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verve
Revista Semestral do Nu-Sol — Núcleo de Sociabilidade Libertária
Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, PUC-SP
7
2005
VERVE: Revista Semestral do NU-SOL - Núcleo de Sociabilidade Libertária/
Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, PUC-SP.
Nº7 ( maio 2005 - ). - São Paulo: o Programa, 2005 -
Semestral
1. Ciências Humanas - Periódicos. 2. Anarquismo. 3. Abolicionismo Penal.
I. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Estudos
Pós-Graduados em Ciências Sociais.
ISSN 1676-9090
Editoria
Nu-Sol – Núcleo de Sociabilidade Libertária.
Nu-Sol
Acácio Augusto S. Jr., Anamaria Salles, Andre R. Degenszajn, Edson Lopes
Jr., Edson Passetti (coordenador), Eliane Knorr de Carvalho, Guilherme C.
Corrêa, José Eduardo Azevedo, Lúcia Soares da Silva, Márcio Ferreira
Araújo Jr., Martha C. Lossurdo, Natalia M. Montebello, Gilvanildo Avelino,
Rogério H. Z. Nascimento, Salete Oliveira, Thiago M. S. Rodrigues, Thiago
Souza Santos.
Conselho Editorial
Adelaide Gonçalves (UFC), Christina Lopreato (UFU), Clovis N. Kassick
(UFSC), Guilherme C. Corrêa (UFSM), Guilherme Castelo Branco (UFRJ),
Margareth Rago (Unicamp), Roberto Freire (Soma), Rogério H. Z. Nascimen-
to (UFPB), Silvana Tótora (PUC-SP).
Conselho Consultivo
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Christian Ferrer (Universidade de Buenos Aires), Dorothea V. Passetti
(PUC-SP), Francisco Estigarribia de Freitas (UFSM), Heleusa F. Câmara
(UESB), José Carlos Morel (Centro de Cultura Social – CSS/SP), José Maria
Carvalho Ferreira (Universidade Técnica de Lisboa), Maria Lúcia Karam,
Paulo-Edgard de Almeida Resende (PUC-SP), Plínio A. Coelho (Editora Ima-
ginário), Silvio Gallo (Unicamp, Unimep), Vera Malaguti Batista (Instituto
Carioca de Criminologia).
ISSN 1676-9090
verve
revista de atitudes. transita por limiares e ins-
tantes arruinadores de hierarquias. nela, não
há dono, chefe, senhor, contador ou progra-
mador. verve é parte de uma associação livre
formada por pessoas diferentes na igualdade.
amigos. vive por si, para uns. instala-se numa
universidade que alimenta o fogo da liberda-
de. verve é uma labareda que lambe corpos,
gestos, movimentos e fluxos, como ardentia.
ela agita liberações. atiça-me!
A mecanização do
cadáver — a má sorte dos animais
Christian Ferrer 86
Os pedreiros da anarquia
Edgar Rodrigues 178
Anarquia e anarquismo
Eduardo Colombo 194
Centro de cultura social,
uma prática anarquista
Entrevista com José Carlos Morel 209
Haikai
Henry D. Thoreau 224
Anarquismo na vida e na
obra de eugene o’neill
Pietro Ferrua 226
RESENHAS
Conectando anarquias
Thiago S. Santos 301
os anarquismos estão vivos como história do presen-
te. um presente composto das memórias de suas lutas,
de suas experimentações, das atuações dos anarquis-
tas no trabalho, no cotidiano jamais modorrento. um
presente feito de atualidade, de reviravoltas diárias.
verve não se interessa pela polêmica; esta apenas
sustenta dogmatismos. interessa-nos rebeldias.
diante do pavor disseminado pelo terrorismo conser-
vador deste início do século XXI, século que também vem
se caracterizando pelo conformismo, verve 7 traz instan-
tes do julgamento de émile henry, no final do XIX, e suas
atuais palavras. é a partir deste jovem anarquista que se
apresenta uma tensa discussão sobre o abolicionismo
penal, os anarquismos, as aproximações com nietzsche,
o teatro de eugene o’neill, o cinema de jean vigo, o con-
tundente ensaio de saul neuwman sobre foucault e stir-
ner, resenhas sobre ética, coragem e verdade, e poesias
de sergio cohn.
diante de tantas forças reativas, contaminando de
boçalidade até os libertários, é sempre corajoso uivar: a
uniformidade é a morte.
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Sergio Cohn
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jean maitron*
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[O interrogatório]
[...]
Terminada a leitura dos autos de acusação, o presi-
dente procede ao interrogatório do acusado:
Pergunta. A 12 de Fevereiro, entrou no Café Termi-
nus.
Resposta. Sim, às oito horas.
P. A sua bomba ia à cintura de suas calças?
R. Não, no bolso de meu sobretudo.
P. Por que foi ao Café Terminus?
R. Fui primeiro à Casa Bignon, ao Café de la Paix e ao
Americain, mas não havia gente o suficiente; então,
entrei no Terminus e esperei.
P. Havia uma orquestra. Quanto tempo esperou?
R. Uma hora.
P. Por que?
R. Para que aparecesse mais gente.
P. E em seguida?
R. Já o sabem.
P. Estou perguntando.
R. Usei o charuto!, acendi o rastilho e depois, pegan-
do a bomba, saí e à porta, ao deixar o café, lancei a bom-
ba.
P. Despreza a vida humana.
R. Não, a vida dos burgueses.
P. Fez tudo para salvar a sua.
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te, declarando que não queria deixar vir aqui uma mãe
para ouvir o acusador público requerer a pena capital
contra o filho. Acrescentei que só havia um meio de a
fazer entrar, que era citando-a como testemunha. Se
esta testemunha for chamada, a lei obriga-me a ouvi-
la.
O acusado: Desconhecia que a minha mãe tivesse
sido citada... Não quero ver aqui a sua dor.
P. É precisamente o que pretendia evitar-lhe. Renun-
cia à audiência da testemunha?
O acusado: Renuncio em absoluto.10
Sr. Hornbostel: Renuncio igualmente.
Esgotado o rol de testemunhas o acusador público pro-
nunciou o seu requisitório. O que mais lhe importa é
saber “como este jovem burguês se tornou um anarquis-
ta”.
Estamos aqui na presença, não de Ravachol, Léauthi-
er e outros, mas na de um burguês. O seu pai possuía
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Os timoratos
Quem eram esses homens?
Os mesmos que fazem abortar todos os movimentos
revolucionários, por recearem que o povo, uma vez lança-
do na ação, deixe de obedecer à sua voz; aqueles que le-
vam milhares de homens a sofrer privações durante me-
ses inteiros, para fazer propaganda à custa dos seus sofri-
mentos e ganharem a popularidade necessária à obtenção
de um mandato — refiro-me aos chefes socialistas. Esses
homens, com efeito, tomaram a direção do movimento
grevista.
E viu-se, subitamente, cair sobre a região um enxame
de senhores bem-falantes que se colocaram à inteira dis-
posição da luta, organizaram subscrições, proferiram con-
ferências, enviaram pedidos de fundos para todo o lado. Os
mineiros depuseram nas suas mãos toda a iniciativa. O
que aconteceu, sabemos bem.
A greve eternizou-se, os mineiros travaram conheci-
mento mais íntimo com a fome, sua companheira habitu-
al; esgotaram os magros fundos de reserva do seu sindica-
to e dos que vieram em seu auxílio e, ao fim de dois me-
ses, de orelha murcha, voltaram à fossa, mais miseráveis
do que antes. Desde o princípio teria sido muito simples
atacar a companhia no seu único ponto fraco: o dinheiro;
incendiar o estoque de carvão, destruir as máquinas de
extração, destruir os aparelhos de bomba hidráulica.
Claro que a Sociedade teria capitulado bem depressa.
Porém, os grandes pontífices do socialismo não admitem
esses processos, que são anarquistas. Neste jogo arrisca-
se a prisão e, quem sabe?, talvez uma dessas balas que
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A voz da dinamite
Decidi então introduzir, nesse concerto de alegres chil-
reios, uma voz que os burgueses já tinham ouvido, mas
que julgavam morta com Ravachol: a voz da dinamite.
Quis mostrar à burguesia que, daí em diante, acabari-
am para ela as alegrias completas, que seus insolentes
triunfos seriam perturbados, que o seu bezerro de ouro
haveria de tremer violentamente no pedestal, até ao safa-
não definitivo que o derrubaria na lama e no sangue.
Ao mesmo tempo, quis fazer entender aos mineiros que
há só uma categoria de homens — os anarquistas — que
sentem sinceramente os seus sofrimentos e estão pron-
tos a vingá-los.
Esses homens não se sentam no Parlamento, como os
senhores Guesde e quejandos, mas caminham para gui-
lhotina.
Preparei pois uma marmita. Por um instante, veio-me
à memória a acusação de Ravachol: e as vítimas inocen-
tes?
Mas resolvi rapidamente o problema. A casa onde se
encontram os escritórios da Sociedade de Carmaux só era
habitada por burgueses. Não haveria, portanto, vítimas
inocentes.
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Notas
1
Émile Henry, nascido em 1872, um ano depois da Comuna de Paris, em que seu
pai lutou. Foi um terrorista diferente dos demais, com formação intelectual sedi-
mentada, morto na guilhotina, em 1894. Jean Maitron. Ravachol e os anarquistas.
Tradução de Eduardo Maia, Lisboa, Antígona, 1981, pp. 63-96. Adaptado por
Acácio Augusto e Edson Passetti, dividindo o texto em duas partes: “O interroga-
tório” e “Palavras de Émile Henry”.
2
Cf. “Gazzete des Tribunuax”, 27 e 28 de Abril de 1894.
3
Idem.
4
Foi um aluno brilhante: 2o prêmio de Excelência em 1885, 1o prêmio em 1886,
2o prêmio em 1887, 5a distinção em 1888 (ano preparatório na Escola Politécnica).
5
Alusão aos tiros do 1° de Maio de 1891. O exército disparou sobre manifestantes:
dez pessoas foram mortas, entre elas duas crianças de 11 e 13 anos.
6
François Claudius Koeningstein, Ravachol por parte de mãe, nasceu em 1854.
Passou a usar o nome de Leon Léger, em 1891, para praticar atentados tendo sido
preso em março de 1892. Apesar de diversas acusações e prisões, foi condenado à
decapitação pela guilhotina, em 11 de julho de 1892, em Saint Étienne, por uma
morte a ele atribuída. O jornal anarquista Pere Peinard declarou; “A cabeça de
Ravachol caiu aos seus pés, agora temem que ela possa explodir como uma bomba”.
Pobre, foi um intenso ativista e escreveu poucas anotações publicadas, inicialmen-
te, em 1893, pelo jornal anarquista L’ Insurgé. (N.E.).
7
Em 1884-85, E. Henry pertenceu à 3° companhia do batalhão escolar de J. B. Say
e obteve, no fim do ano, a oitava distinção.
8
Ortiz Philippe, Léon, nascido em Paris, a 18 de novembro de 1868. Anarquista,
fundou em 1887, com Malato e alguns outros, o “Révolution Cosmopolite”. Em
1894, foi acusado de participar com outros companheiros em roubos e fez parte
dos acusados que compareceram no Processo dos 30, no tribunal do Sena a 6 de
agosto de 1894. Foi condenado a 15 anos de trabalhos forçados. Na deportação
contou com a comunidade anarquista.
9
Camisards: grupo de camponeses protestantes calvinistas franceses que explodiu
em revolta em 1702 (segundo Voltaire) e 1703 (segundo Philippe Joutard), resis-
tindo, na região das Cévennes, à perseguição do Estado francês católico, que tinha
proibido o culto, em 1685. São considerados dentro do fenômeno das seitas cristãs
comunalistas ou de afronta à Igreja de Roma. Como não faz sentido pensar que o
pai de Henry tenha sido um deles literalmente, mas sim foi participante da Comuna
de Paris, o termo deve ter sido usado com referência a revoltosos de maneira geral.
(N.E.).
10
Um pouco mais tarde, o réu interrompeu violentamente o acusador público:
“não se meta com a minha mãe, proíbo-lhe!”.
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Léon Jules Léauthier, nascido em 1874, era sapateiro e atentou contra a vida do
Ministro da Sérvia Georgevitch, em 13 de novembro de 1892, em Paris. Condena-
do à pena de prisão perpétua, em 1894, foi assassinado na prisão de Iles de Salut,
durante uma rebelião. (N.E.).
12
Sidonie Vaillant, filha do anarquista com o mesmo sobrenome.
13
Câmara dos deputados, onde Auguste Vaillant lançou uma bomba, em Dezembro
de 1893.
14
Tema de sua polêmica com Malatesta em “L’En Dehors” de agosto de 1892.
15
Desde o momento em que foi preso, Henry teve, ainda uma outra vez, a ocasião
de desenvolver as suas teorias. Fê-lo por escrito, a pedido do diretor da prisão do
Palácio da Justiça, depois duma visita que este lhe fez em 18 de fevereiro. Uma
fotocópia do texto redigido pelo jovem anarquista está depositada nos arquivos da
Prefeitura de Polícia, com a cota B a/140.
16
Estátua de Alexandre Auguste Ledru-Rollin, político que promoveu o sufrágio
universal, membro do governo provisório de 1848, exilado após os acontecimentos
de Junho. (N. T.)
17
Outro político (1856-1921), discípulo de Gambetta; defendeu a revisão do
processo Dreyfus. (N. T.)
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ABSTRACT
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salete oliveira*
Samuel Beckett
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A instituição gulag
O termo GULAG refere-se a uma vasta rede de cam-
pos de trabalhos forçados que se espalharam por toda a
URSS. Das ilhas do Mar Branco às costas do Mar Negro.
Do círculo Ártico às planícies da Ásia Central. De Mur-
mansk a Vorkuta e ao Casaquistão. Do centro de Mos-
cou à periferia de Leningrado.4
A palavra GULAG designa “administração geral dos cam-
pos” e refere-se, imediatamente, à instituição de uma
polícia política que, por sua vez, corresponde à divisão
da polícia secreta que gerenciava os campos soviéticos.
Polícia multiplicada e redimensionada inúmeras vezes.5
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Notas para a abolição dos campos de concentração...
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A questão gulag
Nils Christie, um abolicionista penal, em 1998, es-
creve A indústria do controle do crime: a caminho dos
GULAG’s em estilo ocidental, publicado no Brasil no mes-
mo ano.12 Christie sublinha como a Criminologia Positi-
vista foi profícua em sua internacionalização. As idéias
de Lombroso e Ferri na Itália e, posteriormente, as de
von Lizt na Alemanha, constituíram um dos mais fan-
tásticos êxitos da chamada ciência multidisciplinar. A
Associação Internacional de Política Criminal, fundada
em 1889 e que teve em von Lizt sua figura central, asse-
gurou à criminologia alemã o estatuto de locus exporta-
dor do ideário da prevenção geral, modelo preponderante
de política da verdade para o sistema penalizador do sé-
culo XX.
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Notas para a abolição dos campos de concentração...
Notas
1
Alexandre Soljenítsin. Arquipélago Gulag, vol. I. Tradução de Francisco A.
Ferreira, Maria M. Llistó e José A. Seabra. São Paulo/Rio de Janeiro, Difel,
1979, pp. 7-8.
2
Michel Foucault. “Crimes e castigos na URSS e eoutros lugares...” in Estraté-
gia, poder-saber, Col. Ditos e escritos. vol. IV. Tradução de Vera Lucia Avellar
Ribeiro. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2003, pp. 189-190.
3
Idem. “Poderes e estratégia” in op. cit., pp. 240-452.
4
Conforme Anne Applebaum. Gulag: uma história dos campos de prisioneiros sovié-
ticos. Tradução de Mário Vilela e Ibraíma Dafonte. São Paulo, Ediouro, 2004.
5
De acordo com Alexandre Soljenítisin e Anne Applebaum.
6
Michel Foucault. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Lígia M.
Pondé Vassalo. Petrópolis, Vozes, 1987.
7
Termo ressaltado por Soljenítisin e por Applebaum.
8
Alexandre Soljenítsin. Arquipélago Gulag, vol. II. Tradução de Leonidas Gon-
tijo de Carvalho. Rio de Janeiro/São Paulo, Difel, 1976, p. 9.
9
Conforme Anne Applebaum, op. cit..
10
Idem.
11
Ibidem.
12
Nils Christie. A indústria do controle do crime: a caminho dos GULAG’s em estilo
ocidental. Tradução de Luís Leiria. Rio de janeiro, Forense, 1998.
13
A este respeito ver Edson Passetti. Anarquismos e sociedade de controle. São
Paulo, Cortez, 2003.
14
A este respeito ver Carlo Romani. “Clevelândia (Oiapoque), Colônia penal ou
campo de concentração?” in Verve, n° 4. São Paulo, Nu-Sol, 2003.
15
Anne Applebaum, 2004, op. cit., p. 382.
16
A palavra zona é uma palavra russa e designa de forma geral campo de concen-
tração, literalmente refere-se à área protegida pela cerca de arame farpado.
17
Anne Applebaum, 2004, op. cit., pp. 374-376.
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Notas
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The Ballad of Reading Goal:
The vilest deeds, like poison weeds,
Bloom well in prison air;
It is only what is good in Man.
That wastes and withers there.
Pale Anguish keeps the heavy gate,
And the Warder is Despair
2
W. Owen. Crime and criminals.
3
Havelock Ellis, foi um membro dos fabianistas ingleses, psicólogo, defensor
da eugenia, e escreveu em 1890, The criminal. Em 1892, publicou The Nationa-
lisation of Health, entre outros. Foi um estudioso do homossexualismo, escre-
vendo o controvertido Studies in the Psychology of Sex, entre 1897-1928, em 7
volumes. (N.E.).
4
Havelock Ellis. The criminal.
5
Ibidem
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Ibidem
7
Ibidem
8
Extraído das publicações do National Committee on Prison Labor.
9
Out of his mouth a red, red rose!
Out of his heart a white!
For who can say by that strange way;
Christ brings his will to light;
Since the barren staff the pilgrim bore;
Bloomed in the great Pope’s sight.
RESUMO
ABSTRACT
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Abolicionismo penal, medidas de redução de danos...
edson passetti*
1.
As práticas anti-proibicionistas às drogas levam a
uma política de descriminalização, e como tais, devem
ser saudadas pelo abolicionista penal. Medida de redu-
ção de danos é, portanto, mais do que uma política sani-
tária.
Reconhecer que não há universalidade e uma gene-
ralidade da lei aplicada, uniformemente, como resulta-
do de uma suposta igualdade jurídico-formal é mais do
que um avanço significativo anti-repressão. Sexo não é
o mesmo que sexualidade; e estados alterados de cons-
ciência podem ser atingidos com ou sem o uso das subs-
tâncias proibidas. Reduzir danos é também uma políti-
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3.
Os sarados, os curados, os potencializados, os docili-
zados, os aditivados, os saudáveis e os viciados, os da
ordem e os da desordem, os puritanos e os desajustados,
carolas e putas, governantes e governados, juízes, pro-
motores e advogados, pessoa qualquer, aqui, ali ou aco-
lá já cometeu alguma infração. Quem a negar não é uma
pessoa sincera. Nem um juiz, muito menos um sacer-
dote das almas está isento da infração. Não surpreende
que é pela moralidade que eles se isentam de culpas e
as esquadrinham como crimes, punições, policiamento
extenso, tolerância zero.
Transcendência religiosa e racional não se apartam,
caminham juntas na consagração da moral. A política
de tolerância zero (que por definição é anti-religiosa e
antidemocrática, supõe que religiosos e democratas
devam ter compaixão e conviver com vizinhos) apare-
ceu entre a direita estadunidense e migrou para as es-
querdas.
A luta por liberdades cedeu lugar à garantia de segu-
rança. Vivemos uma era de globalização que se pauta
na esperada conduta conformista enaltecedora da vida
democrática, a vencedora do socialismo, a mais justa, a
verdadeira maneira de saborear a mobilidade social, e
ao mesmo tempo, zelar pelos necessitados. Em nome da
democracia como panacéia modula-se o planeta.
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4.
Trarei uma pequena lembrança para encerrar. Há 40
anos, em dezembro de 1964, foi inaugurada uma nova
política de segurança no Brasil, chamada política nacio-
nal do bem-estar do menor, que criou as Febem’s sempre
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Nota
1
Palestra realizada na I Conferência de Redução de Danos da América Latina
e do Caribe, RELARD-IHRA-REDUC, São Paulo, 11 de fevereiro de 2004.
RESUMO
ABSTRACT
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a mecanização do cadáver
— a má sorte dos animais
christian ferrer*
Como um cão
Era um vira-lata e respondia unicamente ao nome
de “Dash”. Fora entregue à ciência com a finalidade de
testar a eficácia da eletricidade aplicada à arte de ma-
tar. Descarregaram-se primeiro 300 volts no corpo do
cachorro, fazendo-o estremecer até o uivo, seguiu-se
depois com 400 volts, que também não acabaram com
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Paleontologia e política
Charles Darwin publicou A origem das espécies em
1859, e seu complemento em 1871, com A orígem do
homem. Dois raios cravados sobre um céu sereno. Ani-
mal “evoluído”, o homem seria uma pirueta autoprovo-
cada por um macaco. Logo após a morte de Darwin, foi
iniciado na Europa um áspero debate não isento de se-
qüelas políticas em torno ao “darwinismo social”, que se
sobrepôs à polêmica paralela entre evolucionistas e cre-
acionistas. Por certo, “a sobrevivência do mais apto” não
é um lema que resulte de imediato agradável para des-
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Tábula rasa
Seria pronunciado o auto de fé dos cultos e atualiza-
dos: o corpo se sustenta na cultura, não na dotação bio-
lógica. Mas se a história se inscreve no volume de car-
ne como se este fosse uma lousa límpida, a linhagem
animal perde seu elo. Ironicamente, aquela certeza
humanista culmina agora em numerosos sociólogos e
filósofos que depositam na biotecnologia a esperança de
uma mudança positiva para o destino histórico da espé-
cie. Já são legião: uns comemoram a continuidade “ir-
reversível” entre máquinas e homens, e outros deliram
com artefatos que reproduziriam “inteligência” e “emo-
ções” humanas. Todos entendiam. Negada a designa-
ção “animal” no ser humano, a descontinuidade se tor-
na abissal e, então, encurralar o resto do reino animal
contra o precipício é questão de tempo. Na vida social, o
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Descuido
Milhões de anos atrás, a massa continental original se
fragmentou em vários pedaços e foi quando a Oceania fi-
cou desvinculada da sorte ecológica das outras terras.
Quando os maori chegaram desde a Polinésia ao que hoje
chamamos Nova Zelândia, perto do ano 1300 depois de
Cristo, se encontraram com o moa, o maior pássaro que
existia no mundo, que não podia voar. Sendo um dos ali-
mentos preferidos dos maori, foi extinto no século XVII.
Porém, em 1893 descobriu-se que numa pequena ilha
chamada Stephens, localizada no Estreito de Cook, que
separa as duas grandes ilhas, a Ilha do Norte da Ilha do
Sul, tinham sobrevivido algumas espécies de aves, algu-
mas do tamanho de um frango e incapazes de voar, que
havia séculos estavam extintas no resto do arquipélago.
Rapidamente, o governo neozelandês proibiu as pegadas
humanas nessa cápsula isolada no tempo, a declarou “re-
serva natural” e mandou construir um farol. Um ano de-
pois, todos os pássaros estavam mortos. O assassino, en-
tretanto, era inocente. O encarregado do farol tinha de-
sembarcado na ilha junto com um gato que levou apenas
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verve
A mecanização do cadáver — a má sorte dos animais
Defensores
As primeiras vítimas defendidas não foram cachorros
e gatos, muito menos baleias, mas cavalos, asnos e mu-
las. As sociedades filantrópicas de “proteção aos animais”
foram criadas no rescaldo da revolução industrial, quando
a “tração a sangue” era o meio de viabilidade mais habitu-
al e o maltrato era contínuo e à vista de todos. No final do
século XIX, foram fundadas organizações contra a vivisse-
ção, dedicadas majoritariamente a “criar consciência” em
uma época na qual a experimentação científica estava se
“profissionalizando”, na qual se requeriam maiores quan-
tidades de animais a modo de cobaias “de índias” e na qual
destripar animais nas escolas públicas resultava ser um
tópico do currículo. Suas conquistas foram escassas por-
que na Europa e nos Estados Unidos, onde chegaram a ser
ricas e poderosas, a renúncia à ação política foi pobremente
compensada pelo recurso da “campanha de conscientiza-
ção”. Mas, uma época na qual se criava intensivamente o
gado com a finalidade de assassiná-lo e na qual se conta-
vam aos milhões os animais com os que se experimenta-
va em laboratórios, já precisava de outro tipo de orienta-
ção política. O “Movimento de Libertação dos Animais” pro-
pagou uma nova definição política da relação entre homem
e animal. Isso aconteceu perto de 1970.
Sub-humanos
A vida — e a morte — dos animais tem sido mecani-
zada: já são produtos cujo controle de qualidade exige a
imposição de certas doses de crueldade. Os cepos e arma-
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Estômago
Nada mais errôneo do que entendê-lo como invenção
contemporânea. O naturismo foi uma doutrina amplamen-
te difundida desde o final do século XIX, no Ocidente, e
atiçada, em especial, pelos anarquistas, sempre preocu-
pados por melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.
Distintas veias confluíam nessa esquecida ecologia soci-
al dos pobres: ideais existenciais de “boa vida”; a propa-
ganda da alimentação “protéica-racional” nos bairros ope-
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A mecanização do cadáver — a má sorte dos animais
O especismo
A palavra “especismo” resume a contribuição de Peter
Singer para a história das idéias. Em seu Animal Liberati-
on, de 1975, argumentou que ao nos orientar por princípi-
os éticos que promovem a diminuição do sofrimento e
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A mecanização do cadáver — a má sorte dos animais
Não
Em 1988, uma adolescente chamada Jennifer
Graham negou-se a realizar uma vivisseção em sua aula
de biologia. Tendo sido abaixada sua nota devido à sua
negação, a jovem iniciou um julgamento ao Estado da
Califórnia, e venceu. A dissecção em vivo já não seria
obrigatória nesse estado a partir de então. Uma lei caí-
da por causa da palavra não.
Um só homem
“Quantos coelhos Revlon deixa cegos por causa da
beleza?”. Esta pergunta, publicada em primeira página
no New York Times do dia15 de abril de 1980, conseguiu
que milhões de dólares em ações da corporação hege-
mônica no mercado da cosmética despencassem em
menos de vinte e quatro horas. Até então, a pasta de
blush ou de rímel era testada em coelhos, nos quais se
aplicavam em profusão os produtos na mucosa ocular
com a finalidade de pesquisar se o excesso de substân-
cia cosmética produzia algum efeito. A conseqüência
era a cegueira final do animal, prévia ulceração pro-
gressiva do olho. O aviso se repetiria duas vezes mais
até curvar a Revlon. Daí em diante, o “animal testing”
foi abandonado e o “controle de qualidade” se fez em
imitação artificial da carne vivente. O mesmo caminho
foi seguido pelo resto da indústria cosmética, temerosa
do custo a ser pago em publicidade negativa. Henry Spi-
ra, membro exclusivo de uma organização dedicada à
“libertação animal”, havia pagado por esse aviso.
Em dezembro de 1955, e na cidade de Montgomery,
uma mulher chamada Rosa Parks negou-se a ceder seu
lugar a um passageiro branco, roque forçado contempla-
do pelas leis do Estado de Alabama. O homem branco
reclamou ao motorista, quem não pôde persuadir a mu-
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Hominização
O longo processo de hominização culminou num de-
sequilíbrio. Transformado no árbitro de todas as espéci-
es, o homem as submeteu ao seu arbítrio. É um aconte-
cimento que não pode ser revertido, nem redimido, e
talvez tampouco possa ser detido. A progressão da histó-
ria humana, e o nível de suas necessidades, assim o
exigem. É uma experiência imensa e cruel desenhada
para antedatar a chegada do Apocalipse, começando com
o dos animais. Tratar-se-ia de remover a ordem dada a
Noé: não a conservação e cuidado da vida, mas seu ho-
locausto.
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RESUMO
ABSTRACT
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assim também
seu corpo para
mim:
o que se abre,
o que se reflete
em sorriso.
Sergio Cohn
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O reverso autoritário
Todavia, pode parecer haver um autoritarismo es-
condido na formulação da liberdade de Kant. Enquanto o
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Stirner e Foucault: em direção a uma liberdade pós-kantiana
A crítica ao essencialismo
O exorcismo que Stirner executa neste “espírito do
reino” de absolutos morais e racionais é parte de uma
crítica radical do humanismo iluminista e do idealis-
mo. Seu “rompimento epistemológico” com o humanis-
mo pode ser visto mais claramente em seu repúdio a
Ludwig Feuerbach. Em A essência do cristianismo, Feu-
erbach aplicou a noção de alienação para a religião. A
religião é alienante, de acordo com Feuerbach, pois ela
exige que o homem abdique de suas qualidades e pode-
res essenciais para projetá-los em um Deus abstrato,
além da compreensão da humanidade. Para Feuerbach,
os predicados de Deus, eram somente os predicados do
homem como espécie. Deus era uma ilusão, uma proje-
ção fictícia das qualidades essenciais do homem. Nou-
tras palavras, Deus era uma reificação da essência
humana. Como Kant, que tentou transcender o dogma-
tismo da metafísica reconstruindo sobre bases racionais
e científicas, Feuerbach procurou superar a alienação
religiosa restabelecendo as capacidades morais e racio-
nais universais do homem como base essencial para a
experiência humana. Feuerbach corporifica o projeto
humanista do Iluminismo de restaurar ao homem seu
justo lugar no centro do universo, fazendo do humano o
divino, o finito, o infinito.
Stirner argumenta, contudo, que por meio da busca
do sagrado na “essência humana”, posicionando um
sujeito essencial e universal, e atribuindo-lhe, certas
qualidades que foram, até agora, de Deus, Feuerbach
somente re-introduziu a alienação religiosa, substitu-
indo o conceito abstrato de homem na categoria do Divi-
no. Por meio da inversão feuerbachiana o homem se
torna Deus, e apenas como homem foi rebaixado sob
Deus, então o indivíduo é posto abaixo deste ser perfei-
to, o homem. Para Stirner, o homem é tão opressivo, se
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Os dois iluminismos
Em seu último ensaio “O que são as Luzes?”, Foucault
considera a insistência de Kant em um uso livre e públi-
co da razão autônoma como uma evasão, uma saída do
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Conclusão
Esta noção de propriedade de si é crucial na formula-
ção de um conceito de liberdade pós-kantiano. Talvez,
nas palavras de Stirner, “a propriedade de si cria uma nova
liberdade”.35 Primeiro, a propriedade de si permite que a
liberdade seja considerada além dos limites da moral uni-
versal e das categorias racionais. A propriedade de si é a
forma de liberdade que o sujeito inventa para si mesmo,
ao contrário daquela garantida por ideais transcendentais.
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Notas
1
ver Andrew Koch. “Max Stirner: The Last Hegelian or the First Poststructu-
ralist.” Anarchist Studies 5 (1997): 95-107.
2
O termo alemão Eigenheit foi traduzido para a língua inglesa como Owness,
porém tal termo é inexistente no vocabulário inglês. Nesta tradução Eigenheit
será referido como “Propriedade de Si”, forma que consideramos mais adequa-
da, lembrando que o conhecido livro de Max Stirner chama-se Einzige und Sein
Eigentum (O único e a sua propriedade). (N.T.).
3
Esta rejeição de fundamentos antropológicos da liberdade é discutida tam-
bém por Rajchman. Na realidade Rajchman vê o projeto de liberdade de
Foucault como uma atitude ética de um questionamento contínuo das margens
e limites de nossa experiência contemporânea — uma liberdade da filosofia
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16
Ibidem.
17
nota 17: Michel Foucault. “Revolutionary Action: ‘Until Now.’” in Langua-
ge, Counter-Memory, Practice: Selected Essays and Interviews. Ed. Donald
Bouchard. Oxford: Blackwell, 1977, p. 221.
18
Michel Foucault. “The Subject and Power.” Michel Foucault: Beyond Struc-
turalism and Hermeneutics. By Hubert L. Dreyfus and Paul Rabinow. Chicago,
University of Chicago Press, 1982, pp. 208-226.
19
Idem, p. 221.
20
Michel Foucault, op. cit., 1977, p. 30.
Michel Foucault. “What is Enlightenment?” The Foucault Reader. Ed. Paul
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as vozes ardem
contra a mente
esta noite
e lá fora a chuva
é o silêncio
de todas as coisas
Sergio Cohn
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Notas
1
Shirley Mangini. Memories of resistance: Female Activists of the Spanish Civil War.
Chicago, University of Chicago Press/Signs, 1991, p.171.
2
Refiro-me à entrevista realizada em Barcelona, em agosto de 2001, com o anar-
quista espanhol Heleno Iturbe, filho da militante anarquista Lola Iturbe, do Grupo
“Mujeres Libres”, já falecida.
3
Maurício Tragtenberg. Memórias de um autodidata no Brasil. São Paulo, Ed. Unesp/
Escuta/Fapesp, 1999, p. 57 .
4
Patricia Greene. “Federica Montseny: Chronicler of an Anarco-feminist Genealo-
gy” in Letras Peninsulares. USA, Davidson College, fall 1997.
5
Luz D´Alba (pseudônimo de Luce Fabbri). Antologia de la Revolucion Espagnola.
Montevidéo, Colección Esfuerzo, 1937.
6
Federica Montseny. Mis Primeros Cuarenta Años. Barcelona, Plaza e Janes Ed.
S.A.,1987, p. 107.
7
Margareth Rago. Entre a História e a Liberdade. Luce Fabbri e o Anarquismo contempo-
râneo. São Paulo, Editora da UNESP, 2001, p. 188.
8
É de 1991 o principal estudo sobre as “Mujeres Libres”, escrito pela historiadora
norte-americana Martha Ackelsberg, e traduzido para o espanhol apenas em 1999.
9
Recentemente foi publicada uma cuidadosa biografia de Amparo Poch y Gascon
por Antonina Rodrigo.
10
Edson Passetti. Éticas dos Amigos. São Paulo, Editora Imaginário, 2003.
11
Murray Bookchin. Los anarquistas españoles en los heroicos 1868-1936. Valencia,
Numa Ediciones, 2000.
Depoimento de Pura Perez, em 1993, in Mujeres Libres: luchadoras libertarias.
12
1985, cap.II.
Temma Kaplan. “Other scenarios: Women and Spanish Anarchism”. In Renate
15
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18
Idem, p. 101.
19
Elizabeth Grosz. “Futuro feminista ou o futuro do pensamento”, in Labrys,
estudos feministas, nos.1-2, jul-dez.2002.
20
Rosi Bradotti. “Diferença, Diversidade e Subjetividade Nômade”, in Labrys,
estudos feministas, nos.1-2, jul-dez,2002, p. 14.
Amparo Poch y Gascón, Mujeres Libres, no.3, julio 1936, in Antonina Rodrigo,
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RESUMO
Partindo das questões levantadas pelas teóricas feministas pós-
estruturalistas, relativas à produção da subjetividade, focalizo a
experiência das militantes anarquistas do Grupo Mujeres Libres,
durante a Revolução Espanhola, entre 1936-39. Considerando a ampla
e revolucionária experiência política do Grupo, pergunto se e como o
anarco-feminismo praticado por elas criou um modo específico de exis-
tência, mais integrado e humanizado, já que crítico das oposições
binárias como a que hierarquiza razão e emoção, masculino e femini-
no; se e como inventou eticamente; se e como pode operar no sentido
de reatualizar o imaginário político e cultural de nossa época. Na
direção dessas colocações, os conceitos de “subjetivação” e de “ar-
tes da existência”, que norteiam as problematizações de Foucault
sobre a produção da subjetividade e inspiram as reflexões do femi-
nismo pós-estruturalista são de fundamental importância.
Palavras-chave: anarco-feminismo, subjetividade. artes da existên-
cia.
ABSTRACT
Drawing on the issues raised by post-structuralist feminist
thinkers, in relation to the production of subjectivity, I concentrate on
the experience of anarchist activists from the group Mujeres Libres,
during the Spanish Revolution from 1936-39. Considering the wide
and revolutionary political experience of the Group, I raise the ques-
tion of why and how the anarchic feminism developed by them has
created a particular way of existence, more integrated and humane,
critic of binary oppositions such as the one that hierarchizes reason
and emotion, masculine and feminine. I also present the question on
if and how anarchic feminism has invented ethically; on if and how
can it operate re-updating the political and cultural imaginary of our
time. In this way, the concepts of “subjectivation” and “arts of exis-
tence”, which direct Foucault’s problematizations on the production
of subjectivity and inspire reflections of the post-structuralist femi-
nism, are of utmost importance.
Keywords: Anarchic feminism, subjectivity, arts of existence
Recebido para publicação em 26 de junho de 2004.
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Notas
1
“Mas se deixados única e exclusivamente a sua experiência, sem a luz esclarecedo-
ra da doutrina, sem as explicações da ciência sobre as leis sociais e da natureza, os
indivíduos poderão acomodar-se ou enveredar por caminhos reformistas, uma vez
que estão profundamente envolvidos por formas burguesas e católicas de pensar,
habituados às explicações metafísicas da vida e das sociedades e às disciplinas
impostas pelas organizações sociais autoritárias.” Yara Aun Khoury. “A Poesia
Anarquista” in Sociedade & Cultura (Revista Brasileira de História). São Paulo,
ANPUH/Marco Zero, vol. 8, n. 15, setembro de 1987/fevereiro de 1988, p. 216.
2
O Amigo do Povo, São Paulo, 7 de junho de 1902.
3
A Voz do Trabalhador, n. 68, 5 de março de 1915.
4
A Lanterna, n. 214, 25 de outubro de 1913.
5
Silvio Gallo. Educação Anarquista: um paradigma para hoje. Piracicaba, Editora
UNIMEP, 1995. pp. 124/125.
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A educação anarquista na república velha
6
“Que Deve Ser a Educação” in Na Barricada.. Rio de Janeiro, suplemento, 01/05/
1913.
7
Miguel Bakunin. Dios y el Estado. Madrid, Jucar, 1976, pp. 74-75.
8
O Amigo do Povo. 26 de novembro de 1904.
9
O Amigo do Povo. São Paulo, 30 de janeiro de 1904.
10
O Despertar. Rio de Janeiro, n. 3, 03 de dezembro de 1898.
11
“Autogestão: É o controle direto dos meios de produção pelos produtores auto-
organizados em comitês de fábrica, comitês de interfábricas, federação ou confede-
ração de comitês. Significa a integração do econômico com o político, através do
controle operário da produção e da democracia direta, substituindo, assim, o tecno-
crata administrador e o político profissional da democracia representativa.” Mau-
rício Tragtenberg. Reflexões sobre o Socialismo. São Paulo, Moderna, 1986, p. 91.
12
O Início, n. 2, 4 de setembro de 1915 apud: JOMINI, Regina Célia Mazoni.
‘Educação Anarquista na República Velha: algumas idéias e iniciativas pedagógi-
cas.’ Campinas. Pro-Posições, nº. 3. Revista da Faculdade de Educação/ UNICAMP,
dezembro de 1990, p. 47.
13
Edgar Rodrigues. Alvorada Operária. Rio de janeiro, Edições Mundo Livre, 1979,
p. 109.
14
A Voz do Trabalhador, 1 de outubro de 1913, p. 4.
15
“Os Estados modernos, compreendendo perfeitamente que com a decadência da
religião e com o desenvolvimento industrial era impossível manter na ignorância
suína, dos tempos idos, as multidões, (...) trataram de ir abrindo escolas e de
preparar programas adequados não às necessidades reais da mente infantil, mas
necessários à conservação perpétua e indefinida dos governos, com os regimes de
castas, explorando o povo, e defendido por soldados, filhos do povo, mas oblitera-
do as suas idéias pela influência nefasta da escola.” Adelino Pinho. “A escola,
prelúdio da caserna”. A Vida, Rio de Janeiro, n. 5, 3 de março de 1915 apud:,
Regina Célia Mazoni Jomini, op. cit., p. 48.
16
“A cada 13 de outubro havia sempre homenagem ao ferroviário Francisco Ferrer,
em comemoração à data do seu fuzilamento, com apresentação de peças teatrais.”
Eduardo Maffei. ‘Gigi Damiani e Outros.’ in Temas de Ciências Sociais. Volume 5
(Marco Aurélio Garcia e outros - organizadores). São Paulo, Livraria Editora
Ciências Humanas, 1979, p. 114.
Edgar Rodrigues. O Anarquismo na Escola, no Teatro, na Poesia. Rio de Janeiro,
17
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19
O Ensino Racionalista - Conferência realizada em maio de 1910 pelo Dr. Maurício
de Medeiros e publicada por sugestão da Associação Escola Moderna. Rio de
Janeiro, 1910, Arquivo E. Leuenroth/Campinas, p. 22.
20
A Instrução Racional. Boletim da Escola Moderna, n. 4, 1 de maio de 1919.
Arquivo E. Leuenroth/ Campinas.
21
O Ensino Racionalista - Conferência realizada em maio de 1910 pelo Dr. Maurício
de Medeiros e mandada publicar pela Associação Escola Moderna. Rio de Janeiro,
1910. Arquivo E. Leuenroth/Campinas, p. 20.
22
“A educação criada e mantida pelos anarco-sindicalistas sofria patrulhamento
constante, tanto pela Igreja quanto pelo Estado, aliados contra o inimigo comum.”
23
Frei Pedo Sinzig O. F. M., op. cit., p. 13.
24
Boletim da Escola Moderna. São Paulo, Escola Moderna N. 1, n. 01, ano I, 13/10/
1918.
25
“Em outubro de 1919 ele se achava metido numa conjura para tentar uma
insurreição popular (quanto sonho!) em São Paulo. Eis quando o depósito de
bombas que se estava organizando na Rua João Boemer foi, acidentalmente, pelos
ares. Daí resultou o empastelamento de A Plebe e a prisão dos líderes anarquistas e,
entre eles, Gigi. (Damiani) , que foi deportado. Eduardo Maffei. op. cit., p. 111.
26
Edgar Rodrigues. Alvorada Operária. Rio de Janeiro, Edições Mundo Livre, 1979,
p. 317.
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Notas
1
Esta denominação tomei-a “emprestada” do médico e anarquista Fábio Luz.
Segundo este produtivo escritor e militante, após ler Palavras de um Revoltado, de
Kropotkin, tornou-se um defensor do que chamava “O palácio da Anarquia,
sempre de portas abertas para entrar e sair quem quisesse”.
2
Os anarquistas não viam com bons olhos as greves por aumentos salariais, pois
quase sempre originavam aumentos de custo de vida e eternizavam a pobreza. Os
anarquistas advogavam o fim do salariado, patronato, e o trabalho em autoges-
tão: o fim do Estado que seria também o fim do capitalismo.
3
Italiano, anarquista, plantava cebolas em Sorocaba; deu aos seus filhos/filhas, os
nomes de Anarquia, Progresso, Liberdade, Harmonia, Aurora, Círio, Germinal e
Espartaco de Caria. Conheci Anarquia de Caria, companheira de João P. Gutier-
rez.
4
Autor de vários opúsculos como Quem não trabalha não come e fundador/profes-
sor da Escola Moderna 2, São Paulo. Viveu dando aulas até ter fechada sua escola
em 1919. Depois foi dar aulas de ensino livre no interior de São Paulo.
5
Autor com Edgar Leuenroth do livro O que é Maximalismo ou Bolchevismo, 1919.
Antônio Duarte Candeias usou o pseudônimo de Hélio Negro.
6
O 1° e 2° volumes foram editados no Rio de Janeiro por Editores Associados,
1994, e o 3°, 4° e 5° pela Editora Insular, Santa Catarina, 1997.
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Notas
1
“Distinguem-se comumente a justiça distributiva e a justiça comutativa. A pri-
meira, exercida por via de autoridade, consiste na repartição dos bens e dos males
segundo o mérito das pessoas. A justiça comutativa, ao contrário, consiste na
igualdade das coisas trocadas, na equivalência das obrigações e das cargas estipula-
das nos contratos. Ela comporta a reciprocidade, e se fosse realizada em estado
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12
Michel Bakounine. Étatisme et Anarchie, op. cit., p. 309.
13
Errico Malatesta. “Repubblicanesimo sociale e anarchismo”, Umanità Nova, n°
100, Roma, 1922, in Scritti, Ginevra, 1936, vol. II, pp. 42-43.
James Guillaume. l’Internationale. Documents et souvenirs, édit. Grounauer,
14
RESUMO
ABSTRACT
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quando se anda
de costas para a lua
a sombra chega antes
Sergio Cohn
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Centro de cultura social, uma prática anarquista
Apresentação
Estamos na nova sede do Centro de Cultura Social,
associação anarquista criada em 1933, situada na Rua
Inácio Araújo, 191-A, em frente a estação Bresser do
Metrô, na cidade de São Paulo. Sentados em roda, es-
tão José Carlos Morel e alguns companheiros do Cen-
tro de Cultura Social — CCS (Nildo Avelino, Anamaria
Salles, Fabrício Martinez, Francisco Cuberos Neto,
Francisco Romero Ripó Neto, Nilton César dos Santos
Melo). Entre eles Edson Passetti, Acácio Augusto e Thi-
ago Parafuso Sousa Santos, pilotando a câmera. É sá-
bado, 31 de janeiro de 2004, à tarde, durante uma for-
te chuva de verão.
A longa conversação atravessa a tempestade entre
cafés, risadas, interrupções, trocas de concepções.
Uma parte desta conversação foi transcrita para cá.
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dos dos anos setenta não dá mais para tapar o sol com a
peneira, o socialismo real que veio da concepção mar-
xista, mostrou a que veio. É uma sociedade totalitária,
absolutamente indiferente para com as necessidades
individuais, uma sociedade militarizada e autocrática
que se formou com o pretexto da libertação do proletari-
ado e funciona como máquina de opressão e de explora-
ção. O eixo desta sociedade, tanto na China quanto na
Rússia estava na produção militar-industrial. Nos anos
oitenta não dá mais para o anarquismo ser taxado de
uma série de coisas. Ele passa a dar até um certo pres-
tígio. Os estudiosos do arquivo Edgar Leuenroth, como
me referi anteriormente, ao produzirem os seus estu-
dos começaram a mostrar que o anarquismo não era
aquilo que a vulgata marxista dizia que era. Começa a
aparecer, então, uma geração mais jovem, interessada
em fazer, em atuar com o anarquismo. Eu acho que o
Centro de Cultura, em São Paulo, se organiza em 1984,
mais ou menos em cima disso, com um grupo que tra-
balhava há alguns anos junto ao Inimigo do Rei. Houve
também aquele curso que nós organizamos na PUC-SP,
em 1979. Foi uma coisa... A mim me surpreendeu mui-
to. Porque foram seis sábados discutindo anarquismo, e
você não conseguia lugar no maior auditório da PUC-SP
[sala 333, para 350 pessoas sentadas] mesmo chegando
duas horas antes. No nosso caso, em particular, aí eu
falo do grupo de militância mais anarco-sindicalista
dentro do Centro de Cultura, do qual eu fazia parte, a
gente estava muito envolvido com a Oposição Sindical
Metalúrgica de São Paulo, com uma série de outras ati-
vidades. Resolvemos fundar o Centro de Cultura nesse
sentido: ter um instrumento, ter um local nosso, que a
gente pudesse levar as nossas discussões, fazer as nos-
sas propostas, e não ficar dependendo de acordos. Em
janeiro de 1984, o Jaime falou: “olha a mesma sala está
para alugar, aqui na Rua Rubino de Oliveira, a mesma
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Centro de cultura social, uma prática anarquista
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Over the old wooden bridge
No traveller
Crossed
Henry D. Thoreau
Além da velha ponte de madeira
Viajante algum
Cruzou
pietro ferrua*
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lhe foi apresentado por Dorothy Day), que queria que ele
escrevesse obras mais engajadas, O’Neill declarou:
“quando um autor escreve propaganda ele cessa de ser
artista e torna-se um político”. Além disso, O’Neill sem-
pre insistiu sobre os diversos níveis de escritura. Há
quem considere que o elemento religioso, representado
por Hickey, é fundamental na peça. De fato, existe um
breve estudo de Robert C. Lee que toma em considera-
ção os dois aspectos: “Evangelism and Anarchism in The
Iceman Cometh”.15
O’Neill foi criado católico e apesar de ter renunciado
à fé (deixou no testamento que não queria padres no
enterro), escreveu muitas peças sobre personagens e
assuntos religiosos. Há outra interpretação do The Ice-
man Cometh como se fosse uma “Última Ceia” tendo doze
personagens na mesa incluindo um Judas. Discordo
desta interpretação, pois os personagens, se incluirmos
as três prostitutas e os dois policiais superam o número
de doze, mas, sobretudo, por outra razão: a presença de
duas personagens excepcionais e positivas, que não fa-
zem justamente parte do elenco da distribuição e que
ninguém — que eu saiba — percebeu como sendo cen-
trais no enredo. Uma seria Evelyn, mártir de tipo cris-
tão, a mulher que Hickey mata, por ser tão boa, tão com-
preensiva, tão paciente, tão generosa, tão amorosa, que
entende tudo e aceita tudo, e que o marido sente a ne-
cessidade de matar, para preservá-la, não decepcioná-
la, não machucá-la moralmente. Outra é uma mártir
laica, Rosa Parritt a mãe traída de Don. Ela encontra-se
presa ao idealismo, paga pelos erros dos outros, man-
tém viva a chama do ideal. É uma figura empolgante, a
ser reverenciada e imitada.
O verdadeiro anarquismo, em suma, não está nos
três bêbados, um parasita, um preguiçoso e um traidor,
mas nessa bela figura de mulher. O Iceman Cometh soa
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Notas
1
Cheguei a esta conclusão depois de consultar a bibliografia de “First Search”que
contém informação sobre todos os livros existentes nas bibliotecas e também
as teses de doutoramento.
2
Arthur and Barbara Gelb, ed. O’Neill. New York, Harper and Row, 1974, 990
pp.
3
Louis Sheaffer: O’Neill. Son and Artist. Boston e Toronto, Little-Brown & Co.,
1973, 750 p., e O’Neill. Son and Playright. Boston e Toronto, Little-Brown &
Co., 1968, 543 p.
4
Gelb, 1974, op. cit., p. 286.
5
Carta reproduzida no livro Select letters of Eugene O’Neill, ed. by Travis Bogart
and Jackson R. Bryer, New Have & London, Yale University Press, p. 233.
6
Idem, p. 387.
7
Interview ao Sunday Times, de 1946.
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8
Paul Avrich. Anarchist Voices (An Oral History of Anarchism in America).
Princeton, University Press, 1995, e posteriormente em The Modern School
Movement (Anarchism and Education in the United States), Princeton, University
Press, 1980.
9
Ver Eugene O’Neill, Complete Plays., ed. by Travis Bogard, New York, The
Library of America, Vol.I: 1913-1920, 1104 p. Trata-se de uma peça em quatro
atos, pp. 309-387.
E. G. and E. G. O., Emma Goldman and the Iceman Cometh, Grainesville, The
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Notas
1
Parte deste artigo foi apresentada no XV Encontro Nietzsche: Colóquio,
realizado de 13 a 17 de outubro de 2003, na Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
2
Friedrich Nietzsche. Assim falou Zaratustra. Rio de Janeiro, Civilização Brasi-
leira, 1998, p. 333.
3
Idem, p. 47.
4
Depoimento de Lygia Clark para o MIS-RJ, fita cassete, gravado em 14 de
setembro de 1979.
5
Lygia Clark. Carta a Mário Pedrosa, 15 de abril de 1961, CEMAP/CEDEM/
UNESP.
6
Lygia Clark. Carta a Mário Pedrosa, 14 de julho de 1962. CEMAP/CEDEM/
UNESP. Michel Seuphor (1901-1999), artista, escritor e crítico de arte belga,
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Depoimento de Lygia Clark para o MIS-RJ, setembro 1979.
29
Friedrich Nietzsche, 1998, op.cit, p. 362.
30
Lygia Clark, Fundação Tàpies. p. 298.
31
Friedrich Nietzsche, 1998, op.cit, p. 215.
32
Lygia Clark. Carta a Guy Brett, 14/10/1983, Lygia Clark, Fundação Tàpies,
p. 338. Os nomeados Bordelines referem-se a autistas, surdos-mudos, psicóti-
cos.
Manuscritos Pasta 33 – produção intelectual, Arquivo Lygia Clark, CPDOC-
33
MAMRJ.
34
Lygia Clark. “Estruturação do self ” in Lygia Clark, Fundação Tàpies. p. 326.
35
Idem, p. 326.
36
Memória do Corpo, vídeo de 1985, dirigido por Mário Carneiro, mostra uma
sessão terapêutica completa com Lygia Clark..
37
Manuscritos diversos, Pasta 46, Arquivo Lygia Clark, CPDOC-MAMRJ.
38
Lygia Clark. “Da supressão do objeto” in Lygia Clark, Fundação Tàpies. p.
266.
39
Expressão de Mário Pedrosa referente à trajetória de Hélio Oiticica, um dos
poucos amigos artistas de Lygia que sempre a compreendeu e apoiou.
40
Friedrich Nietzsche, 1998, op.cit, pp. 194-195.
41
Designa, literalmente, “malha de balé”, segundo o Dicionário da Moda. A
malha foi intitulada assim devido ao seu inventor Leotard, um trapezista fran-
cês. (N. A.).
42
Idem, p. 380.
43
Edson Passetti. Éticas dos amigos: invenções libertárias da vida. São Paulo,
Imaginário, 2003, p. 150, grifo meu.
44
Friedrich Nietzsche, 1998, op.cit, p. 379.
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***
Um elogio à merda — um ato necessário. Alguns fa-
tos (aparentemente) desconexos:
14 de julho de 1912, o jornal La Guerre Sociale ende-
reça uma mensagem ao governo francês. Com letras
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RESUMO
Na Paris do início do século XX, um pai anarquista e um filho cineas-
ta. O contexto político e estético, as forças repressivas e expressivas
são sintetizadas pelas figuras de Miguel Almereyda e Jean Vigo. O
legado libertário de Almreyda, um breve retrato do ambiente anarco-
sindicalista da passagem do século XIX para o XX. As primeiras
décadas da história do cinema, a busca por linguagens de vanguar-
da e o diálogo com as vaudevilles são vistas a partir dos três prin-
cipais filmes de Jean Vigo: A Propos de Nice, Zéro de Conduite e
L´Atalante. As relações entre documentário, cinema social, ficção e
cinema independente ou experimental no contexto das décadas de
1920 e 1930. Também vislumbra-se as influências de Vigo à história
do cinema e os estilos que antecipou.
ABSTRACT
Paris, beginning of the 20th century, an anarchist father and his
movie maker son. The political and aesthetic contexts, the oppressive
and expressive forces are concentrated in the characters of Miguel
Almereyda e Jean Vigo. The libertarian legacy of Almereyda, a brief
view of the anarco-sindicalism environment in the transition from the
19th to the 20th century. The first decades of the history of cinema,
the search of avant-gardes languages and its dialogue with the vau-
devilles are analyzed through the tree Vigo’s main pictures: A Pro-
pos de Nice, Zéro de Conduite and L’Atalante. The relationship
between documentary, social cinema, fiction, and independent or
experimental cinema in the context of the 1920’s and 1930’s. The
article glimpses the Vigo’s influence in the history of cinema and the
stiles he announced.
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Anarquismo e crítica pós-moderna
Resenhas
anarquismo
e crítica pós-moderna| nildo avelino*
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notícias de um pensador:
a coragem da verdade e o pensamento
libertário de michel foucault| tony hara*
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Notícias de um pensador: a coragem da verdade...
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heterotopia e vitalismo:
por uma arte vitalista | jorge vasconcellos*
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Heterotopia e vitalismo: por uma arte vitalista
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Afirmação da vida e decretação da morte
afirmação da vida
e decretação da morte |acácio augusto*
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NU-SOL
Publicações do Núcleo de Sociabilidade Libertária, do Programa de
Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP.
hypomnemata
Boletim eletrônico mensal, 1999-2005
vídeos
Libertárias, 1999
Foucault-Ficô, 2000
Um incômodo, 2003
Foucault, último, 2004
CD-ROM
Um incômodo, 2003 (artigos e intervenções artísticas do Simpósio Um
incômodo)
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Berkman
Colombo
Enckell
Livros
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Identificação:
Resumo:
Notas explicativas:
Citações:
I) Para livros:
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Revista Verve
www.nu-sol.org
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