You are on page 1of 15

Da Observação Participante a Pesquisa-Ação: uma Comparação Epistemológica para

Estudos em Administração
Marcos Eduardo dos Santos

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo compreender mais precisamente o que vêm a ser os
métodos de pesquisa sociais denominados observação participante e pesquisa-ação,
utilizando-se de comparações e inter-relações entre seus diversos aspectos, tais como
conceitos, objetivos e características, visando fornecer uma base referencial a ser aplicada em
estudos de Administração. O estudo inicia-se com um debate filosófico entre pesquisa
quantitativa e qualitativa, visando contextualizar o escopo do estudo sobre os paradigmas
positivistas e interpretativos. Em seguida, são descritos os conceitos, objetivos, características
e etapas dos métodos propostos, além de uma visão crítica sobre os métodos de pesquisa de
aproximação em relação aos positivistas. Concluindo o artigo percebe-se que a singularidade
da pesquisa-ação está em utilizar-se de um processo cíclo interativo a fim de provocar
mudanças num dado sistema sócio-técnico. Já a observação participante, que consiste na
participação do pesquisador no cotidiano de um grupo ou organização, em contato direto com
os observados, como se um deles fosse, permite ao investigador científico captar dados,
símbolos, particularidades que não o seriam em uma observação quantitativa.

1 INTRODUÇÃO

Os métodos e técnicas utilizados atualmente em pesquisas sociais e humanas são


decorrentes da evolução social, cultural e econômica das sociedades. Inicialmente, as teorias
formuladas tinham como referência às sociedades primitivas, as quais se organizavam
coletivamente, tanto para pescar, caçar, plantar, comer, dormir e se divertir. Havia um líder
que exercia o comando sobre todas essas pessoas, determinando como deveriam se comportar
perante a sociedade. Apesar de seu poder, esse líder não tinha posse alguma, pois todos os
bens eram coletivos. Já na idade média as pessoas passarão a se reunir em feudos, ou seja, o
proprietário da terra cedia parte de sua propriedade para seus vassalos morarem e produzirem,
cobrando parte da produção em troca. Isto contribuiu para a formação da sociedade burguesa,
que se caracterizou pela institucionalização do dinheiro (ouro, prata, papel moeda),
surgimento das primeiras empresas e instituições financeiras, concentração de capital nas
mãos de poucos e das cidades. Na era moderna, as pessoas sentiram que o campo não fornecia
a comodidade necessária à vida moderna. Assim, a migração do campo para as cidades foi
intensa neste período, fornecendo mão de obra e consumidores para o crescimento das
empresas.
Com desenvolvimento desse contexto sócio-econômico-cultural, surgem diversas
técnicas e métodos de pesquisa visando à busca pela maior eficiência na execução de tarefas e
na maximização de resultados organizacionais. A ênfase no controle quantitativo torna-se o
epicentro do positivismo empresarial, levando os clássicos como Taylor e Ford a definirem
formas científicas para a organização da produção. Apesar do foco destes autores estar no
chão de fábrica, suas propostas (estudo de tempos e movimentos, linha de comando e
especialização) atingiu também o escritório, ao demandar controle sobre os recursos de
produção, dando espaço à estatística e a contabilidade. No entanto, sua idéia de “homem
econômico” choca-se com os interesses dos funcionários, já que estes além de terem uma
remuneração justa, desejavam ser reconhecidos como seres racionais e emotivos e não apenas
como mais um recurso de produção.
Num terceiro momento, a descaracterização do trabalho individual pelo trabalho
coletivo, centrado na produção de bens, passa-se, gradativamente, a um retorno da busca do
indivíduo no processo de produção, ampliando-se o centro da análise da fábrica para a vida
individual e social. O método de pesquisa passa a incorporar a preocupação não somente com
o processo de trabalho como meio de produção e produtividade, mas com o próprio agente
como ser social. As dimensões humanas passam a ser condicionantes de um processo
administrativo. Procurando-se explicar os processos sociais e psicológicos que ocorrem no
interior das organizações em decorrência das necessidades humanas. Sendo a observação
participante e a pesquisa-ação dois dos métodos de pesquisa social mais utilizados nos estudos
da Administração, portanto, justificados de serem estudados em detalhes.
Diante do exposto, este trabalho tem por objetivo compreender mais precisamente o
que vêm a ser os métodos de pesquisa sociais denominados observação participante e
pesquisa-ação, utilizando-se de comparações e inter-relações entre seus diversos aspectos,
tais como conceitos, objetivos e características, visando fornecer uma base referencial a ser
aplicada em estudos de Administração.

2 DEBATE FILOSÓFICO ENTRE PESQUISA QUANTITATIVA E QUALITATIVA

Os métodos de pesquisa podem ser classificados de várias maneiras, entretanto a mais


comum é pela distinção entre métodos de pesquisa qualitativos e quantitativos. Os
quantitativos foram originalmente desenvolvidos nas ciências naturais a fim de estudar os
fenômenos da natureza. Já os métodos qualitativos foram criados nas ciências sociais devido à
necessidade de conhecimentos acerca dos fenômenos sociais e culturais dos seres humanos
(Myers, 2003).
Porém, a motivação em adotar um método qualitativo, em oposição ao quantitativo,
foi devido ao fato que distingue o objeto de estudo dessas ciências, o ser humano é capaz de
pensar acerca de suas ações e reações. Kaplan e Maxwell (1994) argumentam que “o objetivo
de entender o fenômeno do ponto de vista do participante e em um particular contexto social e
institucional é altamente dispersado quando dados textuais são quantificados”.
No entanto, esta distinção levou alguns investigadores a sentirem-se compelidos a
adotar uma ou outra abordagem como sua principal orientação de pesquisa e formar
comunidades de pesquisa onde as palavras “quantitativo” e “qualitativo” são vistas como
associadas a “formas impróprias” de investigação (Kock, 1997, citado por Jesus, 2001).
Embora muitos pesquisadores façam uma opção em direcionar seus trabalhos para
uma abordagem mais quantitativa ou qualitativa, outros têm sugerido combinar dois ou mais
métodos de pesquisa na investigação, a chamada triangulação. Boas discussões são realizadas
por Kaplan e Duchon (1988).
Além da distinção entre quantitativo e qualitativo, outros distinções são comuns, como
objetivo e subjetivo (Burrell e Morgan, 1979), formulação de leis gerais versus interesse na
singularidade de cada situação e o objetivo de predizer e controlar versus objetivo de explicar
e compreender (Myers, 2003). Uma considerável controvérsia circunda o uso destes termos,
entretanto, uma discussão destas distinções está além do interesse deste trabalho. Mas uma
discussão mais completa pode ser encontrada em Morey e Luthans (1984).
Toda pesquisa (quantitativa ou qualitativa) é baseada em alguma suposição
fundamental sobre quais métodos de pesquisa são válidos. Portanto, antes de desenvolvermos
o debate entre pesquisa-ação e observação participante, ambos métodos de pesquisa
qualitativos, devemos conhecer um dos principais fundamentos teóricos, a Epistemologia.
A Epistemologia refere ao conhecimento e como ele pode ser obtido. Myers (2003),
sugere três paradigmas fundamentais para a pesquisa qualitativa:
ϖ positivismo – assume que a realidade pode ser objetivamente conhecida e pode ser
descrita por propriedades mensuráveis que são independentes do pesquisador e de seus
instrumentos, ênfase em formulações formai, mensuração quantitativa de variáveis, teste
de hipóteses e desenho de inferência acerta do fenômeno a partir de amostras da
população;
ϖ interpretativo – aceita que o acesso à realidade é somente possível através de construções
sociais como a linguagem, consciência e compartilhamento dos significados;
ϖ teoria crítica – assume que a realidade é historicamente constituída e que esta é
produzida e reproduzida pelas pessoas. Entretanto as pessoas podem conscientemente agir
modificando as circunstâncias econômicas e sociais, foca na oposição, conflitos e
contradições da sociedade contemporânea, e busca ser emancipatória a fim de eliminar as
causas da alienação e dominação.
Entretanto é preciso dizer que essa distinção epistemológica é realizada
filosoficamente, mas na prática da pesquisa social estas distinções não possuem limites claros.

3 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
3.1 Conceito

Quando nos referimos à pesquisa qualitativa e em específico a observação participante


surge uma evidente necessidade de construir conhecimentos que podem levar-nos a uma
maior compreensão do fenômeno humano, tanto no trabalho, nas organizações como na vida
em si onde as pessoas não cessam de construir e reconstruir sua maneira de agir e de viver.
Tais conhecimentos provêm de variadas fontes, todas da ciência da vida com predominância
das ciências humanas.
Os autores assim conceituam a observação participante:
“Refere-se à observação procedida quando o pesquisador está desempenhando um
papel participante estabelecido na cena estudada” (Atkinson & Hammersley, 1994).
“Situação de pesquisa onde observador e observado encontram -se face a face, e onde o
processo de coleta de dados se dá no próprio ambiente natural de vida dos observados, que
passam a ser vistos não mais como objetos de pesquisa, mas como sujeitos que interagem em
dado projeto de estudos” (Serva e Júnior, 1995).
“Representa um processo de interação entre a teoria e métodos dirigidos pelo
pesquisador na sua busca de conhecimento, não só da "perspectiva humana” como da própria
sociedade” (Bruyin, citado por Haguette, 1987).
“É um compartilhar consciente e sistemáti co, conforme as circunstâncias o permitam,
nas atividades de vida e, eventualmente, nos interesses e afetos de um grupo de pessoas”
(Florence Kluckholhn, citada por Haguette, 1987).

Para nossos fins, definimos a observação participante como um processo no qual a


presença do observador numa situação social é mantida para fins de investigação
científica. O observador está em relação face a face com os observados, e, em
participando com eles em seu ambiente natural de vida, coleta dados. Logo, o
observador é parte do contexto, sendo observado, no qual ele ao mesmo tempo
modifica e é modificado por este contexto. O papel do observador participante pode
ser tanto formal como informal, encoberto ou revelado, o observador pode dispensar
muito ou pouco tempo na situação da pesquisa; o papel do observador participante
pode ser uma parte integral da estrutura social ou ser simplesmente periférica com
relação a ela (Schwartz e Schwartz, citados por Haguette, 1987).

Portanto, observação participante é um método em que o pesquisador toma parte do


cotidiano do grupo ou organização pesquisada, até desempenha tarefas regularmente, tudo
com o intuito de entender em profundidade aquele ambiente, algo que a metodologia
quantitativa não pode fazer.
A antropologia é marcada em sua gênese pelo contexto histórico, pela ambientação
existente quando da sua origem. Entre as décadas de 80 e 90 vários antropólogos surgem
como pesquisadores que passam a utilizar em seus estudos o trabalho de campo. Substituem
assim os seus métodos antigos baseados na investigação realizada com alguns informantes, ou
a partir de questionários auxiliados por tradutores, ou ainda a observação direta do
comportamento dos indivíduos pesquisados, porém de maneira superficial e rápida. Tais
pesquisadores, com um destaque para Malinowski, que foi quem introduziu a utilização da
observação participante na pesquisa de campo, através da participação cotidiana por longos
períodos, na vida de seus pesquisados e realizando suas observações pertinentes, criando
assim, um novo método de pesquisa denominado de observação participante.
A observação refere-se, segundo Serva e Júnior (1995), a uma situação de pesquisa
onde observador e observado encontram-se numa relação face a face e onde o processo de
coleta de dados se dá no próprio ambiente natural de vida do observado, que passa a ver isto
não mais como um objeto de pesquisa, mas como sujeito que interage em um dado projeto de
estudo. A vivência dessas situações pode proporcionar maiores angústias no pesquisador,
comparativamente às outras metodologias de pesquisa, pois traz maiores dificuldades e
obstáculos comportamentais a serem transpostos.
Tão logo se coleta os dados durante a observação participante é importante adotar um
modo de organizar as anotações escritas. Pode simplesmente colocar as notas, do estágio
exploratório em ordem cronológica em uma pasta e arquivar; ou quando se trata de um
assunto mais extenso e complicado, com maior volume de anotações, diferentes grupos e/ou
problemas, faz-se necessário subdividir as notas, organizando-as por tópicos, com pastas para
cada assunto da pesquisa, para cada tópico da entrevista, ou simplesmente organizar as
anotações por grupo de foco, e se necessário, mais tarde reorganizar-se.
Como se pode observar, “a escolha para utilizar a observação participante dá primazia
à experiência pessoal vivida no campo, evitando o aprisionamento do pesquisador em
apriorismos. Por outro lado, isso não significa, em absoluto, que não se disponha de quadros
referenciais teóricos sólidos. Estes se constituem, inclusive, numa das condições básicas para
a boa implementação da metodologia”. (Serva e Júnior,1995).
O pesquisador de campo depende inteiramente da inspiração que lhe oferecem os
estudos teóricos, conhecer bem a teoria e estar a par de suas últimas descobertas não significa
estar sobrecarregado de idéias preconcebidas. Se um homem parte numa expedição decidido a
provar certas hipóteses e é incapaz de mudar seus pontos de vista constantemente,
abandonando-os sem hesitar ante a pressão da evidência, sem dúvida seu trabalho será inútil.
As idéias preconcebidas são perniciosas a qualquer estudo científico; a capacidade de levantar
problemas, no entanto, constitui uma das maiores virtudes do cientista, esses estudos são
revelados ao observador através de seus estudos teóricos (Richard, 1987 citado por Serva e
Júnior, 1995)
Saber entender e respeitar o ritmo de ação e de interação do grupo pesquisado é um
passo decisivo para se viver à vida de uma unidade social, e ser aceito e legitimado pelo grupo
é essencial, mas isso é eminentemente fruto de um processo relacional, variando bastante de
um grupo a outro. Não se pode esperar que todos os membros do grupo observado aceitem o
pesquisador e forneçam as informações desejadas, é preciso respeitar os que não querem
participar da pesquisa. A humildade, o saber escutar também são indispensáveis à
característica do observador.
3.2 Características

A principal característica que pode ser observada em uma pesquisa que se utiliza da
observação participante é que esta realiza uma análise seqüencial, ou seja, algumas das
análises são realizadas durante o próprio processo de coleta dados; fazendo com que a
próxima coleta tome um sentido a partir de análises condicionais .
A utilização da observação participante requer algumas habilidades adicionais face às
metodologias tradicionalmente empregadas na pesquisa. É necessário operar uma mudança
profunda na postura do pesquisador, que deve assumir a postura do antropólogo,
principalmente durante o trabalho de campo. Esta favorece o desenvolvimento de habilidades
de ordem comportamental.
A observação participante é indicada em situações nas quais a evidência qualitativa é
usada para captar dados psicológicos que são reprimidos ou não facilmente articulados como
atitudes, motivos, pressupostos, quadros de referência ou situações nas quais simples
observações qualitativas são usadas como indicadores do funcionamento complexo de
estruturas e organizações complexas que difíceis de submeter à observação direta (Haguette,
1987).
O método pode ser indicado para testar hipóteses ou estabelecê-las a partir da pesquisa
de campo, ou mesmo, modificá-las no decorrer do processo. Mas de qualquer forma, é
indispensável que o pesquisador tenha uma boa base teórica a respeito do que vai ser o objeto
de estudo. Quanto maior o conhecimento teórico a respeito do tema, mais eficaz será o
trabalho.
Esse tipo de pesquisa permite um aumento da compreensão dos processos
organizacionais, pois possibilita o pesquisador um acesso direto aos dados da pesquisa,
permitindo um maior nível de obtenção das informações pertinentes ao observador; o que faz
desse método de pesquisa ser considerado, por parte dos pesquisadores, o melhor método
dentre os da metodologia qualitativa.
A coleta de dados se dá através da participação do pesquisador na vida cotidiana do
grupo ou organização que estuda, observando as pessoas que está estudando para ver
situações com que se deparam normalmente e como se comportam diante delas; entabula
conversações com participantes e descobre as interpretações que eles têm dos acontecimentos,
isto segundo Becker (1987), ou seja, há a presença constante do observador nas atividades do
grupo ou organização pesquisada a fim de que ele possa “ver as coisas de dentro” (Haguette,
1987). Nesse caso o pesquisador adota dois papéis, participa das atividades da organização ao
mesmo tempo em que as observa (Godoy, 1995). O pesquisador pode ter uma postura passiva
– quando interage com os observadores o mínimo possível – ou ativa – que maximiza sua
participação, no sentido de obter uma qualidade maior de dados.
Entretanto, essa metodologia possui suas desvantagens, pois a partir do momento em
que as informações são filtradas pelo pesquisador, esse passa a assumir praticamente toda a
responsabilidade frente à interpretação, que se baseia na subjetividade e no pensamento
racional de cada entrevistador, podendo assim, distorcer as informações recebidas, além do
que, com o convívio pessoal entre pesquisador e seus pesquisados, poder influenciar
negativamente durante a realização da entrevista e da interpretação dos dados.
Portanto, o reconhecimento dos limites e dos riscos dessa metodologia deve ser
considerado quando o pesquisador vai “a campo”, e fazem parte de alguns entraves dos
processos que a antropologia deve considerar, para estar sempre se evoluindo no conjunto das
ciências humanas.
3.3 FASES

A observação participante apresenta três estágios na análise de campo, que são:


1) a seleção e definição de problemas, conceitos e índices;
2) controle sobre a freqüência e a distribuição de fenômenos;
3) a incorporação de descobertas individuais num modelo da organização em estudo. Após a
fase da análise de campo, tem-se o quarto estágio, que é a análise final e diz respeito à
apresentação de evidências e provas (Becker, 1987).

3.3.1 Seleção e definição de problemas, conceitos e índices

Para tornar uma observação parte de um contexto teórico sociológico, é preciso que
um observador defina conceitos e identifique problemas para serem pesquisados e estudados.
Ele da vida a um modelo teórico se baseando no caso particular em que se encontra sua
investigação, mas direciona seus prováveis modelos de forma que venha a atender descobertas
futuras.
Este estágio consiste na identificação de possíveis entraves e conceitos, que venham a
promover um maior esclarecimento e conhecimento das organizações que fazem parte do foco
de estudo, e onde o pesquisador procura por “objetos” que o subsidie de importantes
informações, o que seria muito difícil e complicado de ser identificado, caso não houvesse
essa investigação.
“Esteja ele definindo problemas ou selecionando conceitos e indicadores, o
pesquisador está, neste estagio, utilizando seus dados somente para especular
sobre possibilidades. Operações posteriores nos estágios seguintes pode forçá-lo a
abandonar a maioria de suas hipóteses provisórias. Todavia, problemas de
evidência se colocam mesmo nesse ponto, pois o pesquisador precisa avaliar os
itens individuais nos quais suas especulações estão baseadas, de modo a não
desperdiçar tempo seguindo pistas falsas.” ( Becker, 1997)

O pesquisador precisa estar atento às pistas falsas e a manipulação de respostas, assim


como, a obtenção de informações incorretas e incompletas. Para reduzir ou mesmo eliminar
tais problemas, ele pode adotar alguns testes a aplica-los à medida parecerem ser
recomendáveis e que se faz necessário. Os possíveis testes que podem ser aplicados são os
seguintes: a credibilidade de informantes, declarações espontâneas ou dirigidas, a equação
grupo-informante-observador.

3.3.2 Controle da freqüência e da distribuição de fenômenos

Após o estágio de identificação dos problemas de criação dos conceitos e dos


indicadores provisórios, o observador precisa saber escolher quais desses que compensam e
que devem ser levados à diante no seu processo de pesquisa.

“Em parte, ele o fez descobrindo se os acontecimentos que incitaram seu


desenvolvimento são típicos e disseminados, e observando como estes
acontecimentos estão distribuídos entre as categorias de pessoas e subunidades
organizacionais. chegam assim a conclusões que são essencialmente qualitativas,
utilizando-as para descrever a organização que estuda.” ( Becker, 1997)

Os dados adquiridos pela observação participante são dados padronizados que permitem
que se façam observações e perguntas semelhantes a diversos entrevistados, e se não fosse a
existência do campo para a coleta de dados, tais dados poderiam ser considerados
estatisticamente ou como dados estatísticos legítimos, mas são reconhecidos pelos
pesquisadores como dados “quase estatísticos”. Portanto suas conclusões não requerem
quantificação precisa.
Portanto, o observador na hora de determinar sua conclusão, poderá seguir as
características dos estatísticos, os quais usam a probabilidade, baseada em valores de
variáveis de correlação e significância, onde sua conclusão se apresenta sob a forma de poder
ser mais ou menos exata, ao contrário de quando argumenta que sua conclusão é totalmente
verdadeira ou totalmente falsa.

3.3.3 Construção de modelos de sistema sociais

Este é o estágio final da pesquisa de campo, que se baseia na absorção de descobertas


relacionadas ao modelo de sistemas ou de organização social que faz parte do estudo. Neste
estágio, o observador descreve seu relatório final sobre a coleta de campo, proporcionado uma
explicação eficaz sobre os dados que reuniu.
Porém, para conseguir tal conclusão, o pesquisador inicia seus modelos relacionando-
os às partes das organizações em que possa gradativamente obter contato, e daí, vão surgindo
novos conceitos e problemas. A partir do momento em que determina seu modelo final, que
retrata todas as relações descobertas entre os objetos que estão inseridos nessa parte, o
observador refina seu modelo, melhorando assim, a precisão do seu modelo, lhe
proporcionando maior garantia das evidencias que não se encaixava com suas formulações
posteriores. E assim, após o acumulo desse vários modelos, ele busca conexões existentes
entre eles e passa a construir um modelo global da organização, que envolve um todo.
Segundo Becker (1997), a conclusão típica deste estágio da pesquisa é uma afirmação
sobre o conjunto de complicadas inter-relações entre muitas variáveis. Embora algum
progresso venha sendo realizado na formalização desta operação, através do uso da análise
fatorial e da análise de relações para dados de “survey”, os que trabalham com a observação
geralmente encaram as técnicas estatísticas correntemente disponíveis como inadequadas para
expressar suas concepções, e acham necessário utilizar palavras. As conclusões mais comuns
neste nível abrangem: afirmações complexas sobre as condições necessárias e suficientes para
a existência de algum fenômeno; afirmação de algum fenômeno é um elemento “importante”
ou “básico” na organização; afirmações que identificam uma situação como um exemplo de
algum processo ou fenômeno descrito mais abstratamente na teoria sociológica.

3.3.4 Análise final e a apresentação dos resultados

Esta análise final que é feita após todo o trabalho de coleta de dados no campo,
compreende em realizar uma nova conferência e reestruturar os modelos até então
desenvolvidos, e com uma atenção redobrada, pois é uma fase de suma importância para o
observador. Nesse estágio, que muitos pesquisadores denominam de pós-trabalho de campo,
serve para proceder na construção do modelo final. E finalmente, o observador termina seu
trabalho de construção desse novo modelo, quando reestrutura e reorganiza as interconexões
dentre todos os modelos até então desenvolvidos, de modo a obter um resultado final dos
aglomerados de conclusões anteriores.
4 O CONHECIMENTO PELA PESQUISA E INTERVENÇÃO
4.1 O recorte teórico da pesquisa-ação – conceitos e objetivos

Remotamente já havia traços da pesquisa-ação nos trabalhos dos teóricos clássicos da


Administração, como Max Weber, Émile Durkheim e até mesmo em Karl Marx, os quais são
citados como pais da sociologia. A fim de desenvolver suas teorias sociais eles
consequentemente criaram novos métodos de investigação. Weber estudou o fenômeno
burocrático nas organizações; Durkheim utilizou a estatística no estudo do suicídio e Marx
não só analisou a concentração do capital a partir da mais-valia sobre o trabalho dos operários
como propôs a estes sua organização para lutar contra esta alienação e exploração. Assim,
quando o pesquisador participa das ações pesquisadas com um esforço de planejamento com
vistas à resolução de problemas ou transformação de situações, estamos diante de uma
metodologia de pesquisa-ação (Becker, 1987).
No entanto, Kurt Lewin nos anos 40 foi o primeiro pesquisador a utilizar o termo
“pesquisa-ação” para referir a uma pesquisa de aproximação em que o pesquisador procura
novos conhecimentos sociais acerca de um sistema social, ao mesmo tempo em que tenta
modificá-lo (Alavi, 1993).
Uma das razões para a emergência da pesquisa-ação é o reconhecimento de que um
sistema social pode ser mais profundamente entendido se o pesquisador torna-se parte do
sistema sócio-técnico que está sendo estudado, que pode ser realizado com sucesso aplicando
intervenções positivas no sistema. Este envolvimento também favorece a cooperação entre
pesquisador e aquele que estão sendo estudados, troca de informações, e o comprometimento
da qualidade da pesquisa e o desenvolvimento organizacional. Esta situação pode ser
observada no estudo de Eric Trist (Fox, 1990 citado por Kock Jr., McQueen, Scott, 2003).
Nesse momento torna-se relevante buscar nos conceitos dos teóricos de pesquisa-ação
mais citados elucidações para este método. Para Rapoport (1970), a pesquisa-ação “objetiva
contribuir tanto para interesse práticos das pessoas em uma situação de imediata problemática
tanto para as metas da ciência social pela união colaborativa em uma estrutura étnica
aceitável”. Esta definição chama a atenção para o aspecto colaborativo da deste método de
pesquisa e para a possibilidade de dilemas étnicos.
Já O’Brian (2001), um pouco mais sintético, define pesquisa-ação como “aprender
fazendo”, ou seja, um grupo de pessoas identifica um problema, fazem algo para resolve-lo,
vêem se obtiveram sucesso, se não tentam novamente.
No Brasil um dos grandes nomes da pesquisa-ação é o professor Michel Thiollent que
define pesquisa ação como “um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e
realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e
no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão
envolvidos de modo cooperativo ou participativo” (Thiollent, 1994).
Como o próprio nome sugere, a pesquisa-ação tem como objetivos, a pesquisa e a
ação:
ϖ pesquisa para aumentar o entendimento por parte do investigador ou do cliente, ou ambos.
ϖ ação para provocar mudança em alguma comunidade ou organização ou programa;

4.2 Princípios e características

Winter (1989), citado por O’Brien (2001), apresenta em seu trabalho seis princípios
que guiam a pesquisa-ação, os quais são sintetizados em seis palavras-chave:
ϖ reflexão crítica – este princípio assegura que os participantes refletem sobre as questões e
processos e tornam explícita a interpretação, vieses, suposições e preocupações sobre os
julgamentos que eles fazem. Desta forma, avaliações práticas podem originar
considerações teóricas.
ϖ crítica dialética – faz-se necessária para entender o conjunto de relacionamento entre o
fenômeno pesquisado e seu contexto, e entre os elementos que o constituem. Os elementos
chaves a serem focados são aqueles que o participante considera instáveis ou contrários a
outros, esses são os que mais provavelmente provocarão mudanças.
ϖ recursos colaborativos – os participantes de um projeto de pesquisa-ação são co-
pesquisadores. Esse princípio pressupõe que as idéias de cada participante são recursos
potenciais para a análise interpretativa, negociada entre as partes. Isto evita a condição de
idéia-proprietária, tornando possível a manifestação de vários pontos de vistas.
ϖ risco – o processo de mudança potencialmente ameaça todos os caminhos previamente
estabelecidos, assim criando um temor psíquico nos participantes. Um dos maiores medos
vem da dúvida de como idéias e julgamentos em uma discussão aberta serão interpretados
por cada participante, ameaçando todo o processo.
ϖ estrutura plural – a natureza deste tipo de pesquisa encorpora uma multiplicidade de
visões, comentários e críticas, conduzindo a múltiplas interpretações e ações. Esta
estrutura plural de investigação requer um texto plural para ser relatado. Isto significa que
haverá muitos apontamentos explícitos, com comentários sobre cada contradição, e uma
série de sugestões a ser apresentada. Um relatório, portanto, agirá como um suporte à
contínua discussão entre os colaboradores, em oposição a uma conclusão final de fato.
ϖ teoria, prática e transformação – para os pesquisadores da pesquisa-ação a teoria instrui a
prática, a prática refina a teoria, em uma transformação contínua. Em alguns grupos, as
ações das pessoas são baseadas em uma estrutura implícita de suposições, teorias e
hipóteses, e a partir dos resultados observados, o conhecimento teórico é desenvolvido.
Isto é necessário para que o pesquisador possa tornar explícitas as justificações teóricas
pela ação, e para questionar as bases destas justificações. Os resultados práticos
decorrentes das justificações apoiam as análises, em um ciclo transformativo que
continuamente alterna ênfase entre teoria e prática.
Para Susman e Evered (1978), o ponto forte da pesquisa-ação é o seu caráter prático.
Para estes autores, suas principais características são:
ϖ orientação para o futuro, facilitando a criação de soluções voltadas para um futuro
desejável pelos interessados.
ϖ colaboração entre pesquisadores e clientes;
ϖ desenvolvimento de sistema, ou seja, o dispositivo de pesquisa-ação desenvolve a
capacidade do sistema de identificar e resolver problemas;
ϖ geração de teoria fundamentada na ação, que pode ser corroborada ou revisada por meio
da avaliação de sua adequação à ação;
ϖ não-predeterminação e adaptação situacional, as próprias relações estabelecidas na
situação de pesquisa variam e não são totalmente previsíveis.
Já para Thiollent (1994) os principais aspectos da pesquisa-ação, considerando-a uma
estratégia metodológica de pesquisa, são:
ϖ há uma ampla e explicita interação entre pesquisadores e pessoas implicadas na situação
investigada;
ϖ desta interação resulta ordem de prioridade dos problemas a serem pesquisados e das
soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta;
ϖ o objetivo de investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela situação social e
pelos problemas de diferentes naturezas encontrados nesta situação;
ϖ o objetivo da pesquisa-ação consiste em resolver ou, pelo menos, e esclarecer os
problemas da situação observada;
ϖ há, durante o processo, um acompanhamento das decisões, das ações e de toda a atividade
intencional dos atores da situação;
ϖ a pesquisa não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo), pretende-se aumentar o
conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou o “nível de consciência” das
pessoas e grupos considerados.
O que distingue este tipo de pesquisa das práticas profissionais de consultoria, ou
resolução cotidiana de problemas é a ênfase no estudo científico, que diz ao pesquisador para
estudar o problema sistematicamente e garantir que a intervenção seja baseada em
considerações teóricas.

4.3 Etapas de um projeto de pesquisa-ação

Antes de mencionarmos quais são as etapas de um projeto de pesquisa-ação, o


pesquisador deve antes refletir sobre algumas questões que o guiarão durante o processo, as
quais, segundo Field (2003) poderiam ser:
ϖ O que você quer aprender com o resultado desta pesquisa?
ϖ Que QUESTÕES você irá explorar?
ϖ O que você quer modificar?
ϖ O que você quer testar?
ϖ Que ESTRATÉGIA você usará para obter informações antes e durante o estudo?
ϖ Que tipo de ANÁLISE você irá fazer para descobrir se houve mudanças?
ϖ Alguma coisa mudou em decorrência de sua intervenção?
ϖ Como você sabe?
A pesquisa-ação apresenta-se como uma proposta de pesquisa de natureza cíclica,
qualitativa e participativa. A participação pode gerar um compromisso maior e,
consequentemente, ação. Quando a mudança é o resultado desejado, ela é mais facilmente
alcançada se as pessoas estão comprometidas com o processo de mudança. Além de ser
normalmente participativa, a pesquisa-ação representa uma sociedade ou aliança entre o
pesquisador e seus “clientes” (Jesus, 2001).
Susman e Evered (1978) vêem um projeto genérico de pesquisa-ação como um
processo cíclico que estes autores denominam “ciclo da pesquisa-ação”, compreendendo
cinco etapas: diagnóstico, planejamento da ação, ação, avaliação e aprendizagem, como visto
na Figura 1.

Diagnóstico

Planejamento
Aprendizado da Ação

Avaliação Ação

FIGURA 1 O ciclo da pesquisa-ação


Fonte: adaptado de Susman e Evered (1978).
A fase de diagnóstico envolve a identificação e definição de uma oportunidade de
melhoria ou de um problema a ser resolvido na organização. O planejamento da ação envolve
a consideração de cursos alternativos de ação para atingir a melhoria ou para resolver o
problema. A etapa de ação envolve a seleção e a realização de um dos cursos de ação
considerados na etapa de planejamento. A etapa de avaliação envolve a reunião e
classificação das evidências de pesquisa pertinente, baseada na implementação do curso de
ação selecionada. Finalmente, a etapa de aprendizado corresponde à avaliação do aprendizado
da organização e do pesquisador com a realização do trabalho. Esta etapa especifica e
identifica os ensinamentos da experiência (Jesus, 2001).
Uma das principais razões por que a pesquisa-ação é vista preferivelmente em ciclos é
a oportunidade de fortalecer as descobertas da pesquisa pelas evidências advindas nas
diversas interações.

4.4 Críticas à pesquisa-ação

Neste ponto tornam se necessários comentários sobre três aspectos que geralmente são
alvos de críticas de teóricos positivistas, a saber: contingência das descobertas da pesquisa;
baixo controle do ambiente e superenvolvimento pessoal.
Segundo Orlikowski e Baroudi (1991) citados por Kock Jr., McQueen, Scott (2003), a
contingência das descoberta de pesquisa é uma característica criticada devido ao fato de que
relações entre variáveis não são reveladas por métodos determinísticos, assim a pesquisa-ação
seria inapropriada para produzir modelos com alta validade externa, ou seja, resultados
válidos fora do contexto do projeto onde foi aplicada. Para Galliers (1992) citado por Kock
Jr., McQueen, Scott (2003), isto ocorre porque a maioria dos projetos de pesquisa-ação
envolve pequeno número de participantes estudados em profundidade e freqüentemente
estudos longitudinais, e muito raramente o nível de generalização é aceitável.
Baixo controle do ambiente é criticado por Orlikowski e Baroudi (1991) citado por
Kock Jr., McQueen, Scott (2003) como a principal razão da pesquisa-ação ser vista como
inapropriada para testar ou produzir boas teorias, ou reconstruir modelos de pesquisa baseados
em evidências concretas. A influência de uma variável particular pode levar muito tempo até
que seja isolada em estudos de pesquisa-ação; testar e refinar um modelo causal onde uma
variável dependente seja influenciada por um conjunto de variáveis independentes necessita
de um exame cuidadoso.
Orlikowski e Baroudi (1991) citado por Kock Jr., McQueen, Scott (2003), também
comenta que um superenvolvimento pessoal entre pesquisadores e seus “clientes” impede
uma boa pesquisa por introduzir viéses pessoais nas conclusões. Isto é particularmente
verdadeiro em situações que envolvem conflito de interesses.
Ketchum e Trist (1992) vêem a freqüência das interações no ciclo da pesquisa-ação
como melhoria da concepção do pesquisador sobre o sistema sócio-técnico, Figura 2,
expresso nas descobertas da pesquisa e no estágio de aprendizado em cada ciclo. Isto pode ser
obtido devido à expansão do escopo da pesquisa e reconstrução de resultados por meio da
identificação de padrões invariáveis, consequentemente incrementando o rigor metodológico
e a validade externa da pesquisa.
ac av
Escopo da
Pesquisa pj ap
ciclo n
di
ac av

pj
ciclo n-1 ap
di

ac av

pj
ciclo 2 ap
di
ac av

pj ciclo 1 ap

di Generalização
do modelo

Figura 2 Relacionamento entre escopo de pesquisa e generalidade do modelo.


Obs.: di – diagnóstico, pj – planejamento, ac – ação, av – avaliação e ap – aprendizado.
Fonte: adaptado de Kock Jr., McQueen, Scott, 2003.

À luz das pressuposições de Ketchum e Trist (1992), não temos como interesse
fornecer uma justificativa ao uso da pesquisa-ação para que seja tolerada pelos positivistas,
mas em melhor demonstrar que esse método possui vantagens que tornam infundadas
algumas de suas críticas.
A validade interna é uma medida da consistência dos resultados da pesquisa e não é
necessariamente relacionada com a validade externa, que uma medida do grau de
generalização dos resultados do estudo. Dizer que os resultados de uma pesquisa são
altamente contigenciais é o mesmo que dizer que eles têm uma baixa “validade externa”.
Porém, a principal razão de confiança na alta validade externa dos resultados de
pesquisa citados por Kock Jr., McQueen, Scott (2003) foi a observação fundamentada nas
interações. De acordo com a aproximação cíclica descrita pela pesquisa-ação, as sucessivas
mudanças através das interações auxiliaram a expandir o escopo da pesquisa, incrementando a
generalização dos resultados. Este efeito é análogo ao escolher uma amostra em uma
população em estudos estatísticos. A vantagem extra desta aproximação é que a experiência
adquirida em interações prévia pode ajudar o pesquisador a melhorar os efeitos da intervenção
em futuras interações, através da coleta de dados sobre as mesmas unidades de análise em
situações relativamente independentes.
Quanto ao baixo controle do ambiente, Kock Jr., McQueen, Scott (2003), comentam
que é inegável que um baixo controle sobre as variáveis de um sistema sócio-técnico que está
sendo estudado pode impedir testes causai entre estas variáveis. Testes entre variáveis, no
entanto, requerem que ambas variáveis sejam claramente definidas antes do pesquisador
iniciar seu projeto. Isto é comumente limita os resultados de pesquisa ao focar a pesquisa em
um conjunto de variáveis, abandonando outras que poderiam ser relevante para o
entendimento do evento considerado. Em alguns casos este caminho guia o estudo sobre
questões que são irrelevantes para uma perspectiva organizacional, enquanto em outros
poderá guiar para resultados que não apoiados pela situação real porque eles são influenciados
por outros efeitos que não foram considerados no estudo original. Isto pode ser uma das
razões para o relato de um grande número de efeitos controversos na literatura de pesquisa
empírica referente a organizações em rede, que predominantemente utilizaram pesquisa
experimental, por exemplo (DeSanctis et al., 1993, citados por Kock Jr., McQueen, Scott,
2003).
Como Mintzberg (1979) e outros apontam, o comportamento humano não é previsível
como o comportamento do rato, e portanto muitas das descobertas baseadas em análise
estatísticas de relacionamentos simples de causa-e-efeito que ingenuamente desprezam este
fato têm sido irrelevantes.
Dados estes problemas, podemos dizer que o baixo controle sobre o ambiente
estudado, característica da maioria dos projetos de pesquisa-ação, são mais uma vantagem do
que uma desvantagem na generalização de relevantes e válidos conhecimentos.
Quanto ao superenvolvimento pessoal do pesquisador causar um viés nos resultados
da pesquisa, Kock Jr., McQueen, Scott (2003) ressaltam que isto é inerente tanto nesse
método como em qualquer outro método de aproximação, porque é impossível para um
pesquisador, segundo eles, ter uma posição neutra e ainda exercer uma intervenção positiva
no sistema sócio-técnico estudado. Isto é particularmente verdadeiro quando o número de
situações experimentadas pelo pesquisador é pequeno e a intensidade deste envolvimento é
alta. Pesquisadores da cognição humana tem demonstrado não somente que o ser humano tem
confiado mais no aprendizado experimental para aquisição de conhecimento, mas também
que essas experiências que são acompanhadas por intensiva descarga emocional são
relembradas mais claramente que aquelas em que há pouco envolvimento emocional.
O principal benefício para os praticantes da pesquisa-ação, resultante das sucessivas
interações no ciclo da pesquisa-ação é que futuras interações podem ajudar a corrigir
distorções nos resultados das primeiras interações.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de autores como Green e Merce (2001) citados por Cappelle (2002)
defenderem que as pesquisa-ação é sinônimo da observação participativa, há algumas
diferenças entre as duas como mostra essa mesma autora no Quadro 1.

QUADRO 1 – A pesquisa-ação e a obserrvação participante


PESQUISA-AÇÃO OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
ϖ Caráter participativo (interação entre ϖ Discussão entre pesquisadores e membros
pesquisadores e membros da situação da situação investigada
investigada)
ϖ Produz uma ação planejada sobre os ϖ Nem sempre possui uma ação planejada.
problemas detectados
ϖ requer legitimidade dos diferentes atores e ϖ Lida com situações de contestação de
convergência de interesses legitimidade do poder vigente.
ϖ Não se limita a descrever uma situação.
Gera acontecimentos ou resultados que ϖ Descreve uma situação
podem desencadear mudanças.
Fonte:Thiollent (1997), citado por Cappelle (2002).

Da comparação entre os dois métodos de pesquisa, pesquisa-ação e observação


participante, torna-se claro que a primeira sugere uma intervenção conduzida por um caminho
que pode ser benéfico aos participantes do estudo, apesar de reconhecer que a observação
causal afeta o sistema. O outro método é baseado somente em observações e análises em
separado, completamente desconsiderando a possibilidade de uma intervenção positiva do
pesquisador.
Outro atributo que separa a pesquisa-ação da observação participante é o foco nas
pessoas envolvidas na pesquisa, as pessoas aprendem melhor quando fazem por si mesmas.
Também existe uma dimensão social, a pesquisa dá lugar em um mundo de situações reais, e
objetiva resolver problemas reais.
Portanto, a escolha do método de pesquisa não seconstitui na avaliação do melhor
método em detrimento de outros e sim do método adequado a determinada situação e objetivo
de estudo.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADLER, P.; ADLER, P. Observational techniques. In: DENZIN, N.K.; LINCOLN, Y.S.
Handbook of qualitative research. Londres, Sage, 1994. p. 377-392.
ALAVI, M. An Assessment of Electronic Meeting Systems in a Corporate Setting.
Information & Management: 25(4), 1993. pp. 175-182.
ATKINSON, P.; HAMMERSLEY, M. (1994). Ethnography and participant observation. In:
Handbook of qualitative research. Londres, Sage, 1994. p. 248-261.
BECKER, H. Métodos de pesquisa em ciências sociais. São Paulo: Hucitec, 1987. 178p.
BURRELL, G.; MORGAN, G. Sociological Paradigms and Organisational Analysis.
London: Heinemann, 1979.
CAPELLE, M.C.A. Pesquisa-ação: uma proposta metodológica para investigação e
intervenção nas organizações. Anais do XXVI ENANPAD, Salvador, 22-25/9/2002,
ANPAD: Salvador, 2002, Anais...2002, cd-rom.
FOOTE-WHYTE, W. Treinando a observação participante. In: GUIMARÃES, A. Z.
Desvendando máscaras sociais. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1980. p. 77-86.
GODOY, A. S. A pesquisa qualitativa e sua utilização em administração de empresas.
Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v.35, n.4, p.65-71, jul/ago 1995b.
GODOY, A. S. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de
Empresas, São Paulo, v.35, n.3, p.20-29, mai/jun 1995a.
HAGUETTE, T.M.F. Metodologias qualitativas na sociologia. Petrópolis, Vozes, 1987.
163p.
JESUS, J.C. dos S. Sistema de informação para o gerenciamento da colheita de café:
concepção, desenvolvimento, implementação e avaliação dos seus impactos. Rio de
Janeiro: COPPE/UFRJ, 2001. (Tese de doutorado).
KAPLAN, B.; DUCHON, D. Combining Qualitative and Quantitative Methods in
Information Systems Research: a case study. MIS Quarterly (12:4) 1988. pp. 571-587.
KAPLAN, B.; MAXWELL, J.A. Qualitative Research Methods for Evaluating Computer
Information Systems. In: Evaluating Health Care Information Systems: Methods and
Applications, J.G. Anderson, C.E. Aydin and S.J. Jay (eds.), Sage, Thousand Oaks, CA,
1994. pp. 45-68.
KETCHUM, L.D.; TRIST, E. All Teams are not Created Equal. Newbury Park: Sage.
1992.
KOCK JR, N.F.; MCQUIN, R.J.; SCOTT, J.L. Can action research be made more rigorous
in a positivist sense? The contribution of an iterative approach. Disponível em:
<http://www.scu.edu.au/schools/gcm/ar/arr/arow/kms.html>. Acesso em: 06 jun. 2003.
MINTZBERG, H. An Emerging Strategy of "Direct" Research. Administrative Science
Quarterly, 24(4), 1979. pp. 582-589.
MOREY, N.C.; LUTHANS, F. An Emic Perspective and Ethnoscience Methods for
Organizational Research. Academy of Management Review (9:1), January 1984. pp. 27-
36.
MYERS, M. D. Qualitative Research in Information Systems. MIS Quarterly (21:2), June
1997, pp. 241-242. MISQ Discovery, archival version, June 1997. Disponível em:
<www.misq.org/misqd961/isworld/>. Acesso em: 05 jun. 2003.
O'BRIEN, R. Um exame da abordagem metodológica da pesquisa ação. In: Roberto
Richardson (Ed.), Teoria e Prática da Pesquisa Ação. João Pessoa: Universidade
Federal da Paraíba. 2001. Disponível em: <http://www.web.ca/~robrien/
papers/arfinal.html>. Acessado em 04 jun. 2003.
RAPOPORT, R.N. Three Dilemmas in Action Research. Human Relations, 23 (6), 1970.
SERVA, M.; JAIME JR, P. Observação participante e pesquisa em administração: uma
postura antropológica. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v.35, n.1, p.
64-79, mai/jun 1995.
SUSMAN, G.I.; EVERED, R.D. An Assessment of the Scientific Merits of Action Research.
Administrative Science Quarterly, v.23, December, 1978. pp. 582-603.
THIOLLENT, M. Metodologia de Pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 6.ed. 1994.
ZALUAR, A. A teoria e prática do trabalho de campo. In: CARDOSO, R. A aventura
antropológica. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1986. p. 107-125.

You might also like