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ESCOLA E.

B 2,3 RIO ARADE –


PARCHAL

ANÁLISE DA CENA DA DESPEDIDA (Manual Com Todas as Letras – Porto


Editora pp.223-224)

“A construção desta cena é feita principalmente através da alternância de


planos: desde o plano de conjunto inicial (“as gentes (...) por perdidos nos
julgavam”) aos planos de pormenor (“as mulheres (...) os homens”) e
mesmo aos grandes planos (“Qual vai dizendo (...) Qual em cabelo”).
Termina com novo plano de conjunto, na estrofe 92, e com a narração do que se
passava a bordo.
A consternação era geral na cidade e a bordo: tinha-se a noção dos perigos,
de que o caminho era “tão longo e duvidoso”, de que, muito provavelmente,
os que partiam não iriam regressar. Deste clima de consternação davam conta as
mulheres “cum choro piadoso” e os homens “com suspiros que
arrancavam". Particularmente débeis eram, contudo, as mulheres: “Mães,
Esposas, Irmãs, que o temeroso /Amor mais desconfia acrescentavam/A
desesperação e frio medo/De já nos não tornar a ver tão cedo”. Surgem
então, como a comprová-lo, dois grandes planos, com as palavras de uma Mãe e
de uma Esposa, personagens colectivas, dadas em discurso directo.
A mãe que nos fala na estrofe 90 é o símbolo da velhice que se abandona,
em troca de uma morte mais que certa no mar. Daí que as suas palavras sejam
de incompreensão e de perplexidade, dada pelas interrogações angustiadas que
ficam no ar, sem resposta. (…)
Repare-se nas sonoridades suaves em i (vogal doce), contrastando, depois,
com a dureza das sonoridades em vogal aberta a. O mesmo discurso dorido,
perplexo, interrogativo é a tónica das palavras da Esposa, na estrofe 91. (…)
Como se vê, esta Esposa interroga, queixa-se e, de certo modo, censura e acusa.
A adjectivação é extremamente expressiva: “doce e amado esposo”; o amor é
reafirmado como “vão contentamento” (“engano de alma ledo e cego” se
lhe chamara no episódio de Inês de Castro), “sem quem não quis amor que
viver possa”, “afeição tão doce nossa” (veja-se a doçura destas aliterações
em s).
Aquele que parte não tem o direito de o fazer, pois aventura algo que lhe
não é pertença privada, “essa vida que é minha e não é vossa”. Ainda no
capítulo das sonoridades, repare-se nas aliterações e rima interna do último
verso: “Quereis que com as velas leve o vento?” Trata-se de algumas das
mais belas palavras de amor jamais escritas, sobretudo tendo em conta que se
trata do amor conjugal, raramente tratado na nossa tradição lírica ocidental.
Após estes dois grandes planos, retoma-se na estrofe 92 a visão de
conjunto: frágeis são os que ficam, mães, esposas, irmãs, é certo, mas também
os velhos e os meninos. A própria natureza se comove e se associa numa dor à
escala cósmica. Aos que partem só resta uma saída: partir depressa, sem o
“despedimento costumado”.

Amélia Pinto Pais, Ensinar Os Lusíadas, 1.a ed., Areal Ed., 1997

Ler~Compreender – Tópicos de respostas (p. 225)

1.1. Seguindo o modelo das epopeias greco-latinas, a narração não começa no


princípio da acção (a partida das naus de Lisboa e início da viagem), mas já a
meio da acção (in medias res): “Já no largo Oceano navegavam,” [Canto I, est.
19].

1.2. Vasco da Gama, que é um narrador participante e subjectivo (atente-se no


emprego do pronome pessoal me, no último verso da est. 84: “Estão para seguir-
me a toda a parte.”). Os alunos deverão recordar que Vasco da Gama continua a
sua narração ao rei de Melinde, a quem se dirige directamente na estrofe 87:
“Certifico-te, ó Rei,…”.

1.3. e 1.4. Este excerto d’Os Lusíadas narra-nos a partida dos marinheiros da
praia do Restelo e a despedida dos seus familiares e amigos. Dividimo-lo em três
partes:

a. Introdução [est. 84-86]: localizada a acção no espaço-tempo, observamos o


alvoroço geral dos últimos preparativos para o embarque da “gente marítima e a
de Marte” (marinheiros e soldados). Prontas as naus, os nautas reúnem-se em
oração na ermida de Nossa Senhora de Belém.

b. Desenvolvimento [est. 87-92] Descreve-se a “procissão solene” do Gama e


seus companheiros desde o “santo templo” (ermida) até aos batéis, pelo meio da
“gente da cidade”, homens e mulheres, velhos e meninos, com relevo especial
para as mães e as esposas. Tanto os que partiam como os que ficavam se
entristeciam e a despedida assume grande emotividade. “Porque me deixas,
mísera e mesquinha? Porque de mi te vas, ó filho caro,” [est. 90, vv. 5-6].

c. Conclusão [est. 93] Refere-se ao embarque que, por vontade do Gama, se fez
sem as despedidas habituais para diminuir o sofrimento, tanto dos que partiam
como dos que ficavam.

2.1. No porto de Lisboa (“E já no porto da ínclita Ulisseia”), as naus estão


preparadas; no templo de Belém, que está edificado à beira da água (“Partimo-
nos assi do santo templo / Que nas praias do mar está assentado,”), os homens
prepararam as almas para a morte (rezaram).

3.1. Rezaram, implorando a Deus que os guiasse e que favorecesse o início da


viagem.

3.2. “Aparelhámos a alma pera a morte, Que sempre aos nautas ante os olhos
anda.” [est. 86, vv. 3-4].

4.1.
a. Os que ficam:
– “Saudosos na vista e descontentes.” [est. 88, v. 4]
– “As mulheres cum choro piadoso,
Os homens com suspiros que arrancavam.
Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso
Amor mais desconfia, acrecentavam
A desesperação e frio medo” [est. 89, vv. 3-7]
– “Os velhos e os mininos os seguiam,” [est. 92, v. 3]
– “A branca areia as lágrimas banhavam,” [est. 92, v. 7]

b. Os que partem:
– “Cum alvoroço nobre e cum desejo” [est. 84, v. 2]
– “e não refreia / Temor nenhum o juvenil despejo” [est. 84, vv. 5-6]
– “Nós outros, sem a vista alevantarmos” [est. 93, v. 1]

4.2. Estrofe 92, versos 5 a 8.

Tarefa:

a) Lê, atentamente, o texto lírico de Fernando Pessoa, nas páginas 225 e 226.
b) Analisa os aspectos da estrutura interna: tema tratado, sujeito a quem se
dirige, particularidades estéticas (expressões mais significativas, como por
exemplo “lágrimas de Portugal”, “Tudo vale a pena / Se a alma não é
pequena” e os dois últimos versos do poema).
c) Verifica o uso de figuras de estilo e recursos estilísticos, exemplificando
com passagens do texto devidamente identificadas.
d) Estabelece uma relação da temática tratada com os factos históricos que
conheces, relevando os aspectos positivos e negativos dos Descobrimentos
Marítimos.
e) Faz a análise formal do poema, ao nível das estrofes, versos e rimas
(estudar rima rica e rima pobre).
f) Redige um texto final que se considere uma análise global do poema de
pessoa, apresentando as ideias progressivamente e de forma organizada.

Eva Antunes

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