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Tiradentes
Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes)
Martírio de Tiradentes, óleo sobre tela de Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo (1854 — 1916).
Nacionalidade Brasileiro
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (Fazenda do Pombal[1] , batizado em 12 de novembro de 1746 — Rio
de Janeiro, 21 de abril de 1792) foi um dentista, tropeiro, minerador, comerciante, militar e ativista político que
atuou no Brasil colonial, mais especificamente nas capitanias de Minas Gerais e Rio de Janeiro. No Brasil, é
reconhecido como mártir da Inconfidência Mineira, patrono cívico do Brasil, patrono também das Polícias Militares
dos Estados e herói nacional.
O dia de sua execução, 21 de abril, é feriado nacional. A cidade mineira de Tiradentes, antiga Vila de São José do
Rio das Mortes, foi renomeada em sua homenagem.
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Biografia
Nascido em uma fazenda no distrito de Pombal, próximo ao arraial de
Santa Rita do Rio Abaixo, à época território disputado entre as vilas de
São João del-Rei e São José do Rio das Mortes, na Minas Gerais. O
nome da fazenda "Pombal" é uma ironia da história: O Marquês de
Pombal foi arqui-inimigo de Dona Maria I contra a qual Tiradentes
conspirou, e que comutou as penas dos inconfidentes.
Com os conhecimentos que adquirira no trabalho de mineração, tornou-se técnico em reconhecimento de terrenos e
na exploração dos seus recursos. Começou a trabalhar para o governo no reconhecimento e levantamento do sertão
brasileiro. Em 1780, alistou-se na tropa da Capitania de Minas Gerais; em 1781, foi nomeado comandante do
destacamento dos Dragões na patrulha do "Caminho Novo", estrada que servia como rota de escoamento da
produção mineradora da capitania mineira ao porto Rio de Janeiro. Foi a partir desse período que Tiradentes
começou a se aproximar de grupos que criticavam a exploração do Brasil pela metrópole, o que ficava evidente
quando se confrontava o volume de riquezas tomadas pelos portugueses e a pobreza em que o povo permanecia.
Insatisfeito por não conseguir promoção na carreira militar, tendo alcançando apenas o posto de alferes, patente
inicial do oficialato à época, e por ter perdido a função de comandante da patrulha do Caminho Novo, pediu licença
da cavalaria em 1787.
Morou por volta de um ano na cidade carioca, período em que idealizou projetos de vulto, como a canalização dos
rios Andaraí e Maracanã para a melhoria do abastecimento de água no Rio de Janeiro; porém, não obteve aprovação
para a execução das obras. Esse desprezo fez com que aumentasse seu desejo de liberdade para a colônia. De volta às
Minas Gerais, começou a pregar em Vila Rica e arredores, a favor da independência daquela província. Fez parte de
um movimento aliado a integrantes do clero e da elite mineira, como Cláudio Manuel da Costa, antigo secretário de
governo, Tomás Antônio Gonzaga, ex-ouvidor da comarca, e Inácio José de Alvarenga Peixoto, minerador. O
movimento ganhou reforço ideológico com a independência das colônias estadunidenses e a formação dos Estados
Unidos da América. Ressalta-se que, à época, oito de cada dez alunos brasileiros em Coimbra eram oriundos das
Minas Gerais, o que permitiu à elite regional acesso aos ideais liberais que circulavam na Europa.
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A Inconfidência mineira
Bandeira dos inconfidentes (1789) Variação da bandeira inconfidente Bandeira dos inconfidentes (atual Bandeira de
(1789). Minas Gerais)
Além das influências externas, fatores regionais e econômicos contribuíram também para a articulação da
conspiração nas Minas Gerais. Com a constante queda na receita provincial, devido ao declínio da atividade da cana
de açúcar, a administração de Martinho de Melo e Castro instituiu medidas que garantissem o Quinto, imposto que
obrigava os moradores das Minas Gerais a pagar, anualmente, cem arrobas de prata, destinadas à Real Fazenda. A
partir da nomeação de Antônio da Cunha Meneses como governador da província, em 1782, ocorreu a
marginalização de parte da elite local em detrimento de seu grupo de amigos. O sentimento de revolta atingiu o
máximo com a decretação da derrama, uma medida administrativa que permitia a cobrança forçada de impostos
atrasados, mesmo que preciso fosse confiscar todo o dinheiro e bens do devedor, a ser executada pelo novo
governador das Minas Gerais, Luís Antônio Furtado de Mendonça, 6.º Visconde de Barbacena (futuro Conde de
Barbacena), o que afetou especialmente as elites mineiras. Isso se fez necessário para se saldar a dívida mineira
acumulada, desde 1762, do quinto, que à altura somava 538 arrobas de ouro em impostos atrasados.
O movimento se iniciaria na noite da insurreição: os líderes da "inconfidência" sairiam às ruas de Vila Rica dando
vivas à República, com o que ganhariam a imediata adesão da população. Porém, antes que a conspiração se
transformasse em revolução, em 15 de março de 1789 foi delatada aos portugueses por Joaquim Silvério dos Reis,
coronel, Basílio de Brito Malheiro do Lago, tenente-coronel, e Inácio Correia de Pamplona, luso-açoriano, em troca
do perdão de suas dívidas com a Real Fazenda. Anos depois, por sua delação e outros serviços prestados à Coroa,
Silvério dos Reis receberia o título de Fidalgo.
Entrementes, em 14 de março, o Visconde de Barbacena já havia suspendido a derrama o que de esvaziara por
completo o movimento. Ao tomar conhecimento da conspiração, Barbacena enviou Silvério dos Reis ao Rio para
apresentar-se ao vice-rei, que imediatamente (em 7 de maio) abriu uma investigação (devassa). Avisado, o alferes
Tiradentes, que estava em viagem licenciada ao Rio de Janeiro escondeu-se na casa de um amigo, mas foi descoberto
ao tentar fazer contato com Silvério dos Reis e foi preso em 10 de maio. Dez dias depois o Visconde de Barbacena
iniciava as prisões dos inconfidentes em Minas.
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Julgamento e sentença
Negando a princípio sua participação,
Tiradentes foi o único a, posteriormente,
assumir toda a responsabilidade pela
"inconfidência", inocentando seus
companheiros. Presos, todos os
inconfidentes aguardaram durante três anos
pela finalização do processo. Alguns foram
condenados à morte e outros ao degredo;
algumas horas depois, por carta de
clemência de D. Maria I, todas as sentenças
foram alteradas para degredo, à exceção
apenas para Tiradentes, que continuou
condenado à pena capital, porém não por
A leitura da sentença de Tiradentes (óleo sobre tela de Leopoldino Faria).
morte cruel como previam as Ordenações do
Reino: Tiradentes foi enforcado.
Os réus foram sentenciados pelo crime de "lesa-majestade", definida, pelas ordenações afonsinas e as Ordenações
Filipinas, como traição contra o rei. Crime este comparado à hanseníase pelas Ordenações Filipinas:
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Executado e esquartejado, com seu sangue se lavrou a certidão de que estava cumprida a sentença, tendo sido
declarados infames a sua memória e os seus descendentes. Sua cabeça foi erguida em um poste em Vila Rica, tendo
sido rapidamente cooptada e nunca mais localizada; os demais restos mortais foram distribuídos ao longo do
Caminho Novo: Santana de Cebolas (atual Inconfidência, distrito de Paraíba do Sul), Varginha do Lourenço,
Barbacena e Queluz (antiga Carijós, atual Conselheiro Lafaiete), lugares onde fizera seus discursos revolucionários.
Arrasaram a casa em que morava, jogando-se sal ao terreno para que nada lá germinasse.
Portanto condenam o réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes, alferes que foi do Regimento pago da
Capitania de Minas, a que, com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca, e nela morra morte
natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde no lugar mais público
dela, será pregada em um poste alto, até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e
pregados em postes, pelo caminho de Minas, no sítio da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve as suas infames
práticas, e os mais nos sítios das maiores povoações, até que o tempo também os consuma, declaram o réu infame, e seus — Sentença
filhos e netos tendo-os, e os seus bens aplicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica será proferida contra
arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique, e não sendo própria será avaliada e paga a seu dono pelos os réus do levante
bens confiscados, e mesmo chão se levantará um padrão pelo qual se conserve em memória a infâmia deste abominável e conjuração de
réu; [...] Minas Gerais
Art. 87. Tentar diretamente, e por fatos, destronizar o Imperador; privá-lo em todo, ou em parte da sua autoridade
constitucional; ou alterar a ordem legítima da sucessão. Penas de prisão com trabalho por cinco a quinze anos. Se o crime — Código
se consumar: Penas de prisão perpétua com trabalho no grau máximo; prisão com trabalho por vinte anos no médio; e por Criminal de
dez anos no mínimo. 1830
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Foi a República – ou, mais precisamente, os ideólogos positivistas que presidiram sua fundação – que buscaram na
figura de Tiradentes uma personificação da identidade republicana do Brasil, mitificando a sua biografia. Daí a sua
iconografia tradicional, de barba e camisolão, à beira do cadafalso, vagamente assemelhada a Jesus Cristo e,
obviamente, desprovida de verossimilhança. Como militar, o máximo que Tiradentes poder-se-ia permitir era um
discreto bigode. Na prisão, onde passou os últimos três anos de sua vida, os detentos eram obrigados a raspar barba e
cabelo a fim de evitar piolhos. Também, o nome do movimento, "Inconfidência Mineira", e de seus participantes, os
"inconfidentes", foi cunhado posteriormente, denotando o caráter negativo da sublevação – inconfidente é aquele que
trai a confiança. Outra versão diz que por inconfidência era termo usado na legislação portuguesa na época colonial e
que "entendia-se por inconfidência a quebra da fidelidade devida ao rei, envolvendo, principalmente, os crimes de
traição e conspiração contra a Coroa", e, que para julgar estes crimes eram criadas "juntas de inconfidência".[3]
Historiadores como Francisco de Assis Cintra e o brasilianista Kenneth Maxwell procuram diminuir a importância
de Tiradentes, enquanto autores mineiros como Oilian José e Waldemar de Almeida Barbosa procuram ressaltar sua
importância histórica e seus feitos, baseando-se, especialmente, em documentos sobre ele existente no Arquivo
Público Mineiro.
Atualmente, onde se encontrava sua prisão, funcionou a Câmara dos Deputados na chamada "Cadeia Velha", que foi
demolida e no local foi erguido o Palácio Tiradentes que funcionava como Câmara dos Deputados até a transferência
da capital federal para Brasília. No local onde foi enforcado ora se encontra a Praça Tiradentes e onde sua cabeça foi
exposta fundou-se outra Praça Tiradentes. Em Ouro Preto, na antiga cadeia, hoje há o Museu da Inconfidência.
Tiradentes é considerado atualmente Patrono Cívico do Brasil, sendo a data de sua morte, 21 de abril, feriado
nacional. Seu nome consta no Livro de Aço do Panteão da Pátria e da Liberdade, sendo considerado Herói Nacional.
Descendência
A questão da descendência de Tiradentes é controversa. Há poucas provas documentais sobre os mesmos.
Tiradentes nunca se casou. Teve um caso com Antónia Maria do Espírito Santo, a quem prometeu casamento e teve
uma filha, Joaquina da Silva Xavier (31 de agosto de 1786[4] ). Constam autos do processo de Antónia Maria
descobertos no Arquivo Público Mineiro que a mesma pediu a posse de um escravo que Tiradentes lhe havia dado e
havia sido confiscado após sua morte.[5] Ali é citada sua filha (cujo padrinho foi o também inconfidente Domingos
de Abreu Vieira, rico comerciante) e faz dela a única descendente direta comprovada por documentação.[5]
Tiradentes também teria querido casar-se com uma moça de nome Maria, oriunda de São João del-Rei, filha de
abastados portugueses que se opuseram à união.[5]
Sem registros comprovados por documentação, Tiradentes teria tido com Eugênia Joaquina da Silva dois filhos, uma
Joaquina que logo morreu[carece de fontes?] e João de Almeida Beltrão, que teve oito filhos.[6]
Para escapar das perseguições da coroa e da população, um destes netos trocou seu sobrenome para Zica, dos quais
alguns descendentes recebem pensões.[7]
Além destes, também foi concedida à sua tetraneta Lúcia de Oliveira Menezes, por meio da Lei federal 9.255/96,
uma pensão especial do INSS no valor de R$ 200,00, o que causou polêmica sobre a natureza jurídica deste subsídio,
mas solucionado pelo STF no agravo de instrumento 623.655.[8]
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Carnaval
Tiradentes recebeu grande homenagem popular do G.R.E.S. Império Serrano, que desfilou em 1949 entoando o
samba Exaltação a Tiradentes, cujos autores são Mano Décio, Estanislau Silva e Penteado.
Em 2008, no desfile da Viradouro, RJ, o destaque principal do carro n.º 5 "execução da liberdade" estava fantasiado
de Tiradentes. (desfile "É de Arrepiar!", de Paulo Barros - campeão em 2010)
Notas e referências
[1] A Fazenda do Pombal está localizada em terras pertencentes hoje ao município de Ritápolis e que na época eram disputadas por São João
del-Rei e São José do Rio das Mortes. Esta disputa foi resolvida somente em 1755 em favor da Vila de São José. Há ainda hoje, todavia, uma
disputa por esses três municípios (Ritápolis, São João del-Rei e Tiradentes) sobre qual seria considerada a cidade natal de Tiradentes.
[2] Ordenações filipinas - Crime de Lesa-majestade (http:/ / books. google. com. br/ books?id=KH9ilwvHp9AC& pg=PA69& lpg=PA69&
dq=lesa+ majestade+ ordenações+ filipinas& source=bl& ots=scvE_HLCDa& sig=53-WLXaYzlz5TXGcX8rkL0vskeA& hl=pt-BR&
ei=TtCLS5-yO4aHuAeOpInwCw& sa=X& oi=book_result& ct=result& resnum=4& ved=0CBcQ6AEwAw#v=onepage& q=& f=false)
[3] http:/ / www. tj. ba. gov. br/ publicacoes/ mem_just/ volume2/ cap8. htm
[4] Joaquina da Silva Xavier (http:/ / www. geneall. net/ P/ per_page. php?id=598813). GeneAll.net. Página visitada em 7 de abril de 2010.
[5] Costa e Silva, Paulo (1 de abril de 2007). A outra face do alferes (http:/ / www. revistadehistoria. com. br/ v2/ home/ ?go=detalhe& id=527).
Revista de História da Biblioteca Nacional. Página visitada em 7 de abril de 2010.
[6] João de Almeida Beltrão (http:/ / www. geneall. net/ P/ per_page. php?id=598815). GeneAll.net. Página visitada em 7 de abril de 2010.
[7] LEI Nº 7.705, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1988. (http:/ / www. planalto. gov. br/ ccivil_03/ Leis/ 1980-1988/ L7705. htm). Presidência da
República- Subchefia para Assuntos Jurídicos. Página visitada em 7 de abril de 2010.
[8] http:/ / conjur. estadao. com. br/ static/ text/ 59397,1
Bibliografia
• ________,Autos da Devassa da Inconfidência Mineira, Ministério da Educação, Biblioteca Nacional, Ministério
da Educação, Rio de Janeiro, 1976.
• ________,Tiradentes - A sentença, Rio de Janeiro, ALERJ, 1992, 54p.
• ________,Tiradentes - Os caminhos do ouro, Brasília, Imprensa Nacional, 1992, 26p.
• AQUINO, Rubim Santos Leão de; BELLO, Marco Antônio Bueno; DOMINGUES, Gilson Magalhães. Um sonho
de liberdade: a conjuração de Minas. São Paulo: Editora Moderna, 1998. 176p. il. ISBN 8516021009
• BARBOSA, Waldemar de Almeida, A Verdade sobre Tiradentes, Instituto de História, Letras e Artes, Belo
Horizonte, s/d.
• CHIAVENATO, Júlio José. As várias faces da Inconfidência Mineira. São Paulo: Contexto, 1989. 88p. il. ISBN
8585134429
• JARDIM, Márcio. A Inconfidência Mineira: uma síntese factual. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora,
1989. 416p. ISBN 857011141X
• MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa: a Inconfidência Mineira: Brasil-Portugal - 1750-1808. São Paulo:
Paz e Terra, 1985. 318p. mapas, tabelas. ISBN 8521903979
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Ligações externas
• Tetraneta de Tiradentes tem pensões mantidas pelo STF (http://www.direito2.com.br/stf/2007/set/11/
tetraneta-de-tiradentes-tem-pensoes-mantidas-pelo-stf)
• Tiradentes e seus juízes (http://www.tj.ba.gov.br/publicacoes/mem_just/volume2/cap8.htm)
• Ordenações filipinas - Crime de Lesa-majestade (http://books.google.com.br/books?id=KH9ilwvHp9AC&
pg=PA69&lpg=PA69&dq=lesa+majestade+ordenações+filipinas&source=bl&ots=scvE_HLCDa&
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