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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAIS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E CIÊNCIA POLÍTICA
TEORIA SOCIOLÓGICA - 1
PROFESSOR: Ary César Minnella.
ALUNOS: Ana Gabriela, Leonardo Silva, Pedro Soares, Tiago Roberto da Silva.

INTRODUÇÃO:

Este trabalho tem por objetivo analisar a manufatura: sua origem, aspectos, importância
para a evolução capitalista e principalmente suas consequências para a classe trabalhadora,
sobretudo na atualidade. Traçando assim um paralelo, entre algumas das análises de Marx,
discorridas em ''O Capital'' e nos ''Manuscritos Econômicos e Filosóficos, e algumas das análises
contemporâneas sobre o processo de marginalização social, empobrecimento e alienação na
América Latina. Fatos que, segundo Marx, são decorrentes principalmente da acumulação de
capital e, consequêntemente, da ''produção de progressiva de um excesso relativo de poulação''.
Pois o mesmo afirma, que
se, [...] uma população trabalhadora excedente é um produto necessário da
acumulação ou do desenvolvimento da riqueza com base capitalista, ela torna-se, por
sua vez, a alavanca da acumulação capitalista e mesmo condição de existência do
modo de produção capitalista (MARX, 1975, p. 397).

DESENVOLVIMENTO:

A origem da manufatura sua formação a partir do artesanato [apresenta


um caráter dúplice]. Por um lado a manufatura introduz [...] a divisão do trabalho
em um processo de produção ou a desenvolve mais; por outro lado, ela combina
ofícios anteriormente separados. Qualquer que seja seu ponto particular de partida,
sua figura final é a mesma - um mecanismo de produção, cujos órgãos são seres
humanos (MARX, 1996, p. 455).

Ao contrário do mercantilismo, em que a estrutura vigente era oposta a venda do trabalho,


já que, ''o comerciante podia comprar todas as mercadorias, mas não o trabalho como
mercadoria'' (MARX, 1996, p. 473). Na manufatura, este, nada mais é, do que uma precondição
de existência do próprio sistema. Porém, incluir o trabalho na estrutura de ''mercado significa
subordinar a própria sociedade às leis de mercado'' (POLANYI, 2000, p. 93) e as flutuações da
produção.
A progressiva divisão e especificação do trabalho, caracteristicas marcantes da manufatura,
causam a especialização do trabalhador e também a melhoria e particularização dos instrumentos
de trabalho (da maquinaria). Porém, na manufatura a execução do trabalho ainda permanece
artesanal, pois, todo o processo depende do trabalhador parcial e de sua habilidade individual. Já
que, o processo de produção consiste na divisão das diversas operações parciais da atividade
artesanal.
Com respeito ao próprio modo de produção, a manufatura, por exemplo, mal se
distingue, nos seus começos, da indústria artesanal das corporações, a não ser pelo
maior número de trabalhadores ocupados simultaneamente pelo mesmo capital. A
oficina do mestre-artesão é apenas ampliada
(MARX, 1996, p. 349).

Porém, essa forma de produção fracionada ''...aleija o trabalhador convertendo-o em uma


anomalia, ao fomentar artificialmente sua habilidade no pormenor mediante a repressão de um
mundo de impulsos e capacidades produtivas...'' (MARX, 1996, p. 474). Assim, o trabalhador
começa a torna-se progressivamente, acessório dessa ''máquina cujas as partes são seres
humanos'', pois ele tem, entre outras coisas, de se adaptar as condições e ao ritmo que a produção
em conjunto lhe impõe. Com o tempo o operário quase não precisa mais raciocinar, já que, as
operações tornam-se mais rápidas e regulares com o tempo, ou seja, praticamente automáticas.
''Na realidade,'' afirma Marx, ''algumas manufaturas do século 18 empregavam de preferência,
em certas operações simples, mas que constituíam segredos de fábrica indivíduos meio idiotas''
(MARX, 1996, p. 476).
Marx acredita, que

certa deformação física e espiritual é inseparável mesmo da divisão do trabalho em


geral na sociedade. Mas como o período manufatureiro leva muito mais longe essa
divisão social dos ramos de trabalho e, por outro lado, apenas com a divisão peculiar
alcança o indivíduo em suas raízes vitais, é ele o primeiro a fornecer o material e dar
impulso para a patologia industrial (MARX, 1996, p. 477).

Pois,

o que os trabalhadores parciais perdem, concentra-se no capital com que se confrontam.


É um produto da divisão manufatureira do trabalho opor-lhes as forças intelectuais do
processo material de produção como propriedade alheia e poder que os domina
(MARX, 1996, p. 475).

E, dessa forma, nas mesma proporções com que o progresso tecnológico acontece, o trabalhador
aliena-se de si mesmo e de sua humanidade, por que, ''...como a atividade não é dividida
voluntária mas naturalmente, as ações do homem tornam-se uma força estranha oposta a ele,
escravizando-o em vez de ser por ele controlada'' (MARX apud FROMM, 1975, p. 178).
Pórem, a manufatura com ''sua própria base estreita, ao atingir certo grau de
desenvolvimento, entrou em contradição com as necessidades de produção que ela mesmo criou''
(MARX, 1996, p. 482).

Uma vez que a habilidade artesanal continua a ser a base da manufatura e que o
mecanismo global que nela funciona não possui nenhum esqueleto objetivo
independente dos próprios trabalhadores, o capital luta constantemente contra a
insubordinação dos trabalhadores (MARX, 1996, p. 481).

Porém, o

...produto da divisão manufatureira do trabalho produziu, por sua vez - máquinas.


Elas superam a atividade artesanal como principio regulador da produção social.
Assim, por um lado, é removido o motivo técnico da anexação do trabalhador a uma
função parcial por toda a vida. Por outro lado, caem as barreiras que o mesmo
princípio impunha ao domínio do capital [ou seja a insubordinação dos
trabalhadores, entre outras coisas] (MARX, 1996, p. 482).

Assim, com o declínio e superação da manufatura, surgiu a grande industria capitalista,


propriamente dita. Muito maior, mais poderosa e moderna, onde a divisão do trabalho e
eficiência são máximas e onde a produção e os lucros são ainda maiores e o tempo, e os custos
produção estão sendo sempre minimizados.
Por sua vez, a divisão do trabalho e a melhoria dos instrumentos de produção (iniciadas na
manufatura), possibilitam o aumento de produtividade material, em menor tempo e com maior
quantidade de trabalho feita por um menor número de trabalhadores. Todo esse processo, por sua
vez, aumenta também o lucro, do agora, grande industrial capitalista. ''Com o progresso da
acumulação, um capital variável maior põe em movimento maior quantidade de trabalho sem
recrutar mais trabalhadores'' (MARX, 1975, p. 401). Dessa forma, o aumento no lucro possibilita
ao capitalista uma maior acumulação de capital total, em menor espaço de tempo. E levando em
conta, que ''a demanda de trabalho é determinada não através do capital total, mas sim através de
sua parte variável, ela cai progressivamente com o aumento do capital total...'' (MARX, 1975, p.
395). Isso se dá, pois, o aumento do capital total diminui relativamente, o capital variável
empregado em força de trabalho. ''Por isso, a população trabalhadora, ao produzir a acumulação
do capital, produz também, em proporções crescentes, os meios que fazem dela, relativamente,
uma população excedente'' (MARX, 1975, p. 396). ''Concui-se, portanto, que, na medida em que
se acumula o capital, a situação do trabalhador, seja qual for seu salário, alto ou baixo, tem de
piorar'' (MARX, xxxx, p. 392). O sistem também adapta continuamente o valor da população
conforme às suas necessidades de absorção. Da mesma forma, quanto mais aumenta o capital
mais aumenta o exército de reserva, e consequêntemente, à probreza dos trabalhadores.

O exército industrial de reserva pressiona o exército ativo, durante os períodos


de estagnação e prosperidade média, e trava as suas exigências, durante o período de
superprodução e de paroxismo. A superpopulação relativa é, portanto, [um dos
panos] de fundo sobre o qual a lei da oferta e da procura de trabalho se movimenta
(MARX, 1975, p. 404).

Nesse estágio posterior do desenvolvimento produtivo, o trabalhador deixa de desenvolver


totalmente suas capacidades intelectuais, por que nunca se depara com problemas que necessitem
de sua criatividade e inteligência para serem resolvidos, pois o processo já está todo préviamente
estabelecido por um profissional técnico-científico, designado especificamente para aperfeiçoar e
baratear os meios de produção. Pois,
só passou a haver efetiva divisão quando se instalou uma separação entre
trabalho manual e trabalho intelectual. Marx diz que mesmo na manufatura
ainda havia a possibilidade de algum trabalho diferenciado. [Por que] na
manufatura, ou modo de produção pré-capitalista, o trabalhador é explorado,
mas a alienação é apenas do corpo. Já no modo especificamente capitalista
(trabalho industrial), o processo de trabalho é desmontado [inteiramente]
pelo capital que o remonta à sua própria [vontade e] lógica. A alienação
então é total (BRUNIERA).
Com o passar do tempo, algumas dessas indústrias ou empresas, tornaram-se ainda mais
poderosas, expandiram-se pelo mundo (tornaram-se multinacionais) e incorporaram outras
menores do mesmo ramo de negócios que o seu (ou até mesmo de outros ramos: formando nesse
caso específico conglomerados), monopolizando dessa forma certos seguimentos inteiros do
mercado mundial.
Assim, depois de ter sido superada a manufatura que durou até o último terço do século
dezoito, e em decorrência das constantes revoluções tecnológicas, e da entrada das empresas
monopolistas na América Latina, o quadro trabalhista tornou-se muito mais complexo, do que na
época à que Marx refere sua análise.
Existe [hoje,] um conjunto complexo de processos que se entrelelaçam e repercutem
no nível dos sálarios. A fixação do mínimo (social) de subsitência é altamente
variável, dependendo de múltiplas condições históricas. Decorre, entre outra coisas,
do grau de interferência do Estado na fixação salarial, dos grupos sociais que esta
intervenção favorece, bem como da vitalidade das organizações da classe
trabalhadora em obter maior ou menor parcela dos benefícios disponíveis
(KOWARICK, 1981, p. 116).

Percebe-se também que, em decorrência

do caráter ''abrupto'' e ''parcial'' com que foram injetadas as empresas monopolistas, o


capitalismo latino-americano teria originado estruturas produtivas marginais,
[''conceito que que neste texto, engloba os grupos sociais ''excluídos'' dos pólos
hegemônicos''], que se localizam no nível mais baixo dos diversos setores de
atividade econômica. Sem dúvida, em todos os períodos da história latino-americana
e das sociedades capitalistas em geral, sempre existiram estas formas de atividade
econômica [...]. No entanto, é somente no período atual que elas tendem a se expandir
e a se diferenciar como um nível inteiro ou estrato da econômia, isto é que faz parte
crescente de cada um dos setores substantivos (KOWARICK, 1981, p.101).

Então, verifica-se na atualidade, como declara Castells (apud DÍAZ, 2006, p.75), que:

...a reestruturação econômico-produtiva foi acompanhada de uma


nova configuração da estrutura laboral e social. Nas econômias
avançadas, onde se deu de maneira forte o processo da terceirização
- fruto do aumento da produtividade no setor industrial, do deslocamento
da mão-de-obra e do barateamento dos custos de produção - criou-se
uma nova divisão do trabalho que teve seu reflexo na diminuição dos
postos intermediários, no crescimento de postos de trabalho de alto nível
e na proliferação de trabalhos não qualificados e mal remunerados.

Condenando, dessa forma, importantes parcelas da população à uma situação de precariedade e


pobreza extremas.
Parte do ''exército industrial de reserva'', perdeu assim, sua capacidade de ser absorvido pelo
mercado de trabalho oficial mesmo em épocas de grande expansão capitalista, no entanto, não
perdeu sua antiga e forte influência, no que diz respeito as flutuações salariais. Sendo ainda
usado como ''ameaça'', ''exemplo'', ou como ''justificativa'' para os salários oferecidos no
mercado. Pois, ''a elevação do preço do trabalho fica, [...], confinada nos limites que mantém
intactos os fundamentos do sistema capitalista e asseguram sua reprodução em escala cerscente''
(MARX, xxxx, p. 384).

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Marx no século dezenove, já percebia e analisava os efeitos altamente marginalizantes,


excludentes e alienantes do capitalismo. Para ele o capitalista se vê obrigado a deixar os
trabalhadores cairem progressivamente em um abismo de degradação social, pior ainda do que
um escravo. Porém, talvez o principal fator negativo que ele destaca em sua análise seja:

... o processo de alienação [que] manifesta-se no trabalho e na divisão do trabalho. [...]


O trabalho humano é alienado porque trabalhar deixou de fazer parte do trabalhador e,
''consequentemente ele não se realiza em seu trabalho mas nega-se a si mesmo, tem
uma impressão de sofrimento em vez de bem-estar, não desenvolve livremente suas
energias mentais e físicas mas fica fisicamente exaurido e mentalmente aviltado
(FROMM, 1975, p. 53).

Esse ''...processo desenvolve-se na manufatura, que mutila o trabalhador, convertendo-o em


trabalhador parcial. Ele se completa na grande indústria, que separa do trabalho a ciência como
potência autonôma e a força a servir o capital'' (MARX, 1996, p. 475).
Marx condena a conjuntura laboral do modo de produção capitalista, principalmente, por que
esta alheia o homem de si mesmo, dos outros seres humanos, ou seja, da sua própria
humanidade. Porém a alienação, sobretudo atualmente (apesar de Marx já achá-lo naquela
época), não se resume só a classe de trabalhadores da indústria e aos excedentes de população
marginalizados pelo sistema, mas à toda a sociedade, até mesmo ao próprio proprietário
capitalista. Para Marx, todos somos reféns de uma força ''estranha'', não humana, que nos
domina, que nos usa como ferramenta para aumentar o seu próprio poder, e consequêntente,
diminuir ainda mais o nosso controle sobre todo o sistema, e assim, sobre nossas próprias vidas.
Esta força é o capital, que nada mais é do que trabalho acumulado e inerte que só pode
desenvolver a si, e ao seu poder, se consumir trabalho vivo e em movimento, e assim, de certa
forma, ele consome os próprios trabalhadores (seres humanos). Pois como afirma Marx:

O poder social i. e,. a força produtiva multiplicada, nascida da cooperação da diferentes


indivíduos como é determinada na divisão do trabalho, aparece a esses indivíduos, já
que sua cooperação não é voluntária mas natural, não como sua força unificada mas
como uma força estranha existente fora deles, de cuja a origem e fim nada sabem, que
assim não podem controlar, que pelo contrário passa por uma série peculiar de fases e
etapas independentemente da vontade e da ação do homem, e mais ainda sendo o
principal dirigente destas (MARX apud FROMM, 1975, p. 179).

E com relação as análises da marginalização e alienação atuais, Telles (2006, p. 177),


declara, que com o advento da ''globalização, [da flexibilização] e da revolução tecnológica, [os]
efeitos excludentes [e alienantes] das [...] mutações do trabalho'' tem se amplificado
consideravelmente. O aumento do desemprego, dos subempregos e dos trabalhos informais, são
alguns dos efeitos diretos desse processo que ainda está em andamento na América Latina.
As constantes mudanças nas ''formatações'' do mercado de consumo e do mercado de
trabalho, juntamente com a flexibilização capitalista, alteram também a vida social:
''redesenham os espaços urbanos,[...] afetam a econômia doméstica, provocando mudanças
importantes nas dinâmicas familiares, nas formas de sociabilidade e redes sociais, nas práticas
urbanas e seus circuitos'' (TELLES, 2006, p. 182). Já que, como afirma Marx (2008, p. 135), ''o
modo de produção da vida material condiciona, em geral, o processo social, político e espiritual
da vida''.
Assim, levando-se em conta tudo o que foi dito ao longo do texto, percebe-se ''alguns'' dos
efeitos negativos que o capitalismo exerce sobre a vida das pessoas. Pois, como Sennett (1999,
p. 174) defende:

O sistema irradia indiferença, [...] onde não há motivo para se ser


necessário. E também na reengenharia das instituições, em que
as pessoas são tratadas como descartáveis. A indiferença do
antigo capitalismo ligado à classe era cruamente material; a
indiferença que se irradia do capitalismo flexível [globalizado] é
mais pessoal, porque o próprio sistema é menos cruamente
esboçado, menos legível na forma.

Para ele ''um regime [econômico] que não oferece aos seres humanos motivos para se
ligarem uns aos outros não pode preservar sua legitimidade por muito tempo'' (SENNETT, 1999,
p. 176).

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