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Lisa
Mona Lisa Awahening
Sunny
Desde sua infância Mona Lisa sabia que era uma menina diferente, mas não sabia o
quanto até que um homem de extraordinária beleza apareceu uma noite em que estava
de plantão na emergência. Gryphon estava ferido, ele estava sendo perseguido, e a atrai
como nenhum homem antes fez. Ele é um Monere, um dos garotos da lua, e mais, ela
também é.
Exilados da Lua há muito tempo os Monere servem e se emparelham com rainhas
déspotas que possam canalizar os raios de seu distante lar. Gryphon acredita que Mona
Lisa é uma Rainha, possivelmente a primeira de sangue mestiço, mas sua introdução ao
cortejo noturno dos Monere, repleto de intrigas, luxúria e calculada crueldade, está muito
distante de ser suave já que seus potencias poderes enfurecerão as outras rainha que são
Monere – Os filhos da Lua - 01
perseguidas por um grupo de homens sem escrúpulos que se libertaram do domínio das
mulheres.
Apesar de todas as ameaças internas e externas, Mona Lisa está decidida a descobrir
que é, e a explorar os limites de seus crescentes poderes... e de seus secretos desejos.
Capítulo um
No ar havia enfermidade e morte; mulheres chorando, homens
amaldiçoando, corpos sujos. O fedor do sofrimento e da angústia. Um lar
que eu deliberadamente escolhi e onde decidi estar. O lar onde habitava
a necessidade desesperada, que me atraía para seu interior com seu
intenso aroma de medo e dor.
Capítulo dois
A escuridão me deu boas-vindas. Um vento frio lambia minha pele e me
tranqüilizava. As estrelas brilhavam e a lua crescente, já em três
quartos, irradiava benevolentemente seus tonificantes raios que
acariciavam meu rosto. Caminhei rapidamente rua abaixo, alerta,
vigilante, procurando com esse sexto sentido adicional. Não havia
ninguém. Não sentia que havia outra presença lá fora. Podiam ter
chegado e partido, ou não ter chegado ainda.
Uma vez que o perfume do sangue de Gryphon se desvaneceu, não
havia forma de saber se tinha tomado este caminho. Tinha o coração
apertado me perguntando se o teria feito. Ele passou por aqui. Ou
possivelmente mudou de idéia e fugiu. Imaginá-lo lá fora, débil e
sozinho, fez-me acelerar o passo. Entrei no edifício, uma modesta
construção de tijolo, e passei pelo elevador, ia ser muito lento. Cheguei
até a escada e subi os degraus de seis em seis com essa energia natural
que sempre me caracterizou. Em menos de um minuto subi saltando os
sete andares de escadas. Parei diante de minha porta, duvidando. Então
o ouvi, esse pulsar maravilhosamente lento.
—Sou eu — sussurrei e a porta se abriu.
Entrei. As fechaduras voltaram ruidosamente ao seu lugar no meio do
denso silêncio e Gryphon retrocedeu rapidamente, tomando cuidado
para não me tocar. A habitação estava às escuras, não havia luzes, mas
podia vê-lo claramente. Nenhum homem tinha direito de ser tão belo. O
branco alabastro de sua pele e o vermelho intenso de seus lábios
grossos eram um canto de sereia ao qual não tinha intenção de resistir.
Seus tristes olhos azuis tinham um atrativo inegável. Cheirava como a
noite; um ligeiro perfume de árvores, vento e terra. Cheirava como ao
lar.
Deliberadamente inalei, absorvendo seu perfume até o mais profundo
de mim com um intenso e possessivo deleite. Isto é o que estive
esperando durante esses longos e áridos vinte anos. Um mensageiro de
meu mundo, um iniciador em minha autêntica vida. Isto é o que,
essencialmente, senti falta nos poucos homens que possuíram meu
corpo. Ninguém com quem tive intimidade tinha minha química,
nenhum era de minha espécie. Não sabia o que era que não funcionava
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Esteira – porção de água revolta que uma embarcação deixa atrás de si; (Aurélio)
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Monere – Os filhos da Lua - 01
Inclinei-me para frente observando como me observava. Levantei uma
de minhas pernas para tirar a meias três-quartos. Ambos a vimos cair ao
chão.
—Não há necessidade de me seduzir. —Sua voz era gratificantemente
tensa—. Protegerei você o melhor que possa sem a reclamar.
—Sei. —Puxei a outra meia três-quartos. Olhava-me fixamente,
aparentemente fascinado com a simples visão de um pé nu.
—Já tem o benefício sem riscos. —Respirou pesadamente quando
desabotoei a calça e a deixei cair aos meus pés.
—Se me tomar, a ira de Mona Sera será terrível — disse com voz rouca,
mas havia uma selvagem contradição entre o que suas palavras diziam
e o que seus olhos evidenciavam. Desejava-me.
—Mais ou menos furiosa, quererá matar a ambos de todo jeito. Foi o
que disse. —Lentamente, lentamente de verdade, fui tirando a parte de
acima. Seus olhos ficaram presos na suavidade de meu estômago e sua
respiração ficou mais irregular.
Afastou seus olhos da desejada fenda de meu ventre e se obrigou a me
olhar nos olhos.
—Suas probabilidades de sobreviver serão maiores se nos contivermos.
Ignorei sua nobre súplica e tirei a parte de cima deixando-a cair ao
chão. Não usava sutiã. Gryphon fechou os punhos, seus olhos pareciam
irresistivelmente atraídos para meus pequenos, mas erguidos e firmes,
seios. Meus mamilos se enrijeceram, ficaram duros como pedrinhas sob
seu olhar atento. Senti como se me invadisse uma onda de triunfante
satisfação ao saber que bastava a simples visão de meu corpo para
alterar tão poderosamente a um homem, o fazendo avermelhar e
provocando o tremor de suas mãos. Foi glorioso.
—De todo modo, nossas possibilidades de sobreviver com a Mona Sera
são escassas — sussurrei—. Não quer viver completamente agora? Eu
sim. Quero tocar você. Quero que me toque. Quero saber o que é tomar
a um homem em meu corpo e desfrutar de verdade. —Fechei os olhos—.
Meu corpo se desespera por ter você. Desejo-o tanto. Nunca antes me
senti assim, nunca.
—Usa prata — disse Gryphon com surpresa.
Demorei um tempo para me dar conta do que queria dizer, tão
arrebatada estava pelo que sentia. Minha mão voou para perto da cruz
que sempre usava pendurada ao redor de meu pescoço, cobrindo-a.
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Monere – Os filhos da Lua - 01
—Perdão. Faz mal a você?
—Por que teria que me machucar? Está sobre sua pele, não sobre a
minha.
—A cruz o incomoda de algum jeito? —Abri o fecho e me afastei dele.
Deixei-a cair na gaveta de uma cômoda situada contra a parede. Virei-
me depois para voltar a encará-lo. Mas com toda a extensão da sala nos
separando senti que essa estranha posse se desvanecia e que voltava a
ser a de sempre, cheia de medos e inseguranças. Veio-me à cabeça uma
vez mais a dor, não o prazer, que habitualmente colhia quando me
enredava com homens sobre os lençóis de minha cama.
—Podemos tocar e olhar as cruzes, podemos entrar impunemente nas
Igrejas. É apenas a prata que contém o que nos irrita. Não a incomoda
absolutamente o contato da prata sobre a pele?
Neguei com a cabeça e cruzei os braços sobre o peito, fiquei friamente
consciente de minha nudez e de que habitava um corpo que os homens
nunca considerariam voluptuoso. Essa consciência me empurrou a
aventurar uma conclusão:
—Possivelmente meu corpo não o agrada.
—Não — disse Gryphon gravemente—. Seu corpo me agrada muito.
Mas em meu inesperado caos emocional não era capaz de distinguir o
que havia de verdade em suas palavras. Não acreditei nele. A atração
entre nós estava presente e era intensa, mas parecia ser algo instintivo,
algo que ele não podia controlar. Sua opção consciente, sua intenção,
era clara. Não tinha se movido. Não me desejava.
—Sinto muito — ri amargamente—. Parece que não sou muito boa
seduzindo. Atraio aos homens no início, mas depois dizem que sou fria.
E o sou. Sou de gelo por dentro.
—Os humanos não nos atraem — voltou a me explicar, tranqüila e
pacientemente—. Não sentimos com eles o que sentiríamos com outro
de nossa raça.
O irônico é que não estava segura de que me incluía entre esses
humanos.
—Estou vendo. Tem razão, é obvio, sobre nós. Não deveríamos... —
Movi-me lentamente para o refúgio de meu quarto—. Não deveria tê-lo
forçado. Sinto muito.
Gryphon cruzou os três metros que nos separavam com um gigantesco
salto, movendo-se tão depressa que nem sequer se fez impreciso, mas
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sim de repente se encontrava ao meu lado, a escassos centímetros de
mim. Soltei um grito abafado.
—Mudei de idéia — disse brandamente. Era um homem perverso, isso é
o que era.
A ira me acendeu e queimou todo vestígio de insegurança com um
maravilhoso banho de calor purificante.
—Não quero sua compaixão — esbravejei, me afastando, retrocedendo
para meu quarto, amaldiçoando silenciosamente os caprichos de todos
os homens, sem importar sua raça.
—Bem. Tampouco eu desejo a sua — disse secamente, me seguindo até
que minhas curvas deram contra o colchão. Meu quarto era tão pequeno
que não havia espaço para nada mais que a cama, uma escrivaninha e
alguns poucos centímetros de espaço para poder passar.
—A última coisa que sinto por você é compaixão — disse Gryphon com
olhos doces e brilhantes. Desabotoou seus dois botões superiores e tirou
a camisa pela cabeça, deixando-a cair depois ao chão. O som estridente
do zíper pareceu intensificar-se no tenso silêncio. Tirou as calças e se
plantou diante de mim, me mostrando muito mais de seu corpo do que
eu tinha mostrado a ele. Eu ainda estava com a roupa íntima. Tudo o
que adornava seu corpo naquele instante era a vendagem branca sobre
seu flanco esquerdo, e não era que escondesse seu esplendor.
Cai na cama, sentia de repente os joelhos inertes; era maravilhosa a
revelação do quanto à forma masculina podia ser bonita. Sua roupa o
tinha escondido, tinha o disfarçado com uma forma comum. Despido
revelou sua absoluta beleza. Era divino.
Deixei minha vista vagar por todo seu corpo, livremente, de cima a
baixo, percorrendo a excessiva beleza de suas formas. Permiti que meus
olhos desfrutassem sem reserva daquele sensual festim depois de toda
uma vida passando fome. A curva de seu peito era mais musculosa do
que imaginei, mais do que aquela breve e tentadora olhada a seu
abdômen insinuou quando me ocupei de seu ferimento.
Era esbelto, poderoso, perigoso. Um elegante, mas mortal predador;
seus ombros eram amplos e ia, se estreitando até formar uns quadris
estreito; tinha coxas fortes, e grosas e musculosas panturrilhas. A única
coisa suave nele era a negra cabeleira que o cobria e caía em grosas
ondas que roçavam seus ombros. Minhas mãos coçavam, precisavam
inundar-se naquelas longas mechas e descobrir se eram tão suaves e
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sedosas ao tato como prometiam ser. Seu peito era simples perfeição,
não necessitava de nenhum outro adorno além de seus gêmeos mamilos
que eram de uma cor bronzeada e quente, como um castanho, e que
sem dúvida seriam igualmente saborosos. Insolentes mechas de cabelos
indicavam o caminho por seu ventre e se convertiam depois em uma
escura moldura de seu rígido e exuberante pênis. Este se erguia ansioso
para encontrar-se comigo, ele todo era uma elegante conjunção de
forma e função, e se roçava contra a dura linha do abdômen, inclinando-
se ligeiramente como se saudasse. Escapou-me uma risada nervosa e
cobri a boca com a mão.
—Já não me deseja, Mona Lisa? —perguntou-me brandamente com
olhos brilhantes.
Umedeci meus lábios ressecados. Seus fulgurantes olhos seguiram meu
movimento.
—Sempre o desejarei — foi minha simples e verídica resposta. Seus
olhos se fecharam com força e se abriram brilhantes como uma safira
ardendo.
—É mais do que nunca esperei encontrar, uma rainha com quem nunca
me atrevi a sonhar. Não quer pôr suas mãos sobre mim? Dará permissão
para que eu ponha minhas sobre você?
Subiu lentamente e com sinuosa elegância à cama, apoiando seus
joelhos a cada um de meus lados, afundando-se no colchão. Movia-se
lentamente, como que com medo de me assustar. Não precisava
incomodar-se. O extremo desejo que estava sentindo por ele, o
desesperado controle que mantinha para não cair ferozmente sobre ele
e devorá-lo, eram mais que suficiente para me dar um susto de morte.
Retrocedi alguns centímetros e caí sobre minhas costas quando se
situou sobre mim, inclinando-se e apoiando os braços em ambos os
lados de minha cabeça, detendo-se justo antes de nos tocar.
—Não deseja me tocar? —perguntou.
—Sim.
OH, minha mãe, posso? Sim. Respirei fundo e estendi uma mão trêmula
para pousar meus dedos sobre seu peito. Sua pele era fria e suave, seda
sobre pedra viva. Era tão aprazível a sensação que quase roçava a dor.
Ambos gememos com a emoção do contato. Retirei a mão.
Girou com flexibilidade sobre seu flanco esquerdo. Virei-me para olhá-
lo. Estendeu sua mão direita e me reconfortou ver seu ligeiro tremor.
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Monere – Os filhos da Lua - 01
Tocou-me levemente no mesmo lugar onde eu o toquei. Apenas acima
do coração. O prazer me fez ofegar. Nada mais, apenas um leve roce, e
o líquido do desejo escorreu por minha coxa. O aroma de minha
excitação ficou mais denso e impregnou o quarto. As fossas nasais de
Gryphon se abriram e aspirou com força, profundamente, mas não fez
nada mais. Quando já não pude resistir mais estendi a mão e apóie toda
a palma sobre seu peito. Tremeu e disse asperamente: — Sim, me dê
mais.
Acariciei-o, incapaz de parar, não querendo parar, e sua mão se moveu
seguindo o que a minha fazia. Uma leve carícia ao longo das clavículas,
outra mão para seguir a linha de seus ombros e ao longo de seu braço.
Afundei ambas as mãos na fria seda de seus cabelos e a sensação era
ainda melhor do que eu tinha imaginado, e fiz uma surpreendente
descoberta em sua nuca.
—Tem suaves e leves... plumas?
Balbuciou assentindo, absorto na sensação e distraindo-se com meu
próprio cabelo.
De repente precisava saboreá-lo. Sussurrei minha necessidade.
—Gryphon. —Levantei-me sobre os joelhos e me inclinei para tocar seus
lábios com os meus. Eram de uma suavidade acetinada. Doce frescor. E
suaves. Tão suaves. Rocei meus lábios com os seus, desfrutando do
suave deslizamento da pele sobre a pele de seda até que gemeu com a
necessidade de mais e abriu os lábios. Minha língua deslizou na
surpreendentemente cálida caverna de sua boca, lambi seus dentes,
deslizei pela curva de suas úmidas bochechas, e rocei sua áspera língua.
Gryphon gemeu de novo, deslizou minha roupa íntima pelas pernas e
me atraiu para ele. O prazer-dor da carne contra carne, o contato de
meus rígidos mamilos contra a suave dureza de seu peito, o roce de seu
quente e inchado membro contra meu ventre suave o fizeram entrar em
ação. Girou para ficar em cima de mim, seus lábios se moviam
agressivamente contra os meus, sua língua se enroscava na minha,
roçava-se, deslizava-se, entrava e saía, com um movimento de imersão
que fez que eu abrisse minhas pernas, arqueando meus quadris contra
os dele. Atraí-o para mim, querendo mais de seu delicioso peso. Deslizei
minhas mãos com frenética cobiça por suas costas, por sua esbelta
cintura, até alcançar as suculentas nádegas de seu traseiro, o
apressando a entrar em mim.
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Monere – Os filhos da Lua - 01
Sua cálida boca escorregou por minha face até meu pescoço, e dei um
grito de prazer quando senti seus dentes me mordendo onde meu pulso
pulsava. Encheu sua boca com minha carne, e apertou os dentes com
refreada ferocidade, gemendo com o desejo de atravessar a carne e
provar o doce sangue. Mas em lugar de me morder, chupou com força e
me soltou, lambendo-me depois com sua áspera língua, baixando para
saborear o espaço na base de meu pescoço.
—Diga que me deseja — disse bruscamente.
—Sim — exclamei.
Tomou meu mamilo em sua boca, lambendo a sensível ponta uma e
outra vez. —Por favor, Gryphon — ofeguei.
—Sim, diga meu nome. —Sua voz retumbou em meu seio com uma
prazerosa sensação—. Diga que me necessita.
—Necessito de você agora. Por favor.
Mordiscou brandamente meu mamilo e me ergui; gritei enquanto ele
puxava e chupava com violência calculada, sua outra mão amassava,
acariciava, apertava meu outro seio, seu polegar esfregando o outro
mamilo, provocando excitantes sensações que me atravessavam como
dardos.
—OH, Deus. Gryphon... Gryphon.
—Sim, sim. Diga meu nome — disse com voz rouca, sua outra mão
deslizando por meu estômago para acariciar meus cachos. Abriu meus
lábios e colocou um dedo dentro. Fiquei paralisa pela impressão que me
produziu, a maravilhosa e surpreendente sensação, tão esplêndido
prazer, e não me atrevia nem a respirar enquanto me acariciava
entrando e saindo.
—Está tão tensa... relaxe, sim. Deixe-me... —Introduziu um segundo
dedo em meu interior e tremi descontroladamente ao mesmo tempo em
que gemia com os olhos completamente abertos. Continuou me
acariciando e me relaxando com sua mão enquanto introduzia até o
segundo nódulo de seus dedos e continuava avançando.
—Sim, isso é — murmurou—. Que bonita, que doce é. Mais do que
nunca sonhei.
Abriu-me completamente com seus dedos e depois os tirou. Levantou
seu peso e meus olhos se abriram com um grito de protesto, que cessou
imediatamente quando se levantou e me puxou para frente. Colocou
meus quadris pendurado sobre a borda da cama e pôs minhas pernas
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Monere – Os filhos da Lua - 01
sobre seus ombros. Suas faces estavam salpicadas de cor e seus olhos
escuros brilhavam como diamantes azuis. Com seus olhos fixos nos
meus, abriu caminho dentro de mim, me enchendo lentamente
enquanto meus olhos se abriam com a incrível sensação dele, com a
suprema agonia de que me abrisse.
—OH — ofeguei ante o imponente milagre de prazer úmido em lugar da
dor seca.
—É tão cálida... tão cálida — resfolegou —. Sim, eu gosto. Tome. Estou
machucando-a?
—Não. Seu ferimento...
—Estou bem — gemeu e empurrou até o final—. Bem. —E começou a
mover-se.
—Sim—gemi e me imobilizei por medo de piorar seu ferimento, de
machucá-lo quando ele estava me destroçando por completo com seus
profundos e medidos empurrões. Observei-o, inundei-me dele, de sua
imagem, da sensação dele. A doce agonia do prazer contraindo seu
rosto, a perfeição de seu corpo deslizando dentro do meu. Deixei-o
controlar tudo, enquanto tomava e o mantinha dentro com firmeza.
Começou a mover-se mais depressa, seus músculos estremeciam,
forçando, enquanto empurrava mais dentro, com mais força, me
destroçando, me desfazendo com um prazer aterrador. Senti que me
alargava uma vez mais, me levando para algo cuja força crescia e
crescia. E quando acreditei que não podia ser mais grosseiramente
bonito, começou a brilhar. Ambos começamos a brilhar, com uma luz
que nascia de nossa união e se estendia por todo nosso corpo, nos
enchendo de uma glória incandescente que fazia translúcida sua pele e
que cobria seu negro cabelo com um halo de luz. A terrível beleza que o
iluminava me alagou os olhos com lágrimas de agonia e de alegria.
Sim, veio-me o pensamento. Isto é para o que fomos feitos. E essa força
me varreu, alagou-me, rasgou-me, e me reconstruiu me fazendo ainda
mais forte. Convulsionei, pulsava, pulsava. Às cegas, ouvi Gryphon gritar
em cima de mim:
—Mona Lisa... é minha.
E então bombeou com veemência em meu interior, gemendo
intensamente, me enchendo com sua semente.
Capítulo três
Os doces dedos da lua acariciavam Gryphon com amorosa ternura
enquanto jazia ao meu lado, dormido. Era uma criatura tão bonita que
tirava meu fôlego, sua preciosa perfeição era tão irreal que poderia ter
duvidado de sua verdadeira existência se não fosse porque o tocava,
porque tinha sua perna enroscada na minha. Com seu braço jogado
sobre mim encadeava-me a ele em sonhos, desejosa e ao mesmo tempo
desejada, com esse contato de pele contra pele.
Era frio ao tato, mais frio que eu, e não sabia se esse era seu estado
normal ou o resultado do veneno que tinha dentro dele. Parecia estar
melhor que no hospital, mais descansado; sua força era patente na dor
que sentia em minhas coxas, entre minhas pernas. Mas seu tremor, ao
final, tinha sido tanto fruto da paixão como do esgotamento, por isso
caiu profundamente adormecido imediatamente depois. Deixei-o dormir,
sabendo que era a melhor terapia para ele, satisfeita de estar deitada
junto a ele, segura entre seus braços, e escutando o suave sussurro de
sua respiração e o lento pulsar de seu coração.
Era espantoso. Não, era na realidade aterrador o feroz sentimento de
posse que sentia agora por ele. Necessitava desse tranqüilo momento
de solidão acompanhada para assimilar todas as mudanças e revelações
que se geraram como resultado de sua entrada em minha vida.
Moveu-se várias horas depois, passando de dormido a completamente
acordado em um abrir e fechar de seus penetrantes olhos. Seu braço se
retesou ao meu redor, e depois relaxou.
—Você não é um sonho, não é mesmo? —perguntou, puxando-me para
me aproximar.
—Não — exalei minha suave confirmação sobre seu ombro, onde minha
cabeça se aninhou; meu coração se tranqüilizou e se sentiu feliz uma
vez mais ao inalar sua essência—. Cheira muito bem.
Senti como sorria.
—A que cheiro?
—Cheira como a noite, como o vento que sopra, como os verdes prados
que sobrevoa... e as plumas. —Levantei-me para observá-lo do alto—.
Por que tem essa penugem suave na base do pescoço?
—Minha outra forma é um falcão.
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Encarapitar - pôr-se no alto. (Aurélio)
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Monere – Os filhos da Lua - 01
Emoções contraditórias me embargaram mais uma vez. Sentia alegria
por ouvir que certamente viveria até os cem anos, uma idade avançada
que poucos humanos alcançavam. E senti dor porque não chegaria a
viver trezentos anos. Senti-me de algum jeito extorquida.
—Não se preocupe. Acredito que viverá mais que isso. Tem mais sangre
Monere que sangue humano circulando em você e seu coração pulsa
mais devagar que os da raça humana.
—Cinqüenta batimentos por minuto.
—Os poucos mestiços com quem me encontrei têm ritmos cardíacos de
sessenta ou mais batimentos, como os outros humanos.
—E?
—E, será que não vê? Quanto mais lento bate o coração de alguém,
durante mais tempo vive. O coração de um colibri pulsa mais de
trezentas vezes por minuto e tem uma vida breve, com sorte, vive um
ano. Uma tartaruga, ao contrário, possui um ritmo mais similar ao meu.
Não é incomum que uma tartaruga viva duzentos anos, às vezes
inclusive trezentos anos.
—Assim, quer dizer que viverei mais tempo que a maioria dos humanos.
Assentiu, seus olhos tinham um inconstante brilho de azul cristalino. —
Isso é o que acredito.
Segurei sua mão e a posei sobre minha face; meu sorriso era agridoce.
Tudo era discutível. Mais duzentos anos para viver com ele era uma
perspectiva encantadora, mas viver mais sem ele não tinha sentido. Um
isolamento amorfo5e uma solidão cinzenta eram tudo o que conheci até
esse momento. Não tinha começado a viver de verdade até que meus
olhos posaram sobre ele pela primeira vez. Perguntei-me se minha nova
vida, minha vida com ele, terminaria mais rápido que a de um colibri.
—Quanto tempo tem antes que o veneno o mate? —perguntei.
—Não mais que um ciclo completo da Lua.
Trinta dias. Merda.
—Quando o...?
—Ontem.
Só um dia e como o debilitou em tão pouco tempo.
—O que acontece? —perguntou, baixando a mão para me acariciar o
pescoço, seu polegar esfregando sobre meu pulso.
5
Amorfo = sem forma definida. (Aurélio)
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Monere – Os filhos da Lua - 01
—Repentinamente me senti preocupada com a alimentação e o cuidado
adequado para meu lunático — disse, me forçando a pôr um sorriso em
meus lábios.
—Pergunto-me quem serão seus pais — murmurou Gryphon.
—A única coisa que tenho deles é a cruz de prata que viu. —Voltei a
pegar a cruz e mostrei a ele a gravura feita no verso.
—Mona Lisa — leu—. Seu nome.
—Sim.
Observei-o entrecerrar os olhos. —Posso?
Assenti com a cabeça e pegou a cruz de minhas mãos, sustentando-a
pela corrente. Muito brandamente, com delicadeza, segurou a cruz e a
examinou com mais atenção. Ali na base havia outra palavra gravada
com muita meticulosidade, tão diminuta, que os olhos humanos não a
teriam detectado sem ajuda de um microscópio.
—Monere — leu. Soltou cuidadosamente a cruz e a devolveu a mim.
Distraidamente esfregou os dedos com os quais tocou a prata.
—De onde tirou isto?
—Estava pendurada em meu pescoço quando me encontraram recém-
nascida e o nome gravado no verso é o nome que me deram no
orfanato.
Ficou imóvel olhando fixamente a cruz que eu apertava em minha mão;
sua imobilidade era tão súbita e completa que não era humana.
—Sua mão — disse com estranho cuidado—. Posso vê-la?
Deixei a cruz de lado e estendi minha mão direita. Estirou minha mão.
Tocou com reverência o sinal que tinha no centro da palma. Era apenas
uma leve proeminência, como uma pérola meio enterrada na carne.
Estendeu sua outra mão e estendi minha mão esquerda para que
pegasse. Observou o leve vulto que havia ali também. Depois olhou
alternativamente de um ao outro.
—O que acontece? —perguntei.
Não falou por um tempo. Quando por fim o fez foi para perguntar.
—Que poderes possui? Dei de ombros.
—Posso ver na escuridão e escutar a quilômetros ao meu redor se
desejar. Meu sentido do olfato é apurado. Sou rápida como um gato,
forte como um leão. Esforçando-me posso controlar a mente das
pessoas com o olhar. Com minhas mãos posso detectar enfermidades no
Capítulo quatro 1
Capítulo cinco
Aquela afirmação me fez parar em seco. Minha mãe?
Deixei de puxar Gryphon e me virei de novo para olhar Mona Sera.
Concentrando minha visão, procurei em seu rosto. Seus olhos eram frios
e seus lábios finos e cruéis. Mas as maçãs do rosto, a forte linha de sua
mandíbula, esse cabelo negro...
OH, Meu deus, havia uma semelhança.
—Não seja ridícula — disse Mona Sera secamente, com um tom que
quase soava dolorido.
—Senhora. Usa uma cruz de prata sobre a pele e isso não a debilita —
disse Sonia. Era uma mulher amável, de olhos carinhosos e cabelos
castanhos claros, como a cor das folhas no outono depois de terem
caído das árvores—. É uma mestiça.
—Não pode ser uma mestiça. Tem nossa força e velocidade, é uma
rainha — disse Mona Sera.
Mas entrecerrou os olhos e me olhou com esse sentido extra que se
encontra além dos cinco que possuem os humanos.
—Que interessante — murmurou—. Quando nasceu?
Levantei uma sobrancelha.
—O dia que me encontraram no orfanato foi 31 de outubro, faz vinte e
um anos.
—É essa a data? —perguntou — Mona Sera a Sonia. A outra mulher
assentiu.
Entrecerrei os olhos.
—Tem que perguntar a outra pessoa quando sua filha nasceu?
—Por que deveria recordar? —foi sua arrogante resposta.
—Puta — foi a minha.
Gryphon apertou meu ombro, me advertindo, enquanto eu processava
a informação de que a cruz que eu tinha apreciado e usado sobre meu
coração durante toda minha vida não foi me dada pela minha mãe como
eu pensava. Mona Sera não reconheceu a cruz de modo algum.
Com lenta segurança voltei os olhos para a mulher que devia tê-la dado
a mim, que me deu um nome. A mulher que recordou o dia e ano em
que eu nasci. A que reconheceu a cruz.
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Perolar – da forma ou aparência de pérola.
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Monere – Os filhos da Lua - 01
Deixei-me cair ao chão de pedra, senti que o sol se levantava e me
preocupei com Gryphon. Tinham o levado e me abstive de perguntar a
Mona Sera por ele, instintivamente sabia que qualquer preocupação
que, de minha parte, fosse demonstrada por ele, seria vista como uma
debilidade que poderia se usada e explorada por ela. Não era uma filha
para ela. Era apenas uma ferramenta útil, como um martelo com o qual
golpear, uma novidade que podia apresentar ao Conselho e pela que
reclamar um reconhecimento. Nada importava sempre e quando nos
levasse.
Devia ter dormido. Os sons de uma chave girando e da porta abrindo
me despertaram. A luz proveniente do vão da escada caiu sobre o
cabelo de meu guarda, mostrando sua autêntica cor, um loiro tão suave
que a primeira vista parecia branco, mas o observando de perto
revelava uma ligeira tonalidade dourada. Seus olhos eram de um
atraente verde, não essa mistura entre verde e marrom que se vê
usualmente, e sim um verde esmeralda puro que fazia uma pessoa
pensar nas selvas amazônicas. Tinha o mesmo olhar alegre de quando
esteve a ponto de me violar.
—Permita que me presente: Beldar, a seu serviço.
Fez uma reverência com um elegante floreio e me deu um pacote, seus
olhos se mantinham educadamente fixos em meu rosto e não sobre meu
exposto decote. Um homem perspicaz. Era um decote que ele mesmo
deixou descoberto expondo-o à vista de todos.
—Minha rainha a convida para o desjejum com ela e pede a você que
ponha este vestido.
Peguei o pacote e o abri. Era um vestido comprido. Seda negra. —Saia e
feche a porta enquanto me troco — disse.
—Sua desconfiança me fere — replicou Beldar—. Certamente não terá
em conta nossa pequena refrega. Fui eu que saí ferido. Farejei e não
cheirei a sangue.
—Sua ferida parece haver se fechado. —Lançou-me um sorriso
encantador, o diabo arrogante. —Curamos rápido. Diga que me perdoa.
—Quando me devolverá as adagas?
—Não, até que cheguemos ao Conselho — respondeu Beldar com pesar
—. Por ordem de minha rainha.
—A porta — disse.
Capítulo seis
Como viajavam os lunáticos? Os ricos, claro. Voavam. Em seus aviões
privados. Não precisávamos cruzar os territórios de outras rainhas,
simplesmente passávamos por cima. Economizava um montão de
problemas.
Mona Sera se sentou na parte da frente de seu extraordinariamente
equipado avião particular. O mármore e os adornos de ouro reluziam.
Rodeada por suas oito escoltas, virou-se em seu assento reclinável e nos
estudou com expressão presunçosa e calculista, como um gato que
acabou de engolir nata coalhada. Ou ainda melhor, como uma serpente
que tivesse devorado um rato inteiro e o digerisse enquanto ainda se
retorcia vivo em seu interior. Não cabia em si de satisfação. Sentei-me
na parte de trás, separava-nos todo o espaço que tinha de comprimento
o avião, encaixada entre Gryphon e Amber, e bocejei.
—Dorme — disse Gryphon. Afastou o braço da poltrona entre nós e me
puxou para seu lado.
Ignorando Mona Sera, que nos estudava com frieza com seus olhos de
réptil, me aconcheguei entre seus braços e apoiei a cabeça sobre seu
ombro.
—Você e Amber precisam descansar também.
—Faremos turnos.
—Turnos?
—Um de nós deve permanecer alerta. Farei a guarda primeiro. —
Pisquei.
—OH. Eu farei a seguinte então. Acorde-me quando for meu turno.
Gryphon e Amber trocaram um olhar.
—Uma ocorrência que a honra — disse Gryphon—, mas não será
necessário. Basta eu e Amber.
—Homens. Sempre igual. Carregados de estúpidas idéias machistas —
sussurrei, muito cansada para discutir com eles. Minhas pálpebras se
fecharam, pesavam muito para abri-las outra vez e perdi o sorriso que
compartilharam meus homens.
Capítulo sete
O sol era uma bola de fogo que mal se elevava sobre o horizonte,
embora faltassem horas ainda para o por do sol quando despertei
descansada, satisfeita, e desfrutando de sentir meu amante ao meu
lado, o suave batimento de seu coração, o leve sussurro de sua
respiração. Levantei a cabeça, abandonando o peito de Gryphon para
olhar seu rosto, e fiquei sem fôlego ante a dilaceradora beleza com qual
foi agraciado. Quis passar minhas mãos por entre seus negros cachos,
provar seus lábios e sentir a suavidade de sua nuca. Mas desci
lentamente daquela cama tão confortável para deixá-lo dormir e
descansar.
Escutei um momento e não senti nenhum movimento no outro quarto.
Amber ainda dormia. Abri meus sentidos ainda mais e não detectei
nenhum movimento no andar de baixo da casa. Coloquei a cruz de prata
que deixei sobre a mesinha a noite e deslizei dentro daquele vestido
preto, tão formal para meu gosto, para sair silenciosamente do quarto,
descer as escadas e corri para fora.
Era um bonito dia, frio e sereno. O inverno estava próximo, e sentia a
luz minguante do sol brandamente nos olhos. Tinha passado algum
tempo sem ver a luz do dia, desde que comecei a trabalhar no turno da
noite no São Vicente. Que distante parecia tudo aquilo agora, aquela
vida, aquele trabalho. Entretanto não tinham passado mais que dois
dias, dois breves dias, e tudo havia mudado.
O bosque me chamava e entrei em seu lenhoso abraço, respirando o
perfume da terra úmida sob um tapete de folhas, livre e a salvo sob a
luz do sol. Não eram os animais que temia e sim a outros de minha raça.
Eram, com diferenças, muito mais perigosos. Mas agora estavam
dormindo e me encontrava segura em minha solidão.
O som de uma correnteza acariciou meus ouvidos e o segui até uma
pequena clareira, feliz com meu descobrimento. Um arroio de águas
inquietas corria junto a uma árvore caída onde encontrei o galho
9
Teça - árvore verbenácea de madeira de lei. (Aurélio)
PROJETO REVISORAS TRADUÇÕES
Monere – Os filhos da Lua - 01
Capítulo oito
O sol já tinha se posto quando o resto da casa começou a despertar. Sai
da cama, tomei banho e examinei meu triste guarda-roupa. Sonia tinha
posto um vestido azul em minha bagagem, um traje simples como os
que vestiam o restante das mulheres, e outro dos formais vestidos de
Mona Sera. Preto, é claro.
—O vestido preto — disse Gryphon aparecendo a minhas costas.
Recostei-me contra ele e ele deslizou os braços em torno de mim,
beijando minha face.
—Como se sente?
—Descansado — disse tristemente—. Fui um pouco duro com meu
corpo há pouco. —De uma maneira maravilhosa. Eu adorei ver ao me
virar que se ruborizava.
—Verei o curandeiro hoje, depois da reunião — prometi, esfregando
meus polegares contra o dorso de suas mãos, onde estas cobriam minha
cintura.
Inclinou minha cabeça e me beijou brandamente nos lábios, depois me
soltou.
—Preciso tomar banho e me vestir e estar preparado em breve.
Amber me esperava do outro lado da porta. Seus cabelos estavam
perfeitamente penteados separados ao meio e para trás, deixando à
vista as duras linhas de seu rosto. Vestia uma túnica verde escuro, com
mangas amplas e soltas, e calças pretas justas, um estilo conhecido há
um ou dois séculos. O conjunto o deixava bonito de verdade.
Gryphon escovou meus cabelos e insistiu que os usasse soltos. Disse-
me que era mais feminino. Vestidos compridos e cabelos soltos; não era
somente sua maneira de falar que era arcaica.
—Está muito bela, senhora.
As comissuras da boca de Amber se curvaram fazendo uma careta.
Levei um tempo para me dar conta de que sorria para mim.
—Obrigado Amber. Você também está, isto..., bonito.
Suas faces se ruborizaram. O que me fez sentir pena do pobre gigante.
Passei uma de minhas mãos pelo braço de Amber e a outra pelo de
Gryphon.
—Cavalheiros?
Capítulo nove
Helen era o nome de minha mãe humana. Ela e seu marido Frank me
recolheram do orfanato e me levaram para sua casa. Chamava-os papai
e mamãe. Era um casal já de cinqüenta anos, sem filhos.
Helen adorava frisar meus cabelos e me pentear com duas tranças que
oscilavam e ricocheteavam quando caminhava. Adorava enfeitar meu
escuro cabelo com bonitas fitas rosa ou laços azuis. Essas eram suas
cores favoritas.
—Poderia usar qualquer dia o rosa ou o azul de sempre — costumava
dizer rindo e ao fazê-lo seu corpo gordinho e compacto tremia.
Embalava-me em seus grandes braços, me envolvendo como um suave
e enorme urso de pelúcia, me apertando contra seu generoso peito.
Ainda lembrava de seu aroma. Cheiro de talco, amor e risada.
Comprou um peixinho para mim, o chamamos de Joey, que nadava
torpemente em seu aquário e cujas grandes e gordinhas bochechas me
deixavam sempre fascinada. Com sua enorme mão guiando a minha,
deixávamos cair em seu aquário flocos de comida todas as noites antes
de me colocar na cama. Observava Joey lançar-se com seu redondo
corpo e engolir com avidez a comida enquanto Helen lia para mim um
conto antes de dormir.
Tinha dez anos quando comprei um peixe para mim com o dinheiro que
ganhei arrancando ervas daninhas e limpando os jardins dos vizinhos.
Tinha faces gordinhas e nadava com arrogância, como uma pequena
imperatriz, pelo aquário que também comprei. Chamei-a Josephine em
memória a Joey. Estou segura de que Joey teria gostado de Josephine.
Deixava cair uma pitada de comida a cada noite, e a observava engolir
cada floco; limpava seu aquário e punha água limpa toda e cada uma
das semanas. Compartilhava meu quarto com outras duas garotas do
orfanato menores do que eu. O senhor e a senhora Jackson as
acolheram em troca do cheque que o governo enviava a cada primeiro
dia do mês por seu cuidado, igual ao que ocorria comigo.
A senhora Jackson era uma mulher magra que estava sempre cansada.
Tinha trabalhado duro durante toda sua vida, era evidente na maneira
encurvada de seus ombros e em seus cabelos sem volume carentes de
brilho. Olhava-nos com seus apáticos olhos azuis e via em nós, meninas,
mãos extras para ajudá-la com o trabalho a mais que havíamos trazido
junto com o cheque do governo. Tinha passado com eles vários meses e
estava contente de cuidar das outras duas meninas que eram minha
responsabilidade, dado que era a mais velha. Realizava as tarefas que
tinham me encarregado obedientemente.
As coisas mudaram, entretanto, quando meus seios apareceram e
começaram a desenvolverem-se no final daquele ano. A senhora Jackson
se negava a esbanjar dinheiro na compra de um sutiã e o senhor
Jackson começou a me olhar de maneira estranha. Começou a ter algo
mais que interesse em nós; beijava à pequena Carlotta e à tímida Nicole
e fazia cócegas nelas sobre seu regaço.
PROJETO REVISORAS TRADUÇÕES
Monere – Os filhos da Lua - 01
—Aposto que você também tem cócegas, Lisa — costumava dizer o
senhor Jackson, e tentava me fazer cócegas também, mas eu saía
correndo para me pôr fora de seu alcance e embora risse, seus olhos
mostravam sua fúria.
Sentava às meninas em seu regaço, dava-lhe um beijo na face e ele as
recompensava com uma barra de caramelo para cada uma.
Uma jovem criada fez minha cama com lençóis limpos. Olhava-me com
curiosidade. Entrou e partiu sem que nem me desse conta. Bloqueei
meus sentidos, encerrei-me em algum lugar profundo dentro de mim
onde não sentia nada. Não pode doer o que não se pode sentir.
O tempo passou sem que nada ocorresse. E em algum momento dormi
e umas enormes e delicadas mãos me levantaram e me puseram sobre
o suave colchão, me cobrindo depois com uma manta. Continuei
dormindo e sonhando.
Capítulo dez
—Tem que comer algo, senhora — disse Amber com beligerante
persistência.
Olhei por cima dele. Através dele. Já lhe havia dito que não tinha fome
suficientes vezes nos últimos dez minutos.
—A mãe de Jamie fez espaguetes especialmente para você — disse
sedutoramente.
Só tinha uma palavra para ele.
—Vá embora.
—Não até que tenha comido algo — soltou Amber, em um tom mais
suave—. Três gafadas e a deixarei em paz — me convenceu.
Abri a boca, mastiguei e engoli o número de vezes combinado. Partiu e
me abstrai de novo.
Outro dia. Mais murmúrios dos quais me desconectei. Uma batida forte
que ignorei. Persistentes batidas na porta que não cessavam. —O que é?
—O príncipe Halcyon veio vê-la — disse Amber através da porta.
—Não.
Capítulo onze
De volta ao meu quarto, e uma vez que me encontrei recuperada,
celebrei minha pequena vitória com uma enorme e sangrenta bisteca
que a mãe de Jamie tinha preparado para mim. Meus cinco homens não
podiam evitar fazerem caretas e encolherem-se a me ver mastigar com
prazer os robustos pedaços de carne até que deixei limpo o prato. Tinha
me descuidado e debilitado até um ponto perigoso. Não foi muito
inteligente de minha parte me encontrando como me encontrava entre
uma manada de carnívoros.
Tirei o vestido ensangüentado para tomar banho. Ensaboei-me, me
esfregando de cima abaixo três vezes. Era uma pena que não pudesse
me limpar por dentro da mesma maneira. Havia uma parte de mim,
cruel e sádica, que estava saindo à luz e que me aterrorizava.
Quando saí do banheiro o vestido sujo já não estava lá. Ainda sentia a
adrenalina correr por minhas veias e de repente o quarto ficou muito
pequeno. Tinha que sair dali. Vesti o outro vestido comprido, também
preto, e bati na porta do outro quarto. Miles abriu a porta, seus olhos
mostravam receio.
—Senhora?
—Vou dar um passeio — informei bruscamente.
—Acompanharemos você - disse Amber detrás de Miles, sobressaindo-
se por cima dele.
Capítulo doze
PROJETO REVISORAS TRADUÇÕES
Monere – Os filhos da Lua - 01
Flutuava entre a consciência e a inconsciência. No inicio recuperei a
consciência pelo calor anormal que sentia em meu corpo, e depois pelos
violentos calafrios que me sacudiam de cima até em baixo. O frio
extremo fez que de algum jeito meu calor corporal se intensificasse,
tinha a sensação de que chamas azuladas lambiam minha pele; onde
mais queimava era entre as pernas, e tinha os seios excitados, sentia-os
agora incomodamente inchados e rígidos. Todo isso fazia que eu me
sacudisse, agitasse, gemesse e choramingasse.
Alguns dedos guiavam minhas mãos para aqueles lugares que com
mais desespero precisam ser estimulados. Meu corpo sofria espasmos e
voltava depois a se afundar no doce esquecimento até a seguinte
ocasião. Quando estava muito exausta, alguns dedos se afundavam
delicadamente em mim, me fazendo gritar e cair de novo na bendita
inconsciência.
Às vezes me banhavam com água fria. Outras vezes, uma colher abria
passagem entre meus lábios, e ele acariciava brandamente minha
garganta até que engolia um pouco de sopa. Ele...
—Gryphon? —sussurrei, e recebi um delicado murmúrio em resposta.
Não era Gryphon, é verdade, tinha me deixado, voltei a me lembrar e de
novo a dor me rasgou profundamente até que voltei a escapar em uma
pacífica inconsciência.
Pouco a pouco as exigências de meu corpo se reduziram, por isso cada
vez com menos freqüência voltava a ficar consciente. Sentia-me
contente de poder ficar naquela relaxante escuridão. Estava tão
cansada. Tão cansada de sofrer.
—Não deve ficar muito neste lugar, minha menina. É perigoso. —Uma
mão suave acariciou minha testa. Abri os olhos e encontrei o doce rosto
de Sonia.
—Você devia ser minha mãe — disse.
—Ah, carinho. Em meu coração sinto que é minha filha. Deve volta
comigo.
—Estou cansada Sonia. Muito cansada.
Sorriu e jogou a isca. —Seu irmão logo necessitará de você.
Inquieta, joguei minha cabeça sobre seu regaço. —Não sei como
encontrá-lo.
—Mas claro que sabe. Darei a informação a você. —E então começou a
desvanecer-se.
PROJETO REVISORAS TRADUÇÕES
Monere – Os filhos da Lua - 01
—Não, não vá...
Mas não me fez caso e me deixou; já não podia sentir seu contato. —
Procure-me disse em voz baixa—. Encontra-o. Elevei a mão tentando
alcançá-la. Não. Não deixaria que se fosse. Era meu único consolo.
Fiquei de pé, decidida a segui-la, mas estava muito fraca. «Muito fraca»,
sussurrou uma voz. Ouvi uma voz infantil. Meu irmão?
Gemi de dor e debilidade. Requereu-me tanto esforço algo tão simples
como me pôr de pé. Mas Sonia havia dito que meu irmão necessitava de
mim. Assim suando, tremendo, lutei por levantar, por sair, passo a
passo, do profundo abismo.
10
Supina = deitada de costas, elevada. (Aurélio)
PROJETO REVISORAS TRADUÇÕES
Monere – Os filhos da Lua - 01
—Então não era um castigo — remarcou Sandoor com perigosa
suavidade—. Era uma execução. Premeditada. Não porque não a
servisse bem. OH, não. Sem dúvida, estupidamente, serviu-a dando o
melhor de você, como servimos todos a nossas rainhas. E como você,
fomos recompensados por nossa absolutamente estúpida lealdade,
nossos anos de serviço ingrato, com a morte. —Sandoor baixou os olhos
para mim, me olhando cheio de ódio, o que me resultou totalmente
perturbador—. Por quê? Porque indevidamente ficamos muito fortes
para nossas rainhas e seu poder pareceu ameaçado. Centenas, milhares
de nossos melhores guerreiros, os mais fortes, foram massacrados sob o
disfarce do castigo e seguirão morrendo desta desumana maneira a não
ser que arrebatemos o poder das rainhas e façamos que elas nos
sirvam.
—Mona Lisa me salvou — protestou Amber.
—Porque necessitava de você, era uma nova rainha e estava
vulnerável.
—Ela não é como as outras rainhas, pai.
Sandoor riu de seu filho com um enorme desprezo.
—É que ainda não aprendeu, filho, que todas são muito doces no inicio?
Mas esses olhos que o olham com cálida ilusão e afeto durante esses
primeiros anos fugazes, tornam-se duros, receosos e temerosos ao ver
crescer seu poder até que, no final, o expulsa de seu leito. —inclinou-se
para Amber, sussurrando em seu rosto—. E então o destrói.
Sandoor retrocedeu e varreu meu corpo com seus olhos frios e cheios
de ódio.
—Que doce deve ter sido para poder obter semelhante lealdade de meu
filho, um homem adulto que já deveria ter aprendido as duras lições que
a vida oferece. E, além disso, o mais interessante, foi capaz de salvá-lo
quando já se podia dar por morto. Mostre suas mãos, garota.
Se isso fosse tudo o que queria, com o maior prazer permitiria. As
correntes me impediam de girar as mãos para cima, me obrigando a
retrair os braços e dobrar os cotovelos para poder mostrar as palmas de
minhas mãos para frente.
—Assim tem a habilidade de curar tanto quanto a de ferir com essas
imperfeições indecorosas — murmurou Sandoor—. Possivelmente não
tenhamos que cortar suas mãos depois de tudo.
Capítulo treze
—Amber! —gritei, me movendo para ele.
—Não — disse com uma voz terrivelmente exasperada.
—Faça o que ele disse — endossou Mona Carlisse do outro lado do
cômodo—. Afaste-se lentamente dele — instruiu-me mais brandamente.
Amber se inclinou com as costas apoiada contra a porta, seus olhos
estavam cheios de medo e cólera; era uma combinação bastante
explosiva.
—Faça o que eu disse — disse com dureza.
Fui para o mesmo canto onde ele esteve cuidando de mim, mantendo-
me com vida, e me agachei sobre a manta.
—Amber. —Minha voz saiu tímida, incerta—. O que está acontecendo?
A voz de Mona Carlisse flutuou na escuridão, sua voz estava cheia de
tensão.
Capítulo quatorze
O sol era uma bola de fogo no alto do céu quando despertei. As
enormes mãos de Amber escorregavam por minha coluna em uma lenta
carícia, sentia como o deleitava. Levantei a cabeça e sorri para ele.
—Como se sente? —perguntou brandamente.
—Melhor — disse, depois de pensar por um momento—, e mais forte,
por estranho que pareça. —Verifiquei as amarras de meus pulsos e se
partiram sem dificuldade. Possivelmente ao curar Amber curei também
a mim mesma. Ou possivelmente me recuperei rapidamente depois
obter o descanso que tanto necessitava. Ou possivelmente Amber me
irradiou parte de sua enorme força física. Aquilo provocava novas
dúvidas. Recebiam as rainhas presentes de seus amantes ou só
funcionava na outra direção? Fosse o que fosse estava muito agradecida
por ter recuperado minha força para questionar isso naquele momento.
Arranquei também as algemas de Amber, deixando-o livre.
Ficou de pé comigo nos braços sem dificuldade e depois me deixou no
chão.
11
Tiritar – tremer e/ou bater os dentes de frio ou medo. (Aurélio)
PROJETO REVISORAS TRADUÇÕES
Monere – Os filhos da Lua - 01
—A várias horas de distância — replicou Áquila—. Mas cortam essa
distância rapidamente uma vez que se transformam. —deteve-se e
sorriu—. Entretanto, não há nenhum outro que possa voar.
Amber se dirigiu a Mona Carlisse.
—Tem alguma outra forma, senhora?
—Não — disse Mona Carlisse com pesar.
Amber se virou para Áquila.
—Se for capaz de transportar Mona Carlisse e Casio em sua forma de
águia, eu cuidarei de Mona Lisa.
Áquila assentiu e vi o olhar de silencioso entendimento que trocavam
entre eles. Amber não confiaria minha segurança a Áquila no momento.
Sapatos e roupas foram envolvidos em mantas e pendurados ao redor
de meu pescoço e do pescoço de Mona Carlisse. Passei pelo pescoço e
um ombro a espada e o cinturão de Amber, de tal maneira que a lâmina
desta descansava sobre minhas costas. Era muito mais pesada do que
parecia nas mãos de Amber. Áquila se transformou mais uma vez em
uma majestosa águia e nos esperou pacientemente.
—Ele não sente sede de sangue? —perguntei.
—É um pássaro — respondeu Amber simplesmente—, e não é que
acabe de terminar de lutar.
Amber duvidou antes de transformar-se. —Não tenha medo de mim
quando estiver transformado. Coloquei minha mão sobre o peito de
Amber e sorri para ele. —Não o farei.
Ele depositou um terno beijo sobre minha palma e se transformou.
Selvagens olhos âmbar, perfilados por duas linhas negras, olhavam-me,
a altura de seus olhos era a dos meus estando eu de pé. Estendi a mão
e acariciei sua peluda cabeça. Piscou preguiçoso com aqueles olhos
dourados e virou a cabeça para que pudesse o acariciar detrás da
orelha, fazendo um ruído surdo e profundo, ronronando.
O enorme gato se agachou diante de mim e eu subi em suas costas,
meus braços rodearam firmemente seu pescoço. Depois de dar alguns
passos para assegurar-se de que estava bem sentada, começou a correr
com suaves e longas passadas através da densa mata, lançando-se por
entre as árvores.
Áquila levantou vôo por cima de nós. Com suas garras agarrava
cuidadosamente Mona Carlisse e Casio. A pequena levantou seu ardente
Capítulo quinze
O jardim estava inundado com muita gente; um número incrível de
escoltas, moças, lacaios e curadores que nos olhavam com curiosidade.
Éramos um grupo andrajoso, mas muito pior que nossos farrapos eram
nossos aspectos esgotados. Parecia que os outros membros do Conselho
tinham chegado.
Enquanto abríamos caminho em direção a Grande Casa, escutávamos
os murmúrios as pessoas em voz alta durante todo o caminho.
Imaginava o que estavam vendo: duas escoltas, um deles descamisado,
uma menina selvagem, e duas rainhas, uma delas vestida com um
vestido longo esfarrapado e a outra vestindo unicamente uma camisa de
homem. Na realidade cobria tudo o que tinha que cobrir, mas todos
aqueles olhos masculinos me fizeram completamente consciente de que
estava mostrando parte de minhas pernas nuas. A verdade, encontrava-
me muito esgotada para que aquilo me importasse. Podiam olhar desde
que não tocassem. A cintilante espada de Amber era o elemento
dissuasivo para que não o fizessem. Prestando atenção ao aviso da
espada, os homens que nos observavam se mantiveram a distância, nos
abrindo caminho até aqueles degraus, que nunca antes tinham dado
melhores boas-vindas.
Lá dentro nos encontramos com Mathias, o impecável mordomo, que
não alterou seu semblante no mais mínimo ao ver nosso mais que
irregular traje, embora seus olhos se abrissem com o sobressalto de ver
Mona Carlisse.
Capítulo dezesseis
Esta vez não tive que esperar, nos levaram imediatamente ao grande
salão. Quase todos os assentos do Conselho estavam ocupados e todos
os rostos novos eram de mulher. O príncipe dos demônios e o lorde
guerreiro Thorane eram os dois únicos homens no Conselho, conforme
observei ao entrar.
A rainha de gelo, Mona Louisa, estava lá. E Gryphon também estava.
Soube desde o momento em que entrei na sala e cheirei o purulento
fedor de sua carne decompondo-se. Estava ajoelhado aos seus pés,
exibido como um valioso mascote, com um colar adornado com pedras
preciosas em torno de seu pescoço. Mona Louisa sustentava a correia
com naturalidade entre suas mãos brancas. Tinha o peito nu, o que
permitia todo mundo ver a carne envenenada e podre da parte baixa de
seu estômago. Nervuras de drenagem, entre púrpuras e vermelhas,
estendiam-se em torno da ferida como se esta fosse uma queimadura
grave. Seu coração pulsava muito rápido e sua respiração era débil. Vi
em seus olhos que Gryphon sabia. Estava morrendo.
Mona Louisa ficou involuntariamente rígida durante um segundo
quando me viu, mas depois seu rosto relaxou e se tornou inexpressiva
como uma máscara de porcelana. Engoli minha ira. Mais tarde, prometi
a mim mesma. Faria que pagasse por sua traição.
Ouviram-se gritos abafados entre os membros do Conselho quando
Mona Carlisse entrou detrás de mim e caminhou até o centro, escoltada
por Amber e Áquila. Os únicos rostos que não demonstraram surpresa
foram os de lorde Thorane e o da rainha mãe.
—Rainha mãe. —Fiz uma profunda reverência ante ela—. Senhoras e
cavalheiros do Conselho. Eu gostaria de lhes apresentar à rainha Mona
Carlisse, a quem muitos de vocês reconhecerão. Não morreu, como
podem ver, mas Sandoor a manteve cativa durante estes dez últimos
anos.
Afastei-me para deixar passar Mona Carlisse.
A sala explodiu em um alvoroço de vozes enfurecidas.
Capítulo dezessete
Uma ducha de água quente levou todo meu cansaço. Ao sair do banho
encontrei Gryphon sentado sobre minha cama, me esperando e me fez
recordar a complicada situação a que enfrentava. A quem devia
escolher como amante? Amber ou Gryphon? Amava aos dois. Ambos me
amavam. Qual devia ser minha decisão?
—Perdoe-me — disse Gryphon.
—Por quê?
—Por tudo que sofreu por culpa do que fiz. Porque quase morre.
—OH, Gryphon. —Ofereci uma mão que ele pegou lentamente,
sustentando-a como se fosse terrivelmente frágil. Levei sua mão ao
rosto, acariciando-a meigamente com minha face—. Sua única falta foi
confiar naquela puta traiçoeira.
—Ainda continuam interrogando Mona Louisa e seus homens. Áquila vai
a caminho do acampamento de Sandoor à frente de uma tropa de
guardas e Mona Carlisse se mudou para outros aposentos com suas
escoltas temporárias.
—Onde está Amber?
—Está no quarto contíguo. Permitiu-me estar aqui contigo.
Fechei os olhos por um breve e agonizante momento. Como ia escolher
entre eles? Soltei a mão de Gryphon e ele a retirou. Olhamos um ao
outro.
Thaddeus
Orfanato de Nossa Senhora da Lourdes 5 de janeiro de 1989
Capítulo dezoito
O príncipe Halcyon me esperava na sala da entrada quando
retornamos. Chami e Tomas estudaram ao príncipe dos demônios com
cautela enquanto que Rosemary e seus filhos o saudaram
respeitosamente, inclinando a cabeça. Amber e Gryphon ficaram comigo
enquanto o restante subia para acomodarem-se.
Sentei-me em uma poltrona coberta de pele justo em frente ao fofo sofá
onde repousava Halcyon com despreocupada elegância.
—Terminamos de interrogar Mona Louisa e a seus homens — anunciou
Halcyon—. Miles já foi executado.
—Foi você?
Duvidou um instante. Depois admitiu assentindo com a cabeça.
—Bom — disse friamente.
—Tem sede de sangue, não é verdade? —disse Halcyon em tom de
aprovação.
—Sim. E os outros homens? —perguntei.
—Serão castigados, mas continuarão com vida.
—E Mona Louisa?
—Perderá seu território por sua cumplicidade. Vão transladá-la a um
território menor e de menor importância.
—Cumplicidade? —Levantei uma sobrancelha arrogante—. Ela planejou
tudo. Deveria ter sido executada junto com Miles.
Capítulo dezenove
A desaprovação de meus homens enchia a sala como uma nuvem
negra quando Halcyon partiu. Joguei-me sobre o cômodo sofá onde
Halcyon tinha sentado, deixando que meu corpo relaxasse. Amber se
sentou em uma enorme cadeira em frente a mim. Gryphon permaneceu
de pé apoiado contra a parede; uma sombria e áspera presença.
—Venham — disse, depois que o silêncio foi suficientemente longo—.
Podem gritar comigo.
—Parece que aconteceram muitas coisas desde que parti — disse
Gryphon com uma voz cuidadosamente contida.
Amber resmungou sem indício de humor.
—Caso se refira a Halcyon, sim, fez totalmente pública sua atração e
suas intenções para com nossa rainha. —Não parecia de forma alguma
mais feliz que Gryphon a respeito disso.
—Parece que se preocupa com ela, a sua maneira — acrescentou,
relutante, Amber—. Quando desmaiou depois de castigar ao homem que
abusou de Tersa, foi ele quem a recolheu e a levou ao seu quarto. Devo
—Tem três cassinos — gritou Jamie para mim, mas seu entusiasmo
esfriou ao ver minha expressão sombria—. Não aprova as apostas? —
perguntou-me.
Capítulo vinte
Era bom ser rainha. O Grande Conselho autorizou um avião particular
para meu uso exclusivo. Uma hora mais tarde voávamos a caminho do
aeroporto de LaGuardia. Mas meu coração não era capaz de desfrutar
do luxo, nem dos adornos dourados, nem das comidas e bebidas
gourmet, nem do enorme quarto com cama e ducha que vinham
incorporados ao avião, nem definitivamente de todos os cuidados que
correspondiam ao status de uma nova rainha. Os outros tampouco
desfrutavam. Nossa missão pesava em nossos corações e entristecia
nosso vôo.
—Necessito de sua ajuda, Chami — disse enquanto aterrissávamos —. É
capaz de penetrar em um edifício fechado com chave, sigilosamente, e
passar despercebido?
Chami assentiu, confirmando o que eu suspeitava. Todos nós podíamos
quebrar portas e janelas facilmente com muito pouco esforço, mas
Chami era sigiloso quando atuava. Matava silenciosamente.
—Bom — disse.
Os olhos azuis de Chami brilharam enigmaticamente. Soube que
acreditava que queria utilizar sua mortal destreza como assassino.
—Gryphon, Amber e Chami virão comigo — disse—. Áquila e Tomas
ficarão para cuidar do restante.
—Eu gostaria de lutar por você, senhora — disse Tomas—. Posso ir?
—Seu trabalho cuidando dos outros e de nosso livro de propriedades é
uma tarefa tão importante quanto à outra — disse a ele com delicadeza.
Tomas assentiu com tristeza.
Em LaGuardia nos esperavam duas enormes limusines com chofer,
incluindo quepe, uniforme e tudo isso. Seu aspecto era normal, mas as
aparências não importavam muito tendo em conta que podiam ser
comprados. Não podia me arriscar. Tirei um montão de notas de cem
dólares novinhas e disse aos motoristas:
Capítulo vinte e um
Despertei na semiescuridão, terrivelmente fraca, completamente nua e
encadeada ao chão; ao meu redor estava minha roupa esfarrapada. O ar
era como o árido calor do deserto. Estava do lado de fora, em algum tipo
de pátio, rodeada por um círculo de rostos com diferentes tonalidades
de bronzeado, de um leve dourado até o bronze mais intenso, que me
olhavam com hostil curiosidade de não muito longe. Levei um tempo
para me dar conta do que me incomodava, à parte, é claro, do demônio.
Não havia cores brilhantes. Não havia grama verde, não havia céu azul,
não havia folhas nem amarelas nem vermelhas. Tudo era enervado,
escuro e apagado, virtualmente não havia cores. A única coisa que
destacava ali embaixo era minha pele, intensamente branca, e o sangue
que corria em meu interior, de um vermelho vivo.
Áquila tinha pego uma suíte com quartos que se comunicavam entre si
no Pierre. Devia ser a suíte presidencial ou algo assim. Os quartos eram
enormes, maiores que todo meu apartamento. No dia seguinte liguei a
televisão e coloquei nas notícias locais como tinha por costume, as
PROJETO REVISORAS TRADUÇÕES
Monere – Os filhos da Lua - 01
escutando pela metade com o volume baixo para filtrar qualquer fato
incomum que pudesse indicar o paradeiro de Sandoor. Enquanto, ouvia
também pela metade como Chami instruía a seus três guerreiros
novatos que o escutavam atentamente, totalmente encantados. Eram
Jamie, Tersa e Rosemary.
Chami estava soltando um discurso próprio de um professor
universitário sobre o modo apropriado de sustentar uma adaga quando
uma notícia mencionou um nome familiar e atraiu toda minha atenção.
O motorista de um caminhão adormeceu e este cruzou a estrada se
chocando contra um carro que circulava em sentido oposto, matando os
dois passageiros da frente. Um terceiro passageiro tinha sobrevivido
milagrosamente e se encontrava em condições estáveis hospitalizado no
centro médico do condado de Westchester. O motorista escapou e só
sofreu feridas leves.
Não era mais que outra tragédia de tráfico na alameda do rio
Hutchinson. Nada estranho exceto pelo nome das vítimas: Henry e
Pauline Schiffer. Os pais adotivos de Thaddeus. Em seguida fizeram um
comentário sobre os perigos de dirigir caminhões que atravessavam o
país e dos prazos de entrega tão próximos que com freqüência não
permitiam que os motoristas tivessem o tempo necessário para dormir.
Enumeraram acidentes e estatísticas sobre índices de mortalidade.
Não fiz som algum, mas o repentino martelar de meu coração alertou
meus homens de minha angústia.
—O que acontece? —perguntou Gryphon.
—Os pais de Thaddeus. Acredito que morreram. —Aturdida, agarrei o
telefone e disquei o número do telefone de Pelham que tinha gravado na
memória.
Cinco chamadas. Depois dez. Não havia resposta.
Desliguei e liguei para a informação para obter o número do telefone do
centro médico. Escutei a típica gravação de hospital que dizia:
«Obrigado por chamar o centro médico do condado de Westchester. Se
isto for uma emergência médica, por favor, tecle a tecla de número
quatro. Se ligar de um telefone de... ».
Teclei o número apropriado para que me passassem para a informação
de pacientes ingressados e esperei impaciente que alguém respondesse
por fim a chamada.
Epílogo
Liguei para lorde Thorane para informá-lo do que tinha acontecido com
Sandoor e cinco de seus homens, e descobri que aos outros dois
fugitivos foram mortos em um enfrentamento em Indiana.
Quando mencionei acaloradamente que teria sido maravilhoso se
alguém tivesse nos comunicado aquilo antes, lorde Thorane me
convidou a levar o assunto ante o Conselho em sua próxima reunião. A
ineficiente e incomum comunicação entre os territórios era sua queixa
há muito tempo também, disse com monotonia, e aproveitou para me
recordar a data da próxima sessão.
Enterramos os pais de Thaddeus em uma cerimônia íntima e tranqüila.
Permaneci junto a meu irmão enquanto baixavam os ataúdes de seus
pais as suas respectivas tumbas e fiz uma silenciosa promessa a eles.
Fizeram um bom trabalho o educando. É um jovem maravilhoso. Farei o
melhor que puder em seu lugar. Farei tudo o que puder para mantê-lo
vivo.
Thaddeus combinou com o senhor Compton, que foi primeiro o
advogado de seus pais e agora era o dele, os detalhes da avaliação e
venda da casa. Empacotou suas coisas, escolheu algumas preciosas
lembranças de seus pais, e veio conosco na volta à ilha de Manhattan
onde eu fechei definitivamente meu apartamento.
Um novo avião particular nos recolheu no aeroporto de LaGuardia.
Vinha incluído com o território, informaram-me. Outros montões de
coisas viriam também incluídos em meu novo território, boas e más,
suspeitei. E talvez também Mona Louisa, a puta a quem tinha tirado dali,
deixasse-nos algumas surpresas desagradáveis. Esperava que odiasse
seu novo território e rezei para que se mantivesse muito, muito longe de
mim. Não porque me desse medo, mas sim porque temia matá-la em
nosso próximo encontro.