You are on page 1of 11
owe. = 1 a ce eed duck des och Beets 3 aS 4 LEANDRO GOMES DE on iy ts - ig i “ti is = J Tempo de hoje = CED 0 Sorteio Militar ' elt tosttcetee tess Owe O editor reserva os direitos de repro- dugiio de acordo com_o artigo 649 do eodigo Civil. ° EDITOR PEDRO BAPTISTA [Rua 7 de Setembro, nv. 17 GUARABIRA ESTADO DA PARAs:YBA DO NORTE =1918-—- = aR ae Pe Fe EE EE Sede tstdhasdocsss cas PEERER RESTS LET ESET PEE « b ; eed Ps aaa at li LEANDRO GOMES DE BARROS Nasceu em 1865 no municipio da villa do Pombal, Estado da Parahy- ba, e falleceu a 4 de Marco de 1918 no Recife. . @ « Aviso SA IS Tendo fallecido 0 poeta Le andro Gomes de Barros passou ao meu possuido a propriedade ma- terial de toda a-sua obra littera- tia. S6 a mim pois cabe o direito de reprodugao dos folhetos do dito poeta e acho-me habilitado a agir dentro da lei contra quem com- metter o crime de reproducao de ditos folhetos. Previno ds pessoas que nego- ciam com folhetos que tenho em deposit) todos os que o poeta es- creveu e que vendo-os pelo pre- co do costume, dando boa com- missao, Pedro Baptista Guarabira, Estado da Parahyba do Norte em 30 de Marco de 1918. LIVRARIA DO POVO kua 7 de Setembro n° 17 O Tempo de hoje antes de haver esta guerra © mundo éra sofho dourado, A carne custava pouco, © bacalhdo quasi dado, Assucar ninguem queria, Café moido era achado. A Guerra chegon, Bacalhdo damnou-se, A carne acabou-se Tudo peiorou, Fava levantou, Vejam como esta Carne Ceara Trez mil reis o kilo! E é mesmo aquillo Batata e card. Entao depois desta guerra Batata esta caprichosa, . Diz que entre os legumes E’ ella a mais saborosa, Diz eu nie caso cem pio, Pio ¢ de raga sebosa. « ae Disse: é estrangeira Eu nfo gosto d’ella | $6 gosto d’aquella ' Que for Brasileira; Prezo macacheira, Gosto do café, Nao tomo rapé E nem masco fumo, Hoje até estrumo No prego faz pé, O povo lamenta o tempo Quando tudo era barato Que a praca como uma louca Se curvava.aos pés do matto Pedindo para comprar-lhe Chamando ao matuto ingrato. Com todo cuidado Mostrava a fazenda, Chita fita e renda, Que fosse de agrado, Todo delicado, Patrées e caxeiros, Grandes trapicheiros Aos freguezes vinham $6 nao Ihe fasiam Mudarem-lhe cueiros. Agora é pelo contrario, O freguez chega de féra ~-"Petgunta—Patrao tem isso? Responde, mais cori demora, Tenho. porem custa tanto, Nao quero vender agora, 2 nt Ata li aS th encom ere tit! ae 2. ine No tempo pagsado O freguez chegava Tuc) adulava Muito interessado, O portuguez de um lado Muito satisfeito, Disia com geito: Benha se sentare Querendo mamare Esta aqui o peito. Hoje em dia, nem se occupam Botarem nada nas amostras, O freguez falla com elles Elles respondem de costas Que o freguez reina pegal-o Cortal-o em pequenas postas. O mundo faz crér Que se viciou, A praca botou O matto a perder Hoje sé se vé Roubo e corrupcao, Prende-se um ladrao Elle se faz bdho, =F" diz:—Nio fiz roubo Isso & cavacio,.. Cinco litros de batatas Nunca deu mais que tostio Farinha doze vintens, Uma pataca o feijiig.' Fumo dez tostées a vara Era uso do sertao. Te ¢ See Hoje tudo vai, © tempo € moderno, Isso é um inferno Onde tudo cae, O filho 30 pae Se se descuidar E for lhe comfiar Um kilo de arroz Vé faltarem dois Se elle repezar; Alem do prego alterado Que a mercadoria tem Falta no kilo ow na cuia; Como se salva ninguem? S6 0 povo do governo Pode dizer; Eu vou bem. No tempo passado Ss Qualquer um freguez e@ =P 'ra_passar um mez a Bastava. um cruzado, Z c_____._Ta.no mercado Comprava a farinha, De tudo que tinha, Vinha uma porgao; Arroz e feijao, Milho p‘ra galinha. Era um tempo de delicias Ninguem contava miseria, Nao é como hoje o tempo Que € verdadeira nilheria, Esgotaram-se os retursos A vida tornou-se seria. ( « Nao ba quem spporte Esta’ carestia, De neite e de dia Se traqueja a sorte, O povo do norte Esté desarranjado, Alem de roubado 4m peso e medida, Alimenta a vida Com feijao furado. Nao tem que seja cassaco «Ou seja conmendador, Para o lado do commercio Apanha seja quem for, Como desembat Tanto faz ser um setvents rgador. Chora 0 desgragado, Se maldiz o nobre, Pxtrebucha o pobre, Qugixa-se o quebrado, Diallo ue crige, tyranna, ays: semana noite delua Anais: rua Casca janana.., Hoje tem mais uma coisa Que para o pobre é canudo Vai com dez mil reis na venda O marinheiro trombuéo Dizendo troco nao ha; $6 troco comprando tudo, = ai a O- pobre esperneia com essa furada Ou fica sem nada * Ou dorme sem ceia, A fome que é feia Tem cara de cao, Nao fica um tostio Do cobre que havia E no outro dia Com que compra 0 pio ? ‘ De trez annos para ca E‘ enorme a differenca Nos homens do nosso tempo Ha uma mudanga immensa, Agora s6 aparece Aquillo que nao se pensa. Eu tenho notato N6.:. homens das rodas Que a\ mpanham as modas 0 oa, = tem dado, Um deyses coitado, S6 falt} morrer Nao pd le viver Em lag ima tamanha, Poque | que ganha Nio dal para comer, Antes Ula guerra ‘européa Folgava a humanidade Entao $6 tinham sahida As coisas de novidade, Pao de um dia para outro Vendiam pela metade. o Gq —— —-9— Agora hoje em dia Ninguem aborrece E nem endurece Pao na padaria, Pois tem freguezia Que manda os comprar E encomiendar Com mais brevidade Guardar para tarde O pao que boiar. Camaradinha pedante Que quer ser grande sem poder Comprava um kilo de carne Mas nfo podia o trazer, Se trouxesse era escondido Ninguem havia de ver, Um desses agora Sabe elle o que faz? « Nao tem luxo mais Sai a toda hora, Veste-se vai embora No tem embaraco, Vai passando matcando passo Que sé um canalha A bolca de palha Debaixo do brago, Essa crise veio agora Endireitar muita gente, Muitos sé comiam pio Se ainda estivesse quente, Mas hoje isso acabou-se A cousa esta differente. 16 Essas regalias Das mezas de outr'ora, Tornaram-se agora Em pio de trez dias, Vai as padarias Comprar escondido Inda constrangido, Vai sempre ao pao dure Come feijZo puro Que sé desvalido, E‘ 0 r.medio que ha Nao tem para onde fugir, A dér ensina a gemer, O somno obriga a dormir, Toda roupa serve ao vf Quando nao tem que vestir, Recife 4 de Marco de 1918. ) SORTEIO MILITAR Publicado a 1”. vez em 1908 Alerta! rapasiada! O tempo nao esta de graga Mogo, Velho, cego, e cdcho Tudo agora assenta praga, Bispo, e vigario collado Vai tudo ao pio de fumaga. —ll-— ce Para que fazer soldado De velho, cégo, e¢ menino ? Esta, sem sal este mercado Rée a porca e quebra o pine? Vamos ver se alistarao Um, como Antonio Silyino, Eu viajei para o norte E vi um pobre aleijado, Me disse um visinho delle * Aquelle esta alistado. € Mas para que serve aquillo ? . Perguntei ao delegado, Entio elle respondeu-me Esse nfo pode escapar, $6 anda de quatro pés Mas comtudo pode andar, A patria tem precisio De alguem para rastejar, Outro tem um filho doudo Com uma perna cortada, Disse-lhe o delegado Vocé vai meu camarada, Tem-se precisio de doudo Que é para atirar pedrada. Disse o pai do pobre doudo, « Que faz na guerra este tolo ? —Caiu-me na rede é peixe © E o que sahir vai no bolo, Loucura nao é defeito, Ninguem briga com miolo. — 1965 Como vou eu sem ter perras Perguntou um anciao ? _ . Respondeu o delegado, Vai na corcunda de um sao, \ i Um leva vocé nas costas 7 ¢ E a espingarda na mio. ‘ Um velho catimboseiro Que tem ali no agreste Até eu disse ao juiz Aquelle queira Deus preste Disse 0 juiz vai tambem, E leva, o caximbo mestre, ( ; « ja } _ Tinha um filho uma viuva j Séndo uma pobre mulher. | Disse ao filho; ora meu filho ! \ © governo nao te quer © juiz disse: esse eu levo, Arrume outro se quizer, E se nfo estou enganado Os padres tambem irdo E ha de ficar bonito Um padre com cinturao, Naquella batina preta ; Fica de luxo © latado!... Disse um sertanejo velho: Néo vou, venha quem quizer, Compro a praga embora gaste Todos os bens que iver, Vendo 1s bestas gas meninas E o mellado da mulher, WA_A. aaa ‘Me disse certa, mocinha Que em nossa casa vai, Essa‘ disse, 14 em casa Tudo estd dentro, nao sai Nao quiseram dispensar Nem o porco de papai. Até meu irmao mais velho Que quebrou o espinhago, Furou o olho direto, E o doutor cortou-lhe .o brago, Disse 0 juiz: vocé vai, ‘Embora falte um pedago. Disse' o juiz: ima arvore Se corta e deixa-se o téco Ella cria novos galhos Frutifica e nao é potico Um homem cortando um brago, Briga bem com o cédtoco A lei exige que ainda Estando morto e enterrado Arranque-se o esqueleto E vae especionado Quando nada o povo diz Isto é osso de soldado, Uma velha tem um filho Que € feio que sé perigo Perguntou quando alistou-se Que faz a praca commigo? Disse o juiz: praga feia Faz assombrar o inimigo. REEL INE ORE rae E nao escapa ninguem Vai tudo a solla da vacca Esté o Brasil imprensado Entre a porca e macaca E o governo bem quieto Dizendo: Felippe ataca.,. O governo estd dizendo: Quem nao gostar coma menos, Va fazer queixas ao Bispo, (Faga os bocados pequenos, Felizmente eu jd sou grande Nao tenho medo de acenos, Zé Churumella j4 disse: O Governo me sorteia, Eu pego minha mulher Vou liquidal-a na peia, Fico livre do sorteio Morra embora ma cadeia. E pegou Chica Tutano Metteu-lhe o pdo sem receio, Um visinho inda lhe disse: Nao fasa isso que é feio, Disse Churmella:—isso, E' dose para © sorteio. Dizia Chica Tutano; Viram que historia damnada? O diabo dessa lei Nao veio mesmo envergada? Alistaram meu ma.ido Eu é que fui sorteiada. = “A a Se eg eset hiss) © brasileiro se torce a _Mais do que um parafuso, ; A-secea aperta do norte, Do sul aperta o abuso, O imposto bota na prensa, : . O sorteio acocha o fuso. : x Joao! Dizia um sertanejo, O mundo agora faz dé, ‘ Tu caisse no sorteio Eu para nfo ficar 6 t Dei por vossé ao juiz A burra de sua vd. / « Quiz dar meu cavallo russo Elle nado quiz regeber, A besta de tua mae « Elle, podia querer, « , Mas assim quem carregava Milho para nos comer ? Meu pai respondeu: Jofo Dindinha fica damnada, i Inda hontem ella me disse rl Que a burra é muito estimada, | Ella mamou em dindinha, a E’ quasi sua enteada. i En sei com toda certeza Que queira Deus ella acceite, O negocio ja est& feito x Mas qneira Deus se aproveite, t; Aquella burra e mamae ; Sio duas irmaes de leite.

You might also like