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“A PROMESSA” in

A IMAGINAÇÃO
SOCIOLÓGICA
MILLS, C. WRIGHT
“A própria evolução da história ultrapassa, hoje, a capacidade que têm os homens de
se orientarem de acôrdo com valores que amam.”

O homem actual já constatou que os valores amados não mais servem de orientadores dentro duma so-
ciedade contemporânea essencialmente prática, produtiva e com um lapso de sensibilidade enorme na base
das grandes decisões da vida social.
Não é de espantar, portanto, que perante mudanças sociais tão súbitas o homem se sinta encurralado
e se veja obrigado a redefinir os valores que regem o seu comportamento. Numa atitude de sobrevivência, o
homem joga o jogo da sociedade segundo os valores estabelecidos, mesmo que não coincidam com os seus
valores pessoais, mas sabendo que os tem de adoptar para conseguir sobreviver.
Assim, não é de estranhar que num sistema social como o actual, os seus membros se tornem cada vez
mais moralmente insensíveis nas suas acções sociais, deixando a sensibilidade destinada aos seus ambientes
pessoais.

“(Os homens) Raramente têm consciência da complexa ligação entre as suas vidas e
o curso da história mundial; por isso, os homens comuns não sabem, quase sempre, o que
essa ligação significa para os tipos de ser em que se estão transformando e para o tipo de
evolução histórica de que podem participar.”

Os homens estão inundados de informação, mas vazios de clarividência. Possuem a informação, mas
não capazes de perceber em tempo real e de forma prática em como ela se relaciona directa ou indirecta-
mente com a sua vida, uma vez que, em geral, não compreendem como a sua vida pessoal se relaciona com a
vida social em níveis além do profissional. Sentem-se apenas parte de uma sociedade produtiva e consumista
e não parte de uma sociedade que reflecte a natureza sensível do homem e para a qual gostariam de con-
tribuir. Experimentam assim um sentimento de encurralamento ao não se identificarem com o papel social
que é esperado deles.
No entanto falta entender ao homem comum que a sociedade actual apenas reflecte as decisões toma-
das no passado e no presente por homens similares a ele próprio no desejo de poder, de evolução tecnológica,
de progresso e de conforto, e que, possuindo poder para tal, moldaram a sociedade naquilo que ela actual-
mente é. Portanto, é necessário que o homem compreenda que tem responsabilidade na actual organização
social e que mesmo os problemas do seu pequeno ambiente pessoal, são comuns a outros membros da socie-
dade e que por isso correspondem a problemas sociais que geram questões complexas.

E é a compreensão da estreita ligação do homem particular com a sociedade em geral, da biografia e


da história, é que permite ao homem adquirir uma visão clara do todo e descentrar-se do seu eu. Assim ele
compreende a presença do conceito de fractal na conexão bidireccional entre o Eu e a Sociedade, e decifra
que a escala que separa fisicamente os dois, não existe em termos metafísicos.
A esta capacidade é dado o nome de Imaginação Sociológica.
1.
1.

"A Imaginação Sociológica capacita seu possuidor a compreender o cenário histórico


mais amplo, em termos de seu significado para a vida intima e para a carreira exterior de
numerosos indivíduos."

A Imaginação Sociológica também permite ao homem comum compreender que é um produto in-
acabado da sociedade mentalidade do homem que nela vive.
É através dos erros e sucessos do passado que se cria uma nova mentalidade, presente nas novas ger-
ações cujas acções começam no presente, mas cujos frutos só são colhidos no futuro, onde de novo novas
gerações filtrarão os prós e os contras desenvolvendo uma nova mentalidade que reformulará valores antigos
em novos. Fecha-se assim um ciclo para se voltar a iniciar um outro.

"Chegamos a saber que todo o indivíduo vive, de uma geração até à seguinte, numa
determinada sociedade; que vive uma biografia, e que vive dentro de uma sequência
histórica. E pelo fato de viver, contribui, por menos que seja, para o condicionamento des-
sa sociedade e para o curso de sua história, ao mesmo tempo em que é condicionado pela
sociedade e pelo seu processo histórica."

CRITICA:
O indivíduo nasce e é "educado" dentro de um seio familiar já em si condicionado pela sociedade em
que está inserido. Os valores transmitidos e que representam aquela família em particular e a sociedade da
época são absorvidos e entranhados pelo novo indivíduo, que aos poucos começa a questiona-los e a rela-
cionar-se com outros indivíduos que também o fazem. Ao mesmo tempo encontra outros que não o fazem
ou que não pensam da mesma forma. Estes novos indivíduos passam a representar a população activa e ad-
quirem o poder consequente da sua actividade.
Quanto maior for o poder do individuo, maior é a sua capacidade para moldar a sociedade da forma que
pretende. No entanto, acontece o seguinte: para o individuo ter poder para intervir na sociedade de forma
substancial, ele necessita de ganhar esse poder. Ele ganha tanto poder quanto mais útil for na sociedade
actual que é regida por valores antigos. Ele é tanto mais útil na sociedade quanto mais se sintonizar com os
valores aceites e institucionalizados. Se se sintoniza totalmente com eles sem adoptar uma postura crítica, ele
não deseja a sua transformação e a revolução não acontece.
Parece então que contrariar a inércia deste ciclo se torna impossível, mas na verdade é apenas difícil e
lento.
No seio de uma sociedade definida por massas de indivíduos pouco seguros de si e pouco pro-activos
na procura de um caminho alternativo, quando este surge pelas mãos de alguém que ousa ameaçar os valores
institucionalizados, e quando as massas reconhecerem a sua pertinência e partilharem os novos valores pre-
sentes nesse trajecto, então elas apoiam-no e dão-lhe poder. Ora quando um grupo significativo de indivíduos
passam a apoiar qualquer actividade ainda que marginalizada e estigmatizada no passado, lentamente ou
não, essa actividade é absorvida pelos valores capitalistas que a passam a explorar comercialmente acabando
por contribuir para a sua divulgação e alteração de mentalidades.
“A Imaginação Sociológica nos permite compreender a história e biografia e as
relações entre ambas, dentro da sociedade. Essa é a sua tarefa e a sua promessa.”

Qualquer que seja o estudo social que um analista social clássico com uma consciência imaginativa
desperta faça, este formula 3 séries de questões:

1) Qual a estrutura dessa sociedade como um todo?

2) Qual a posição dessa sociedade na história humana?

3) Que variedades de homens predominam nessa sociedade e nesse período?

Estas 3 séries de perguntas visam conseguir compreender a perspectiva macro social e a perspectiva
micro pessoal e a variação dessas perspectiva com o tempo.
Mais do que compreender cada uma destas, visam conseguir passar de uma para outra. Do geral ao par-
ticular e do particular ao geral: "...da política para a psicológica; do exame de uma única família para a análise
comparativa dos orçamentos nacionais do mundo; da escola tecnológica para a estrutura militar".

"É a capacidade de ir das mais impessoais e remotas transformações para as carac-


terísticas mais íntimas do ser-humano - e ver as relações entre as duas."

Ao experiênciar uma Imaginação Sociológica o homem passa a adquirir uma visão mais completa do
mundo e de si mesmo, apercebendo-se que anteriores análises gerais sustentadas simplesmente na razão não
passavam de visões limitadas da realidade fruto de uma mente anteriormente fechada e que agora se abriu
para a conjugar a razão e a sensibilidade.

2. “Talvez a distinção mais proveitosa usada pela imaginação sociológica seja entre
as "perturbações pessoais" e "questões sociais":

- As perturbações ocorrem no âmbito do individuo enquanto entidade biográfica e dentro do alcance


do seu ambiente imediato. Ou seja, estão relacionadas com o seu Eu e com as área limitadas da vida social,
na qual ele intervém directamente.

- As questões sociais relacionam-se com assuntos que transcendem o ambiente privado de cada individ-
uo, mas que se manifestam também neles. A conjugação de várias perturbações pessoais criam problemas
sociais que são representados em questões sociais. Uma questão é um valor estimado pelo público, mas que
está ameaçado.
Normalmente torna-se impreciso definir com clareza o que esse valor efectivamente representa e o que
o ameaça. O debate torna-se vago e impreciso, pois torna-se difícil definir uma questão social no ambiente
imediato e quotidiano do homem comum.

Exemplos:

- o desemprego:
Quando apenas um homem está desempregado numa cidade isto é um problema pessoal, para o qual
a solução requer avaliar as competências desse individuo e em função disso detectar as suas oportunidades;
Quando num país 1/4 da população está desempregada isto é uma questão pública e não se pode es-
perar soluções dentro da escala individual. Neste caso a própria estrutura social entrou em colapso e torna-se
necessário reformular algumas instituições políticas e económicas.

- a guerra:
Ao nível individual a questão da guerra pode se resumir a sobreviver ou não a ela;
Ao nível das questões estruturais estas relacionam-se com as suas causas e com os seus efeitos nas in-
stituições económicas, políticas, familiares e religiosas.

- o casamento:
Os problemas conjugais de um casal são de carácter pessoal, mas quando 1/2 dos casais se divorciam
isto mostra que existe uma questão estrutural relacionada com as instituições do casamento. Passa a en-
tender-se, portanto, a questão do divórcio como um problema social, por exemplo, ao nível da educação dos
indivíduos em formação.

- a metrópole:
Para os detentores de maior riqueza pessoal os problemas da cidade podem ser contornados através
da compra de uma qualidade de vida superior dentro dela ou de escapes periódicos para ambientes mais
agradáveis.
Para a grande maioria da população o problema continua a existir e apercebemos-nos que a estrutura
de cidade antiga não satisfaz todos os requisitos dos seus habitantes.

RESUMO:
Quando se dá uma depressão económica o problema do desemprego foge à solução pessoal;
Quando a industrialização parcial do mundo necessita da Guerra entre Estados - Nação, o individuo é
limitado e impotente para resolver os problemas que esse sistema lhe cria, pois quanto muito apenas con-
segue fazer um "controle de danos", mas não impedir a participação na guerra do seu País;
Na medida medida em que a sociedade concebe a instituição de família num agregado de maquinas
produtivas que geram novas maquinas para o futuro, o problema do casamento insatisfatório foge a reso-
lução exclusivamente pessoal;
Na medida em que a metrópole está conectada com a poluição e com o stress, as questões públicas da
vida urbana não serão resolvidas pelas engenhosidade pessoal e pela riqueza particular.

O que devemos ter consciência é que por muito que sejamos responsáveis pela nossa própria vivência
individual, e pela nossa qualidade de vida, podendo a qualquer momento quebrar as amarras, estamos em
grande parte subjugados e condicionados pelas modificações estruturais da sociedade na qual vivemos. As-
sim para entender um problema pessoal temos de olhar para além dele detectando as estruturas sociais que
o favorecem.
Ter consciência da ideia da estrutura social e compreendendo as ligações entre uma grande variedade
de ambientes de pequena escala é possuir IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA.

CRÍTICA:

Como o texto refere, as questões sociais são vagas e normalmente não conseguem ser definidas em
termos do que representam na vivência imediata do homem comum.
O autor diz-nos que perante questões sociais devemos procurar soluções junto das instituições respon-
sáveis pois não se tratam mais de situações individuais, mas sim de questões abrangentes a toda a sociedade.
Portanto, as soluções residem na reformulação e reorganização dessas instituições.
Nos exemplos citados relativamente a questão do desemprego, guerra, casamento e metrópole está
subjacente a ideia de que as soluções para as questões se localizam ou no indivíduo se o problema for par-
ticular ou nas instituições se o problema for social. Teoricamente podemos compreender e aceitar em parte
esta conclusão, contudo não se compreende que seja transmitida a ideia de que o homem é maioritariamente
impotente para resolver os problemas sociais. Isto é, não são as Instituições que resolvem as questões sociais.
Elas podem sim criar soluções que facilitem a resolução do problema, mas nunca o fazem. Quem tem o poder
para resolver as questões sociais são os membros individuais da sociedade ao resolverem a sua vida singular
de modo a saírem do problema. Realmente, como diz o autor em determinada fase do texto " Não conhecemos
os limites da capacidade que tem o homem em realizar esforços supremos ou degradar-se voluntariamente...".
Por maiores que sejam as adversidades em vigor na sociedade, o homem tem sempre a possibilidade
de criar as suas oportunidades e melhorar as suas condições de vida. Ele tem sempre a possibilidade de se
revolucionar a ele mesmo, e quando vários indivíduos revolucionam a sua vida, a sua postura, tomando as
rédeas da sua vida, ele soluciona a sua cota parte da sociedade ao solucionar os seus problemas pessoais.
Parece-me que esta relação entre o pessoal e o social é a base da atitude imaginativa de que o texto fala, mas
no entanto, quando o autor fala em soluções para as questões sociais parece esquecer-se de a implementar e
não constata de que o individuo é a dimensão zero a partir do qual, surge a dimensão da família, da sociedade
e da humanidade, e que portanto ele é o único capaz de efectivar a mudança, mesmo contra estruturas sociais
não favoráveis a isso.
Não é com a criação de incentivos à criação do próprio emprego que se resolve o desemprego, se
durante a formação do indivíduo no seio familiar, ou depois em fase adulta, ele próprio não procurar desen-
volver em si mesmo o empreendedorismo, o pragmatismo, o rigor, a ambição e a responsabilidade.
Não se resolve o conflito entre Nações se não se entender que a Nação não existe. Existem sim homens
que tomam as decisões pela Nação e que esses são os mesmos homens que estão em conflito aberto com
outros grupos parlamentares e que dentro desses grupos existem famílias em conflito entre si e que dentro
dessas famílias existem pais, filhos e avós em conflito. É óbvio que existem questões económicas associadas
à guerra, mas também é óbvio que o capital se apoderou da mente dos indivíduos singulares, prendendo os
valores morais à parede com uma corrente que só os deixa chegar até determinado ponto.

3.
“Quais as principais questões públicas para a colectividade e as preocupações-chaves
dos indivíduos em nossa época?”

Para se formular as questões e as preocupações devemos procurar descobrir quais os valores aceites e
que estão ameaçados e quais os valores aceites e mantidos pelas tendências características do nosso período.
E devemos descobrir também quais as contradições de estrutura na sociedade para valores ameaçados ou
mantidos. Ou seja, descobrir se as estruturas sociais seguem ou não as tendências em tempo real.

- Quando as pessoas têm consciência dos valores que estimam e não os sentem ameaçados experimen-
tam tranquilidade e bem estar;
- Quando sentem que esses valores estão ameaçados experimentam uma crise (como actualmente em
que os valores consumistas estão a ser ameaçados);
- Quando não têm consciência dos valores nem das ameaças sentem-se indiferentes;
- E quando simplesmente se sentem ameaçados sem saberem o que está ameaçado, experimentam uma
inquietação;
"Nossa época é uma época de inquietação e indiferença",

sobretudo porque os problemas não foram definidos em termos de valores e ameaças, logo não existem
questões explicitas para as quais se procurem soluções. A inconsciência é grande e abundante e o que resta
é um sentimento vago de que algo não está certo, sem se saber o quê.

Não se entende quais são os valores ameaçados o que os ameaça, pois não foram formulados como
problemas de ciência social.

A principal tarefa intelectual e política do cientista social é deixar claro os elementos da inquietação e
da indiferença contemporâneos, é a imaginação sociológica e a qualidade intelectual que mais necessitam
eles e qualquer que deseja entender de que forma a sua época molda os seus problemas.

CRITICA:

O autor afirma

"Mas não é verdade, como afirmou Ernest Jones, que “o principal inimigo do Homem e
seu próprio perigo são sua propria Natureza desordenada e as forças sombrias comprimi-
das dentro dele. Pelo contrário "o principal inimigo do Homem" está nas forças desregra-
das da sociedade contemporânea, com seus métodos de produção alienantes, suas ténicas
envolventes de domínio político, sua anarquia internacional - numa palavra, suas trans-
formações gerais da própria Natureza do Homem e das condições e objectos da sua vida.”

Mais uma vez me parece que o autor não respeita o conceito de imaginação sociológica que defende.
Obviamente que as forças externas que o homem encontra na sociedade sob a forma de orientações legais
ou outras não são favoráveis à superação da sua inquietação, mas essas forças foram criadas a institucionali-
zadas por governantes que por sua vez são governados por forças psicológicas semelhantes às do homem
comum, quer sejam altruístas ou gananciosas. Parece-me que o autor embora com uma razão parcial ao
afirmar que as forças da sociedade são inimigas da natureza do homem se esquece de fazer a ponte entre a
sociologia e a psicologia verificando não só que a psicologia do indivíduo é afectada pela estrutura social,
mas que sobretudo a estrutura social é construída a partir da psicologia dos homens.
Esta relação pode ser ilustrada como um reflexo de uma lâmpada num espelho. De um lado o indivíduo,
do outro a sociedade. O indivíduo manifesta na sociedade a sua psicologia e a sociedade a devolve ao homem
que novamente volta a reflectir parte daquilo que recebeu.
A diferença entre conseguir vencer a inquietação ou não, reside na diferença em o homem estar ou não
consciente daquilo que o ameaça e estar ou não consciente da sua responsabilidade na instrução da sua vida
particular que corresponde à sua cota parte da sociedade.
Não é correcto nem inteligente desresponsabilizar o homem do seu estado, nem tão pouco desrespon-
sabilizar um grupo elitista que se vai renovando em si mesmo em cargos de gestão social e política e que
tem vindo a privilegiar constantemente a institucionalização de certos valores quando o homem comum já
anseia por novos.

4.

"A imaginação sociológica se está tornando, creio, o principal denominador da nos-


sas vida cultural, e sua característica marcante. Essa qualidade da mente se encontra nas
Ciências Sociais e Psicológicas, mas vai muito além desses estudos tal como conhecemos."
Em toda a idade intelectual, um estilo de reflexão tende a tornar-se o dominador da vida cultural.
Durante a era moderna, uma era tecnológica, a ciência, a física e a biologia foram o principal dominador
comum da reflexão séria nas sociedades ocidentais onde "a técnica de laboratório" foi o modo de processo e
a fonte de segurança intelectual.

A predominância de um dominador comum de reflexão não significa que não existam outros, mas sim
que os interesses gerais de uma sociedade se localizam nessa área.

Se nas ultimas épocas valorizamos mais o raciocínio lógico e o método cientifico isso traduz o colossal
desenvolvimento tecnológico que sofremos durante últimos 50/60 anos e o desejo que sentimos em o fazer.

Se por outro lado a imaginação sociológica se está realmente a tornar no principal dominador comum
da nossa vida cultural, então, se assim for, isso significa que os interesses intelectuais mais gerais se estão a
voltar para a Ciências Sociais e Psicológicas, talvez como reflexo de um novo interesse por áreas espirituais
desconectadas das instituições religiosas vêm de novo aproximar o homem da descoberta de si mesmo e que
lhe suscitam o interesse pela relação interior/exterior, como que se se apercebesse das suas possibilidade
totais.
Talvez este conceito de Imaginação Sociológica se insira no conceito de Inteligência do Séc. XXI que
fala de uma inteligência onde a razão e a sensibilidade andam de mãos juntas, conseguindo assim uma clari-
vidência que possibilita a compreensão dos fenómenos universais sem necessitar de se apoiar na bengala
da "técnica de laboratório" que foi até gora o reflexo de um intelecto aberto para a razão lógica do palpável e
fechada para a intuição sensível.

"Na ausência de uma ciência social adequada, críticos e romancistas, dramaturgos e


poetas foram os principais, e com frequência os únicos, formuladores dos problemas pri-
vados e até mesmo das questões públicas. A arte expressa tais sentimentos, e frequente-
mente os focaliza, mas mesmo assim não faz com clareza intelectual hoje exigida para seu
entendimento, para sua solução. A arte não formula, e não pode formular tais sentimentos
como problemas, encerrando as preocupações e as questões que os homens enfrentam,
para que possam superar a sua inquietação, a sua indiferença, e as misérias a que estas
levam. O artista, na realidade, não tenta com frequência tal formulação. Além disso, o ar-
tista sério está, ele mesmo, em confusão, e muito necessitado de uma ajuda intelectual e
cultural de uma ciência social que a Imaginação Sociológica tornou viva.”

O artista clássico expõe a realidade. Critica-a, mas quase nunca sugere soluções, pois o seu papel não é
esse.

No entanto, o conceito de design parece ser uma nova porta neste sentido. O design, em parte, detecta
e preocupa-se com os problemas sociais e sugere soluções, pois a sua vertente inventiva e aplicável à vida
quotidiana permite-lhe essa qualidade interventiva e prática.

A multidisciplinariedade do conceito de design, em todas a suas vertentes, pode representar bem o


conceito de Imaginação Sociológica na conjugação do mundo das artes com a engenharia, arquitectura, in-
formática, etc. E essas aptidões técnicas associadas a uma consciência social parece resultar num poder do
homem comum pensar e pôr em prática novas estruturas representativas de novos valores.

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