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—<$< << — / rd Ind Elias de Castro Paulo Cesar da Costa Gomes Roberto Lobato Corréa (organizadores) EXPLORAGOES GEOGRAFICAS PERCURSOS NO FIM DO SECULO Prof? Dieter FLG 115- Migragdes & Trabalho Texto / eat BERTRAND BRASIL MOBILIDADE ESPACIAL DA POPULAGAO: CONCEITOS, TIPOLOGIA, CONTEXTOS Olga Maria Schild Becker 0s deslocamentos de populagées em contextos varia~ “dos ¢ envolvendo ao longo do tempo escalas espacias dife- renciadas conferiram complexidade crescente ao_conccito, de mobilidade como expresso de organizagiees socials, six ise relagées de trabalho particulares. A si Suagies conjun -e relat ‘cada nova ordlem politica mundial corresponden uma nova orem econdmica com a emergéncia de novos fluxos de- mograticos.— Desde as invasdes dos povos barbaros astiticos até os rigrantes dos novos tempos, grupos populacionais pder- se em movinnento: lutam pela hegemonia de novos tertit6- tis, fogem de perseguigdes dtncas repressBes maltipas, vislumbram a possbilidade de terras e mereados de traba- ‘simplesmente perambulam em Tho mais promissores, ous busca de tarefas que Ihes assegurem a mera subsisténcia. uro de Fatos contemporfineos como a queda do _Berlim, ocorrida em 1989, a crise do Golfo, a maré huma- na de refugiados afiicanos empurrados pelos confrontos 319 EXPLORAGOES CEOCRAFICAS tribais e ditatoriais, ¢ as lutas nacionalistas, de que a guerra civil na Tugoslivia e recentemente na Albania sio trégicos cexemplos, atestam 0 esfacclamento do mapa do_mundo (dos patses e dos povos) desenhado no pés-Segunda Guer- ra, O mundo foi red porém, a partir da emergéncia ‘dos chamados blocos econdmicos: Mercado Comum Euro- peu, NAFTA, APEC. A conjugagio dessa nova geografia politico-econd m situagies de extrema Africa e América aogpde comerivel, amactericd b feabmson ak originou fuxos migratérios de da exclusio social, a0 rages étnico-cul- impelido a construgio de Segundo ARBEX (1991), esse € uum movimento que se opde aos fluxos migrat6rios e que aponta para a formagao de um novo “muro” separando ricos ¢ pobres — os novos “blocos de poder” — niio mais ideol6- gicos, mas essencialmente econdmicos. ordneas. E a sua ‘fu ua em todos os nfveis de ani tha uma fungio de revelagio, a nal € uma questo que incomoda. siedades onde ocorrem_as safdas, que traz, 0 “referendo pelos pés", NOBILIDADE ESPACIAL DA POPULAGAO fazer com refugiados albaneses que ocupam o porto “de Brindisi, na Itdlia, ou com vietnamitas encerrados ‘em campos de refugiados em Hong Kong? Como agir diante do risco do gueto? Depois de termos apoiado o direito de emigragio dos europeus do Leste sob o re- i "temos 0 dreito de impedir aos euro- peus ocidentais de morar e trabalhar nessa parte da Europa?” (SIMON, 1991). No Ambito das migrag6es internas, igualmente diver- sificada tem sido a tipologia dos deslocamentos. Intensos fluxos de_carster gural-uspano, ocorreram nas décadas. de 50 e 60, representatives de um perfodo mareado por cres- ‘cente concentragio fundisria e pola industrializagio nos. grandes centros urbanos do Sudeste Bi Teceram-se migragbes interestaduais de longa distancia na década de 70, especialmente a de nordestinos para o eixo Rio de Janeiro — Sao Paulo e a de sulistas para as éreas do Centro-Oeste e AmazOnia, responsiveis pela expansio e consolidagio do mereado de trabalho a nivel nacional Multiplicaram-se as migragSes de assalariados rurais tem: _Pordrios (volantes, boias-frias) especialmente para as co- Iheitas da cana e da Jaranja, expresso do subemprego sax zonal e das relagSes de trabalho informais gerados pela modernizagio capitalista_np campo. Fomentaram-se_os deslocamentos sucessivos de “barrageiros” para a constri- 20 de grandes obras de infra-estrufura energética ao lon- g-das_éreas de fronteira, seja internacional (Itaipu) ou. nacional (Tucuruf, Ball Por outro lado, int EXPLORAGOES CEOGRAFICAS fermmunicipal quanto intramunicipal, seja rural-urbana ou_ cia, do que sio exemplos o Movimento dos Sem-Terra, MST) e o das populagdes extrativistas da Amazdnia Oci- dental. E a contramobilidade emergindo como = de origem; é a luta em defesa ago econdmico global. los, os moyimentos pendulares intrametnopolitanos para trabalho e/ou estudo, assim como -urbanos de cardter residencial. Es- ges r ibém a expanso ¢ a multiplicago dos espa- 0s focais da pobreza e da violencia: 0 rearranjo do tecido ‘urbano em fungao das mudangas no tecido social. Assim, parece que algumas perguntas se_impéem. Qual tem sido, afinal,o significado da mobilidade popula- cional a pai as etd om nbradas. Como exer -organizados pelo eay ces em difere 322 MOBILIDADE BSPACIAL Da TOF! Gio Aspectos tedricos da mobilidade espacial da populagao ‘A mobilidade tem sido objeto de diferentes intexpre- tagdes_ao longo do tempo, expressando-se, entre outros, através dos enfoques neoclissico ¢ neomanista._ i Até os.anos 70, 0 fendmeno migratério era considera- do a partir de uma perspectiva neocléssica, dentro de uma visio predominantemente deseritiva e dualista, Estudavam- eos movim inigrat6rios especialmente através da rmensuragio dos Tues demmogrifieos e das caracteristicas de-uma formaggo social. Tl concepcio levava a um modelo redutivo da realidade onde a socied: ‘um enfoque individualizad _pereebida como decorrente apenas da “decisiio Bio pressionada ou produzida por forgas s6cio-econémicas “exOgens—~ sae A.partir de-meados dos anos 70, o fendmeno migraté- ‘tig fol recons exemplo ot EXPLORAGOES necessidades do capital” e niio mais como um ato soberano de vontade pessoal, em resposta a “diferengas de rendu 170). gem novas formas de ges redugio do ntimero de trabalhadores . pelo _arrefecimento da agio sindical, egoria tem sido ral_nas econ imobilidade da forga de pela auséncia do trabalho? Quais sero as novas 324 OBILIDADE ESPACIAL DA POPULAGAO estratégias de mobilizacio da populagio trabalhadora, das suas Tutas salarais,sindieaise politicas? Jo tecnol6gica e, de outro, o aprofundamento social, Apesar das novas tendéncias, torna-se reconhoost qiee “ha certo consenso quanto as dificuldades presentes no trato da categoria trabalho... as mudangas em eur- so no capitalismo mundial integrado denunciam uma profunda crise no mundo do trabalho. No entanto, no dispomos ainda de eategorias analiticas que nos permitam incorporar tais mudangas. Por enquanto, utiizamos com euidado as disponfvels" (CARLEIAL, 1994: 301), Nas prdximas segGes serio tratados os conceitos de mobilidade espacial da populagao go sega os szenfegus até -sico_sio io considerados_bésie RAVENSTEIN (1885), LEE (1966) e TODARO (1969), dando énfase As caracterfsticas pessoais dos migrantes e alguns fa- tores condicionantes das migragSes entendides como “fato- 325 EXPLORAGOES GEOGRAFICAS ps de atragio-repulsio” (push-pull factors). Como fitores de repulsio estio representadas aquelas situagées de vida responséveis pela insatisfacio no local de origem:; j4 aos fa- tores de atragao correspondem aqueles atributos-dos locais “mais distantes que os tornam atraentes. Hi mais de cem anos o gedgrafo inglés RAVENSTEIN (1885) apresentou as “Leis da Migragio” & Sociedade Real Britanica. Analisou a migragio interna na Inglaterra dentro do contexto da Revolugio Industral, destacando os “fato- res de atragdo das cidades”. Os principais topicos entio dis- cutidos foram: migragio e distncia, migrago por etapas, fluxos e contrafluxos, diferengas urbano-rurais na propei sho de migrar, predominncia das mulheres nos deslo “entos de curta distincia, tecnologia ¢ migraglo, do nincia do motivo e¢ ico para os deslocamentos. Seu trabalho tornou-se o ponto de partida para os estudos em teoria da migragao. Desde entdo, apesar de terem surgido centenas de traballios sob esse enfoque, poucas generalizages foram adicionadas. A ausucia de novos aspectos generalizantes “hesses estudos te6ricos foi notada por LEE (1966), referin- do-se ao fato de que devido ao desenvolvimento das anéli- ses de equilibrio os economistas haviam abandonado os es- ados de populagio, enquanto os socidlogos ¢ historladores tormavam-se cada vez. mais relutantes em lidar com maio- res volumes de dados estatisticos. Ao mesmo tempo, de- mografos mostravam-se satisfeitos com seus achados empf- ricos € pouco inclinados a generalizages. Conseqitente- “nente, até os anos 30 foi pequeno avango no campo da teoria em migragio, De acordo “com THOMAS (1938), @ 326 MOBILIDADE BSPACIAL D4 FOPULAGKO nica nova generalizagio feita declarou que os migrantes iam a ser jovens udultos. ‘A partir dos anos 40, os estudos passaram a conside- € posteriormente DoRIGO € TOBLER (1983), representava agora o resultado de uma equagio mater ca: eram somados ¢ subtratdos So e atragéo, mediados pela distincia, esta considerada 0 niente” a ser vencido, L&E (1966) foi o responsdvel pela criago de outro cesquuema geral sobre as migragées. Sua proposicio envolvia ‘um conjunto de fatores negativos e positivos nas areas de origem ¢ d dos migrantes, um conjunto de obstcu- de fatores pessoais. Baseado riadas, o desenvolvimen como sobre 2) 0 volume da_migragao varia. Jo entre os povos; 3) o volume da varia com as QutuagGes da economia; 5) a menos que 327 EXFLOFAGQES CEOGRAFICAS “axa de mi ‘igragdo tenderio a erescer com 0 tempo; 6) 6 volume e a taxa da migragio variam com o estigio de desenvolvimento de um pas ou de uma Srea. Hipéteses sobre-fluxn e.refluxo- rigs gragdo = a ocorrer, em grande parte, segundo 2) para cada corrente migra sgratéria sio fatores ne de origemn; 4) a eficigncia da corrente ¢ da contracor- rente tende a ser baixa quando 0s locais de origem € de destino so semelhantes; 5) a eficiéncia das cor- rentes migrat6rias tende a ser clevada quando os obs- ervenientes so grandes; 6) a eficiéncia de es: 1) a8 ntes aerate yente a fatores positivos prevalecentes_ tino tondem a constituir uma selegéo 3) os migrantes que respondem primordial- fatores negativos provulecentes no local de origem tendem a constituir uma selegio negativa; no 328 MOBILIDADE ESPACIAL DA FOPULAGAD caso de dreas onde os fatores negativs so desalenta- dores para grupos inteiros de_populagio, pode até Tesmo deixar de haver_selegio; 4) considerando {odos os migrantes urn conjunto, a selego tende a ser bimodal; 5) o grau de selegio postiva aumnenta com a = pensto mais intensa a mi clo vital é importante na selegao dos migrantes; 7) as ‘caracterfsticas dos migrantes tendem a ser interme- disrias entre as caracteristicas da populagzo do lugar de origem e da populagio do lugar de destino (LEE, 1966: 52-57). = ‘Tals teorias, porém, desconsideravam 0 problema cré- nico do desemprego urbano e do subemprego nos patses subdesenvolvidos, ignorando a proporcio da forga de tra- balho que no era absorvida pela chamada “economia moderna”. Em verdade, no possufam um expressivo com- ponente social. Como resposta, TODARO (1969) formulou. umn mode- To econémico baseado no comportamento das migragdes Js-urbanas, reconhecendo o fato da existéncia de um. signficativo extrato de trabalhiadores urbanos desemprega- ‘dos e subempregados. Esses trabulhadores estariam sujei- os a uma probabilidade de migrar para o setor moderno da economia urbana, o que caracterizou esse modelo como probabilistico. “Foram_considerados os diferenciais de renda espera dda na drea de origem e na drea de destino. Assim, a decisio de migrar estaria na dependéncia da avaliagdo que o mi- 329 EXPLORAGOES GEOGRAFICAS grante fizesse dessas diferencas de renda esperada, Todaro Feconheceu igualmente que a existéncia dessa massa de trabalhadores urbanos desempregados ¢ subempregados afetaria « probabilidade do migrante de encontrar empre- go no setor moderno. Outra questio a ser enfatizada era a ocorréneia de mudangas.estruturais nas economias dos pafses em desen- volvimento. Isto tomava-se particularmente significativo, uma vez que o conceito de desenvolvimento econdmico freqiientemente era definido em termos de transferéneia de clevadas percentagens de trabalhadores das atividades da agricultura para as industrais. Assim, esse seria um modelo de transferéneia de mfo-de-obra do setor rural “tradicional” para_o_urbano “modemo”. Tal processo se daria em duas etapas: “A primeira etapa encontra o trabalhador rural des- qualificado migrando para uma 4rea urbana e inicial- mente despendendo um certo perfodo de tempo no chamado setor urbano tradicional. A segunda etapa é la eventual engajamento num setor de is’ moderno, Este proceso em dois esté- 103 formula algumas questoes funda- ‘mentais em relagio A decisio de migrar, 0 tamanho proporcional do setor urbano tradicional, as implica des do crescimento industrial acelerado e/ou dife- renciais alternativos de renda real urbano-rural quan- ‘to A participacao do trabalho na economia moderna” WOBILIDADE BSPACIAL DA FOPULAGAO ___Através da maioria desses estudos, a industrializagio vinha sendo considerada como a forga propulsora das mic gragbes. Fluxos populacionais derivariam da modernizagio, produtivo ¢, conseqi divisfo social do trabalho, particularmente entre as esferas rural e urbana da produgio. Nessa visio neoclissica, a migraglo era percebida co- ‘mo um mecanismo gerador de equiltbrio para economias ‘em mudanga, especialmente aquelas mais pobres. A mobil -dade era considerada, portanto, como fluxo de ajustamento, sinal_¢ fator de_progresso econdmico. GAUDEMAR (1977: 18) contesta tal concepeiio ao discorrer sobre “a mobilidade dos homens enquanto estratégia para perpetuar as desigual- dades de espago”, uma vez que esse espago no € mudado de forma a atender as necessidades de sua populagio. “A migragao 6 um fendmeno que permite & sociedade ‘0 equilfbrio de conjunto possivel, correspon- izagdo da ‘setisfagio'... com um custo dena que t0b es “dos setores oti regides ” vels, finca_ produtividade EXPLORAGOES CEOCRAFICAS ‘mento ao equilfbrio.Gtimo. Os fluxos contrérios seriam de~ Sequilibrantes e, portanto, nocivos. Peet (1977) discutindo esse “equilibrio” refere-se a0 argumento materialista, que considera a desigualdade co- mo necesséria para produair uma forga de trabalho diversi- ficada, devido a sua fungio de incentivo ao trabalho, “De- igrigBes baseae ta: o fenémeno migratério_ ragio de uma forma -se arhist6rieo e pre- ida_por SINGER (1973: 217) co1 GER AIT: B17) come joricamente condicionado, toniaido-se ‘© resultado de processo global de mudangas, separado do «qual nao deveria ser considerado”, Assim, o primeiro passo ia andlise dos desk tos populacionais passou a ser a identificagao dos limites da sua configuragio historica. 332, MOBILIDADE ESPACIAL DA FoPULAGKO De acordo com Singer, haveria dois conjuntos de fa- tores relacionados as migragdes nas reas de origem: os “fatores de mudanga” e os “fatores de estagnagio”. O pri- meiro tipo decorreria da introdugao de relacées capitalistas de produgao, com a expropriago dos trabalhadores rurais da terra, sendo 0 objetivo desse processo o aumento da produtividade do trabalho com a conseqiiente reduclo no nivel de cmprego. O segundo relacionar-se-ia crescente pressio demogrifica sobre as terrasutilizadas para culturas de subsisténcia, est Partindo também d (978) inseriu a andlise « camplo.da_estrutura agréria, Ri um_modelo estrutural, PEEK bilidade no contexto mais as migragbes a0 afses” em desenvolvi- latino-americana esta ‘para a capitalista, Neste sentido, er mento do setor capitalista era, em dependen- ss onde cresci- “Aqui a emigragio rural 6 considerada como o resul- tado da proletarizagio do trabalho que acompanha essa transigfo. No latiftindio, 6 a conversio do traba- Iho servil em trabalho assalariado, enquanto no mini- findio proletarizagiio é 0 processo pelo qual campo-* neses crescentemente precisa vender seu trabalho ao grande proprietirio. Deste modo, a emigragio ru- ral é explicada pel ise das causas da proletariza-— 333, EXPLORAGOES GEOCRAFICAS ® nas vérias formas de produgio nio-capitalista” q _© fendmeno mnigrat6rio, entretanto, vinha sendo exaus- tivamente teorizado por GAUDEMAR (1977) ao reconside- Féelo sob 0 enfoque neomarsista como “mobilidade promo- vyida pelos movimentos do capital”. Falava-se agora da “nobilidade forgada” em oposigao a visio neocléssica das migragoes como um ato de decisio pessoal. A migragao passou a ser entendida como a erescente sujeigio do traba- Tho ao capital. — ~, Segundo SLATER (1978), como mobilidade forguda a rmigragao tomouse interessante mecanismo na expansio do capitalismo monopolista nas realidades entio chamadas ~periféricas”-Para- MOREIRA (1978), a. mobilidade do tre- batho, de uma forma geral, ¢ a espacial, em particular, €ra © ao mesmo tempo determinada e determinante do processo “de acurmulagéo do capital, nfo podendo ser devidamente entendida fora desse contexto, Assim, o provesso de desen- volvimento capitalista, ao mesmo tempo que ampliava a demanda de trabalho, criava a oferta de trabalho que ne- cessitava—— Para GAUDEMAR (1977) a mol _como condigio da forca de trabalho se sujeltur ao capital ¢ se tornar_a mercadoria_cujo consumo criaré o valor e, assim, produzir4 o capital. fee ~ > Conforme essa visio, a mobilidade do trabalho redne_ ide espacial ou migraglo, pode ser conside- ‘Como mobil ac rada a capacidade da forga de trabalho de conquistor vastas 334 MOBILIDADE ESPACIAL DA FOPULAGKO extensées, 0 espago geoeconbmico, isto 6, 0 espago através “do qual o trabalho se expande para form ado de trabalho. Entretanto, ao m alho se estende sobre 0 « ‘em pontos espectficos, aqueles que forem m. dugio capitalista. Zaracterfstica do trubalhador submetido ao capi por essa raziio, do modo de produgsio capitalist forca de trabalho deve ser, portanto, mével z de manter os locais preparados pelo capital, quer tenham sido escolhiidos ou rével quer dizer apto para as deslocagées ¢ modificagées do seu emprego” (GAUDEMAR, 197: 190). “A mobilidade da forga de trabalho é, assim, uma Desta forma, a mobilidude da forga de trabalho ‘ser pereebida como determinada pel terativas formas expacias de Aux fiugos ou centripetos. ‘A outra dimensio da mobilidade, a denominada so- "cial, estaria, por sua vez, relacionada & hierarquia do traba- pela manufatura e posterior- ia. A mobilidade social dos tra- res da produgio, bem como sdutivo. Conforme Gaude- EXPLONAGOES CEORAFICAS do trabalho. : ‘A discussio apres criticada por PELIANO. Ie autor refere-se de fo wr Gaudemar foi em parte mentar que aqe- ica simplista a mobilida- lidade do trabalho. Em ide de se mobilizar é a forga. so importante relembrar alguns pontos Sio da forga de trabalho, conforme no mercado. Tal lho, segundo a con- ‘se “livre” ¢ “mé- -0 6m capital tem 0 possui- wre nos dois sentidos: 0 de 0 trabalhador livre no MODILIDADE ESPACIAL DA FOPULAGAO dispor como pessoa livre de sua forga de trabalho ‘bomo sua mercadoria, eo de estar live, inteiramente “despojado de todas as coisas necessérias A materializa- fo de sua forca de trabalho, nfo tendo, além desta, ‘outra mercadoria para vendes” (MARX, 1887; 147). Entretanto, 0 que também precisa ser registrado 6 0 werdade necesséria para o processo de actmula- G0, A liberdade do trabalhador aparece, pois, como uma conseqiiéheia. de-sua separagio dos-meios de, produgio, particularmente a terra, Assim, quando um individuo apro- -ptia objetos naturais para a sua subsisténcia, ninguém mais ‘05 controla a nfio ser ele proprio. Conforme explicado pela teoria materialista: “Certas condigdes hist6rieas so necessfrias para que um produto possa tomar-se urna mercadoria. E preci- ‘$0 que no seja_produzido como meio imediato de subsisténcia do.préprio produtor, mas para 0 capital” (Manx, 1887: 517). De acordo com WAKEFIELD (1833), ples para promover a acurnulagio do capital, e do capital quando requerido, tanto em grandes quan- ‘tidades coino em formas determinadas: dividiram-se les préprios em detentores do capital e detentores do trabalho. Mas essa divisio foi, de fato, 0 resultado cordo. Sendo o capital de todos igual, um ho- 337 EXPLORAGOES CEOGRAFICAS ‘mem poupa porque ele espera encontrar outros inel- ypados a trabalhar para ele; outros. homens -gastam porque esperam encontrar alguém disposto-a empre- gic-los” (WAKEFIELD, 1833: 327), Entretanto, uma questio parece clara “A,Naturezn nfo produ, de um lado, possuidores de wercadorias, e, de outro, meros pos-_ ias Forgas de trabalho. Essa relagio. ‘em sua origem na natureza, nem é mesino uma relagio social que Fosse. comum a todos os-perfodos » 0 resultado de_um © produto de mic toda uma série de antigas formagies da producto so- “lal” (Mans, 18872147). Na medida em que 0 ca ele também ria. uma_popul res, a superpopulagZo relativa ou “exército ind _serva” conforme conceituado por Marx. Ao discutir a teoria al reproduz essa relagio, excedente de trabalhado- marxista da pobreza, REET (197) sustenta que para suas ‘operagdes difrias ou anuais, as economias capitalistas pre- cisam desse_excedente populacional,- Populagao pobre que pode ser usada ¢ vontade do eaptalista. “O desenvolvimento econdmico niio ocorre h samente sob o eapitalismo. Hi sibitas explosoes de 338 MOBILIDADE BSPACIAL DA FORULAGAO _erescimento quando novos mercados sio_abertos... Nestas situagdes a economia precisa de uma ripida_ _transfisio de trabalho: uma reserva de forga de traba medida em que a uta mecaniz prossegue. O uso da reserva de trabalho em ocasides de rapido desenvolvimento econ6mico impede que lucro seja desviado da acumulagio do e: to industrial de reserva” — flutuas — apesar de representar da-populagio excedente comtesponderia aos trabalhadores as vezes repelidos, as-ve- 2es atrafdos pelos modernos setores da eco Pulagio jé so encontmaria na-esfera c ocasionalente dispensada devido a reestruturagao do pro-_ cess 2 ou Poderla corresponder, nos dias BXPLORAGORS GEOGRAFICAS ‘qdo de proletariado urbano, Nas éreas onde predomina a ‘produgio de subsisténcia, o capitalista através da “expro- priagio” dos pequenos produtores da terra, deflagrada pela rmudanganas_prévias condigies de trabalho, isto é, pela mudanga na-relagio soc -za, estaria criando 0 trabalhador “livre esta forma, 0 movie ate ‘Mundo, como, por exe ia cassie de rnulhe- res anteriormente integradas a uma forma de produgio ex- “clusivamente-doméstica.. A terceira categoria de populagio excedente, a “es- tagnada”, eorresponderia a uma parte da forga de trabalho ativa que apresentasse condigies de emprego extrema- mente irregular, Segundo-MAnx-(1887), as condigées de vida desse grupo estaria bem abaixo do nfvel do restante da classe trabalhadora. Na.sonjntuy do séelo pasta ieee dla validade desses conceitos elissicos, ao nfvel_ eae nsufcientes para expicar a ralda- wineas..De acordo com jorna-se essencial reco- nto de SLATER © pensas | j | | i | | MOBILIDADE ESPACIAL DA FOPULAGAO nhocer a especificidade hist6rica do capitalismo nas socie- dades em desenvolvimento. Nesta etapa da discussiio precisa ser enfatizado que est se tratando com conceitos gerais, Entretanto, ao se ‘argumentar sobre reprodugio da forga de trabalho esta se considerando um particular estigio da produgao social dos individuos, Assim, o estudo de cada situagao exige que a tum modo de produgio especfico e a uma érea particular. ‘A mobilidade desempenhou fungées diferentes em diferentes modos de produgiio. Nas sociedades primitivas, a mobilidade representava uma forma de sobrevivéncia pa- ras populadesitinerantes que precisavam se deslocar pa- ra encontrar alimentos e terras férteis para seus cultivos ris, Na sociedade captalista, a mobilidade repro meio para a reprodugio do capital, uma vez que uma forga de trabalho “livre” ¢ “mével” tomna-se essencial para o processo de acumulagio. Nesse sentido, uina massa de trabalhadores “latentes” ou “estagnados”, seguindo os movimentos do capital, representa um indlcador de desen- volvimento capitalista. Conforme discutido por HARVEY (1974), 0 progresso ‘da actimulago pressupunha e dependeria da existéncia de ‘um excedente de trabalho que pudesse alimentar a expan- slo da produgfo._ “Mecanismos precisam existir para aumentar 0 exce- dente de forga de trabalho através, por exemplo, do estimulo ao erescimento da populaglo, da geragio de fluxos migratérios, do emprego em situagdes no-ca- 34 EXPLonAgoi “de inovagdes poupadoras de mifo-de-obraé (HARVEY, ‘1974: 264), ~_Em decorréneia,a redistribuigio de populacio.repre- senlaria uma resposta as mudangas na geografia da acumu- lagio. A migragio tomna-se, assim, um importante mecainis- mo na produgao da forga-de trabalho, j4 que vincula éreas de diferentes escalas espaciais (regional, nacional, interna _ ccional) objetivando a expansio do meroado-de-trabalho.— ‘Uma questiio tedrico-metodolégica merece ainda ser_ tratada na discussio do fendmeno migratério: é a relacio- nada 8 definigdo do migrante enquanto eategoria de andli- se. De acordo com o Censo Demogrifico Brasileiro sfo con siderados migrantes todos os individuos que apresentarem pelo menos uma mudanga de local de residéncia, seja de, um_muniefpio_para outro (migrante intermunicipal), seja entre diferentes categorias de domictlio dentro dos limites do:mesmo municipio (migrante intramuntcipal) — Entretanto, além dessa det tra poderia ser considerada a par “Mista: migrantes slo 95 movimentos do capital sob tho assalariada, ou potenci "Assim, enquanto no enfoque neodlissico a categoria migrants coi a0 “individuo”, na visio neomarxista se refere a uma ot, a determinados ‘grupos sécio-econ’ tudos neoclissicos, como 0 deslocamento de indivi- a0 geo duos num dado periodo entre dois pontos do 342 -- Ou ctiando desemprego pela introdugio Ago grifico. Q enfoque neomanista, por sua vez, considerou a tmigragio como um processo 50 pode ter longa _duragio. a “Se a unidade migrat6ria deixa de ser 0 individuo para ser 0 grupo, também deixa de ter sentido investigar-se 4 migrago como um movimento de individuos num ado periodo entre dois pontos, convencionalmente considerados como de origem e destino, Quando uma classe social s¢ poe ém movimento, ela cria um fluxo ‘migrat6rio que pode sor de longa duragio que des- origem e de destino” (SINGER, 1976: 237). . ‘ques n mmigratério

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