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Authier-Revuz, J. Palavras Incertas: as nao coincidéncias do dizer. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1998. (Esse dizer que nao é 6bvio, p.26-28) incorporados e pelos quais elas restituem, ne coragio ) do sentido do discurso se fazendo, a carga nutriente ¢ destituinte, essas palavras embutida cindem, se transmudam em outras, a5 alata imprevisiveis ‘afasta-se, ao mesmo tempo, ¢ Snedee perder-se, essas palavras que faltam, faltam para dizer, faltam por defeituosas ou ausentes — aquilo mesmo que Ihes permite lavras que Separam aquilo mesmo entre o que clas ibelecem o elo de uma comunicagado, ¢ no real das NaO-~ Tundamentais, irredutiveis, permanentes, com que elas afetam que se produz o Assim & que, fundamentalmente, as lam por si, mas pelo... “Outro”: Outro que Sabre © discurso sobre sua exterioridade interdiscursiva interna, a nomeagao sobre a perda relativamente a coisa, a cadeia sobre 0 excesso de sua “significdncia”, a comunicagdo sobre a abertura intersubjetiva, e, no total, a enunciagdo sobre a néo-coincidéncia go mesmo do sujeito, dividido, dessa enunci Este espago de ndo-coincidéncias onde se faz 0 eentiaa, nutrido cons E no apice desta contradigdo, que aguga a tensio entre o ume © ndio-um onde se produz a cnunciacdo, que aparece a configuracio enunciativa complexa da reflexividade opacificante: li onde o 26 lapso, por exemplo, faz furo de nio-um no tecido do dizer, la onde, ao contrario, em um discurso enunciado sem choque ¢ sob um moda padrao (sem opacificagao), é de forma nao-visivel que jogam as dis- tancias das ndo-coincidéncias onde o discurso se constitui, na superficie aparentemente unida que ele desenrola e que é aquela em que, de fato, da mais cerrada das redes de “costuras” ou de cola- iveis, a modalidade autonimica — sobre a qual no plana rater de “ruptura ligada”~ aparece, ela, * ¢ de nfio-um que “esgarga”, como um gens inv formal se tem destacado o © nesse jogo de um que “junta modo da costura aparente, que ressalta em um mesmo movimenta ativa (contrariamente ao modo a falha da nao-coincidéncia enune da superficie una), ¢ sua sutura metacnunciativa (contrariamente ao modo da ruptura “bruta” do lapso). Manifestas na superficie do dizer, as glosas metacnunciativas nao sio da ordem do ornamento. Atravé 1s formas que testemu- nham o modo pelo qual um dizer “se mantém” no jogo dispersante das nao-coincidéncias, pelo ragado de suturas com que elas reas: seguram sua unidade, como em um corpo de cicatrizes que atesta sua coesdo no lugar de suas feridas fechadas; elas sao, para um sujeito que € sujcito a ser falante, isto é, a ser pego na lingu m, jogos sérios de outro modo, eu entendo fundamentais, que o de estratégias interativas em espelho, que jogam, tocando — com seu modo singular de serem presos na linguagem, que é em particu um modo singular de “se colocar” nessas ou de “fazer com” essas nao-coincidéncias ¢ o que elas inscrevem de divisio fundadora ¢ de ameaga de desligamento — 0 coragao do sujeito ¢ do sentido. Para além do “eu” do “aparetho formal da enunciagao” que designando o sujeito da enuncia¢gado nessa mesma enunciagao, per- mite-Ihe, conforme a analise de Benveniste, constituir-se como tal, © conjunto das formas em eu digo X da metaenunciagao opacificante, outro registro do “homem na lingua”, nado pode ser considerado como o que, deserevendo a ecnunciagado — e€ scu sujeito s ma enunciagao, permite-lhe configurar-se, assegurar-se uma imagem, “preservada” (conforme o contorno que the desenha a linha recortada cados) sobre o jogo incessante ¢ irrepresen- © reali de: dos segmentos opacif tavel das hetcrogencidades através do qual cla Longe da “relagdo burguesa com a lingua”, em que, segundo Bourdicu, a pratica metaenunciativa — compreendida por ele como dispéndio ostentatério de linguagem com fungio de distingado social — encontraria sua ancoragem, é (bem evidentemente nas formas socialmente diversificadas) a relagéo humana com a lingua que esta, fundamentalmente, testemunha. No caminho, foram encontradas posigées “extremas” que igno- ram de forma oposta o compromisso inerente a representagao meta- enunciativa de um fato local de ndo-um: sobre a versio do registro do UM a que tende o “discurso” matematico formalizado, ou sobre a que, fingindo, idcologicamente, produzir-se em outros discursos, nao pode dar lugar por pouco que seja ao espago de um nao-um: sobre a outra, em que o gesto de “retomada” metacnunciativa ope- rado sobre distancias, por isso mesmo circunscritas, nao se poderia inscrever em eserituras poéticas votadas ao jogo do nao-um. Uma nao tolerando, mesmo cicatrizada, a menor ferida, a outra nio consentindo o engano da menor sutura. Entre estes extremos se desenvolve a variedade ilimitada — tanto no plano quantitativo como no qualitativo: tipos de distancias reconhecidas, pontos onde elas siio localizadas, formas de resposta que Ihes sio alcangadas — de modos com que se opera nos discur- sos, pela imagem que cada um desenha em si mesmo de suas nao- coincidéncias, testemunhando assim uma posigao enunciativa espe- cifica (ligada a uma lei de género, uma regularidade de natureza discursiva, uma singularidade de sujeito), esta negociagado — com- promisso ~ obrigatéria, inerente 4 enunciacdo, com o fato das nao- coincidéncias que a atravessam. Tradugio: Maria Onice Payer

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