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As esponjas de Vespasiano

Clóvis Rossi - Folha de S. Paulo - 11/2/2006

De tempos em tempos, gosto de citar Vespasiano, o Imperador


romano que se tornou notável, entre outras coisas típicas dos
poderosos do mundo, porque taxou as latrinas de Roma. Seu filho
achou que ele exagerava, foi reclamar e ouviu a famosa resposta: -
“pecúnia no olet" (dinheiro não fede).

E tem mais. Não somente seu filho, mas muitos cidadãos


honrados da capital do Império achavam que Vespasiano permitia que
seus funcionários roubassem descaradamente o dinheiro público. E
nunca se roubou tanto, nem mesmo no Brasil de hoje.

Uma comissão de patrícios honestos pediu audiência e advertiu


Vespasiano: toda a cúpula do império se locupletava de tal forma que
mais da metade dos bens do Estado estava em mãos de corruptos,
dos quais todos conheciam o nome, a função e o dinheiro que
roubaram e continuavam roubando.

Vespasiano podia não ser um gênio, mas era cínico o bastante


para ser Imperador e dono do mundo então conhecido. Sua resposta
foi entendida e, logo após, executada:

- “Deixo roubarem. Roubem o que quiserem e puderem.


Sabemos quem rouba e quanto roubam. Nas calendas de agosto, que
estão próximas, mandarei enforcar a todos, desapropriarei seus bens
e tudo voltará ao erário. Eles funcionam como esponjas. Deixo que
fiquem inchadas, depois espremerei todas elas. É uma forma fácil,
barata e justa de arrecadar dinheiro sem aumentar impostos, sem
sustentar uma rede imensa de cobradores. Basta espremer e o
dinheiro pingará nas burras imperiais”.

Adaptando as esponjas do Imperador para os laranjas de hoje,


podemos louvar o sistema tributário de Vespasiano. Não a respeito
das latrinas, que a Receita Federal ainda não incluiu entre os serviços
que devemos pagar, mas na simplicidade da recuperação do dinheiro
público. Não será necessário enforcar ninguém, basta espremer a
esponja e o laranja.

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