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SEMINARIO DE PESQUISA DO OESTE DO PARANA FUNDACAO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANA CASCAVEL (PR). 16 A 18 DE OUTUBRO DE 199] A CONSTRUCAO DO OBJETO CIENTIFICO NA INVESTIGACAO EMPIRICA PROFESSOR JACQUES A. L. MARRE CURSO DE POs UNIVERSIDADE FED (UFRGS) AVENIDA BENTO GONCALVES. 9500 PORTO ALEGRE (RS) TELEFONE: (051) 225.74.06 ‘GRADUACAO EM SOCIOLOGIA RURAL ERAL DO RIO GRANDE DO SUL I~ A CONSTRUCAO DO OBJETO 2.1 - Introducio Na primeira parte da reflexdo tentou-se apresentar como ¢ por que uma consideragio das desconti- luidades e rupturas histéricas na historia do pensamento cientifico € relevante, Tentou-se sugerir quio in- dispensdvel e pedagogico € fazer a assimilacdo. a revivéncia ¢ rememoragio dessas descontinuidades para a ‘ransformagdo atual do pensamento cientifico, Sugeriu-se também que o capital cultural assimilado. dialeti- zado através do conhecimento dessas descontinuidades. & 0 passo anterior, quase que necessério 4 construcio do objeto cientifico, Ninguém parte totalmente do nada, mas cada um de nos se insere numa historia que ji se Produzia seus frutos cientificos com os instrumentos e as técnicas da sua época. Conhecer melhor no apenas “ © produto, mas igualmente as descontinuidades em que se criou esse produto, € na realidade aprender 0” 0ficio de pesquisador. Desvendar a historia das suas praticas & sem diivida alguma preparar-se para a cons- ~ & tugio de novos objetos. ‘© SBjetivo do trabalho aqui empreendido, nessa parte agora, ndo consiste mais numa rememoragtio ou numa a’similagio, mas na tentativa de elucidar como se pode construir um: objeto cientifico, Sem diivida renhuma, supSe-se um certo cowhecimento do passado e das praticas tanto teOricas quido operacionais da cigncia. Mas como 0 fazer cientifico ¢ também ui recomeco ao mesmio tempo critica do passado ¢ criador de Rovos produtos. o objetivo dessa parte consistii em sugerir 0 processo pelo qual a construgiio de ura objeto cientifico se realiza Sugere-se aqui que essa construgdo provede a partir de uma dupla dialética: a) uma dialétiea as] cendente, que vai da apreensio do tema empiric para sua construgio, dentro de um quadro de hipoteses ie6ricas no somente vilidas, mas Tgualmente relevanics. b) uma dialética descendemte que. partindo da slaboragio te6rica efetuada no primeiro processo da dialética ascendente. tenta pelo contrario torn-lo nao Somente operacional mas suscetive! de uma demonsiracdo ou de yma verificagdo empirica. Ha descrigios desses dois processos dialétices, ascendente ¢ descendente. que nos permitira tentar dar conta da melhor :anciea possivel do modo peio qual o processo de construgio do objeto funciona ou pelo menos se configura dentro do conhecimento cicmtifico. distinto ¢ diferente do conhecimento vulgar ou do senso comum, 2.2 - A Dialética Ascendente da Construcio do Objeto Construir um objeto cientitico ndo é simplesmente identificar ou adotar uma questo colocada pelo senso comum, 0s partidos politicos ou a opinizo publica, e depois refletir metodologicamente sobre o modo de upresentar essa questo. E preciso primeiro conscientizar-se do fato de que os objets cientificos so dife- rentes dos objetos sociais produvidos pela sociedade ou. como. diz Bourdieu, pela soctologia esponianea do senso comum ow da opiniio publica. Bourdieu niio nega que determinadas questdes ou problemas constitu dos pela sociedade sejam importantes. mas salienta também que objeios sociais aparentemente insignifican- {es podem tornar-se problemas ¢ objetos cientificos importantes a serem consiruidos: "0 que conta, escreve Bourdieu, &, na realidade, a consirucdo do objeto, # a eficaicia de um métode de pensar nunca se manifesta do bem como na sua capacidade de constituir objets soctalmeme insignijicantes em objetos ctentificos on, 0 que & 0 mesmo, na sua capacidale dle reconstruir clentificamemte os grandes objetos socialmente impor antes, apreendendo-os de wn angulo inprevisto” (Bourdieu, 198920). Assim, tanto os objcios sociais insignificantes para a sociedade como os objetos sociais importantes fo apreendidos de um modo diverso pela cigncia. A questdo inicial que se coloca no proceso dle uma dake tica ascendente constitutiva dos objetos cientificos é saber como ocorre a prin Ora, cia ocorre através da escotha de um iema de pesquisa, ~ Escola do tema de pesquisa. A dialética ascendente como escolha do tema. Qualquer manual de pesquisa refere a escolha do tema como sendo um dos momentos ‘importantes de uma investigagio empirica e sobretudo como um dos momentos importantes iniciais da consteucd0 do objeto. Por que esse momento ¢ importante e como cle se realiza So duas questdes que convém tratar em profundidade. ~ Primeiro, escother um tema é caracterizar um determinado processo como relevante para uma ins vestigagdo, ou seja, scernir no apenas no fato de observa-io ou de ver a sua importincia salientada pela Sociedade - um assuinto digho de estudo: mas muito mais: perceber, alvez ainda de mancira confusa. que 0 objeto em cstiaa OS POSES THT Wj do com deerminates alee, No realidad, uramentsunv neste uum objeto de estudo ¢ escolhido por si mesmo ¢ em si mesmo, isolado de qualquer sistema de valores. Se a escolha € estudar 0 processo de produgio da representagdo sindical ou ainda a geragao de determinades ‘eonologias agririas diversas (produgdo de mags ou de uva), raramente o faremos simplesmente por conhe- cer s6 € somente o processo. Weber nos lembra que dificilmente se poderia fazer abstrac3o dos valores mais. intimos da personalidade do pesquisador. na sua escolha de um tema (Weber, 1958: 44). Mas 0 fato de esse alo envolver valores préprios a uma personalidade e relativos a sua concepedo da vida, no quer dizer que 0 tema escolhido nfo seja objetivo. Pelo contraio, pode ser dotado de um significado altamente valioso no SSHTE ArT G TRING aoe esol, mas igialmene para outros que adotam ou simplesmente reconhe- cem aguele sistema de valores. Weber vai até dizer que “wna coisa ¢ segura em qualquer cireunstincia quanto mais universal seja 0 problema em questo, isto & em nosso caso, quanto mais aniplo seja seu signi- Sicado cultural, tanto menos ele seré capaz de uma resposta extraida do material de um saber empirico e tanto maior o papel dos axiomas pessoais iltimos da fe ¢ das idéias valoraivas” (Weber. 1958: 45-6). No- tar-se-i quanto do individuo e do sistema de valores ao qual ele pertence esti engajado na escolha de um tema ciemtifico relevante. Nao ¢ possivel dizer. portanto, que se pode fazer uma escolha neutra: pelo coniri- ro, pode-eafirmar que a esto 25 Tir Se fe porgus esd rclacionads Som a icine Ge aloes & com as conviegbes iltimas do individuo que o escolhe, ¢ ¢ assim que adgaire um significado valorativo determi- nado, Eis, portanto, uma das razSes da escolha de um tema. Mas 0 como se escothe ¢ igualmente importan te. A Na matieira de escolher, procede-se através de uma niptura, Nao hd tema escolhide pelo pesquisa dor que o seja do mesmo modo que o senso comum o valoriza. Pelo contrario, para que um processo de es ~ sotha possa ser considerado cientifico, ha necessidade para 0 cientista de se distaneiar, de criticar ¢ avaliar © modo pelo qual a opinidc piiblica, o Sériso-Comum cu Os partidos politicos tratam da questio, Ciencia. ou melhor. pritica da investigago empirica. no € de maneira alguma identificagdo com cssas diversas proble- miticas assinaladas pelo senso comum ou pela opinido pitblica. E possivel que. no modo de delimitar tema escolhido, algumas observagdes Feitas pelo senso comum ou pelos meios diirios de comunicagao social sejam. Jevadas cm conta, mas clas serio a tal ponto criticadas, avaliadas e classificadas. que a prdpria dinimica do senso comum ou da sociologia espontiinea — que servitt de base di elaboraglo desis obser agdes ~ ser’ nega- da dialcticamente. De modo algum, 0 cientista & uma vor que presta sua voz a0 partido, 2 opinidlo pablica, para solucionar os problemas no modo pelo qual o partido ou a opinide pitblica querem que sejam soluciona- dos. Pelo contrario, ha necessidade de uma ruptura bastante acentuada entre © modo pelo qual os temas sio “e-escolhidos pelos politicos ¢ 0 modo pelo qual os mesmos temas ou outros So escolhidos pelos cientistas. Durkhaim, no momento em que fundava a Sociologia com a equipe de colaboradores que escreviam na Re- Vista L Unnée Sociologique, nos lembra que. do mesmo modo que os politicos. 0 cientista ¢ preecupado com a pritica, a solugdo dos problemas priticos. Durkheim ndo ¢ opasto a essa maneira de fazer Sociologia, Nossa preocupagdo constante, escreve ele, ao contrério, era visivelmente de orienté-ta de tal maneira que pudesse chegar até a pratica. Sdo problemas que a sociologia vai forgosamente encontrar no termo das suas pesquisas... Mas, continua Durkheim, 0 papel da Sociologia, deste ponto de visia, deve justamente consistir numa libertacao com relacdo a todos os partidos, nao tanto opondo wma doutrina as doutrinas, ‘mas principalmente fazendlo ox espiritos adotarem, diane de tais questoes, uma atitude especial que so~ ‘mente o contato direto das coisas vai dar a ciéncia” (Durkheim. 1984: 125). Essa atitude é a atitude do cientista que escolhe seus problemas segundo um itineririo mental diverso do senso comum ou dos partidos. Escolher wm tema ¢ portanto um momento de ruptura. que Durkheim considera como uma liberts glo. A cléncia e. a fortiori, 0 cientista que escolhe ui lena. mio se subordinam a um partido. a uma opinido. ‘mas se libertam deles, o que alhures niio quer dizer que se trata de algo neutro, uma vez que valores foram. cengajados na escolha, . ~ A questo que se coloca ¢ saber como se dé essa ruptura. Ora, Bourdieu, referindo-se a Mauss (e por detris a Durkheim), sugere que 0 cientista ndo se liberta das atitudes dos partidos politicos ou da opiniio : poiblica formada pelos meios de comunicacio, sendio através do uso de igcnicas. E elas sto variadas. A “defi. nigdo proviséria” usada pelos Durkheimianos & uma delas. Veja-se, por exemplo. como o senso comuiti defi- nie normalmente o suicidio € como Durkheim 0 define” Durkheim o define como 0 produto social varivei de um meio ou efervescente ou andmico. A conotago socioligica que se organiza no processo da definigao é bastante diferente do modo pelo qual a'policia ou o servigo de ocorréncias caracterizam o suicidio. Giddens a esse respeito ¢ claro. Ele escreve que a Sociologia ndo deve considerar o suicidio como um agregado de atos individuais, mas como um fendmeno padronizado, histérico; ¢ Giddens, citando Durkheim, lembra bem 0 ontetide do suicidio tal como ¢ obtido pela técnica da definicdo proviséria, que & ao mesmo tempo uma {éenica de ruptura com a observagio imediata e com a problematica elaborada pelos érgios piiblicos que Tegistram as ocorréncias: “Se as sutcidios ocorridos dentro de uma sociedade dada, durante um periodo de tempo, sao tomados como um todo, verifica-se que essa fotalidade nao é simplesmente wna soma de unida- des independentes, um todo coletive, mas ela é, ela mesmo um novo fato sui generis, com sua propria uni- dace, individualidade e conseqiientemente sua prépria natureza” (Citado por Giddens, 1974: 7). Através dessa definigdo proviséria, o cientista se encontra realmente diante de um proceso novo. jé muito elaborad. e cujo conteiido difere bastante do contetido obtido pela observagio imediata. O processo de dialética ascendente que foi usado para chegar ao contetido da nogo de suicidio usou a técnica da definigdo provisoria. Weber usaria 0 seu “tipo ideal” ¢ Marx, seu método, que passa do plano da observaciio concreta ara « construcdo das determinagées. | De qualquer modo, a conclustio ¢ a mesma; escolher um tema ¢ j4 constrai-lo qualitativamente de"l ‘um modo diverso do senso comum eu da reflexdo dos politicos. Nao se quer dizer com isso que © proceso J (. dialético ascendente ja terminou: um segundo aspecto importante deve ser mencionado: 0 da relagdo entre 0 tema e a abordagem tebrica ~ 2.2.2 - A relacio entre o tema escolhido e a he. 1 abordagem teorica ~~ Quando se considera a histéria da ciéncia como um todo, verifica-se que neniuum objeto relevante ~ do ponto de vista ciemtifico foi constituido somente a partir da ebservagdo imediata ¢ pura do processo em si ~ » e'mesmo, Pelo contririo, essa observagio imediata, da reatidade dada na sensibilidade. tende a ser relativiza- & a, para int de observar um ponto de vista tedrico. que modifica substancialmenié a percep-— Gio €-a constituigo do contetido empirico do objeto a ser investigado. Nao se trata apenas aqui de referir 0 ~ objeto a valores que orientaram sua selegiio, mas de mostrar que a construgio qualitativa do mesmo_njo >” corte sem a insergdo do cientista dentro de um quadro tedrico de referencia. que Ihe fornece um ponto de ‘Vista muito diferente da observagio imediata. Consideram-se a seguir alguns exemplos. \ Quando Galileu (1564-1642) desejou e se empenhou no século XVII em analisir a queda dos cor- pos, ele ni se limiton a observar 0 fenémeno como qualquer um de nés o faria. Nao foi dessa maneira que procedeu. Galileu descobriu a constante de aceleragio dos corpos em queda livre porque introduziu no fend- ‘meno a ser observado um ponto de vista tedrico. Koyré, depois de ter mostrado como Mersenne e Riccioli fracassaram rotundamente no modo de reproduzir as experiéncias de Galileu, afirma que na “investigacao ciemifica, a abordagem direta nao é nem a methor nem a mais facil: Nao se pode atingir os fatos empinicos sem 0 recurso &.teor}a” (Koyré, 1966: 273). Sem diivida, a teoria siecessita ser também operacionalizada mas que se deseja aqui afirmar é que Galileu foi capaz de fazer a descoberta da constante. gragas a intro- dugio de um ponto de vista fe6rico na observagio, Renunciou as perspectivas da observagio imediata preci sa, baseadas nos pressupostos da fisica tedrica aristotdica, Em oposiglo, adotou a. posigl teérica de Copér- nico, 0 qual tinha negado a idgia aristotélica de que a terra era imével € 0 centro do mundo, para afirmar ‘pelo contririo que girava ao redor do sol. Acrescentou a essa perspectiva a idgia de vacuo ¢ a nogio de uma atureza matematizivel (mathesis). Galiléw ndo apenas adoton essa posigdo teérica mas também procurou ‘Tizer Stias avaliagdes experimentais dentro dessa perspectiva, elaborada em termos matemiiticos. Dito em ‘outras palavras. Galileu © depois dele Huygens abordam a queda dos corpos a partir de um ponto de vista eto gay ture nec te6rico e substituem desse modo a abordagem bascada na observagiio imediata, Sem divida, a demonstracio snatemmitica do fenémeno observado é muito mais complexa e. de um certo modo, nessa exposicdo, falsifica- se tanto a representagao teérico-matemitica do fendmeno observado, como a descoberta da constante univer- sal de aceleragio dos corpos em queda livre, quando se sugere apenas a relagio entre a queda de um corpo € « concepeio teérica de Copémico, adotada por Galileu e Huygens, Mas o objetivo permanece claro. Trata-se de mostrar que do existe ciéncia e experimentagio dos falos empiri Jo desses com uma abordagem teérica. Koyré chegara mesmo a concluir que "700 somente as experiéneias validas sao fianda- | SE nn que permitem de realiziclas néo sao eles mesmos nada mais sendo uma teoria encarnada” (Koyré, 1966: 278) Tepetird a mesma afirmaglo dizende que @ experimenia- (10 © Teoria materializada; Bourdieu, retomando essa tradiglo, afirmara que a demonstragdo empirica na | 4. realidade ¢ uma teoria em ato (Bourdieu. 1975: 224) ~ tea Para nds. na perspectiva ascendente e dialética de uma construc do objeto, o que se deseja salien- tar é justamente a inirodugao de um ponto de ‘de construgdo do objeto. O passo que Gonsisie em introduzir na observagao uma perspectiva tebrica, na realidade, é a0 mesmo tempo a negagdo de qualquer observacio imediata ¢ sua substituicdo qualitativa por um modo novo de perceber o fendmeno ou processo ow Tato observado. Nao se véem as mesmas coisas no fendmeno observado, se essa observacdo & feita a partir da observagio imediata ou a partir de um ponto de vista tedrico, Conta-se uma historia a res- Peito de Einstein, Ele teria dito que sua maior preocupagio teria sido de saber como 0 mundo poderia the ‘aparecer se cle fosse sentado sobre um raio de luz. Sem divida a historia pode ndo ser verdadeira, mas 0 que € verdade € que de fato, no modo de Einstein observar os fendmenos ¢ movimentos dos objetos fisicos. a relagio desses com uma velocidade padrdo, a da luz, estava incluida. Novamente percebe-se por detris da historia a necessidade de relaciunar 0 planeta observado # um ponto de vista teérico que substitui a observa lo imediata e auxilia a perceber no mesmo propriedades ou caracteristicas que de oultra maneira io pode= ram ser alcangadas e conceituadas. Sem divida, objetar-sexi que tudo isso pertence a fisica ou no maximo ao dominio das ciéncias ats da natureza; mas que, na pritica, as ciéncias da cultura sio diferentes. Todavia, basta olhar 0s clissi- 0s para perceber que a sua conceituagio dos fenémenos ou processos a serem conceituados niio depende de ‘mancira alguma da observagdo imediata, mas. pelo contririo, de uma abservagao a ser levada a efeito a par- ir de uma abordagem tebrica. Weber ni analisa o espirito do capitalista senao na sua retagio com a religito protestanie, Durkheim no analisa nem as formas elementares da Vida religiosa, nem 0 suicidio, nem 0 soc alismo, sendo na sua relagdo com meios efervescentes histiricos ou andmices e anormais. Na realidad Durklicim usa uma concepeio da hisiéria, que Frangois Simiand ja defendia, No fim do Século XIX e inicio do Século XX, 0 problema de uma histéria cientifica s colocou com muita forga em oposigl0 a uma histor de simples eventos cronoiégicos. Em todos esses autores a construgio do objeto ciemifico procede niio a partis de uma observagio imediata do fato. tal como poderia ser recebido por nossa sensibilidade, mas pela introdugio de um ponto de vista teérico. que modifica seusivelmente o conteiido e as propriedades que se deve observar no tema escolhido. Dir-se-ia que. na medida em que progride a claboragio desse ponto de vista tedrico ow a dedugdo das suas implicagdes. também se transforma a percepedo ¢ a conceituagio do ab- Hao ito em cues ps, poder Pere 68 ons do bea nip psa jutannte pet Ye claboragdo de um sistema de relagdes que vo se tornar hipéteses¢ dar toda a relevincia ao fendmeno obser- vad, 2.2.3 istema de relagdes hipotét - processo observado a Na segdo anterior descreveu-se como a dialética ascendemte da construga0 do objeto necessita incluir uma abordagem teérica do objeto a ser pesquisado, Sugeria-se que a construgdo dessa relagdo entre aborda- gem te6rica ¢ objeto cientifico a ser observado modifica substancialmente 0 contetido conceitual do objeto. ou Seja, nos faz, descobrir. no mesmo, propriedades ou caracteristicas que de outro modo nao s€ cl perceber. Mas a questio agora ¢ saber se no se poderia prosseguir na dialética ascendente. Objeio ciemtifico ¢ a abordagem tebrica adotada em cada pesquisa empirica, Dito de outro modo, no basta dizer que se optou por um determinade quadro teérico referencial que permite substituir © ponto de vista da observagiio imediata: convém ainda acrescentar a idéia de que € possivel estabelecer um certo miimero de relagdes te6ricas entre o objeto, considerado a luz do quadro te6rico de referéncia, ¢ o contetido desse otic) cscohida Tratarse-a seguir dese aspect da consrued dalton ascondene ‘A primsima madi a considera di espto &pssbildade de sar 0 contido da teora, of, soja, de festar diretamente uma proposigio teérica, supondo que a formulagdo da mesma seja suficientemente > ampia Ness caso a tcorla fr 000 Sabsrads © tuase que se ala mperspectva Popperiana ede we ror exemplo, tomar da teoria a proposigao freudiana: de que todos os sonhos so desejos de realidade. Nesse caso \-!"\ versed quo o pono de visu tore idea ¢ que © procs bo maton oats De oe ro nad ee NY SY material empiico-s© SpRSOnaT CONS TEREST popetader ou cataciewsliae He desejos ae reoiinde : hipotese tcorica send corroborada. Convém evidentemente explicitar 0 que se entende por “desejos de reali / . » dads” ou sci quats si as propricdades ou carctrisiasbasleasdesesdesjo ev ns os crornrorees on todos 0s sons. Caso se dscubra um tip de matenalemprin que nfo apreseat as propiednoes de ‘enunciado teorico, ter-se-a, através do experimento. uma falsificago da teoria) SSS oe “NO GH diz respeito a construcio dialética ascendemte, a relagio assim formulada ox 0 conjunto de” Felagées entre objeto ¢ tcoria so na realidade proposigdes formuladas teoricamente por antecipaciio. Sio propesigées cupazes de vecular© expessar as propicdnss de dterminads mateeal cuplaceeron: tent de un modo hiptaio, ‘A segunda modalidade na construsio do objeto refere-se a teoria. mas nio diretamente a0 contetido das proposigbes teoricas, sendio aos pressupostos leoricos, Dito em outras palavras. tem-se de um lado um-~ objeto empirico e um conceito expressando-o pelo menos provisoriamente, Do outro lado tem-se o foco cen-~ val da abordagem tedrica, Pode-se tratar de uma abordagem classista como dizem os anglo-saxdos, ou ainda ~ de ua perspectiva de Foucault, ou de Bourdieu, erunda dos pressuposts das respectvns loos de coda um. Vee que eid conjunio de pressposostcricos referee a cadh autor & um modo de concer» ‘elie cpleig. Enquanio que 0 wo dos pressupsios marssis ou neo-nuisus leva espieeeera Considerar sci tema em trmos delta de eases de eeporag oat de proletarizagdo do homens do am Po. Os pressupostos da teoria de Foucault 0 levardo a analisar o tema escolhido em termos de enunciados Nise e Ingisies cases reear um limit de ewgencla deme de eae ee apaes igualment de prescrever posiges aos agenss emolvidos ou ainda capaces te serem Telaconatos posiGvamente ou confitnamente com dominios ¢ pees que se exert muni cope clser, De eo ® outras palavras. a partir dos pressupestos tedricos ¢ da matriz de observagiio sugerida por esses pressupostes, pode-se consiruir um sistema de relagies teéricas que, de um lado, decorrem dos pressupostos: e, de outro. cnvolvem ou dcterminam as propriedades do objeto empirico a ser analisado. pe Um exemplo fard melhor compreender essa perspectiva construtiva de,um sistema de relagées, tais a como Bachelard ¢ Bourdieu 0 sugerem, Suponhamos que 0 pesquisador esteja interessado na geragiio de tecnologias agricolas novas (=y). « sua pergunta tedrica ndo € mais a respeito do objeto ciemifico definido . elo menos provisoriamente, A sua questo dentro do processe de uma diulética ascendente se relaciona com x o.sistema de relagSes tebrico-hipoléticas que o fardio compreender como 0 processo de geracdo de tecnologia \y ¢determinado = Guais sto as propriedades que o mesmo adquire nessc quadro de referencia teoricas Cra. para dar Tespostit a essa questdo. cle poderi sugerir. dentro de uma abordagem tedrica oriunda dos pressupostos da teoria de Foucault. que 0 enunciado “geracio de tecnologia”. como limiar novo de exis- fencta dentro de determinades municipios, depend na realidade de micro-paderes circulando entre 0 espace » Proprio clo cnunciado (y) ¢ 0 espago colateral (S). Tratar-se-ia de uma primeira relagdo bisica x - v Mas a construgio do sistema de relagdes dentro do processo dialético ascendente nio para nesse ‘Tori que mostrar como pode ser explictada essa primeira relagio genérica entre a presenca de poderes (=X) ¢ 0 enuinciado prescrevendo uma geracio de tecnologia, ; No momento em que o pesquisador enfrenta essa questao, ele entdo estar obrigado a nvio somente profiundar a teoria, mas a fonmular relagdes secunckirias, Dito em outras palavras, ele poderia dizer que. se a geragio de tecnologias depende de micro-poderes (X-¥). esses, por sua vez, podem (¢ tendem a) procurar no spago correlato um tipo de associagiio ou de alianca que reforca o dinamismo da geragdo de tectiologia. Esse tipo de alianga pode ser dado operacionalmente através de outros enunciados relatives a limiares de existén- ‘ias interessadas na geracio. desencadear de tais aliancas entre micro-poderes de_um espace proprio a referida geracdo de tecnologia € micro-poderes de um esf ae sicado. onde se cxereTl enter eontaiog efor de um caso Modo a gewaeTo de tecnoTogia, mas ao mesmo tempo suscita resistencia, confitos. dai uma terceira relagio: a Ae mostrar que o dispositive dealing na pratica€ corrlativo de uma emergSncia de confitos que vio opor resisténcia ao processo de geragdo ¢ & ago dos micro-poderes investindo em efetivar esse processo. Tem-se, Portanto, jé um modelo com unta rel mndirias. uma que diz respeito a um ispositivo de allangas outra que diz respeito a ‘Stamos aqui sempre agindo segundo (05 pressupostos febricos de Foucault. A questo todavia é saber como a geragio de tecnologia poder ocorrer pelo menos hipoteticamente ao nivel teérico, ou seja: como os agentes. os atores, poderio se constituir su- Jeitos dessa geracdo de nova tecnologia. Cabe, entio, formular uma quarta relagao relativa a procura de uma alianga maior, dentro dos micro-poderes locais e do dispositivo de alianga, com um conjunto de outros pode- ‘es que pertencem a um espago mais amplo ue o do lugar onde a tecnologia seria gerada, Nesse caso, ent, SRegrse sina quia ln que evdenci como micro-poderes locais e dispositivos de aliancas, como 0 espago colateral associado, se esforcam em tecer relagdes que reforgam seus dominios respectivos, para en- frentar os confltes e fazer circular uma maior intensidade de poder e de saber na tela de relagdes estabeleci- das. Dito de outro modo, pode-se descobrir ent termos concretos que os micro-poderes: a saber. de cientistas, ou de fornecedores de tecnologias que no existem dentro do préprio espago municipal onde queriam gerar tecnologia nova, mas igualmente onde encontravam uma oposigdo. No total, tem-se uma relago central & trés secundrias, as quais podem ser transformadas em hipdteses te6ricas. E suficiente para isso formalizar 2 conteiido dizendo que: = = geragio de teenologia (3) depende da presenga de miero-poderes (x) (preocupados localmeni="] com esse problema). IL Mas que micro-poderes que comegam a atuar tecem relagdes com micro-poderes de um espago = IU - O estabelecimento do dispositivo de alianga tende a fazer surgir conflites oriundos de poderes Ji constituidos, institucionalizados. ‘ IV A superagio dos conitius se efetua na medida em que os micro-poderes proprios a geragde de tecnologias e os do dispositive de alianca estabelecem relagdes positivas com os micro-poderes de um espago ‘externo bem maior do que aquele onde se pretende gerar a. tecnologia, V - Em definitivo, € a relacte de associago entre micto-poderes locais. dispositivo de alianca ¢ tmicro-poderes de um espago maior que permite ncutralizar 0 confito desenvolver a geracdo de tecnologias. } Essas cinco hipoteses formais stgeridas abstratamente so 0 que Bachelard chamaria uma total siniética a prior’, Blas ndo so diretamente proposigSes tizadas da teoria, mas so (com todas as reservas // necessarias de serem apenas um exemplo) claboradas a partir dos pressupostos da teoria. Nao so ainda’ operacionalizadas, Mas se pode perecber que o processo de geragdo de tecnologia nova esta ma realidade na dependéneia de micro-poderes que devem estar em forga suficiente para, de uum lado, superar contlitos e, do outro, gerar a tecnologia, Poder-se-ia refinar © modelo, mostrando que a relagdo micto-poderes/gerak tecnologia gera uma primeira forma de saber: que essa primeira forma de saber se intensifica ¢ tende a se tomar qualitativa no momento do estabelecimemto dos dispositives de alianga € que, por sua vez, esse saber associado ao poder se opée ao saber detido pelos poderes constituidos; mas que. finalmente. a superagio ciessa oposigdo poderia ocorrer no momento em que os micro-poderes locas ¢ 0 dispositive de lunem aos poderes de um espago externo e ao saber do mesmo. para investi-los no processo de geragiio de teenofogias. Nesse caso, o sistema de relagdes seria um pouco mais complexo ¢ mais prosimo dos pressupostos a teoria de Foucault, onde saber e poder estio intimamente associados. ‘Chegado a esse ponto do processo dialético ascendente. através do q 0 objeto se constr6i contra 0 ber ou a representagdo imediata do objeto, torna-se evidente que, no proprio abjeto empirico, haverdo de se 4 eT teorico. 2 slogia. se ela depende do saber e de micro- poletes associados. teri, como conteiido, propriedades que resultam desse saber ¢ desse poder. Nao é por acaso. por exemplo, que no RS, em Bento Gongalves. ao lado da produgdo da ua se criou e se gerou uma tecnologia capaz de construir sobretudo méveis de cozinba, sob a forma de uma setor autonome. Na reali de. 0s micro-poderes dos artesdes toneleiros. capares de fazerem barris para o vinho, associados os conhe- cimentos dos funileiros ¢ scrralheiros. produziram no somente um setor industrial relativo a méveis, mas sobretudo um tipo de mével que tinha aceitagio no mercado dos anos 70. devido & forte explosio demogriiti- ‘ca ea transferéncia de muitos jovens para a cidade. Mas. do outro lado, como o sctor principiante se articu- Jou com um espago maior, tanto para escoar a produgio. como para aperfeigod+-la, um saber téenico foi aper= {eigoando 0 nivel e tornando-o accitavel c comercidvel dentro de um espago maior de mercado. Na pritica produto atual resulta de micro-poderes e saberes acumulados e sintetizados, mas capazes de se integrar nos saberes dos primeiros artesdes. Talvez até seja possivel demonstrar que a taxa crescente da produgiio tem uma relago com o nivel qualitativo ¢ talvez quantitative das transformagdes dos saberes, associado 8 formago dos micro-poderes sua instituctonalizagdo tanto organizacional como empresarial. Serd que com esse exemplo sempre parcialmente inadequado se mostrou que da escotha de um tema se pode chegar a construgdo de um sistema de hipSteses teSricas, através de uma dialética ascendente? Pelo ‘menos & 0 que se pretendeu sugerir. Falta todavia perguntar-se: qual é a relevaincia de tal construgio? 4 - Relevincia da construgio teériea > alo De fato ndo se pode avaliar um problema de pesquisa senvio quando todo 0 processo ascendente tenha sido pelo menos formulado hipoteticamente. A dialética que preside a essa formulagdo deve ser de tal modo sugerida que, uma vez formuladas as hipéteses e os objetivos de cada uma delas ~ que antecipam os resultados ~, 0 proprio autor se encontrar diante da necessidade de perguntar: ¢ 0 problema formulado rele- ‘ante? Podera até formular perguntas anexas, como a de saber se ndo somente & relevante mas vidvel e ope- racionalizével, ou ainda se, pelos resultados que se espera obter através dos objetivos tracados, se poder Chegara conclusdes importantes, capazes de ser generalizéveis para além do caso estudado. 4 Sem diivida, formular todas esis perguntas ¢ até certo ponto iniciar uma avaliagio que pode ser auxiliada por colegas de pesquisas ou outros pesquisadores que trabatham na area. Acredita-se que a rel ‘vancia depende muito da capacidade de 0 autor sugerir a adequacio da sua problemitica construtiva as ne- ‘cessidadies do ambiente social, Mas tais sugestdes so Sempre reiacionadas com a teoria Alguns critérios podem ajudar a tragar melhor a relevancia. Primeiro, pode-se perguntar até que - onto o tema assim elaborado responde a determinadas questBes concreias e priticas da sociedade historica ‘em que se vive: ou seja, mostrar como ele se insere no processo de desenvolvimento, respondendo a determi- nadas questdes priticas, e como ele se articula com essas quest&es. esclarecendo-as ou fornecendo subsidios operacionais para solucion-las. De qualquer modo para isso levar-se~lo em conta as propriedades do tema «que a abordagem te6rica permitiu formula. Segundo. pode-se perguntar pelo quadro das hipSteses teéricas formuladas e o poder operacional das mesmas, se 0 estudo empreendido traz alguma contribuigo, aperfeigoamentos. esclarecimentos em 1 elo ndo somente a teoria vigente mas ds conclusdes ja alcangadas. Dito de outro modo, ¢ talvez de maneira ‘mais simples, toda investigacdo empirica & um acontecimento histérico que vai ovorrer e que supde uma soma de conhecimentos jd adquiridos por pesquisas teéricas ¢ empiricas anteriores, A proposta se relaciona & se situa em relaglo a esses conhecimentos anteriores. Seri que ela os aperfeicoa. torna-os mais operaciona ou serd que inova? Dito de outro modo, convém expressar o modo pelo qual ela se situa em relagdo a rs) esses conhiccimentos ¢ resultados obtides, quer seja do ponto de vista tedrico, quer empirico Finalmente, una terceira questo diz respeito a viabilidade no apenas econdmica. mas igualmente em termos de recursds fumanos, tempo, inlfa-estrutura. Muitas pesquisas no Brasil, pelo fato de serem i formadas ou constituidas a partir de pressupostos teéricos formulados em condigdes sociolégicas e histiricas diferentes das nossas, tendem a sugerir problemas que implicam 0 uso de no somente altos custos. mas recursos humanos das quais ndo se disple. Ha necessidade portanto de se formular a questo da viabilidade da elaboragdo proposta nesse nivel da elaboragdo, a fim de proceder a uma reavaliagio critica de todo © pro- eesso dialético ascendente ¢ incluir as modificagées necesséirias. Respondidas as trés perguntas mencionadas.niio se deve acreditar que a construgdo do objeto termi- nou. Hii necessidade de proceder a uma dialética descendente que normalmente se costuma chamar de me~ todologia, © que é relativa a procedimentos ¢ técnicas dé coleta de dados. Ill - DIALETICA DESCENDENTE NA CON DO OBJETO TRUCAO ‘Supde-se que tenhamos percornido todo o percurso anterior, ou seja. que se tenha feito uma primeira avaliagio da importa da problema astim formulada. A queso que re oloca aa anise da Gialten Gescendenie, agora, saber como transforma o problema formula em urna Seqhénca de aos operacionals: 7 de tal forma gue s perma coneeizasto ea vibilidade empiia da invesigagda- A queso nlo € fll i salaclonnr pongey OF GUE EN MGMT coe GREET IPE sages We mcloctao ow cendente. na realidade nose afsiou do real. pelo corr, pode ser expeimentado ou demonsiado atta. 6s de tcnicas eprocedmentos que dew lado se adequam a esquema tbrico das hpStsesformuladas Ae our, possbiltam a demonstrgta corroborgie ou verfeugo emplrca dessa hipeiese teicas Dito de outro modo, com a formulagdo das hipdteses dentro de um quadro te6rico, tem-se mostrado cue a realidade emplrica nie imeditamenie observe eobservada, masque ebservagdo soft através hs penis lcm, AGE ol breeds es iphesed. Sous tens poems lacs Daeaiya marxista de abordagem do real, haveri necessidade de encontrar e escolher o método ¢ as téenicas tanto de ‘mostra conto de verificagio, que possibilitem a demonstragao dessas hipdteses bascadas nos pressupostos d: ieoria marvisia, Se, pelo contrario, as hipoieses foram Tormuladas com base nos pressupostos de Foucault. 0 “qual trabalha com linguagem enunciados, haverd necessidade de formular uma dildtica descendapte que leve em conta procedimentos, métodos. amostras capazes de trabaihar com esse material empirico, oriundo: de uma coleta de dados que visa antes de tudo a coleta de um material referente a dados de lin; zm (histo fas do vida. atrial bogrfin em gor, Nem ibd 4s eeas © Mcods So adequados a qlguct ea” boragio ¢ formulagéo do problema. Convem lembrar que técnicus ¢ métodos experimentais, para Bachelard e ~ Bourdieu. sdo. respectivumente, tcoria materializada para o primeiro (Bachelard, 1968) teoria em ato ow disseminada numa séne de alos uOeNclogor Werarquicos para o Segundo (Bourdieu. 17334). A dlaltca desoendente da formulacao do problema consis jesiamente nese transformacto do ie os pa porno das hipliascs rics abso no processo er Ames de alia process dsiico descendent da formulagdo de um problema, eslaecemos 2 seguir um pressupost sic’ oda no dsscigadg en tenias meaulata, Pode se sem avid dsingnie a pare wile Goin De labora coma a ae ti eae oe Inerature, da pac mals metodlbg ca a ser elaborada na ealetin desoondente um preeto de pesquisa, Mas dating no € disociar 00 era as Sl te xn ge Stim eTocs ‘© caso do trabalho de Znaniecki e Thoms cm Polish Peasant (1928). Nao ha também restauragio rigorosa dem processo de cullua da pobrora através dé uma meidolopia que permite a reconsirosto rginia des fatos ligados a essa cultura. sem que haja teoria ou teorias dando suporte & restaurago efctuada, A perspecti- va de Bachelard. Koyré ¢ Bourdicu supde a integragio da teoria. sendo que a_primazia ¢ sempre da razdo teérica que sugere formas de experimentagdo. Essa tradigio vem de Galileu, que inventa planos inclinados ea Gasinar Comer aiavee da vaste doses once suas Tnlinagher,w acclerasgo dos corpos em é queda livre como constante universal, na realidade, nio se entende sem uma relagdo com hipoteses tedricas. cujos pressupostos sao baseados, de um lado, na teoria Copermciana e, do outro, na filosofia Platoniciana, a qual sugere que a realidade material que seta nossos sentidos pode ser matematizada, ou seja, transformada - em idgias matemticas. Bachelard, Bourdieu ¢ outros nao fazem nada mais do que retomar essas perspectivas. Sem diivida ~ ndo desejam dizer necessariamente que todo 0 universo do mundo social pode ser matematizado, mas suge- ~ rem sobretudo que ndo se pode separar a metodotogia da teoria, Bourdieu escreve que a separacio atual que “ existe entre teoria ¢ metodologia ndo ¢ fecunda e conduz a duas abstragées.Pelo contriirio. escreve Bourdieu, ‘penso que se deve recusar completamente esta divisdo em duas instancias separadas, pois estou convenci- do de que néo se pode reencontrar 0 coucreto combinado duas abstracdes” (Bourdieu, 1989: 24) Se isso for verdade, havera necessidade de mostrar como, no processo de dialética descendente, se alcangar uma descrigto dos métodos, teenicas e procedimentos de colcta jaune netodologia separada. mas pelo contririo uma teoria materializada nunve sucessio de atos sueessivos. capa- ~ 7es de apreender a realidade empirica que 0 quadro de relagdes teoricas sugere, Iniciar-se-a pela Formuilaio - Ge ciienses optactonals © ples ticrbwesMostset, em segumio ugar. como suger ums amosta adequada e com que critéios. Tratat-se~i de apresemtar qual a relago das técnicas de coleta dos dados com as hipéteses e, Finalmente, como constituir uma codificagio que distribua os dados segundo us hipsteses “ formuladas ou os conceitos presentes nessas hipéteses. Tentar-se-i entdo sugerir uma modalidade de relaté- Fio, Cada um desses pontos ido & exaustivo, mas se situa no caminho ca dialética descendente da construcio do objeto. Veja-se, portanto, a primeira ctapa dessa dialética descendente: a formulagio das dimensdes ope- racionais e dos indicadores. — rensies Operacionaise Indicadores | fe, terminou-se por um quadro de hipéteses que tema escothido, definido provisoriamente, ¢ um ou varios conccitos das hipsteses tedricas. A questo central agora a ser analisada ¢ mostrar que o tema escolhido ¢ as relagdes hipotéticas formuladas contém um certo nimero de dimensées operacionais, Essas sfo como que um efeito ou uma con- seqiiéncia do modo pelo qual os conceitos tedricos ¢ explicativos agem dentro desse tema, determinando-lhe_ ropriedades. Retomando uma analogia que Mauss toma da Fisica, sabe-se que um metal aquctdo se carac- ) teriza por uma dilatagdo, Dito em outras palavras, a dilatagdo é um efeito do aquecimento. Ha uma relagao ‘entre os dois fendmeitos. Do mesmo modo, se variarem as casas ov 9s conceitos tedricos pelos quais sto ‘expressos. teremos efeitos variados. A questilo central da dialética descendente consiste em idemtificar no ~ tema as dimensdes operacionais que sio um efeito das causas hipotéticas, as quais devem ser igualmente ‘operacionalizadas. ‘Um exemplo, ainda que ndo sefa da Fisica, permitiré melhor captar esse processo de operacionali zagdo. Chamar-se-i de dimensbes operacionais 9 modo pelo qual se imagina que um conceito t66rico possa ser covcretinnde RE Temas tables Weber realicn esa opeacionaleaghe ands Tas "pas eae ‘SOG ES MF stan da ue uma tctuaptoo stomatnaglo ener ds declan catocnr ices do processo ou dos processos empiricos estudados. Veja-se como ele procede. Abrem-se duras colunas, uma roferente a Stica protestante, outta referente ao espirito do capitalista empreendedor. Constrdi-se uina din mica operacional que acentua de um miedo sistemitico o comportamento ético do protestante, que descja ser salvo ¢ para isso realiza obras (trabalhos) que Deus abencoe, as quais por sua vez, em sendo um sucesso. levam o crente a pritica do asectismo ea uma nova disponibilidade de escutar o chamado de Deus, zprofun- dando 2 sua vocagio. Fazendo novas obras, cle novamente tem sucesso. ¢ & levado a praticar mais a humil= dade © 0 ascetismo religioso; a dindmica é temporal ¢ dura até a hora da morte, para o fil que acredita na salvago Ao lado dessa dindmica religiosa. Weber constroi uma dindmica ccondmica neccssiria & sobrevi- véncia. Nessa, 0 trabalho é valorizado. porque o individuo que quer ser salvo ndo pode ser passivo na sua resposta a Deus. Nio pode praticar mais a mendicancia, A ética protestante Ihe sugere o trabalho Portanto, o individuo investe no trabalho econdmico suas aptidées e capital. se os tiver. Calcula racionalmente os lucros possiveis que serdo frutos dessa ago econdmtica, Tem esperanga de éxito, Se 0 su- cesso vier com os Iucros. o que ele fara? Weber nos diz que, no espirito do capitalismo, 0 agente econdmico ro usa 05 lucros para viver na rigueza. mas continua tendo una vida frugal ¢ modesta, Os valores da vida religiosa informam sua ago econdmica. O que fazer ento com os lucros? Ele os investe. © a dinimtica eco ndmica recomega. Aptiddes pessoais ¢ lucros sfo investidos; e, com novo cileulo racional, uma chance de outros lucros ¢ possivel Uma tabela permite recapitular essa dupla dindmica correlacionada, da vida religiosa © da viea econdmica. Os dados serio procurados para demonstrar essa relagio hipotética e tedrica entre conccitos ‘operacionais que sio. na pritica, um desdobramento da relagdo abstrata entre ética protestante ¢ espirite do capitalismo, Uma tabela permite visualizar melhor essas dimensies ncluia relagdes entre um ‘Tabela I Etica Protestante Espirito do Capitalismo 1) O individuo crente querser | 1) Agao econdmica para a sobrevi- salvo. A importancia do conceito | véncia pelo trabalho. lde predestinagao. Deus chama os predestinados. '2) Resposta ao chamamento de |2) Investimento de apliddes no tra Deus pela fé e ago na fé. balho, empreendimento capitalista 3) Realizagao de obras: espe-_[3) Calculo racional dos lucros, espe ranga de ser abengoado pelo |ranga de obté-los, [seu trabalho, }4) Exito no trabalho: sinal da__|4)Sucesso do empreendimento eco- [sua relagao de amor com Deuse |ndmico ou lucros. Ide ser um predestinado. 5) Humildade, ascetismo, 5) Frugalidade, modéstia [6) Disponibilidade para nova- _ |6) Disponibilidade dos iucros para mente escutar o chamamento _|reinvestimentos. Jde Deus e recomegar a agir. Todo esse trabatho de construgdo do objeto em Weber € anterior 3 propria pesquisa empirica, Sé ~ depois de ter construido as das dindmicas correlativas una da outra ele pode se perguntar que tipos de da dos procurar para demonstrar ou verificar essa rel: ‘Os dados ndo existem em si mesmo, fora do sistema ~ as dimensoes operacionais, masa procua dos mesmos ¢ uiada concretamente por esss menses opera cionais relacionadas ene si tanto verticalmente quanto horizontalmente 4 explicitaydo da metodologia weberiana pode ter sido longa. mas importa resallar qué 0s ckisscos da cociologia procedem desse modo, com variagbes que decorrein das suas escolhasfilosficas ¢tebricas Poder se encontrar em Durkheim um esquema analogo, sugerindo que as taxas coletivas de suiidies vat am quando se faz variar historicamente a dinimica de integraglo (efervescEncia) ou desintegragio (anor) social. Numa dimensio historia, descobre-se que sociedades ltamente inteyradas, quer scja por valores aur seia por razdes diversas. tém baias taxas de suicdio,¢ os sucidios so altruisas, Em oposigao, as sociedades histéricas, com certo nivel de desintegracao, tém tendéncias & pritica de um suicidio ‘egoista. Nido ha suport para o individuo. Um tercero tipo, proprio das sociedad industializadas mas igualmente com instituigdes econdmicas poueointegradas, determina um modo de sucidio que & fruto das variagSes coon’ tieas ¢faléncias industriis. Trata-se do suicfdio andmico, A maneira de construiro sistema de relagBes, entre concitosleoricos espeiticos de determinados Lipos de sociedad tipos desuicdos,& diferente de Durkheim para Webore vice-versa: mss uma cols cles tem em comum: 0 suicidio, suas propriedades altruistas, egoistas. anémicas esto em relagdo com os tipos de integracio efervescente ou andmica (entropia) das sociedaces De qualquer modo, esses exemplos sugerem que um determinado modelo de rolagdes tobricas abs tras, ou sea, formuladas a0 nivel dos conceitos tdricos. pode ser desdobrado em dimensdes operacionais Cada dimensto operacional de um determinado conccito ou cada conjunto de dimensbes operavionais int grads entre si, mantera reigSes varidveis com outro conjunto de dimensBes operacionais de um gulzo con eto Pode-se continuar o desdobramento légico ¢ chegar aos indicadores quantitativos, até os indices. se for 0 caso. Tudo isso dependera de a pesquisa ser qualitativa ou no, Um exemplo pode ser dado na seguinte tabela, referente & relagdo entre status s6cio-econdmico (SSE) ¢ educagiio. Trata-se. nesse caso, de um des- dobramento que tende para a quantificagio pura e simples dos conceitos tesricos. Suponha-se que haja uma relagdo quase dbvia entre status sécio-econdmico dos pais ¢ nivel de ed cago dos fillios, mas que essa relagiio possa ser atenuada, modificada, pelo fato de existir em determinadas cidades ou municipios um acesso maior ou menor dos estudantes a cursos diurnos ¢ noturnos. Primeiro, se afirma a relago tebrica: status sécio-econdmico dos pais determina nivel de educaciio dos filhos, Posso colocar o descobramento dos conceitos teéricos dentro de uma tabela, a qual se insere na dialética descen- 18 dente. Com essa tabela, esti-se construindo uma possibilidade de adaptar 0s nossos conceitos tedricos & rea lidade empirica a pesquisar. Tabela 11° Relagao entre Status Sécio-Econdmico e Educagio Conceitos | Definigdes pro- | Dimensdes ope-| Indicadores | indices tedricos visérias racionais Status sdcio- |Posigao ocupada [Prestigio 7) Pontos obtidos [De SSE = leconémico _|na estratificacao numaescaia — |V1 + V2 + ldos pais | social Jquantitativade —|v3 (SSE) prestigio = V1 Renda [2) Valor dos ren- Jdimentos em Crs, = v2 FTempo de estados [3) N° de anos de lescola = V3 [Educagao [Conjunto de co- |Tempo de escola 4) N°de anos de [De educa- Jdos filhos —|nhecimentos | dos fithos Jescola dos filhos |¢50 = V4 + /adquiridos no = v4 Vs Jdeterminaco temno, INivel de conheci- |S) Pontos no mentos teste de conhe- jcimentos = V5 *Nota: Quadro construido a partir da Teoria da Modernizagio, que vigoron dos anos 50 aos 70. Foi testada nos Estados Unidos. no Brasil ¢ na india, mas nio vingou, quando se (estaram seus enunciados, Trata-se de lum tipo de teoria muito bem formulada logicamente, mas que nio consegue captar a complexidade do real A construc acima obedece ao mesmo movimento dialético descendente. Primeiro, achar a hipste- 7 se teérica, usando uma teoria. Segundo. tentar menos deduzir do que desdobrar ¢ imaginar 9s processos “ operacionais que permitem captar a realidade empirica tanto do SSE quanto da educagio. Ora, essas dimen- Ses operacionais So, respectivamente. o tempo de escola dos pais, o prestigio, a renda, para o primeiro Conceito tedrico. Para o segundo, que ¢ referente a educagilo, tem-se novamente o tempo de escola dos filhos. © 0 conjunto dos conhecimentos. Os indicadores si mente as dimensdes operacionais. Fe ETS GEE eli ciclo formal, oindicador da dimensto ‘operacional “tempo de escola” ¢ o nim ro de anos de estudo, O indicador quamtitativo capaz de medir a dimenso operacional de conjunto de conhe: ccimento é um teste de conhecimentos graduado. composto de perguntas que supdem um nivel de Formacio cada vez mais alto. para serem respondidas. O aluno que responde somente is questOes mais simples, como identificar certas palavras pela leitura, obtém os pontos minimos da escala, ¢ aquele que responde a todas as erguntas com dificuldades crescentes, pode obter 0 maximo de pontos, Veja-se que, nesse caso, quem responde as primeiras perguntas basicas do teste de conhecimento deve ser também quem tem um nimero minimo de anos de escolaridade formal, O contririo & também ver- dade: quem tem alto nimero de anos de escola deve ser também aquele que tem alto nivel de pontos no teste de conhecimento. Nesse tipo de construgdo do objeto, através de um sistema de dimensdes operacionais inter- ~ relacionadas, a coeréncia entre elas deve ser muito forte, para captar com 0 maximo de probabilidade a rea- ~_ lidade empirica a ser investigada. Também esse tipo de construgio, uma vez que os dados sio coletados através de questionirios, per- mite a construgo de indices. No caso citado, pode-se construir um indice de SSE e um indice de educacio. 19 Nesse caso, com programas de computadores, pode-se estabelecer uma correlagdo estatistica RI entre as Variiveis quantitativas relativas ao status sécio-econdmico e as variaveis quantitativas relativas a educacao. Seja qual for © modo de operacionalizar um modelo de conceitos tedricos relacionados no proceso dda dialética ascendente, a transformagdo desse modelo em conceitos operacionais (na dialética descencente) permite evidenciar que hi uma relaglo entre as dimensdes operacionais de um conceito tedrico ¢ as de um ‘outro conceito teérico, relacionadas a0 nivel teérico. ‘Toda essa descrigdo do processo de operacionalizago dos conceitos teéricos em conceitos operacio- nais e indicadores (até indices, se for necesstiio), se situa no caminho da dialética descendente, que vai do tworico a realidade empirica. Todavia, a dialética descendente nio para no nivel da operacionalizagio; quan- 7 do essa tiltima esta efetivada, convém perguntar que tipo de amostra se pode fazer e através de que técnicas ~ se poderio coletar 0s dads. 7 2 - Tipos de Amostra Uma amostra ¢ fungiio de um certo modo da problemitica colocada, Ela ndlo & necessariamente um — cilculo estatistico. Ela pode ser qualitativamente escolhida. De qualquer modo, a sua masnitude ou diversifi-— ‘qaaio est4 relacionada com o campo da realidade empirica que se deseja investigar, Examinam-se aqui ape- fas dois casos de amosira: as escolhidas qualitaiva ou quantitativamente Na amostra qualitativa, pode-se designar um certo mimero qualitative de documentos, atas, dossiés ini refrenes SETS etd oa una quandade de iene os nighes Oc Oop NC ‘aso de Max Weber ¢ do seu estudo sobre a relagao enite a etic protestante ¢ o esprito do capitalism, os documentos so referentes & reali empirica de cxda um dos coneeitos tebicos ¢ das suas respectivas dimensées operacionais, Weber trabalha com documentos histéricos, culturais, religiosos e economicos Esses sdo ficeis de achar quando o sistema é operacionalizado Hi, todavia, outros tipas de_amostras qualitativas, Recenlemente, com 0 retorno das anilises i historias de’ ida, tem-se levantado o problema da amostra conveniente a essas anilises. Beran. no seu estuido sobre os padeiros na Franga, nfo planeja de maneira alguma uma amostra quan titativa, Porém, ela tem que ser ropresentativa e valida em rek estuda, Ora Bortaus ~¢ alhures muitos otros autres, como Aspusia Camargo, Elizabeth Gelin (1974) ~ usa dois con- ceils bisicos: 0 da diversificago da amosira c 0 da saturagio, Veja-se primeiro a temtica da pesquisa Berta parte dE ui poao de vista marvistr-althaSserano © Wena Feconstruir o universo empirico dos padei- £06 artesBes, que slo legido na Franga. Localizamse na esquina de cada quarterao e. desde seis ou sete ho- ras da manha, vendem pio quente, feito a partir de uma base artesanal, assim como 0 mea-Iua e outros tipos de paes. A questo que se coloca para Bertau ¢ a de escalher um certo nimero de historias de vida a partir das quais ele poder reconstrur a dinsimica historico-estrutural de um grupo social bem caracterizado e e em Juta contra as grandes indistrias de fabricagdo do pio. ' Na pritica, sua escolha ndo é pesquisar apenas os padeiras. mas considerar 0 campo sic e2ondmiioo dentro do qual a fabricagdo do pio se reaiza. desde 0 momento em que um opera se casa ¢ compet um porto de venda num determinado quaricirio. Ora, para recompor todas as relagdes do grupo Social dos padciros, Bertaux usa 0 conceito de “diversificago” da amosira, ou scja,coleta historias de vida junto tanto daquele que vende em pontos de venda de padaria, quanto dos que vendem junto aos padcires Tamim recolhe historias de vida com chefes de Sindicatos dos Padeiros. que retratam as lus, Na pea aravés da diversificagao, do conteido das historias de vie, Bertaux multiplica no apenas os discursos mas 6s temas, os processos estrutuais que animam a fabricagao do pio, as lutas; sem uma amostra diversificada, ~ ciyjos temas Sio analisados apés cada coleta de cada historia._de vida, nio haveria possbilidade de recons-~ truir o universo diversificado de todas as relagSes individuals. ¢ estruturais, assim como dos principais fatos~ € conflitos de um determinado periodo, Mas com a diversificagdo da amostra e o aciimulo de temas préprios ~ +40 campo s6cio-ccondmico dos padeiros, chega-se a uma segunda caracteristica dessa amostra: a satura De fato, depots de um determinado niimero de historias de vidas coletadas, os temas abordacos pelos primei- — fos lornam-se repatitivos. De certa manera, a dinsimica ¢ 0 conteiido dos discursos que as historia de vida ~ desvendam no traz mais novidades, Recotheu-se de certa maneira a Hinguagem que envolve tanto fatos hipoteses. Se esse foco todrico € de Foucault, isso sugere que se deve em primeiro lugar procurar, na lingua. ‘gem das historias de vida, enunciados que revelam os micro-poderes em ago; colocar-se~i em relevo esses enunciados raros. Procura-se-d configurar 0 espago a eles associado. Tentard se desvendar qual é o espaco ‘olateral relacionado com o espago associado. Aprofundar-se-io os conflitos individuais e estruturais narra- dos ¢ presentes nos dois espacos, alé descobrir a estratégia ou as estratégias usadas pelos azentes para supe- ar 0$ conflitos ¢ finalmente gerar a tecnologia nova estudada Tal perspectiva codificadora do conteiido das narrativas nfo parte apenas das técnicas. Nao dissocia) as téenicas da toria, mas olha o contetide das narrativas coletadas, ou as historias de vida, do ponto de vista da teoria, © aricula as técnicas operacionais de codificagio a essa teoria, no sentido de fazer como que 0 réprio processo de codificacio seja uma teoria em ato. Pode ocorrer que a teoria sugira a necessidade de) Jnventar técnicas operacionais de codificago mais adequadas como tabelas, procedimentos novos de classifi- cago. Neste semtido, o pesquisador deverd recorrer ao arsenal disponivel ji eXperimentado nas rupturas ¢ descontinuidades das quais se falou na I" parte, Pode ser que também seja obrigado a criar novas técnicas. De qualquer modo, a teoria deveri sempre informar a codificagio criativa. “Se ew raciocino, diz Bachelard eu experimento. Se'eu experimenio, eu raciocino” (Bachelard, 1974). Em ciéncia no se quer apenas com- rovar determinados fatos, mas visa-se descobrir relagées. elucidar tendéncias com o material empirico es-

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