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CEES yr Aescrita foi uma das maiores invengdes da humanidade. Por meio dela, qualquer lingua pode ter seu Wan registro perpetuado por séculos. No que se refere as linguas de sinais, no nosso caso a LIBRAS, a escrita | © possui parametros que a diferenciam U das linguas orais. Vejamos, entao, um pouco como se deu a origem dessa escrita diferente. | | | ditere »poc FRANCISCO EDMAR CIALDINE ARRUDA * No escrita exerce uma indiscutivel influtncia na sociedade. Ela no apenas cumpre fungbes de comunicagao a distincia, registro cultural etc, como ainda possui um poder legitimado por ser uma tecnologia” considerada fundamental para o desenvolvimento de qualquer civilizagio, Basta ‘vermos 0 preconceito que sofrem as sociedades égrafas (sem escrita), ou ainda, como a oralidade ¢ (pouco) tratada na educagio comparada a escrita. Devido ao cardter recente da legitimagao das linguas de sinais, o surgimento de uma forma de registro escrito tardou a aparecer — 0 que, de certo ‘modo, penalizou as interagbes entre os surdos a distancia, ANECESSIDADE DE ESCREVER EM LIBRAS ‘As linguas de sinais atendem as necessidades de comunicagio presencial dos surios, isto é, as suas necessiddes de se comunicar com outros surdos em interagdes face a face. Quando se trata de uma comunicagio a distancia, os ouvintes geralmente usam a escrita, 0s surdos, de modo geral, ainda tém que recorrer escrita da comunidade ouvinte em que vivem porque s6 as, linguas sonoras tgm formas estabelecidas e consagradas de escrita, nio havendo, ainda, formas amplamente divulgadas de escrita de sinais E claro que existem varios recursos tecnolégicos hoje que fazem uso de imagens e videos, porém tais recursos nao sio tio acessiveis a todos eem todos os lugares. Registrar suas ideias, emogdes, literatura, enfim, todos os aspectos culturais em uma lingua que no ¢ a sua propria causa um impacto educacional ~ principalmente no que se refere as questies de Jetramento ~ dai as peculiaridades da escrita em lingua portuguesa feita por surdos. Como consequéncia, do ponto de vista de interages, sociais, iso significa que ndo s6 as relagdes pessoais entre surdos estdo presas ao instante presente, mas também que esto distanciadas no espaco. Essas relagies seriam ‘mediadas por elementos culturais e comunicativos que iio thes sio proprios, a escrita ouvinte, o que significa que as expresses culturais e comunicativas dos surdos de uma época s6 podiam ser registradas nessa forma de escrita. Com isso, acaba sendo necessirio fazer uma _ transliterago , dos textos ou mesmo uma tradugio: traduz-se, por exemplo, da LIBRAS para 0 portugués e depois € feito o registro escrito, Nem é preciso se estender muito para imaginar como isso & problemitico para a comunidade surda.. © NASCIMENTO DA ESCRITA DE SINAIS Por esses motivos, varios pesquisadores tentaram criar formas de registro que dessem conta da complexidade .gestual das Iinguas de sinais. Dentre esses pesquisadores, podemos destacar Willian Stokoe ‘coma Notago Stokoe. Porém, a mais importante delas, por ter se universalizado, foi a singwriting (escrita de linguas de Sinai). Essa notacio foi desenvolvida em 1974 por Valerie Sutton e, hoje, é usada como base para a escrita de sinais de outros paises. Sutton havia criado um sistema para descrever e registrar, em papel, os movimentos de dancas (dancewriting) Essa forma de registro chamou a atengio cde pesquisadores da lingua de sinais dinamarquesa. A dancewriting foi, entio, adaptada para registrar os sinais por escrito. Com isso, surgiu, na Dinamarca, a escrita de sinais, Em seu site, <>, Valerie Sutton conta essa histéria com detalhes, oferece material de aprendizagem e muito mais. ‘A escrita de sinais comporta cerca 900 simbolos que PORTULIBRAS Sempre que escrevemos algo em outra lingua 6 dificil ndo se deixar levar pela lingua materna, principalmente quando estamos no inicio da aprendizagem da lingua estrangeira. Nao raro um aluno brasileiro escreve, em inglés “i like of you", j4 que, em nossa lingua, 0 pronome de primeira pessoa do singular pode comegar com inicial minuscula e o verbo “gostar" pede a preposicao “de” ~ diferentemente da lingua inglesa. Com os surdos acontece algo parecido: ao escrever um texto em portugués, © aluno surdo leva para a escrita muitas das caracteristicas linguisticas da LIBRAS para o portugués. Situacdes como verbos no infinitivo, sentencas sem preposi¢ao ou com 0 uso equivocado delas, pronomes pessoais do caso reto sendo usados como complementos verbais etc. 0 livro A construcdo de sentidos na escrita do aluno surdo de Marilia da Piedade Marinho Silva, langado pela editora Plexus, trata desse tema. A prdpria apresenta exemplos como. “Fernanda vai ficar chorando porque quer saudade no precisa chorando eu te amo", "Eu vou para Itabira porque prima minha cas. Amanha vou viagem Belo Horizonte. Eu dormiu minha tio da casa”. Cortecnet tes | LINGUA PORTUGUESA | 171 acre LIBRAS RETRATQR Willian Stokoe fognteser fo tneaee @rceM quirolégico “Quirtigio", “quirema “quirologia™ sao termos usados como equivalenes nas inguas de sina a “onoldgico" “fonema”e "fonalogia” em que “quiro” significa “mao”, em detimento de “fone”, “som REFERENC gi LIBRAS - A Imagem do Pensamento an Cy NCEITO transliteracaéo Atransiteracao é uma espécle de “tradusdo” entre linguas que usam aifabetos diferentes. Seria, por exemplo, se escrevermos japonés, Brego, russ, drabe etc., em alfabeto latino. & Organtzasio Internacional de Padres, 150 (em inglés), estabelece normas para esse processo nas diversas Hinguas no mundo, bbuscam descrever as movimentos, as configuragées, pariimetros nao manuais 0s pontos de articulagio, isto & mostra a forma como o sinal pode ser produzido. Desse modo, ela pode ser equiparada a um alfabeto fonético,cuja junc de simbolos para formar o sinal pode ser adaptada de acordo com as necessidades da lingua. ‘Sendo estes simbolos internacionais, podemos dizer que a escrita de sinais pode ser adaptada para descrever qualquer lingua de sinais do mundo. NEM TUDO SAO FLORES Apesar de ser mais pritica que os classicos desenhos feitos nas aulas de LIBRAS ga escrita de sinais ainda esti em seus primeiros passos. A maioria dos surdos brasileiros ignoram a existéncia dessa modalidade escrita. linda assim, sua importancia para a concretizacio da educagio bilingue é um fator que nao pode ser negligenciado. F claro que, como é um sistema ainda em desenvolvimento, tal escrita tende a possutir uma grande variagdo de tracos. Explicando melhor: para o sinal de surdo, o dicionirio trlingue (LIBRAS, portugues inglés) produzido por Fernando Capovilla e Walkiria Raphael, distribuido pelo MEG, registra: 2 | A escrita do sinal de SURDO O simbolo asterisco indica que ha toque, no caso na boca e no ouvido. Entretanto hé uma variacio na produgao do sinal. O sinal de surdo pode ser feito sem que haja toque, ou havendo toque apenas em um dos pontos (no ouvido ou na boca) como se comprova no contato AD | coresneno ase | LINGUA PORTUGUESA didrio com diferentes surdos. Em tese, sua cescritavariara entre as seguintes formas 2K MS ES |S Variacbes para a escrita do sinal de SURDO- Todavia, ressaltamos que esses tracos ‘Go fonéticos e nao fonoldgicos, isto 6, estando apenas no plano da produgao, nao geram mudanca de significado. Sobre esse assunto, os autores do dicionério afirmam: “Da mesma forma que a eserita de uma lingua falada ignora detathes nao essenciais de promtincia e prosédia, mas atém-se aos fonemas que compéem essa Tingua e as correspondéncias grafonémicas cestabelecidas; para que venha a ser um sistema prético, Signwriting nao pode registrar cada pequeno detalhe quirolégicow dos sinais, mas apenas seus quiremas fundamentais, ignorando variagées menos importantes de promiincia ¢ prosédia da articulagéo dos sinais, e atendo-se aos quiremas crticos capazes de distinguir entre sisinais semelhantes em forma (i.e, composigio quirémica)” CONCLUSOES A divulgagio da escrita de sina ccumpre um papel politico e linguistico de extrema importancia, Gragas aos esforgos de alguns pesquisadores, na regitio Sul ja existem criangas sendo alfabetizadas em signwriting. Contudo, no quadro geral,tais realidades ainda se configuram como excecao & regra. A acessibilidade dos surdos aos seus direitos perpassa, também, pelo acesso a sua propria escrita. a Unwerce nnd’ Cause pena 0 Sp fe Pumas em Lneograta, omunclegin Erno LETENS) ‘donslen ae Pnquas om Unguaen Apia fs sanes ‘Eons trmosasde sexta Sess Con: oteoiogmalcem OUTROS SISTEMAS DE ESCRITA Além da escrita Signwriting existem outras notagdes conhecidas. Destacaremos a notacao Stokoe, notacdo Francois Neve, Hamnosys e o sistema D’ Sign de Paul Jouison (fonte das imagens "Escrita de sinais 1" de Marianne Strumpf, material produzido para o curso de Letras LIBRAS). i Age Jaa) Hamnosys: Criado por Priliwitz Vollhaber, da Universidade de Hamburgo, possui varias versoes informatizadas: m< Spqvler-Ebovz- ve spivedeve-) me Wao'gbsxe IWsévaius vd cpavedove-s vs QE'Bqu'ezssw-ives ve SOUE-n m>Sighe tar Soutw-wawz’ ave lougves-iv Exysugate- AU Qawz-veez-Ymiv m< we QR'Yxue P>ALSQuROMIV m< vo (A'SYSSoms-ngze\pUL m< (PH'S~SS00-Y'arv Ya'QUr-qv ISyugemiv mc V6 YAXG'Psae-VA Z4dKG’Psaz-vEr-pms HEpres Czpsugale-nc-pawzd — Ym. SPaveievzs Iygotom™ Spgdy-xmvo-@ (mr 9-3" Pube-Ccpig-Ne-pasy vd §-4"use-€oys Bv-pis vb Qiss mia’ ps k'yxgis >, b"pube-kcpia’gs"ispawz acipe’yxqisz-ficipasz| cxksz Od" Sue -CcpI4-2 spavouovz ncés5ytv-euurasd” ao-Syuuaye #Sqvo's) | -meyiuve Sistema D” Sign de Paul Jouison: sistema extremamente complexo de escrita que nao foi concluido devido 4 morte de seu idealizador. Paul Jouison deixou muitos manuscritos e rascunhos que S20 objeto de estudo hoje, Ele trabalhava com sentencas completas e nao sinais isolados. Acima um fragmento da escrita D'Sign: a [| grower ane | SV conae CC (ieoasncsi G |x H [econ Notago Francois Neve: Criada por Francois Xavier Neve, da Universidade de Liége, na Bélgica, basela- se na notacao stokoe, porém com mais detalhes que Ihe permitiram ser informatizada: iF — Vine xe yy 8 ») Nota¢do Stokoe: uma notacio criada por William Stokoe, na Universidade Gallaudet, para registro de suas pesquisas sobre a Lingua de Sinais Americana. Acima 0 quadro com as cofiguracées de mao ea notagao: Pee a Ne LINGUA mom )_> an PRO IeeNCO eons y Can tn ml har) | E em nossa lingua CEU) Weg (QU) Va eC SESCRITA AUS eae UD WU ae ED STR OER) papel do professor CITT ae A historia e as emesis OO TET Tok Te UA ConE) possibilidades ce} OTe OMe Lcd de Ferreira Gullar SUE CULL Ly

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