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Resenha por André Mattos, graduando em Psicologia (UFBA), membro do Grupo de Pesquisa CONES.
obra de Feyerabend, as quais não possuem fronteiras precisas, mas a primeira é situada
nas décadas de 1950 a 1970, enquanto a segunda nas décadas de 1970 a 1990, e, apesar
de haver uma ruptura entre as duas fases, a autora considera importante identificar os
aspectos comuns a ambas. Trazendo algumas considerações históricas do percurso de
Feyerabend, ela afirma que, em 1965, alinhado com o racionalismo crítico de Popper,
Feyerabend privilegia o conhecimento científico. Ele “desenvolve uma metodologia
pluralista a partir de uma expansão do conceito de ‘experimento crucial’, o dispositivo
metodológico falsificacionista para teste e eventual refutação de uma teoria” (p. 18), no
sentido de que o “experimento crucial” favorece a comparação entre teorias rivais e
oferece subsídios para o desenvolvimento de novas teorias. Assim se delineia o
pluralismo teórico, presente nesta primeira fase do pensamento de Feyerabend, que está
pautado no “Princípio de Proliferação”, que recomenda que o cientista elabore teorias
alternativas às que já estão estabelecidas. A partir do final da década de 1950 e durante
a década de 60, ele começa a se afastar do falsificacionismo e do racionalismo, que
busca um padrão único de racionalidade científica, influenciado também pela
abordagem histórica da ciência de Kuhn, seu colega em Berkeley, e, mais tarde, passará
a grafar “Verdade”, “Razão”, “Honestidade” e “Justiça” com iniciais maiúsculas, em
tom de desdém e deboche. Somando-se a isso um estilo cada vez mais agressivo em sua
argumentação, essas são as características da passagem para a segunda fase da sua
epistemologia, que parecem ser o desdobramento de uma atitude pluralista e de uma
ética humanista.
No terceiro capítulo, a autora faz uma avaliação crítica das três hipóteses de
trabalho levantadas na introdução da dissertação, abordando inicialmente as duas
primeiras. A primeira hipótese afirma que o estilo panfletário de Feyerabend,
principalmente em Contra o método, levou a uma tendência para uma interpretação
parcial e superficial de sua obra, assumindo-se a mesma como descrevendo ou
sugerindo uma falta total de critérios para a pesquisa dita científica; a segunda hipótese
afirma que uma leitura mais articulada de todo o conjunto da obra de Feyerabend nos
indica que, ao contrário de um simplório anarquismo metodológico com total ausência
de critérios, o autor pretendeu atacar a existência de uma unidade de método científico,
pautado numa Razão que pressupõe a possibilidade de tal método único, defendendo
uma maior plausibilidade e desejabilidade tanto da pluralidade metodológica quanto de
seus fundamentos. Considera que, além do estilo panfletário, também contribuíram para
uma grande rejeição ao anarquismo epistemológico os seguintes fatores: diversos
problemas na estrutura formal tanto nos argumentos contrários ao monismo
metodológico quanto nos de defesa ao anarquismo pluralista; discordâncias de outros
epistemólogos quanto às interpretações de episódios da história da ciência e da atitude
de cientistas a que Feyerabend faz alusão para fundamentar e dar respaldo histórico à
sua epistemologia (Galileu); e a sua defesa de atitudes “politicamente incorretas”. Já a
segunda hipótese foi plenamente confirmada, segundo a autora.