You are on page 1of 3

GIL, Célia R. Rodrigues.

Atenção primária, atenção básica e saúde da família:


sinergias e singularidades do contexto brasileiro. Cadernos de Saúde Pública, v.
22, n. 6, p. 1171-1181, jun. 2006.

1 Síntese

O artigo trata dos conceitos utilizados em saúde, Atenção Primária, Atenção


Básica e Saúde da Família, comentando sobre as singularidades construídas em
torno dos termos diferenciados, ainda que integrando o campo genérico da
descentralização dos serviços de saúde sob a perspectiva de um novo modelo de
atenção e atendimento à população.
Os aportes conceituais deram-se pela via do desenvolvimento inicial dos
serviços municipais de saúde, nos anos 70, transpondo as definições para novos
cenários com a criação do SUS e construção de um modelo de Atenção Básica à
Saúde, que nos anos 90 iria dar lugar à concepção dos Programas de Saúde à
Família (PSF) dentro de um processo de municipalização da saúde.
A autora investiga o alcance dos diferentes conceitos e suas possíveis
implicações no contexto da formulação de estratégias e ações para a saúde no
Brasil.
A investigação foi conduzida sob um processo metodológico articulado em
torno da análise das expressões veiculadas pelo Ministério da Saúde, bem como
concepções evidenciadas no contato com atores sociais responsáveis pela
implementação das políticas públicas de saúde.
Foram analisados documentos oficiais do período de 1990 a 2005, para
detectar o emprego dos conceitos e variações eventuais. Foram revisados
documentos normativos do SUS: Normas Operacionais Básicas (NOB), Norma
Operacional da Assistência à Saúde (NOAS), Leis Orgânicas da Saúde e
documentos orientadores da Atenção Básica, em especial os difundidos aos
municípios.
A autora observou que a NOB-93 não faz menção à organização dos
cuidados primários ou serviços básicos de saúde como parte do primeiro nível de
2

atendimento em saúde pública. Apenas na NOB-96 é prevista mudança no modelo


de atenção, com menção ao Programa Saúde da Família (PSF).
Pesquisa on line demonstrou variações quanto ao emprego dos termos
Atenção Básica em Saúde, Atenção Primária e Programa Saúde da Família. Os
indicadores obtidos remetem à restrições nas concepções pesquisadas,
particularmente quando se trata de remeter tais conceitos à ótica mais abrangente
da atuação do SUS, suas propostas e dimensionamento em relação às
particularidades e demandas específicas no âmbito local.
As constatações da autora, quanto aos resultados de seu estudo, revelam
que o emprego dos conceitos reveste-se de uma influência anterior, nascida dos
debates sobre os modelos e propostas para a saúde brasileira, depois obscurecidos
pelo período neoliberal reducionista de valores e expressões antes tematizadas de
forma mais explícita e abrangente.
O crescimento da visibilidade do conceito dos PSFs está atrelado a essa
dinâmica, mais especialmente a um enfoque novo sobre a atenção em saúde que
redireciona os conceitos anteriores rumo a uma pretensa via alternativa ou mais
específica, que enfoca diretamente o sujeito e sua família. Apesar disso, como
mostra a autora, aprofunda-se a separação entre as idéias, quando deveriam ser
clarificadas em proveito do propósito maior, que é responder aos desafios e
problemas da saúde no Brasil.

Considerações críticas

A autora faz um estudo interessante, buscando apreender no campo dinâmico


dos conceitos, que muitas vezes podem ser vistos como mera expressão de
definições ou identificação de bases e essenciais de uma estratégia, política ou
programa de saúde, elementos distintivos e significativos. Deles se apropria, para
demonstrar que o emprego de diferentes termos encerra uma problemática mais
aguda e profunda, historicamente determinada no contexto de um debate iniciado
com o Movimento da Reforma Sanitária e que ainda hoje não foi concluído.
Em interessante reflexão, o estudo mostra que a imprecisão do campo
conceitual também evidencia uma dificuldade em precisar a interrelação entre ações
ou propostas estabelecidas em torno de conceitos aparentemente similares ou
complementares, como PSF, Atenção Básica e Atenção Primária, que não pode ser
vista apenas como mero conflito de idéias, tendo repercussão na prática pois dessa
3

visão conceitual depende o desenho e adequado encaminhamento das estratégias


em saúde pública.

You might also like