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PROJECT MUSE Cenas diziveis e indiziveis. Raga e sextralidade em Gilberto Freyre! Idelber Avelar Pensa gucci negro’ Branca ina gue una onda ff Ror gi? Pongiea stualdade ¢antes quenada nina questasde fantasia £3 Fimasmagueune anegro cama brancaé wn dosmaisexplasios queld (aoriérre og trad. nial This article addresses the intersection of race avd sexuality in Gilberto Freyre’s Casa-grande 2 senzala aud Sobrados ¢ mucambos. After a intro duction that outlines hon sexuality pervades the entire body politic in these orks, [proceed to show the uid and porous nature of the border be tween homo- and heterosexuality i reyre. 1 then goon to discuss Freyre’s asymm metric representation of interracia| sexual relations. Whe was the contact borween white landowners and black or mestiza women is extensively de- scribed as the very model of national unity, the image of the black naan with a hfite Wont Jats a far neore ambiguous and problematic status in the text Ustuly Freyre’s references fo that imageas instances f the balance of ae tagoni sms recently ideriified by Freyrean schokership as the major theterical device of his text. conclude by suggesting that ohis unspeakable scene offers ‘an entryway intothe unconsciousef Freyre's trilogy on patriarchal Braz Bos cons sentido, Mara Viveros Vigoya est conreta ao dier que “360 fe nal dos anos &o comecaram na América Latinaas pesquikas que descrevem ‘o homem como possuidore produtor de género. Até entio, os homenseram identificadas cam os humanas em geral, eo privilégia masculino tornava invisivel o problema do homem enquanta tal” (27; wad. minha). & verdade 68 go Brain Review 4324 ISSN goay-794y, © seta by the Board af Regents fl the University of Wikconsin Sprtem Avelar 165 que hi uma longn tradigso de naturalizagso do privilégio masculino que se apoia na premissa da homem comosujellouniversal. Bearroto alirmar que tal natutaliza¢io, som frequéncia fez do problema do homem come sujeito com gener uma questio invisivel ou impassivel de ser colocada. Também é cerlo que pratica € a Leoria feministas sto direiamente responsiveis pela ppossibilidade de se colocar sistematicamente pergunias acerca da consiru 40 da masculinidade. No entanto, basta uma breve elhada as tradicdes intelectuais, digamos, do Brasil ou de Cuba, para confirmar que 0 pensa- mento candnico na América Latina repetidamente tratou da homem como possuidar e produtar de género, no no sentido em que o fazemos.estudos embarago de escolher genro entre as homens solieiras da terra, de branquidade porventura duvidesa” (918). Em coniraste com a imagem feminizada dos afro-brasileiras olere- cida om Casrograncd e senzala, na obra seguinte encontramas mengio do “furiosa ciiime ou inveja sexual” de homensibrancos em relagio a negros, um notiivel reconheci mentade que “para contrariar © encanto do macho negro sobtea mulher branca,o brancacivilizado teria procurado desen- volver uma aura de ridiculoe de grotesco em volta do pret” (1325). A con- sideragao-des medos sexuaisdo branco comoum componente de racismo era, semdiivida, um elemento novo ali, ausenie no livre anterior. Para 0 ppensamento social brasileiro do mamento, essa era uma nagha mais per= turbadora erevalucionsria que a-prépria critica de Froy reaa bilogismo, ¢ cea tem sido ignorada nas criticas a Freyrecomo promotor de uma supposta democracia racial. E verdade que'se trata de breves trechas sem muita se- quincia no lextofreyreans, ¢ nio surpreende que eles no tenham sido ex- plorados na bibliografia secundaria. Naesferado sexo interracial durante © period facalizada no livro (o declinio da ordem patriarcal rural), os encantros entre imigranies portugueses ou italiana e brasileiras negras ‘ou mestigas foi, por certo, fato histérica muito mais sancionada. E. esta cena, menos perturbadora, que toma o centro da ensaio quando Freyre passa ascensia do mulatae aa fendmeno da miscigenas'io em Sobrados = mucambos. Ao contritio do que reza 4 percepgio comum, ¢ precisamente no mo- Mento ¢m que a mestkagem ¢ o tema em questio—ou seja, nas ditimas sorbes de Sobradas e muicambos—que asdeniincias de Freyre ao racismo se lornam maisditeias e pronunciadas. Freyre se refere aa horrardas brancas com a poxsibilidade de uma maioria afro-brasileira na época da Indepen- déncia, rlata a volta de negrmse mestigasem Recife em 1823, entretém a hipotese de Roger Bastide de que os negros liber tos teriam tentadoestaurar um conceito airicano de familia ampliada coma sistema do apoio contra 4 discriminagio, detalha a repressio e a exelusie de mestigos qualilicadas do mercado de trabalho como mais una instrumento na manutengio aa Avelar anocrdnica instituigio da eravatura e, finalmente, discute até as distor {goes no daguerreotipa como campanentes no prnjeto de fwranqueamento do Wrasil (Sobrades 1331-44). © sexo interracial recebe maisuma referéncia €, de nove, 0s casais negro-branca sio tratados de forma bem diferente dos «casais branco-negra. Citando Johann Rugendas, 0 pintor alemia.que viojou extensivamente pelo Brasil no século XIX, Preyre nola que os easamenies centre homens brancos ¢ mulheres “de cor” eram “comuns nas classes mé- dias ¢ inferiores” ¢ também eram observados “algumas w2es nas classes mais clevadas" No hi meng:io de grandes obsticulos a essas rolagtes. Por ‘outro lado, “quando mulher brancade familia rica econsiderada, despasava homem de cor muito ¢scura, havia algum escindalo: porém “espanto” mais que ‘censura” (1335) ‘Que Rugendas—e. por extensii, Freyre, que a cita apravatoriamento— tralasse os dois casos de forma dislinta esta, é claro, justificada, Eles eram ¢ silo diferentes. O que interessa aqui é a curiasa oxcila;to de vocbulas, que de novo relativiza um interdita violento ao langar mio doe quilibrio de ntagonismas. Logadepois de admitir que um casal negro-branca teria sido motivade“algum’ escindalo, Rugendas ¢ Freyre descartam apossibilidade de "vensura,” rebaltando-a para o mero “espanto.” E comose a referéncia &

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