
consciência.
 Sentimos essas regras como um dado natural
e não como uma obrigação que nos é
imposta.
 As sociedades antigas não distinguiam
o direito da moral e da religião.
 A moral vem ainda antes do Direito.
 Nem todas as regras morais são
regras jurídicas.
 Ambos são formas de controlo social.
 O direito tal com a moral é um facto
social – resulta da vida em sociedade e
da sua necessidade de regulação.
 O direito tem como fonte, entre
outras, a moral ou costume.
 O direito é um sistema de normas
escritas, exteriores ao indivíduo, que
valem por si próprias.
 O direito é imposto pela autoridade
competente, mesmo contra a vontade
de seus destinatários.
 O direito é coercível: sujeito a sanção
organizada, aplicável pelos órgãos
especializados. A moral não tem uma
sanção formal (pode haver uma
reprovação social).
A lei é baseada na moral e depende de
considerações ético-morais, mas não
coincidem.
Por exemplo, ultrapassar o tempo de
estacionamento é ilegal, mas não imoral.
Mentir é imoral, mas nem sempre ilegal.
Ética vem do grego e tem dois
significados:
 Éthos – hábito, costume
 Êthos – modo de ser ou carácter
 “A ética é a investigação do sentido da vida,
ou daquilo que torna a vida digna de ser
vivida, ou da maneira correcta de viver.”
Wittgenstein, 1971

 A ética significa “o desígnio ou o objectivo


de uma vida cumprida sob o signo de
acções consideradas boas universalmente”.
Paul Ricouer
 É um ramo da filosofia;
 É uma ciência, uma reflexão teórica;
 Reflecte sobre os nossos actos, os motivos,
intenções, as consequências. Analisa a
dimensão pessoal da acção e a noção de
dever;
 Analisa os fundamentos da moral - reflecte
criticamente a moral e procura justificá-la ou
fundamentá-la.
Pessoalmente:
 Ninguém pode optar nem responder por
nós, somos responsáveis, de forma
autónoma e livre pelas escolhas que
fazemos.
 O sentido do dever, é-nos incutido, move-
nos a rectidão dos actos, o desejo de nos
sentirmos bem connosco próprios.
 Há uma procura do ideal.
 Vertente reflexiva:
- Consciência do dever, consciência moral
- Reflectir sobre o que é o Bem, a Felicidade,
a Liberdade
- Distinguir o que está certo e errado
- Decidir escolher um caminho e não outro
 Vertente de intervenção:
- Aplicação dos princípios a situações
concretas.
- “Como agir de forma a sentir-me feliz?”

- “Como agir de forma a ser justo?”

É uma condição para o pleno exercício da


cidadania
Quanto à análise dos fundamentos da moral,
a Ética:
 Reflecte sobre as razões e o porquê de
considerarmos válidos os costumes e as
normas da comunidade ou do grupo social
a que pertencemos;
 Procura estabelecer princípios, regras e
valores universais que devem regular a
acção humana.
Quanto à análise dos fundamentos da moral,
a Ética:

 Reflecte sobre os fundamentos da conduta


moral.
 Questiona o que na acção é fruto da nossa
vontade ou da obrigação de seguir uma
norma.
Por vezes usados como sinónimos, têm na realidade
sentidos diferentes:

 Moral assenta nas crenças socialmente aceites,


partilhadas sobre o bem e o mal, certo ou errado,
justiça ou injustiça.

 A Ética é a análise crítica da moral, seus


fundamentos e implicações.
Exemplos
 Roubar está errado
◦ Um juízo moral

 Porque é que roubar está errado?


◦ Uma questão ética
MORAL ÉTICA
 É um conjunto de  É uma reflexão

normas, hábitos, crítica sobre os


nossos actos e
costumes; valores, sobre a
 Baseia-se em valores; sociedade e seus
costumes;
 Gera coesão e ordem
social;
 Influencia a própria
moral.
MORAL ÉTICA
 Varia de  Define princípios
sociedade para gerais e universais;
sociedade,  Não é inalterável.
comunidade para  Tem um carácter
comunidade. mais teórico.
 Tem um caráter
mais prático –
forma de controlo
social
 A moral por vezes diz-se universal, mas isso
é uma falácia. A escravidão já foi considerada
um bem, já foi aceite. O certo e o errado são
resultado da cultura e têm uma função
cultural.
 Apesar da moral nascer da cultura, tem que
haver fundamentos que não estejam
dependentes da variabilidade da cultura e que
traduzam princípios universais, por ex: o
valor da vida humana.
 A moral que eu sigo é individual, mas com
origem social.
 A moral cai também noutro erro – a
explicação naturalista
Por exemplo, a reprodução medicamente
assistida é um mal, porque é contra a
natureza.
A ética tem como ponto de partida a
liberdade e a dignidade do individuo.
Para haver moral não é necessário que exista
liberdade.
 Ideologia: Sistema de ideias (sociais, políticas,
económicas, religiosas, pedagógicas),
concepções da realidade, que traduzem
interesses de classe e mais não são do que o
fundamento das suas aspirações, imaginário
(desejos, sonhos, frustações).
 É uma teoria ou visão do mundo - acrítica e
dogmática, parcial e subjectiva (não
científica).
Ex: ideologia capitalista, marxista
O interesse da ideologia é tornar-se numa
doutrina:
Conjunto de princípios, ensinamentos,
recomendações, regras fechadas, tanto na
área económica, política, social, religiosa.

Se é um ensinamento, tende a fazer “escola”, e


a ser seguido por muitos.
 Exemplos de doutrinas:
Doutrinas económicas: o proteccionismo; o
liberalismo…
Doutrinas religiosas: dogmas, crenças e rituais
do cristianismo, o budismo…
 A ética reflecte, coloca questões, testa os
fundamentos da moral.
 Com base na razão, estabelece princípios
“consagrados”, universais, de rectidão,
dignidade e justiça.
 Não é uma visão parcial, ao serviço de
interesses de classe, de grupos dominantes.
Num dado momento e sobre o mesmo
fenómeno podem surgir diferentes ideologias
e doutrinas, consoante os pensadores.
A ética, ao fundamentar-se na razão, na
dignidade humana, na liberdade, assume um
carácter de universalidade.
Origem da Ética
Platão e Aristóteles
A ética não é una e universal.
 A sua evolução é determinada pelo homem e
resulta de condições civilizacionais que
mudam ao longo dos tempos.
 Nasceu na Antiga Grécia, enquanto área da
filosofia.
 Nas cidades-estados - entre o século V e o
século IV a.C. – o florescimento económico
permitiu a dedicação de alguns cidadãos a
questões mais reflexivas sobre:
- A origem das coisas
- A natureza e o universo
- O governo da pólis
Sofistas defendiam:
 O relativismo de todos os valores: “o homem
é a medida de todas as coisas”
 O objectivo da vida seria a busca do prazer
supremo

Representado no domínio do poder


político. Ora este só estava ao alcance dos
mais fortes, corajosos e hábeis no uso da
palavra (oratória).
Sócrates (470-399 a.C):
 Defendia o carácter eterno de certos valores,
como o Bem, a Justiça, o Saber, sendo a
perfeição o valor supremo.
supremo

Mais importante do que saber a origem do


universo e ter o dom da oratória, era
aperfeiçoar a acção humana, saber o que é o
bom, o que é certo, o que é justo, ou seja,
estabelecer um conhecimento que ajudasse a
pautar uma conduta correcta.
O saber era o meio de atingir a perfeição,
perfeição
quer na vida privada como na vida pública.
 O homem sábio só pode fazer o bem, as
injustiças e o mal em geral, são resultado da
ignorância.
 Segundo ele, ninguém comete
conscientemente um erro: se sabemos que
vamos fazer algo errado, não o fazemos.
 Para aprender há que reconhecer primeiro
“que nada sei”.
 Ao questionar, estimulava a discussão e
definia-se como um "parteiro de ideias“, pois
acreditava que o conhecimento tinha que
nascer da própria pessoa e ninguém tinha as
respostas definitivas para suas dúvidas.
Foi preso e condenado à morte por corrupção
da juventude e por questionar os deuses da
cidade.
 Punha tudo em causa (hábitos, valores,
deuses…)
 Expunha a ignorância de indivíduos com
poder e autoridade.
Platão (427-347 a.C.), discípulo de Sócrates.
Defendia o Bem como o valor supremo.

Para isso:
Os homens deviam seguir apenas a razão
desprezando os instintos ou as paixões;
A sociedade devia de ser reorganizada,
segundo a ideia do Bem e o poder confiado
aos sábios.
Aristóteles (384-322 a.C.) tinha na felicidade
o valor supremo da vida:
Para isso cada um devia seguir a sua própria
natureza, evitar os excessos, optar pelo
equilíbrio (Justa Medida).
Deve-se reorganizar a sociedade, à
semelhança de Platão, de modo a
proporcionar felicidade a cada um dos seus
membros na sua respectiva condição –
relação entre a Ética e política.
 Aristóteles - ao contrário de Platão - criou
uma obra sistemática e ordenada.
 Debruçou-se sobre diversos campos do
conhecimento, a lógica, a retórica, a poética,
a metafísica e diversas ciências.
 Entende a ciência política como um
desdobramento de uma ética, cuja principal
formulação encontra-se no livro "Ética a
Nicómaco".
 Aristóteles foi o primeiro a falar da ética
como ramo da filosofia.

“Ser ético, é muito mais que um problema de


costumes, de normas práticas. Supõe uma
boa conduta das acções, a felicidade pela
acção realizada e a alegria da auto-
aprovação diante do bem feito “
(Aristóteles).
O vasto Império Romano, que se estende da
Europa, Norte de África e ao Oriente, junta
uma multiplicidade de povos e de culturas.
Por isso:

 O cidadão sente-se mais distante das


grandes questões políticas.
 Surgem teorias mais individualistas,
limitando-se em geral a apresentar um
conjunto de recomendações (máximas) sobre
a forma mais agradável de viver a vida.

 Em vez da relação homem/cidade, privilegia-


se a relação com o cosmos. Viver em
harmonia com ele é a suprema das
sabedorias.
O cristianismo torna-se a religião oficial do
Império Romano, no ano de 380.
 O mundo material surge como a
manifestação da vontade divina.
 A teologia (reflexão sobre Deus) torna-se o
saber supremo. Ética e religião sobrepõem-
se.
 A própria política é formalmente submetida
aos grandes princípios definidos pela religião.
 Entre os séc. XI e XV surgem sinais de
renascimento do pensamento clássico
(através das cruzadas, dos contactos com o
oriente e com os seus saberes).
 Abre-se um conflito entre a Razão e a Fé.
 Desenvolve-se o Método assente na razão,
partindo sempre da dúvida.
Características:
 Valorização da razão – assume uma posição
racionalista
 Importância da dúvida, do cepticismo, da
investigação e da experiência
 Procura das leis na natureza
 Crítica ao absolutismo – em virtude de se
defender o regime democrático
 Defesa da liberdade política e económica e da
igualdade de todos perante a lei – lei escrita e
pensada pelos homens
 Crítica à Igreja Católica, embora não se
excluísse a crença em Deus
 Método significa modo de pensar e de
conhecer.
 A ciência procurou sempre a melhor forma de
conhecer a realidade, o melhor método de
estudar as suas questões.
O método analítico procede:
 do geral para o particular;
 do complexo para o simples;
 Decompõe pensamentos e problemas nas
suas partes componentes;
 Dispõe tudo numa ordem lógica.
A ética tem por base um pensamento lógico,
analítico:
 Porque define um conjunto de princípios, à
luz da razão, que não devem de encerrar
contradições, e que servem para orientar a
conduta.
 Porque possibilita que os seres humanos
tomem decisões após ponderação dos
valores.
 Porque apela à capacidade crítica, construtiva
e responsável.
 O método socrático, a ironia, confrontava o
interlocutor com os seus próprios enganos e
contradições, ao longo de uma série de
perguntas e respostas.
 Aristóteles desenvolveu a lógica como
método, por meio do silogismo (raciocínio): a
partir de duas premissas verdadeiras, deduzia
uma conclusão válida.
Exemplo clássico:

Todo o homem
é mortal

Sócrates é homem

Sócrates é mortal
 Descartes desenvolve um método de dúvida
radical: põe em dúvida todo o saber
adquirido pela experiência, até chegar à
primeira certeza indubitável: a da sua
existência como ser pensante,,“penso, logo
existo”.
 É com base nesta evidência que irá
desenvolver uma ciência universal.

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