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MONOGRAFIAS Muitos cursos superiores exigem do aluno, como trabalho de término de curso, uma monografia. Entretanto, nao raro, os alunos se encontram perdidos na hora de escrever esse género académico. Ainda que haja varias obras sobre o assunto, poucas Possuem uma linguagem clara para um iniciante. No intuito de contribuir com o tema oferecemos, aqui, algumas sugestdes que podem ser titeis. » por Edmar Cialdine* éneros textuais sdo caracterizados consequentemente, sta leitura e compreensio poderia por sua funcao sociocomunicativa ser comprometida. f por sua estrutura mais ou menos Apesar do status dos géneros académicos, eles nto fixa, Mais ou menos porque, 20 sio excegdes. Pelo contrério, as vezes 6 muito mais fécil ‘mesmo tempo em que a estrutura escrever uma carta formal que fazer, por exemplo, uma se transforma segundo a necessidade do usuario, resenha, Nao raro, o formato de um género académico se tal estrutura se modificasse excessivamente, 0 segue as diregSes dadas pelo responsével que a pedi. usuario teria dificuldades em reconhecer o géneroe, _Assim, ao escrever um artigo é preciso ficar atento as, 2G | cesroustits | LINGUA PORTUGUESA Se vocé esta apresentando seu trabalho, é necessdrio deixar claro o que ele é, a sua relacdo com o tema, a importancia, o motivo da escolha normas da revista; a0 fazer um trabalho, ao professor; uma monografia, 20 orientador e ao avaliadores. Claro que, ainda que haja diferencas, tais textos possuem partes em comum, Nesse sentido, resolvemos, aqui, apresentar algumas sugestdes do que acredito que seja uma forma de estruturar um texto académico, mais especificamente monografias. Importante que se diga que nao é o objetivo desse texto ser taxativo ~ “faga assim’, “esse 6 0 jeito certo” - ao contririo, pretendemos ser uma contribuigdo a mais. Nesse sentido, baseamos esse texto em nossa experiéncia como leitor,orientador e produtor de monografias. ‘Antes de qualquer coisa, nao é nosso objetivo tratar de normastaqui, abordaremos os elementos textuais, 0 “miolo” da monografia. No entanto, sendo necessario poderemos mencionar algumas poucas coisas. Outro ponto é que seguiremos a quantidade de capitulos partindo da Introducio. Sim, tanto Introdugo quanto Conclusdes podem ser considerados capitulos. Desse modo teremos: Introducio, Fundamentacio Teérica, Metodologia, Anilises e Conclusées. Encerrarei com algumas observaces finais sobre apéndices e anexos. INTRODUCAO Para muitos, comecar um texto é tao torturante como tentar criar um novo habito. Comegamos de ‘um jeito, de outro e outro... e geralmente nao ficamos satisfeitos. As vezes, contudo, depois que comecamos, o dificil 6 erminar. A Introdugio de um texto deve ser sua apresentacao ao leitor, como quando nds nos apresentamos para alguém — e geralmente, causar uma primeira e boa impressdo ¢ essencial. Nao ¢ porque 0 texto é académico que ele precisa ser chato e cansativo. Sempre dizemos aos alunos que a principal diferenca entre o Projeto de Pesquisa monogritica e a Monografia em sié a anilise feita na Monografia. Grande parte do Projeto, vale ressaltar, vai parar na Introdugio, Se-voct esté apresentando seu trabalho, & necessério deixar claro 0 que ele é. Comegar fazendo um pequeno histérico sobre sua relagdo com o tema, por que 0 escolheu, qual a importancia dele para vocé...é um bom inicio e vocé pode deixar claro que sua formacio académica se direcionou para 0 tema. A propésito, no deixe de esclarecer qual seu tema e, principalmente, a delimitacio" dele. ‘Aos poucos vocé vai saindo de vocé para a academia, isto &, voce vai deixando de escrever sobre a importancia dele para voce e passa a dissertar sobre a importancia do tema para o universo académico. CChegamos, assim a justificativa e problemética do tema. Explicite bem o problema que existe na area, a lacuna que seu trabalho se propée a preencher total ow parcialmente. ‘Acrescente, logo apés, as questies de pesquisa: ‘0 que vocé pesquisou sob a forma de perguntas. Essas questoes de pesquisa podem ser vistas como a problematica resumidas sob a forma de perguntas. Nao esqueca de uma coisa, seu objetivo sera respondé- las e & de grande importancta para o seu trabalho que cessas questdes sejam praticas e reais. Caso queira, acrescente possiveis respostas para tais questoes (620 as hipéteses). Geralmente, ndo aconselho um pesquisador iniciante trabalhar com hipéteses. O aluno pode ficar condicionado a querer provi-las e acabar comprometendo as anilises. Todavia, cada TH} peo que w aun ena concent ds norma eatds om cir uieriace Mit ves, €eamendade ou Ga ABA ma ene, cto, 30 ao, 35 esis posse supple de norms pa pablo ce bulho, eeliment ion! no sited uniesidace, Wales pena vec infrmao com © vanadet poessor dling os meso como bible. (2 utes ofan “tra, do tema” eu”. toma a rea de pesqusa que vk st tabaande or exemple eta, Unita cogniti ; detodessa a, mt pode ser pss, partanto, merece sr especicado, tao vd elma otal, como cstumaros dt, € nome nts” name que vt pose ‘ar pr “vender stu pet Wt pede, ins, ws delta de tema come tle ov iar um que chame ang, Conant ris | LINGUA PORTUGUESA | 27 ee tum é cada um e cada pesquisa ¢ tinica. Contudo, caso ‘oct apresente hipéteses, tenha a mente aberta para «a possibilidade deles nao serem confirmadas ¢ tenha certeza que isso nao diminui em nada seu trabalho. Antes de concluir a Introducao, apresente seus objetivos (nao deixe de relacioné-los com as questoes de pesquisa). Seu trabalho teré tantos objetivos quantos forem suas questoes de pesquisa. £ comum cles se dividirem em objetivo geral e especificos - mas isso nao ¢ uma regra, vocé pode apresentar apenas “objetivos” sem especificar nada. O objetivo geral é 0 ponto que vocé quer chegar, o principal objetivo do seu trabalho - ele parte da principal questo de pesquisa; ji 0s especificos sdo secundérios e nascem a partir das demais questdes. Imagine um guarda-chuva: a haste central é 0 objetivo geral, as demais, os especificos. Para concluir"a Introducdo, é de praxe detalhar a estrutura da Monografia: quantos capitulos e do que trata cada um. Importante lembrarmos que, quando estamos produzindo o texto, a Introdugio geralmente éa liltima parte, jé que ela depende de todo o resto do texto, Entdo, se vocé comegou por ela, ndo tem problema; mas fique ciente que, possivelmente, tera que fazer modificagoes. CAPITULO TEORICO No que se refere ao capitulo de fundamentagio te6rica, interessante comecar apontando como essa parte da Monografia se organiza. Voce também pode (€ deve) ativar 0 conhecimento prévio do seu leitor indicando as principais referéncias de seu trabalho, | como em um resumo. Explicando melhor: se nesse capitulo a Linguistica for o foco e vocé mencionar Saussure logo de inicio, oleitor saber que voce esta seguindo uma linha de raciocinio estruturalista, ‘mas, se vocé mencionar Halliday, ele saber que sua perspectiva é de base sistémico-funcional. Claro? ideal é que toda teoria de seu trabalho se encaixe em um nico capitulo, ainda que voce trate de pontos diferentes. Nesse sentido, uma organizagao em sees ¢ subsegdes tornari o seu texto mais organizado. Outro ponto importante: se voce, no Projeto da Monografia, desenvolveu bastante a teoria de sua pesquisa, aqui, na Monografia, apenas uma revisio rapida poder ser © suficiente. Todo trabalho a mais que voce teve no Organize cada teoria utilizada em uma secdo, veja quem a desenvolveu, seus principais pesquisadores, os conceitos- chaves da teoria. Esta é uma excelente forma de desenvolver um capitulo Projeto reduziré seu trabalho na Monografia. No capitulo tedrico, o objetivo é deixar claro todos os autores, conceitos ¢ teorias chave que serao, utilizados na hora de analisar os dados coletados. Nao faz sentido, assim, voce tratar de tedricos ¢ teorias que nao Ihe serao titeis na anilise. Por exemplo, se seu trabalho trata da lingua portuguesa no século XVIII, nao faria sentido falar sobre géneros digitais. ‘Organize cada teoria utilizada em uma sega, veja ‘quem desenvolveu tais teorias, quais pesquisadores trabalham com elas e, principalmente, defina os conceitos chave dessas teorias: esté pesquisando sobre pris do que mrad pra geo nos ito o capfawetenda como ee api se Teco ena eu anc (ae see, una haa sap sone), na pu apc 2B | cover rec | LINGUA PORTUGUESA Bereta ce a aR a a Se Sk Letramento? O que é Letramento? O que nao & Quem define assim? Quem assume essa mesma posigo? Qual a sua posicao? ‘Tracar um histérico sobre as teorias, seus objetos de estudos e metodologias de pesquisa e resenhar + algumas pesquisas jé fetas é uma dtima forma de desenvolver o capitulo. Mas nao esquesa, evite fazer julgamentos e andlises ~ nao é a sua voz que se ‘manifesta aqui, mas a voz dos autores. Guarde suas opinides para 0 momento certo: as anélises! CAPITULO METODOLOGICO Quando elaboramos o Projeto da Monografia, & esse o capitulo mais importante. E quando escrevemos ‘como pretendemos pesquisar. Contudo, a medida ‘que comegamos o trabalho de pesquisa, comumente ‘modificamos 0 que planejamos por conta de imprevistos, ‘Na Monografia, com a pesquisa ja finalizada, podemos comparar o que tinhamos em mente com o que realmente fizemos, Alids, uma primeira sugesto para desenvolver esse capitulo é essa: um pequeno relatério sobre como a pesquisa foi planejada e como foi feita na pratica. Para aqueles que tiveram dificuldades em fazer essa parte no Projeto, é preciso perceber que, a metodologia de uma pesquisa é 0 como sera feita a pesquisa (na ‘Monografia como foi feita), Da mesma forma que ‘uma receita de bolo, quanto mais detalhada for a ‘metodologia, melhor. Imagine que ela deve ser descrita de tal forma que qualquer pessoa que ler seu trabalho ‘orca Pio | LINGUA PORTUGUESA | 29 Cae ory Além da natureza da pesquisa, hd o universo de pesquisa: é neste que se dard todo o trabalho, que pode ser realizado numa escola, comunidade, etc. Este universo deve ser detalhado e é partir dele que vocé terd as pessoas envolvidas com a pesquisa — os sujeitos de pesquisa da sua monografia possa ter condigdes de reproduzi-lo passo a passo com © objetivo de ter resultados aproximados. E claro que, como cada pesquisa é uma pesquisa, as necessidades metodolégicas divergem muito, por isso © capitulo de Metodologia costuma ser diferente para as diferentes pesquisas. Logo apés a introdugio desse capitulo, precisamos cespecificar o Tipo de pesquisa ou Natureza de pesquisa, essa é a primeira e fundamental parte. ‘Uma pesquisa bibliogréfica nao terd necessidade de ir A campo, assim como em um estudo de caso, &necessirio uma anélise extensa - cabe aqui uma leitura sobre os tipos de pesquisa que existem, um bom livro de metodologia pode detalhar isso bem!™™*. Além da Natureza de pesquisa, ha o Universo de pesquisa. Este ¢ 0 ambiente em que se dara todo 0 trabalho: uma escola, uma comunidade etc. endo esqueca de detalhar sobre esse Universo. A partir dele voce terd as pessoas envolvidas com a pesquisa, isto 6,08 Sujeitos da pesquisa. Se seu Universo é a escola X, entdo quem sao seus Sujeitos? Os professores de Inglés do nono ano? Os alunos que apresentam dislexia? Os intérpretes de Kinguas de sinais? Claro que vocé deve detalhar como esses Sujeitos participaram de sua pesquisa. Ts oor de ese eo aor om gue repos nanos cian de px: a Gebers pei, ato pat. tdo Que ns oce dante opera de £ do Universo e dos Sujeitos que iremos retirar os dadios, mas as vezes, nem todos os dados coletados serio utilizados. Vocé pode retirar uma amostra, por exemplo. E a pergunta agora seria: qual 0 critério que vocé utilizou para selecionar esses materiais? Entao, 0 Critério de Selegao do Corpus precisa ser esclarecido também ~ ainda que ele seja escolhido aleatoriamente: apenas as redacbes com notas abaixo da média; ou as aulas observadas em que o professor usa 0 dicionario; ou as obras literdrias produzidas nos ultimos dez anos... enfim, seja qual for seu critério, explicite-o. ‘A propésito, para coletar esses dados, geralmente tutilizamos alguns meios e tais meios precisam ser esclarecidos também. Sao os Instrumentos de pesquisa. Uma entrevista, um questionério, um curso ou oficina... tudo que servir de forma para coleta, armazenagem e tratamento dos dados. £ importante que nao se confunda os instrumentos de pesquisa com 0 material analisado. Isto é, no podemos confundir os meios com os fins. Uma entrevista com o professor é um meio (instrumento) para saber qual a sua formagio na drea que atua (inalidade). Sim, s4o muitas informagées. Como dissemos, {quanto mais detalhada for a Metodologia, melhor. Mas nao acaba por ai, antes de finalizar o capitulo, precisamos apontar os Procedimentos utilizados: qual a ordem das etapas realizadas? Lembrem-se da receita do bolo, se esti escrito “ferver o leite e depois misturar a massa” e voc# fizer 0 contrario... adeus bolo! Nos Procedimentos, sempre sugerimos uma pequena explicagao do passo a passo e, em seguida um quadro resumindo tudo. Acreditamos que isso torna o texto mais apresentavel. F atengio: nfo esquesa da pequena conclusio do capitulo! CAPITULO DE ANALISES Eis 0 seu grande momento, a andlise dos dados coletados. E nesse capitulo que voce expe sua voz, suas opinides, observagdes etc. No capitulo tedrico sfo as vozes dos autores, das teorias que prevalecem. J no capitulo metodolégico & a necessidade da prépria pesquisa que dita as regras... mas nas Anilises (dentro de um bom senso) quem manda é vocé! Divida bem as segdes, faca uma introdugao e conclusio desse ‘passa, Si evrmamente ea how de aes um reat al de essa, ue wane pat gue lesions dies poder se apovace, endo um ‘it pesoul «rane eta sua iberdade ctv, oh Tes pro gue psa ser sito en un dio ds te. 30 | cue:nsea ate | LINGUA PORTUGUESA SUGESTOES DE LEITURA Hé muitas obras sobre pesquisa, metodologia de pesquisa e producao de géneros académicos. iremos aqui sugerir duas que se destacam por fugir um pouco do lugar comum. A primeira delas é 0 livia ‘Asegunida sugestao é Planejar Dissertagdo néo é bicho popao: _géneros académicos de autoria desmiticondo monografas, denna Rachel Machado thane teses e escrtos académicos, 4a editora Rocco. Nese lvro, a ‘autora, Simone Pessoa, trata do ‘tema em uma linguagem leve © extremamente acessivel Uma excelente leitra para quem acha (que produair uma monogratia & algo impossiel. tousada, La Abreu-Tardeli, publicado pela Parébola editorial. COinteressantedesse livia € que ele trata do assunto de forma rita: através de exerccos ‘que abordam desde a escolna dotema até 2revsio nal. Uma obra extreramentediditca, capitulo, discuta com seu orientador suas reflexdes, compare sempre com 0s te6ricos e pesquisas apontados antes, mas no perca o foco do trabalho: no esqueca que voce levantou questées de pesquisa {que precisam ser respondidas! Nao se preocupe em dar conta de tudo, uma pesquisa de verdade nunca termina, apenas da uma pausa Para aqueles que, durante a pesquisa, mantiveram ‘um didrio de pesquisa", é chegada a hora de usar as observagies ¢ reflexdes feitas. Para aqueles que no fizeram, uma forma de comesar seria escrevendo livremente sobre o que percebeu durante a pesquisa feita. Observagdes e reflexdes pessoais so bem- + vindas nesse primeito momento. Contudo, é preciso ‘que, a medida que o capitulo for sendo desenvolvido € reescrito, ele seja direcionado para seus objetivos de pesquisa. E nao deixe de, ao final, fazer a conclusao do capitulo, CONCLUSOES Por mais contraditério que posso parecer, suas conclusdes nao precisam ser conclusivas. Vocé nio precisa fechar 0 assunto. Um bom pesquisador reconhece as limitages de seu trabalho e so essas limitaGes que fazem com que ele continue pesquisando. Alids, muitas vezes, a0 final de um longo trabalho de pesquisa sobram muito mais perguntas {que respostas. Apés a introdugdo desse capitulo, faga uma sintese de todo o trabalho feito; retome as questées, de pesquisa ¢ exponha as possiveis respostas que voce encontrou; aponte as dificuldades que vocé teve e ‘como essa pesquisa contribuiu com sua formagio € ‘como ela pode contribuir com a formagdes de outras pessoas. Finalize com perspectivas futuras para 0 tema, isto 6, propostas de temas de pesquisas que voce pensou durante o processo, mas que no pode fazer. ANEXOS, APENDICES E OBSERVACOES FINAIS As vezes seu trabalho pode exigir que voce acrescente materiais utilizados e/ou encontrados, que so os Anexos e Apéndices. Alguns diferenciam © primeiro do segundo por este ser um material produzido pelo autor e aquele apenas um material utilizado, Se voce fez entrevistas com alguém, voce deve ter as transcrigoes dessas entrevistas; se voce promoveu uma oficina, os planos de aula e atividades etc. Acreditamos que todo material é vilido, até porque pode ser reaproveitado em alguma pesquisa fatura No entanto, cabe a vocé com o orientador decidir a necessidade ou no de acrescentar esse material. Por fim, nio deixe de fazer uma revisio de seu texto, ou melhor, pedir para que alguém o faca. Chega um momento que estamos tao cansados de tanto ler e reler que nao conseguimos mais ver 08 problemas dentro do texto. Mantenha uma certa formalidade na Kngua, nao use marcas de oralidade e tenha atencao 4s normas exigidas. Acredito que, com isso, voce poderd ter uma ideia de como comecar a fazer sua Monografia. “Francisco Edmar Galdine Arewda Teor da Universidade Regional do Cai, esteem Ungultkaapicada pela Universidade GSadual Go ear pesgusador

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