É interessante observar que à medida que a discussão a respeito do que é a travesti
transcorre nos vemos numa discussão a respeito de gênero, sexualidade, corporalidade,
binarismo e uma série de paradoxos e de adjetivos antagônicos. Ao decorrer da análise percebe-se que não poderia ser de outro modo. Seria impossível fazer tal discussão sem antes desconstruir e nos desfazer dos nossos conceitos pré-estabelecidos a respeito desses elementos. Percebe-se então que os termos e métodos que nós utilizamos para nos classificar são inadequados. Tão ou mais inadequados do que as travestis parecem ser. Felizmente o estudo a respeitos das travestis é mais do que apenas uma análise desses elementos. Ele é uma tentativa de compreender aqueles que estão entre os mais incompreendidos e essa tentativa, não por acaso, resulta em uma maior compreensão a respeito de nós próprios e de como ao afastar os olhos de tudo aquilo que é diferente percebemos o quanto somos iguais. Se as travestis e o seu universo são tão incompreendidos é porque pouco sabemos a respeito de nós próprios.