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Nos últimos 40 anos, as comunidades cristãs contaram com importantes orientações para
uma renovação do pensamento e da prática do cristianismo na América Latina. Dentre essas
orientações, aqui será ressaltada a opção pelos pobres, que será apresentada a partir das
quatro principais Conferências Episcopais Latino-Americanas, acontecidas depois do Concílio
Vaticano II.
O que foi o Concílio Vaticano II? Um concílio é a maior reunião de uma Igreja, convocado para
discutir e deliberar sobre questões doutrinárias e a vida dessa Igreja. O Vaticano II foi o XXI
concílio na história, aconteceu no Estado do Vaticano de1962 a 1965 e reuniu representantes
de todos os continentes. Foi ecumênico, doutrinário e pastoral. Significou uma abertura da
Igreja Católica às questões do mundo moderno e um convite a se repensar a prática das igrejas
em cada continente.
Foi assim que a opção pelos pobres, como exigência para todos os cristãos, foi sendo
explicitada e desenvolvida ao longo das Conferências Episcopais Latino-Americanas. Um breve
retrospecto dessas Conferências nos dará o marco para compreendê-las. Trataremos neste
item da opção pelos pobres como proposta pastoral da Igreja no âmbito católico. Mas
observamos que as Conferências Episcopais contaram com a participação de observadores
evangélicos.
Medellín ( 1968)
Medellín não trouxe um diagnóstico ou uma interpretação única da realidade ou das causas
da pobreza, o que transparece também nas orientações pastorais. Pode-se, no entanto, notar
uma ênfase na busca de uma libertação integral da pessoa humana.
O documento sublinha a obra divina na história da salvação como “ação de libertação integral
e de promoção do homem em toda a sua dimensão, que tem como única razão o
amor”(Justiça”, no. 4). Vários de seus documentos afirmam o compromisso da Igreja com a
libertação “do homem todo e de todos os homens” (Juventude, n. 15). Isso significa que as
igrejas não devem se preocupar apenas com o chamado lado espiritual, da pessoa, mas sim
com a pessoa inteira.
Puebla (1979)
Onze anos mais tarde, a III Conferência do Episcopado Latino Americano, realizada em Puebla
(1979),irá reafirmar o compromisso de Medellín e anunciar solenemente “uma clara e
profética opção preferencial e solidária pelos pobres” (n. 1.134). Convida toda a Igreja a uma
conversão a essa opção, em prol da libertação integral dos pobres.
A Igreja quer nortear sua ação evangelizadora e no futuro da América Latina, tomando
consciência do que “fez ou deixou de fazer pelos pobres depois de Medellin (n. 1.135).
Puebla sublina sublinha que a pobreza generalizada possui “feições concretíssimas (n.31-39).
São elas:
As crianças, golpeadas pela pobreza ainda antes de nascer, abandonadas e exploradas nas
cidades; os jovens, desorientados e frustrados por não encontrar lugar ou oportunidades na
sociedade; os índios e os afro-americanos, reconhecidos como os “mais pobres entre os
pobres”; os camponeses, relegados, sem terra, em situação de dependência interna e externa,
submetidos a sistemas que os enganam exploram; os operários, com freqüência mal-
remunerados e com dificuldades de se organizar e defender os próprios direitos;
Não se trata de uma predileção preponderantemente afetiva pelos pobres. Esta se encontra
já traduzida nos votos de pobreza dos sacerdotes e religiosos, bem como na histórica e
numerosa ação assistencial da Igreja. A opção pelos pobres visa ( e as oritentações de Puebla
são mais claras que as de Medellin) a ajudá-los a libertar-se da pobreza e, sobretudo, das
causas estruturais sociais, que estão na sua origem.
Dessa forma, os pobres deixam de ser objetos para se tornar sujeitos da libertação, por meio
de práticas libertadoras. A Igreja se propõe ser Igreja dos pobres, para os pobres e com os
pobres. Puebla abriu os olhos dos cristãos para que suas ações com relação aos pobres não
fossem apenas assistencialistas. Nâo! Os pobres são sujeitos históricos. Com eles é que se
devem buscar e construir formas de superação do empobrecimento injusto.
Optar pelos pobres é optar pela prática da justiça, pela denúncia e transformação dos
mecanismos históricos e sociais estruturais que geram a injustiça e a pobreza. E, para isso,
todos os cristãos são responsáveis, através da forma como realizam seu trabalho, utilizam os
seus estudos, comportam-se na sociedade civil e agem nas relações do dia a dia concreto.
Santo Domingo (1992)
Recebem dessa vez menção as mulheres, humilhadas e desprezadas, e os migrantes, que não
encontram acolhida digna. Diversificam-se também as causas do sofrimento: a fome, a
inflação, a dívida externa, as injustiças sociais, as promessas políticas não cumpridas, o
desrespeito e desprezo às diferentes culturas, a violência diária e indiscriminada. Descobrir no
rosto dos que sofrem os rosto do Senhor desafia uma profunda conversão pessoal e eclesial
(n.178 e 179).
Santo Domingo detecta, como fator agravante da situação de pobreza a política de corte
neoliberal que predomina na América Latina e no Caribe.
Podemos afirmar que a opção pelos pobres é perfilada em Medellín e Puebla. Um observador
descreveu assim a continuidade entre uma e outra Conferência: “Uma abriu a estrada e a
outra a asfaltou”. Por sua vez, Santo Domingo vem aliar, à opção pelos pobres, a preocupação
com o tema das culturas e da inculturação do Evangelho.
Aparecida (2007)
Uma vez mais, a dimensão ética do cristianismo e a necessária opção preferencial pelos
pobres foram reafirmadas. Os cristãos deveriam ser exemplos de solidariedade e justiça na
sociedade latino-americana, unidos a todos os que buscam o mesmo fim. Pede-se que sejam
evitadas atitudes paternalistas. O importante é promover mudanças sociais concretas.
Alguns segmentos da sociedade são ressaltados como aqueles que merecem preferencial
cuidado por parte dos cristãos em todas as suas profissões, nos governos e nas comunidades,
em conjunto com todos os que mostram a mesmo sensiblilidade. Esses segmentos
exemplificam o rosto concreto dos pobres, hoje, na nossa Am´rica Latina: os moradores da rua;
os migrantes, deslocado e refugiados; os enfermos, com prioridade aos portadores do HIV; os
dependentes de drogas e os detidos em prisões (n. 407- 430).
Com tudo isso, conclui-se que a opção pelos pobres continua sendo uma dimensão
irrenunciável da vivência do cristianismo na América Latina. Trata-se de uma exigência
evangélica ( na Bíblia, pode ser ilustrada pelo texto do Evangelho de Mateus 25, 31-46).
É claro que, em cada tempo histórico, devem ser buscados os caminhos adquados de
solidariedade concreta, que incluem, por exemplo, a ação sociopolítica e o uso que os cidadãos
fazem de seus estudos.
Chegando ao final deste tópico, é importante perceber que reduzir o cristianismo a tudo o
que seja puramente espiritual ( como sinônimo de imaterial), ou ao que seja puramente
individual, como se o ser humano não fosse um todo, não é mais aceitável para a fé cristã hoje
em dia, depois do Concílio Vaticano II e das Conferências mencionadas. O importante é
integrar o espiritual, o material, o psicológico, o pessoal, o comunitário, o político... enfim, a
pessoa como um todo, em todas as dimensões de sua vida, na espiritualidade cristã.
Bibliografia
CNBB . Documentos do CELAM. Rio de Janeiro, Medellin, Puebla, Santo Domingo.São Paulo:
Paulus, 2005.
SUSIN, Luiz Carlos (Org). O mar se abriu: trinta anos de teologia na América Latina. São
Paulo/Porto Alegre: Loyola/Soter, 2000.
Webligrafia
Procure, na Internet, a pintura La noche de los pobres ( a noite dos pobres), de autoria do
grande pintor mexicano Diego Rivera. Busque perceber o que a pintura evoca em você. Reflita:
a relação entre ética e religião pode deixar fora o tema pobreza? Por que?
Para conhecer melhor o significado e conseqüência da opção pelos pobres para o cristianismo
na América Latina, você é convidado a conhecer a pessoa de D. Helder. Para isso:
No You Tube: veja o trailer Dom Helder, o santo rebelde, de èrika Bauer(documentário ).
Especial Dom Helder Câmara na Puc-Rio, link http://www.ccpg. PUC –rio. BR/memoriapos/kh
Navegue no site por onde tiver mais interesse. Sugerimos ler “Pacto das Catacumbas.
Visite O Memorial Dom Helder Câmara, na Igreja das Fronteiras e pesquise sobre a pessoa de
Dom Helder e os direitos humanos na América Latina e no Brasil.
Debate: Destacar os elementos das religiões proféticas que tenham chamado a sua atenção.
Como o conhecimento das religiões pode ajudar a criar um ambiente de tolerância e respeito
nos seus espaços de vida e trabalho? Dê exemplos.
Batismo de sangue- Helvécio Ratton Dom Helder Câmara, o santo rebelde – Érika Buer