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Na casa do lado
No sábado seguinte levantaram-se antes de o Sol mascer pois a impaciência não os deixara
dormir em paz. Flamiano não era no entanto o único reponsável pela agitação.
Se não andassem em busca de um indivíduo para desmascarar, o nervosismo seria igual porque
lhes apetecia imenso introduzirem-se na casa do lado. Já tinham conhecido as irmãs mais
velhas de Sofia e conversado com elas por cima do muro. Também já tinham trocado algumas
palavras com Miss Nelly, que se mostrara encantada pelo facto de eles saberem inglês. Isabel, a
quem as enteadas não se cansavam de elogiar os novos amigos, acenara-lhes risonha uma vez
que se cruzaram no passeio. O automóvel estacionado na rua, o motorista fardado a rigor, as
várias criadas que circulavam por trás das vidraças numa grande azáfama, enfim, tudo e todos
serviam para lhes aguçar o apetite. Sentiam-se à beira de penetrar num mundo novo e ansiavam
por fazê-lo.
Depois do almoço Orlando mandou-os vestir o traje próprio para visitas, o que os divertiu.
Era engraçado que existissem roupas diferentes para diferentes horas do dia ou para diferentes
ocupações sociais. E só em casas enormes como aquela se tornava possível albergar armários
com tamanho suficiente para conter fatiotas de trazer por casa, de sair à rua, de viagem, de
passeio, de baile, de visita. Isto ajudou-os a perceber até que ponto construções, mobília e
vestuário formam um todo e reflectem a maneira de viver própria de cada época.
Embora se dirigissem ao portão contíguo, Orlando pôs o chapéu e pegou numa bengala
esguia com a extremidade revestida a prata. Sem os dois acessórios seria olhado com
desconfiança, pois havia regras muito rígidas entre as pessoas daquele meio.
—Se eu não levar a bengala, o mais certo é fazerem troça de nós assim que virarmos as
costas. E o pior é que não nos tornam a convidar.
Lá foram portanto aperaltados com os elementos da praxe. Ana fingiu-se aborrecida mas na
verdade até achou graça às luvas e ao chapelinho de seda igual ao vestido.
Quem lhes abriu a porta foi um mordomo de expressão impenetrável. Atravessaram uma
entrada magnífica com o chão em mármore preto e branco e foram introduzidos numa sala cujas
portadas abriam sobre o jardim.
—Tenham a bondade de esperar um instante que a senhora condessa desce já.
O mordomo retirou-se depois de os saudar com uma discreta inclinação de cabeça e eles
fizeram um esforço tremendo para conter o riso. Tanta cerimónia e complicação num simples
encontro de vizinhos!
Felizmente apareceu Sofia, acompanhada pelas Miss Nelly. Trocaram palavras amáveis e
também houve risos à socapa, porque era bizarro estarem ali à espera de um pretendente
desconhecido que vinha ver se as meninas lhe agradavam ou não! Preparavam-se fazer imensa
troça dele e todas tinham decidido odiá-lo desde o primeiro minuto. Todos menos o pai, claro.
Quanto à madrasta, aparentemente não tomara posição contra nem a favor. Sentada ao lado do
marido,fazia despesas de conversa como qualquer boa dona de casa. Sempre que se ouvia um
ruído exterior piscava o olho às enteadas, como quem diz: «Lá vem ele, preparem-se.» As
meninas remexiam-se na cadeira, furiosas. Tinham passado horas a falar a respeito daquele e,
palavra puxa palavra, acabaram por construir a imagem de um velho repelente, baboso e careca.
À conta dele, quantas discussões!
— Se alguém tem que casar és tu, Carolina. Eu sou mais nova — defendia-se Tatão.
— Ora essa! Tu é que tens fama de obediente. Não és a menina querida do papá? Então agora
faz-lhe a vontade. Verás que te cobre de presentes, como aliás já é costume.
— Invejosa ! o pai nunca me deu nada a mim que não te desse também a ti.
(…)
Discussões do género não eram novidade entre as duas raparigas. Sendo muito diferentes e
muito próximos em idade, entravam em conflito a toda hora.
Sofia apoiava ora uma ora outra, conforme o caso. Desta vez porém divertia-se a arreliá-
las gozando em cheio o facto de ser mais nova.
— Não sei porquê mas palpita-me que lente tem umas mãozinhas sapudas e húmidas…
Para carícias deve ser um horror! Ainda bem que não tenho idade para casar... Bâ!
Assim se vingava por ter ficado em casa com Miss Nelly nas noites em que havia baile na corte
e não a levavam.
Entretidas com a conversa que corria ligeira ta só deram conta que alguém tinha chegado
quando ouviram a sineta da porta principal. Fez-se silêncio e a atmosfera carregou-se de
expectativa. Poucos segundos depois o mordomotrazia~lhes um rapaz alto, magro , de cabelo
preto e olhos azuis, lindo de morrer! Foi tal o pasmo que nem queriam acreditar no que viam. E
então quando o pai se levantou de braços abertos, exclamando « Seja bem vindo, meu
caro Flamiano», as meninas quase cairam da cadeira.
Sempre atenta ao que rodeava, Isabel tossiu e deu uma cotovelada no braço de
Carolina.
— Tenham maneiras! __ sussurrou. __ Disfarcem o entusiasmo, se não, é uma vergonha.
As apresentações que se seguiram foram um pouco atabalhoadas ma ajudaram a quebrar o
efeito surpresa.
Texto com supressões
Magalhaes, Ana Maria, e Alçada, Isabel
Mataram o Rei
Lê com atenção o texto e responde com frases completas
7.” Entretidas com a conversa que corria ligeira só deram conta de que alguém tinha
chegado(…)”
7.1- Identifica o convidado que chegou e caracteriza-o fisicamente
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8. As meninas, quando viram o convidado, continuaram com a mesma opinião ? Justifica a tua
resposta com frases do texto.
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Parte II
Composição
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Bom Trabalho