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NUM ESPELHO DE AULHER: CEGUEIRA NORAATIVA £ QUESTOES DE DIREITOS HUMANOS NAO RESOLVIDAS* University of California at Berkeley - Estados Unidos Resumo: Este artigo examina as restricées que regem as deciaracces de direitos umanos, reconhecendo os principais avancos conceituais ao mesmo tempo em que dirige a atencdo para questBes ndo resolvidas, que so culzurais na sua maioria. A cegueira normativa refere-se a questdes de realce relativas a mutilagdes sexuais € de ouira natureza, testes de armas, ou controle de armas como 6 visto das margens. Ui reconhecimento dos abusos de direitos humanos resiltantes do comercialismo global é crucial para uri movimento de direitos humanos ndo-hegeménico enquanto ‘a comparagio exige que nos tornemos mais auto-conscienses do papel do ativismo de direitos humans euro-americano como projeto hegeménico. Um salto a frente requer uma filosofia de direitos kumanos de calibre maior na qual nenhum lugar ou pats ow empresa estejaisento. Abstract: This paper reviews the constraints governing declarations of human rights, recognizing the major conceptual progress while also directing attention to unresolved issues that are mainly cultural. Normative blindness refers to salient issues regarding sexual and other mutilations, weapons testing, or arms control as viewed from the margins. A recognition of human rights abuses resulting from glo- bal commercialism is critical to a non-hegemonic human rights movensent while ‘comparison requires us to become more self-conscious about the role of Euro-American Iuman rights activism as a hegemonic project. A leap forward calls for « broad ‘gauged philosophy of human rights in which no place or country or enterprise is exempt. Palavras-chave: Direitos lumanos, mulher, isla, excistio Key-words: Human rights, women, islam, excision * Ss unlgo fl apeseutado 20 dla 7 de muigo de 1998 na Ratko Chapel, em Fousion, Texas. autora agradece a ajuda critica de mitos coleras, especialmente Dr, Alison Rentels, profundo ‘oohecedor das Klerturi doe dines huranes, Rane Millerun palo iavestiman.o nas guess de side ¢ direiue humance, ¢ Suzanne Calpest pela eteoss slengio an material de diets hums 30s de relevante interesse para a antropoogia. ‘Horizontes Antcopolégicos, Porto Alegre, ano 5, x" 10, p. 61 - 82, msio de 1909 62 ura Nader E apropriado celebrar 0 50” aniversdrio da Declaragao de Direitos Hu- manos das Nagdes Unidas de 1948 porque aquela declaragao foi um marco na histéria da comunidade humana. Também é importante reconhecer a atengao das Nagdes Unidas para com os direitos humanos da mulher desde 1948. Revendo a situagio dos direitos humanos e dos direitos humanos da mulher em particular, no entanto, nés nos damos conta que este é mais um momento de reflexdio do que de celebragio. Como vemos através da midia, dos contatos pessoas ¢ nossa prépria andlise do que acontece no mundo, precisamos de ativistas de direitos humanos hoje mais do que munca - ativistas que scjam parte duma cidaclania mundial alertada para a velocidade do impacto teenolégico © a centtalizacZo do poder com seus aspectos impessoais. Minhas observagées vio abranger diversos tépicos. Primeiro, eu vou ever as restrigées que governam a declaraco original para trazer & tona 0 progresso conccitual principal feito desde 1940. Segundo, vou comentar os temas ndo resolvidos da declaragdo, temas que, quando levados adiante, abri- ‘ram quadros mais abrangentes para o trabalho de dircitos humanos, incluindo pperspectivas das margens - terceim e quarto rmndo, o mundo das mulheres. E, finalmente, vou chamar ateng3o para um reconhecimento dos abusos dos direitos humanos causados por um comereialismo selvagem, fora de controle. Durante meu discurso eu usarei uma viséo comparativa que requer que nos olhemos no espetho desde 0 inicio, para estarmos conscientes do papel de ativistas americanos de direitos humanos. Foi observado que os ativistas de direitos humanos precisam dar um salto adiante nesta virada de século, Para {sto acontecer € preciso que a definigdo de violagdes especificas clos direitos humanos seja calcada numa filosofia abrangente sobre o sofrimento humano - uma filosofia que ultrapasse posigoes sectirias. Primeiras restricbes ‘A Declaragio das Nacées Unidas teve grande importincia pela ousa- dia da tentativa. Imaginem 0 cenério ap6s a Segunda Guerra Mundial, Repre~ sentantes de nacdes ocidentais, comunistas © de Terceiro Mundo estavam discutindo em termos filos6ficos o contetido da Futura declaragao de direitos humanos, cada qual do seu proprio ponto de vista - 0s chineses insistindo para que a filosofia confucionista fosse incorporada a declaracao, os catélicos que~ Hotizontes Autropoligicas, Pono Alegre, ana 5, n* 10, p. 61 ~82, mio de 1999 cegueira nommativa questoes 6 direitos 6 rendo os ensinamentos de So ‘Toms de Aquino, os liberais advogando as posigdes de John Locke e Thomas Jefferson, ¢ os Communistas as de Karl ‘Marx. Foi uma tarefa medonhay levar partidos tdo diversos a concordarem sobre o que eram direitos humanos. Mas eles deram o primeira passo, pela menos. Como a maioria dos ativistas de direitos humanos sabem, Eleanor Roosevelt foi presidente da Comissao de Direitos Humanos da ONU, Roosevelt {oi sempre persistente em lembrar a scus colaboradores de que eles eram res- ponsdveis por escrever uma declaragio accitavel a todas as tligides, idcologins culturas. Entretanto, como € sabido, mesmo com todos os seus esforgos, houve enormes desacordos e vazios. Nao havia representantes das populacées indigenas do mundo, dos povos islamicos do chamado “Terceiro Mundo”, ¢ a representagio das mulheres era pouco expressiva, apesar da presenga da Sra. Roosevelt, Mulher pritica, Eleanor Roosevelt lidava com o que tinha diate de si- pafses do Leste querendo limitar a carta a direitos sociais ¢ econ6micos de um lado, e de outro as declaragdes de liberdade ocidentais listadas na American Bill of Rights e na Declaragio de Dircitos do Homem francesa de 1789. No fim, 0 grupo chegou a um texto aceitével, inciuindo artigos inspirados.no socia- lismo que garantiam emprego integral, moradia adequada, side pablica de- cente.e uma previdencia social vitalicia. Deve ser reconhecido que a Sra. Roosevelt no sacrificou principios hdsicos para alcancar a unanimidade, Em suas préprias palavras: “Esperamos que sua proclamagio pela Assembléia Geral seja um evento semelhante & De- claragdo dos Direitos do Homem pelos franceses em 1789, & adogao da Bill of Rights. pelo povo dos Estados Unidos, ¢ 8 adogdo de declaragées compa- rveis em diferentes épocas em outros paises. (Bergen 1981: cap. 6: 73)”. Os ptimeiros anos das Nagées Unidas foram agitados. Anos depois, na nominacio da Sra. Roosevelt pars o prémio Nobel, que ela néo ganhou, Jean Monnet, pai do Mercado Comum elogiou-a (Lash 1972:337): “Fundamentalmente, cu pen- so que sua grande contribuigio foi sua persisténcia em colocar em prética sua profunda crenga na liberdade e na igualdade... para ela, o mundo era realmen- te um $6, todos os seus habitantes.” Como a propria Sra, Roosevelt colocou: “ Onde, afinal de contas, comecam os direitos humanos univer- sais? Em pequenos lugares, perto de casa— tao perio e ido peque nos que néo podem ser vistos em nenhum mapa do mundo, Enire Hoorizontes Antropolégicos, Porto Alegre, ano S,° 10, p61 - $2, maio de 1999

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