A memória do geógrafo e a sua obra de valor universal revista nos 100 anos do seu nascimento
Texto Alexandra (aril a
uando, em 1911. nasceu
em Lisboa, ninguém di-
ria que o fil ho do sr. Antó-
nio da drogaria, nos anos
30 , estari a a fundar as ba-
ses científicas da Geogra-
fi a Nacional. Humanism, amante das
artes, erudi to explorador do mundo,
Orlando Ribeiro tornou-se a figu ra ím-
par desta ciência.
Dedicou toda a vida ao ensino e
investigação em Geografia. e é a justo
titulo considerado como O renovador
desta ciência cm Portugal. Foi tam-
bém o geógrafo português do século
XX com maior projeção a nível inter-
nacional, A sua vasta obra revela tam-
bém lima diversid ade de interesses in-
telectuais invulgares. Licenciado cm
Geografi a e História em 1932. Orlan-
do Ribeiro veio a doutorar-se cm 1935
pela Un iversidade de Lisboa com a te-
se "A Arrábida, esboço geográfico~.
Entre 1937 e 1940 (duran te a guerra)
viveu em Paris. e tra balhou na Sor-
36 1AnJAL 11 2 de revC!feiro de 20111 Expresso
bonne, com Marc Bloch. Emmanuel
de Mano nne e A. Demangeon. Em
1940, foi nomeado professor da Uni-
versidade de Coimbra, mas ra pida-
mente se voltou a instalar em Lisboa,
onde fu ndou, em 1943. o Centro de Es-
tudos Geográficos.
Da sua intensa atividade científi-
co-académica des taca-se "Portugal, o
Mediterrâ neo e o Atlântico". Mas não
ORLANDO RIBEIRO:
ITINERÂNCIAS DE UM GEÓGRAFO
de António J~ Saraiva
e Manuel Carvalho Gomes
RTP2, domingo, 21h
menos importante é a publicação regu-
lar que coordena a partir de 1966 des-
de o Centro de Estudos Geográficos. a
revista "Finisterra", até hoje a princi-
pal publicação da Geografia pOl"lllglle-
sa com projeção internacional.
O interesse intelectual de Ribeiro
pela História, Antropologia e Etnogra-
fi a foi desenvolvido essencialmente en-
quanto diScípulo de David de Melo Lo-
pes e de Lei te de Vasconcelos. Ribeiro
lançou-se tam bém na Geologia com
Carlos Teixeira. Trabalhou ainda com
Juvenal Esteves, Barahona Fernandes
e Celestino da Costa.
A homenagem merecida surge ago-
ra em forma de documentário cem
anos de pois do seu nascimento e pani-
lha com o público os seus cadernos de
campo e as fotos da sua inseparável
Leica. E é t'xatamente isso, o olho do
geógrafo. que este filme pretende reu-
nir mostrando a absoluta riqueza obti-
da através desse prisma tão perspicaz
e sensível. A câmara de António Joâo
Sarai va e Manuel Carvalho Gomes via-
jou pelos luga res que o mestre Orlan-
do Ri beiro nos ajudou a compreender
e a amar. A Arrábida ... a Beira Baixa ...
a Madeira ... os Capel inhos ... a Ilha do
Fogo, em Cabo Verde .
Uma visita acom panhada pela nar-
ração na primeira pessoa da vida e
obra do geógrafo, apOiando-se em ex-
certos do própriO autor e recorrendo
também a depoimentos de personali-
dades com quem se cruzou. Ilídio do
Amaral, Jorge Gas par e Raquel Soeiro
de Brito seus diScípulos, e José Malto-
so ou António Bar reto são alguns dos
interve nientes que nos aj udam a co-
nhecer toda a dimensão da obra de Or-
lando Ribeiro. Todos são unânimes
cm caracterizá-lo. Homem de espírito
curioso e independe nte não só apren·
deu geo logia, como rez reflexões meto-
dológicas no do mínio da biologia e
buscou-as na medicina, partilhando a
inspiração uni\lersalista da literatura
e da música. A