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Felizmente Há Luar!
Características da
Apresentação Biografia Classificação
obra
Surgida no mesmo ano em que o Autor publicou o romance Angústia para o Jantar –
mais tarde também adaptado ao teatro – , esta peça contribuiu para celebrizar Luís de
Sttau Monteiro como dramaturgo, tendo sido bem recebida pela crítica do seu tempo.
Baseada na tentativa frustrada de revolta liberal em 1817, supostamente encabeçada por
Gomes Freire de Andrade, Felizmente Há Luar! recria em dois actos a sequência de
acontecimentos históricos que em Outubro desse ano levou à prisão e ao enforcamento
de Gomes Freire pelo regime de Beresford, com o apoio da Igreja, sublinhando um
apelo épico (e ético) politicamente empenhado e legível à luz do que era Portugal nos
anos 60.
Chamando a atenção para a injustiça da repressão e das perseguições políticas, a peça –
designada por "apoteose trágica" pelo Autor – esteve proibida até 1974 e foi pela
primeira vez levada à cena apenas em 1978, no Teatro Nacional, numa encenação do
próprio Sttau Monteiro.
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Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro nasceu no dia 03/04/1926 em Lisboa e faleceu
no dia 23/07/1993 na mesma cidade. Partiu para Londres com dez anos de idade,
acompanhando o pai que exercia as funções de embaixador de Portugal. Regressa a
Portugal em 1943, no momento em que o pai é demitido do cargo por Salazar.
Licenciou-se em Direito em Lisboa, exercendo a advocacia por pouco tempo. Parte
novamente para Londres, tornando-se condutor de Fórmula 2. Regressa a Portugal e
colabora em várias publicações, destacando-se a revista Almanaque e o suplemento "A
Mosca" do Diário de Lisboa, e cria a secção Guidinha no mesmo jornal. Em 1961,
publicou a peça de teatro Felizmente Há Luar, distinguida com o Grande Prémio de
Teatro, tendo sido proibida pela censura a sua representação. Só viria a ser representada
em 1978 no Teatro Nacional. Foram vendidos 160 mil exemplares da peça, resultando
num êxito estrondoso. Foi preso em 1967 pela Pide após a publicação das peças de
teatro A Guerra Santa e A Estátua, sátiras que criticavam a ditadura e a guerra colonial.
Em 1971, com Artur Ramos, adaptou ao teatro o romance de Eça de Queirós A
Relíquia, representada no Teatro Maria Matos. Escreveu o romance inédito Agarra o
Verão, Guida, Agarra o Verão, adaptada como novela televisiva em 1982 com o título
Chuva na Areia.Obras – Ficção: Um Homem não Chora (romance, 1960), Angústia para
o Jantar (romance, 1961), E se for Rapariga Chama-se Custódia (novela, 1966). Teatro:
Felizmente Há Luar (1961), Todos os Anos, pela Primavera (1963), Auto da Barca do
Motor fora da Borda (1966), A Guerra Santa (1967), A Estátua (1967), As Mãos de
Abraão Zacut (1968).
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CLASSIFICAÇÃO
Trata-se de uma drama narrativo de carácter épico que retrata a trágica
apoteose do movimento liberal oitocentista, em Portugal. Apresenta as
condições da sociedade portuguesa do séc. XIX e a revolta dos mais
esclarecidos, muitas vezes organizados em sociedades secretas. Segue a linha
de Brecht e mostra o mundo e o homem em constante transformação; mostra a
preocupação com o homem e o seu destino, a luta contra a miséria e a
alienação e a denúncia da ausência de moral; alerta para a necessidade de uma
sociedade solidária que permita a verdadeira realização do homem.
De acordo com Brecht, Sttau Monteiro proporciona uma análise crítica da
sociedade, mostrando a realidade, do modo a levar os espectadores a reagir
criticamente e a tomar uma posição.
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CARACTERÍSTICAS DA OBRA
- personagens psicologicamente densas e vivas
- comentários irónicos e mordazes
- denúncia da hipocrisia da sociedade
- desfesa intransigente da justiça social
- teatro épico: oferece-nos uma análise crítica da sociedade, procurando
mostrar a realidade em vez de a representar, para levar o espectador a reagir
criticamente e a tomar uma posição
- intemporalidade da peça remete-nos para a luta do ser humano contra a
tirania, a opressão, a traição, a injustiça e todas as formas de perseguição
- preocupação com o homem e o seu destino
- luta contra a miséria e a alienação
- denúncia a ausência de moral
- alerta para a necessidade de uma superação com o surgimento de uma
sociedade solidária que permitia a verdadeira realização do homem.
As personagens são psicologicamente densas, os comentários irónicos e
mordazes e denuncia-se a hipocrisia da sociedade, a luta contra a miséria e a
alienação, a preocupação com o Homem e o seu destino. Drama narrativo, de
carácter social, na linha de Brecht (exprime a revolta contra o poder, o homem
tem o direito e o dever de transformar a sociedade em que vive, com o
objectivo de levar o espectador a reagir criticamente).
BRECHT ("Estudos Sobre o Teatro"): propõe um afastamento entre o actor e
a personagem e entre o espectador e a história narrada, para que se possam
fazer juízos de valor.
Em "FELIZMENTE HÁ LUAR!", as personagens, o espaço e o tempo são
trabalhados para que a "distanciação se concretize".
Luta contra a tirania, opressão, traição, injustiça e todas as formas de
perseguição.
O dramaturgo através dos gestos, cenários, palavras e didascálias, leva o
público a entender de forma clara a mensagem.
LINGUAGEM: natural, viva e maleável; frases em latim com conotação
irónica, frases incompletas por hesitação ou interrupção, marcas
características do discurso oral e recurso frequente à ironia e sarcasmo.
Como drama narrativo, pressupõe uma acção apresentada ao espectador e com
possibilidade de ser vivida por ele, mas, sobretudo, procura a sua conivência
(cumplicidade) ou participação testemunhal.
O carácter narrativo é sinonimo de épico, ao contar determinados
acontecimentos que devem ser interpretados, reflectidos e julgados pelo
espectador, enquanto elemento da sociedade. Observando Felizmente há Luar,
verificamos que são estes os objectivos de Luís de Sttau Monteiro, que evoca
situações e personagens do passado, usando-as como pretexto para falar do
presente.
o teatro moderno, do qual faz parte esta obra, tem como preocupação
fundamental levar os espectadores a pensar, a reflectir sobre acontecimentos
passados e a tomar posições na sociedade em que se inserem, para tal é usada
uma técnica realista/influencia de Brecht – DISTANCIAÇÃO HISTÓRICA –
isto é:
- o actor deve conseguir "afastar-se"da personagem
- o espectador deve conseguir "afastar-se" da historia narrada
Esta técnica acaba por aproximar o actor e o espectador, de tal modo que
ambos se distanciam da historia narrada, podendo assim como pessoas reais
fazerem os respectivos juízos ou criticas de forma precisa e consciente sobre o
que se passa em palco.
Assim, Luís de Sttau Monteiro, através desta técnica, pretende levar o
espectador a ter um olhar crítico para que se aperceber e criticar as injustiças e
opressões.
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TEMPO
a) tempo histórico: século XIX
b) tempo da escrita: 1961, época dos conflitos entre a oposição e o regime
salazarista
c) tempo da representação: 1h30m/2h
d) tempo da acção dramática: a acção está concentrada em 2 dias
e) tempo da narração: informações respeitantes a eventos não dramatizados,
ocorridos no passado, mas importantes para o desenrolar da acção
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ESPAÇO
espaço físico: a acção desenrola-se em diversos locais, exteriores e interiores,
mas não há nas indicações cénicas referência a cenários diferentes
espaço social: meio social em que estão inseridas as personagens, havendo
vários espaços sociais, distinguindo-se uns dos outros pelo vestuário e pela
linguagem das várias personagens
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O TÍTULO
O título da peça aparece duas vezes ao longo da peça, ora inserido nas falas de
um dos elementos do poder – D. Miguel – ora inserido na fala final de
Matilde. Em primeiro lugar é curioso e simbólico o facto de o título coincidir
com as palavras finais da obra, o que desde logo lhe confere circularidade.
1) página 131 – D. Miguel: salientando o efeito dissuasor das execuções,
querendo que o castigo de Gomes Freire se torne num exemplo
2) página 140 – Matilde: na altura da execução são proferidas palavras de
coragem e estímulo, para que o povo se revolte contra a tirania
Num primeiro momento, o título representa as trevas e o obscurantismo; num
segundo momento, representa a caminhada da sociedade em busca da
liberdade.
Como facilmente se constata a mesma frase é proferida por personagens
pertencentes a mundos completamente opostos: D. Miguel, símbolo do poder,
e Matilde, símbolo da resistência e do antipoder. Porém o sentido veiculado
pelas mesmas palavras altera-se em virtude de uma afirmação dar lugar a uma
eufórica exclamação
Para D. Miguel, o luar permitiria que as pessoas vissem mais facilmente o
clarão da fogueira, isso faria com que elas ficassem atemorizadas e
percebessem que aquele é o fim ultimo de quem afronta o regime. A fogueira
teria um efeito dissuasor.
Para Matilde, estas palavras são fruto de um sofrimento interiorizado
reflectido, são a esperança e o não conformismo nascidos após a revolta, a luz
que vence as trevas, a vida que triunfa da morte. A luz do luar (liberdade)
vencerá a escuridão da noite (opressão) e todos poderão contemplar, enfim, a
injustiça que está a ser praticada e tirar dela ilações.
Há que imperiosamente lutar no presente pelo futuro e dizer não à opressão e
falta de liberdade, há que seguir a luz redentora e trilhar um caminho novo.
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CONTEXTO HISTÓRICO: Revolução Francesa de 1789 e invasões
napoleónicas levam Portugal à indecisão entre os aliados e os franceses. Para
evitar a rendição, D. João V foge para o Brasil. Depois da 1ª invasão, a corte
pede a Inglaterra, um oficial para reorganizar o exército: GENERAL
BERESFORD
Luís de Sttau Monteiro denuncia a opressão vivida na época em que escreve
esta obra, isto é, em 1965, durante a ditadura de Salazar. Assim, o recurso à
distanciação histórica e à descrição das injustiças praticadas no início do
século XIX, permitiu-lhe, também, colocar em destaque as injustiças do seu
tempo.
A peça "Felizmente há luar" é uma peça épica, inspirada na teoria marxista,
que apela à reflexão, não só no quadro da representação, como também na
sociedade em que se insere. O teatro de Brecht pretende representar o mundo
e o homem em constante evolução de acordo com as relações sociais. Estas
características afastam-se da concepção do teatro aristotélico que pretendia
despertar emoções, levando o espectador a identificar-se com o herói. O teatro
moderno tem como preocupação fundamental levar os espectadores a pensar,
a reflectir sobre os acontecimentos passados e a tomar posição na sociedade
em que se insere. Surge assim a técnica do distanciamento que propõe um
afastamento entre o actor e a personagem e entre o espectador e a história
narrada, para que, de uma forma mais real e autêntica possam fazer juízos de
valor sobre o que está a ser representado. Luís Sttau Monteiro pretende,
através da distanciação, envolver o espectador no julgamento da sociedade,
tomando contacto com o sofrimento dos outros. Deste modo o espectador
deve possuir um olhar crítico para melhor se aperceber de todas as formas de
injustiça e opressões.
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PERSONAGENS:
GOMES FREIRE: protagonista, embora nunca apareça é evocado através da
esperança do povo, das perseguições dos governadores e da revolta da sua
mulher e amigos. É acusado de ser o grão-mestre da maçonaria, estrangeirado,
soldado brilhante, idolatrado pelo povo. Acredita na justiça e luta pela
liberdade. É apresentado como o defensor do povo oprimido; o herói (no
entanto, ele acaba como o anti-herói, o herói falhado); símbolo de esperança
de liberdade
D. MIGUEL FORJAZ: primo de Gomes Freire, assustado com as
transformações que não deseja, corrompido pelo poder, vingativo, frio e
calculista. prepotente; autoritário; servil (porque se rebaixa aos outros);
PRINCIPAL SOUSA: defende o obscurantismo, é deformado pelo fanatismo
religioso; desonesto, corrompido pelo poder eclesiástico, odeia os franceses
BERESFORD: cinismo em relação aos portugueses, a Portugal e à sua
situação; oportunista; autoritário; mas é bom militar; preocupa-se somente
com a sua carreira e com dinheiro; ainda consegue ser minimamente franco e
honesto, pois tem a coragem de dizer o que realmente quer, ao contrário dos
dois governadores portugueses. É poderoso, interesseiro, calculista, trocista,
sarcástico
VICENTE: sarcástico, demagogo, falso humanista, movido pelo interesse da
recompensa material, hipócrita, despreza a sua origem e o seu passado;
traidor; desleal; acaba por ser um delator que age dessa maneira porque está
revoltado com a sua condição social (só desse modo pode ascender
socialmente).
MANUEL: denuncia a opressão a que o povo está sujeito. É o mais consciente
dos populares; é corajoso.
MATILDE DE MELO: corajosa, exprime romanticamente o seu amor, reage
violentamente perante o ódio e as injustiças, sincera, ora desanima, ora se
enfurece, ora se revolta, mas luta sempre. Representa uma denúncia da
hipocrisia do mundo e dos interesses que se instalam em volta do poder
(faceta/discurso social); por outro lado, apresenta-se como mulher dedicada de
Gomes Freire, que, numa situação crítica como esta, tem discursos tanto
marcados pelo amor, como pelo ódio.
SOUSA FALCÃO: inseparável amigo, sofre junto de Matilde, assume as
mesmas ideias que Gomes Freire, mas não teve a coragem do general.
Representa a amizade e a fidelidade; é o único amigo de Gomes Freire de
Andrade que aparece na peça; ele representa os poucos amigos que são
capazes de lutar por uma causa e por um amigo nos momentos difíceis.
Frei Diogo: homem sério; representante do clero; honesto – é o contraposto do
Principal Sousa.
Delatores: mesquinhos; oportunistas; hipócritas.
MIGUEL FORJAZ, BERESFORD e PRINCIPAL SOUSA perseguem,
prendem e mandam executar o General e restantes conspiradores na fogueira.
Para eles, a execução à noite, constituía uma forma de avisar e dissuadir os
outros revoltosos, mas para MATILDE era uma luz a seguir na luta pela
liberdade.
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LINGUAGEM E ESTILO
Linguagem
- natural, viva e maleável, utilizada como marca caracterizadora e
individualizadora de algumas das personagens
- uso de frases em latim com conotação irónica, por aparecerem no momento
da condenação e da execução
- frases incompletas por hesitação ou interrupção
- marcas características do discurso oral
- recurso frequente à ironia e sarcasmo
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Carácter épico da peça/Distanciação histórica (técnica realista; influência de
Brecht)
Felizmente Há Luar! é um drama narrativo, de carácter social, dentro dos
princípios do teatro épico. Na linha do teatro de Brecht, exprime a revolta
contra o poder e a convicção de que é necessário mostrar o mundo e o homem
em constante devir. Defende as capacidades do homem que tem o direito e o
dever de transformar o mundo em que vive. Por isso, oferece-nos uma análise
crítica da sociedade, procurando mostrar a realidade em vez de a representar,
para levar o espectador a reagir criticamente e a tomar posição.
O teatro é encarado como uma forma de análise das transformações sociais
que ocorrem ao longo dos tempos e, simultaneamente, como um elemento de
construção da sociedade. A ruptura com a concepção tradicional da essência
do teatro é evidente: o drama já não se destina a criar o terror e a piedade, isto
é, já não é a função catártica, purificadora, realizada através das emoções, que
está em causa, pela identificação do espectador com o herói da peça, mas a
capacidade crítica e analítica de quem observa. Brecht pretendia substituir
"sentir" por "pensar".
Observando Felizmente Há Luar! verificamos que são estes também os
objectivos de Sttau Monteiro, que evoca situações e personagens do passado
(movimento liberal oitocentista em Portugal), usando-as como pretexto para
falar do presente (ditadura nos anos 60 do século XX) e assim pôr em
evidência a luta do ser humano contra a tirania, a opressão, a traição, a
injustiça e todas as formas de perseguição.
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"Trágica apoteose" da história do movimento liberal oitocentista
Felizmente Há Luar! é uma "trágica apoteose" da história do movimento
liberal oitocentista, interpretando as condições da sociedade portuguesa no
início do século XIX e a revolta dos mais esclarecidos, muitas vezes
organizados em sociedades secretas, contra o poder absolutista e tirânico dos
governadores e do generalíssimo Beresford. Como afirma Luciana Stegagno
Picchio, é retratada a conspiração, encabeçada por Gomes Freire de Andrade,
que se manifestava contrária à presença inglesa ("Manuel – Vê-se a gente
livre dos Franceses e zás!, cai na mão dos Ingleses!"), na pessoa de Beresford,
e à ausência da corte no Brasil. Coloca-se em destaque ao longo de toda a
peça a situação do povo oprimido, as Invasões Francesas, a "protecção"
britânica, iniciada após a retirada do rei D. João VI para o Brasil, e a falta de
perspectivas para o futuro.
Para que o movimento liberal se concretize, é necessária a morte de Gomes
Freire, dos seus companheiros e também de muitos outros portugueses, que
em nome dos seus ideais são sacrificados pela pátria. Conspiradores e
traidores para o poder e para as classes dominantes, que sentem os seus
privilégios ameaçados, são os grandes heróis de que o povo necessita para
reclamar a justiça. Por isso, as suas mortes, em vez de amedrontar, tornam-se
num estímulo. A fogueira acesa na noite para queimar Gomes Freire, que os
governadores querem que seja dissuasora, torna-se na luz para que os
oprimidos e injustiçados lutem pela liberdade. Na altura da execução, as
últimas palavras de Matilde, "companheira de todas as horas" do general
Gomes Freire, são de coragem e estímulo para que o Povo se revolte contra a
tirania dos governantes: ("Matilde – Olhem bem! Limpem os olhos no clarão
daquela fogueira e abram as almas ao que ela nos ensina! / Até a noite foi feita
para que a vísseis até ao fim…/ (Pausa) Felizmente – felizmente há luar!").
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OS SÍMBOLOS:
Saia verde: A saia encontra-se associada à felicidade e foi comprada numa
terra de liberdade: Paris. , no Inverno, com o dinheiro da venda de duas
medalhas. "alegria no reencontro"; a saia é uma peça eminentemente feminina
e o verde encontra-se destinado à esperança de que um dia se reponha a
justiça. Sinal do amor verdadeiro e transformador, pois Matilde, vencendo
aparentemente a dor e revolta iniciais, comunica aos outros esperança através
desta simples peça de vestuário. O verde é a cor predominante na natureza e
dos campos na Primavera, associando-se à força, à fertilidade e à esperança.
Título: duas vezes mencionado, inserido nas falas das personagens (por
D.Miguel, que salienta o efeito dissuador das execuções e por Matilde, cujas
palavras remetem para um estímulo para que o povo se revolte).
A luz – como metáfora do conhecimento dos valores do futuro (igualdade,
fraternidade e liberdade), que possibilita o progresso do mundo, vencendo a
escuridão da noite (opressão, falta de liberdade e de esclarecimento), advém
quer da fogueira quer do luar. Ambas são a certeza de que o bem e a justiça
triunfarão, não obstante todo o sofrimento inerente a eles. Se a luz se encontra
associada à vida, à saúde e à felicidade, a noite e as trevas relacionam-se com
o mal, a infelicidade, o castigo, a perdição e a morte. A luz representa a
esperança num momento trágico.
Noite: mal, castigo, morte, símbolo do obscurantismo
Lua: simbolicamente, por estar privada de luz própria, na dependência do Sol
e por atravessar fases, mudando de forma, representa: dependência,
periodicidade. A luz da lua, devido aos ciclos lunares, também se associa à
renovação. A luz do luar é a força extraordinária que permite o conhecimento
e a lua poderá simbolizar a passagem da vida para a morte e vice-versa, o que
aliás, se relaciona com a crença na vida para além da morte.
Luar: duas conotações: para os opressores, mais pessoas ficarão avisadas e
para os oprimidos, mais pessoas poderão um dia seguir essa luz e lutar pela
liberdade.
Fogueira: D. Miguel Forjaz – ensinamento ao povo; Matilde – a chama
mantém-se viva e a liberdade há-de chegar.
O fogo é um elemento destruidor e ao mesmo tempo purificador e
regenerador, sendo a purificação pela água complementada pela do fogo. Se
no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e escuridão, no futuro
relacionar-se-á com esperança e liberdade.
Moeda de cinco reis – símbolo do desrespeito que os mais poderosos
mantinham para com o próximo, contrariando os mandamentos de Deus.
Tambores – símbolo da repressão sempre presente.