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O valor da contemplação

A contemplação tornou-se uma arte praticamente esquecida nos tempos modernos.


Mergulhado em caótico frenesi diário, segue o homem indiferente à natureza, à
beleza e aos sinais vivos à sua volta. Escravo do tempo e de seus tantos compromissos,
vitimado pela insensatez da mídia, incansável anunciadora de maus augúrios, vive
olhando para baixo, esgotado em vários níveis e preso por fios invisíveis que o liga,
muitas vezes, à depressão.
A arte de contemplar pode ser compreendida como o ato de “olhar atentamente,
embevecidamente para algo, admirando, simplesmente apreciando ou mesmo refletindo
sobre o que se está vendo”.
Embora isso pareça fora de moda no tempo da rapidez informatizada, do mundo
globalizado, do consumismo, da distração e, principalmente, da inconsciência, é fato
que ao nos dedicarmos a esse exercício nos abrimos à possibilidade de aprender a viver
com mais simplicidade, testemunhando de forma mais desapegada os acontecimentos ao
nosso redor. Em estado de inconsciência e distração nos apartamos da essência das
coisas, com seus nuances educativos e criamos ilusões infrutíferas.
A primeira descoberta que fazemos praticando essa arte, e é aconselhável testar
essa afirmação, é a de que existe beleza em tudo e em toda a parte. Não é por acaso que
os grandes mestres em todos os tempos têm nos convidado aos momentos de silêncio
contemplativo para que possamos nos aperceber das realidades que nos cercam.
Para não negligenciar o dinamismo que nos governa a vida, precisamos fazer um
trabalho de incorporação da contemplação ao nosso movimento diário, pois,
principalmente, a nós, ocidentais, não é admissível a idéia de vivermos ‘somente’ em
contemplação, como faziam (e ainda fazem) monges e religiosos das várias tradições
existentes.
O convite é, antes, para uma maior apreciação daquilo que nos cerca. Existe a dor,
a miséria, a violência e disso não conseguimos escapar totalmente, mas, existe também
a beleza do sol, os jardins floridos, as árvores majestosas, as pessoas que passam por
nós a todo o momento, enfim, a muito para se olhar, observar atentamente, apreciar...
contemplar.
A história do homem se desenrola cheia de tensões e é palpável o sentimento
comum de insegurança que nos ronda. A busca por soluções forçosamente pedem uma
passagem por um olhar mais profundo e atento que seja capaz de mostrar novas
possibilidades.
Nosso exercício pode começar com a contemplação através do olhar para, aos
poucos, aprendermos a contemplação através da lucidez da alma, simples, imparcial em
seus julgamentos, sábia e amorosa por si mesma. Gradualmente poderemos alcançar
uma lucidez coletiva, a partir desta iniciativa individual.

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