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TRADUZINDO O ECONOMÊS
para entender a economia brasileira
na época da globalização
2000
Traduzindo o Economês
Copyright © 2000 Paulo Sandroni
Todos os direitos reservados.
Copyright © 2000 da edição em língua portuguesa
adquirido pela Editora Nova Cultural Ltda.
Editora Executiva
Janice Flórido
Editor
Roberto Pellegrino
Editora de Arte
Ana Suely S. Dobón
Revisores
Fábio M. Alberti
Levon Yacubian
Editoração eletrônica
Dany Editora Ltda.
2000
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Capítulo 1 – O Desequilíbrio do Setor Externo . . . . . 9
Capítulo 2 – Os Desequilíbrios das Contas Públicas 57
Capítulo 3 – O Dinheiro e Suas Transformações . . . 75
Capítulo 4 – O Padrão-Ouro e a Desvalorização
do Dólar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Capítulo 5 – A Crise dos Anos 80: a Dívida
Externa e o Ajuste . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
Capítulo 6 – O Plano Real e a Âncora Cambial . 145
Capítulo 7 – A Globalização e as Transformações
dos Anos 90 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
Capítulo 8 – A Crise Asiática e os Problemas do
Crescimento Econômico . . . . . . . . . . . . . 191
Capítulo 9 – Controvérsias entre a Teoria e
a Prática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211
Capítulo 10 – O Futuro de um Presente Mal Passado 237
Dicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271
Sobre o Autor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 293
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 295
5
Introdução
7
Muitos livros foram consultados e serviram de apoio
para a redação deste. A relação segue no final, como
uma resumida bibliografia. Agradeço aos respectivos
autores, e também àqueles meus colegas da Faculdade
de Economia e Administração da Pontifícia Universi-
dade Católica e da Escola de Administração de Em-
presas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, que
em conversas nos corredores, nos intervalos de aula,
e especialmente nas lanchonetes, responderam às mi-
nhas perguntas e esclareceram certas dúvidas sem tor-
cer o nariz. A responsabilidade sobre o texto final, no
entanto, cabe unicamente a mim.
8
CAPÍTULO 1
O DESEQUILÍBRIO DO
SETOR EXTERNO
9
mostrava cenas dos bombardeios na Iugoslávia e da
marcha dos refugiados de Kosovo: crianças chorando,
e pessoas feridas gemendo tendo como pano de fundo
grande destruição.
10
multuados dias de janeiro de 1999, quando a moeda
brasileira fora fortemente desvalorizada.
11
2. Jornais Velhos Sempre Servem para Alguma Coisa
12
em outubro. É o maior saldo negativo registrado desde o
início do Plano Real... Este dado reflete a crise financeira
internacional”.
13
Agregadas ao movimento de capitais, essas três con-
tas das “transações correntes” completam os elementos
essenciais do chamado Balanço de Pagamentos.
14
vento em popa, minha mulher me recebeu toda alegre
dizendo que havia comprado duas camisas para mim.
Ela deu uma leve risada como quem diz “sabia que
você iria dizer isso”, mas pediu que eu experimentasse
pelo menos uma, porque se não ficasse boa ela trocaria
na loja.
15
Vacilei diante da estocada, pois eram camisas que
valiam no mínimo quatro vezes mais. Então reagi. Co-
loquei meu gorro de economista e dei a bronca: “Você
deveria ter comprado meia dúzia!” Mas enquanto a
discussão prosseguia — agora nem me lembro mais
como e nem se o resultado final foi de confronto ou
de conciliação — olhei a etiqueta e ali estava a chave
do enigma: “Made in China”.
Quadro 1
1993 1994 1995 1996 1997
Exportações 38,5 43,5 46,5 47,7 52,9
Importações 25,2 33,0 49,6 53,2 61,2
Saldo +13,3 +10,5 –3,1 –5,5 –8,3
Fonte: Banco Central do Brasil; valores em bilhões de dólares.
16
É fácil perceber que até o lançamento do Plano Real
tínhamos saldos positivos ou superávits na conta de
comércio. Depois, embora as exportações também ti-
vessem crescido, as importações mais do que dupli-
caram, passando de US$ 25,2 bilhões para US$ 61,2
bilhões!
17
A primeira delas é a confiabilidade, pois são emi-
tidas por governos idem, idem. No caso do dólar, ape-
sar das estripulias do presidente Clinton, a confiança
está alicerçada numa poderosa economia, embora as
forças política, militar e diplomática também ajudem.
18
foram motivos suficientes para que os dólares, havia
muitos anos esperando na beira da porteira, voltassem
para o Brasil com grande intensidade.
Quadro 2
1993 1994 1995 1996 1997
Entradas Líquidas de
Capital Estrangeiro 10,1 14,2 29,8 32,3 26,7(*)
Fonte: Banco Central do Brasil; valores em bilhões de dólares.
(*) A queda em 1997 refletiu a fuga de capitais decorrente da
crise no Sudeste Asiático.
19
1,00, com apenas 90 centavos de real, ou até menos,
se podia adquirir 1 dólar. O dólar ficou “barato”, o
mesmo acontecendo com tudo o que se poderia com-
prar com ele no resto do mundo.
20
5. As Diferenças entre um Salmão e um Bagre (ou
Histórias Verdadeiras de Pescador)
21
de muitas histórias, ele não conhecia aquela iguaria
de urso.
22
O lado positivo dessa inversão foi encontrar pro-
dutos de consumo de massa como roupas e alimentos,
por exemplo, a preços muito baixos, o que ajudou a
manter a inflação em níveis de Primeiro Mundo du-
rante quase quatro anos. Portanto, os déficits na ba-
lança comercial ajudaram a manter os preços internos
estáveis, ou o custo de vida sob controle.
23
troque reais por dólares e estes por francos (ou euros)
para viajar, hospedar-se, alimentar-se, e mesmo com-
prar souvenirs como as inesquecíveis miniaturas da
Torre Eiffel vendidas nos quiosques parisienses.
Quadro 3
1994 1995 1996 1997
Viagens Internacionais – 1,2 –2,4 – 3,6 – 4,4
Fonte: Banco Central do Brasil; valores em bilhões de dólares.
24
Os empresários atuavam assim: mesmo não cobran-
do entradas a preços elevados em reais, era possível
pagar os artistas estrangeiros porque os dólares que
eles cobravam para se apresentar estavam relativa-
mente baratos, isto é, podiam ser comprados com
“poucos” reais.
25
Quadro 4
1994 1995 1996 1997
Pagamento de Juros 6,3 18,2 19,8 10,3
Remessa de Lucros 2,5 12,6 12,4 15,6
Total 8,8 10,8 12,2 15,9
Fonte: Banco Central do Brasil; valores em bilhões de dólares.
26
Vamos examinar o item do Balanço de Pagamentos
denominado “transferências unilaterais”, no qual esses
dramas aparecem registrados em cifras.
27
dificuldades orçamentárias, acolheu muito bem a idéia
e é provável que ela prospere se as desavenças co-
merciais no Mercosul não atrapalharem.
28
tituindo um verdadeiro exército de operários das
transferências unilaterais.
Quadro 5
1994 1995 1996 1997
Transferências Unilaterais 2,6 3,9 2,9 2,2
Fonte: Banco Central do Brasil; valores em bilhões de dólares.
29
postos de trabalho dos alemães) causou a morte de
muitos trabalhadores turcos, geralmente mediante in-
cêndios criminosos em suas moradias ou por meio de
espancamentos.
30
Quadro 6
1994 1995 1996 1997
Balança Comercial +10,5 3–3,1 3–5,5 3–8,4
Balança de Serviços –14,7 –17,8 –21,7 –27,2
Transferências Unilaterais 3+2,6 3+3,9 3+2,9 3+2,2
Transações Correntes 3–1,6 –17,9 –24,3 –33,4
Fonte: Banco Central do Brasil; valores em bilhões de dólares.
31
essa manifestação veio em conjunto com o lançamento
do Plano Real, na metade de 1994.
32
as condições mudassem. E essas condições começaram
a se organizar a partir do governo de Itamar Franco,
embora pessoalmente o ex-presidente também tivesse
algumas esquisitices econômicas (para os homens
acostumados com as regras do mercado), tais como
se insurgir contra o preço dos remédios, congelar os
altos salários pagos nas estatais e ressuscitar o velho
Fusca para espanto dos dirigentes da Volkswagen.
33
Preparemo-nos para uma eventual visita de meu vi-
zinho atrás de seu gato, examinando essa questão mais
detalhadamente.
34
Embora as dívidas devam ser pagas em determina-
do momento, é muito diferente se elas vencerem no
curtíssimo, no curto, no médio ou no longo prazo.
Quanto mais longo o prazo, costuma ser mais fácil
pagar uma dívida, supondo, é claro, que as taxas de
juros sejam idênticas.
35
A conseqüência imediata foi, como já vimos, o re-
torno maciço de recursos externos para o Brasil: o
“acerto” com os credores sinalizou aos investidores
potenciais que o Brasil voltava a ser um lugar seguro
para receber investimentos. Essa renegociação permi-
tiu também que as amortizações pesassem menos no
conjunto de pagamentos que fazíamos anualmente
ao exterior, e isso aliviou também nosso Balanço de
Pagamentos.
36
década seguinte, os prazos de vencimento de nossa
dívida externa foram se tornando cada vez mais curtos
e, para completar a desgraça, as taxas de juros foram
ficando cada vez maiores.
37
taxa de juros baixa pelo dinheiro que este último lhe
emprestar. O credor age assim porque o risco de não
ser pago é pequeno.
38
Embora alguns até gostem, a maioria dos investi-
dores, quando percebem uma situação semelhante,
voltam rapidinho a dançar com a irmã. Ou melhor,
transferem seus recursos rapidamente de áreas de risco
elevado para investimentos seguros, como, por exem-
plo, a compra de títulos do Tesouro norte-americano,
talvez o investimento financeiro mais garantido na
atualidade.
39
Lembre-se o leitor que foi esse o nosso ponto de
partida, ou seja, as declarações de um graduado fun-
cionário do Banco Central de que o déficit externo
havia alcançado um nível recorde durante o Plano Real.
40
veneno do sapo para matar a cobra: o superávit no
comércio para neutralizar o déficit dos serviços.
41
que tanto nos preocupou. Se a soma do resultado do
comércio exterior, da compra e venda de serviços e
das transferências unilaterais for negativa, isto é, se
ocorrer um déficit, este terá de ser compensado com
empréstimos e financiamentos ou outras entradas no
item denominado “movimento de capitais”.
42
que o empréstimo tenha sido contraído com algum
prazo de carência, isto é, quando o principal só começa
a ser pago passados alguns anos.
43
O leitor já deve ter percebido que, se o devedor
conseguir amortizar a primeira parcela da dívida no
final do primeiro ano, esta será reduzida, de acordo
com o nosso exemplo, para 90 milhões. No ano se-
guinte os juros de 10% serão cobrados sobre essa dí-
vida reduzida, isto é, serão 10% sobre 90 milhões, o
equivalente a 9 milhões, e assim por diante, até que
a dívida desapareça. Esses casos são raros, mas podem
acontecer. O mais freqüente é que as dívidas sejam
“roladas”, o que é considerado normal nos mercados
financeiros.
44
Quadro 7
1982
Balança Comercial (a) +0,7
Balança de Serviços (b) –17,1
Transferências Unilaterais (c) —
Transações Correntes (d)
(a + b + c = d) –16,4
Amortizações (e) – 6,9
Total (d + e) –23,3
45
notícia que eu procurava: o crescimento vertiginoso
dos investimentos estrangeiros no Brasil — informação
associada à decisão da Ford de transferir-se do Rio
Grande do Sul para a Bahia. A notícia trazia também
dados sobre o crescimento da dívida externa, impul-
sionada por novos empréstimos e financiamentos ao
setor privado brasileiro.
46
de regra, isso significa a entrada de dólares, seja para
custear as instalações de uma nova empresa, seja para
a aquisição de uma já existente, como acontece nos
casos das privatizações.
47
estabilidade cambial, recursos naturais abundantes e
vantagens tributárias e/ou isenções fiscais etc.
48
Contribui para resolver um problema no curto pra-
zo, mas pode agravá-lo no médio e no longo prazo.
Quadro 8
1994 1995 1996 1997
Investimentos Diretos 2,2 3,2 9,9 17,1
Fonte: Banco Central do Brasil; valores em bilhões de dólares.
Quadro 9
1994 1995 1996 1997
Remessa de Lucros e
Dividendos –2,5 –2,6 –2,3 –5,7
Fonte: Banco Central do Brasil; valores em bilhões de dólares.
49
pés ao relento. Mas se servir de consolo, a China re-
cebeu mais investimentos diretos nos últimos anos do
que o Brasil. Nesse campeonato fomos apenas vice-
campeões.
50
tem uma “lembrancinha”. É o código que significa
“tem uma graninha rolando no pedaço”. O único “cus-
to” é dar um pulo até lá, fazer um agrado na avó e
receber uma soma, sem nenhuma condição e geral-
mente a fundo perdido.
51
Além disso, se o cronograma de obras não estiver
em dia, a liberação dos recursos pode ser interrompi-
da, ou mesmo o próprio financiamento ser cancelado.
52
Um país, uma empresa ou até mesmo uma pessoa,
se não gozarem de crédito ou perderem aquele que
tinham, deixam de receber essas condições dos credo-
res. Nesse caso os financiamentos vão rareando e en-
tram em cena os empréstimos em cuja ponta sempre
se encontra alguém que, sem muita injustiça, podería-
mos chamar de agiota.
53
aplicados na Bolsa de Valores ou em títulos da dívida
interna de curto prazo, e ao menor sinal de perigo
saem com a mesma agilidade com a qual entraram.
54
Já vimos como isso aconteceu em 1982, e o Brasil
não pôde pagar seus compromissos externos. Coisa
parecida se repetiu no final de 1998 e início de 1999,
quando ficou claro que não teríamos condições para
fechar nossas contas externas sem a intervenção de
organismos internacionais como o FMI e sem desva-
lorizarmos a nossa moeda, apesar de termos lançado
a taxa de juros para estratosféricos 49,75% ao ano. Ve-
remos isso em detalhes mais adiante.
55
O leitor deve estar lembrado de que, ao abrir a porta
da varanda para enxotar o gato da vizinha que amea-
çava com suas andanças minha roça de janela, o vento
espalhou os jornais velhos que estavam sobre a mesa,
jogando-os no chão. Uma outra manchete me chamou
a atenção.
56
CAPÍTULO 2
OS DESEQUILÍBRIOS DAS
CONTAS PÚBLICAS
57
acaba sendo assumido por quem faz seus negócios
utilizando esse tipo de dinheiro que se desvaloriza.
58
tagem é que não produz um efeito inflacionário ime-
diato, embora uma futura elevação dos juros possa
trazer outra desgraça: o despertar do bicho-preguiça
da recessão.
59
Na cabeça do credor a coisa funciona mais ou menos
assim: se alguém deve somas crescentes, é provável
que não tenha condições de me pagar; se ele pedir
mais dinheiro emprestado, eu só concordarei se a taxa
de juros for mais elevada, para compensar o risco
crescente.
60
E a história nos ensina que, se os preços se elevarem
muito rapidamente e com grande intensidade, as pes-
soas se recusarão a usar a moeda nacional, aceitando
apenas moedas estrangeiras (o dólar, por exemplo)
para realizar suas transações. Portanto, nem o recurso
às emissões de papel-moeda resolve em certos casos
extremos.
61
trata de um delicioso manjar, mas se pisar, mesmo
levemente, naquela gosma pegajosa estará perdida,
pois, ao tentar se livrar com a outra pata, termina se
prendendo mais ainda; e se a substância atingir suas
penas, a pobre ave ficará totalmente imobilizada...
Quadro 10
Resultado Primário Resultado Nominal
(sem juros) (com juros)
(em bilhões de reais)
1999 +31 -96
Em % do PIB 3,1% (superávit) 10,0% (déficit)
62
É interessante notar que as despesas com juros são
tão relevantes que as informações sobre o déficit pú-
blico aparecem em dois conceitos, como pode ser ob-
servado no quadro anterior: o déficit primário e o ope-
racional ou nominal. O primeiro não inclui as despesas
com juros; o segundo as considera. Em 1999, como
mostra o quadro 10, o governo gastou menos do que
arrecadou. Ou seja, teve um superávit primário de
3,1% do PIB. Mas incluídos os juros, o superávit se
transforma num imenso déficit, de 10% do PIB.
63
Mas esse círculo vicioso entre déficit e dívida torna
a situação de um governo muito complicada, pois ele
não pode reduzir a taxa de juros: depende dela para
que continuem a existir interessados em comprar os
títulos da dívida, ou seja, para que esta seja “rolada”.
64
cobrir o rombo atraindo capitais estrangeiros, ofere-
cendo vantagens, entre as quais uma das mais impor-
tantes é uma taxa de juros elevada.
65
Um ataque especulativo ocorre quando existe uma
desconfiança dos investidores sobre a solidez dos fun-
damentos que sustentam a estabilidade de uma moe-
da. E esses fundamentos, como sabemos, são as contas
externas de um país ou seu Balanço de Pagamentos,
e as contas do governo.
66
morador ao sair levasse consigo parte das colunas que
dão sustentação a um edifício. Ao contrário de aliviar
peso e salvar a construção, a saída (no caso, dos in-
vestidores) aceleraria o desmoronamento.
67
1997, seguida da crise russa em 1998, esses fluxos se
inverteram.
68
Um expressivo superávit na balança comercial, so-
mado ao saldo positivo das transferências unilaterais,
poderá compensar o déficit da conta de serviços de
tal forma a eliminar ou reduzir o que causou todo o
problema: o déficit em transações correntes.
69
cientes ou pouco confiáveis, pode iniciar uma deban-
dada de investidores, antes que o edifício desmorone.
Se ao sair cada um levar consigo um pedaço da viga
de sustentação, o edifício inevitavelmente desabará.
70
Mesmo supondo que alguns moradores resolvam
ficar, pois é tentador permanecer sem pagar condo-
mínio durante digamos um ano, e o edifício não des-
morone, o síndico não terá meios para mantê-lo nos
doze meses seguintes.
71
por exemplo), pela moeda norte-americana, e volta
quando esses dólares estão “caros” e compram muitos
reais, pois estes se desvalorizaram.
72
deiros desastres financeiros e econômicos, decorrem
não só da incúria dos governos mas também do fato
de vivermos uma época de grandes incertezas.
73
Bem, para examinarmos esta questão um pouco
mais de perto teremos de usar aquela bota de sete
léguas que em questão de linhas pode nos deslocar
no tempo e no espaço. Visitemos outras épocas e re-
giões onde coisas dramáticas ocorreram no campo da
economia e das finanças e que podem nos ajudar a
entender por que desembocamos numa situação de
tanta incerteza e instabilidade.
74
CAPÍTULO 3
O DINHEIRO E SUAS
TRANSFORMAÇÕES
75
racterísticas faziam com que servissem bem como
equivalentes de valor de todas as demais mercadorias.
76
moeda ao ouro ou à prata, faz com que em alguns
países ainda hoje esses metais nobres sejam sinônimos
de dinheiro, como na Alemanha (Geld, da palavra Gold,
que significa ouro em alemão) e na França (argent, que
em francês significa o metal prata).
77
essa aparência mística de ser riqueza pela própria
natureza.
78
“imposto inflacionário”, do qual trataremos mais
adiante.
79
tipo de roupa que lhe dava uma aparência semelhante
ao resultado do cruzamento de Dercy Gonçalves com
Rambo.
80
Se por alguma razão a moeda perde valor (compra
menos a cada dia), o que acontece é que seus porta-
dores estão na realidade perdendo riqueza, ficando
menos ricos ou mais pobres. Todos nós procuramos
evitar que tal coisa aconteça.
81
2. O que Torna uma Moeda Confiável ou o Dinheiro
Seguro?
82
peso fixo de metal pelo qual as notas de cada valor
poderiam ser trocadas. Era como se as pessoas tives-
sem o próprio ouro, o qual, por razões práticas e de
segurança, permanecia guardado nos cofres do governo.
83
A especulação desenfreada, a inflação e o pânico na
economia francesa em 1720 resultaram da prática de
concepções contidas no livro de Law publicado em
1705, isto é, quinze anos antes, cujo título era sinto-
mático: Considerações sobre a Moeda e o Comércio, com
uma Proposta para Suprir a Nação de Dinheiro.
84
Quando a quantidade de dinheiro em circulação é
pequena, os preços tendem a cair. Acontece uma de-
flação, o contrário da inflação. E não pode haver coisa
mais desestimulante para os negócios do que preços
em queda. E para piorar as coisas, se o dinheiro é
escasso, difícil de ser obtido, o mesmo acontecerá com
o crédito, e as taxas de juros tenderão a situar-se em
níveis elevados.
85
Pensei no meu jovem vizinho que havia muito não
aparecia em busca de seu gato. Talvez fosse interes-
sante preparar uma explicação calcada em algum caso
concreto para facilitar o entendimento da deflação.
86
CAPÍTULO 4
O PADRÃO-OURO E A
DESVALORIZAÇÃO DO DÓLAR
87
pulista que em poucos anos cresce de pequenas reu-
niões de fazendeiros endividados e semi-arruinados
até se tornar um vasto movimento que desafiou os
poderosos de Washington e Nova York.
88
mem de Lata. Paralisado pela ferrugem, ele espelha
o desemprego existente na época na indústria meta-
lúrgica. Dorothy recupera seus movimentos e ganha
mais um seguidor.
89
rothy de volta ao Kansas: que ela destruísse a Bruxa
Malvada do Oeste. Esta representaria as forças adver-
sas da natureza (especialmente a falta de chuvas, mor-
tal para as colheitas).
90
Imagino que o meu jovem vizinho, se estivesse es-
cutando esta interpretação, com certeza perguntaria
por que o Leão era covarde. E, emendando, se ele
tinha alguma coisa a ver com o Imposto de Renda.
91
Romênia contamina o rio Danúbio, matando enorme
quantidade de peixes.
92
mente para a Marinha, provoca um estímulo fulminante
no setor siderúrgico e metalúrgico em geral. O “Homem
de Lata” recupera o emprego e os movimentos...
93
A proposta de Bryan, mesmo sem propor o aban-
dono de um lastro metálico e da conversibilidade, ti-
nha como principal objetivo alargar o que hoje se de-
nomina “base monetária”, ampliando o meio circu-
lante mediante a cunhagem da prata. O fato de a eco-
nomia norte-americana ter superado a crise pelo de-
senrolar dos acontecimentos não significa que a pro-
posta de Bryan fosse desnecessária.
94
de Janeiro, ao equilibrar os preços internacionais do
café — na época nosso principal produto de exporta-
ção —, constituiu um dos esteios dessa política, que
sobreviveu até o início da Primeira Guerra Mundial.
95
tese, o equilíbrio entre receitas e despesas, para que
não houvesse necessidade de emitir moeda para cobrir
as diferenças, causando pressões inflacionárias.
Quadro 11
Receitas Despesas (em milhões de contos de réis)
1924 15,1 16,3 1–1,2
1925 17,3 17,6 1 –0,3
1926 16,4 18,2 1–1,8
1927 19,9 20,0 1– 0,1
1928 22,0 20,2 1+1,8
1929 23,9 22,2 1+1,7
1930 16,7 25,1 1– 8,4
1931 17,5 20,5 1–3,0
1932 16,9 28,6 –11,7
96
Já vimos que o mesmo aconteceu também há cerca
de setenta anos depois com a forte desvalorização do
real em 1999; mas comentaremos isso mais adiante.
97
como dotar a cidade de São Paulo de infra-estrutura
correspondente.
98
Durante esses dois períodos, especialmente no últi-
mo, a situação externa da economia ia bem, o mesmo
acontecendo com o “resto do mundo”. De 1925 até a
crise de 1929, o preço do café, nosso principal produto
de exportação, encontrava-se num patamar bom e as
contas do governo, como já vimos anteriormente, equi-
libradas.
99
verno encontrava-se em situação tão sólida que não
só cessava de emitir moeda como reduzia a quantidade
em circulação.
100
Ou melhor, não desvalorizou o mil-réis imediatamente
nem suspendeu a conversibilidade. O resultado foi a
perda quase total das reservas.
101
Foi uma época inflacionária (depois de um curto
período inicial de deflação) e, nos primeiros anos, de
forte desemprego. Meu avô Fabrício, um notável con-
tador de “causos”, lembrava, quando alguém recla-
mava da vida, das “pensões de corda”. Um sorriso
enigmático e matreiro jamais esclarecia se ele tinha
sido um mero hóspede ou dono da referida pensão,
ou mesmo se tinha simplesmente inventado a história.
102
é necessário que o front externo se encontre razoavel-
mente favorável, isto é, que o preço das exportações
seja bom e exista equilíbrio na balança comercial. Além
disso o front interno necessita também apresentar um
equilíbrio entre receitas e despesas. Se uma dessas co-
lunas fraquejar, não será possível permanecer com o
sistema de conversibilidade.
103
reorganizar o sistema econômico e financeiro interna-
cional dilacerado durante o conflito armado.
104
Nos primeiros tempos as coisas funcionaram mais
ou menos bem. Mas durante os anos 60 já se tornara
claro que os Estados Unidos emitiam uma quantidade
de dólares superior aos seus estoques de ouro.
105
Esse dinheiro poderá ser utilizado para pagar qual-
quer despesa que um governo tenha: desde o queijo
com marmelada para a sobremesa nas refeições do
Palácio da Alvorada, salários dos servidores, combus-
tível para os carros oficiais e até juros da dívida pública.
106
Isto é, o dinheiro perderá valor na mesma medida
em que vai inundando toda a economia. Os preços
disparam e essa moeda perderá cada vez mais valor
e deixará de ser confiável.
107
6. A Desvalorização do Dólar: Resistindo a Tudo,
Menos à Tentação
108
Vamos fazer uma pequena recapitulação.
109
O resultado dessa prática, como sabemos, é a infla-
ção. E foi isso o que acabou acontecendo durante os
anos 70 até o começo da década seguinte. Houve uma
inflação expressiva nos Estados Unidos, como os dados
abaixo mostram, e o dólar sofreu forte desvalorização.
Quadro 12
Índice de Preços ao Consumidor nos EUA entre 1973 e 1982
1973 6,2%
1974 11,0%
1975 9,1%
1976 5,8%
1977 6,5%
1978 7,6%
1979 11,3%
1980 13,5%
1981 10,4%
1982 6,2%
Fonte: relatórios do Fundo Monetário Internacional.
110
São várias as razões, mas três delas têm especial
destaque: a Guerra do Vietnã, a corrida armamentista
insuflada pela Guerra Fria, e a corrida espacial, tra-
duzida pelo objetivo de chegar à Lua antes dos soviéticos.
111
Esta façanha mostrava que, se eles dispunham de
foguetes capazes de lançar um satélite, poderiam tam-
bém alcançar qualquer parte do mundo com ogivas
nucleares. E para agravar a angústia dos dirigentes
norte-americanos, logo depois a cadelinha Laika cir-
cundava a Terra e morria em nome da ciência; não
contentes, os soviéticos possibilitaram que Yuri Gagá-
rin pronunciasse uma das frases mais famosas da hu-
manidade: “A Terra é azul!”
112
De fato a Nasa comprou um imenso terreno naquela
cidade da Costa Leste dos Estados Unidos, para as
instalações necessárias. Mas, logo depois desse anún-
cio, o presidente Kennedy foi baleado e morto em Dal-
las, assumindo a presidência o vice Lyndon Johnson.
113
Todas essas despesas superando as receitas e ge-
rando déficits foram enfraquecendo o dólar. No final
dos anos 60, aqueles que mantinham a moeda norte-
americana como reservas pensando que era ouro co-
meçaram a ficar inquietos.
114
No final da década de 70, o prestígio do dólar havia
caído tanto que no mercado livre a onça de ouro che-
gou a ser cotada em US$ 580,00! Veja bem: no início
da década a cotação era US$ 35,00 a onça troy; cerca
de dez anos depois alcançava mais de US$ 500,00, qua-
se o preço de uma onça de verdade, animal sob risco
de extinção no Brasil.
115
E realmente deu. Ele era professor numa universi-
dade pública e propôs que eu fosse tratado por seus
alunos do último semestre, os quais precisavam fazer
um trabalho de conclusão do curso. Mas me assegurou
que eu não seria uma cobaia, pois ele estaria super-
visionando pessoalmente o serviço.
116
CAPÍTULO 5
117
a ouvir a cachorrada latindo ao mesmo tempo e fa-
zendo uma barulheira danada. Os cães não latem desse
jeito; em geral, e por alguma razão insondável, um
late num canto, outro responde, um terceiro se entu-
siasma e entra na conversa, mas não todos ao mesmo
tempo.
118
—, o que provoca ondulações é o menos destrutivo;
são os mais devastadores aqueles nos quais a terra,
em vez de ondular, realmente “treme”.
119
Essas matérias-primas e alimentos transacionados
no mercado internacional sofreram fortes majorações,
e a inflação nos Estados Unidos, como já vimos no
Quadro 12, entrou perigosamente na casa dos dois
dígitos.
120
A situação brasileira tornou-se ainda mais compli-
cada em 1979, quando o preço do petróleo sofreu outra
brusca elevação. A solução encontrada pelo governo
foi intensificar o programa nacional do álcool como
combustível para os automóveis, e também abandonar
ou desativar projetos de termelétricas (energia elétrica
produzida por turbinas movidas a óleo combustível),
substituindo-as por hidrelétricas.
121
portanto, exercia pressões sobre o déficit público. E
nem a transformação improvisada de uma simples
barragem numa usina hidrelétrica.
Quadro 13
Balança Comercial (em milhões de dólares)
Superávit Déficit
1973 7
1974 14.690
1975 13.540
1976 12.254
1977 96
1978 11.024
1979 12.839
1980 12.822
1981 1.202
1982 780
Total 2.085 17.169
122
Resultado líquido dos dez anos: 17.169 – 2.085 =
15.084.
Quadro 14
Serviços Transações Correntes
(Déficit) (juros) (Déficit)
1973 11.722 11.514 11.688
1974 12.432 11.652 17.122
1975 13.162 11.498 16.700
1976 13.763 11.809 16.017
1977 14.134 12.103 14.037
1978 16.037 12.696 16.690
1979 17.920 14.185 10.741
1980 10.152 16.311 12.807
1981 13.135 19.161 11.734
1982 17.082 11.353 16.310
123
Estes números mostram que, impulsionado pelos ju-
ros, o déficit nos serviços cresceu dez vezes nesse pe-
ríodo. O déficit em transações correntes subiu de 1,7
bilhão para 16,3 bilhões, apesar de já termos obtido
superávits comerciais em 1981 e 1982. Acabávamos de
nos meter numa bela crise: apesar dos superávits na
balança comercial, o déficit nos serviços era tão grande
que o rombo nas transações correntes tornava-se quase
impossível de ser coberto. Mas antes de conhecermos
o desfecho dessa crise, convém examinar por que ela
se armou.
124
Diante de uma situação difícil, nossos governantes
também tendem a protelar ou empurrar com a barriga
algo que exija uma decisão desgastante do ponto de
vista político.
125
dutivo, sobretudo no setor automotivo, que era uma
espécie de puxador do desenvolvimento industrial
brasileiro.
126
se diz, seis por meia dúzia, ou no caso três por uma
trinca.
127
No início de 1974 nossa dívida externa bruta equi-
valia a uns US$ 12 bilhões e nossas reservas a uns
US$ 6 bilhões. Portanto nossa dívida líquida era exa-
tamente igual à diferença (12 – 6 = 6), o que repre-
sentava uma situação razoavelmente confortável.
128
3. O Estouro do México em 1982
129
como as de mãe Dinah, por exemplo. Mas em alguns
casos os fundamentos que sustentam uma economia
estão tão comprometidos que as previsões do que vai
acontecer tornam-se extremamente fáceis.
130
Mas foram conseguidos somente US$ 12,5 bilhões de
empréstimos e financiamentos, e US$ 2,5 bilhões de
investimentos diretos, perfazendo um total de apro-
ximadamente US$ 15 bilhões, insuficientes para cobrir
o déficit.
131
O superávit alcançou mais de US$ 13 bilhões, e as
transações correntes, que sempre apresentavam défi-
cit, pela primeira vez em mais de vinte anos registra-
ram um pequeno superávit de cerca de US$ 44 milhões.
132
E estaria certo. Mas essa alteração nos contratos foi
feita exatamente porque os juros eram ascendentes,
como pode ser visto no quadro abaixo:
Quadro 15
Taxa de Juros Nominal
1976 16,8
1977 16,8
1978 19,1
1979 12,7
1980 15,2
1981 18,8
1982 10,8
Fonte: Fundo Monetário Internacional.
133
do pagos; b) declarar-se incapacitado de fazer os pa-
gamentos devidos; c) partir para uma moratória.
134
A declaração da quebra do setor externo brasileiro
esperou a passagem das eleições de novembro de 1982
(realizavam-se as primeiras eleições diretas para go-
vernador depois de cerca de quinze anos).
135
basta dizer o seguinte: logo depois da crise de 1982,
o governo brasileiro desvalorizou o câmbio em 30%
para estimular as exportações e desestimular as im-
portações. Esta medida foi acompanhada pela elevação
das taxas de juros e por uma redução dos salários
reais. A combinação dessas medidas provocou uma
senhora recessão no país, acompanhada de uma in-
flação de 200% ao ano!
136
caído para menos de 12 kg; ao mesmo tempo, as ex-
portações do produto aumentaram no período em qua-
se US$ 300 milhões.
137
A intenção era evitar que um dos elos da corrente
se rompesse, pondo em perigo a estabilidade de todo
o sistema.
138
Na prática, isso significava que os países devedores
deveriam apertar o cinto e os bancos dos países cre-
dores abrir um pouco seus cofres.
139
cursos até maior do que antes, levando à ilusão de
que a crise da dívida havia terminado.
140
lavras, recomendava-se que se chupasse cana, mas se
exigia que se assoviasse ao mesmo tempo...
141
em leiloar parte da dívida mexicana com um desconto.
Ou seja, credores e devedores reconheciam que as dí-
vidas deveriam ser recontratadas por meio de meca-
nismos do próprio mercado.
142
cuja repercussão, embora limitada, poderia ser o es-
topim de uma rebelião de devedores. Ao mesmo tem-
po Alan García, na época presidente do Peru, diante
da absoluta falta de recursos para pagar seus compro-
missos externos, vinculou as parcelas e os juros da
dívida a uma certa porcentagem das exportações pe-
ruanas, rompendo na prática com o que estava escrito
nos contratos.
143
As diretrizes do Plano Brady, embora insistindo em
políticas orientadas para o crescimento econômico, to-
cavam em dois pontos cruciais: alongavam os prazos
de pagamento das dívidas e propunham uma discreta
baixa nas taxas de juros.
144
CAPÍTULO 6
O PLANO REAL E A
ÂNCORA CAMBIAL
145
de pés juntos ter ouvido o defunto mover os lábios
para pedir mais algum...
146
Quadro 16 — Em bilhões de US$
1990 1991 1992 1993 1994 1995
Invest. Direto 0,2 0,5 13,1 16,2 18,2 14,5
Empres. x Finan. 5,0 6,0 19,3 11,5 12,5 16,3
Capit. Curto Prazo –1,3 –4,1 11,7 13,2 12,7 13,2
Total 3,9 2,4 14,1 20,9 23,4 24,0
Reservas 10,0 9,4 23,8 32,2 38,8 51,8
147
Se algum produto faltasse no mercado interno, as
reservas permitiriam a imediata ampliação das impor-
tações, evitando choques de preços por insuficiência
de oferta interna.
148
Ou, voltando ao nosso exemplo das colunas que
sustentam o edifício da estabilidade de preços, é como
se as pessoas que garantissem que não sairiam reti-
rando pedaços das colunas não merecessem confiança:
se achassem vantajoso, fariam-no sem nenhum pro-
blema de consciência.
149
dutos que um país importar terão também preços es-
táveis.
150
internacionais passaram a operar on-line 24 horas por
dia. Quando é noite em Tóquio, seus operadores po-
dem estar investindo na Bolsa de São Paulo e vice-
versa.
151
(sua origem) em seis meses, o que pode ser conside-
rado bem satisfatório.
152
a trocá-la por dólares e sair rapidamente antes que tal
desvalorização aconteça, isto é, antes que os dólares
estejam custando mais caro.
153
Antes é necessário esclarecer de que forma a entrada
de dólares para investimentos financeiros pode esti-
mular a expansão da dívida interna.
154
será seguida certamente de um telefonema avisando
eventuais retardatários para que desistam, pois trata-
se de uma roubada.
155
O Brasil foi, e continua sendo, um dos países que
melhores condições de entrada e saída oferecem no
mercado internacional entre os anfitriões. Isso em fun-
ção da “ficha corrida” que inclui, entre outras coisas,
como já vimos, um congelamento em 1986, uma mo-
ratória mal executada em 1987, durante o governo Sar-
ney, e um bloqueio-confisco das aplicações financeiras
durante o Plano Collor, em 1990.
156
jetivo de ganhar juros, o que só acontece por meio da
compra de títulos da dívida pública.
157
por duas fontes: o déficit público e as entradas de
investimentos estrangeiros de curto prazo.
Quadro 17
Dívida Interna em bilhões de reais
ano valor
1994 80
1995 150
1996 270
1997 308
1998 390
1999 510
Fonte: Banco Central do Brasil.
158
A taxa de juros elevada provoca geralmente uma
desaceleração dos negócios: o portal da recessão. O
crescimento econômico, objetivo de qualquer política
econômica, entra em rota de colisão com uma taxa de
juros elevada.
159
de tão excitante ali, pois tenho apenas algumas ino-
centes plantas. Talvez sejam as lagartixas... Os gatos
são exímios caçadores desses pequenos répteis.
160
vel. Por exemplo, se importarmos arroz, o preço in-
terno desse alimento será equivalente ao seu preço
em dólares convertidos em reais pela taxa de câmbio
vigente.
161
Taxa de câmbio estável é sinônimo de ausência de
pressões inflacionárias via importações.
162
Se o preço do couro, da cola ou da energia elétrica
aumentar e esses custos somados superarem os R$
45,00, o exportador passará a ter prejuízos se teimar
em continuar exportando.
163
calçados poderia aumentar, digamos, de US$ 30,00
para US$ 40,00, quando a receita do exportador subiria
para R$ 60,00 (US$ 40,00 x R$ 1,5 por dólar), apare-
cendo outra vez o lucro do exportador e estimulando
as vendas ao exterior;
164
Isto é, se os exportadores brasileiros quiserem au-
mentar seus preços para obter uma compensação em
face de uma taxa de câmbio defasada, certamente per-
derão clientes, pois o mesmo produto poderá ser ofe-
recido por um preço (em dólares) mais baixo por
outros fornecedores.
165
Nessa altura do campeonato inicia-se de forma mais
ou menos aberta a ciranda dos repasses. Se meus custos
aumentaram, eu remarcarei os preços do produto que
vendo, e os compradores de meus produtos se com-
portarão da mesma maneira e assim por diante...
166
(ou maiores) velocidade e intensidade. É desencadeada
uma luta cotidiana por reajustes cujo desenlace final
é sempre uma inflação muito alta e descontrolada, ou
uma hiperinflação.
167
CAPÍTULO 7
A GLOBALIZAÇÃO E AS
TRANSFORMAÇÕES DOS ANOS 90
1. A Globalização e as Comunicações
169
Moral da história: na era da globalização, até os de-
linqüentes precisam ser mais cuidadosos com o poder
das comunicações...
170
têm acesso às informações — em escala global — e o
comércio eletrônico se generaliza, as vantagens decor-
rentes da ignorância dos consumidores, que permitia
no passado que alguns empresários fossem beneficia-
dos, tendem a desaparecer.
171
reintegrou plenamente aos mercados capitalistas tanto
de mercadorias como de capitais, provocando uma au-
têntica “reglobalização”.
172
Situado do “outro lado do rio Grande”, o México,
ao mesmo tempo que entrava no Nafta, ganhava com-
petitividade não apenas em função da desvalorização
de sua moeda, mas também pela proximidade física
do mercado norte-americano. Basta cruzar o rio Grande...
173
mexicano e o iuan chinês estavam desvalorizados em
face do dólar, que ia se fortalecendo em relação ao
iene e às moedas européias como o franco e o marco.
174
baixos. E nem sempre uma política de juros baixos,
de alta liquidez, provoca o efeito desejado, isto é, es-
timula os investimentos e o consumo.
175
3. Entram em Cena Tigres, Tiranossauros e Dragões
176
A China jamais aceitou essa situação. Isto é, jamais
aceitou a existência de duas Chinas. E tem desenvol-
vido uma luta intensa pela recuperação de sua pro-
víncia. Depois da reintegração de Hong Kong, Taiwan
se transformou na bola da vez.
177
Kong, os investidores começaram a retirar seus recur-
sos daquele importante mercado financeiro.
178
mesma diferença existente entre comprar um peixe e
adquirir a isca para pescá-lo.
179
prio mercado de Hong Kong ou comprando títulos
do Tesouro norte-americano, de rendimento baixo,
mas os mais seguros do mundo.
180
relativo êxito: o governo não foi forçado a mexer na
taxa de câmbio desvalorizando o real, mas os juros
estratosféricos incidiram violentamente sobre sua dí-
vida interna.
181
mau”. Ocorre que a crise asiática e a recessão japonesa
agravada por ela haviam provocado outros estragos.
Depois do Sudeste Asiático, a Coréia e Taiwan também
entraram na ciranda das desvalorizações cambiais e
da recessão. O crescimento econômico que ia de vento
em popa na região sofreu um sério abalo.
182
A vodca ajuda a alcançar esse objetivo. Dizem que
pelo jeito Iéltsin chegará aos cem anos apesar dos
freqüentes internamentos e operações a que tem sido
submetido.
183
Apesar disso, o presidente dos Estados Unidos teve
forças para fazer uma longa viagem à Rússia e “am-
parar” seu cambaleante colega Iéltsin, que do bunker-
hospital onde estava internado não conseguia que a
Duma (o Parlamento russo) aprovasse os nomes que
ele indicava para primeiro-ministro.
7. O Efeito Manada
184
re-se à situação de um devedor que só pode pagar
dívidas passadas contraindo mais dívidas no presente.
O nome refere-se a Carlo ou Charles Ponzi, um este-
lionatário ítalo-americano que, entre 1921 e 1927, pro-
metia pagar uma remuneração extraordinariamente ele-
vada para quem lhe emprestasse dinheiro, e pagava
essas dívidas com novos endividamentos, até quebrar.
Ponzi foi preso e sua empresa, fechada.
185
A denominação vem do peculiar comportamento
dos animais que vivem em bandos: quando um deles
ou um grupo sai em disparada numa direção, os de-
mais fazem o mesmo, provocando o chamado “estouro
da boiada”.
186
tomarem atitudes parecidas, pois a ação de um se-
gundo influencia um terceiro, no final teremos uma
debandada geral.
187
nha vida, e se o ganho é certo não vou arriscar. Mesmo
que os 7 milhões representem 40% a mais, há uma
possibilidade de eu não ganhar nada”.
188
Já fiz esse teste centenas de vezes e jamais ocorreu
a coincidência dos dois números... Agora, se me per-
guntassem o que eu faria se me oferecessem realmente
os US$ 5 milhões, creio que aceitaria a primeira alter-
nativa, pois “Yo no creo en brujas, pero que las hay
las hay!”.
189
Quando um investidor percebe que em vez do risco
de 99% contra 1%, a situação é 85% a 15%, pode ser
tarde para mudar de canoa. Se soubesse que os riscos
eram diferentes, provavelmente não faria o investi-
mento, mas o dinheiro está aplicado e muitas vezes
é tarde para defendê-lo.
190
CAPÍTULO 8
A CRISE ASIÁTICA E
OS PROBLEMAS DO
CRESCIMENTO ECONÔMICO
191
Standard & Poors, isto é, empresas que estudam a
situação de países, empresas e governos e informam
a seus clientes o maior ou menor risco que estariam
correndo se aplicassem nesses mercados, davam uma
“nota” razoavelmente elevada para essas quatro ja-
guatiricas asiáticas.
192
O Brasil foi afetado não apenas no plano financeiro,
com a fuga de capitais enfraquecendo suas reservas,
mas também no comércio de mercadorias. A crise local
provocou uma baixa em nossas exportações para toda
a Ásia, o Japão incluído, e as desvalorizações cambiais
deram a esses países condições muito melhores para
competir com nossos produtos no mercado interna-
cional e inclusive no nosso mercado interno.
193
crescimento da economia brasileira foi um dos mais
elevados do mundo durante o século XX. Só não fi-
camos em primeiro lugar no ranking por causa da crise
dos anos 80, que se prolongou durante a década seguinte.
194
O crescimento econômico significa uma coisa até
bem trivial: basicamente, o aumento da produção de
bens e serviços. E a soma do valor de todos esses bens
e serviços é o que se denomina PIB, ou Produto Interno
Bruto. E o leitor deve estar lembrado que esse termo
vem nos acompanhando desde o Capítulo 1, e talvez
não haja um só dia em que ele não apareça estampado
nas manchetes dos jornais.
195
lerantes com os índices de crescimento econômico. Se
durante os anos 70 um crescimento de 2 ou 3% do
PIB era considerado uma catástrofe, pois estávamos
acostumados com um crescimento de 10% ou mais,
hoje as pretensões são bem mais modestas.
196
A partir dos anos 80 este crescimento caiu para menos
da metade. A situação piorou tanto que muitos eco-
nomistas batizaram os anos 80 (e também os anos 90)
de década perdida: entre 1979 e 1999, o crescimento
do PIB apenas compensou o crescimento da popula-
ção, de tal forma que, passados vinte anos, as pessoas
mantinham a mesma riqueza per capita.
197
A combinação desses três elementos básicos resultou
na produção da camisa. Mas, pensando bem, o tecido
teve também de ser produzido, o mesmo acontecendo
com a máquina de costura; e os trabalhadores tiveram
de ser alimentados, vestidos, transportados etc., isto
é, eles também tiveram de ser “reproduzidos”; sem
esses meios de vida, não estariam em condições de
trabalhar.
198
A existência de inflação, especialmente nas econo-
mias desenvolvidas, indica que o crescimento econô-
mico atingiu seu ponto máximo. Isto é, que a expansão
da demanda de fatores de produção esbarrou na in-
capacidade da oferta de atendê-la. Essa situação corres-
ponde aos últimos momentos da fase de prosperidade
do ciclo econômico. Assemelha-se ao sinal amarelo: o
carro tem de desacelerar porque o semáforo vai fechar.
4. Os Ciclos Econômicos
Auge
Nível de atividade
Prosperidade
econômica
Recessão Recuperação
Depressão
199
Essas fases são denominadas “recuperação”, “pros-
peridade”, “desaquecimento”, “contração”, “recessão”.
200
tos estoques de matérias-primas, muita mão-de-obra
desempregada, e as empresas terão parte de sua ca-
pacidade instalada (máquinas, equipamentos etc.) com
certa ociosidade. E o que significa “capacidade ocio-
sa”? Se uma empresa possui máquinas com capacida-
de para processar cem unidades/mês, mas só produz
setenta unidades, pois essa é a quantidade máxima
que pode ser vendida a cada trinta dias, dizemos que
existe uma capacidade ociosa de trinta, que é a dife-
rença entre a capacidade instalada e a efetivamente
utilizada.
201
empregos, os trabalhadores, além de aceitarem salários
mais baixos, trabalham com mais “afinco”.
202
mostra-se fortalecida e consistente, os bancos, que an-
tes estavam meio ressabiados em relação ao futuro,
começam a acreditar mais na capacidade dos empre-
sários de ganhar dinheiro.
203
cada vez maior. Se a “capacidade ociosa” dos bancos
em matéria de empréstimos se aproximar do esgota-
mento, a possibilidade de fornecer crédito à praça che-
gará ao seu limite.
204
dos empréstimos, pois trata-se de lugares muito mais
seguros. Haverá então certa dificuldade em atrair re-
cursos para cá;
205
Mas, em geral, quem começa a refletir primeiro essas
tensões é o mercado financeiro: os credores podem
considerar que o ciclo de expansão da economia che-
gou ao fim e que é o momento de começar a retirar
o time de campo, só emprestando para clientes muito
especiais, e mesmo assim cobrando uma taxa de juros
mais elevada.
206
fique meio tristonho, é a garantia de boas colheitas e
prosperidade para todos.
207
muito brusca e descontrolada, embora a economia en-
trasse num período de desaquecimento.
208
centenas de quilômetros de distância acabam sendo
beneficiadas.
209
com os devidos recursos orçamentários. Ou melhor,
para realizar esses investimentos os governos acabam
gastando mais do que arrecadam, e o resultado é um
déficit público de bom tamanho, que deverá ser co-
berto por emissões ou financiado pelo crescimento da
dívida interna.
210
CAPÍTULO 9
CONTROVÉRSIAS ENTRE A
TEORIA E A PRÁTICA
211
sofreu um processo de desaceleração no início dos
anos 90 que se transformou numa recessão que se pro-
longa até hoje, no ano 2000.
212
Diante desse quadro desalentador, alguns economis-
tas apregoam que a única saída é provocar uma in-
flação para que o público gaste o dinheiro, no consumo
ou no investimento, com medo de que ele se desva-
lorize. Se essa medida extrema não der certo, a única
coisa que resta é pedir ao paciente que diga “trinta e
três”...
213
o desemprego, expandindo o consumo, atraindo so-
mas crescentes de investimentos (internos e externos)
e batendo recordes nos índices das Bolsas de Valores.
214
o frenesi retoma seu lugar e o índice Dow Jones pros-
segue em níveis elevados, embora tenha caído abaixo
da marca mística dos 10 mil pontos em fevereiro de
2000.
215
Soviética e a transformação do urso siberiano num
panda que adora bebidas alcoólicas, liberou o governo
norte-americano de muitos gastos com o armamentis-
mo e a manutenção de tropas. Isso contribuiu também
para o equilíbrio orçamentário, feito que os Estados
Unidos não conseguiam havia mais de trinta anos.
216
comercial) se encontrar em pane. O outro, que está
em boas condições — o déficit público zerado —, é
suficiente para conduzi-lo ao seu destino sem maiores
turbulências.
217
acabou, o fôlego de expansão econômica norte-ame-
ricana prossegue.
218
Embora na vida real algum devedor acuado possa
apelar para essa solução mágica, nenhum credor que
eu conheça aprecia mais os sons dos cânticos religiosos
do que as maravilhosas harmonias do tilintar das moe-
das, especialmente das de ouro.
219
Para que a dívida seja rolada, ou seja, as datas de
vencimento empurradas um pouco mais para adiante,
os credores exigirão taxas de juros mais elevadas, pois
se o devedor não pagou na data combinada passa a
ser menos confiável.
220
de futebol do nosso amigo foi campeão por antecipa-
ção, e ele convidou uma grande “corriola” para assistir
à partida final em sua casa, tendo alugado um telão
e detonado várias caixas de cerveja e pacotes de sal-
gadinhos obtidos no mesmo fornecedor.
221
Não apenas estavam proibidas festas, especialmente
as relacionadas com vitórias no futebol, como qualquer
outra comemoração, por exemplo do tipo aniversário
dos filhos. E quanto a estes últimos, nada de sorvetes,
iogurtes e outras guloseimas.
222
gá-lo. Se alguém, no meio da ação, disser que se trata
de água contaminada e que vai arruinar as manguei-
ras, o dono da casa em chamas dificilmente o escutará,
mesmo que registre o fato. O problema urgente é apa-
gar o fogo. O resto se resolve depois.
223
Somados aos dólares que entravam pela conta de
capital, foram mais do que suficientes para cobrir o
déficit de serviços mais as amortizações, e o resultado
final foi superavitário! Isto é, o Balanço de Pagamentos
fechou com um saldo positivo que serviu para engor-
dar as reservas.
224
não se preocupou com o pagamento dos juros e com
a rolagem da própria dívida.
225
fícil: ninguém tinha moeda local para trocar pelos
dólares.
226
R$ 99,90. O governo paga uma conta de R$ 100,00
desembolsando apenas 10 centavos. Que maravilha!
227
fizesse dez viagens durante o dia. O resultado é o
mesmo, pois aumentamos a velocidade de circulação
dos ônibus de um para dez.
228
ocupando apenas o espaço deixado pela drástica re-
dução da velocidade de circulação da moeda. Com
essa manobra o governo evita que os preços caiam,
por falta de meio circulante para movimentar os negó-
cios. Enche o seu cofre de dinheiro sem provocar inflação!
229
Na época em que o Plano foi lançado nossas reservas
não alcançavam US$ 8 bilhões, quantia que mal daria
para sustentar três meses de importações.
230
A partir de 1991, o déficit retornou. Em setembro,
a devolução do dinheiro bloqueado dezoito meses an-
tes começou a ser feita, o que contribuiu não apenas
para elevar as despesas do governo mas também para
acelerar outra vez a inflação.
231
gociação abria uma porta por onde os investidores
internacionais retornavam ao Brasil. Quando o Plano
Real foi lançado, as reservas já superavam US$ 35 bilhões.
232
terminado momento esse processo for interrompido,
as posições relativas serão mantidas.
233
Os congelamentos atuaram como uma camisa-de-
força dentro da qual os preços comprimidos ficaram
esperando a primeira oportunidade para escapar ou
para se vingar.
234
de preços, pois permitia que a taxa de câmbio perma-
necesse até valorizada.
235
CAPÍTULO 10
O FUTURO DE UM PRESENTE
MAL PASSADO
237
No front externo as coisas marchavam bem. Já vimos
que em 1994 o déficit em transações correntes do Ba-
lanço de Pagamentos havia alcançado apenas US$ 1,6
bilhão. Mesmo considerando as amortizações, o resul-
tado final foi superavitário: o crescimento dos emprés-
timos e financiamentos, dos investimentos diretos e
dos capitais de curto prazo permitiram que o governo
engrossasse ainda mais as reservas.
238
São os chamados “restos a pagar”, que às vezes re-
presentam somas vultosas, as quais, se fossem com-
putadas devidamente, talvez os resultados finais
fossem diferentes.
239
positivo para reforçar as reservas. A taxa de juros,
principal atrativo dos investimentos financeiros exter-
nos, não poderia portanto ser fixada em níveis baixos
mesmo que isso comprometesse o dinamismo da de-
manda e o crescimento econômico.
240
A estabilidade da taxa de câmbio, indispensável
para a estabilidade de preços, passava então a depen-
der do estoque de reservas, que por sua vez provocava
o aumento da dívida interna, que ia se expandindo,
pois as taxas de juros eram elevadas para atrair os
investimentos estrangeiros, que alimentavam as reser-
vas, e assim por diante... Uma ciranda infernal.
241
seguintes, o mesmo sucedendo com o déficit em tran-
sações correntes, como pode ser observado no quadro
abaixo:
Quadro 18
1994 1995 1996 1997
Transações Correntes –1,6 –17,9 –24,3 –33,4
Transações Correntes 0,27 2,48 3,10 4,2
(% do PIB)
Balança Comercial 10,4 –3,1 –5,5 –8,7
Fonte: Banco Central do Brasil; valores em bilhões de dólares.
242
Em outras palavras, apesar de promover pequenas
desvalorizações do real depois da crise asiática em
1997, tentando estimular as exportações e frear um
pouco as importações, a ligeira queda do déficit co-
mercial em 1998 não foi suficiente para reverter a ten-
dência ascendente do déficit em transações correntes.
243
Supondo que na média essa taxa fosse de 25%
durante todo o ano, a conta juros devoraria cerca de
R$ 100 bilhões, e seria muito difícil evitar um monu-
mental déficit público.
244
coisa que o crédito que fornecem à praça. Nesse sen-
tido, os bancos também arrecadam parte desse impos-
to inflacionário.
245
Ao acabar com a inflação, o governo ganhou por
um lado mas perdeu por outro. Foi obrigado a salvar
suas próprias entidades financeiras e o sistema como
um todo na medida em que essas operações de socorro
se estenderam também ao setor privado. Boa parte
dos recursos necessários foi obtida graças ao cresci-
mento da dívida interna.
Quadro 19
1994 1995 1996 1997 1998
Saldo das Contas do
Governo (% do PIB) +1,5 –4,8 –3,7 –4,3 –7,5
Fonte: Banco Central do Brasil
246
no primeiro assalto e apenas sentirá seus efeitos de-
vastadores no quarto ou quinto.
247
A crise se acentuou com o dispositivo da Constitui-
ção de 1988 concedendo a todos os servidores públicos,
mediante o chamado regime jurídico único, aposen-
tadoria com o salário integral mesmo que as contri-
buições fossem insuficientes para custear tal benefício.
Quadro 20
1997 1998 1999
Regime Geral INSS 44 45 47
(setor privado)
Contribuições
Benefícios 46 53 59
Déficit 32 38 12
Servidores Públicos 36 37 38
União, Estados e Munic.
Contribuições
Benefícios 37 41 42
Déficit 31 34 34
Déficit Global 33 42 46
Fonte: Cálculos feitos a partir de dados do INSS e do Orçamento
Federal. Os dados estão arredondados.
248
Embora os dados para 1999 sejam previsões, não
resta dúvida de que a situação é explosiva porque
a diferença entre contribuições e benefícios tende a
aumentar.
249
2. O Naufrágio do Wasa: na Suécia Tudo Acabou em
Smorgasbord
250
lhares de pessoas que tinham ido se despedir, levando
para o fundo do porto de Estocolmo todos os seus
canhões e afogando mais de duzentos marinheiros.
251
seu Balanço de Pagamentos, caminho que começava
a ser trilhado pelo Brasil pilotado pelo Plano Real.
252
No momento foi uma forma de dar mais flexibili-
dade à taxa de câmbio e margem de manobra para a
embarcação. Mas, embora o sistema de bandas reajus-
tasse pouco a pouco a taxa de câmbio, não resolveu
o problema da falta de estímulo aos exportadores.
253
benha, Gabriel García Márquez, escreveu uma bela his-
tória chamada Crônica de uma Morte Anunciada, na qual
os personagens, embora conhecedores do que o futuro
lhes reserva, marcham estóicos para o trágico destino.
No Brasil, a história transformada em filme, Cabra Mar-
cado para Morrer, tem um fio condutor parecido.
254
souro, Robert Rubin, o então diretor-geral do FMI, Mi-
chel Camdessus, o governo japonês e a União Européia
(até Portugal se comprometeu com uma graninha), re-
sultou na reunião de US$ 41 bilhões para ajudar o
Brasil a se defender da crise.
255
velhos tempos quando 1 real = 1 dólar), ou seja, quan-
do essa taxa de câmbio fosse na base do 1 x 1, se o
real fosse desvalorizado em 50% e a taxa de câmbio
fosse elevada para R$ 1,50 = US$ 1,00, o aplicador
receberia uma correção de sua aplicação em reais, que
passaria de R$ 100,00 para R$ 150,00. Isto é, ele ga-
nharia em poucos dias 50% sobre o investimento feito.
256
É claro que quanto mais garantias oferecia aos cre-
dores, mais demonstrava que se encontrava debilitado.
E depois de oferecer quase 50% de taxas de juros e
operações quase ilimitadas com correção cambial, ve-
rificou com desânimo que o mercado não havia se
acalmado e que os investidores continuavam saindo
com seus dólares. Não havia mais salvação para a taxa
de câmbio: estava marcada para morrer.
257
E para manter a taxa de câmbio dentro da banda, o
governo gastava suas preciosas reservas em dólares, por-
que só havia compradores da moeda norte-americana.
258
valorização cambial, que estimulou a exportação de
produtos agrícolas, embora o preço em dólares destes
tivesse caído um pouco no mercado internacional.
259
Na verdade, não apenas houve redução nas impor-
tações devido à elevação cambial como também con-
tração na compra de determinados serviços, como
aquele tópico que destacamos anteriormente: das via-
gens internacionais ou do turismo de classe média.
260
Já vimos esse filme anteriormente e sabemos que
para não termos novas ameaças à taxa de câmbio, de-
veremos obter um expressivo superávit na balança co-
mercial. Se não for possível obter tal resultado aumen-
tando exportações, as importações deverão ser sacri-
ficadas, e isso representa um obstáculo ao crescimento
econômico. Ou melhor, o crescimento do PIB está as-
sociado ao aumento das exportações, mas também re-
quer uma expansão das importações.
261
É preciso lembrar também que o aumento das ex-
portações, especialmente de produtos semimanufatu-
rados e manufaturados, depende muito da situação
de outros países exportadores. Praticamente todo o
Sudeste e Nordeste asiáticos, o México e a Rússia des-
valorizaram suas moedas antes do Brasil.
262
quista de mercados externos continuará sendo acirra-
da. Não se pode esperar um megassuperávit a partir
de 2000, como aconteceu em 1984 depois da maxides-
valorização de 1983.
263
de câmbio como do preço do petróleo em dólares para
os seus derivados, o que diluiu um impacto mais forte
na inflação.
264
tanto da minha varanda. Pilhei outra vez o simpático
animal acompanhado de uma bela gata. Esta parecia
um filhote de jaguatirica, o que me fez lembrar da
crise asiática... O casal tinha uma postura de quem
examinava um apartamento recém-comprado. Esta-
vam tão tranqüilos e à vontade que resolvi deixá-los
em paz.
265
pende mais da desvalorização cambial, pois a que so-
fremos em 1999 está de bom tamanho. Creio que o
fator fundamental será a continuidade da expansão
econômica dos Estados Unidos, associada com a re-
cuperação do Japão e dos países da União Monetária
Européia. E a própria capacidade competitiva em ter-
mos de produtividade de nossos exportadores.
266
ção da nossa dívida externa: a conta juros será mais
elevada.
267
a R$ 127 bilhões, provocando não apenas um enorme
déficit público, como também o crescimento da própria
dívida pública, que ultrapassou os R$ 500 bilhões.
268
Encontrei minha vizinha no elevador. Pensei que
ela fosse fazer algum comentário sobre as bodas do
gato. Engano. O filho está se preparando para o ves-
tibular e ela me perguntou o que eu achava do curso
de economia...
269
Dicas
271
o risco existente nos investimentos. As empresas de
avaliação de risco mais conhecidas são as norte-ame-
ricanas Standard & Poor’s e a Moody’s Investors Ser-
vice. Ambas rebaixaram os índices do Brasil depois
da crise asiática e da crise russa entre 1997 e 1998.
272
sação. A diferença entre o preço oficial e o que o com-
prador realmente paga é considerada o ágio daquela
transação. Esse tipo de fenômeno ocorre quando há
tabelamento ou congelamento de preços, como acon-
teceu durante os planos econômicos de estabilização
no Brasil durante os anos 80 — sobretudo durante o
Plano Cruzado, em 1986, e no início dos anos 90 com
o Plano Collor. O ágio pode aparecer nesse contexto
também quando, embora não haja congelamento, exis-
te uma forte descompensação entre oferta e demanda,
como aconteceu durante os primeiros meses do Plano
Real com a aquisição de automóveis populares. Quan-
do em vez de um preço maior paga-se um preço menor
por um título, uma ação ou uma moeda, ocorre um
“deságio”.
273
uma parte dos créditos a receber em troca de novos
títulos lastreados por papéis do Tesouro dos EUA, con-
siderados de risco zero pelo mercado. O Brasil emitiu
cerca de US$ 50 bilhões de bradies. No mercado inter-
nacional da dívida externa brasileira há oito tipos de
papéis conhecidos por nomes diferentes e que se di-
videm em várias modalidades, sendo o mais conhecido
o C-BOND (Front-Loaded Interest Reduction with Ca-
pitalization Bond).
274
de uso corrente em Portugal — passou a ser utilizado
no Brasil a partir da Cimeira América Latina-Caribe-
União Européia, realizada no Rio de Janeiro em junho
de 1999, na qual foram discutidas várias questões re-
lacionadas com uma maior integração entre o Merco-
sul e a União Européia e uma ação conjunta dos 48
países representados nessa reunião em face da OMC
(Organização Mundial do Comércio).
275
de seus mercados e o Estado Mínimo, isto é, um Estado
com um mínimo de atribuições (privatizando as ati-
vidades produtivas) e portanto com um mínimo de
despesas, como forma de solucionar os problemas re-
lacionados com a crise fiscal: inflação intensa, déficits
em transações correntes no Balanço de Pagamentos,
crescimento econômico insuficiente e distorções na dis-
tribuição da renda funcional e regional. O resultado
mais importante dessas políticas (pelo menos no que
se refere aos países latino-americanos) tem sido o bem-
sucedido combate à inflação durante os anos 90. Além
disso, o livre funcionamento dos mercados, com a eli-
minação de regulamentações e intervenções governa-
mentais, também tem sido uma das molas mestras des-
sas recomendações. Embora os países que seguiram
tal receituário tenham tido sucesso no combate à in-
flação, no plano social as conseqüências foram desa-
lentadoras: um misto de desemprego, recessão e baixos
salários revela a outra face dessa moeda. Na medida
em que alguns países como a China, por exemplo,
têm combinado inflação baixa com crescimento eco-
nômico acelerado, sem haver seguido a cartilha do
Consenso de Washington, alguns autores vêm criti-
cando ultimamente a rigidez dessas políticas e tentan-
do encontrar alternativas de tal forma a combinar um
vigoroso combate à inflação com o desenvolvimento
econômico e social nos países emergentes. Esta última
tendência vem sendo denominada de Pós-Consenso
de Washington.
276
quando os índices inflacionários são expurgados de
preços de produtos ou serviços de elevada volatilida-
de, isto é, que podem sofrer grandes variações devido,
por exemplo, a fatores climáticos, como é o caso das
verduras e legumes. A core inflation tende a ser utili-
zada quando um governo estabelece metas de inflação
(target inflation) e deseja evitar que essas metas sejam
ultrapassadas por fatores acidentais relacionados com
fortes oscilações de determinados preços. Por outro
lado, essa forma de apuração da inflação permitiria
antever a inflação — sobretudo o custo de vida — a
médio e longo prazo.
277
o déficit pode ser considerado déficit primário quando
inclui todas as receitas e todas as despesas do governo
menos os juros, e déficit nominal (ou operacional)
quando são incluídas as despesas com juros das dívi-
das interna e externa do setor público.
278
sos e funções entre a União, os Estados e os municípios.
A Constituição de 1967 foi centralizadora desses re-
cursos e funções em favor da União e em detrimento
de Estados e municípios, enquanto a de 1988 foi des-
centralizadora, isto é, criou dispositivos restaurando
a situação anterior a 1967. Por exemplo, a partir de
1988 algumas funções na esfera da educação e da saú-
de foram descentralizadas. Ao mesmo tempo alguns
tributos antes apropriados pela União passaram à es-
fera estadual e municipal, como, por exemplo, aqueles
sobre combustíveis, eletricidade, minérios e telecomu-
nicações. A idéia que justificaria a descentralização é
que o município ou o Estado administram melhor os
recursos destinados a serviços diretamente associados
com a vida dos cidadãos, como é o caso da saúde e
da educação.
279
(o Banco Central norte-americano), é o efeito de queda
nas Bolsas de Valores quando Alan Greenspan anuncia
elevações das taxas de juros para desaquecer a eco-
nomia e segurar eventuais surtos inflacionários.
280
quear recursos que antes tinham destinação mais
amarrada (dinheiro carimbado) do que atualmente.
Com o FSE, o governo federal ganhou flexibilidade
para realizar suas despesas, tendo sido arrecadados
quase R$ 20 bilhões em 1998. Na ausência do FSE,
pode ocorrer uma situação paradoxal: o governo tem
dinheiro em caixa, mas como se trata de dinheiro
“carimbado” (com destinação predeterminada), não
po-de utilizá-lo para outro fim, dificultando a exe-
cução orçamentária e o desenvolvimento das funções
governamentais.
281
Compreende a Alemanha, Japão, Itália, França, Grã-
Bretanha, Canadá e Estados Unidos. Devido à impor-
tância política e militar da Rússia, esta vem sendo con-
vidada a participar das reuniões, dando lugar à de-
nominação G-7+1, que passou a denominar-se Grupo
dos Oito. Quando o Grupo dos Sete se reúne sem a
presença da Itália e do Canadá, passa a denominar-se
Grupo dos Cinco ou G-5.
282
quanto tempo de trabalho necessita o assalariado mé-
dio para comprar um Big Mac. Em 1997 os pontos
extremos eram: duas horas para o caso de um assa-
lariado em Caracas (Venezuela), e nove minutos para
um trabalhador em Tóquio (Japão).
283
dor que o devedor desenvolva atividades considera-
das prioritárias mas de baixa lucratividade.
284
e em aconselhamento para investidores, subsidiária da
Dun & Bradstreet Inc., que pública informes financei-
ros — Moody’s Bond Rating — analisando a situação
de títulos vendidos ao público. As qualificações das
ações e títulos emitidos por corporações variam de
Aaa (mais alta qualidade) a Caa (qualidade mais bai-
xa); os títulos classificados como Baa para cima são
aqueles considerados adequados para investimento.
285
listadas ou não registradas nas Bolsas de Valores. O
Nasdaq é o principal meio de transações over-the-coun-
ter nos Estados Unidos. Como inclui ações de empresas
que atuam via Internet, sua variação é bem maior do
que o índice Dow Jones.
286
cial, o neoliberalismo defende a limitação da herança
e das grandes fortunas e o estabelecimento de condi-
ções de igualdade que possibilitem a concorrência.
Atualmente, o termo vem sendo aplicado àqueles que
defendem a livre atuação das forças de mercado, o
término do intervencionismo do Estado, a privatização
das empresas estatais e inclusive de alguns serviços
públicos essenciais, a abertura da economia e sua in-
tegração mais intensa no mercado mundial.
287
em data futura e preços predeterminados. A opção é
largamente utilizada no mercado de commodities (café,
açúcar, cacau, soja etc.) e no mercado futuro de ações.
Nas operações de câmbio, a opção decorre do acordo
entre as partes — operadores e banco ou financeiras
—, em termos contratuais, pelo qual uma delas fica
com o direito de escolha do dia que mais lhe convier
para fazer a entrega e a liquidação do câmbio dentro
dos dispositivos estabelecidos no contrato.
288
apenas esses recursos foram insuficientes, dado o in-
tenso crescimento da dívida interna a partir daquela
data, como também não entraram nos cofres públicos
no tempo certo para tal abatimento.
289
que países com elevadas dívidas externas encontraram
para renegociá-las. Por exemplo, a dívida externa bra-
sileira com determinados bancos privados estrangeiros
foi securitizada, isto é, esses bancos venderam títulos
baseados nessa dívida para tomadores que compram
estes títulos — evidentemente com deságio — e pas-
saram a ser os novos credores dessa parte da dívida
externa brasileira.
290
sumo e cortando o ritmo de crescimento da economia.
O segundo termo, go, significa o momento em que o
Banco Central ou a Reserva Federal fazem exatamente
o oposto, isto é, promovem uma redução das taxas
de juros, estimulando os investimentos e o consumo
e fazendo com que a economia retome seu ritmo de
crescimento.
291
Sobre o Autor
293
versidade Católica de São Paulo e da Escola de Ad-
ministração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas
de São Paulo.
294
Bibliografia
295
LOZARDO, Ernesto (org.). O Déficit Público Brasileiro, Políticas
Econômicas e Agente Estrutural. Rio de Janeiro, Editora Paz
e Terra, 1987.
296