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Especial
A saúde em números
Pesquisa da
OMS-Fiocruz
apresenta
radiografia
inédita
do Brasil
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tudo:
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Imagens do Inconsciente em mostra inédita
Carla Muaze
Cláudia Cerqueira Celso Santiago — Sem título Sem título
Sem título (óleo sobre tela) (modelagem em barro) (óleo sobre tela)
c artum
Serviço 34
Pós-Tudo
Desafio à saúde pública 19
C ARTAS
S ou farmacêutico-bioquímico, sani-
tarista atuando desde 1971 no
Lacen/SC, e recebo a Radis já há alguns
como me tornar um assinante da Radis.
Hélio Lage Costa, Ilhéus, BA
Unimed (nada contra); porém, nada ria de ver matéria sobre a importância, a R ADIS SOCIALIZADA
revela ao público que ali existe uma luta e a interiorização da saúde bucal.
A. J. L. Teixeira, Benedito Novo, SC
unidade hospitalar do SUS. A logomarca
é a porta de entrada de qualquer pro-
posta de serviço à comunidade. A CESSO ÀS EDIÇÕES
T enho 47 anos e sou servidora pública
federal há muitos anos, trabalhando
atualmente na Universidade Federal
O SUS é fruto do maior movimento de Pernambuco, no Núcleo de Saú-
social na área da saúde no Brasil nos
últimos 100 anos. Em 1991, o MS produ-
ziu um documento chamado “ABC do
E studo Medicina na Universidade
Estadual de Santa Cruz (BA). Co-
nheci a revista há um ano, e me interes-
de Pública e Desenvolvimento Social
(Nusp) do Hospital das Clínicas, onde
conheci a Radis. Quando consigo gos-
SUS — Comunicação visual: instruções sei muito pelas matérias relativas à saúde to de ler as matérias, que para mim
básicas”. Lá tem tudo sobre o assunto a coletiva e às políticas de saúde. No en- são esclarecedoras, como a repor-
tagem “Invisibilidade, a maior das do-
res”, de Katia Machado e Marinilda
Carvalho. Que adorei!
expediente Sou recepcionista e telefonista, e
Reportagem Jesuan Xavier não consigo acompanhar tudo. Não pos-
(subeditor), Katia Machado e so levar a revista para ler em casa, pois
Wagner Vasconcelos ela vai para a biblioteca. Fico triste, já
Arte Aristides Dutra (subeditor) e
Hélio Nogueira que, como muitos brasileiros, eu e mi-
Estudos e Projetos Justa Helena Franco nha família somos usuários do SUS, e
(gerência de projetos), Jorge gostamos de estar por dentro de tudo
Ricardo Pereira e Laïs Tavares o que acontece no campo da saúde.
Secretaria de Administração e Infra- Por isso, solicito a assinatura da
RADIS é uma publicação impressa e online Estrutura Onésimo Gouvêa,
da Fundação Oswaldo Cruz, editada pelo Márcia Pena, Cícero Carneiro, revista, para saber mais sobre o SUS e
Programa Radis (Reunião, Análise e Difusão Cleonice Vieira, Osvaldo José socializar as informações com minha
de Informação sobre Saúde), da Escola Na- Filho (informática) e Ita Goes
cional de Saúde Pública (Ensp). família (marido e cinco filhos, entre
(estágio supervisionado)
Endereço eles um doente com problemas neu-
Periodicidade Mensal
Tiragem 42 mil exemplares Av. Brasil, 4.036, sala 515 — Manguinhos rológicos) e amigas do bairro.
Assinatura Grátis Rio de Janeiro / RJ — CEP 21040-361 Margarida dos Santos, Recife
Presidente da Fiocruz Paulo Buss Tel. (21) 3882-9118
Diretor da Ensp Jorge Bermudez Fax (21) 3882-9119
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PROGRAMA RADIS NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA
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Coordenação Rogério Lannes Rocha Impressão A Radis solicita que a correspondên-
Edição Marinilda Carvalho Ediouro Gráfica e Editora SA cia dos leitores para publicação (car-
ta, e-mail ou fax) contenha identifi-
USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radis sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aos cação completa do remetente: nome,
pode ser livremente utilizado e reproduzido em qual- veículos que reproduzirem ou citarem conteúdo de endereço e telefone. Por questões de
quer meio de comunicação impresso, radiofônico, nossas publicações que enviem para o Radis um exem-
televisivo e eletrônico, desde que acompanhado dos plar da publicação em que a menção ocorre, as refe- espaço, o texto pode ser resumido.
créditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon- rências da reprodução ou a URL da Web.
RADIS 23 JUL/2004
[ 5 ]
SÚMULA
Rita. “Será que o médico brasileiro, doenças não-transmissíveis, que vêm York e Nebraska determinaram mu-
que trabalha em três ou quatro lo- ganhando espaço crescente nos ín- danças na lei, mas o texto permane-
cais diferentes, tem tempo de pro- dices de morbidade e nos custos so- ceu o mesmo.
curar referências na internet? Será ciais e econômicos do sistema de saú-
que socialmente temos condições de de. “Diabetes, hipertensão arterial e
exigir que ele tenha conhecimento de câncer têm pesado cada vez mais nos R EFORMULAÇÃO DO C ONSEA
inglês suficiente para ler um artigo ci- gastos dos governos, pois demandam
entífico?”, questionou. Rita citou pes- internações prolongadas e novos
quisa veiculada na TV aberta segundo medicamentos, de preços altos”, afir-
a qual 47% dos médicos confessaram mou Humberto Costa.
atualizar-se em farmacologia apenas O governo brasileiro contribuiu
pelos boletins da indústria. “Por isso, com algumas recomendações ao tex-
não se pode admitir que as informa- to do documento final da Assembléia.
ções não sejam exatas”, disse. Para ela, Entre elas, a de que sejam respeita-
é preciso conscientizar os futuros pro- dos os limites apropriados de ingestão
fissionais sobre o risco da informação de gorduras totais, reduzindo o con-
contida na publicidade: se a classe sumo de gorduras saturadas e aumen-
médica não imagina que possa rece- tando o de insaturadas; de que sejam
ber dados inverídicos da indústria, a seguidos os limites indicados para con-
indústria, muitas vezes, confunde es- sumo de calorias com baixos teores
peculação com fato.
Rita propõe como alternativa a
criação de um boletim informativo
de açúcares; e de que se diminua o
consumo de sal e se assegure o acrés-
cimo de iodo ao sal de cozinha.
O novo presidente do Conselho Na-
cional de Segurança Alimentar e
Nutricional (Consea), Francisco Me-
independente, sob responsabilidade do nezes, anunciou que deverão ser
Ministério da Saúde, e a reformulação cumpridas em curto prazo algumas
do modelo regulatório atual. “Alguns V ITÓRIA PRÓ - ABORTO NOS EUA das 160 ações estratégias definidas na
itens estão hoje obscurecidos por uma 2ª Conferência de Segurança Alimen-
linguagem legal que dá margem a diver-
sas interpretações quanto ao teor da
publicidade.”
N o dia 25 de maio, uma juíza fe-
deral de São Francisco, na
Califórnia (Estados Unidos), declarou
tar e Nutricional, realizada em março
deste ano em Olinda (PE). Entre elas,
a definição de um novo plano de sa-
inconstitucional a lei que proíbe o fra da agricultura familiar e dos as-
chamado aborto tardio, vetada duas sentamentos da reforma agrária, e a
P ARTICIPAÇÃO DO B RASIL N A vezes pelo ex-presidente Bill Clinton criação de condições para que o
57ª A SSEMBLÉIA M UNDIAL DE S AÚDE e sancionada pelo presidente George mercado atenda às 6 milhões de fa-
W. Bush em novembro de 2003. Se- mílias beneficiadas pelo programa
transplantes
A
o contrário do que tanto se rim; outras 22 mil esperam a doação gente da ABTO.
alardeia, não faltam órgãos de córneas — 5 mil, de fígado, 351,
e doadores para transplan- rim/pâncreas, 235, coração, 178, pân- NÚMEROS POSITIVOS
tes no Brasil. É a opinião do creas e 94, pulmão. “Às vezes, a difi- O Brasil é hoje o segundo país no
deputado Neucimar Fraga (PL-ES), culdade é a ausência de um profissi- mundo em número absoluto de trans-
presidente da CPI do Tráfico de Ór- onal capacitado para a realização do plantes de órgãos e tecidos — só per-
gãos, que foi instalada na Câmara dos transplante”, concorda o ministro da de para os Estados Unidos. No ano
Deputados em abril e iniciou os tra- Saúde, Humberto Costa. passado, foram realizados 8.544 pro-
balhos um mês depois. “O problema Em depoimento à CPI, o coor- cedimentos desse tipo no país. O sis-
é mesmo de eficiência do sistema”, denador do Sistema Nacional de tema brasileiro de transplantes apre-
já constatou ele. A CPI investiga o Transplantes, Roberto Schlindwein, senta crescimento constante desde
tráfico de órgãos humanos no país e confirmou a falta de estrutura para 2001. “Só o de fígado, por exemplo,
tem dado oportunidade para uma dis- captação. Segundo ele, apenas 25% cresce em média 30% anualmente”,
cussão mais ampla sobre o assunto: dos possíveis doadores no ano pas- diz o presidente da ABTO.
a reestruturação de todo o sistema sado efetivamente conseguiram doar Passada a polêmica do fim de
de transplantes. seus órgãos. Para o relator da CPI, 2003 (ver box), que culminou com o
O presidente da Associação Bra- deputado Pedro Ribeiro (PMDB-CE), pedido de demissão de Daniel Tabak,
sileira de Transplantes de Órgãos os doadores em potencial, muitas ve- presidente do Centro de Transplan-
(ABTO), Walter Antônio Pereira, em zes, não são identificados a tempo. tes de Medula Óssea (Cemo), no Rio,
entrevista à Radis, acrescenta que Walter Pereira diz que já existe o governo retomou com força total
contribui para as dificuldades a fraca um projeto, em conjunto com o Mi- a política nacional para ampliar as do-
presença de centros especializados nistério da Saúde, para a formação ações: apenas no primeiro bimestre
em transplantes, principalmente nas de pessoal nas áreas desprovidas. de 2004 foram feitas 1.835 cirurgias
regiões Norte e Nordeste. “A distri- “Boa vontade existe, mas tudo de- na rede pública — 44,03% a mais do
buição de profissionais e centros ca- pende da liberação de verba”. Atu- que o registrado em igual período
pacitados para os procedimentos é almente, a rede pública de saúde do ano passado. “Sabemos que ain-
muito desigual, está tudo concentra- conta com 1.094 equipes médicas e da há problemas, mas a situação
do no Sul e Sudeste”, comenta. 477 unidades credenciadas para a hoje é muito promissora”, avalia
Antônio Pereira.
META É ZERAR
O RADIS ADVERTE FILA DE CÓRNEAS
Ser doador de medula De acordo com previsão do go-
óssea faz bem à saúde verno, serão investidos ainda em
do espírito, por estimu- 2004 cerca de R$ 400 milhões para a
lar o sentimento de so- realização de transplantes de órgãos
lidariedade, e também e tecidos — valor 16,61% acima do
ao Registro Nacional de gasto no ano passado (R$ 343 mi-
Doadores. Com 65 mil lhões). A meta do governo é zerar,
cadastros, dos quais 96% até 2007, a fila por uma córnea. Se-
provêm do Sul/Sudeste do Brasil, o Registro sente falta de doadores gundo informações do Ministério da
das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Fiocruz, Marinha Brasi- Saúde, a captação desse órgão é
leira e Câmara dos Deputados aderiram à campanha de doações lançada mais fácil, pois existe a possibilida-
no Rio de Janeiro pelo Instituto Nacional do Câncer e o Hemorio em de de aproveitá-lo até seis horas
18 de junho. A meta é conseguir 500 mil doadores. após a morte do paciente — tempo
longo demais para o transplante de
outros órgãos.
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Em relação à demanda por rim, blicitária. Com a participação de per- denúncias”, diz Walter Pereira.
coração, pulmão, pâncreas e fíga- sonalidades públicas, como o ator Ele afirma, no entanto, que no
do, o projeto é reduzir a fila em até Norton Nascimento e o jogador de Brasil não existe comprovação de trá-
12%. “Até 2006, minha expectativa futebol Narciso, o trabalho na mídia fico de órgãos. “Tivemos problema no
é que possamos ter no Brasil intei- tem gerado bons resultados. Segun- Nordeste, mas restrito a um peque-
ro uma estrutura de captação, do- do dados do governo, a média de li- no grupo”, diz. “De qualquer forma,
ação e realização de transplantes”, gações por mês para o Disque-Saúde, aconteceu ali um aliciamento para
diz o ministro. referentes a transplantes, saltou de comercialização no exterior, não era
Segundo o diretor do Departa- 80 para 3 mil. O presidente da ABTO para venda aqui”. A quadrilha que foi
mento de Atenção Especializada do ressalta ainda a participação positi- desmantelada em Pernambuco reunia
Ministério da Saúde, Arthur Chioro, va, nessas campanhas, de organiza- 11 pessoas, sendo dois israelenses.
a diminuição das filas também de- ções não-governamentais, como a Ali- Todas acabaram presas. “O importan-
pende muito da conscientização da ança Brasileira pela Doação de Órgãos te é coibir com rigor esse tipo de
população. “Este desempenho (o re- e Tecidos (Adote). prática, e nesse episódio o governo
corde registrado no bimestre) tem agiu rápido”.
sido possível graças à sociedade, so- ABTO NEGA TRÁFICO Walter Pereira lembra que a le-
bretudo à atuação dos profissionais Além do desrespeito à fila, a CPI gislação brasileira que trata do assun-
da rede hospitalar, que vêm reali- investiga acusações contra médicos to é bem rígida. “Talvez, no mundo,
zando trabalho de convencimento que estariam acelerando a morte de seja a mais abrangente”. Em muitos
de famílias e pacientes com morte pacientes (para a retirada de órgãos) casos, conta, chega até a ser criticada.
cerebral ou mesmo corporal, em e o tráfico internacional — que che- “Pela falta de flexibilização, o que às
favor da doação”. ga a vender rins por até US$ 40 mil. vezes dificulta todo o processo de
Para aumentar ainda mais o nível “Acho que toda a investigação, des- transplantes”. No Brasil, mesmo que
dessa conscientização, o Ministério de que bem conduzida, é boa. Dá o cidadão se declare doador, seus ór-
da Saúde promoveu, desde o fim do transparência. Não vejo problema al- gãos e tecidos só podem ser trans-
ano passado, intensa campanha pu- gum em se ter uma CPI para apurar plantados se a família permitir.
10 anos do psf
U
ma pausa para celebrar os ra do Departamento de Atenção Bá- Para tanto, torna-se fundamental
10 anos do Programa Saúde sica da Secretaria de Atenção à Saú- ampliar gradativamente os incentivos
da Família (PSF) e para fa- de do Ministério da Saúde, ao falar financeiros destinados às equipes de
zer um balanço das con- sobre as perspectivas do Saúde da Saúde da Família, Saúde Bucal e Agen-
quistas. Foi com esse espírito que mais Família para a gestão do SUS. tes Comunitários de Saúde, que para o
de 3 mil pessoas — entre técnicos, Emocionada pelo empenho de to- ministro são “a ponta de lança dessa
profissionais de saúde e gestores do dos os profissionais, Afra informou o estratégia”. Segundo Afra, estão pre-
SUS — participaram da 2ª Mostra Na- quanto essa estratégia avançou nos vistos para 2004 pouco mais de R$ 2
cional de Saúde da Família, em Brasília, últimos anos: “De dezembro de 2002 a bilhões, que formam o Plano de Aten-
entre os dias 1º e 3 de junho. Expec- abril de 2004, o SF cresceu 66%”. A pro- ção Básica (PAB). “Em 2003, a verba foi
tativas superadas: 1.600 trabalhos va desse crescimento está nos núme- de R$ 1,680 bilhão. Desse valor, municí-
acadêmicos, entre pôsteres e painéis, ros apresentados pelo Departamento pios executaram um pouco mais de R$
possibilitaram o intercâmbio de expe- de Atenção Básica: em 2000, foram im- 1,655 bilhão, o que representou 98,5%
riências e o debate sobre os pontos plantadas 8.604 equipes de Saúde da do dinheiro disponível”, esclareceu.
críticos e os próximos desafios. Para o Família; em 2001, esse número saltou Para fortalecer o programa em
ministro da Saúde, Humberto Costa, para 13.168; em 2002, para 16.698; em municípios de grande porte, o gover-
presente à abertura, “essa é a prova 2003, para 18.016. Agregaram-se tam- no criou em 2003 o Projeto de Ex-
de que o Saúde da Família se afirma bém as equipes de Saúde Bucal que, pansão e Consolidação do Saúde da
como uma política de Estado, e não de de 2001 a 2003, foram ampliadas de Família (Proesf) — que propõe mu-
governo”. Porque, segundo Humberto 1.457 para 4.820. “Hoje, são 19.943 equi- danças na dinâmica do programa,
Costa, “foi uma estratégia que conse- pes atuando em 4.565 municípios, mais com mais recursos para novas equi-
guiu atravessar os vários ministros que de 188 mil agentes comunitários de saú- pes e unidades básicas de saúde,
o país teve nesses anos, independen- de presentes em 5.175 municípios e integração dos níveis de média e alta
temente de partido político”. mais 7.131 equipes de saúde bucal im- complexidade da atenção à saúde e
Cientes de que o Saúde da Famí- plantadas em 2.944 municípios (até abril o aperfeiçoamento de mecanismos
lia vem se fortalecendo como ação de 2004)”, acrescentou Afra. de gestão. O Proesf está em plena
organizadora da Atenção Básica de Traduzindo esses números em co- execução, garantiu: “Já distribuiu na
Saúde e como porta de entrada do bertura da população, Afra disse que primeira fase cerca de R$ 20 milhões
SUS em muitos municípios, profissio- atualmente o Saúde da Família atinge entre municípios acima de 100 mil ha-
nais e pesquisadores da área defen- quase 60 milhões de pessoas, ou seja, bitantes”. “Pretende ainda”, disse
dem que o “P” de programa deveria 37,7% da população brasileira. “É pou- Humberto Costa, “distribuir mais de
ser trocado por “E” de estratégia. co”, para Humberto Costa. “A meta R$ 500 milhões ao longo de seis anos
Afinal, a palavra programa pressupõe do Ministério da Saúde é dobrar em 4 para garantir equipes de Saúde da
algo que tem início, meio e fim. “E o anos de governo o número de equi- Família em todo o país”.
RADIS 23 JUL/2004
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Foi aprovada pela Comissão fendem a ampliação e a legalização do Trabalho e Educação na Saúde do
Intergestores Tripartite (CIT) um acrés- da residência em Saúde da Família, MS, informou que o tema, como tam-
cimo de 50% dos incentivos destinados lembrando que todo profissional deve bém as formas de vínculo profissional
às equipes para municípios com IDH (Ín- ser formado tendo como base o cui- dos trabalhadores da saúde, vem sen-
dice de Desenvolvimento Humano) me- dado, o acolhimento e o vínculo com do discutido pelo grupo de trabalho
nor ou igual a 0,7 e até 50 mil habitan- a família e a comunidade na qual atua. instituído pelo MS e já levado à Casa
tes localizados na região da Amazônia Na opinião de Odorico Monteiro de Civil do governo.
Legal e até 30 mil habitantes nos de- Andrade, presidente do Conselho Na-
mais municípios. “O mesmo acontece cional de Secretários Municipais de DESATANDO O NÓ
com as equipes que atuam em assen- Saúde (Conasems), o modelo ideal de Alguns desafios a superar: a re-
tamentos e quilombolas”, informou Afra. residência em Saúde da Família é visão da Portaria nº 1.886/97, sobre
aquele em que a unidade de saúde e as normas e diretrizes do PSF; esta-
OS NÓS CRÍTICOS a comunidade se transformam em belecer financiamentos adequados,
Como numa grande reunião de locus para a formação profissional. como o Proesf, de forma a garantir
trabalho, os participantes da mostra “Mestres e profissionais da área eqüidade em saúde; ampliar a
constataram que há muitos nós a se- que auxiliam na orientação Saúde Bucal e criar equipes
rem desatados e arestas a serem apa- dos residentes, conhecidos matriciais de apoio, com in-
radas para uma execução plena, efi- como preceptores, deslo- clusão de outros profissio-
ciente e eficaz do SF. Dois pontos cam-se para o local de nais, como nutricionistas
críticos foram destacados: primeiro, trabalho dos residentes, e ginecologistas; resolver
os recursos humanos, com a onde estão de fato os pro- os problemas de vínculo
“desprecarização” do trabalho e a blemas de saúde do coti- dos profissionais; promo-
formação profissional adequada ao PSF; diano”. Segundo Odorico, ver a capacitação e a edu-
depois, a avaliação e o monitoramento, é preciso acabar com a idéia cação permanente; enfren-
que precisam ser institucionalizados. de que o aprendiz de feiticei- tar as diferenças regionais; fazer
Eronildo Felisberto, coordenador de ro, ou seja, o médico-residente, de- com que a atenção à saúde tenha mai-
acompanhamento e avaliação do De- pois de aprender com seu mestre, or resolutividade, integralidade e con-
partamento de Atenção Básica do MS, saia dali e monte sua própria tenda. tinuidade de ação; e definir formas
alertou: “Ainda não temos avaliação Ele precisa circular entre as várias de monitoramento e avaliação das
como instrumento efetivo”. Ele des- áreas do conhecimento. ações em saúde.
tacou os seguintes componentes para Quanto à precarização do tra- Para Jurandir Frutuoso, secretário
a construção de uma política de balho, um grupo marcou presença. estadual de Saúde do Ceará, desatar
institucionalização da avaliação: estu- Vestidos com blusa e boné que mos- alguns nós significa, também, “suprir a
dos e pesquisas; integração e articu- travam o estado de origem e levan- insuficiência de médicos para o Saúde
lação intra e intersetorial; democrati- tando faixas, agentes comunitários de da Família, melhorar a infra-estrutura de
zação da informação; descentralização Saúde reuniram-se em massa para dis- Unidades Básicas de Saúde, redefinir
do monitoramento e da avaliação; co- cutir com deputados federais proje- a dinâmica do trabalho das Equipes de
operação técnica de estados e muni- tos de emenda constitucional em Saúde da Família com base nas com-
cípios e avaliação processual. tramitação no Congresso para regu- petências de cada categoria profissi-
No que tange à formação profis- lamentação dos vínculos de trabalho. onal envolvida e investir na melhoria
sional, gestores e trabalhadores de- Jorge Paiva, da Secretaria de Gestão das condições de trabalho”.
DOENÇAS INFECCIOSAS
O
s avanços científicos ain- mesma região), mas não houve a elimi-
da não foram capazes de nação do mosquito transmissor”.
debelar da saúde pública O Brasil, que já esteve mais próxi-
nacional males que há tem- mo de eliminar a malária, viveu, nos últi-
pos já poderiam estar erradicados. mos anos, um retrocesso no combate à
O maior risco
Entre eles, a malária, com 500 mil no- doença. “A endemicidade da malária foi
de morte por
vos casos anuais no Brasil, segundo malária no Brasil quase controlada no ano de 1970, com
dados da Fundação Nacional da Saúde ocorre exatamente pouco mais de 52 mil casos notificados.
(Funasa). E que, ao contrário do que fora das regiões Nestas últimas três décadas, porém, o
se imagina, também provoca mortes endêmicas nível endêmico elevou-se de tal forma
fora das chamadas regiões endêmicas. que se distanciou da possibilidade de
O paradoxo é explicado por um aspec- um controle possível para aproximar-se
to preocupante para quem lida com saú- UM CONTROLE CEGO de um controle cego, ou seja, não se
de: a falta de informação até entre os Os especialistas estimam que, em tem noção do gigantismo da doença”,
profissionais. terras brasileiras, 99% dos casos de ma- analisa Wanir Barroso.
Pessoas que viajam à área lária estejam restritos ao norte do país, Para ele, o controle da malária
endêmica (que engloba os estados da mas nem sempre foi assim. Em meados passa por noções de conscientização
Região Norte mais o norte do estado dos anos 60, a doença se manifestava da população. Entre elas, “aumentar o
de Mato Grosso) podem contrair o de forma endêmica no município de nível de informações sobre a doença,
plasmódio da malária e, ao voltar às Nova Iguaçu, no Estado do Rio, segun- principalmente em clínicas particula-
suas cidades, desenvolver a doença. do Wanir Barroso. De acordo com ele, res, entidades médicas, entre os via-
O problema é que, por ignorarem o em 1965, foi registrado nesse municí- jantes, os médicos recém-formados, os
histórico do doente, muitos médicos pio um total de 1.550 casos. “O Rio de estudantes de Medicina e também para
acabam confundindo os sintomas da Janeiro é hoje uma região de transmis- a população exposta ao risco”.
malária com os de outras doenças, for-
mando um diagnóstico equivocado,
que pode agravar o estado de saúde
do paciente. Como o plasmódio age no organismo
Dos novos casos anuais, de 100 a
120 redundam em óbitos, que certa-
mente poderiam ser evitados se os
devidos cuidados fossem tomados.
A malária é uma doença que, anu-
almente, registra 500 milhões
de novos casos no mundo, mata 3
vivax. O primeiro corresponde a
cerca de 20% dos casos registrados,
tem grande poder letal e manifes-
“Pouco se morre de malária nas regi- milhões de pessoas e é encontrada ta-se de 8 a 12 dias após a contami-
ões endêmicas, pois a população des- sobretudo na África, no sudeste da nação. Já o plasmódio vivax é ca-
sas áreas já pede para fazer exames Ásia e na América do Sul — mais pre- racterizado por poder ser latente
que detectam a doença assim que sen- cisamente na Amazônia Legal. Ela é no organismo humano. O quadro
te os primeiros sintomas”, diz o provocada por protozoários de- sintomático chega a se manifestar
microbiologista Pedro Paulo Ribeiro nominados plasmódios, que são até um ano depois de a pessoa ter
Vieira, pesquisador da Fundação de transmitidos ao homem a partir sido infectada pelo protozoário.
Medicina Tropical da Amazônia. Por da picada do mosquito anopheles, Entre os sintomas da doença
isso, explica, é importante que as pes- infectado com esses protozoários. está a febre, muitas vezes associa-
soas avisem aos médicos que estive- Os plasmódios chegam ao fígado do da a dores no corpo, dor de cabe-
ram em locais onde o risco de contra- homem e lá se reproduzem rapida- ça, vômitos, diarréia, dores abdo-
ir malária é maior. Dessa forma, podem mente. Depois, espalham-se pela minais, falta de apetite, tontura e
receber o tratamento adequado. corrente sanguínea, continuam se sensação de cansaço. Evitar o con-
Para o sanitarista Wanir Barroso, reproduzindo e invadem e destro- tágio da doença é acrescentar al-
especialista em epidemiologia e contro- em as hemácias (células responsá- gumas medidas aos hábitos cotidi-
le de endemias pela Fiocruz, “o risco veis pelo transporte de oxigênio a anos, como usar repelentes nas
de reintrodução da doença em várias outras células do organismo). partes descobertas do corpo,
partes do Brasil é permanente, porque No Brasil, os tipos de malária dedetizar os locais onde se dorme
são permanentes a migração de pesso- mais comuns são aqueles provoca- e fazer uso de cortinados e telas
as com malária de outras regiões e a dos pelos plasmódios falciparum e impregnados de inseticida.
existência dos mosquitos transmissores”.
RADIS 23 JUL/2004
[ 13 ]
e n t r e v i sta
Carlos Minc
N
a Roma antiga, o toque das questão?
trombetas e o rufar dos Num centro urbano, a poluição
tambores eram usados para sonora será sempre um problema de
incitar os guerreiros à luta. difícil solução. Quanto mais cresce a
Ao mesmo tempo, um grupo especial cidade, mais cresce o problema. Por
de soldados era destacado exclusiva- isso, é importante trabalharmos a
mente para produzir ruídos capazes questão dos valores individuais do ci-
de amedrontar o inimigo. Hoje em dia, dadão. A ação mais importante para
o barulho não é mais usado como arma resolvermos a questão — ou pelo
de guerra, mas há uma guerra diária menos minorarmos o problema — é a
contra um inimigo comum que vem educação ambiental, que preconiza
se mostrando invencível nos grandes mudanças de comportamento e de
centros urbanos: a poluição sonora. valores. Os valores individuais preci-
Provocada por sinaleiras de gara- sam incorporar a dimensão do outro
gem, buzinas, máquinas na pista, bailes cidadão. Precisamos, desde criança,
funk, casas de shows, som alto nos car- aprender a respeitar os direitos indi-
ros, a poluição sonora é um tema que viduais e coletivos.
também incomoda o deputado estadu-
al Carlos Minc, do PT do Estado do Rio, Estamos chegando ao período eleito-
que em 8 de junho publicou o artigo ral, ou seja, comícios e carros de som A lei define as mais importantes
“À beira de um ataque de nervos” no serão freqüentes. Os políticos tam- fontes de poluição, estabelecendo
jornal O Globo. No texto, ele alertava bém causam poluição sonora? medidas e procedimentos para que o
para uma estatística da Organização Em alguns casos, sim. Daí a ne- Estado do Rio e os municípios resol-
Mundial de Saúde, que classifica Rio e cessidade, por exemplo, de haver vam juntos o problema da poluição
São Paulo nas 7ª e 10ª posições, res- locais especiais para atividades po- sonora, a partir de convênios e acor-
pectivamente, do ranking das 10 cida- líticas, como comícios. Um comício dos de conduta.
des mais barulhentas do mundo — lide- político na Cinelândia (centro do
rado pela Cidade do México. Dados da Rio), por exemplo, causará menos Qual o tipo de poluição sonora mais
OMS mostram que ruídos entre 76 e 85 impacto sonoro do que nos bairros comum nessas áreas?
decibéis já são capazes de provocar residenciais. Por isso, a necessida- O campeão, de forma geral, é a
perturbação, interferindo em nossas de de um planejamento cuidadoso sinaleira de garagem, que responde
atividades, no sono, no comportamen- sobre o assunto. por 80% das denúncias. Cerca de 20%
to e, conseqüentemente, na saúde. das denúncias ficam com bares, ca-
Uma pessoa submetida diariamen- Quais as conseqüências físicas e men- sas de show, cultos religiosos e cami-
te a ruídos superiores a 85 decibéis tais para uma pessoa submetida à nhões de lixo, entre outros.
por oito horas apresentará, em dois poluição sonora constante?
anos, problemas auditivos. Outros sin- Dentre outros problemas, surdez Como resolver, por exemplo, os pro-
tomas: dores de cabeça, distúrbios permanente, parcial ou total; surdez blemas das sinaleiras de garagem?
gástricos, zumbido no ouvido, insô- temporária, que pode se tornar crô- A freqüência e a intensidade dos
nia, irritabilidade e tendência a com- nica; perturbações do sono; modifi- toques serão fortemente diminuídos.
portamento agressivo. As crianças fi- cação do humor; e perturbação do Os dirigentes da Abadi — Associação
cam dispersivas ou agitadas, e a relaxamento mental. Brasileira de Administradores de Imó-
dificuldade de aprendizado é maior. veis —, que congrega 80% dos condo-
No Rio de Janeiro, a Câmara Mu- Há relação entre poluição sonora e mínios, concordaram em implementar
nicipal aprovou, no dia 16 de junho, o violência? essas medidas, divulga-las em seus in-
Projeto de Lei do vereador Rodrigo Sim, pois a poluição sonora cau- formativos e nas reuniões com os sín-
Bethlem (PMDB), que extingue os si- sa estresse. O excesso de barulho é dicos. Esta consciência é importan-
nais sonoros das garagens. Eles serão uma das maiores causas de estresse, te, pois esta é a maior queixa dos
substituídos por placas e sinais lumino- provocando reações emocionais em moradores. Os tímpanos e os nervos
sos. Animado com a aprovação, em maio algumas pessoas, que acabam reagin- agradecem.
passado, da Lei Estadual de Defesa da do agressivamente.
Saúde Auditiva da População, que pode O artigo de Carlos Minc em O Globo
servir de exemplo para outros estados, O que diz, em resumo, a Lei de Defe- de 8/6 pode ser lido em www.ensp.
Minc falou do assunto à revista Radis. sa da Saúde Auditiva da População? fiocruz.br/publi/radis/23-web-02.html
RADIS 23 JUL/2004
[ 14 ]
O Brasil em números
E
sta edição especial da revista Radis apresenta
dados exclusivos da extensa Pesquisa Mundial de
Saúde 2003, uma iniciativa da Organização Mun-
dial de Saúde para 71 países, cuja execução no
Brasil foi entregue a pesquisadores do Departamento de
Informações em Saúde do Centro de Informação Científica
e Tecnológica da Fiocruz — que assinam os comentários
sobre os resultados.
A pesquisa teve início em fins de 2002, com a tradução e
a adaptação a nossas especificidades do questionário da OMS,
que foi então submetido, entre janeiro e setembro de 2003, a
5 mil brasileiros com idade acima de 18 anos, em 250 setores
censitários (locais visitados pelos entrevistadores) dentro de
188 municípios, em 25 estados (ficaram de fora Acre e Roraima).
A Radis espera que esse precioso levantamento sirva como
base para a implementação de políticas públicas que conside-
rem as necessidades e o perfil epidemiológico da população.
RADIS 23 JUL/2004
[ 15 ]
Campo Grande — MS
Estado Quantidade
Alagoas 3
Amapá 2
Amazonas 3
Bahia 17
Ceará 12
Distrito Federal 4
Espírito Santo 3
Goiás 6
Maranhão 8
Mato Grosso 5
Mato Grosso do Sul 2
Minas Gerais 23
Pará 2
Paraíba 7
Paraná 17
Pernambuco 12
Piauí 4
Rio de Janeiro 20
Rio Grande do Norte 7
Rio Grande do Sul 14
Rondônia 3
Santa Catarina 11
São Paulo 60
Sergipe 4
Tocantins 1
Blumenau — SC
Marituba — PA Macapá — AP
Recife — PE
Catuípe — RS
Feliz Natal — MT
Marituba — PA
dos indicadores promoveram reação eram disponíveis em 70% dos 191 paí- 2001). Quanto ao indicador de me-
negativa na comunidade científica ses-membros. Para construir as duas dida das desigualdades em saúde, o
internacional. Vários artigos científi- medidas de capacidade de resposta questionamento dirigiu-se, principal-
cos, elaborados por pesquisadores do sistema de saúde, os dados não mente, à abordagem conceitual utili-
de diferentes países, foram dedica- eram disponíveis em 84% dos países e zada, não sendo realizada compara-
dos a apontar falhas metodológicas para aferir a justiça na contribuição ção do estado de saúde entre grupos
e conceituais na avaliação empre- do financiamento, em 89% dos países sociais distintos, mas medindo-se va-
gada pela OMS (Almeida et al., 2001; (Almeida et al., 2001). riações individuais na população. Em
Jamison & Sandbu, 2001; Mulligan et Sérios problemas metodológicos conseqüência, o indicador proposto
al., 2000; Navarro, 2000; Walt & Mills, adicionais foram apontados na constru- era mais influenciado pelas desigual-
2001; Williams, 2000; Williams, 2001). ção dos indicadores. No que diz res- dades socioeconômicas do que pelas
Como um dos grandes problemas en- peito ao indicador da “qualidade de ações no âmbito do setor saúde
contrados na construção dos indi- resposta” (responsiveness) do sistema (Szwarcwald, 2002; Braveman et al.,
cadores propostos, enfatizou-se a de saúde, o questionamento maior 2001; Houweling et al., 2001).
ausência de dados empíricos con- referiu-se à composição da amostra Em resposta às críticas, em janei-
sistentes, necessários à construção de informantes, que não contemplou ro de 2001, o Conselho Executivo da
dos indicadores propostos. Para a princípios básicos de aleatoriedade OMS aprovou resolução com o reco-
construção do índice de desigualda- e representatividade populacional nhecimento da necessidade de estabe-
de no estado de saúde, os dados não (Blendon et al., 2001; Travassos, lecer um processo de consulta técnica
RADIS 23 JUL/2004
[ 18 ]
e a recomendação de formação de um membros a cada Coordenadoria Re- das por pesquisadores experientes na
Grupo Científico Consultor para avali- gional. No caso do Brasil, a respon- área de Saúde Pública, os Coordena-
ar a metodologia empregada no Rela- sabilidade coube à Organização Pan- dores Locais. Para cada micropesquisa,
tório de 2000. Foram feitas várias con- Americana de Saúde (OPS), que foi formada equipe por quatro
sultas regionais (América, Ásia, África promoveu a primeira reunião em entrevistadores, em média, e um
e Europa) para discutir a metodologia Cuernavaca, México, de 7 a 11 de supervisor. Cada micropesquisa abran-
utilizada no Relatório 2000, todas dis- outubro de 2002. Neste seminário, foi geu de 300 a 500 entrevistas domicili-
poníveis na internet (www.who.int/ ressaltada a importância de realiza- ares, distribuídas em 15 a 25 setores
health-system-performance). ção desta pesquisa no país, princi- censitários, em distintas áreas geo-
No ano de 2001, a OMS incorpo- palmente pelo fato de a OMS estar gráficas. O treinamento dos coorde-
rou parte das críticas recebidas pela transferindo aos países participantes nadores locais foi realizado na Fiocruz,
comunidade científica internacional um conjunto estruturado de méto- consistindo tanto da aplicação do
e das consultas regionais e propôs dos, compondo uma plataforma inici- questionário como da organização do
mudanças metodológicas relevantes. al para o desenvolvimento de inqué- trabalho de campo em cada área ge-
Neste contexto, a OMS desenvolveu ritos sistemáticos no campo da ográfica. O recrutamento e o treina-
a Pesquisa Mundial de Saúde, avaliação do desempenho dos siste- mento dos entrevistadores couberam
inquérito populacional para mas nacionais de saúde. a cada coordenador local, nas res-
suprir informações sobre o es- De janeiro a setembro de 2003, pectivas áreas geográficas sob sua
tado de saúde das populações, foi realizado inquérito populacional, coordenação.
assim como sobre o desempe- de âmbito nacional, em 5.000 domicí-
nho dos sistemas de saúde dos lios escolhidos por amostragem Questionário
países membros (Ustun et al., 2001). probabilística. A execução da pesqui- O questionário original da OMS foi
A experiência de realização da sa no Brasil significou a oportunida- traduzido para o português e adapta-
Pesquisa Mundial de Saúde em algu- de de desenvolver instrumental e su- do para aplicação no nosso meio pelos
mas nações em 2001, utilizando di- prir informações para avaliar o coordenadores da pesquisa e pelos
ferentes metodologias de aplicação, desempenho do sistema nacional de coordenadores locais. Alguns módulos
somada às críticas sobre os tama- saúde, além de possibilitar a compa- foram excluídos, enquanto outros fo-
nhos de amostra utilizados (não su- ração com o desempenho de outros ram acrescentados ao instrumento. O
ficientes para a estimação dos indi- países, permitindo ao governo brasi- pré-teste do instrumento foi realizado
cadores), bem como sobre a falta leiro permanecer no debate interna- em todas as áreas sob responsabilida-
de aleatoriedade e qualidade das in- cional sobre o tema. de dos coordenadores locais.
formações coletadas, fez com que a O questionário utilizado foi mo-
OMS reformulasse todo o processo de METODOLOGIA dular, abordando-se os seguintes as-
aplicação do inquérito nos países. O pectos: condições socioeconômicas;
questionário atual incorpora parte das Amostra descrição do estado de saúde; fato-
críticas e sugestões que foram feitas Visando à representatividade res de risco (fumo, álcool, atividade
pelas consultas regionais e Grupo Ci- nacional e diante do financiamento física, nutrição, fatores ambientais);
entífico Consultor, adicionando ques- fornecido pela OMS, o tamanho de alguns problemas de saúde (situações
tões relativas ao acesso, à cobertura amostra foi estabelecido em 5.000 crônicas —diagnóstico, tratamento e
e à utilização de serviços de saúde, indivíduos, com 18 anos e mais de ida- uso de medicamentos; situações agu-
considerados objetivos intermediári- de. A amostragem foi realizada em dois das — assistência); cobertura de pro-
os dentro do marco referencial de ava- estágios. No primeiro, foram selecio- gramas de saúde, como saúde bucal,
liação do desempenho dos sistemas de nados 250 setores censitários, com assistência pré-natal e saúde mater-
saúde. Além disso, existe um grande probabilidade proporcional ao tama- no-infantil; avaliação da resposta do
esforço no sentido de ultrapassar as nho. Situação (urbano ou rural) e sistema de saúde do ponto de vista
dificuldades de comparação de infor- porte do município (até 50.000; 50.000 do usuário; gastos relativos das famí-
mações coletadas entre diferentes até 400.000; 400.000 + habitantes) lias em saúde, incluindo planos de
níveis culturais de um mesmo país ou estratificaram explicitamente as uni- saúde privados.
entre distintos países. dades primárias de seleção. O nível
socioeconômico, estabelecido pela Análise dos dados
A PESQUISA MUNDIAL renda média dos chefes dos domicíli- Nesta primeira etapa, utilizando-
DE SAÚDE NO BRASIL os do setor, foi utilizado para se as ponderações necessárias em
Dando prosseguimento às discus- estratificação implícita. acordo com o desenho de amostragem,
sões sobre a proposta da OMS para Em cada setor, foram seleciona- foram analisados os seguintes módulos:
Avaliação do Desempenho dos Siste- dos 20 domicílios aleatoriamente. Em estado de saúde, fatores de risco,
mas de Saúde, em janeiro de 2002, cada domicílio, foi identificado um morbidade auto-referida, cobertura de
na 109ª Reunião do Conselho Execu- morador para responder às perguntas programas de saúde, e grau de satisfa-
tivo, a delegação brasileira firmou relativas às características do domicí- ção com os serviços de saúde do pon-
acordo com a OMS para a realização lio. Apenas um indivíduo do domicílio to de vista do usuário.
da Pesquisa Mundial de Saúde no Bra- (selecionado aleatoriamente) respon- As análises foram realizadas
sil, cabendo a responsabilidade da deu ao questionário individual. por faixa etária, sexo e condição
execução da pesquisa no Brasil à Fun- socioeconômica. Para examinar as
dação Oswaldo Cruz. Trabalho de campo desigualdades por nível socioeconô-
No sentido de assegurar a maior A Pesquisa Mundial da Saúde foi mico, três variáveis foram conside-
qualidade na execução das pesquisas, aplicada no Brasil, de janeiro a se- radas: grau de escolaridade; núme-
a OMS delegou a responsabilidade de tembro de 2003, subdividida em 10 ro de bens (medido pelo número de
aplicação do inquérito nos países- micro-pesquisas que foram coordena- bens no domicílio: televisão, geladei-
RADIS 23 JUL/2004
[ 19 ]
Sinop — MT
ra, aparelho de som, microondas, te- estar físico nos 30 dias anteriores à <18,5; normal 18,5 até 25; sobrepeso
lefone, telefone celular, máquina de pesquisa, bem como em questões 25 até 30; obeso 30+.
lavar roupa, máquina de lavar louça, específicas sobre grau de dificulda- ii) Fumo: Mensurado pela fre-
microcomputador e número de car- de em: se locomover (locomoção); qüência de fumo (não fuma; fuma, mas
ros, variando de 0 a 11 bens); e gasto se lavar e se vestir (autocuidado); não diariamente; fuma diariamente).
domiciliar mensal. adormecer e se sentir bem dispos- iii) Bebida alcoólica: Mensurado
Quanto ao gasto domiciliar men- to no dia seguinte (sono); se socia- pelo número de doses na última se-
sal, foram analisados os seguintes com- lizar na comunidade e lidar com si- mana (nunca bebeu; não bebeu na
ponentes do gasto: alimentação; casa; tuações de conflito (sociabilidade); semana; 1-4 doses; 5+ doses).
educação; saúde; outros. Especifica- aprender coisas novas, se concen- iv) Atividade física: mensurada
mente, em relação aos gastos em saú- trar e memorizar (concentração/ por três tipos de atividade (vigoro-
de, foram analisados os gastos com memorização); ver de perto e de lon- sa, moderada e caminhada) e pela
medicamentos; com planos de saúde ge (visão). Além disto, o estado de freqüência semanal e número de
privados; com consultas médicas; com ânimo foi mensurado pelo grau com minutos durante a realização da ati-
dentista; com internação; com exames; que o indivíduo se sentiu triste ou vidade física. Foram consideradas
com óculos, aparelhos para audição, deprimido e pelo grau em que sen- três categorias na análise: sedentá-
próteses etc; com terapias (fisiotera- tiu ansiedade ou preocupação. rios (não fazem nenhum tipo de ati-
pia, psicoterapia, fonoaudiologia); ou- Quanto aos fatores de risco, fo- vidade física); atividade física insu-
tro serviço ou produto de saúde. ram considerados: ficiente (menos do que 150 minutos
A análise do estado de saúde foi i) Obesidade: Mensurada pelo por semana); suficiente (150+ minu-
baseada em duas questões gerais — índice de massa corporal, índice de tos por semana).
auto-avaliação do estado de saúde e Quetelet, dado pela razão entre o Para a avaliação de situações
dificuldade no trabalho ou ativida- peso e a altura ao quadrado(kg/cm2). crônicas de saúde, foram feitas duas
des habituais, em duas questões so- Foram consideradas as seguintes ca- perguntas ao indivíduo: O sr(a) tem
bre o grau em que sentiu dor ou mal- tegorias para análise: abaixo do peso alguma doença de longa duração ou
RADIS 23 JUL/2004
[ 20 ]
incapacidade? Esta doença ou inca- período, todos os indivíduos que utili- zada de acordo com a forma de paga-
pacidade limita de alguma forma suas zaram serviços de saúde no ano anteri- mento: não pagou (SUS); pelo plano
atividades? A seguir, foram feitas per- or (atendimento ambulatorial). de saúde; direto, sem reembolso.
guntas sobre problemas específicos Primeiramente, analisou-se a sa- Na avaliação da assistência por
— artrite, angina, asma, diabetes, tisfação do usuário com as habilida- parte do usuário, considerou-se ain-
depressão e esquizofrenia — ques- des e os equipamentos do profissio- da se ele se sentiu alguma vez dis-
tionando-se se o indivíduo já tinha nal de saúde, bem como com a criminado (foi tratado pior) por al-
tido alguma vez diagnóstico e trata- disponibilidade de medicamentos no gum dos seguintes motivos: falta de
mento de cada um destes proble- atendimento. A seguir, utilizando-se dinheiro, classe social, sexo, idade,
mas. Em relação às situações agu- uma escala de 1 a 5, avaliou-se o grau raça/cor, nacionalidade ou tipo de
das, foi perguntado se o indivíduo de satisfação com os seguintes aspec- doença.
sofreu lesões corporais provocadas tos: tempo de deslocamento; tempo Para todos os entrevistados, inde-
por causas externas, isto é, por al- de espera; tratamento respeitoso; in- pendentemente de terem recebido
gum envolvimento com acidente (de timidade respeitada; clareza nas ex- assistência com internação nos 5 anos
trânsito, afogamento, queda, into- plicações dadas pelos profissionais de anteriores ou assistência ambulatorial
xicação) ou agressão (por saúde; tempo para fazer perguntas; no ano anterior, perguntou-se sobre o
arma de fogo, briga, faca), possibilidade de obter informações; grau de satisfação com o funcionamen-
nos 12 meses que precede- participação na tomada de decisões; to da assistência no país, utilizando-se
ram a entrevista. falar em privacidade com profissionais uma escala que variou de “muito satis-
Nesta primeira análise, de saúde; sigilo das informações pes- feito” a “muito insatisfeito”.
foram contempladas apenas as soais; liberdade de escolha do profis-
coberturas de dois programas de sional de saúde; limpeza das instala- RESULTADOS
saúde, o de saúde bucal e o exame ções; espaço disponível das salas de
ginecológico entre as mulheres de espera e de exames. No caso de assis- Estado de Saúde
18 a 69 anos de idade. tência com internação, consideraram- Entre os 5.000 entrevistados, 9%
No que se refere à avaliação do se, adicionalmente, “facilidade em ter avaliaram sua saúde como “ruim” ou
desempenho do sistema de saúde, fo- visitas de familiares e amigos” e “con- “muito ruim”, 53% como “boa” ou
ram analisadas a utilização dos serviços tato com mundo exterior”. muito “boa”, e 38% como “regular”. A
de saúde no ano que precedeu a pes- Para efeitos da análise estatísti- percepção de saúde foi pior entre
quisa e a avaliação do atendimento de ca, calculou-se um índice de avalia- as mulheres quando comparadas aos
acordo com as expectativas do usuá- ção do atendimento, atribuindo-se um homens: o percentual de auto-avali-
rio. Para análise desta última, foram ponto para cada resposta “muito boa” ação “boa” ou muito “boa” foi de 47%,
considerados todos os indivíduos que ou “boa” relativa à avaliação de cada para o sexo feminino, e de 60%, para
se internaram nos cinco anos anterio- um dos aspectos do atendimento, e o sexo masculino. Grande amplitude
res (atendimento com internação) ou utilizou-se escala variando de 1 a 100. de variação do percentual de auto-
no caso de ausência de internação no A avaliação do atendimento foi reali- avaliação “boa” ou muito “boa” foi
com menos de 6% dos indivíduos rela- bilidade, ao estado de ânimo e às difi- obesidade, de 17%, foi encontrado
tando problemas nestes dois aspec- culdades no sono. Os maiores diferen- entre as mulheres de 50 anos ou mais.
tos (Figura 1). ciais socioeconômicos se referiram aos Já o fumo é hábito mais freqüen-
O mesmo padrão encontrado problemas de visão e de concentra- te entre os homens, sobretudo entre
para a percepção geral de saúde foi ção/memorização (Figura 2). os de menor NSE, para os quais o
evidenciado na análise por proble- percentual de fumo diário chega a atin-
ma específico do estado de saúde: Fatores de risco gir 33% entre aqueles com mais de 35
as mulheres têm uma avaliação pior De acordo com o critério inter- anos de idade (Tabela 4). Entretanto,
do que os homens; os mais velhos nacional de obesidade (índice de mas- destaca-se que, para ambos os sexos,
têm maior grau de dificuldades que sa corporal maior ou igual a 30 kg por as proporções de fumantes são meno-
os mais jovens; os mais ricos refe- cm2), 10% dos brasileiros são obesos e res entre os mais jovens, o que pode
rem grau menor de problemas que 28,5% estão acima do peso (Tabela 3). ser um indício de diminuição do hábito
os mais pobres. Porém, é interes- Entre os indivíduos com mais de 35 de fumar na população brasileira.
sante notar que o gradiente social anos de idade, a obesidade é mais Tal como o fumo, o hábito de be-
foi bem menos acentuado para os prevalente no sexo feminino, desta- bida alcoólica é predominante entre
problemas relativos à socia- cando-se que o maior percentual de os homens. Enquanto 25% dos homens
RADIS 23 JUL/2004
[ 23 ]
relataram ter tomado 5 doses ou mais verso ao encontrado para o hábito de No que diz respeito à atividade fí-
de álcool na semana que antecedeu a fumar: quanto maior o número de bens, sica (no lazer ou relacionadas ao traba-
entrevista, o percentual é de apenas tanto maior é o percentual de uso de lho), seja em atividades vigorosas, mo-
6% entre as mulheres (Tabela 5). O con- álcool. Adicionalmente, não há sinais de deradas ou caminhada, 24% relataram
sumo de bebida alcoólica por condição redução do hábito de beber na gera- menos do que 150 minutos por sema-
social obedece, no entanto, padrão in- ção mais jovem. na, tempo considerado insuficiente de
acordo com os critérios da OMS. Já o Problemas de saúde também limitação de suas atividades
percentual de sedentários, que não re- Entre todos os participantes na provocada pela doença (Tabela 7).
alizam nenhum tipo de atividade física, é pesquisa, 29% responderam afirmati- Corroborando os resultados encon-
de 11% na população total, mas atinge o vamente à pergunta sobre presença trados para a percepção do estado
patamar de 20% entre os indivíduos mais de doença de longa duração ou in- de saúde, o percentual é maior para
idosos e de menor NSE (Tabela 6). capacidade, sendo que 20% relataram o sexo feminino do que para o mas-
18- 34 5, 8 6, 6 10, 1 6, 8
35- 49 2, 3 9, 2 9, 3 7, 4
Fem inino
50+ 0, 9 4, 6 3, 6 3, 4
To tal 3, 5 6, 8 8, 1 6, 0
18- 34 4, 9 7, 3 12, 7 7, 3
35- 49 7, 5 8, 6 9, 9 8, 5
Fem inino
50+ 18, 1 15, 5 14, 4 16, 1
18- 34 5, 6 8, 1 12, 2 7, 9
18- 34 5, 2 7, 8 12, 5 7, 6
35- 49 7, 9 8, 9 12, 9 9, 4
To ta l
50+ 19, 5 15, 3 11, 7 15, 9
culino, e aumenta com a idade. En- não têm doença, variando de 4%, en- aos demais, sendo que, dentre todos
tre as mulheres de 50 anos e mais de tre estes, a 29%, entre os que têm os aspectos considerados na pesqui-
idade, 52% relataram doença de lon- doença de longa duração ou incapa- sa, as maiores diferenças são encon-
ga duração ou incapacidade, 35% com cidade com limitação dela resultan- tradas para o estado de ânimo e para
limitação das atividades rotineiras. te. Os resultados são ainda mais pro- o grau de dores no corpo ou mal-es-
Os achados relativos à auto-ava- nunciados quando se analisa o grau tar físico (Figura 3).
liação de saúde validam as respostas de dificuldade em realizar atividades Em relação às questões sobre
dadas à ocorrência de doença de lon- cotidianas. Entre os indivíduos com problemas específicos de saúde,
ga duração ou incapacidade, já que doença e ocorrência de limitação, o 10,6% responderam que já tiveram
percentuais de auto-avaliação “ruim” percentual de grau “grave” e “muito diagnóstico de artrite, 6,7% de an-
ou “muito ruim” são bem menores grave” de problemas é sempre supe- gina, 12,1% de asma, 6,2% de diabe-
entre aqueles que respondem que rior neste grupo quando comparado tes, 19,3% de depressão e 1,7% de
Fe m i ni no 82, 5 11, 8 5, 8
Fe m i ni no 69, 1 21, 6 9, 3
esquizofrenia. Para quase todos os “ruim” ou “muito ruim” é de 27%. Para percentual é de 19%. As razões entre
problemas, as proporções de indiví- os que disseram ter tido diagnóstico as proporções de indivíduos que per-
duos que já tiveram o diagnóstico da de esquizofrenia, artrite e diabetes, os deram todos os dentes naturais na
doença e se trataram por este moti- percentuais foram pouco menores, de categoria de pior NSE (0 a 3 bens) e
vo são ligeiramente inferiores aos que 26%, 24% e 24%, respectivamente, mas as encontradas na categoria de me-
tiveram apenas o diagnóstico. Depres- bem mais elevados do que o percentual lhor NSE (8 e mais bens) são da or-
são, entretanto, é uma exceção: o encontrado entre os indivíduos que não dem de 3:1, qualquer que seja a faixa
percentual de 19%, relativo aos indi- tiveram diagnóstico de nenhum destes etária ou sexo. Igualmente, o
víduos que informaram diagnóstico problemas, de 5%. percentual de indivíduos que tive-
desta doença, decresce para 14%, No que se refere à saúde bucal, ram problema bucal no ano anterior
entre aqueles que relataram trata- estima-se que 14% dos brasileiros per- e não receberam assistência foi de
mento além do diagnóstico. deram todos os seus dentes naturais 15,4%, entre os de pior condição
Dentre os problemas crônicos de (Tabela 8). O gradiente social para socioeconômica, de 10,1% na cate-
saúde considerados na pesquisa, a pior este indicador é pronunciado: entre goria intermediária, e de 4,6%, en-
auto-avaliação da saúde foi encontra- as mulheres com mais de 50 anos de tre aqueles de melhor condição.
da entre os que relataram diag- pior condição socioeconômica, o Quanto aos problemas provoca-
nóstico de angina, para os quais percentual alcança 56%, enquanto dos por causas externas nos 12 meses
o percentual de auto-avaliação entre aquelas de melhor situação o anteriores à pesquisa, chama a aten-
18- 34 3, 2 2, 0 0, 7 2, 3
18- 34 3, 2 2, 4 - 2, 3
35- 49 6, 7 5, 6 1, 8 5, 2
M a s c ulino
50+ 33, 3 33, 4 11, 7 29, 5
18- 34 3, 2 2, 2 0, 4 2, 3
35- 49 11, 0 8, 5 3, 3 8, 2
To ta l
50+ 45, 6 40, 7 15, 6 37, 8
C o m po nentes do G a s to
To ta l
N úm er o A lim enta ç ã o Ca sa E duc a ç ã o Sa úde O utr o
de bens
G a s to G a s to G a s to G a s to G a s to G a s to
% % % % % %
(R $) (R $) (R $) (R $) (R $) (R $)
0-3 169, 54 57, 53 71, 16 24, 15 13, 31 4, 52 38, 87 13, 19 1, 79 0, 61 294, 68 100, 00
4-7 283, 86 41, 97 208, 91 30, 89 45, 93 6, 79 120, 53 17, 82 17, 04 2, 52 676, 27 100, 00
8+ 504, 53 25, 44 566, 54 28, 57 267, 12 13, 47 424, 32 21, 40 220, 69 11, 13 1983, 20 100, 00
To ta l 284, 27 37, 18 223, 39 29, 22 70, 16 9, 18 143, 10 18, 72 43, 64 5, 71 764, 56 100, 00
RADIS 23 JUL/2004
[ 27 ]
N úm er o de bens
To ta l
C o m po nentes do G a s to 0-3 4-7 8+
G a s to (R $) % G a s to (R $) % G a s to (R $) % G a s to (R $) %
M edic a m ento s 22, 88 58, 9 43, 42 36, 0 88, 83 20, 9 44, 27 30, 9
Inter na ç õ es 2, 29 5, 9 7, 98 6, 6 27, 17 6, 4 9, 22 6, 4
E xa m es 2, 27 5, 8 7, 06 5, 9 9, 32 2, 2 5, 99 4, 2
espera” foi o que teve maior grau de mento” e “tempo para fazer pergun- Comparando-se o percentual
insatisfação (21%), seguido, de perto, tas” foram avaliados como “ruim” ou de usuários que fizeram uma avalia-
por “liberdade de escolha do profissi- “muito ruim” por pouco mais de 10% ção “boa” ou “muito boa” por for-
onal de saúde” (20%) (Figura 6). Os as- dos usuários. Percentuais pequenos de ma de pagamento do atendimento,
pectos “participação na tomada de insatisfação, inferiores a 5%, foram invariavelmente para todos os as-
decisões sobre o tratamento”, “pos- obtidos para “clareza nas explica- pectos estudados, o percentual é
sibilidade de obter informações sobre ções”, “privacidade com os profissio- sempre menor para os usuários do
outros tipos de tratamento”, “espa- nais de saúde”, “respeito no tratamen- SUS (Tabela 11). Entre estes, menos
ço disponível das salas de espera e dos to”, “sigilo sobre as informações da metade fez uma avaliação positi-
exames”, “tempo gasto de desloca- pessoais” e “respeito à intimidade”. va do “tempo de espera” (45%) e da
TA B E L A 11: Per c entua l (% ) de indivíduo s c o m a va lia ç ã o "m uito bo a " o u "bo a " s eg undo
a s pec to s r ela tivo s à a s s is tênc ia a m bula to r ia l po r fo r m a de pa g a m ento do a tendim ento
Po s s ibilida de de o bter info r m a ç õ es s o br e o utr o s tra ta m ento s 85, 2 86, 3 60, 1 70, 5
os percentuais de satisfação entre os do SUS, menos de 50% fizeram de decisões sobre o tratamento”
os usuários do SUS são sempre in- uma avaliação boa da “liberdade de e da “facilidade de estar em con-
feriores aos obtidos entre os usuá- escolha dos profissionais de saúde” tato com mundo exterior”; e me-
rios que pagaram o atendimento (47%); menos do que 60%, da “pos- nos do que 70% do “tempo gasto
pelo plano de saúde, para qualquer sibilidade de obter informações com deslocamento”, do “tempo
dos aspectos contemplados na pes- sobre outros tipos de tratamento” para fazer perguntas”, do “tempo
quisa (Tabela 12). Entre os usuári- (58%), da “participação na tomada de espera até ser atendido”, e da
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