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O Mapa
Do Abismo
e
Outros Poemas.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
1ª Edição.
Tiragem:
t
Edições
Tigre Azul
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Resta então, o convite: caro (a) leitor (a) leia, desarmado, leve, livre de
preconceito, este novo ( e velho) livro de poesias de Edson Bueno de Camargo. Este
abismo de olhar o mundo caótico em que vivemos. Olhar de um jovem que,
macambúzio, percorreu a pé, de trem, de ônibus, de carro, solitário ou de mãos dadas
com as duas mulheres de sua vida – a esposa Cecília e a filha Sarah, seus caminhos
tortuosos. Poemas que revelam o espanto, o encanto, o desencanto frente às
atrocidades do homem que sobrevive amontoado nos morros de Mauá a Singapura;
fica Faltando, agora, seu olhar sobre o do Autor, EBC. E Boa Viagem!
dedicar
aos amigos
à filha
ao neto
para minha amada
naquilo que somos imortais
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
O Mapa Do Abismo.
Fragmentos.
Espectros.
Uma casa.
conversas de corredor
sussurros no salão
semi-escuridão espectral
fui ao campo
e apanhei uma flor branca
que nascia por entre a grama
Sob a Sombra.
minguante no horizonte
sob a sombra da arvore
misterioso passante
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Tramar.
ao cair da noite
banhado pela luz da lua
as gotas do sereno
formavam pequenos cristais na teia
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Útero da terra.
útero da terra
umidade
grossas raízes
húmus
pequenas criaturas
verve do chão
âmago
velha paixão
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Aquário Vazio.
no canto da sala
só tem solidão
as pedras no fundo
estão lá sem razão
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Evanescentes.
Pax Panis.
me sinto perseguido
por visões do paraíso
um branco luminoso sem fim
um terror imóvel e gélido que me consome
Urge.
ouça
o cortejo de anjos marchando
o Deus guerreiro e general
a buzina, a trombeta, os tambores marciais
com forte ruído a produzir
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Aluagem.
como que
querendo competir com o sol
que começa finalmente a nascer
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Alma de Cristal.
no alto da colina
as rochas que cantam
no campo
entoam cânticos
de antiga religião
alma de cristal
no centro da terra
no tempo das eras
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Cidades Antigas.
maçons
grades sagradas
onfalos
torres vigiadas
montanhas encantadas
cemitérios, fantasmas
tesouros escondidos
passeios no campo
boa comida,
parentela
conversas na varanda
cachaça de alambique ( crisóis, alquimistas )
licores, bolos e café com leite
Venho Vento.
Café Filosófico.
Vestígios.
no quarto
semi-escuro
um resto de perfume no ar
Em Silêncio.
Atravessar a Sala.
Possível Fim.
O dia da Lua.
todos os meses
nos seus dias
como um ritual
marca no calendário
a palavra mulher em assírio
no dia correspondente
o símbolo cuneiforme
grafado em tinta azul
de caneta esferográfica
cria uma dicotomia
de uma escrita tão antiga
em um modo tão contemporâneo
remete o pensamento
aos cultos de fertilidade
da “kubaba” sagrada
a mãe de todas as mães
Cotidiano.
todos os dias
toda manhã
o cheiro de café sendo feito
invade a rua
Do Incerto.
do incerto
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Outro Dia.
abrir as portas,
escancarar as janelas,
para iluminar a sala,
arejar a casa
ferver a água
fazer um chá
ler o jornal da manhã
com suas notícias velhas e dobradas
de um mundo distante e perdido
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
fazer o café
para que o dia amanheça
para que você não me esqueça
é preciso ter fé
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
As Primeiras Sementes.
Arrabaldes.
Toda Manhã.
toda manhã
acordar e ainda sonolenta
lavar o rosto
sentar na mesa
fitar os olhos vazios da mãe
e rezar
reza baixinho
não quer ficar igual a mãe
não que um homem mandando em sua dor
toda manhã
torce para não acordar
quer morrer no sono dos justos
não quer mais escutar os gemidos e choros
não quer o medo como canção de ninar
não quer a nova manhã
Bem - Amados.
1–
no princípio da terra
todos os homens eram como um só
e não havia dor
2–
a razão perdida
a insanidade daqueles que afixam preços a seus corpos
a cruz, o aço, a pólvora e o chumbo
a doença
a descrença
a ganância
Sobre uma foto de uma menina palestina morta estampada na primeira pagina
do Jornal Folha de São Paulo em 08/04/2002.
em algum lugar
uma mãe se desespera
num choro, num grunhido insano espera
ali inerte
espera que lhe cubra a terra
lhe agasalhe em seu ventre
sem ódio e sem medo
finalmente a sua terra natal
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Dormentes Molhados.
curva ferroviária
pedras molhadas de garoa,
neblina branca, serra úmida
mata atlântica primitiva
No Passado.
ata
minh’ alma no passado
ave
vento
água corrente
ferro, ferrugem
neblina e frio
Sol Impressionista.
Sarah Helena
vermelho poente
sol impressionista
passam pela minha vista
outonos esquecidos
Da Lua e Da Maré.
redes, anzóis
barcos encalhados na areia
velas velhas encharcadas de chuva
uma barra de areia branca invadindo o mar
Céu Lilás.
naquela tarde
o céu estava lilás
e as nuvens cor de rosa
o horizonte negro
se estendia e abraçava a terra
Em Pleno Ar.
Ódio Antigo.
Dinossauro.
hoje amanheci
com um desejo doido de me matar
de acabar de uma vez por todas
com a minha consciência
Se estou condenado.
Herança.
eu desisto,
definitivamente e irreversivelmente,
neste dia;
desisto,
de meus valores,
de minhas crenças,
de minha herança cultural,
de minha ascendência genética,
de meu direito a vida,
do amor,
do ódio,
da indiferença
de minha alma eterna (se ainda a possuir),
renuncio,
a Deus,
a todos os deuses de deusas,
ao diabo,
a bondade,
a generosidade,
a honra,
a mesquinhez,
a avareza,
a minha santa ira,
ao medo,
a dor,
Mapa do Abismo.
resisto,
me cobro de luto pelos que se foram
e firmo a fé
para que minha armadura
não se torne minha mortalha.
Desembainhar a espada
e lutar na certeza
que a vitória,
é sempre a dos justos.
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O Abismo Te Observa.
passa a vida
diante dos olhos
como um velho cinema mudo
mas, como num pesadelo
esquece de tudo imediatamente,
ali,
no aguardo do que já não sabe
a pedra
a areia
a grama
a chuva
o grande rio negro ao longe
a barra
o sal resplandecente
acompanham
absorto no esquecimento,
espreita
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Outros Poemas.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Paulo Leminsk
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Reduzir.
Re(pro)du[(lu)zir]
cr(ia)er
cria[(cul)tura]
cria(ção)
!
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Olhos I.
Olhos II.
Não Ver.
A busca.
Vigia O Gato.
vigia o gato,
com seus olhos verdes
faiscando no escuro,
a porta
como o guarda
de uma pirâmide,
o quarto de dormir
Paraísos.
não há crianças
com sua curiosidade discreta
sempre tentando agarrar tudo que se move
não há gatos de garras afiadas
(estes estão no paraíso dos gatos)
e sempre é primavera
sempre tardezinha
sempre silencioso
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Distração.
Mulheres Redondas.
mulheres redondas
em seus grandes vestidos floridos
passeiam pelas tardes ensolaradas
(um sol redondo como a lua, alaranjado )
com suas sombrinhas chinesas
O Rio.
I-
II-
III-
nascer e morrer no planalto, vislumbrando da serra, o mar que te espera, não terá foz
nem delta
não desbravará sertões, não conduzirá monções, não correrá no solo macio da
planície,
terá sempre a tranqüilidade dos remansos e águas grandes, várzeas inundadas, poços
e vazantes
seguidos de muitos outros menores, sem nome e sem memória, seguem o mesmo
destino,
olhos d’água, bicas nas barranqueiras (onde mulheres lavavam a roupa e crianças
matavam a sede).
IV-
que queimaram lentamente, anos a fio, nas primitivas fogueiras, nos primeiros fogões
de lenha, nas coivaras,
depois no ventre das locomotivas, nas caldeiras industriais,
nos fornos das olarias (a capital precisava de tijolos) e cerâmicas industriais
V-
quando haviam as matas, foi caminho de negros fugidos das lavouras de café do
interior
que procuravam os quilombos de Peruíbe e Iguape
escondeu em suas ramagens a vergonha da escravidão
VI-
tudo correria tranqüilo até os dias de hoje, não fosse a irrequieta presença dos
homens,
colonos portugueses, uns se foram outros ficaram, vieram imigrantes italianos,
de todas as nações do velho continente, asiáticos, japoneses do outro lado do mundo,
migrantes nordestinos e mineiros, de todos os estados, todos sem exceção em busca
de trabalho,
de enriquecimento, de sonhos, simples e laboriosos, gente de bem,
VII-
Apêndice.
Folhetos Poéticos.
O autor.
R
E
M
I
N
I
S
C
Ê
N
C
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I
A
S.
A Teia.
diferença fatal
da vítima que se envolve.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Observações.
Medo no Espelho.
brilha a lágrima
como um cristal partido
fio a fio
fino de seda
e nos ata as almas
Dançarinos de Arame.
dançam na areia
dançarinos de arame
frágil estrutura
de aço e barbante
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Girassóis.
crescem os girassóis
balançam a brisa de verão.
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Escadas.
úmida boca
molha o medo
nas sombras.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Varais.
não esqueça
de olhar para o céu
por entre as roupas dos varais
Por do Sol.
vermelho
uma massa vermelha escura
se desloca do céu violáceo
a tarde me aquece
apesar de fria
Palavras vazias.
Não
Verás
O
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Mar
Como
Eu
Vi!
Mar Amarelo.
Sonâmbulos.
O tempo não..
deitar o cansaço
levantar com o sol
levar a faina do dia a dia
até descobrir que o tempo
não mais existe...
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Do Tempo.
é necessário
romper as amarras (do tempo)
para que possamos,
libertar nossas almas
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Das Igrejas.
processos místicos
parabólicas flutuantes
computadores diletantes
novilingüismos absurdos
Da Velha Pátria.
do que falam
os olhos fundos e brilhantes
de verem de há muito tempo,
as novas eras
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Tiamat.
se tornarei,
a fonte de toda a destruição
o som,
que nunca poderei ouvir
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Da Espera.
há uma espada
sobre minha cabeça
há um fio
por se romper
estes,
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
Da Nau.
há ratos no porão
que roem as cordas
e restos
a deriva da nau
depende
das velas e dos ventos
Do vento.
seus cabelos
pelo vento espalhados
seus seios
pela blusa
fielmente retratados
Passado Guardado.
como é difícil
encarar a ausência
porque o passado
é doloroso e próximo
De Granito.
da pedra
se tirará
o que não é o essencial
revelando a alma do granito
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas
O autor.
Novo Século” – poesia; “Muitos Morreram por Esparta” – poesia; “De Lembranças &
Fórmulas Mágicas” _ poesia.
www.secrel.com.br/jpoesia/ebcamargo.html
www.paralerepensar.com.br/link_edsoncamargo.htm
http://www.pd-literatura.com.br/especiais/mar.html#ebcamargo
http://www.eldigoras.com/eom03/indic/buenodecamargoedson.htm