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Nº 23  Julho de 2004

Av. Brasil 4.036/515, Manguinhos


Rio de Janeiro, RJ  21040-361
www.ensp.fiocruz.br/publi/radis

Especial
A saúde em números
Pesquisa da
OMS-Fiocruz
apresenta
radiografia
inédita
do Brasil

 PSF FAZ 10 ANOS


 TRANSPLANTES
 MALÁRIA
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tudo:

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Imagens do Inconsciente em mostra inédita

Renoir Silva de Oliveira — Sem


título (guache e lápis de cera Sônia Catarina — Sem título (óleo sobre tela)
sobre papel)

Manoel Godinho (Godin)


Sem título (óleo sobre tela)

Roberto Garcia — Sem


título (óleo sobre tela)

Carla Muaze
Cláudia Cerqueira Celso Santiago — Sem título Sem título
Sem título (óleo sobre tela) (modelagem em barro) (óleo sobre tela)

tura e modelagem da Seção de Tera- externos, já se beneficiam das mudan-

O público poderá visitar até 2 de


outubro no Centro Cultural da
Saúde, no Rio, a mostra “O Museu Vivo
pêutica Ocupacional do Centro Psi-
quiátrico Pedro II, no bairro do Enge-
nho de Dentro, no Rio. A produção
ças geradas pela Reforma Psiquiátrica.
Participam da mostra Carla Muaze, Carlos
Alberto da Silva, Carlos Borges, Celso
de Engenho de Dentro”, que apresen- desses ateliês logo se mostrou abun- Santiago, Claudia Cerqueira, Davi Perei-
ta obras inéditas de artistas do Museu dante, de grande interesse científico ra da Silva, Edja Silva de Oliveira, Ênio
de Imagens do Inconsciente. Trata-se e utilidade nas pesquisas sobre o obs- Sérgio, Manoel Godinho, João Bosco
de uma parcela da produção atual dos curo mundo do esquizofrênico. Barbosa Rocha, José Alberto de Almeida,
ateliês terapêuticos, nos quais uma pe- Ricas em símbolos e imagens, as Renoir Silva de Oliveira, Roberto Garcia,
quena equipe de profissionais vem dan- criações se tornaram conhecidas em Roseli dos Santos e Sônia Catarina.
do continuidade à experiência inicia- todo o mundo, especialmente as de A entrada é franca. O Centro
da pela psiquiatra Nise da Silveira. artistas já consagrados do Museu de Cultural da Saúde, que funciona de
São 51 peças, entre modelagens, Imagens do Inconsciente, como terça a sábado, das 10h às 17h, fica na
esculturas e pinturas a óleo. O Mu- Fernando Diniz, Adelina Gomes, Carlos Praça Marechal Âncora, s/nº (Praça 15),
seu de Imagens do Inconsciente teve Pertruis, entre tantos outros. Centro, Rio de Janeiro. Informações
origem há 52 anos nos ateliês de pin- Os atuais expositores, pacientes pelo telefone (21) 2240-5568.
editorial
N º 23 — Julho d e 2 0 0 4

Brasileiros avaliam a saúde


Comunicação em Saúde
 Imagens do Inconsciente em mostra
Q ual a percepção dos brasileiros
sobre a própria saúde e a aten-
ção que recebem dos sistemas públi-
pla cobertura jornalística na próxima
Radis –, a sala reservada à apresenta-
ção dessa pesquisa por Célia Landman,
inédita 2

co e privado? A resposta está na pes- da Fiocruz, não comportou os mais Editorial


quisa com 5 mil brasileiros em 188 de 500 interessados. A solução foi  Brasileiros avaliam a saúde 3
municípios de 25 estados, realizada transferir a multidão para o maior
pela Organização Mundial da Saúde e auditório do Centro de Convenções Cartum 3
a Fiocruz, em 2003. de Recife e Olinda.
Os primeiros resultados da Pesqui- Agora, debates internacionais
Cartas 4
sa Mundial de Saúde no Brasil, anteci- sobre os procedimentos meto-
pados na Radis de junho, têm aqui uma dológicos utilizados e estudos com-
abordagem mais abrangente e aprofun- parativos com outros países são Súmula 5
dada com análises, tabelas e gráficos bem-vindos, assim como a utilização
inéditos, mantendo uma tradição do dos reveladores resultados para a ori- Toques da Redação 7
Programa Radis: a publicação de esta- entação de políticas públicas basea-
tísticas e estudos epidemiológicos na das nas necessidades e no perfil
Transplantes
antiga revista Dados. epidemiológico da população.
 Não falta órgão, falta é eficiência 8
A pesquisa mundial atravessou Ainda nesta edição: bioética,
mudanças em governos e instituições propaganda de medicamentos, abor-
multilaterais envolvidos, além de es- to, fitoterápicos, segurança alimen-
gotar verbas, o que pode prejudicar tar, Assembléia Mundial de Saúde, 10
sua não-finalização em alguns países. anos do Programa Saúde da Família,
No Brasil, sua conclusão em tempo malária, poluição sonora e violência.
exíguo envolveu trabalho voluntário Além da matéria sobre transplantes, 10 anos do PSF
de dezenas de coordenadores e em- o nosso apoio à campanha de doação  Saúde da família se firma como
préstimo de carros por secretarias de de medula óssea. Quem doa sangue estratégia permanente do SUS 10
saúde e coordenadorias da Funasa. e órgãos doa solidariedade. Doa vida.
Consolidou também a revisão crítica Mais uma coisa. Cartas como a
da metodologia usada pela OMS em da recepcionista e telefonista Mar-
relatórios anteriores (categorias garida dos Santos incentivam a equi-
díspares em indicadores e ranking pe do Programa Radis a produzir uma
únicos, em 2000; entrevistas por te- revista cada vez melhor. Doenças Infecciosas
lefone e correio, em 2001).  Malária ainda assusta no Brasil 12
No Congresso de Epidemiologia Rogério Lannes Rocha
da Abrasco, em junho – que terá am- Coordenador do Radis Entrevista: Carlos Minc
 Poluição sonora, uma guerra diária 1 3

c artum

Pesquisa Mundial de Saúde 2003


 O Brasil em números 14
 Avanço na avaliação dos sistemas
de saúde 33

Serviço 34

Pós-Tudo
 Desafio à saúde pública 19

Capa Aristides Dutra, sobre fotos das


equipes de entrevistadores da Pesquisa
Mundial de Saúde 2003
Ilustrações Aristides Dutra e Hélio Nogueira
Agradecimentos a Wagner Vasconcelos
RADIS 23  JUL/2004
[ 4 ]

C ARTAS

SUS, MARCA A VALORIZAR tanto, tenho certa dificuldade de acesso


às edições, e solicito informações sobre

S ou farmacêutico-bioquímico, sani-
tarista atuando desde 1971 no
Lacen/SC, e recebo a Radis já há alguns
como me tornar um assinante da Radis.
 Hélio Lage Costa, Ilhéus, BA

anos. Gostaria de parabenizar e agrade-  Para receber a revista, basta enviar


cer pela oportunidade que tenho em re- e-mail ou carta com nome e endere-
ceber este poderoso instrumento de co- ço, sem esquecer do CEP.
municação na área da saúde.
Ao mesmo tempo gostaria de pedir R EFERÊNCIA EM DISCUSSÕES
uma reportagem sobre o marketing da que me refiro (tenho uma cópia). Numa
marca SUS. consulta feita à biblioteca do MS nos
foi dito que lá há somente um exemplar
para consulta. Depois de muita dificul-
A Radis tem sido um importante ins-
trumento de divulgação e contro-
le social das ações desenvolvidas no se-
dade conseguimos instalar o totem do tor saúde. Nós, trabalhadores e usuá-
SUS à porta de nosso laboratório. rios do SUS, agradecemos a dedicação,
É impressionante como nossas ins-  Rudi Pereira Lopes, Florianópólis, SC o empenho e a transparência nos arti-
tituições de saúde reagem à presença gos e comentários. Vocês se tornaram
do logotipo do SUS na mídia em geral. S AÚDE BUCAL É VITAL referência nas discussões de grupos em
É uma verdadeira contra-informação. trabalhos de análise de práticas no SUS.
 Manoel Henrique de Miranda Pe-
Temos aqui um hospital chamado “dos
Servidores”, que ostenta em sua emer-
gência uma elegante logomarca da
T rabalho na saúde pública como cirur-
gião-dentista. Gostei muito do con-
teúdo da revista, pela qualidade. Gosta-
reira, Olinda, PE

Unimed (nada contra); porém, nada ria de ver matéria sobre a importância, a R ADIS SOCIALIZADA
revela ao público que ali existe uma luta e a interiorização da saúde bucal.
 A. J. L. Teixeira, Benedito Novo, SC
unidade hospitalar do SUS. A logomarca
é a porta de entrada de qualquer pro-
posta de serviço à comunidade. A CESSO ÀS EDIÇÕES
T enho 47 anos e sou servidora pública
federal há muitos anos, trabalhando
atualmente na Universidade Federal
O SUS é fruto do maior movimento de Pernambuco, no Núcleo de Saú-
social na área da saúde no Brasil nos
últimos 100 anos. Em 1991, o MS produ-
ziu um documento chamado “ABC do
E studo Medicina na Universidade
Estadual de Santa Cruz (BA). Co-
nheci a revista há um ano, e me interes-
de Pública e Desenvolvimento Social
(Nusp) do Hospital das Clínicas, onde
conheci a Radis. Quando consigo gos-
SUS — Comunicação visual: instruções sei muito pelas matérias relativas à saúde to de ler as matérias, que para mim
básicas”. Lá tem tudo sobre o assunto a coletiva e às políticas de saúde. No en- são esclarecedoras, como a repor-
tagem “Invisibilidade, a maior das do-
res”, de Katia Machado e Marinilda
Carvalho. Que adorei!
expediente Sou recepcionista e telefonista, e
Reportagem Jesuan Xavier não consigo acompanhar tudo. Não pos-
(subeditor), Katia Machado e so levar a revista para ler em casa, pois
Wagner Vasconcelos ela vai para a biblioteca. Fico triste, já
Arte Aristides Dutra (subeditor) e
Hélio Nogueira que, como muitos brasileiros, eu e mi-
Estudos e Projetos Justa Helena Franco nha família somos usuários do SUS, e
(gerência de projetos), Jorge gostamos de estar por dentro de tudo
Ricardo Pereira e Laïs Tavares o que acontece no campo da saúde.
Secretaria de Administração e Infra- Por isso, solicito a assinatura da
RADIS é uma publicação impressa e online Estrutura Onésimo Gouvêa,
da Fundação Oswaldo Cruz, editada pelo Márcia Pena, Cícero Carneiro, revista, para saber mais sobre o SUS e
Programa Radis (Reunião, Análise e Difusão Cleonice Vieira, Osvaldo José socializar as informações com minha
de Informação sobre Saúde), da Escola Na- Filho (informática) e Ita Goes
cional de Saúde Pública (Ensp). família (marido e cinco filhos, entre
(estágio supervisionado)
Endereço eles um doente com problemas neu-
Periodicidade Mensal
Tiragem 42 mil exemplares Av. Brasil, 4.036, sala 515 — Manguinhos rológicos) e amigas do bairro.
Assinatura Grátis Rio de Janeiro / RJ — CEP 21040-361  Margarida dos Santos, Recife
Presidente da Fiocruz Paulo Buss Tel. (21) 3882-9118
Diretor da Ensp Jorge Bermudez Fax (21) 3882-9119
E-Mail radis@ensp.fiocruz.br
PROGRAMA RADIS NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA
Site www.ensp.fiocruz.br/publi/radis
Coordenação Rogério Lannes Rocha Impressão A Radis solicita que a correspondên-
Edição Marinilda Carvalho Ediouro Gráfica e Editora SA cia dos leitores para publicação (car-
ta, e-mail ou fax) contenha identifi-
USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radis sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aos cação completa do remetente: nome,
pode ser livremente utilizado e reproduzido em qual- veículos que reproduzirem ou citarem conteúdo de endereço e telefone. Por questões de
quer meio de comunicação impresso, radiofônico, nossas publicações que enviem para o Radis um exem-
televisivo e eletrônico, desde que acompanhado dos plar da publicação em que a menção ocorre, as refe- espaço, o texto pode ser resumido.
créditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon- rências da reprodução ou a URL da Web.
RADIS 23  JUL/2004
[ 5 ]

SÚMULA

discussão mais aprofundada seja rea-


C OMISSÃO N ACIONAL DE B IOÉTICA lizada, e lembrou a necessidade de R ISCOS N A PROPAGANDA DE REMÉDIOS
EM ESTUDOS uma formação humanista mais ampla
nos cursos das áreas médicas, que

O Ministério da Saúde instalou no


dia 25/5 grupo de trabalho para
a criação da Comissão Nacional de
preparem os estudantes para as ques-
tões éticas que surgem no processo
de pesquisa e no exercício da medici-
Bioética, e terá 180 dias para avaliar na, destacou o Jornal da Ciência, da
comissões de outros países e propor SBPC (www.jornaldaciencia.org.br/
um modelo de atuação para o Brasil. index2.jsp).
Essas comissões congregam equipes Fátima Oliveira, diretora da So-
multidisciplinares que examinam ques- ciedade Brasileira de Bioética, pediu
tões éticas e morais no vasto campo que o projeto seja flexível o sufici-
das ciências da vida, formulando pa- ente para “abarcar as transformações
receres para subsidiar ações de go- dos limites morais da sociedade”. Na
verno ou fundamentar decisões do opinião de Fátima, a lei deve ordenar
Judiciário em dilemas éticos. o essencial. “O projeto não pode ser
Os participantes são: Ennio um exercício de futurologia sem ba-
Candotti, presidente da Sociedade ses materiais. Deve ser enxuto, para
Brasileira para o Progresso da Ciên- evitar engessamentos no futuro”,
cia, Eduardo Moacyr Krieger, presi- ponderou.
dente da Academia Brasileira de Ci- Para William Saad, presidente da
ência, Volnei Garrafa, presidente da Comissão Nacional de Ética em Pesqui-
Sociedade Brasileira de Bioética sa, nem haveria necessidade de um
(SBB), Moisés Goldbaum, presidente projeto de lei, pois a própria comis-
da Associação Brasileira de Pós-Gra-
duação em Saúde Coletiva (Abrasco),
Gabriel Oselka e Fermin Roland
são já postulou normas sobre pesqui-
sas com seres humanos e bioética. Mas
o relator, deputado Rafael Guerra
A tese de doutorado da pesquisa-
dora Rita de Cássia Patula Alves
Vieira, do Instituto de Medicina So-
Schramm, da Sociedade Brasileira de (PSDB-MG), argumentou que muitas cial da Uerj, mostra que a maioria dos
Bioética (SBB), Raquel Elias Dodge, pesquisas, principalmente com seres médicos confia nas informações con-
do Ministério Público Federal, Ana humanos, nem passam pelos comitês tidas na publicidade dos remédios, po-
Lúcia Delgado Assad, do Ministério regionais de ética, muito menos pela dendo desconhecer as característi-
da Ciência e Tecnologia, Marcilândia comissão nacional. Para o deputado, cas da fórmula. Rita investigou como
de Fátima Araújo, do Ministério da o projeto transformaria as pesquisas anda a publicidade dos medicamen-
Justiça, Rubens Onofre Nodari, do sem registro em atividades ilegais. tos dirigida a médicos, e percebeu
Ministério do Meio Ambiente, e Guerra defende a regulamenta- que o problema vai além da infração
Reinaldo Guimarães, coordenador do ção e acha que um projeto como esse à legislação vigente.
grupo e diretor do Departamento de não deve apenas ser aprovado pela Professora de Toxicologia da Fa-
Ciência e Tecnologia do Ministério maioria, mas por consenso de todos culdade de Farmácia da UFJF, Rita
da Saúde. os envolvidos. O projeto deverá ser analisou 100 peças de propaganda
apreciado pelas comissões de Ciên- coletadas, entre outubro de 2002 e
cia e Tecnologia e de Constituição e junho de 2003, em consultórios de
C IENTISTAS PEDEM PROJETO Justiça. Só depois vai a plenário. nove especialidades médicas na ci-
“ ENXUTO ” SOBRE PESQUISAS Pelo projeto, serão consideradas dade de Juiz de Fora (MG). Os tex-
crime as seguintes condutas: tos foram confrontados com a Re-
 Expor a vida ou a saúde do sujeito
A Comissão de Seguridade Social e
Família promoveu no dia 3 de ju-
nho audiência pública para deba-
da pesquisa a perigo direto ou iminen-
te diverso dos riscos previsíveis da pes-
solução 102 da Anvisa, para observar
se cumpriam a legislação. “Teorica-
mente, todo fármaco que chega ao
ter o Projeto de Lei 2.473/03, do quisa. A pena será detenção de seis mercado deveria estar registrado no
deputado Colbert Martins (PPS- meses a três anos, se o fato não se Ministério da Saúde, além de ter pro-
BA), que estabelece limites para constituir em crime mais grave. vadas as características que infor-
as pesquisas e cria um comitê de  Realizar pesquisa sem o consenti- ma”, disse em 21 de maio a pesqui-
ética para julgar os procedimen- mento livre e esclarecido do sujeito sadora à Agência Uerj de Notícias
tos dos pesquisadores, informou o da pesquisa ou de seu representan- Científicas. Mas 11,5% dos remédios
boletim de 4/6 da Agência Câmara te legal. A pena será de quatro a seis propagandeados não tinham regis-
(www.camara.gov.br/internet/agen- anos de reclusão. tro na Anvisa.
cia/default.asp).  Deixar de comunicar às autorida- Além disso, as referências bi-
O presidente da SBPC, Ennio des sanitárias os resultados da pes- bliográficas, a grande maioria em in-
Candotti, sugeriu que o projeto seja, quisa, sempre que contribuam para a glês, eram mal-indicadas, mal
inicialmente, reduzido a poucos arti- melhoria das condições de saúde da traduzidas ou nem existiam. Num dos
gos que garantam os direitos e a dig- coletividade. A pena será reclusão de casos mais abusivos a referência di-
nidade dos pacientes, enquanto uma um a quatro anos, além de multa. zia “Dados do laboratório”, contou
RADIS 23  JUL/2004
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Rita. “Será que o médico brasileiro, doenças não-transmissíveis, que vêm York e Nebraska determinaram mu-
que trabalha em três ou quatro lo- ganhando espaço crescente nos ín- danças na lei, mas o texto permane-
cais diferentes, tem tempo de pro- dices de morbidade e nos custos so- ceu o mesmo.
curar referências na internet? Será ciais e econômicos do sistema de saú-
que socialmente temos condições de de. “Diabetes, hipertensão arterial e
exigir que ele tenha conhecimento de câncer têm pesado cada vez mais nos R EFORMULAÇÃO DO C ONSEA
inglês suficiente para ler um artigo ci- gastos dos governos, pois demandam
entífico?”, questionou. Rita citou pes- internações prolongadas e novos
quisa veiculada na TV aberta segundo medicamentos, de preços altos”, afir-
a qual 47% dos médicos confessaram mou Humberto Costa.
atualizar-se em farmacologia apenas O governo brasileiro contribuiu
pelos boletins da indústria. “Por isso, com algumas recomendações ao tex-
não se pode admitir que as informa- to do documento final da Assembléia.
ções não sejam exatas”, disse. Para ela, Entre elas, a de que sejam respeita-
é preciso conscientizar os futuros pro- dos os limites apropriados de ingestão
fissionais sobre o risco da informação de gorduras totais, reduzindo o con-
contida na publicidade: se a classe sumo de gorduras saturadas e aumen-
médica não imagina que possa rece- tando o de insaturadas; de que sejam
ber dados inverídicos da indústria, a seguidos os limites indicados para con-
indústria, muitas vezes, confunde es- sumo de calorias com baixos teores
peculação com fato.
Rita propõe como alternativa a
criação de um boletim informativo
de açúcares; e de que se diminua o
consumo de sal e se assegure o acrés-
cimo de iodo ao sal de cozinha.
O novo presidente do Conselho Na-
cional de Segurança Alimentar e
Nutricional (Consea), Francisco Me-
independente, sob responsabilidade do nezes, anunciou que deverão ser
Ministério da Saúde, e a reformulação cumpridas em curto prazo algumas
do modelo regulatório atual. “Alguns V ITÓRIA PRÓ - ABORTO NOS EUA das 160 ações estratégias definidas na
itens estão hoje obscurecidos por uma 2ª Conferência de Segurança Alimen-
linguagem legal que dá margem a diver-
sas interpretações quanto ao teor da
publicidade.”
N o dia 25 de maio, uma juíza fe-
deral de São Francisco, na
Califórnia (Estados Unidos), declarou
tar e Nutricional, realizada em março
deste ano em Olinda (PE). Entre elas,
a definição de um novo plano de sa-
inconstitucional a lei que proíbe o fra da agricultura familiar e dos as-
chamado aborto tardio, vetada duas sentamentos da reforma agrária, e a
P ARTICIPAÇÃO DO B RASIL N A vezes pelo ex-presidente Bill Clinton criação de condições para que o
57ª A SSEMBLÉIA M UNDIAL DE S AÚDE e sancionada pelo presidente George mercado atenda às 6 milhões de fa-
W. Bush em novembro de 2003. Se- mílias beneficiadas pelo programa

A 57ª Assembléia Mundial de Saúde


da OMS, entre os dias 17 e 22 de
maio, em Genebra (Suíça), traduziu a
gundo a juíza Phyllis J. Hamilton, a
lei limita o direito de escolha da
mulher, e não poderá ser aplicada
Bolsa Família, do governo federal.
Reativado em 2003 pelo gover-
no Lula, o Consea deu início a sua
preocupação dos 192 países-membros contra a Federação de Paternidade fase de reformulação a partir das di-
sobre o tema regime alimentar e Planejada dos Estados Unidos (PPFA, retrizes da conferência. Em médio
ações contra a obesidade. O minis- sigla em inglês), um grupo de plane- prazo, o Consea quer ampliar o sis-
tro da Saúde, Humberto Costa, com- jamento familiar. Em suas clínicas é tema de Vigilância Alimentar e
pareceu, e reafirmou a necessidade realizada mais da metade dos abor- Nutricional para que possa avaliar
de medidas preventivas e de redução tos do país. “Uma decisão médica sistematicamente a situação de se-
da obesidade. deve ser tomada por um médico, e gurança alimentar e nutricional da
O ministro anunciou que preten- não por um político”, disse a população brasileira, em todas as
de adotar uma política integral de presidenta da PPFA, Mary-Jane Wagle, unidades de saúde do país. Segun-
atenção ao obeso e de prevenção à após a vitória no tribunal. do ele, hoje esse sistema abrange
obesidade, incluindo atividades físi- A lei proíbe o aborto após 12 se- apenas as crianças de 0 a 5 anos, as
cas e orientação alimentar. Sobre manas de gravidez porque, segundo grávidas e as nutrizes. Paralelamen-
diabete e hipertensão, duas outras o Departamento de Justiça dos EUA, te à ampliação e à reformulação do
preocupações postas nas mesas de representa “uma forma terrível de vi- sistema, o Consea tem como priori-
debate da Assembléia, o governo bra- olência contra crianças prestes a nas- dade a criação de um sistema de
sileiro anunciou que pretende assu- cer”. Para os grupos pró-aborto, a acompanhamento sistemático dos
mir, ainda este ano, a aquisição e a saúde da mãe é mais importante, e o programas de Segurança Alimentar e
distribuição gratuita de remédios para governo estaria transferindo o foco Nutricional hoje executados.
100% dos diabéticos e hipertensos do debate dos direitos de escolha da Isso significa, segundo Francis-
registrados no SUS. Hoje, os gastos mulher para os direitos do feto. Para co Menezes — diretor do Instituto
são divididos entre União, estados e os advogados pró-aborto, esta lei, Brasileiro de Análises Sociais e Eco-
municípios. Além disso, segundo o que pode render até dois anos de nômicas, o Ibase, fundado pelo soci-
ministro, o governo vai subsidiar es- prisão, seria o primeiro passo do go- ólogo Betinho — trabalhar por uma
tes remédios para que sejam vendi- verno Bush para proibir completamen- Lei Ordinária da Segurança Alimen-
dos a preços mais baixos nas farmáci- te qualquer tipo de aborto. tar e Nutricional. O Consea ainda
as comerciais aos pacientes que não A decisão da juíza pode abrir defende a regularização das terras
usam o SUS. precedente para que outros tribu- indígenas e quilombolas, para que
Essas iniciativas, segundo o mi- nais federais declarem a proibição essas populações tenham condições
nistro, visam reforçar o combate às inconstitucional. Juízes de Nova próprias de sobrevivência. Para ele,
RADIS 23JUL/2004
RADIS23 JUL/2004
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é preciso também criar medidas po-


líticas de apoio a essas comunidades.
“Não basta combater a fome, é
preciso garantir e assegurar o com-
bate à fome e que a alimentação da-
queles que se alimentam precariamen-
te seja bastante melhorada”, disse
Francisco ao informativo do Ibase.
mentos e nos hábitos alimentares. Os
anúncios desses produtos e de be-
FISCALIZAÇÃO PARA OS FITOTERÁPICOS bidas não devem explorar a falta de
experiência e a credulidade das cri-
anças.” A intenção da OMS era rela-
BRASIL NA OMS — Após um ano de cionar a publicidade à crescente
ausência, o Brasil volta ao Conselho obesidade infantil, mas a grita da in-
Executivo da OMS, composto por 32 dústria a fez recuar. Vale acompanhar
países. Para o triênio 2004-2007 assu- como nosso Congresso se comporta.
miram, além do Brasil, Bolívia e
Jamaica, em lugar de Cuba, Granada CHUTE, CHUTE, CHUTE — Sabem aque-
e Colômbia. Para a vaga já ocupada la assustadora manchete da Folha de
por João Yunes e Sergio Arouca, o S. Paulo do dia 11/6, “Brasil tem meio
ministro da Saúde indicou o sanita- milhão de crianças escravizadas”? Chu-
rista Jorge Bermudez, diretor da Es- te, revelou o colunista André Petry,
cola Nacional de Saúde Pública Ser- na Veja de 16/6. A notícia, baseada
gio Arouca, da Fiocruz. em relatório da Organização Interna-
cional do Trabalho (OIT), dizia que o
BEM LEMBRADO — Ponto para o ca- Brasil tem 559 mil crianças trabalhan-
nal de notícias Globo News, que des- do como empregadas domésticas.
tacou, ao fim da matéria sobre o lan- Petry consultou a versão em inglês
çamento da Farmácia Popular em do relatório, de 121 páginas, e cons-
quatro estados: “A Farmácia Popu- tatou que não há uma palavra sobre
lar não vai substituir os postos de sua metodologia, informa-se apenas
saúde do SUS, nos quais os remédi- que o número foi retirado de um es-

A Comissão de Legislação Partici-


pativa (CLP) da Câmara dos Depu-
tados aprovou sugestão para o re-
os são distribuídos gratuitamente.”
E nem pode, decidiram os delega-
dos à 1ª Conferência Nacional de
tudo anterior do Unicef, onde se lê
que “22% das crianças que trabalham
no Brasil estão no serviço domésti-
gistro prévio na Anvisa de produtos Medicamentos e Assistência Farma- co”. E de onde o Unicef tirou isso?
feitos com plantas. A proposta regula- cêutica, em 2003. De um estudo anterior da OIT... “Ba-
menta a fiscalização dos fitoterápicos, cana, não?”, ironizou Petry.
lista irregularidades e infrações a que PUBLICIDADE INFANTIL — Os legisla-
estão expostos fabricantes e comer- dores finalmente se debruçam sobre NOVA DATA — A 1ª Conferência Naci-
ciantes e normatiza o controle de a publicidade para crianças, que no onal de Ciência, Tecnologia e Inova-
qualidade. A sugestão, originária da Brasil pratica barbaridades. A Comis- ção em Saúde foi adiada para 25-28
Associação Brasileira da Indústria são de Defesa do Consumidor da Câ- de julho. Também mudou de data a
Fitoterápica, foi transformada em pro- mara dos Deputados vem discutindo 3ª Conferência Nacional de Saúde Bu-
jeto de lei (3.381/04) e será encami- com especialistas a possível proibição cal: 29-7/1º-8. As duas em Brasília, na
nhada às comissões pertinentes. da propaganda de produtos infantis, Academia de Tênis.
A CLP, um órgão permanente, já banida, por exemplo, na Suécia e
tem por finalidade receber sugestões no Canadá (Quebec). A iniciativa é da SUS VERDE — A convite do Ministério
da sociedade civil organizada. “Con- deputada Maria do Carmo Lara (PT- da Saúde, a oficina “Amazônia Legal,
sidero que a Comissão de Legislação MG), relatora do Projeto de Lei 5.921/ construindo uma base macrorregional
Participativa é, hoje, um dos mais im- 01, que trata disso. Seu autor, Luiz para um investimento integrado e
portantes instrumentos de participa- Carlos Hauly (PSDB-PR), considera a sustentado”, debateu em junho, em
ção popular no processo legislativo publicidade infantil “poderosa, per- Brasília, entre outros problemas a
brasileiro”, disse à Radis o presiden- missiva e perigosa”, e lembra que pa- dificuldade para atrair e firmar pro-
te da CLP, deputado André de Paula íses desenvolvidos controlam rigoro- fissionais na região. “A Amazônia ca-
(PFL-PE). Segundo ele, a experiência samente a propaganda dirigida à rece de recursos humanos”, recla-
é nova, mas está consolidada na Câ- criança. A França é um exemplo. Por- mou Milton Moreira, secretário de
mara. “O mecanismo é irreversível e tugal, Irlanda e Itália vêm debatendo Saúde de Rondônia. Alex Fiúza, rei-
está à disposição de toda a socieda- restrições rígidas. tor da Universidade Federal do Pará,
de civil organizada”. A OMS lançou em 2002 sua Estra- concorda em que o desenvolvimen-
tégia Global sobre Regime Alimentar, to depensa de profissionais, mas
Atividade Física e Saúde, endossada acha que não é preciso importá-los:
SÚMULA é produzida a partir do acom- em maio pela Assembléia Mundial de “Assim como os naturais, os recur-
panhamento crítico do que é divulgado Saúde. Um trecho do documento fi- sos humanos estão na região, só que
na mídia impressa e eletrônica. nal diz: “A publicidade de produtos nunca houve investimento em sua
alimentícios influi na escolha dos ali- formação.”
RADIS 23  JUL/2004
[ 8 ]

transplantes

Não falta órgão,


falta é eficiência
Estão na fila à espera de um trans- realização de transplantes. “Espe-
Jesuan Xavier
plante 58 mil pessoas. Dessas, a maio- ramos capacitar, até o fim do ano,
ria (cerca de 30 mil) aguarda por um mais 600 profissionais”, frisa o diri-

A
o contrário do que tanto se rim; outras 22 mil esperam a doação gente da ABTO.
alardeia, não faltam órgãos de córneas — 5 mil, de fígado, 351,
e doadores para transplan- rim/pâncreas, 235, coração, 178, pân- NÚMEROS POSITIVOS
tes no Brasil. É a opinião do creas e 94, pulmão. “Às vezes, a difi- O Brasil é hoje o segundo país no
deputado Neucimar Fraga (PL-ES), culdade é a ausência de um profissi- mundo em número absoluto de trans-
presidente da CPI do Tráfico de Ór- onal capacitado para a realização do plantes de órgãos e tecidos — só per-
gãos, que foi instalada na Câmara dos transplante”, concorda o ministro da de para os Estados Unidos. No ano
Deputados em abril e iniciou os tra- Saúde, Humberto Costa. passado, foram realizados 8.544 pro-
balhos um mês depois. “O problema Em depoimento à CPI, o coor- cedimentos desse tipo no país. O sis-
é mesmo de eficiência do sistema”, denador do Sistema Nacional de tema brasileiro de transplantes apre-
já constatou ele. A CPI investiga o Transplantes, Roberto Schlindwein, senta crescimento constante desde
tráfico de órgãos humanos no país e confirmou a falta de estrutura para 2001. “Só o de fígado, por exemplo,
tem dado oportunidade para uma dis- captação. Segundo ele, apenas 25% cresce em média 30% anualmente”,
cussão mais ampla sobre o assunto: dos possíveis doadores no ano pas- diz o presidente da ABTO.
a reestruturação de todo o sistema sado efetivamente conseguiram doar Passada a polêmica do fim de
de transplantes. seus órgãos. Para o relator da CPI, 2003 (ver box), que culminou com o
O presidente da Associação Bra- deputado Pedro Ribeiro (PMDB-CE), pedido de demissão de Daniel Tabak,
sileira de Transplantes de Órgãos os doadores em potencial, muitas ve- presidente do Centro de Transplan-
(ABTO), Walter Antônio Pereira, em zes, não são identificados a tempo. tes de Medula Óssea (Cemo), no Rio,
entrevista à Radis, acrescenta que Walter Pereira diz que já existe o governo retomou com força total
contribui para as dificuldades a fraca um projeto, em conjunto com o Mi- a política nacional para ampliar as do-
presença de centros especializados nistério da Saúde, para a formação ações: apenas no primeiro bimestre
em transplantes, principalmente nas de pessoal nas áreas desprovidas. de 2004 foram feitas 1.835 cirurgias
regiões Norte e Nordeste. “A distri- “Boa vontade existe, mas tudo de- na rede pública — 44,03% a mais do
buição de profissionais e centros ca- pende da liberação de verba”. Atu- que o registrado em igual período
pacitados para os procedimentos é almente, a rede pública de saúde do ano passado. “Sabemos que ain-
muito desigual, está tudo concentra- conta com 1.094 equipes médicas e da há problemas, mas a situação
do no Sul e Sudeste”, comenta. 477 unidades credenciadas para a hoje é muito promissora”, avalia
Antônio Pereira.

META É ZERAR
O RADIS ADVERTE FILA DE CÓRNEAS
Ser doador de medula De acordo com previsão do go-
óssea faz bem à saúde verno, serão investidos ainda em
do espírito, por estimu- 2004 cerca de R$ 400 milhões para a
lar o sentimento de so- realização de transplantes de órgãos
lidariedade, e também e tecidos — valor 16,61% acima do
ao Registro Nacional de gasto no ano passado (R$ 343 mi-
Doadores. Com 65 mil lhões). A meta do governo é zerar,
cadastros, dos quais 96% até 2007, a fila por uma córnea. Se-
provêm do Sul/Sudeste do Brasil, o Registro sente falta de doadores gundo informações do Ministério da
das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Fiocruz, Marinha Brasi- Saúde, a captação desse órgão é
leira e Câmara dos Deputados aderiram à campanha de doações lançada mais fácil, pois existe a possibilida-
no Rio de Janeiro pelo Instituto Nacional do Câncer e o Hemorio em de de aproveitá-lo até seis horas
18 de junho. A meta é conseguir 500 mil doadores. após a morte do paciente — tempo
longo demais para o transplante de
outros órgãos.
RADIS 23  JUL/2004
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Em relação à demanda por rim, blicitária. Com a participação de per- denúncias”, diz Walter Pereira.
coração, pulmão, pâncreas e fíga- sonalidades públicas, como o ator Ele afirma, no entanto, que no
do, o projeto é reduzir a fila em até Norton Nascimento e o jogador de Brasil não existe comprovação de trá-
12%. “Até 2006, minha expectativa futebol Narciso, o trabalho na mídia fico de órgãos. “Tivemos problema no
é que possamos ter no Brasil intei- tem gerado bons resultados. Segun- Nordeste, mas restrito a um peque-
ro uma estrutura de captação, do- do dados do governo, a média de li- no grupo”, diz. “De qualquer forma,
ação e realização de transplantes”, gações por mês para o Disque-Saúde, aconteceu ali um aliciamento para
diz o ministro. referentes a transplantes, saltou de comercialização no exterior, não era
Segundo o diretor do Departa- 80 para 3 mil. O presidente da ABTO para venda aqui”. A quadrilha que foi
mento de Atenção Especializada do ressalta ainda a participação positi- desmantelada em Pernambuco reunia
Ministério da Saúde, Arthur Chioro, va, nessas campanhas, de organiza- 11 pessoas, sendo dois israelenses.
a diminuição das filas também de- ções não-governamentais, como a Ali- Todas acabaram presas. “O importan-
pende muito da conscientização da ança Brasileira pela Doação de Órgãos te é coibir com rigor esse tipo de
população. “Este desempenho (o re- e Tecidos (Adote). prática, e nesse episódio o governo
corde registrado no bimestre) tem agiu rápido”.
sido possível graças à sociedade, so- ABTO NEGA TRÁFICO Walter Pereira lembra que a le-
bretudo à atuação dos profissionais Além do desrespeito à fila, a CPI gislação brasileira que trata do assun-
da rede hospitalar, que vêm reali- investiga acusações contra médicos to é bem rígida. “Talvez, no mundo,
zando trabalho de convencimento que estariam acelerando a morte de seja a mais abrangente”. Em muitos
de famílias e pacientes com morte pacientes (para a retirada de órgãos) casos, conta, chega até a ser criticada.
cerebral ou mesmo corporal, em e o tráfico internacional — que che- “Pela falta de flexibilização, o que às
favor da doação”. ga a vender rins por até US$ 40 mil. vezes dificulta todo o processo de
Para aumentar ainda mais o nível “Acho que toda a investigação, des- transplantes”. No Brasil, mesmo que
dessa conscientização, o Ministério de que bem conduzida, é boa. Dá o cidadão se declare doador, seus ór-
da Saúde promoveu, desde o fim do transparência. Não vejo problema al- gãos e tecidos só podem ser trans-
ano passado, intensa campanha pu- gum em se ter uma CPI para apurar plantados se a família permitir.

Escândalo em cadeia nacional


cientes na fila dos transplantes. trolava a relação de pessoas que
Pouco tempo depois, ele anun- aguardavam uma busca internacio-
ciava publicamente seu desliga- nal. Não tinha orçamento, não ti-
mento do cargo. nha planejamento, a fila era de 600
Em entrevista ao Pasquim, e ele dizia que era de 2 mil e tan-
em fevereiro, o ministro tos, era uma caixa-preta. Quando
Humberto Costa não tivemos acesso à lista, vimos que uns
poupou críti- 500 tinham morrido, outro tanto era
cas a Daniel de estrangeiros que pediam infor-
Tabak e sua mações aqui.
conduta à Ao se afastar do Cemo, Tabak
frente do fez duas denúncias de favoreci-
Cemo. mento por pressão política. Uma
— É um delas, para o atendimento de uma
cara altamente paciente de Araraquara, a pedido
capacitado, de- do vice-presidente da República,
sempenhou um pa- José Alencar. O outro caso, de um
pel importante na menino do Recife, atingia o próprio
ampliação do trans- ministro Humberto Costa. Segundo
plante de medula óssea a denúncia, o avô do garoto teria
no Brasil, mas tinha um pedido que o Ministério da Saúde
controle absoluto de todo agilizasse uma autorização para a
o sistema. Era três coisas operação. “Os trâmites não foram
ao mesmo tempo: prestador respeitados”, declarou Tabak.

N uma reunião interna em fins


do ano passado no Instinto
Nacional do Câncer (Inca), no Rio,
do sistema público, com o
hospital que fazia o transplante;
quem definia a política nacional de
O escândalo, que ainda vem
sendo investigado pela CPI do Tráfi-
co de Órgãos, resultou na demis-
o oncologista Daniel Tabak, então transplantes, dizendo quantos hos- são de Diogo Mendes, então coor-
presidente do Cemo, reclamou que pitais faziam o transplante de me- denador do Sistema Nacional de
vinha sofrendo pressão externa dula e quantos e quais laboratórios Transplantes, e de Iracema Salatiel,
para favorecer determinados pa- faziam o exame; e era quem con- do Inca.
RADIS 23  JUL/2004
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10 anos do psf

Saúde da família se firma como


estratégia permanente do SUS

Saúde da Família, ao contrário, cres- pes, especialmente nos municípios de


Katia Machado
ce a cada ano e agrega cada vez mais grande porte, alcançando assim 100
atores”, disse Afra Suassuna, direto- milhões de brasileiros”.

U
ma pausa para celebrar os ra do Departamento de Atenção Bá- Para tanto, torna-se fundamental
10 anos do Programa Saúde sica da Secretaria de Atenção à Saú- ampliar gradativamente os incentivos
da Família (PSF) e para fa- de do Ministério da Saúde, ao falar financeiros destinados às equipes de
zer um balanço das con- sobre as perspectivas do Saúde da Saúde da Família, Saúde Bucal e Agen-
quistas. Foi com esse espírito que mais Família para a gestão do SUS. tes Comunitários de Saúde, que para o
de 3 mil pessoas — entre técnicos, Emocionada pelo empenho de to- ministro são “a ponta de lança dessa
profissionais de saúde e gestores do dos os profissionais, Afra informou o estratégia”. Segundo Afra, estão pre-
SUS — participaram da 2ª Mostra Na- quanto essa estratégia avançou nos vistos para 2004 pouco mais de R$ 2
cional de Saúde da Família, em Brasília, últimos anos: “De dezembro de 2002 a bilhões, que formam o Plano de Aten-
entre os dias 1º e 3 de junho. Expec- abril de 2004, o SF cresceu 66%”. A pro- ção Básica (PAB). “Em 2003, a verba foi
tativas superadas: 1.600 trabalhos va desse crescimento está nos núme- de R$ 1,680 bilhão. Desse valor, municí-
acadêmicos, entre pôsteres e painéis, ros apresentados pelo Departamento pios executaram um pouco mais de R$
possibilitaram o intercâmbio de expe- de Atenção Básica: em 2000, foram im- 1,655 bilhão, o que representou 98,5%
riências e o debate sobre os pontos plantadas 8.604 equipes de Saúde da do dinheiro disponível”, esclareceu.
críticos e os próximos desafios. Para o Família; em 2001, esse número saltou Para fortalecer o programa em
ministro da Saúde, Humberto Costa, para 13.168; em 2002, para 16.698; em municípios de grande porte, o gover-
presente à abertura, “essa é a prova 2003, para 18.016. Agregaram-se tam- no criou em 2003 o Projeto de Ex-
de que o Saúde da Família se afirma bém as equipes de Saúde Bucal que, pansão e Consolidação do Saúde da
como uma política de Estado, e não de de 2001 a 2003, foram ampliadas de Família (Proesf) — que propõe mu-
governo”. Porque, segundo Humberto 1.457 para 4.820. “Hoje, são 19.943 equi- danças na dinâmica do programa,
Costa, “foi uma estratégia que conse- pes atuando em 4.565 municípios, mais com mais recursos para novas equi-
guiu atravessar os vários ministros que de 188 mil agentes comunitários de saú- pes e unidades básicas de saúde,
o país teve nesses anos, independen- de presentes em 5.175 municípios e integração dos níveis de média e alta
temente de partido político”. mais 7.131 equipes de saúde bucal im- complexidade da atenção à saúde e
Cientes de que o Saúde da Famí- plantadas em 2.944 municípios (até abril o aperfeiçoamento de mecanismos
lia vem se fortalecendo como ação de 2004)”, acrescentou Afra. de gestão. O Proesf está em plena
organizadora da Atenção Básica de Traduzindo esses números em co- execução, garantiu: “Já distribuiu na
Saúde e como porta de entrada do bertura da população, Afra disse que primeira fase cerca de R$ 20 milhões
SUS em muitos municípios, profissio- atualmente o Saúde da Família atinge entre municípios acima de 100 mil ha-
nais e pesquisadores da área defen- quase 60 milhões de pessoas, ou seja, bitantes”. “Pretende ainda”, disse
dem que o “P” de programa deveria 37,7% da população brasileira. “É pou- Humberto Costa, “distribuir mais de
ser trocado por “E” de estratégia. co”, para Humberto Costa. “A meta R$ 500 milhões ao longo de seis anos
Afinal, a palavra programa pressupõe do Ministério da Saúde é dobrar em 4 para garantir equipes de Saúde da
algo que tem início, meio e fim. “E o anos de governo o número de equi- Família em todo o país”.
RADIS 23  JUL/2004
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Foi aprovada pela Comissão fendem a ampliação e a legalização do Trabalho e Educação na Saúde do
Intergestores Tripartite (CIT) um acrés- da residência em Saúde da Família, MS, informou que o tema, como tam-
cimo de 50% dos incentivos destinados lembrando que todo profissional deve bém as formas de vínculo profissional
às equipes para municípios com IDH (Ín- ser formado tendo como base o cui- dos trabalhadores da saúde, vem sen-
dice de Desenvolvimento Humano) me- dado, o acolhimento e o vínculo com do discutido pelo grupo de trabalho
nor ou igual a 0,7 e até 50 mil habitan- a família e a comunidade na qual atua. instituído pelo MS e já levado à Casa
tes localizados na região da Amazônia Na opinião de Odorico Monteiro de Civil do governo.
Legal e até 30 mil habitantes nos de- Andrade, presidente do Conselho Na-
mais municípios. “O mesmo acontece cional de Secretários Municipais de DESATANDO O NÓ
com as equipes que atuam em assen- Saúde (Conasems), o modelo ideal de Alguns desafios a superar: a re-
tamentos e quilombolas”, informou Afra. residência em Saúde da Família é visão da Portaria nº 1.886/97, sobre
aquele em que a unidade de saúde e as normas e diretrizes do PSF; esta-
OS NÓS CRÍTICOS a comunidade se transformam em belecer financiamentos adequados,
Como numa grande reunião de locus para a formação profissional. como o Proesf, de forma a garantir
trabalho, os participantes da mostra “Mestres e profissionais da área eqüidade em saúde; ampliar a
constataram que há muitos nós a se- que auxiliam na orientação Saúde Bucal e criar equipes
rem desatados e arestas a serem apa- dos residentes, conhecidos matriciais de apoio, com in-
radas para uma execução plena, efi- como preceptores, deslo- clusão de outros profissio-
ciente e eficaz do SF. Dois pontos cam-se para o local de nais, como nutricionistas
críticos foram destacados: primeiro, trabalho dos residentes, e ginecologistas; resolver
os recursos humanos, com a onde estão de fato os pro- os problemas de vínculo
“desprecarização” do trabalho e a blemas de saúde do coti- dos profissionais; promo-
formação profissional adequada ao PSF; diano”. Segundo Odorico, ver a capacitação e a edu-
depois, a avaliação e o monitoramento, é preciso acabar com a idéia cação permanente; enfren-
que precisam ser institucionalizados. de que o aprendiz de feiticei- tar as diferenças regionais; fazer
Eronildo Felisberto, coordenador de ro, ou seja, o médico-residente, de- com que a atenção à saúde tenha mai-
acompanhamento e avaliação do De- pois de aprender com seu mestre, or resolutividade, integralidade e con-
partamento de Atenção Básica do MS, saia dali e monte sua própria tenda. tinuidade de ação; e definir formas
alertou: “Ainda não temos avaliação Ele precisa circular entre as várias de monitoramento e avaliação das
como instrumento efetivo”. Ele des- áreas do conhecimento. ações em saúde.
tacou os seguintes componentes para Quanto à precarização do tra- Para Jurandir Frutuoso, secretário
a construção de uma política de balho, um grupo marcou presença. estadual de Saúde do Ceará, desatar
institucionalização da avaliação: estu- Vestidos com blusa e boné que mos- alguns nós significa, também, “suprir a
dos e pesquisas; integração e articu- travam o estado de origem e levan- insuficiência de médicos para o Saúde
lação intra e intersetorial; democrati- tando faixas, agentes comunitários de da Família, melhorar a infra-estrutura de
zação da informação; descentralização Saúde reuniram-se em massa para dis- Unidades Básicas de Saúde, redefinir
do monitoramento e da avaliação; co- cutir com deputados federais proje- a dinâmica do trabalho das Equipes de
operação técnica de estados e muni- tos de emenda constitucional em Saúde da Família com base nas com-
cípios e avaliação processual. tramitação no Congresso para regu- petências de cada categoria profissi-
No que tange à formação profis- lamentação dos vínculos de trabalho. onal envolvida e investir na melhoria
sional, gestores e trabalhadores de- Jorge Paiva, da Secretaria de Gestão das condições de trabalho”.

Principais momentos do Programa Saúde da Família


Fim da década de 80 — Início da financeiros fundo a fundo destinados “Monitoramento das Equipes de Saú-
experiência de Agentes Comunitá- ao PSF e ao Pacs, saindo do Fundo de da Família no Brasil”.
rios de Saúde no MS. Nacional de Saúde para os Fundos 2002 — Evento “PSF, a saúde mais
1991 — Criação oficial do Programa Municipais de Saúde. perto de 50 milhões de brasileiros”;
de Agentes Comunitários de Saúde 1999 — Realização do 1º Pacto da segunda fase do estudo “Monitora-
(Pacs). Atenção Básica; edição da Portaria mento das Equipes de Saúde da Fa-
1994 — Criação do PSF. nº 1.329, que estabelece as faixas mília no Brasil”.
1996 — Legalização da Norma de incentivo ao PSF por cobertura 2003 — Início do Proesf, para am-
Operacional Básica para definição populacional. pliar o programa em municípios de
de um novo modelo de financiamen- 2000 — Criação, no MS, do Depar- mais de 100 mil habitantes; e pu-
to da atenção básica à saúde. tamento de Atenção Básica, para blicação dos Indicadores 2000,
1997 — Lançamento do Reforsus, consolidar a Estratégia de Saúde da 2001 e 2002 do Sistema de Infor-
para financiamento dos Pólos de Família. mação da Atenção Básica.
Capacitação, Formação e Educação 2001 — Edição da Norma Operacio- Fonte: DAB/SAS/MS
Permanente de Recursos Humanos nal da Assistência à Saúde — Noas/01,
para Saúde da Família. com ênfase na qualificação da A íntegra dos principais momentos
1998 — O PSF vira estratégia atenção básica; incorporação das do PSF está no endereço da web
estruturante da organização do SUS; ações de saúde bucal ao PSF; rea- www.ensp.fiocruz.br/publi/radis/
início da transferência dos incentivos lização da primeira fase do estudo 23-web-01.html
RADIS 23  JUL/2004
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DOENÇAS INFECCIOSAS

Malária ainda assusta no Brasil


são interrompida, isto é, houve o tra-
Wagner Vasconcelos
tamento de todos os casos autócto-
nes (contraídos e desenvolvidos numa

O
s avanços científicos ain- mesma região), mas não houve a elimi-
da não foram capazes de nação do mosquito transmissor”.
debelar da saúde pública O Brasil, que já esteve mais próxi-
nacional males que há tem- mo de eliminar a malária, viveu, nos últi-
pos já poderiam estar erradicados. mos anos, um retrocesso no combate à
O maior risco
Entre eles, a malária, com 500 mil no- doença. “A endemicidade da malária foi
de morte por
vos casos anuais no Brasil, segundo malária no Brasil quase controlada no ano de 1970, com
dados da Fundação Nacional da Saúde ocorre exatamente pouco mais de 52 mil casos notificados.
(Funasa). E que, ao contrário do que fora das regiões Nestas últimas três décadas, porém, o
se imagina, também provoca mortes endêmicas nível endêmico elevou-se de tal forma
fora das chamadas regiões endêmicas. que se distanciou da possibilidade de
O paradoxo é explicado por um aspec- um controle possível para aproximar-se
to preocupante para quem lida com saú- UM CONTROLE CEGO de um controle cego, ou seja, não se
de: a falta de informação até entre os Os especialistas estimam que, em tem noção do gigantismo da doença”,
profissionais. terras brasileiras, 99% dos casos de ma- analisa Wanir Barroso.
Pessoas que viajam à área lária estejam restritos ao norte do país, Para ele, o controle da malária
endêmica (que engloba os estados da mas nem sempre foi assim. Em meados passa por noções de conscientização
Região Norte mais o norte do estado dos anos 60, a doença se manifestava da população. Entre elas, “aumentar o
de Mato Grosso) podem contrair o de forma endêmica no município de nível de informações sobre a doença,
plasmódio da malária e, ao voltar às Nova Iguaçu, no Estado do Rio, segun- principalmente em clínicas particula-
suas cidades, desenvolver a doença. do Wanir Barroso. De acordo com ele, res, entidades médicas, entre os via-
O problema é que, por ignorarem o em 1965, foi registrado nesse municí- jantes, os médicos recém-formados, os
histórico do doente, muitos médicos pio um total de 1.550 casos. “O Rio de estudantes de Medicina e também para
acabam confundindo os sintomas da Janeiro é hoje uma região de transmis- a população exposta ao risco”.
malária com os de outras doenças, for-
mando um diagnóstico equivocado,
que pode agravar o estado de saúde
do paciente. Como o plasmódio age no organismo
Dos novos casos anuais, de 100 a
120 redundam em óbitos, que certa-
mente poderiam ser evitados se os
devidos cuidados fossem tomados.
A malária é uma doença que, anu-
almente, registra 500 milhões
de novos casos no mundo, mata 3
vivax. O primeiro corresponde a
cerca de 20% dos casos registrados,
tem grande poder letal e manifes-
“Pouco se morre de malária nas regi- milhões de pessoas e é encontrada ta-se de 8 a 12 dias após a contami-
ões endêmicas, pois a população des- sobretudo na África, no sudeste da nação. Já o plasmódio vivax é ca-
sas áreas já pede para fazer exames Ásia e na América do Sul — mais pre- racterizado por poder ser latente
que detectam a doença assim que sen- cisamente na Amazônia Legal. Ela é no organismo humano. O quadro
te os primeiros sintomas”, diz o provocada por protozoários de- sintomático chega a se manifestar
microbiologista Pedro Paulo Ribeiro nominados plasmódios, que são até um ano depois de a pessoa ter
Vieira, pesquisador da Fundação de transmitidos ao homem a partir sido infectada pelo protozoário.
Medicina Tropical da Amazônia. Por da picada do mosquito anopheles, Entre os sintomas da doença
isso, explica, é importante que as pes- infectado com esses protozoários. está a febre, muitas vezes associa-
soas avisem aos médicos que estive- Os plasmódios chegam ao fígado do da a dores no corpo, dor de cabe-
ram em locais onde o risco de contra- homem e lá se reproduzem rapida- ça, vômitos, diarréia, dores abdo-
ir malária é maior. Dessa forma, podem mente. Depois, espalham-se pela minais, falta de apetite, tontura e
receber o tratamento adequado. corrente sanguínea, continuam se sensação de cansaço. Evitar o con-
Para o sanitarista Wanir Barroso, reproduzindo e invadem e destro- tágio da doença é acrescentar al-
especialista em epidemiologia e contro- em as hemácias (células responsá- gumas medidas aos hábitos cotidi-
le de endemias pela Fiocruz, “o risco veis pelo transporte de oxigênio a anos, como usar repelentes nas
de reintrodução da doença em várias outras células do organismo). partes descobertas do corpo,
partes do Brasil é permanente, porque No Brasil, os tipos de malária dedetizar os locais onde se dorme
são permanentes a migração de pesso- mais comuns são aqueles provoca- e fazer uso de cortinados e telas
as com malária de outras regiões e a dos pelos plasmódios falciparum e impregnados de inseticida.
existência dos mosquitos transmissores”.
RADIS 23  JUL/2004
[ 13 ]

e n t r e v i sta

Carlos Minc

Poluição sonora, uma guerra diária


O problema da poluição sonora não
Wagner Vasconcelos
é novo. Por que não surtem efeito
as ações para tentar solucionar a

N
a Roma antiga, o toque das questão?
trombetas e o rufar dos Num centro urbano, a poluição
tambores eram usados para sonora será sempre um problema de
incitar os guerreiros à luta. difícil solução. Quanto mais cresce a
Ao mesmo tempo, um grupo especial cidade, mais cresce o problema. Por
de soldados era destacado exclusiva- isso, é importante trabalharmos a
mente para produzir ruídos capazes questão dos valores individuais do ci-
de amedrontar o inimigo. Hoje em dia, dadão. A ação mais importante para
o barulho não é mais usado como arma resolvermos a questão — ou pelo
de guerra, mas há uma guerra diária menos minorarmos o problema — é a
contra um inimigo comum que vem educação ambiental, que preconiza
se mostrando invencível nos grandes mudanças de comportamento e de
centros urbanos: a poluição sonora. valores. Os valores individuais preci-
Provocada por sinaleiras de gara- sam incorporar a dimensão do outro
gem, buzinas, máquinas na pista, bailes cidadão. Precisamos, desde criança,
funk, casas de shows, som alto nos car- aprender a respeitar os direitos indi-
ros, a poluição sonora é um tema que viduais e coletivos.
também incomoda o deputado estadu-
al Carlos Minc, do PT do Estado do Rio, Estamos chegando ao período eleito-
que em 8 de junho publicou o artigo ral, ou seja, comícios e carros de som A lei define as mais importantes
“À beira de um ataque de nervos” no serão freqüentes. Os políticos tam- fontes de poluição, estabelecendo
jornal O Globo. No texto, ele alertava bém causam poluição sonora? medidas e procedimentos para que o
para uma estatística da Organização Em alguns casos, sim. Daí a ne- Estado do Rio e os municípios resol-
Mundial de Saúde, que classifica Rio e cessidade, por exemplo, de haver vam juntos o problema da poluição
São Paulo nas 7ª e 10ª posições, res- locais especiais para atividades po- sonora, a partir de convênios e acor-
pectivamente, do ranking das 10 cida- líticas, como comícios. Um comício dos de conduta.
des mais barulhentas do mundo — lide- político na Cinelândia (centro do
rado pela Cidade do México. Dados da Rio), por exemplo, causará menos Qual o tipo de poluição sonora mais
OMS mostram que ruídos entre 76 e 85 impacto sonoro do que nos bairros comum nessas áreas?
decibéis já são capazes de provocar residenciais. Por isso, a necessida- O campeão, de forma geral, é a
perturbação, interferindo em nossas de de um planejamento cuidadoso sinaleira de garagem, que responde
atividades, no sono, no comportamen- sobre o assunto. por 80% das denúncias. Cerca de 20%
to e, conseqüentemente, na saúde. das denúncias ficam com bares, ca-
Uma pessoa submetida diariamen- Quais as conseqüências físicas e men- sas de show, cultos religiosos e cami-
te a ruídos superiores a 85 decibéis tais para uma pessoa submetida à nhões de lixo, entre outros.
por oito horas apresentará, em dois poluição sonora constante?
anos, problemas auditivos. Outros sin- Dentre outros problemas, surdez Como resolver, por exemplo, os pro-
tomas: dores de cabeça, distúrbios permanente, parcial ou total; surdez blemas das sinaleiras de garagem?
gástricos, zumbido no ouvido, insô- temporária, que pode se tornar crô- A freqüência e a intensidade dos
nia, irritabilidade e tendência a com- nica; perturbações do sono; modifi- toques serão fortemente diminuídos.
portamento agressivo. As crianças fi- cação do humor; e perturbação do Os dirigentes da Abadi — Associação
cam dispersivas ou agitadas, e a relaxamento mental. Brasileira de Administradores de Imó-
dificuldade de aprendizado é maior. veis —, que congrega 80% dos condo-
No Rio de Janeiro, a Câmara Mu- Há relação entre poluição sonora e mínios, concordaram em implementar
nicipal aprovou, no dia 16 de junho, o violência? essas medidas, divulga-las em seus in-
Projeto de Lei do vereador Rodrigo Sim, pois a poluição sonora cau- formativos e nas reuniões com os sín-
Bethlem (PMDB), que extingue os si- sa estresse. O excesso de barulho é dicos. Esta consciência é importan-
nais sonoros das garagens. Eles serão uma das maiores causas de estresse, te, pois esta é a maior queixa dos
substituídos por placas e sinais lumino- provocando reações emocionais em moradores. Os tímpanos e os nervos
sos. Animado com a aprovação, em maio algumas pessoas, que acabam reagin- agradecem.
passado, da Lei Estadual de Defesa da do agressivamente.
Saúde Auditiva da População, que pode O artigo de Carlos Minc em O Globo
servir de exemplo para outros estados, O que diz, em resumo, a Lei de Defe- de 8/6 pode ser lido em www.ensp.
Minc falou do assunto à revista Radis. sa da Saúde Auditiva da População? fiocruz.br/publi/radis/23-web-02.html
RADIS 23  JUL/2004
[ 14 ]

Pesquisa Mundial de Saúde 2003

O Brasil em números

Feliz Natal — MT FOTOS: EQUIPES DE ENTREVISTADORES

E
sta edição especial da revista Radis apresenta
dados exclusivos da extensa Pesquisa Mundial de
Saúde 2003, uma iniciativa da Organização Mun-
dial de Saúde para 71 países, cuja execução no
Brasil foi entregue a pesquisadores do Departamento de
Informações em Saúde do Centro de Informação Científica
e Tecnológica da Fiocruz — que assinam os comentários
sobre os resultados.
A pesquisa teve início em fins de 2002, com a tradução e
a adaptação a nossas especificidades do questionário da OMS,
que foi então submetido, entre janeiro e setembro de 2003, a
5 mil brasileiros com idade acima de 18 anos, em 250 setores
censitários (locais visitados pelos entrevistadores) dentro de
188 municípios, em 25 estados (ficaram de fora Acre e Roraima).
A Radis espera que esse precioso levantamento sirva como
base para a implementação de políticas públicas que conside-
rem as necessidades e o perfil epidemiológico da população.
RADIS 23  JUL/2004
[ 15 ]

Campo Grande — MS

mentais para a avaliação do desempe- sistema de saúde; justiça na contri-


Por Célia Landmann Szwarcwald, nho dos sistemas de saúde. No ano buição do financiamento da saúde.
Francisco Viacava, Maurício Teixeira
2000, a Organização Mundial de Saú- Um índice-resumo, denominado “ín-
Leite de Vasconcellos, Maria do de (OMS) publicou o Relatório Mundi- dice geral de desempenho do siste-
Carmo Leal, Luis Otávio Azevedo,
al de Saúde (WHO, 2000), dedicado à ma de saúde”, foi estimado pela mé-
Rita Suely Bacuri de Queiroz, Marcelo proposição de uma metodologia para dia ponderada dos cinco indicadores
Felga de Carvalho, Maria Goretti
avaliação de desempenho dos sistemas acima mencionados, com pesos, res-
Fonseca, Paulo Germano de Frias, de saúde dos países-membros. pectivamente, de 25%, 25%, 12,5%,
Silvana Granado Gama, Paulo Roberto
O Relatório 2000 trouxe à agen- 12,5% e 25%. Os 191 países-membros
Borges de Souza Júnior, Sonia Lansky, da da OMS o comprometimento com da OMS foram classificados em ordem
Karin Regina Luhm, Marcia de Costa
os objetivos louváveis de avaliação dos ascendente de magnitude do índice-
Mazzei, Manoel C. S. de A. Ribeiro, sistemas de saúde, monitoramento das resumo de desempenho, e os resul-
Simone dos Santos, Wayner Vieira de
desigualdades em saúde e alcance da tados foram publicados no Relatório
Souza, Mariza Theme equidade no financiamento da saúde. 2000 sob a forma de um ranking.
Entretanto, a metodologia utilizada, Várias questões foram levantadas,

A metodologia para avaliar o desem-


penho dos sistemas de saúde das
nações tem ocupado lugar de des-
exposta a inúmeras críticas, tanto de
cunho metodológico como conceitual,
foi objeto de amplo debate internaci-
marcadamente pelo governo brasilei-
ro, acerca da validade da metodologia
utilizada pela OMS. As críticas referi-
taque na agenda de organismos in- onal (Häkkinen & Ollila, 2000; Navarro, ram-se, principalmente, à falta de uti-
ternacionais e de instituições aca- 2000; Rosén, 2001; Ugá et al., 2001). lidade do instrumento para subsidiar
dêmicas. Tal tema vem ganhando De forma sucinta, a metodologia a definição das políticas de saúde, fa-
importância crescente, igualmente, empregada para avaliar o desempe- zendo com que a avaliação fosse des-
entre os gestores e administradores nho do sistema de saúde foi baseada provida de significado. Compreendeu-
do setor saúde, constituindo etapa em 5 dimensões: estado de saúde, se que a classificação dos países tinha
essencial para o planejamento das medido pela esperança de vida ajus- sido feita a partir de um indicador
ações voltadas para garantir a quali- tada pelas incapacidades — (DALE); único, conceitualmente vago e
dade da atenção à saúde e subsidiar desigualdade do estado de saúde, empiricamente incorreto (Almeida et
decisões que atendam às reais neces- medida pela desigualdade na proba- al., 2001; Navarro, 2002; Rosén, 2001).
sidades da população. bilidade de morte nos dois primeiros A forma inconsistente de elabo-
Diante da relevância da questão anos de vida; qualidade de resposta ração do Relatório 2000, a utilização
no contexto atual, alguns países, como do sistema de saúde (responsiveness) de procedimentos metodológicos ci-
Canadá, Reino Unido e Austrália, têm — nível médio de satisfação; desigual- entificamente questionáveis e a au-
desenvolvido, nos últimos anos, instru- dades na capacidade de resposta do sência de dados para a construção
RADIS 23  JUL/2004
[ 16 ]

Mapa 1 — Distribuição geográfica dos municípios pesquisados

Lista de setores censitários


selecionados por estado

Estado Quantidade

Alagoas 3
Amapá 2
Amazonas 3
Bahia 17
Ceará 12
Distrito Federal 4
Espírito Santo 3
Goiás 6
Maranhão 8
Mato Grosso 5
Mato Grosso do Sul 2
Minas Gerais 23
Pará 2
Paraíba 7
Paraná 17
Pernambuco 12
Piauí 4
Rio de Janeiro 20
Rio Grande do Norte 7
Rio Grande do Sul 14
Rondônia 3
Santa Catarina 11
São Paulo 60
Sergipe 4
Tocantins 1

Total geral 250


RADIS 23  JUL/2004
[ 17 ]

Blumenau — SC

Marituba — PA Macapá — AP

Recife — PE

Catuípe — RS

Feliz Natal — MT

Marituba — PA

dos indicadores promoveram reação eram disponíveis em 70% dos 191 paí- 2001). Quanto ao indicador de me-
negativa na comunidade científica ses-membros. Para construir as duas dida das desigualdades em saúde, o
internacional. Vários artigos científi- medidas de capacidade de resposta questionamento dirigiu-se, principal-
cos, elaborados por pesquisadores do sistema de saúde, os dados não mente, à abordagem conceitual utili-
de diferentes países, foram dedica- eram disponíveis em 84% dos países e zada, não sendo realizada compara-
dos a apontar falhas metodológicas para aferir a justiça na contribuição ção do estado de saúde entre grupos
e conceituais na avaliação empre- do financiamento, em 89% dos países sociais distintos, mas medindo-se va-
gada pela OMS (Almeida et al., 2001; (Almeida et al., 2001). riações individuais na população. Em
Jamison & Sandbu, 2001; Mulligan et Sérios problemas metodológicos conseqüência, o indicador proposto
al., 2000; Navarro, 2000; Walt & Mills, adicionais foram apontados na constru- era mais influenciado pelas desigual-
2001; Williams, 2000; Williams, 2001). ção dos indicadores. No que diz res- dades socioeconômicas do que pelas
Como um dos grandes problemas en- peito ao indicador da “qualidade de ações no âmbito do setor saúde
contrados na construção dos indi- resposta” (responsiveness) do sistema (Szwarcwald, 2002; Braveman et al.,
cadores propostos, enfatizou-se a de saúde, o questionamento maior 2001; Houweling et al., 2001).
ausência de dados empíricos con- referiu-se à composição da amostra Em resposta às críticas, em janei-
sistentes, necessários à construção de informantes, que não contemplou ro de 2001, o Conselho Executivo da
dos indicadores propostos. Para a princípios básicos de aleatoriedade OMS aprovou resolução com o reco-
construção do índice de desigualda- e representatividade populacional nhecimento da necessidade de estabe-
de no estado de saúde, os dados não (Blendon et al., 2001; Travassos, lecer um processo de consulta técnica
RADIS 23  JUL/2004
[ 18 ]

e a recomendação de formação de um membros a cada Coordenadoria Re- das por pesquisadores experientes na
Grupo Científico Consultor para avali- gional. No caso do Brasil, a respon- área de Saúde Pública, os Coordena-
ar a metodologia empregada no Rela- sabilidade coube à Organização Pan- dores Locais. Para cada micropesquisa,
tório de 2000. Foram feitas várias con- Americana de Saúde (OPS), que foi formada equipe por quatro
sultas regionais (América, Ásia, África promoveu a primeira reunião em entrevistadores, em média, e um
e Europa) para discutir a metodologia Cuernavaca, México, de 7 a 11 de supervisor. Cada micropesquisa abran-
utilizada no Relatório 2000, todas dis- outubro de 2002. Neste seminário, foi geu de 300 a 500 entrevistas domicili-
poníveis na internet (www.who.int/ ressaltada a importância de realiza- ares, distribuídas em 15 a 25 setores
health-system-performance). ção desta pesquisa no país, princi- censitários, em distintas áreas geo-
No ano de 2001, a OMS incorpo- palmente pelo fato de a OMS estar gráficas. O treinamento dos coorde-
rou parte das críticas recebidas pela transferindo aos países participantes nadores locais foi realizado na Fiocruz,
comunidade científica internacional um conjunto estruturado de méto- consistindo tanto da aplicação do
e das consultas regionais e propôs dos, compondo uma plataforma inici- questionário como da organização do
mudanças metodológicas relevantes. al para o desenvolvimento de inqué- trabalho de campo em cada área ge-
Neste contexto, a OMS desenvolveu ritos sistemáticos no campo da ográfica. O recrutamento e o treina-
a Pesquisa Mundial de Saúde, avaliação do desempenho dos siste- mento dos entrevistadores couberam
inquérito populacional para mas nacionais de saúde. a cada coordenador local, nas res-
suprir informações sobre o es- De janeiro a setembro de 2003, pectivas áreas geográficas sob sua
tado de saúde das populações, foi realizado inquérito populacional, coordenação.
assim como sobre o desempe- de âmbito nacional, em 5.000 domicí-
nho dos sistemas de saúde dos lios escolhidos por amostragem Questionário
países membros (Ustun et al., 2001). probabilística. A execução da pesqui- O questionário original da OMS foi
A experiência de realização da sa no Brasil significou a oportunida- traduzido para o português e adapta-
Pesquisa Mundial de Saúde em algu- de de desenvolver instrumental e su- do para aplicação no nosso meio pelos
mas nações em 2001, utilizando di- prir informações para avaliar o coordenadores da pesquisa e pelos
ferentes metodologias de aplicação, desempenho do sistema nacional de coordenadores locais. Alguns módulos
somada às críticas sobre os tama- saúde, além de possibilitar a compa- foram excluídos, enquanto outros fo-
nhos de amostra utilizados (não su- ração com o desempenho de outros ram acrescentados ao instrumento. O
ficientes para a estimação dos indi- países, permitindo ao governo brasi- pré-teste do instrumento foi realizado
cadores), bem como sobre a falta leiro permanecer no debate interna- em todas as áreas sob responsabilida-
de aleatoriedade e qualidade das in- cional sobre o tema. de dos coordenadores locais.
formações coletadas, fez com que a O questionário utilizado foi mo-
OMS reformulasse todo o processo de METODOLOGIA dular, abordando-se os seguintes as-
aplicação do inquérito nos países. O pectos: condições socioeconômicas;
questionário atual incorpora parte das Amostra descrição do estado de saúde; fato-
críticas e sugestões que foram feitas Visando à representatividade res de risco (fumo, álcool, atividade
pelas consultas regionais e Grupo Ci- nacional e diante do financiamento física, nutrição, fatores ambientais);
entífico Consultor, adicionando ques- fornecido pela OMS, o tamanho de alguns problemas de saúde (situações
tões relativas ao acesso, à cobertura amostra foi estabelecido em 5.000 crônicas —diagnóstico, tratamento e
e à utilização de serviços de saúde, indivíduos, com 18 anos e mais de ida- uso de medicamentos; situações agu-
considerados objetivos intermediári- de. A amostragem foi realizada em dois das — assistência); cobertura de pro-
os dentro do marco referencial de ava- estágios. No primeiro, foram selecio- gramas de saúde, como saúde bucal,
liação do desempenho dos sistemas de nados 250 setores censitários, com assistência pré-natal e saúde mater-
saúde. Além disso, existe um grande probabilidade proporcional ao tama- no-infantil; avaliação da resposta do
esforço no sentido de ultrapassar as nho. Situação (urbano ou rural) e sistema de saúde do ponto de vista
dificuldades de comparação de infor- porte do município (até 50.000; 50.000 do usuário; gastos relativos das famí-
mações coletadas entre diferentes até 400.000; 400.000 + habitantes) lias em saúde, incluindo planos de
níveis culturais de um mesmo país ou estratificaram explicitamente as uni- saúde privados.
entre distintos países. dades primárias de seleção. O nível
socioeconômico, estabelecido pela Análise dos dados
A PESQUISA MUNDIAL renda média dos chefes dos domicíli- Nesta primeira etapa, utilizando-
DE SAÚDE NO BRASIL os do setor, foi utilizado para se as ponderações necessárias em
Dando prosseguimento às discus- estratificação implícita. acordo com o desenho de amostragem,
sões sobre a proposta da OMS para Em cada setor, foram seleciona- foram analisados os seguintes módulos:
Avaliação do Desempenho dos Siste- dos 20 domicílios aleatoriamente. Em estado de saúde, fatores de risco,
mas de Saúde, em janeiro de 2002, cada domicílio, foi identificado um morbidade auto-referida, cobertura de
na 109ª Reunião do Conselho Execu- morador para responder às perguntas programas de saúde, e grau de satisfa-
tivo, a delegação brasileira firmou relativas às características do domicí- ção com os serviços de saúde do pon-
acordo com a OMS para a realização lio. Apenas um indivíduo do domicílio to de vista do usuário.
da Pesquisa Mundial de Saúde no Bra- (selecionado aleatoriamente) respon- As análises foram realizadas
sil, cabendo a responsabilidade da deu ao questionário individual. por faixa etária, sexo e condição
execução da pesquisa no Brasil à Fun- socioeconômica. Para examinar as
dação Oswaldo Cruz. Trabalho de campo desigualdades por nível socioeconô-
No sentido de assegurar a maior A Pesquisa Mundial da Saúde foi mico, três variáveis foram conside-
qualidade na execução das pesquisas, aplicada no Brasil, de janeiro a se- radas: grau de escolaridade; núme-
a OMS delegou a responsabilidade de tembro de 2003, subdividida em 10 ro de bens (medido pelo número de
aplicação do inquérito nos países- micro-pesquisas que foram coordena- bens no domicílio: televisão, geladei-
RADIS 23  JUL/2004
[ 19 ]

Sinop — MT

ra, aparelho de som, microondas, te- estar físico nos 30 dias anteriores à <18,5; normal 18,5 até 25; sobrepeso
lefone, telefone celular, máquina de pesquisa, bem como em questões 25 até 30; obeso 30+.
lavar roupa, máquina de lavar louça, específicas sobre grau de dificulda- ii) Fumo: Mensurado pela fre-
microcomputador e número de car- de em: se locomover (locomoção); qüência de fumo (não fuma; fuma, mas
ros, variando de 0 a 11 bens); e gasto se lavar e se vestir (autocuidado); não diariamente; fuma diariamente).
domiciliar mensal. adormecer e se sentir bem dispos- iii) Bebida alcoólica: Mensurado
Quanto ao gasto domiciliar men- to no dia seguinte (sono); se socia- pelo número de doses na última se-
sal, foram analisados os seguintes com- lizar na comunidade e lidar com si- mana (nunca bebeu; não bebeu na
ponentes do gasto: alimentação; casa; tuações de conflito (sociabilidade); semana; 1-4 doses; 5+ doses).
educação; saúde; outros. Especifica- aprender coisas novas, se concen- iv) Atividade física: mensurada
mente, em relação aos gastos em saú- trar e memorizar (concentração/ por três tipos de atividade (vigoro-
de, foram analisados os gastos com memorização); ver de perto e de lon- sa, moderada e caminhada) e pela
medicamentos; com planos de saúde ge (visão). Além disto, o estado de freqüência semanal e número de
privados; com consultas médicas; com ânimo foi mensurado pelo grau com minutos durante a realização da ati-
dentista; com internação; com exames; que o indivíduo se sentiu triste ou vidade física. Foram consideradas
com óculos, aparelhos para audição, deprimido e pelo grau em que sen- três categorias na análise: sedentá-
próteses etc; com terapias (fisiotera- tiu ansiedade ou preocupação. rios (não fazem nenhum tipo de ati-
pia, psicoterapia, fonoaudiologia); ou- Quanto aos fatores de risco, fo- vidade física); atividade física insu-
tro serviço ou produto de saúde. ram considerados: ficiente (menos do que 150 minutos
A análise do estado de saúde foi i) Obesidade: Mensurada pelo por semana); suficiente (150+ minu-
baseada em duas questões gerais — índice de massa corporal, índice de tos por semana).
auto-avaliação do estado de saúde e Quetelet, dado pela razão entre o Para a avaliação de situações
dificuldade no trabalho ou ativida- peso e a altura ao quadrado(kg/cm2). crônicas de saúde, foram feitas duas
des habituais, em duas questões so- Foram consideradas as seguintes ca- perguntas ao indivíduo: O sr(a) tem
bre o grau em que sentiu dor ou mal- tegorias para análise: abaixo do peso alguma doença de longa duração ou
RADIS 23  JUL/2004
[ 20 ]

incapacidade? Esta doença ou inca- período, todos os indivíduos que utili- zada de acordo com a forma de paga-
pacidade limita de alguma forma suas zaram serviços de saúde no ano anteri- mento: não pagou (SUS); pelo plano
atividades? A seguir, foram feitas per- or (atendimento ambulatorial). de saúde; direto, sem reembolso.
guntas sobre problemas específicos Primeiramente, analisou-se a sa- Na avaliação da assistência por
— artrite, angina, asma, diabetes, tisfação do usuário com as habilida- parte do usuário, considerou-se ain-
depressão e esquizofrenia — ques- des e os equipamentos do profissio- da se ele se sentiu alguma vez dis-
tionando-se se o indivíduo já tinha nal de saúde, bem como com a criminado (foi tratado pior) por al-
tido alguma vez diagnóstico e trata- disponibilidade de medicamentos no gum dos seguintes motivos: falta de
mento de cada um destes proble- atendimento. A seguir, utilizando-se dinheiro, classe social, sexo, idade,
mas. Em relação às situações agu- uma escala de 1 a 5, avaliou-se o grau raça/cor, nacionalidade ou tipo de
das, foi perguntado se o indivíduo de satisfação com os seguintes aspec- doença.
sofreu lesões corporais provocadas tos: tempo de deslocamento; tempo Para todos os entrevistados, inde-
por causas externas, isto é, por al- de espera; tratamento respeitoso; in- pendentemente de terem recebido
gum envolvimento com acidente (de timidade respeitada; clareza nas ex- assistência com internação nos 5 anos
trânsito, afogamento, queda, into- plicações dadas pelos profissionais de anteriores ou assistência ambulatorial
xicação) ou agressão (por saúde; tempo para fazer perguntas; no ano anterior, perguntou-se sobre o
arma de fogo, briga, faca), possibilidade de obter informações; grau de satisfação com o funcionamen-
nos 12 meses que precede- participação na tomada de decisões; to da assistência no país, utilizando-se
ram a entrevista. falar em privacidade com profissionais uma escala que variou de “muito satis-
Nesta primeira análise, de saúde; sigilo das informações pes- feito” a “muito insatisfeito”.
foram contempladas apenas as soais; liberdade de escolha do profis-
coberturas de dois programas de sional de saúde; limpeza das instala- RESULTADOS
saúde, o de saúde bucal e o exame ções; espaço disponível das salas de
ginecológico entre as mulheres de espera e de exames. No caso de assis- Estado de Saúde
18 a 69 anos de idade. tência com internação, consideraram- Entre os 5.000 entrevistados, 9%
No que se refere à avaliação do se, adicionalmente, “facilidade em ter avaliaram sua saúde como “ruim” ou
desempenho do sistema de saúde, fo- visitas de familiares e amigos” e “con- “muito ruim”, 53% como “boa” ou
ram analisadas a utilização dos serviços tato com mundo exterior”. muito “boa”, e 38% como “regular”. A
de saúde no ano que precedeu a pes- Para efeitos da análise estatísti- percepção de saúde foi pior entre
quisa e a avaliação do atendimento de ca, calculou-se um índice de avalia- as mulheres quando comparadas aos
acordo com as expectativas do usuá- ção do atendimento, atribuindo-se um homens: o percentual de auto-avali-
rio. Para análise desta última, foram ponto para cada resposta “muito boa” ação “boa” ou muito “boa” foi de 47%,
considerados todos os indivíduos que ou “boa” relativa à avaliação de cada para o sexo feminino, e de 60%, para
se internaram nos cinco anos anterio- um dos aspectos do atendimento, e o sexo masculino. Grande amplitude
res (atendimento com internação) ou utilizou-se escala variando de 1 a 100. de variação do percentual de auto-
no caso de ausência de internação no A avaliação do atendimento foi reali- avaliação “boa” ou muito “boa” foi

TA B E L A 1: Per c entua l (% ) de indivíduo s c o m a uto -a va lia ç ã o


da s a úde bo a / m uito bo a po r fa ixa etá r ia , s exo e núm er o de bens

Sexo Fa ixa etá r ia 0-3 bens 4-7 bens 8 + bens To ta l

18- 34 49, 7 66, 3 83, 8 63, 4

35- 49 30, 0 44, 1 69, 8 45, 4


Fem inino
50+ 20, 3 24, 8 51, 4 27, 2

To tal 36, 0 47, 3 69, 8 47, 5

18- 34 63, 0 74, 7 86, 9 72, 4

35- 49 49, 4 64, 0 76, 4 61, 9


M a s c ulino
50+ 30, 7 40, 3 59, 2 40, 9

To tal 49, 9 61, 8 74, 1 60, 2

18- 34 55, 7 70, 3 85, 2 67, 7

35- 49 38, 9 53, 0 72, 7 52, 7


To ta l
50+ 24, 9 31, 9 55, 4 33, 6

To tal 42, 3 54, 0 71, 9 53, 3


RADIS 23  JUL/2004
[ 21 ]

encontrada por faixa etária, varian-


do de 34%, entre os indivíduos com
50 anos e mais de idade, a 68%, entre
os jovens de 18 a 34 anos.
Chama a atenção, ainda, a variação
da percepção de saúde “boa” ou “mui-
to boa” por condição socioeconômica.
O percentual mostrou-se tanto menor
quanto pior o nível socioeconômico
(NSE), seja este representado pelo nú-
mero de bens ou grau de escolarida-
de. Entre os que possuem três bens
ou menos no domicílio, o percentual
de respostas “muito boa” ou “boa” foi
Macapá — AP Belém — PA
de 42%, enquanto entre os participan-
tes que possuem oito ou mais bens o
percentual foi de 72%. Analisando-se nas suas atividades habituais no mês teza e depressão, bem como so-
por grau de escolaridade, o percentual anterior à data da pesquisa, o mesmo bre ansiedade e preocupação:
de auto-avaliação “muito boa” ou padrão por sexo e grupo etário foi 26% dos participantes relataram
“boa” variou de 41%, entre os entre- encontrado: o percentual foi maior grau grave de problemas relati-
vistados com primeiro grau incomple- entre os mais jovens bem como entre vos ao estado de ânimo. O se-
to, a 72%, entre aqueles com segundo os homens, em todas as faixas de ida- gundo maior percentual de proble-
grau completo. De forma geral, o pa- de (Tabela 2). Porém, o gradiente so- mas correspondeu ao mal-estar físico
drão encontrado é o de percepção cial não foi tão nítido quanto o evi- ou dores no corpo, de 18%, seguido
pior da saúde entre os mais idosos, denciado para a auto-avaliação de por dificuldades no sono, com
entre as mulheres quando são compa- saúde, sugerindo que há diferenças percentual no mesmo patamar. A se-
radas com os homens em qualquer fai- importantes na percepção individual guir, foram evidenciadas dificuldades
xa etária, e entre os de NSE mais baixo da saúde, que não se traduzem, pelo de concentração e memorização, na
relativamente aos de NSE mais eleva- menos não totalmente, pelas limita- visão (de perto ou de longe), e na
do, constatando-se que o gradiente ções das atividades cotidianas. sociabilidade (participação na comu-
social na auto-avaliação de saúde “boa” Quanto às questões específicas nidade e habilidade em lidar com si-
ou “muito boa” se repete em qualquer relativas ao estado de saúde nos 30 tuações de conflito), respectivamen-
faixa de idade ou sexo (Tabela 1). dias que antecederam a entrevista, o te com percentuais de 14%, 10% e
No que se refere ao percentual maior percentual de problemas foi 10%. Os menores graus de dificulda-
de indivíduos que responderam que encontrado para estado de ânimo, es- de corresponderam à locomoção e
não tiveram dificuldade no trabalho ou tabelecido por perguntas sobre tris- ao auto-cuidado (lavar-se e vestir-se),

TA B E L A 2: Per c entua l (% ) de indivíduo s que nã o tivera m dific ulda de no tra ba lho


o u a tiv ida des do m és tic a s , no últim o m ês , po r fa ixa etá r ia , s exo e núm er o de bens

Sexo Fa ixa etá r ia 0-3 bens 4-7 bens 8 + bens To ta l

18- 34 77, 7 83, 3 85, 3 81, 9

35- 49 58, 2 68, 7 77, 2 67, 7


Fem inino
50+ 49, 1 50, 3 60, 9 51, 5

To tal 64, 2 69, 1 75, 8 68, 8

18- 34 81, 7 88, 4 83, 7 85, 8

35- 49 77, 5 80, 3 77, 3 79, 0


M a s c ulino
50+ 52, 7 65, 6 81, 7 65, 1

To tal 72, 2 79, 5 81, 0 77, 7

18- 34 79, 7 85, 8 84, 6 83, 7

35- 49 67, 0 73, 9 77, 2 72, 7


To ta l
50+ 50, 7 57, 3 71, 4 57, 8

To tal 67, 9 74, 0 78, 1 72, 9


RADIS 23  JUL/2004
[ 22 ]

com menos de 6% dos indivíduos rela- bilidade, ao estado de ânimo e às difi- obesidade, de 17%, foi encontrado
tando problemas nestes dois aspec- culdades no sono. Os maiores diferen- entre as mulheres de 50 anos ou mais.
tos (Figura 1). ciais socioeconômicos se referiram aos Já o fumo é hábito mais freqüen-
O mesmo padrão encontrado problemas de visão e de concentra- te entre os homens, sobretudo entre
para a percepção geral de saúde foi ção/memorização (Figura 2). os de menor NSE, para os quais o
evidenciado na análise por proble- percentual de fumo diário chega a atin-
ma específico do estado de saúde: Fatores de risco gir 33% entre aqueles com mais de 35
as mulheres têm uma avaliação pior De acordo com o critério inter- anos de idade (Tabela 4). Entretanto,
do que os homens; os mais velhos nacional de obesidade (índice de mas- destaca-se que, para ambos os sexos,
têm maior grau de dificuldades que sa corporal maior ou igual a 30 kg por as proporções de fumantes são meno-
os mais jovens; os mais ricos refe- cm2), 10% dos brasileiros são obesos e res entre os mais jovens, o que pode
rem grau menor de problemas que 28,5% estão acima do peso (Tabela 3). ser um indício de diminuição do hábito
os mais pobres. Porém, é interes- Entre os indivíduos com mais de 35 de fumar na população brasileira.
sante notar que o gradiente social anos de idade, a obesidade é mais Tal como o fumo, o hábito de be-
foi bem menos acentuado para os prevalente no sexo feminino, desta- bida alcoólica é predominante entre
problemas relativos à socia- cando-se que o maior percentual de os homens. Enquanto 25% dos homens
RADIS 23  JUL/2004
[ 23 ]

relataram ter tomado 5 doses ou mais verso ao encontrado para o hábito de No que diz respeito à atividade fí-
de álcool na semana que antecedeu a fumar: quanto maior o número de bens, sica (no lazer ou relacionadas ao traba-
entrevista, o percentual é de apenas tanto maior é o percentual de uso de lho), seja em atividades vigorosas, mo-
6% entre as mulheres (Tabela 5). O con- álcool. Adicionalmente, não há sinais de deradas ou caminhada, 24% relataram
sumo de bebida alcoólica por condição redução do hábito de beber na gera- menos do que 150 minutos por sema-
social obedece, no entanto, padrão in- ção mais jovem. na, tempo considerado insuficiente de

TA B E L A 3: Dis tr ibuiç ã o (% ) s eg undo índic e de m a s s a


c o r pó r ea po r fa ixa etá r ia e s exo

Sexo Fa ixa etá r ia A ba ixo do pes o N o rm a l So br epes o O bes o

18- 34 11, 0 66, 4 17, 4 5, 1

35- 49 3, 5 54, 4 28, 9 13, 2


Fem inino
50+ 3, 6 43, 5 35, 6 17, 2

To tal 6, 7 56, 5 26, 0 10, 9

18- 34 4, 1 68, 4 21, 2 6, 3

35- 49 2, 1 47, 0 39, 3 11, 6


M a s c ulino
50+ 3, 2 47, 9 37, 9 11, 0

To tal 3, 2 56, 2 31, 3 9, 2

18- 34 7, 7 67, 4 19, 3 5, 7

35- 49 2, 9 51, 0 33, 7 12, 4


To ta l
50+ 3, 4 45, 7 36, 7 14, 1

To tal 5, 0 56, 4 28, 5 10, 1

TA B E L A 4: Per c entua l (% ) de indivíduo s que fum a m


dia r ia m ente po r fa ixa etá r ia , s exo e núm er o de bens

Sexo Fa ixa etá r ia 0-3 bens 4-7 bens 8 + bens To ta l

18- 34 17, 1 9, 5 9, 5 11, 8

35- 49 24, 9 21, 2 21, 2 20, 8


Fem inino
50+ 13, 6 11, 4 11, 4 11, 4

To tal 18, 3 13, 6 13, 6 14, 4

18- 34 25, 8 17, 3 17, 3 19, 2

35- 49 33, 1 24, 2 24, 2 25, 5


M a s c ulino
50+ 33, 3 23, 3 23, 3 24, 2

To tal 30, 0 21, 0 21, 0 22, 5

18- 34 21, 0 13, 2 13, 2 15, 2

35- 49 28, 6 22, 5 22, 5 22, 8


To ta l
50+ 22, 7 16, 8 16, 8 17, 4

To tal 23, 5 17, 0 17, 0 18, 1


RADIS 23  JUL/2004
[ 24 ]

acordo com os critérios da OMS. Já o Problemas de saúde também limitação de suas atividades
percentual de sedentários, que não re- Entre todos os participantes na provocada pela doença (Tabela 7).
alizam nenhum tipo de atividade física, é pesquisa, 29% responderam afirmati- Corroborando os resultados encon-
de 11% na população total, mas atinge o vamente à pergunta sobre presença trados para a percepção do estado
patamar de 20% entre os indivíduos mais de doença de longa duração ou in- de saúde, o percentual é maior para
idosos e de menor NSE (Tabela 6). capacidade, sendo que 20% relataram o sexo feminino do que para o mas-

TA B E L A 5: Per c entua l (% ) de indivíduo s que to m a ra m pelo m eno s 5 do s es de bebida


a lc o ó lic a na s em a na a nter io r à pes quis a po r fa ixa etá r ia , s exo e núm er o de bens

Sexo Fa ixa etá r ia 0-3 bens 4-7 bens 8 + bens To ta l

18- 34 5, 8 6, 6 10, 1 6, 8

35- 49 2, 3 9, 2 9, 3 7, 4
Fem inino
50+ 0, 9 4, 6 3, 6 3, 4

To tal 3, 5 6, 8 8, 1 6, 0

18- 34 29, 4 28, 8 33, 3 29, 5

35- 49 19, 9 28, 0 36, 4 27, 2


M a s c ulino
50+ 12, 2 16, 9 26, 7 17, 3

To tal 21, 8 25, 1 32, 2 25, 3

18- 34 16, 5 17, 2 20, 4 17, 4

35- 49 10, 3 17, 6 20, 4 16, 1


To ta l
50+ 5, 9 10, 1 15, 4 15, 4

To tal 11, 8 15, 3 19, 0 14, 8

TA B E L A 6: Per c entua l (% ) de indivíduo s que nã o r ea liz a m


a tiv ida de fís ic a po r fa ixa etá r ia , s exo e núm er o de bens

Sexo Fa ixa etá r ia 0-3 bens 4-7 bens 8 + bens To ta l

18- 34 4, 9 7, 3 12, 7 7, 3

35- 49 7, 5 8, 6 9, 9 8, 5
Fem inino
50+ 18, 1 15, 5 14, 4 16, 1

To tal 9, 3 10, 1 12, 3 10, 2

18- 34 5, 6 8, 1 12, 2 7, 9

35- 49 8, 4 9, 3 16, 5 10, 3


M a s c ulino
50+ 20, 7 15, 3 9, 2 15, 7

To tal 10, 9 10, 5 12, 5 10, 9

18- 34 5, 2 7, 8 12, 5 7, 6

35- 49 7, 9 8, 9 12, 9 9, 4
To ta l
50+ 19, 5 15, 3 11, 7 15, 9

To tal 10, 1 10, 3 12, 4 10, 6


RADIS 23  JUL/2004
[ 25 ]

culino, e aumenta com a idade. En- não têm doença, variando de 4%, en- aos demais, sendo que, dentre todos
tre as mulheres de 50 anos e mais de tre estes, a 29%, entre os que têm os aspectos considerados na pesqui-
idade, 52% relataram doença de lon- doença de longa duração ou incapa- sa, as maiores diferenças são encon-
ga duração ou incapacidade, 35% com cidade com limitação dela resultan- tradas para o estado de ânimo e para
limitação das atividades rotineiras. te. Os resultados são ainda mais pro- o grau de dores no corpo ou mal-es-
Os achados relativos à auto-ava- nunciados quando se analisa o grau tar físico (Figura 3).
liação de saúde validam as respostas de dificuldade em realizar atividades Em relação às questões sobre
dadas à ocorrência de doença de lon- cotidianas. Entre os indivíduos com problemas específicos de saúde,
ga duração ou incapacidade, já que doença e ocorrência de limitação, o 10,6% responderam que já tiveram
percentuais de auto-avaliação “ruim” percentual de grau “grave” e “muito diagnóstico de artrite, 6,7% de an-
ou “muito ruim” são bem menores grave” de problemas é sempre supe- gina, 12,1% de asma, 6,2% de diabe-
entre aqueles que respondem que rior neste grupo quando comparado tes, 19,3% de depressão e 1,7% de

TA B E L A 7: Dis tr ibuiç ã o (% ) po r pr es enç a de do enç a de lo ng a dura ç ã o


o u inc a pa c ida de s eg undo o c o r r ênc ia de lim ita ç ã o da s a tiv ida des
ha bitua is po r s exo e fa ixa etá r ia

Pr es enç a de do enç a o u inc a pa c ida de


Fa ixa E tá r ia Sexo
N ã o tem Tem e lim ita Tem e nã o lim ita

Fe m i ni no 82, 5 11, 8 5, 8

18-34 M asc uli no 85, 8 9, 0 5, 2

To tal 84, 0 10, 5 5, 5

Fe m i ni no 69, 1 21, 6 9, 3

35-49 M asc uli no 77, 1 15, 2 7, 7

To tal 72, 6 18, 8 8, 6

Fe m i ni no 48, 0 35, 0 17, 0

50 + M asc uli no 57, 1 30, 5 12, 4

To tal 52, 2 32, 9 14, 9

Fe m i ni no 68, 5 21, 5 10, 1

To ta l M asc uli no 74, 8 17, 1 8, 1

To tal 71, 4 19, 5 9, 2


RADIS 23  JUL/2004
[ 26 ]

esquizofrenia. Para quase todos os “ruim” ou “muito ruim” é de 27%. Para percentual é de 19%. As razões entre
problemas, as proporções de indiví- os que disseram ter tido diagnóstico as proporções de indivíduos que per-
duos que já tiveram o diagnóstico da de esquizofrenia, artrite e diabetes, os deram todos os dentes naturais na
doença e se trataram por este moti- percentuais foram pouco menores, de categoria de pior NSE (0 a 3 bens) e
vo são ligeiramente inferiores aos que 26%, 24% e 24%, respectivamente, mas as encontradas na categoria de me-
tiveram apenas o diagnóstico. Depres- bem mais elevados do que o percentual lhor NSE (8 e mais bens) são da or-
são, entretanto, é uma exceção: o encontrado entre os indivíduos que não dem de 3:1, qualquer que seja a faixa
percentual de 19%, relativo aos indi- tiveram diagnóstico de nenhum destes etária ou sexo. Igualmente, o
víduos que informaram diagnóstico problemas, de 5%. percentual de indivíduos que tive-
desta doença, decresce para 14%, No que se refere à saúde bucal, ram problema bucal no ano anterior
entre aqueles que relataram trata- estima-se que 14% dos brasileiros per- e não receberam assistência foi de
mento além do diagnóstico. deram todos os seus dentes naturais 15,4%, entre os de pior condição
Dentre os problemas crônicos de (Tabela 8). O gradiente social para socioeconômica, de 10,1% na cate-
saúde considerados na pesquisa, a pior este indicador é pronunciado: entre goria intermediária, e de 4,6%, en-
auto-avaliação da saúde foi encontra- as mulheres com mais de 50 anos de tre aqueles de melhor condição.
da entre os que relataram diag- pior condição socioeconômica, o Quanto aos problemas provoca-
nóstico de angina, para os quais percentual alcança 56%, enquanto dos por causas externas nos 12 meses
o percentual de auto-avaliação entre aquelas de melhor situação o anteriores à pesquisa, chama a aten-

TA B E L A 8: Per c entua l (% ) de indivíduo s que per dera m to do s


o s dentes na tura is s eg undo fa ixa etá r ia , s exo e núm er o de bens

Sexo Fa ixa etá r ia 0-3 bens 4-7 bens 8 + bens To ta l

18- 34 3, 2 2, 0 0, 7 2, 3

35- 49 14, 6 10, 8 4, 3 10, 5


Fem inino
50+ 55, 9 46, 8 18, 9 45, 1

To tal 21, 3 18, 0 6, 9 17, 2

18- 34 3, 2 2, 4 - 2, 3

35- 49 6, 7 5, 6 1, 8 5, 2
M a s c ulino
50+ 33, 3 33, 4 11, 7 29, 5

To tal 12, 9 12, 3 4, 5 11, 2

18- 34 3, 2 2, 2 0, 4 2, 3

35- 49 11, 0 8, 5 3, 3 8, 2
To ta l
50+ 45, 6 40, 7 15, 6 37, 8

To tal 17, 5 15, 4 5, 9 14, 4

TA B E L A 9: G a s to (R $) m édio do m ic ilia r m ens a l po r c o m po nentes do g a s to e núm er o de bens

C o m po nentes do G a s to
To ta l
N úm er o A lim enta ç ã o Ca sa E duc a ç ã o Sa úde O utr o
de bens
G a s to G a s to G a s to G a s to G a s to G a s to
% % % % % %
(R $) (R $) (R $) (R $) (R $) (R $)

0-3 169, 54 57, 53 71, 16 24, 15 13, 31 4, 52 38, 87 13, 19 1, 79 0, 61 294, 68 100, 00

4-7 283, 86 41, 97 208, 91 30, 89 45, 93 6, 79 120, 53 17, 82 17, 04 2, 52 676, 27 100, 00

8+ 504, 53 25, 44 566, 54 28, 57 267, 12 13, 47 424, 32 21, 40 220, 69 11, 13 1983, 20 100, 00

To ta l 284, 27 37, 18 223, 39 29, 22 70, 16 9, 18 143, 10 18, 72 43, 64 5, 71 764, 56 100, 00
RADIS 23  JUL/2004
[ 27 ]

ção corresponde às quotas de segu-


ro de saúde privado. O gasto médio
mensal com plano de saúde privado
foi de R$ 160,64, e com medicamen-
tos, de R$ 88,83, quatro vezes maior
do que a quantia gasta pelos mais
pobres. Entre estes, 61% do gasto
mensal em saúde (R$ 38,87) são con-
sumidos com medicamentos, equiva-
lente à quantia de R$ 22,88.
O percentual de indivíduos que
tiveram que pegar empréstimo ou ven-
der objetos de valor para pagar des-
pesas com saúde foi de 9% na popula-
ção brasileira, variando de 7% a 11%,
dos menos aos mais carentes.
Entre as pessoas que têm doen-
ça de longa duração ou incapa-
cidade com limitação dela resul-
Campo Grande — MS
tante, o percentual alcança 16%.
ção o grande percentual de indivídu- lios com número precário de bens, o
os que sofreram lesões corporais gasto médio domiciliar mensal foi de Planos de saúde
provocadas por acidentes ou agres- cerca de R$ 295, e o gasto em saúde, Os resultados da pesquisa indicam
sões, igual a 11%. Entre os entrevista- de R$ 39, representou 13% do total. que 25,8% dos brasileiros têm planos
dos do grupo etário de 18 a 34 anos Nos domicílios mais ricos, o gasto de saúde, sendo que 2,2% de servidor
do sexo masculino, o percentual do- médio mensal foi de quase R$ 2 mil, e público, 21,2% plano privado, e 2,4% de
bra de valor, alcançando 22%. a fração gasta com saúde, de 21%. servidor público e privado. Analisando-
A cobertura de exame ginecoló- Do gasto mensal com saúde, os se por categoria de número de bens,
gico (nos três anos anteriores) com medicamentos constituíram o prin- o percentual de pessoas com plano de
Papanicolaou, entre mulheres de 18 cipal componente, correspondendo saúde privado varia de 4%, entre os de
a 69 anos, foi de 66%, variando de 54%, a 32% do total, sendo que a média pior NSE, a 64%, entre os de melhor
entre as mais carentes, a 81%, entre mensal de gastos com medicamen- condição socioeconômica.
as que possuem oito ou mais bens no tos foi de R$ 44,27 (Tabela 10). Em
domicílio. segundo e terceiro lugar, estão os Desempenho do Sistema de
gastos com plano de saúde (R$ 35,15) Saúde
Gastos em saúde e com dentista (R$ 22,08), represen- Entre os 5.000 indivíduos que
A média de gasto total mensal foi tando, respectivamente, 25% e 16% participaram da pesquisa, 70% preci-
de R$ 765, sendo que o gasto médio do gasto mensal com saúde (R$ 143). saram de assistência de saúde no ano
mensal em saúde foi de R$ 143, apro- Na categoria mais abastecida, a mé- anterior. O percentual de utilização
ximadamente, correspondendo a 19% dia de gasto em saúde foi maior do foi maior para o sexo feminino quan-
do gasto total (Tabela 9). Nos domicí- que R$ 400, sendo que a maior fra- do comparado ao masculino, e mais

TA B E L A 10: G a s to (R $) m édio do m ic ilia r m ens a l em s a úde


po r c o m po nentes do g a s to e núm er o de bens

N úm er o de bens
To ta l
C o m po nentes do G a s to 0-3 4-7 8+

G a s to (R $) % G a s to (R $) % G a s to (R $) % G a s to (R $) %

M edic a m ento s 22, 88 58, 9 43, 42 36, 0 88, 83 20, 9 44, 27 30, 9

Pla no de s a úde 1, 69 4, 3 18, 61 15, 4 160, 64 37, 9 35, 15 24, 6

Dentis ta 2, 78 7, 2 20, 49 17, 0 65, 28 15, 4 22, 08 15, 4

Ó c ulo s , pr ó tes es , etc 2, 98 7, 7 11, 51 9, 5 26, 73 6, 3 11, 32 7, 9

Inter na ç õ es 2, 29 5, 9 7, 98 6, 6 27, 17 6, 4 9, 22 6, 4

E xa m es 2, 27 5, 8 7, 06 5, 9 9, 32 2, 2 5, 99 4, 2

C o ns ulta s m édic a s 2, 39 6, 1 5, 93 4, 9 10, 37 2, 4 5, 57 3, 9

To ta l do g a s to c o m s a úde 38, 87 100, 0 120, 53 100, 0 424, 32 100, 0 143, 10 100, 0


RADIS 23  JUL/2004
[ 28 ]

elevado na categoria de indivíduos camentos prescritos, 5% conseguiram pamentos do profissional de saúde


mais abastecidos, para ambos os se- adquirir grande parte e 8%, muito pou- eram inadequados e 8%, que as habi-
xos (Figura 4). A utilização é também cos ou nenhum. Na categoria de indiví- lidades do profissional de saúde eram
mais freqüente entre os que têm pla- duos de pior condição social, 10,2% não inadequadas. Já entre os usuários do
nos de saúde (81%) do que entre os conseguiram adquirir os medicamentos SUS, estes percentuais se elevam, res-
que não têm (67%). prescritos. A falta de dinheiro foi o mo- pectivamente, para 24%, 12% e 10%.
Somente 127 dos entrevistados tivo mais freqüentemente alegado. Uma proporção significativa de
(2,7%) responderam que não consegui- usuários se sentiu discriminada no
ram assistência de saúde na última vez Avaliação do atendimento atendimento ambulatorial: 9% senti-
que precisaram. Este percentual foi ambulatorial ram que receberam tratamento pior
de 3,3% entre os mais carentes, de Dos 2.396 indivíduos que rece- do que às outras pessoas por falta de
2,8% na categoria intermediária e de beram algum cuidado de saúde sem dinheiro e 8%, devido à classe social
0,8% entre os que possuem oito ou internação no ano anterior, 19% pa- (Figura 5). Entre os usuários do SUS,
mais bens no domicílio. garam diretamente o atendimento estes percentuais foram de 11% e 10%.
Em relação à obtenção dos medi- (sem reembolso), 21% pagaram pelo Do total de usuários, 1,2% se sentiu
camentos prescritos no último plano e 60% utilizaram o SUS. Entre discriminado pela cor.
atendimento de saúde que pre- todos os usuários, 19% acharam que Dentre todos os aspectos do
cedeu o inquérito, 87% conse- a disponibilidade de medicamentos atendimento ambulatorial que foram
guiram adquirir todos os medi- não era adequada, 9%, que os equi- avaliados pelos usuários, o “tempo de
RADIS 23  JUL/2004
[ 29 ]

espera” foi o que teve maior grau de mento” e “tempo para fazer pergun- Comparando-se o percentual
insatisfação (21%), seguido, de perto, tas” foram avaliados como “ruim” ou de usuários que fizeram uma avalia-
por “liberdade de escolha do profissi- “muito ruim” por pouco mais de 10% ção “boa” ou “muito boa” por for-
onal de saúde” (20%) (Figura 6). Os as- dos usuários. Percentuais pequenos de ma de pagamento do atendimento,
pectos “participação na tomada de insatisfação, inferiores a 5%, foram invariavelmente para todos os as-
decisões sobre o tratamento”, “pos- obtidos para “clareza nas explica- pectos estudados, o percentual é
sibilidade de obter informações sobre ções”, “privacidade com os profissio- sempre menor para os usuários do
outros tipos de tratamento”, “espa- nais de saúde”, “respeito no tratamen- SUS (Tabela 11). Entre estes, menos
ço disponível das salas de espera e dos to”, “sigilo sobre as informações da metade fez uma avaliação positi-
exames”, “tempo gasto de desloca- pessoais” e “respeito à intimidade”. va do “tempo de espera” (45%) e da

TA B E L A 11: Per c entua l (% ) de indivíduo s c o m a va lia ç ã o "m uito bo a " o u "bo a " s eg undo
a s pec to s r ela tivo s à a s s is tênc ia a m bula to r ia l po r fo r m a de pa g a m ento do a tendim ento

A s pec to Dir eto Pla no SU S To ta l

Tem po de es pera 74, 8 72, 1 45, 4 56, 7

L iber da de de es c o lha do pr o fis s io na l de s a úde 87, 3 78, 0 48, 9 64, 6

Pa r tic ipa ç ã o na to m a da de dec is õ es s o br e o tra ta m ento 83, 5 86, 7 59, 8 70, 0

Po s s ibilida de de o bter info r m a ç õ es s o br e o utr o s tra ta m ento s 85, 2 86, 3 60, 1 70, 5

E s pa ç o dis po nível da s s a la s de es pera e do s exa m es 87, 9 88, 1 63, 9 73, 6

Tem po pa ra fa z er per g unta s 92, 0 88, 6 65, 9 75, 7

Tem po g a s to de des lo c a m ento 78, 1 78, 3 68, 9 72, 6

C la r ez a na s explic a ç õ es do s pr o fis s io na is de s a úde 94, 6 92, 5 80, 0 85, 5

L im pez a da s ins ta la ç õ es do s er v iç o 96, 9 98, 3 79, 3 86, 7

Pr iva c ida de c o m o s pr o fis s io na is de s a úde 92, 2 96, 1 83, 3 87, 7

Tra ta m ento r es peito s o 96, 3 96, 8 86, 0 90, 2

Sig ilo s o br e a s info r m a ç õ es pes s o a is 96, 2 97, 0 89, 0 92, 2

Intim ida de r es peita da 96, 0 98, 1 94, 0 95, 2


RADIS 23  JUL/2004
[ 30 ]

usuários do atendimento ambulatorial:


13% por falta de dinheiro e 11% pela
classe social. Entre os que não paga-
ram pela internação, 15% e 13% senti-
ram que foram tratados de modo pior
por estes dois motivos, respectivamen-
te. No total dos usuários, 1,5% se sen-
tiu discriminado pela cor (Figura 5,
na página 28).
Entre todos os aspectos da
internação avaliados pelos usuários,
o maior percentual de insatisfação
correspondeu à “liberdade de es-
colha do profissional de saúde”, de
25% (Figura 8). Em segundo lugar, foi
Feliz Natal — MT “facilidade em estar em contato com
o mundo exterior”, para o qual 19%
“liberdade de escolha do pro- atendidos pelo SUS, 22,5% pagaram fizeram uma avaliação ruim. Cerca
fissional de saúde” (49%), e pelo plano de saúde e 6,5% pagaram de 15% avaliaram mal os seguintes
menos do que 70% da “parti- diretamente, sem reembolso. aspectos: “tempo gasto com deslo-
cipação na tomada de deci- Do total de usuários, 9% relata- camento”; “tempo de espera até ser
sões sobre o tratamento” (60%), da ram insatisfação com as habilidades atendido”; “possibilidade de obter in-
“possibilidade de obter informações do profissional de saúde e 8% com formações sobre outros tipos de tra-
sobre outros tratamentos” (60%), do os equipamentos, enquanto 7% tamento”; “participação na tomada de
“espaço disponível das salas de es- acharam inadequada a disponibilida- decisões sobre o tratamento”; “tem-
pera e dos exames” (64%), do “tem- de de medicamentos. Entre os usu- po para fazer perguntas”. Já a “priva-
po para fazer perguntas” (66%), bem ários do SUS, estes percentuais se cidade com os profissionais de saúde”
como do “tempo gasto de desloca- elevam para 10%, 10% e 9%, respec- e “facilidade em ter visitas” foram ava-
mento” (69%). O índice médio de ava- tivamente. liadas como “ruim” ou “muito ruim”
liação do atendimento ambulatorial, Quanto ao tempo de espera para por aproximadamente 12% dos entre-
numa escala de 0 a 100, foi de 77, a internação (desde o momento que vistados, enquanto “espaço disponí-
variando de 70, entre os usuários do o usuário precisou da internação), mais vel na internação” e “clareza nas ex-
SUS, a 89, entre os que pagaram o de 90% dos usuários conseguiram a plicações”, por 9%. A “limpeza das
atendimento pelo plano de saúde. internação em menos de um dia, tan- instalações” foi objeto de insatisfação
to para os que não pagaram o atendi- para 6%, e “sigilo sobre as informações
Avaliação da assistência de mento (SUS) como para aqueles que pessoais”, “respeito no tratamento”,
saúde com internação pagaram pelo plano (Figura 7). e “respeito à intimidade”, para me-
Dos 5.000 entrevistados, 1.547 Fração considerável dos entrevis- nos de 5% dos usuários.
(31%) relataram assistência de saúde tados com internação nos últimos 5 A análise comparativa das avali-
com internação nos cinco anos an- anos se sentiu discriminada, em níveis ações dos usuários por forma de pa-
tes da pesquisa. Destes, 71,0% foram mais elevados ainda, em relação aos gamento da internação indica que
RADIS 23  JUL/2004
[ 31 ]

os percentuais de satisfação entre os do SUS, menos de 50% fizeram de decisões sobre o tratamento”
os usuários do SUS são sempre in- uma avaliação boa da “liberdade de e da “facilidade de estar em con-
feriores aos obtidos entre os usuá- escolha dos profissionais de saúde” tato com mundo exterior”; e me-
rios que pagaram o atendimento (47%); menos do que 60%, da “pos- nos do que 70% do “tempo gasto
pelo plano de saúde, para qualquer sibilidade de obter informações com deslocamento”, do “tempo
dos aspectos contemplados na pes- sobre outros tipos de tratamento” para fazer perguntas”, do “tempo
quisa (Tabela 12). Entre os usuári- (58%), da “participação na tomada de espera até ser atendido”, e da

TA B E L A 12: Per c ent ua l ( % ) de i ndi ví duo s c o m a va li a ç ã o " m ui t o bo a " o u " bo a " ,


s eg undo a s pec t o r ela t i vo à i nt er na ç ã o po r fo r m a de pa g a m ent o da i nt er na ç ã o

A s pec to Dir eto Pla no SU S To t a l

L i ber da de de es c o lha do pr o fi s s i o na l de s a úde 77, 6 84, 5 47, 2 57, 5

Po s s i bi li da de de o bt er i nfo r m a ç õ es s o br e o ut r o s t ra t a m ent o s 77, 2 85, 8 58, 3 65, 7

Pa r t i c i pa ç ã o na t o m a da de dec i s õ es s o br e o t ra t a m ent o 78, 2 84, 0 59, 0 65, 9

Tem po g a s t o de des lo c a m ent o 71, 1 81, 6 60, 8 66, 1

Fa c i li da de em es t a r em c o nt a t o c o m o m undo ext er i o r 76, 5 82, 9 59, 2 65, 6

Tem po pa ra fa z er per g unt a s 77, 2 89, 2 62, 9 69, 8

Tem po de es pera a t é s er a t endi do 72, 4 86, 4 67, 8 72, 3

Pr iva c ida de c o m o s pr o fis s io na is de s a úde 87, 2 90, 6 67, 9 74, 3

E s pa ç o dis po nível na inter na ç ã o 87, 9 91, 4 71, 5 77, 0

Fa c i li da de em t er v i s i t a s ( fa m í li a e a m i g o s ) 82, 0 88, 6 69, 9 74, 9

C la r ez a na s expli c a ç õ es do s pr o fi s s i o na i s de s a úde 86, 3 90, 5 78, 3 81, 5

L i m pez a da s i ns t a la ç õ es do s er v i ç o 89, 4 91, 7 78, 0 81, 8

Si g i lo s o br e a s i nfo r m a ç õ es pes s o a i s 89, 2 96, 6 81, 5 85, 5

Tra t a m ent o r es pei t o s o 90, 6 93, 8 85, 8 87, 9

Int i m i da de r es pei t a da 95, 2 96, 8 90, 2 92, 0


RADIS 23  JUL/2004
[ 32 ]

“privacidade com os profissionais


de saúde”. O índice médio de avalia-
ção da internação, numa escala de
0 a 100, foi de 73, para o total de
usuários; de 88, para aqueles que pa-
garam a internação pelo plano de saú-
de; e de 68, para os usuários do SUS.

4.7. Grau de satisfação


com o funcionamento
da assistência
A todos os 5.000 entrevistados
foi feita a seguinte pergunta: “Em
geral, qual o seu grau de satisfação
com o funcionamento da assistên-
cia de saúde no país?”. O
percentual de insatisfação foi
de 58% (22% insatisfeitos e 36%
muito insatisfeitos) e o de sa-
tisfação de apenas 27%, com
19% satisfeitos e 8% muito sa-
tisfeitos (Figura 9).
O grau de insatisfação foi ligei-
ramente superior entre as mulheres
quando comparadas aos homens, e na
faixa etária intermediária (35 a 49
anos), para ambos os sexos. Diferen-
ças maiores foram encontradas por
grau de escolaridade, observando-se
que o grau de insatisfação é tanto
maior quanto melhor o nível de ins-
trução (Figura 10).
Não houve diferença significa-
tiva entre os percentuais de insa-
tisfação quando os participantes
que tiveram assistência de saúde no
último ano foram comparados aos
que não tiveram. Por outro lado, o
fato de não ter conseguido assis-
tência quando precisou foi fator
determinante da insatisfação. Entre
os 2,7% do total de entrevistados
que não conseguiram assistência, o
percentual de insatisfação atingiu
quase 80%. Da mesma forma, pagar
por plano de saúde privado também
se mostrou uma variável associada à
insatisfação. Entre os entrevistados
que têm plano de saúde privado, o
percentual de insatisfeitos é 72%,
percentual este que aumenta pro-
porcionalmente aos gastos com saú-
de, particularmente com a cota de
seguro mensal de saúde (Figura 11).
Para os que gastam mais de R$ 200
por mês com plano de saúde, o
percentual de insatisfação é 78%.
Variações pouco relevantes no
percentual de insatisfação foram en-
contradas para o percentual do gas-
to domiciliar mensal com saúde, evi-
denciando-se que o valor absoluto
do gasto foi bem mais importante do
que o relativo. A presença de doen-
ça de longa duração ou incapacida-
de também não mostrou influência
na insatisfação.
RADIS 23  JUL/2004
[ 33 ]

Referências bibliográficas Houweling TA, Kunst AE, Mackenbach JP. World inequalities. Journal of Epidemiology and
Health Report 2000: inequality index and Community Health, 56:177-182, 2002.
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recommendations on policy consequences of 293: 1595-96, 2001. on Restructuring of Health Services and
the World Health Report 2000. Lancet, Corporate Public Health in the Era of Reforms.
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Report 2000: What does it tell us about health Rosén M. Can the WHO Health Report improve Survey Study on Health and
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Publications.htm], 2000. Organization’s measurement of health Health Report 2000. Geneva: WHO, 2000.

Avanço na avaliação dos sistemas de saúde


prevalência de fatores e situações de

A metodologia da nova Pesquisa


Mundial de Saúde da OMS vem
correspondendo às expectativas de
risco. “Até o momento, não se dispu-
nha de informações com abrangência
nacional para esses aspectos”. Há tam-
especialistas como a epidemiologista bém dois pontos relevantes para o SUS.
Rita Barradas Barata, do Departamen- “Várias informações relativas à cober-
to de Medicina Social da Faculdade tura de atividades sugerem que a uni-
de Ciências Médicas Santa Casa São versalidade do sistema é um fato real”,
Paulo. Ela destaca o esforço exigido diz. Das pessoas que referiram proble-
na elaboração de uma metodologia mas de saúde, 97,3% afirmaram ter obti-
mais apropriada para a avaliação do gastos com saúde numa única medi- do algum tipo de assistência. Dessas,
desempenho dos sistemas de saúde. da”, afirma Rita Barradas. 86,9% obtiveram todos os medicamen-
“Foi um passo importante no desen- Para ela, a manutenção das di- tos prescritos. Apenas 13,1% das mu-
volvimento de metodologias de avali- ferentes dimensões e seus indicado- lheres referiram nunca ter realizado
ação de sistema de saúde”, acredita. res permite compreender melhor o o exame de Papanicolau. “O grande
“O desafio de aprimorar formas com- desempenho de cada sistema avalia- desafio para o sistema brasileiro pa-
paráveis de avaliação não é peque- do. “A pesquisa abarca dimensões re- rece estar nos dois outros princípios
no, pois se trata de desenvolver es- lativas à situação de saúde (estado constitucionais: a integralidade e a
tratégias sintéticas sem perder, no de saúde e prevalência de proble- equidade”, avalia.
processo, a complexidade do objeto mas selecionados), distribuição de Os dados ainda permitem avaliar
que se pretende analisar”. determinantes de saúde e prevalência aspectos como a comunicação soci-
A pesquisa 2003 incluiu mudan- de fatores de risco, acesso a serviços al. “Aparentemente, apontam uma
ças de metodologia em relação à de de saúde e cobertura de ações de contradição entre a avaliação que os
2000, cujos resultados, lembra a saúde, satisfação dos usuários e gas- indivíduos fazem do atendimento par-
epidemiologista, foram “polêmicos e tos com saúde. Assim, é possível ter ticular por eles recebido e a avalia-
incoerentes”. “A modelagem matemá- um panorama mais próximo da com- ção que fazem do sistema de saúde
tica de um conjunto de indicadores plexidade desse objeto, e aquilatar os como um todo”, diz Rita.
para produzir uma única nota, e com esforços feitos em cada país para aten- — O grau de insatisfação é mui-
isso posicionar cada país e seu siste- der às necessidades de saúde da po- to maior na avaliação do sistema do
ma de saúde num ranking, resultou pulação”, analisa. Outro ponto positi- que na avaliação dos atendimentos
num procedimento falho, artificial e vo destacado por Rita Barradas é a recebidos. O esclarecimento dessa
enganoso”, sustenta. Na atual pesqui- possibilidade de troca de experiênci- aparente contradição exige pesquisas
sa, no entanto, essas lacunas foram as entre diferentes países, uma vez mais aprofundadas desses aspectos,
preenchidas e o resultado agradou. que a mesma metodologia foi utilizada inclusive, de possíveis preconceitos
“Não se procurou transformar aspec- por todos eles. que podem perdurar na população
tos tão distintos como a situação da A epidemiologista ressalta as infor- em relação a políticas públicas e so-
saúde, a satisfação dos usuários e os mações inéditas da pesquisa, como a ciais. (W. V.)
RADIS 23  JUL/2004
[ 34 ]

SERV I Ç O

EVENTOS Sanitária, de 21 a 24 de novembro, PUBLICAÇÕES


em Caldas Novas (GO). Destinado a
3º F ÓRUM SOBRE E DUCAÇÃO profissionais das diversas áreas de O PAS /OMS/M INISTÉRIO DA S AÚDE
EM S AÚDE abrangência da vigilância sanitária,
tanto dos serviços públicos quanto Uso racional de medicamentos —

A Secretaria de Gestão do Traba-


lho e da Educação na Saúde, do
Ministério da Saúde, e a Faculdade
de instituições de ensino e pesquisa,
o evento apresenta como tema cen-
tral “Vigilância sanitária: consciência
temas selecionados é a primeira publi-
cação de uma série téc-
nica sobre uso de
de Ciências da Saúde da Universida- e vida” e está organizado em três ei- medicamentos.
de de Brasília realizam o 3º Fórum de xos: “Ciência, saúde e sociedade”, Nesta edição, a
Educação e Saúde da Região Centro- “Tecnologia, ética e vigilância sanitá- médica Lenita
Oeste e Distrito Federal, para discu- ria” e “Políticas e sistemas de vigilân- Wannmacher trata
tir o processo de educação perma- cia nas Américas”. A inscrição de tra- dos contraceptivos
nente como prática da saúde balhos pode ser feita até 20 de julho orais. Entre os as-
coletiva. Participam docentes, pes- (pelo correio) e até 1º de agosto (pela suntos a serem
quisadores, representantes do movi- internet). abordados nos pró-
mento de educação popular em saú- Mais informações ximos números es-
de, gestores, profissionais de saúde, Secretaria do evento Av. Anhanguera, tão: anti-inflamatóri-
estudantes e os interessados no de- 5.195, Setor Coimbra — Goiânia/GO os, reposição hormonal, tratamento
bate, na reflexão e no enfrentamento CEP 74043-011 da obesidade, da depressão e da
dos desafios teóricos e práticos da Tel. (62) 201-4149 / Fax. (62) 201-4150 osteoporose.
Educação Permanente em Saúde. E-mail simbravisa@visa.goias.gov.br Mais informações
Data 21 a 24 de julho Site www.simbravisa.com.br Centro de Documentação da Opas
Local Faculdade de Ciências da Tel. (61) 426-9582
Saúde da UnB — Brasília, DF E-mail cedoc@bra.ops-oms.org
Mais informações 3ª C ONFERÊNCIA M UNDIAL Para download:
www.unb.br/fs/forumeducasaude DE B IOÉTICA www.opas.org.br/medicamentos/
docs/RelatorioAtenfar20012002.pdf

C ONGRESSO L ATINO -A MERICANO


DE B IOTECNOLOGIA 2004
E stão abertas até 15 de agosto as
inscrições de trabalhos para a 3ª
Conferência Mundial sobre Bioética, U NICEF
entre os dias 27 de setembro e 1º de

R ealizado pela Federación Latina-


mericana de Asociaciones de Em-
presas de Biotecnologia e pela Asso-
outubro, em Cuenca, na Espanha, or-
ganizada pela International Society of
Bioethics (SIBI). Com os temas “Pro-
Família brasileira fortalecida, edita-
da pelo Fundo
das Nações Uni-
ciação Brasileira de Empresas de blemas com água: escassez e conta- das para a In-
Biotecnologia, o congresso preten- minação”, “Informação e manipulação” fância (Unicef),
de fazer balanço do desenvolvimento e “Pesquisas e usos de células-tron- governo fede-
da biotecnologia na América Latina e co”, o evento pretende reunir os mais ral e 28 organi-
analisar sua aplicação na solução de renomados especialistas no assunto. zações, é uma
problemas nas áreas de saúde, Mais informações publicação composta de uma caixa
agropecuária, meio ambiente e de- Site www.sibi.org/3congreso/ingles/ com cinco álbuns sobre os cuidados
senvolvimento econômico. p1.htm necessários às crianças na primeira in-
Data 16 a 20 de agosto fância (pré-natal a 6 anos). O objetivo
Local Centro de Convenções do CICLO DE PALESTRAS do kit, que também traz tópicos so-
Bahia, Salvador bre direitos e cidadania infantis, é aju-
Mais informações
Associação Brasileira de Empresas
de Biotecnologia
E m comemoração aos 30 anos do
Programa de Pós-Graduação em
Saúde Coletiva do Instituto de Medi-
dar as famílias a garantir saúde, segu-
rança e estímulos positivos aos filhos.
As mensagens são simples e ilustradas,
Tel. (21) 2220-1109 cina Social (IMS), da Uerj, será reali- de forma a traduzir o conhecimento
E-mail biolatina@abrabi.org.br zado um ciclo de palestras. Os temas: científico sobre o desenvolvimento da
Site www.abrabi.org.br  Dia 12 de agosto — “A História do SUS”, criança — incluindo as melhores prá-
com o conferencista Hésio Cordeiro; ticas de incentivo à capacidade de
 Dia 9 de setembro — “Imagens: his- pensar e de dominar a fala e as habili-
2º SIMPÓSIO BRASILEIRO DE VIGILÂNCIA tória, arte e medicina”, com Roberto dades sociais e emocionais.
SANITÁRIA E 1º SIMPÓSIO PAN-AMERICANO Eugênio de Almeida Magalhães; Mais informações
DE V IGILÂNCIA SANITÁRIA  Dia 14 de outubro — “O Público e Por carta Unicef, Caixa Postal 08485,
o privado na saúde”, com Cid M. M. Vianna, Brasília, DF-CEP 70312-970

E stão abertas as inscrições para o


2º Simpósio Brasileiro de Vigilân-
cia Sanitária, paralelamente ao 1º
Eduardo Faerstein e Madel Therezinha Luz.
As palestras acontecem sempre às
10h, no auditório do IMS, na Uerj, 6º
Por fax (61) 349 0606
Por e-mail brasilia@unicef.org
Para download www.unicef.org/brazil/
Simpósio Pan-Americano de Vigilância andar, sala 6.012, bloco E. fbf_albuns.htm
RADIS 23  JUL/2004
[ 35 ]

PÓS-TUDO

Desafio à saúde pública


oficialmente. Observando as mudan- Conselho Nacional
ças nos perfis de mobimortalidade de Saúde. Em 16
na maioria das regiões latino-ame- de maio de 2001
ricanas, a Organização Pan-Ameri- (não sem muitos
cana da Saúde, a partir de 1993, percalços e delon-
passou a recomendar, insistente- gas), o documento
mente, aos países-membros que in- foi oficializado por
cluíssem o tema na sua agenda de portaria com a se-
intervenção. Mais tarde, perceben- guinte denominação:
do a gravidade da situação em Política Nacional de Redução da
muitas outras partes do mundo, Morbimortalidade por Acidentes e Vi-
e não só na região das Américas, olências. Esse documento contém a
a Organização Mundial da Saúde definição dos conceitos, o diagnósti-
ILUSTRAÇÃO: HÉLIO NOGUEIRA

(OMS) dedicou-lhe prioridade na co da situação, as diretrizes e as es-


Assembléia Mundial de Saúde em tratégias de ação intersetorial, res-
1997. E, em 2002, a OMS pu- saltando a responsabilidade do setor.
blicou extenso informe, Hoje estão em curso muitas
denominado Relatório ações de nível nacional, estadual e
Mundial sobre Violência municipal de prevenção da violência
e Saúde, trazendo para e dos acidentes, algumas
a área uma refle- existem antes da portaria
xão sobre sua responsa- que define a política, e ou-
bilidade específica e tras são inspiradas nela. No
Editorial de Cadernos de Saúde Pública, intersetorial. momento presente, está
v. 20, nº 3, maio/junho de 2004, edi- No Brasil, também sendo elaborado um Plano
tado pela Escola Nacional de Saúde foi difícil introduzir o as- de Ação que orientará e in-
Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro sunto dos Acidentes e Vi- tegrará as diversas perspecti-
olências na agenda da po- vas e iniciativas nacionais.
A DIFÍCIL E LENTA ENTRADA lítica de saúde, apesar Tudo tem sido muito
DA VIOLÊNCIA NA AGENDA de, desde a década de lento e há vários motivos
DO SETOR SAÚDE 1980, esses eventos constituírem a para isso. O principal é que, numa
segunda causa de óbito no perfil da área dominada pela mentalidade
Maria Cecília de Souza Minayo
mortalidade geral. Desde então, essa biomédica, “as violências e os aci-
situação vem sendo evidenciada e dentes” costumam ser

A violência é, antes de tudo, uma


questão social e, portanto, em si,
não é objeto próprio do
publicizada por pesquisadores e es-
tudiosos do conceito e das infor-
mações sobre “causas ex-
vistos como
um objeto es-
tranho a seu
FOTOS: REPRODUÇÃO

setor saúde. Ela se tor- ternas”, rubrica que na universo


na um tema desse cam- Classificação Internacional conceitual.
po: (1) pelo impacto que de Doenças designa as Porém, é pre-
provoca na qualidade de mortes, as lesões e os ciso que to-
vida; pelas lesões físicas, traumas derivados do fe- dos saibam
psíquicas e morais que nômeno. No final da déca- que o perfil
acarreta e pelas exigênci- da de 90, mais precisa- de mortalidade e da morbidade da
as de atenção e cuidados mente em 1998, depois da população brasileira hoje é marca-
dos serviços médico-hospi- Assembléia Mundial de do mais pelas condições, situações
talares; também, (2) pela concepção 1997 que privilegiou o assunto, o Mi- e estilos de vida do que pelas enfer-
ampliada de saúde, a violência é obje- nistério da Saúde criou um Comitê midades tradicionais. Violências e
to da intersetorialidade, na qual o Técnico com a finalidade de diag- acidentes fazem parte desses pro-
campo médico-social se integra. nosticar e de propor ações especí- blemas que devem merecer tanta
Embora já ninguém duvide que ficas para o setor. atenção como a Aids, o câncer e as
violências e acidentes sejam proble- Tive o privilégio de ser a presi- enfermidades cardiovasculares.
mas que afetam a saúde, ao longo dos dente desse Comitê que compartilhou
anos esses fenômenos vêm sendo tra- com mais 150 profissionais de todo o Maria Cecília de Souza Minayo é Coor-
tados como objeto exclusivo da se- país a discussão da proposta, poste- denadora do Centro Latino-America-
gurança pública. Apenas na década riormente analisada e aprovada pelas no de Estudos sobre Violência e Saú-
de 90 o setor começou a assumi-los instâncias tripartites do SUS e pelo de Jorge Carelli (Ensp/Fiocruz).
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca
50 anos contribuindo para a melhoria das condições
de vida e saúde da população brasileira

www.ensp.fiocruz.br
Rua Leopoldo Bulhões, 1.480
sala 310 — Manguinhos
Rio de Janeiro / RJ — 21041-210
Tel. (21) 2598-2525 R. 2546
Fax (21) 2290-0484

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