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PBL 2010 Congresso Internacional. São Paulo, Brasil, 8-12 de fevereiro de 2010.

O exercício interdisciplinar no ensino médio: uma


atividade prática para agregar conteúdos utilizando a
anamorfose
Claudemilson dos Santos1, Priscila Oyan Sotto1, Cíntia D. Correia Figueiredo1,
Fernanda Andrade da Costa1, Natália Teixeira Ananias1
1Unesp – Univ Estadual Paulista, rua Roberto Simonsen, nº 305, Presidente Prudente,
SP, Brasil. CEP 19060-900
claudemilson@fct.unesp.br, priscila_sotto@hotmail.com,
patrucacindy@hotmail.com, fernanda_adc@yahoo.com.br,
nathyteixeira@hotmail.com

Resumo. Relata uma experiência no ensino médio visando promover a


interdisciplinaridade. A atividade núcleo adotada foi a representação de uma
anamorfose, pois requer certos conhecimentos e habilidades para ser
desenvolvida, como teoria das proporções, geometria euclidiana, raciocínio
espacial; entre outros. Os discentes desenvolvem uma anamorfose interativa
seguindo um método prático sob supervisão de monitores treinados. Em
seguida são apresentadas as disciplinas envolvidas na sua construção, como
matemática, física, arte, geometria, comunicação e expressão, psicologia da
percepção, entre outras. Em todas as escolas em que foi aplicada apresentou
resultados promissores, como o aumento do interesse dos alunos pelas
disciplinas envolvidas.

1. Introdução
Este artigo descreve uma atividade de extensão universitária desenvolvida em escolas
do ensino médio no município de Presidente Prudente-SP. Baseia-se em técnicas de
representação gráfica em perspectiva. Uma das técnicas de representação estudadas, a
anamorfose, requer a integração de várias disciplinas para seu desenvolvimento e
compreensão, assim, foi adotada como um núcleo agregador de vários conteúdos. A
anamorfose é uma forma de representação gráfica de um objeto ou uma figura
deformada pela perspectiva, mas que pode ser restaurada pela observação com o auxílio
de espelhos, ou por um ponto de vista pré-definido. [GABRIEL, 2001].
Os métodos tradicionais para desenvolver a anamorfose demandam
conhecimentos especializados em perspectiva, desenho, ótica, geometria e bom
raciocínio espacial. Assim, alguns métodos práticos são empregados para facilitar sua
representação. Portanto, é uma excelente oportunidade de demonstrar de forma lúdica a
aplicação prática de conceitos não só das disciplinas acima, mas também da física,
matemática, arte, psicologia da percepção e outras.

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O exercício prático pode também: despertar o interesse dos alunos por


disciplinas consideradas maçantes; despertar a curiosidade e o espírito investigativo;
transmitir de maneira alternativa, lúdica e divertida alguns conceitos de difícil
compreensão; promover interatividade; favorecer a interdisciplinaridade; desenvolver e
exercitar o raciocínio espacial; entre outras.
A proposta apresentada neste artigo baseia-se na apresentação de vários
conteúdos a partir da resolução de um único problema. O exercício consiste em
desenvolver uma anamorfose através de um método prático, descrito a seguir, para
depois inserir o conteúdo das disciplinas relacionadas, que podem ser desde ótica até
arte, dependendo dos objetivos determinados pelos professores.
A aplicação do exercício em diversas ocasiões demonstrou que o tema em
questão tem a capacidade de despertar a curiosidade e o interesse pelo assunto, além de
oferecer a oportunidade de explicar o mesmo fenômeno sob a visão de diversas
disciplinas. Pode ser considerado um exercício aplicável em escolas que utilizam o
processo de Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL – do inglês “problem-based
learning”), pois são várias abordagens que podem se enquadrar neste processo.

Problem-based learning is an approach to structuring the


curriculum which involves confronting students with problems
from practice which provide stimulus for learning. However,
there are many possible forms that a curriculum and process
for teaching and learning might take and still be compatible
with this definition. (BOUD; FELETTI; et al., p. 15, 1997)

Assim, o assunto em questão, a anamorfose, mostra-se como uma ferramenta


importante para aplicação do processo de aprendizagem baseada em problemas, e
também como um exercício que estimula a interatividade e a interdisciplinaridade. A
anamorfose passa atualmente por um dos períodos de popularidade, impulsionada pelas
facilidades da era digital, como o amplo acesso a câmeras fotográficas e o fácil
compartilhamento de imagens pela Internet; assunto do qual as novas gerações tomam
contato com intensidade cada vez maior.
Neste contexto, fazendo-se um paralelo com a disciplina de Literatura, onde se
relaciona o desenvolvimento da anamorfose conforme os períodos literários: obtêm-se
os primeiros registros com os chineses no ano de 700, aproximadamente. Evoluindo-se
com a técnica da trompe l´oeil (um adjacente da anamorfose), no período do século
XVII com o Barroco. E decorrendo desta evolução, chegando até os dias atuais, com
este facilidade tecnológica e gráfica, facilitando esta propagação. Um grande exemplo é
para pessoas que utilizam emails regularmente: já devem ter recebido e encaminhado
mensagens contendo imagens com as pinturas de Julian Beever (2009), um expoente
internacional em pinturas de calçadas que utiliza a anamorfose para promover efeitos
visuais. (figura 01).

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Todos que já tiveram contato com esta arte devem ter se perguntado: como se
faz isso? Por essa razão é que a anamorfose foi escolhida como tema da oficina, pois
traz um problema a ser resolvido e uma técnica misteriosa a ser esclarecida. Além disso,
permite apresentar novas possibilidades de uso da tecnologia digital, sem deixar de lado
os conteúdos tradicionais de diversas disciplinas, não somente com a Literatura, mas
também a Física, Matemática e Artes, que serão relacionadas adiante.

Figura 1 – Desenho anamórfico de Julian Beever (2009)

2. Desenvolvimento
A atividade desenvolve-se em duas etapas: na primeira, são apresentados a definição da
anamorfose, seu desenvolvimento histórico e exemplos de aplicação. Utiliza-se material
áudio-visual e uma pequena exposição com maquetes e pôsteres. Ainda na parte
expositiva, é apresentada a técnica que será utilizada na execução prática (figura 02).
Nesta etapa são apresentados os diversos tipos de anamorfose existentes, desde
os primórdios no período do Renascimento, passando por diversas épocas, até o período
contemporâneo. O assunto é demonstrado visando despertar a curiosidade daqueles que
ainda não conhecem esta arte. Os que já conheciam são levados a refletir sobre a técnica
de execução destes desenhos. O método prático é apresentado neste momento, através
de slides.

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Figura 02 – Esquema para execução prática da oficina

Na segunda parte, o grupo de alunos aplica a técnica apresentada participando da


execução da anamorfose de um objeto no pátio da escola pelos docentes e monitores,
utilizando o método prático apresentado anteriormente. O objeto representado é uma
escada com três degraus. Este objeto foi escolhido como tema porque permite total
interatividade e produz uma ilusão de ótica que envolve a percepção de proporção.
Quando a anamorfose está concluída, são apresentados os princípios e conceitos
interdisciplinares que foram utilizados.
A anamorfose desenvolvida permite que os estudantes realizem truques
fotográficos em que a percepção da escala é distorcida (figura 03). Esta deformação é
uma ilusão de ótica provocada pela perspectiva. A explanação deste princípio revela
questões relacionadas à percepção da forma tridimensional. Além disso, a relação de
proporção entre a escada real e a desenhada, podem ser explicadas com a matemática. O
processo de construção da anamorfose também introduz os princípios dos conceitos de
ótica geométrica e o processo de formação de sombras, bem como questões
relacionadas ao desenho em perspectiva e à geometria projetiva.

Figura 03 – Percepção da escala alterada pela anamorfose


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As oficinas ministradas nas escolas podem ser consideradas como um processo


de preparação dos monitores que atuarão em uma exposição sobre o assunto, aberta a
todos os estudantes de sua escola. Parte-se do princípio de que a compreensão é
facilitada quando se usa a própria linguagem dos alunos no ensino, incorporando
elementos culturais pertencentes ao universo dos estudantes. Assim, os participantes da
oficina são beneficiados com um processo de aprendizagem diferenciado e “traduzem”
o conteúdo aprendido para uma linguagem própria, de fácil compreensão pelos outros
estudantes. A melhor maneira de retransmitir o conteúdo aprendido também é um
problema levantado entre os participantes da oficina, onde muitos dos participantes
conseguiram alcançar o objetivo pretendido, repassando aos outros alunos da escola.

3. Resultados
As oficinas ministradas em cinco ocasiões diferentes durante o ano de 2008 permitiram
fazer uma avaliação positiva dos resultados alcançados. No início os participantes não
sabiam o que é anamorfose, somente com a apresentação teórica; mas depois, com o
desenvolver da atividade prática, da construção da escada, foi possível reconhecer e
compreender o processo pelo qual é desenvolvida, além de identificar as relações com
as diversas disciplinas do ensino médio.
Percebia-se a satisfação na reação de cada um, deparando-se com a escada
distorcida, mas ao mesmo tempo real, na frente deles; sendo que foram eles que
ajudaram a construir. As reações de surpresas e curiosidade são as mais comuns. Isto se
desenrola na busca ao conhecimento. Assim, os alunos começam a procurar as matérias
relacionadas, para tentar entender o processo da atividade.
Os depoimentos foram muito satisfatórios, pois a oficina conseguiu alcançar o
objetivo da curiosidade interatividade com as matérias escolares do curriculum. Alguns
alunos, em seus depoimentos, organizaram uma exposição para passar aos demais
estudantes da escola. Isso fez com que o assunto fosse adaptado para uma linguagem
que os estudantes de mesma faixa etária compreendem mais facilmente.

5. Conclusão
A atividade apresentou resultados promissores, como o aumento do interesse dos alunos
pelas disciplinas envolvidas, constituindo uma alternativa de ensino que valoriza as
diversas formas de manifestações artísticas e culturais ligadas ao cotidiano dos alunos.
Não somente no Ensino Médio, a oficina destaca interesse também em diversas outras
áreas, como com estudantes do Curso de Ensino Superior de Pedagogia da UNESP,
onde a oficina foi aplicada destacando-se o enfoque educacional da oficina; para os
estudantes do Curso Superior de Arquitetura e Urbanismo da UNESP, enfocando o tema
artístico da oficina; para estudantes de Design do Curso Técnico Superior SENAC,
destacando a criação e curiosidade da técnica do desenho, entre outras apresentações. A
motivação inicial relacionada à descoberta da anamorfose e a curiosidade em conhecer
como pode ser executada contribuiu para o sucesso do desenvolvimento do exercício.

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Portanto, a natureza artística de uma tarefa pode ser um fator motivacional na resolução
do problema de representação.

Referências
ARNHEIM, Rudolf. (1997) Arte e Percepção Visual, São Paulo: Pioneira/EDUSP.
BEEVER, Julian (2009). Wall murals. Disponível em: <http://users.skynet.be/J.Beever>. Último acesso
em: 10/03/2009.
BOUD, David; FELETTI, Grahame. (1990) The challenge of Problem Based Learning. London : Kogan
Page.
DONDIS, Donis A.(1999) Sintaxe da Linguagem Visual, São Paulo: Martins Fontes.
GABRIEL, Martha Carrer Cruz. (2001) Anamorfose: linguagem escondida na imagem. V Congresso
Brasileiro de Semiótica. Set/2001. Último acesso em: 20/03/2009.
GHIORZI, Telmo. Anamorfose.
Disponível em: < http://ghiorzi.org/anamorfo.htm > Último acesso em: 13/12/2009.
LIMA, Rosmari Aparecida Ferreira. (2006) Anamorfose: A matemática na anamorfose. UNIMESP -
Centro Universitário Metropolitano de São Paulo. disponível em:
<www.uniesp.edu.br/arquivos/mat/tc06/Artigo_Rosmari_Aparecida_Ferreira_Lima.pdf> último
acesso em 30/11/2008.

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