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O
espetáculo da lua cheia nascendo, enquanto a Lua se eleva. Portanto, a ava-
Fernando Lang da Silveira
e depois se elevando no céu, liação de que a lua cheia nascente é muito
Departamento de Física, Universidade
encanta a nossa sensibilidade! maior do que quando está elevada no céu
Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Além de a lua cheia nascente nos parecer é uma ilusão [1]. A Fig. 2 mostra uma
Alegre, RS, Brasil
muito maior do que quando se encontra fotografia da lua cheia durante o auge do
E-mail: lang@if.ufrgs.br
alta no céu, a sua cor eclipse, quando então
A atmosfera terrestre,
se modifica durante a o disco lunar se apre-
Maria de Fátima Oliveira Saraiva iluminada pela luz branca do
ascensão. No dia 20 de sentava com uma
Departamento de Astronomia, Sol, espalha preferencialmente
fevereiro de 2008, bela cor amarela ala-
Universidade Federal do Rio Grande luz com freqüências próximas à
ocorreu um eclipse to- ranjada. Assim, o
do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil da cor azul em todas as
tal da Lua. Como é objetivo desse artigo é
E-mail: fatima@if.ufrgs.br direções. Desta forma, de
bem sabido, eclipses dar uma explicação
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ qualquer ponto do céu
da Lua somente po- para as diferentes
iluminado com a luz solar,
dem acontecer du- cores que podemos
chegará luz azulada aos nossos
rante a lua cheia. observar na lua cheia,
olhos e veremos o céu azul
A seqüência de inclusive durante os
fotos da Fig. 1 foi realizada desde o eclipses totais.
nascimento da lua cheia até quase o seu
encobrimento total pela sombra da Terra. Por que o céu é azul?
Na Foto 1, vemos a lua cheia nascen- Um aspecto fundamental para a
te, ainda próxima do horizonte leste, ple- compreensão das cores que a Lua pode
namente iluminada pela luz do Sol que apresentar tem relação direta com o fato
está se pondo no horizonte oposto. Apesar de o céu diurno ser azul.
de o disco lunar se apresentar encoberto A atmosfera terrestre, fortemente
por nuvens, é possível observar que ele iluminada pela luz branca do Sol, espalha1
tem uma cor amarelada contra o céu azul, preferencialmente luz com freqüências
ainda iluminado pelo Sol. Depois, na Foto próximas à da cor azul em todas as
2, a Lua encontra-se um pouco mais ele- direções. Este tipo de espalhamento é de-
vada (mas ainda próxima do horizonte), nominado de espalhamento de Rayleigh,
exibindo um belo tom de amarelo contra e acontece quando as partículas que
o céu azul escuro, fracamente iluminado interagem com a luz têm um tamanho
pelo Sol. A Foto 3 foi realizada às muito menor do que o comprimento de
21h05min, portanto quando a lua cheia onda da luz, que é o caso das moléculas
já se encontrava elevada no céu. Agora a de oxigênio (O 2) e nitrogênio (N 2) da
cor da Lua é branca contra o céu escuro. atmosfera terrestre. No espalhamento de
As Fotos 4 a 6 foram tomadas enquanto Rayleigh, a intensidade da luz espalhada
a Lua penetrava no cone de sombra - ou é inversamente proporcional à quarta
umbra - da Terra, o que ocorreu a partir potência do comprimento de onda. Usan-
das 22h43min. do o exemplo de Lynch e Livingston [2],
A seqüência de fotos da Fig. 1 foi rea- isso significa que a luz azul, com com-
lizada com uma câmera digital com primento de onda de 450 nm, é espalhada
A lua cheia muda de cor conforme se eleva no aumento óptico e digital, perfazendo uma com intensidade cerca de 3 vezes maior
céu. No nascente apresenta-se amarelada e ampliação de cinco vezes, mantida para do que a luz vermelha, de comprimento
depois, quando já se encontra elevada no céu, todas as fotos. Comparando as imagens, de onda de 600 nm. Portanto a luz espa-
é branca. Durante um eclipse total, a Lua pode
é possível perceber que o disco lunar tem lhada pelas moléculas do ar é muito mais
se apresentar com uma variedade de cores en-
tre marrom e amarelo. Discutimos as razões o mesmo tamanho em todas elas, com- azulada do que a luz que sobre elas
pelas quais a lua cheia exibe cores variadas. provando que ele permanece inalterado incidiu. Desta forma, de qualquer ponto

20 As cores da lua cheia Física na Escola, v. 9, n. 2, 2008


interessa conhecer a luz que, proveniente
do astro, é transmitida (não espalhada)
através da atmosfera até o local da
observação.
A intensidade de luz solar espalhada,
além de depender do comprimento de
onda, é influenciada pelo comprimento do
trajeto que a radiação percorre ao atra-
vessar a atmosfera. Ao entardecer, quando
o Sol se encontra próximo ao horizonte,
a luz solar deve percorrer um caminho
mais longo na atmosfera do que quando
o Sol se encontra elevado no céu. A Fig. 4
representa esquematicamente que a luz
proveniente do Sol (ou de qualquer outro
astro) deve, quando se encontra no zênite,
atravessar a menor extensão de atmosfera
para chegar à superfície da Terra; quando
o astro se encontra no horizonte, a luz
que ingressa na atmosfera percorre uma
distância muito maior até chegar à super-
fície da Terra. Se tomarmos a espessura
da atmosfera como sendo cerca de
100 km, a luz do Sol nascente ou poente
deve atravessar cerca de 1000 km de
atmosfera para chegar até a superfície da
Terra (é importante destacar que, na Fig. 4,
a espessura da atmosfera se encontra mui-
to exagerada em comparação com o raio
da Terra, cujo valor perfaz cerca de
Figura 1 - Seqüência de fotos mostrando a aparência do disco lunar durante a lua cheia 6400 km).
de 20 de fevereiro de 2008, observada na cidade de Laguna, Santa Catarina. As bordas Desta forma, conforme o Sol esteja
inferiores das fotografias estão grosseiramente alinhadas paralelamente ao horizonte. mais próximo do horizonte, tanto mais
luz é espalhada, retirando assim da luz
fera, fracamente iluminada pelas estrelas branca preferencialmente a radiação nas
e pela Lua, reemite por espalhamento com freqüências próximas à da cor azul. A luz
tão pequena intensidade que não percebe- transmitida (não-espalhada), por ter
mos e, portanto, o céu noturno se apre- perdido parte das componentes com
senta escuro, negro. Se não tivéssemos freqüências mais altas, apresentar-se-á
atmosfera, veríamos o céu negro mesmo mais amarela (vide a luz transmitida na
durante o dia, quando o Sol apareceria Fig. 3), podendo atingir a tonalidade de
como um disco brilhante (e um pouco laranja e até de vermelho. Isto explica por-
mais esbranquiçado do que realmente o que a cor do Sol muda do quase branco
vemos) entre as demais estrelas. quando se encontra elevado no céu para
A Fig. 3 representa de maneira esque- os tons avermelhados característicos do
mática a chegada de luz solar branca em nascente ou poente. As partículas de poei-
uma região da atmosfera. De acordo com ra presentes na atmosfera também con-
esse esquema, um observador receberá tribuem para o avermelhamento do Sol,
radiação espalhada e enxergará aquela pois também espalham mais a luz azul
região do céu como azul. do que a luz vermelha, embora não de
Figura 2 - A Lua se apresenta em cor ama-
Para partículas muito maiores
rela alaranjada durante o auge do eclipse.
do que o comprimento de onda da
Foto gentilmente cedida pela fotógrafa e
luz, como é o caso das gotículas de
publicitária Ana Lúcia Meinhardt, que a
água, o espalhamento não depende
realizou utilizando uma máquina foto-
mais do comprimento de onda, e
gráfica acoplada a um telescópio do Obser-
portanto a intensidade da luz espa-
vatório Astronômico da PUCRS.
lhada é a mesma para todas as
do céu iluminado com a luz solar, chegará cores. É por isso que as nuvens são
luz azulada aos nossos olhos e veremos o brancas e, em dias muito nublados,
céu azul. vemos o céu todo esbranquiçado.
Caso não houvesse espalhamento da
radiação solar na atmosfera, o céu não As cores do Sol
Figura 3 - Luz solar branca incide sobre uma região
emitiria luz e se apresentaria negro. Tal é Para explicar a cor que o Sol da atmosfera que espalha preferencialmente luz
o que acontece à noite, quando a atmos- (ou qualquer astro) apresenta, com freqüências próximas à da cor azul.

Física na Escola, v. 9, n. 2, 2008 As cores da lua cheia 21


(ela nasce quando o Sol está se pondo), a
luz por ela refletida deve percorrer um
trajeto mais longo através da atmosfera
do que quando, horas mais tarde, encon-
tra-se elevada no céu. Desta forma, ao se
apresentar próxima ao horizonte, a luz
branca proveniente da Lua tem mais luz
azulada subtraída por espalhamento; por-
tanto a radiação transmitida através da
atmosfera contém menos luz azulada no
nascente da Lua do que quando ela está
alta no céu. Assim, a luz que chega aos
olhos de quem aprecia a lua cheia nas-
cente, será amarelada (vide as Fotos 1 e 2 Figura 6 - Trajetória da Lua no plano per-
da Fig. 1) por ter sido retirada da luz bran- pendicular ao eixo do cone de sombra da
ca, por espalhamento, a luz azulada. Terra em 20 de fevereiro de 2008.
Depois, enquanto a Lua se eleva, menos
Figura 4 - Quando um raio de luz incide espalhamento do azul acontece, resultan- eclipse, isto é, quando a Lua se encontrava
perpendicularmente à superfície terrestre, do em uma luz transmitida com menos na região mediana do seu trajeto dentro
o seu caminho através da atmosfera é perda de azul e, portanto, aproximando- da umbra. A linha vermelha indica a inter-
mínimo; quanto mais perto do horizonte se cada vez mais de ser branca (vide as secção do plano da órbita da Terra (eclíp-
se encontra o astro, mais longo é o per- Fotos 3 a 6 da Fig. 1). tica) em torno do Sol com o plano da
curso da luz dentro da atmosfera. Fig. 6.
A cor da Lua durante seu eclipse A Fig. 7 é uma representação esque-
maneira tão diferenciada quanto no espa- A Fig. 5 representa esquematicamente mática de uma possível trajetória da Lua,
lhamento de Rayleigh. Para esses grãos de as condições para a ocorrência de um no plano perpendicular ao eixo do cone
poeira, cujo tamanho é semelhante ao eclipse total da Lua (as dimensões do Sol, de sombra da Terra, durante um eclipse
comprimento de onda da luz, a intensi- da Terra e da Lua não estão representadas parcial. Neste caso, a Lua não ingressa
dade da radiação espalhada é inversamente em escala, bem como as distâncias entre completamente na umbra.
proporcional à primeira potência do os três corpos). Se interpretarmos literalmente os dia-
comprimento de onda. Mesmo assim, esse A Fig. 6 ilustra o caminho da Lua, gramas das Figs. 5 e 6 concluiremos que,
efeito se soma ao espalhamento pelas sobre o plano que é perpendicular ao eixo para um observador na Terra, a Lua deve
moléculas de gás, de forma que, quanto do cone de sombra da Terra, do ponto de se tornar invisível quando ela se encontrar
mais poeira houver na atmosfera, mais vista de um observador localizado na par- completamente imersa no cone de som-
vermelho será o Sol no crepúsculo. te noturna do hemisfério sul de nosso pla- bra, pois não haverá mais luz solar para
neta, no eclipse total de 20 de fevereiro de ser refletida em direção à Terra. Entre-
As cores da lua cheia 2008. A Lua, apesar de ter penetrado com- tanto, conforme a fotografia da Fig. 2, a
A Lua reflete a luz branca proveniente pletamente no cone de sombra da Terra, Lua se apresenta ainda iluminada com luz
do Sol. Embora nosso satélite pareça não passou pelo centro da umbra. A Fig. 6 amarela alaranjada! A atmosfera terrestre
muito brilhante, reflete apenas 6,7% da foi construída tomando por base a Ref. [4]. desempenha um papel importante para
luz que recebe do Sol [3], estando entre os O círculo maior representa a zona de pe- que ocorra a iluminação da Lua quando
objetos de menor refletividade do sistema numbra da Terra e o círculo menor indica ela já se encontra completamente imersa
solar. As partes mais brilhantes de sua a umbra. no interior do cone de sombra. O fenô-
superfície são as regiões mais altas e com As diferentes cores e tonalidades da meno responsável por isso é a refração; a
crateras, compostas de rochas ricas em Lua na Fig. 6 reproduzem a sua aparência refração atmosférica sempre eleva a ima-
cálcio e alumínio. As regiões mais escuras nas diversas etapas do eclipse. A foto da gem de um objeto celeste, a menos que o
são zonas mais baixas, chamadas ‘mares’, Fig. 2 foi reduzida e colocada dentro da objeto esteja no zênite, quando então a
compostas de rochas basálticas que umbra para retratar a Lua no auge do sua altura já é a máxima possível. Con-
refletem muito pouco a luz, daí sua cor forme indicado na Fig. 8, quanto menor
acinzentada. for a altura de um astro, maior será o
Quando vemos a lua cheia nascendo

Figura 7 - Trajetória da Lua no plano per-


Figura 5 - Representação esquemática das condições para a ocorrência de um eclipse pendicular ao eixo do cone de sombra da
total da Lua. Terra durante um eclipse parcial.

22 As cores da lua cheia Física na Escola, v. 9, n. 2, 2008


desvio de sua posição real.
Os raios de luz provenientes da estrela
na posição 3 não sofrem desvio porque
incidem perpendicularmente na atmosfe-
ra; os raios provenientes da estrela na po-
sição 2 sofrem desvio e o observador a
enxerga na posição aparente 2. Os raios
provenientes da estrela na posição 1 so-
frem um desvio ainda maior, e o obser-
vador a enxerga na posição aparente 1. É
devido à refração da luz solar na atmos-
fera da Terra que ainda podemos ver o
disco do Sol, por inteiro, sobre o horizonte,
até 2 minutos depois de ele ter realmente
começado a se pôr (isto é, quando de fato
a borda inferior do disco solar já desceu
abaixo da linha do horizonte). A refração
atmosférica determina que a lua cheia
nascente já possa ser vista no horizonte
quando, na realidade, ainda se encontra
abaixo da linha do horizonte!
Durante um eclipse lunar total, a luz Figura 8 - Devido à refração atmosférica, os raios luminosos parecem vir de uma direção
solar que atravessa tangencialmente a um pouco acima da posição real do astro.
atmosfera da Terra sofre refração, sendo
desviada para dentro do cone de sombra da Terra e que, por ter sido refratada em partículas, o espalhamento das freqüências
da Terra, iluminando fracamente a Lua. uma camada atmosférica mais alta e mais altas que constituem a luz branca
Mas essa luz já está quase desprovida de menos densa, sofreu menos espalhamento, solar se dará de maneira diferente. Assim
suas componentes com freqüências mais deixando essa parte da umbra relativamen- sendo, durante um eclipse total da Lua po-
altas, as quais foram espalhadas como te brilhante. A região mais próxima do eixo dem acontecer cores mais ou menos ama-
discutimos anteriormente. A luz que con- da umbra é iluminada por luz que, tendo relas, laranjas ou vermelhas, sendo que a
segue atravessar a atmosfera, ingressando atravessado as camadas mais baixas e mais intensidade da iluminação da Lua também
na umbra, resulta então apresentar tona- densas da atmosfera da Terra, desvia por pode variar de um para outro eclipse. O
lidades que vão do amarelo brilhante, pas- refração e espalha mais a luz do Sol, trans- brilho da Lua depende da trajetória que ela
sando pelo laranja e podendo chegar até o mitindo luz menos intensa e mais averme- segue dentro da umbra (quanto mais perto
vermelho. Um astronauta que estivesse lhada [5]. do centro da umbra passar a Lua, mais
na Lua durante um eclipse total veria o A Fig. 9 indica que a luz desviada pela escuro será o auge do eclipse) e de quanta
Sol completamente eclipsado pela Terra, refração atmosférica para o interior da luz é refratada na nossa atmosfera para o
a qual apareceria como um disco escuro umbra possui coloração (e intensidade) interior da umbra. Outros fatores que
circundado por um halo avermelhado de diferente, variando com o trajeto percor- contribuem para eclipses mais escuros são
luz solar, pois o grande espalhamento na rido ao cruzar a atmosfera. o excesso de nuvens no terminadouro2 da
atmosfera terrestre das freqüências próxi- Dependendo das condições da atmos- Terra e a quantidade de partículas sólidas
mas à da cor azul determina a chegada de fera, como por exemplo o tamanho das suspensas na atmosfera, como poeira e
luz avermelhada aos olhos do astronauta.
Essa luz avermelhada que atinge a Lua é
refletida e retorna em direção de quem
observa o eclipse da Lua na superfície da
Terra. A Fig. 9 representa de forma esque-
mática o trajeto da luz que ingressa na
umbra após atravessar a atmosfera, ilu-
minando a Lua.
Enquanto a Lua transita dentro do co-
ne de sombra, a iluminação da sua super-
fície é variável, mudando inclusive de
tonalidade. Isso mostra que o cone de som-
bra não é uniformemente escurecido, sendo
mais escuro na parte mais central, perto
do seu eixo. Na fotografia da Fig. 2 vemos
que a iluminação da superfície da Lua não
é homogênea. A parte amarela brilhante
da Lua se encontra mais próxima da borda
do cone de sombra do que a região diame-
tralmente oposta. A região mais próxima Figura 9 - A luz solar que atravessa a atmosfera, ingressando no cone de sombra da
à borda da umbra é iluminada por luz Terra, é amarela alaranjada devido ao espalhamento do azul na atmosfera e é desviada
menos desviada por refração na atmosfera por refração para dentro do cone de sombra.

Física na Escola, v. 9, n. 2, 2008 As cores da lua cheia 23


cinzas vulcânicas. Grandes erupções do céu noturno e, mesmo quando escon- segundo direções um pouco diferentes,
vulcânicas, que jogam muitas partículas dida à sombra da Terra, nos proporciona sendo a luz vermelha a que menos se
de cinza na atmosfera, geralmente são um espetáculo inusitado e belo. refrata e a azul a que sofre maior refração.
2
seguidas durante vários anos por eclipses Terminadouro é a margem entre o
muito escuros e vermelhos [6]. O astrô- Agradecimento hemisfério iluminado e o hemisfério
nomo francês André Danjon propôs uma Agradecemos à Profa. Maria Cristina escuro de um corpo que não emite luz
escala de cinco graus para avaliar o brilho Varriale do IM-UFRGS pela leitura crítica própria.
e a cor da Lua durante um eclipse total, e pelas sugestões apresentadas a este
atribuindo o grau 0 para eclipses muito artigo.
Referências
escuros, em que a Lua fica quase invisível,
até o grau 4 para eclipses em que a Lua Notas [1] F.L. Silveira e A. Medeiros, Física na Es-
1 cola 7(2), 67 (2006).
fica com tons alaranjados ou acobreados, O espalhamento da luz é o fenômeno
[2] D. Lynch and W. Livingston, Colors and
muitas vezes mostrando uma margem pelo qual a luz, ao interagir com pequenas Light in Nature (Cambridge University
brilhante azulada. partículas, sofre mudança aleatória em Press, Nova York, 1995).
sua direção. A intensidade da luz espa- [3] C.W. Allen, Astrophysical Quantities (The
Conclusão lhada depende do tamanho da partícula Ahtlone Press, London, 1973).
As cores que a lua cheia apresenta comparada com o comprimento de onda [4] I.G. Varela e P.D.C.F. Oliveira, Urano-
dependem da luz solar que chega até ela e da luz. O espalhamento da luz não pode metria Nova, Circular Astronômica
é refletida, mas resulta também das condi- ser confundido com a dispersão da luz. A n. 32. Disponível em http://
www.uranometrianova.pro.br/
ções da atmosfera terrestre, que pode sub- dispersão acontece se a velocidade de pro-
circulares/circ0032.htm. Acessado em
trair, por espalhamento, luz com freqüên- pagação da luz (ou de qualquer onda) em abril de 2008.
cia na faixa próxima da cor azul. A um meio depender da freqüência da luz, [5] R.A. Keen, What will 2004´s Lunar
atmosfera da Terra também é responsável isto é, luzes com cores diferentes viajam Eclipse look like?. Disponível em: http:/
por podermos enxergar a Lua mesmo em através do meio com velocidades diferen- /eclipse.gsfc.nasa.gov/LEmono/
eclipses lunares totais, quando refrata e tes. Desta forma, na dispersão o índice de TLE2004Oct28/image/
ao mesmo tempo espalha fortemente os refração da luz muda com a freqüência. TLE2004keen.html. Acessado em abril
raios do Sol quase tangentes à superfície A dispersão acarreta, por exemplo, que a de 2008.
[6] F. Espenak, Danjon Scale of Lunar Eclipse
do planeta, fazendo com que eles ilumi- luz branca que atravessa um prisma apre-
Brightness. Disponível em http://
nem a umbra com luz amarela, laranja e sente-se decomposta nas cores do arco- eclipse.gsfc.nasa.gov/OH/
vermelha. Assim, a lua cheia tem cores íris, pois os raios luminosos com freqüên- Danjon.html. Acesso em 2005.
variáveis durante a sua viagem através cias diferentes, emergem do prisma
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Manuel Bandeira e a Lua


Satélite Lua Nova
Fim de tarde. Meu novo quarto
No céu plúmbeo Virado para o nascente:
A lua baça Meu quarto, de novo a cavaleiro da
Paira entrada da barra.
Muito cosmograficamente
Satélite. Depois de dez anos de pátio
Volto a tomar conhecimento da aurora.
Desmetaforizada, Volto a banhar meus olhos no mônstruo
Desmitificada, incruento das madrugadas.
Despojada do velho segredo de
melancolia, Todas as manhãs o aeroporto em frente
Não é agora o golfão de cismas, me dá lições de partir:
O astro dos loucos é dos enamorados, Hei de aprender com ele
Mas tão-somente A partir de uma vez
Satélite. - Sem medo,
Sem remorso,
Ah Lua deste fim de tarde, Sem saudade.
Manuel Bandeira, Recife, PE Demissionária de atribuições românticas,
19/4/1886-13/10/1968 Sem show para as dìsponibilidades Não pensem que estou aguardando a lua
sentimentais! cheia
- Esse sol da demência
Fatigado de mais valia, Vaga e noctâmbula.
Gosto de ti assim: O que eu mais quero,
Coisa em si, O de que preciso
- Satélite. É de lua nova

Poemas extraídos do livro Bandeira - Antologia Poética (Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1980), 10ª ed.

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