You are on page 1of 16

SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO NO CONTEXTO SÓCIO-

AMBIENTAL:
INDICADORES DE BOA GOVERNANÇA EM PROCESSOS POLÍTICOS
E REGULATÓRIOS

Gilberto de Martino Jannuzzi


Professor associado do Dpt. de Energia da Faculdade de Engenharia Mecânica/UNICAMP
jannuzzi@fem.unicamp.br

Viviane Roberto da Silva Romeiro


Mestranda e pesquisadora associada do International Energy Initiative – IEI /Latin Office
viviromeiro@fem.unicamp.br

Juliana Marinho Cavalcanti Martins


Mestranda e pesquisadora associada do International Energy Initiative – IEI /Latin Office
julianamcm@hotmail.com

Rodolfo Dourado Maia Gomes


Mestre e pesquisador associado do International Energy Initiative – IEI /Latin Office
rodolfo@iei-la.org

RESUMO
As decisões concernentes ao setor elétrico têm impactos fundamentais na sociedade, seja em
níveis social, ambiental ou econômico (WRI, 2008). Nesse sentido, compreender o processo em
que tais medidas são tomadas é condição para assegurar que melhores decisões sejam
aplicadas. Considerando que a credibilidade do público, através de processos mais
transparentes, é fundamental para uma reforma e aprimoramento politicamente sustentável do
setor, a Iniciativa para a Governança em Eletricidade (Electricity Governance Initiative – EGI)
disponibilizou um Kit de Ferramentas de Indicadores para avaliar e verificar a estrutura do
setor elétrico. O Kit de Ferramentas da EGI apresenta uma estrutura para avaliar e promover
boa governança no setor elétrico. Neste sentido, o presente trabalho objetiva apresentar alguns
dos resultados obtidos pelo grupo de trabalho coordenado pelo IEI. A proposta do projeto
objetiva avaliar a transparência e grau de participação pública, dentre outros critérios,
dividindo o tema em duas partes: processos políticos e processos regulatórios.
Palavras-chave: Setor elétrico brasileiro; boa governança, processos políticos; processos
regulatórios
ABSTRACT
Decisions concerning to electric sector have significant impacts in society, both at the social
and environmental and economic levels. In this regard, understanding the process by which
those measures are taken is essential to assure best decisions. Considering the importance to
assess the transparency and credibility of political reforms related to the electricity sector, the
Electricity Governance Initiative – EGI has launched an Indicator Toolkit to asses and verify
these issues. The EGI toolkit presents a regulatory framework to analyze and promote good
governance in the electric sector. In this way, this paper introduces some results obtained by
International Energy Initiative workgroup. The project purpose verifies transparency of
decision-making process, amonst other criteria, investigating the political and regulatory
processes.
Key words: Brazilian electric sector; good governance; political processes; regulatory
processes.

SUMÁRIO

1-Introdução. 2-Metodologia. 3-Regulação em atividade energética. 4-Estrutura política e


regulatória. 5-Considerações Finais. 6-Referências Bibliográficas.
1 -INTRODUÇÃO

As decisões concernentes ao setor elétrico têm impactos fundamentais na sociedade, seja


em níveis social, ambiental ou econômico (WRI, 2008). Nesse sentido, compreender o processo
em que tais medidas são tomadas é condição para assegurar que melhores decisões sejam
aplicadas.

Considerando que a credibilidade do público e transparência dos processos são


fundamentais para uma reforma e aprimoramento politicamente sustentável do setor elétrico, a
Iniciativa para a Governança em Eletricidade (Electricity Governance Initiative – EGI)
disponibilizou um Kit de Ferramentas de Indicadores para avaliar e verificar a estrutura deste
setor em vários países.

A avaliação foi realizada através da colaboração de grupos multidisciplinares com atuação


em diversas áreas do conhecimento. Dentre os parceiros estão incluídos o Centro Clima do
Programa de Planejamento-COPPE e o International Energy Initiative-Latin
American- IEI na UNICAMP. O trabalho foi apoiado por um ‘Painel Consultivo’ que inclui membros do
governo, especialistas e profissionais acadêmicos relacionados ao setor elétrico.

Neste sentido, o presente trabalho objetiva apresentar alguns dos resultados obtidos pelo
grupo de trabalho coordenado pelo IEI. Intentou-se analisar o quão transparente é o processo
decisório no setor, verificando-se a participação pública, prestação de contas ao público
interessado e a disponibilidade de meios para recursos decisórios e implementação das
políticas.

2 - METODOLOGIA

A EGI representa uma colaboração da sociedade civil, funcionários do governo, reguladores,


e outras pessoas relacionadas ao setor elétrico, que buscam promover inclusão, transparência e
responsabilidade sujeita a prestação de contas no processo de decisão dentro do setor. É uma
parceria registrada com a Comissão para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das
Nações Unidas-ONU em cooperação com o World Resources Institute-WRI e Prayas Energy
Group (India).
Em 2008, a instituição iniciou um projeto juntamente ao Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor – IDEC com o objetivo precípuo de relevar a formalização do acesso à informação e
a participação pública como um processo para governança considerado cada vez mais baseado
em padrões internacionais.

O Kit de Ferramentas da EGI apresenta uma metodologia para avaliar a boa governança no
setor elétrico. A proposta do projeto objetiva avaliar a transparência e grau de participação
pública, dentre outros critérios, dividindo o tema em duas partes: processos políticos e
processos regulatórios que são sub divididos em indicadores.

Os Processos Políticos definem os parâmetros para o funcionamento e o desempenho do


setor elétrico. Nesta secção são examinadas a capacidade e a integridade das instituições
envolvidas com o desenvolvimento da política do setor elétrico, incluindo os poderes legislativos
e executivos do governo, ministérios responsáveis pela operação e planejamento do setor e a
sociedade civil.

Intenta-se também analisar questões ambientais e sociais relacionadas à política do setor


elétrico, como a capacidade de atuação das instituições envolvidas com estas temáticas, a
extensão da participação pública na definição de padrões ambientais para o setor bem como a
integridade das avaliações de impacto ambiental para projetos do setor.

Processos de regulamentação são mecanismos para verificar se os aspectos econômicos,


financeiros, sociais, e ambientais do desempenho no setor elétrico estão em sintonia. Estes
processos normalmente incluem decisões e considerações importantes como a definição de
tarifas, o licenciamento de plantas de energia e outras infra-estruturas, e a definição de padrões
de serviço e eficiência.

Os indicadores lidam com as estruturas institucionais para a regulamentação do setor


elétrico, como a independência, autoridade, e autonomia da agência reguladora; questões
relacionadas ao processo de seleção de reguladores e à prevenção de conflitos de interesse
formais; provisões para a transparência; e um espaço para críticas e apelos.

Analisa-se também o processo de decisão para avaliar questões como a clareza e


previsibilidade dos procedimentos; sistemas para a divulgação de documentos públicos e
transparência; espaço para a participação pública no processo de decisão da regulamentação; e
a capacidade da sociedade civil para participar nestes processos. Além disso, estes indicadores
estudam também questões operacionais como a transparência dos procedimentos para a
emissão de licenças e a qualidade do fornecimento e do serviço ao consumidor.
Dessa forma, os indicadores são constituídos por questionários de pesquisa qualitativa
distribuídos em 64 indicadores concernentes às questões de boa governança no setor. Cada
indicador tem sub itens que são valorados na pesquisa de forma a mensurar o quanto cada
critério de governança em eletricidade é satisfeito.

No intuito de reduzir a possibilidade de conclusões contraditórias ou incoerentes, para


cada indicador é disponibilizada uma explicação analítica pelos grupos de estudo que
mensuram limites na qualidade e dimensão das respostas.

A maioria das informações necessárias para a pesquisa foram encontrada nas leis
relevantes para o setor elétrico; regras e regulamentos de implementação criados pelo
Ministério de Minas e Energia - MME; decisões e relatórios anuais da ANEEL e complementadas
com relatórios, estudos acadêmicos, e documentos de congressos.

Além disso, as equipes de avaliação também entrevistaram representantes e empregados


da agência reguladora, grupos da sociedade civil e de consumidores que apresentaram casos
diante do comitê regulador, e empregados das companhias de serviços de utilidades que lidam
com o órgão regulador.

3- REGULAÇÃO EM ATIVIDADE ENERGÉTICA

Sabe-se que os avanços da política e da regulação no setor energético têm se tornado cada
vez mais complexos com as mudanças do contexto sócio-econômico mundial, representadas
pelos processos de reestruturação industrial e reorganização institucional das atividades
energéticas (CGEE, 2008).

Essa evolução produziu uma mudança de abordagem na ação regulatória sobre as


atividades energéticas com resultados importantes nos meios de articulação dos agentes. As
decisões que orientam essas ações constituem parte de uma estratégia política de governo, de
agentes e estruturas públicas e privadas, como resposta a um conjunto de interesses,
aspirações e expectativas de uma parte cada vez mais crescente da sociedade. (INEE, 2007).

As condições objetivas de implementação de programas de política e de ações regulatórias


bem como a compreensão de que boa governança no setor energético representa um
importante objetivo de longo prazo são aspectos relevantes que devem ser institucionalmente
construídos e socialmente demandados como resultado de um valor culturalmente
compreendido pela sociedade.
Para verificar os avanços da política e regulação energética no setor brasileiro, quatro
elementos básicos de boa governança foram avaliados no projeto em estudo, em um contexto
geral:

 Participação pública: Disponibilidade de mecanismos adequados para incentivar a


participação e inserção pública de questões, perspectivas e opiniões relevantes aos processos;

 Prestação de contas: Disponibilidade de mecanismos que possibilitem a prestação de


contas à população, bem como o monitoramento sistemático das operações e processos do
setor;

 Transparência e acesso à informação: Disponibilidade de atos e informações ao público


para que terceiros possam formular críticas e sugestões. Analisa-se a abrangência,
disponibilidade, tempo e medidas para que os atos alcancem grupos afetados e vulneráveis.

 Capacidade do governo: mecanismos para mensurar a habilidade educacional, social,


tecnológica, legal e institucional para práticas em boa governança. Inclui neste critério a
habilidade da sociedade civil para participar no processo de decisão.

A ênfase se dá nos processos de decisão no setor elétrico nos níveis do legislativo,


executivo, e regulatório que têm impactos ambientais e sociais, reconhecendo que a energia é
ligada a processos políticos maiores.

4- ESTRUTURA POLÍTICA E REGULATÓRIA

A atual estrutura administrativa do Brasil concernente ao setor energético foi


implementada em 2004 através da Lei Federal nº 10.848, que dispõe sobre a comercialização de
energia elétrica, substituindo um modelo que incentivava a privatização e desenvolvimento por
uma competição efetiva.

A nova abordagem refletiu a necessidade de estimular novos investimentos privados


assegurando concorrência e transações reguladas. Mostrou-se necessário aprimorar o
fortalecimento dos fundamentos institucionais condizentes com uma economia com base no
mercado, considerando o contexto institucional mais amplo, a autonomia, a missão e a
responsabilidade, e principalmente, a estrutura de sua governança.

De acordo com consultor do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (2008), as três


grandes características do marco institucional do setor de energia elétrica após a reforma de
2004 podem ser identificadas em toda a reestruturação: a centralização do poder concedente e
do planejamento no Ministério de Minas e Energia – MME, a instituição do Comitê de
Monitoramento do Setor Elétrico – CMSE (para monitorar a demanda e fornecimento de energia
elétrica) e especialmente a subjetividade da transparência dos atos de Estados (Agências
reguladoras) e de Governo (ministérios).

No entanto, conforme explica o diretor geral da DME Energética Ltda. (2008), embora
qualquer reestruturação tenha algum tipo de efeito direto, essa reforma pouco influenciou
diretamente no setor, implicando especificamente apenas na forma de comercialização de
energia elétrica: “tal implementação não foi considerada uma reforma, mas uma adaptação do
modelo”. A mudança expressiva foi determinada pela Lei Federal nº 8987 de 1995, conhecida
como a Lei de Concessões de Serviços Públicos, e pela Lei Setorial nº 9047 de 1995, quando
foram estabelecidos os fundamentos básicos do novo modelo e iniciada a sua abertura à
participação dos capitais privados.

Agência reguladora

A Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, criada em 1996, foi inspirada na


experiência internacional, principalmente no modelo institucional norte americano das
agências de regulação independentes. No intuito de assegurar um nível mais elevado de
independência, a agência faz parte da administração pública indireta, sujeita a regime jurídico
especial.

É importante ressaltar que à agência compete a criação de condições para a modicidade


tarifária; regular e fiscalizar o pleno acesso aos serviços de energia; e, a transparência e
efetividade nas relações com a sociedade. Embora a referência à necessidade de transparência da
agência esteja explícita de forma vaga em sua lei de criação, a preocupação com o meio
ambiente está inclusa no artigo 3º da Lei de Criação da ANEEL(Lei Federal n. 9.427 de 1996) ao
dispor sobre a competência da agência concernente à preservação do meio ambiente e a sua
conservação.

Outros dispositivos legais da agência mencionam a preocupação com o meio ambiente, no


sentido de estimular a participação em ações ambientais voltadas para o benefício da sociedade,
bem como interagir com o Sistema Nacional de Meio Ambiente em conformidade com a
legislação vigente, atuando de forma harmônica com a Política Nacional de Meio Ambiente.
É possível verificar a atuação da agência ao cumprimento do disposto em seu contrato de
gestão sobre a disponibilização de documentos e informações sobre o setor de energia elétrica,
ao divulgar informações sobre questões ambientais através de vários meios, dentre eles
bibliotecas, internet e repartições públicas.

O Superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento e Eficiência Energética da ANEEL


(2008) expõe também a preocupação da Agência na mudança da linguagem extremamente
técnica do setor e da regulação para uma compreensão mais ampla do cidadão sobre as decisões
da agência, como as cartilhas de tarifas disponíveis por área de concessão.

No entanto, embora teoricamente possua autonomia gerencial e financeira e competência


para normatizar questões técnicas, (bem como autonomia decisória garantida pelos mandatos
fixos de sua diretoria), especialista em regulação da ANEEL (2008) considera o fato de grande
parte dos dirigentes da agência ter sido formada a partir de quadros antigos do Departamento
Nacional de Águas e Energia Elétrica – DNAEE, advertindo que a regulação do setor não enfatiza
necessariamente a criação de incentivos econômicos para a formação de um mercado
competitivo.

Embora a agência tenha uma autonomia razoável, sempre foi fragilizada pela pressão
política muito forte, e essa autonomia da agência terá que ser reconstruída em algum momento
(diretor geral da DME, 2008). A autonomia é fundamental para reduzir os riscos regulatórios:
“Planejamento, política e regulação é um conjunto em que a política é qualitativo e o
planejamento quantitativo.”

Além disso, a autonomia da agência encontra-se fragilizada na medida em que o


consumidor paga a taxa de fiscalização, ao invés de ser utilizada para o serviço, sendo que boa
parte dos recursos são por diversas razões contingenciados.

O consultor CPFL (2008) explicita a necessidade de uma maior transparência nos


mecanismos que consigam mostrar como estes recursos estão sendo aplicados. A forma de
gerenciar os recursos deve permitir que sejam feitas comparações através de informações
estruturadas de como esse dinheiro foi aplicado durante os anos de uma forma que permitam
uma análise técnica.

Comitês legislativos

Os Comitês legislativos ou parlamentares responsáveis pela criação e aprovação de


reformas no setor elétrico têm um papel crítico na criação de instituições e estruturas políticas
que governam o setor elétrico (WRI, 2008). As instituições e políticas criadas através de
processos legislativos determinam as prioridades do setor. No entanto, a capacidade da
instituição legislativa ou parlamentar para fiscalizar e efetivamente servir como contrapeso
para o poder executivo em questões ambientais é definida em parte pela qualidade e
disponibilidade de recursos e do conhecimento dos representantes.

No Brasil existem dois comitês legislativos para avaliar questões ambientais: um no


Senado Federal e outro na Câmara de Deputados Federal. O comitê legislativo para avaliar
questões ambientais no âmbito do Senado Federal é a Comissão de Meio Ambiente, Defesa do
Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), instituída pelo Regimento Interno (RESOLUÇÃO
nº.93, DE 1970).

Atualmente, a presidência está a cargo do Senador Leomar Quintanilha (PMDB – TO) que
tem como vice a Senadora Marisa Serrano (PSDB – MS). O comitê legislativo para avaliar
questões ambientais no âmbito desta é a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável - CMADS. Esta é uma comissão permanente criada pelo Regimento Interno da Casa
e constituída de deputados com a finalidade de discutir e votar as propostas de leis que são
apresentadas à Câmara.

Com relação a determinadas proposições ou projetos, essa Comissão se manifesta


emitindo opinião técnica sobre o assunto, por meio de pareceres, antes de o assunto ser levado
ao Plenário. Com relação a outras proposições, ela decide, aprova ou rejeita, sem a necessidade
de passarem elas pelo Plenário da Casa.

Vale ainda ressaltar a existência da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados
Federal que é competente para avaliar os projetos de lei referentes ao setor elétrico brasileiro.
Todavia, quando se inicia um projeto de lei na Câmara Federal, a Secretaria Geral da Mesa faz
uma análise e encaminha o projeto para as Comissões que tem competência.

Assim sendo, quando o projeto de lei refere-se a uma questão energética com interferência
direta em alguma questão ambiental, tal projeto é encaminhado para a Comissão de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – CMADS para que se pronuncie sobre a sua área de
competência e também é encaminhado para a Comissão de Minas e energia para que também
opine sobre a sua área de atuação.

Em relação à apoio de pesquisa ou investigações em questões ambientais, não foram


identificados recursos orçamentários específicos disponíveis, haja vista que é função do cargo
de senador ou deputado atuar nas comissões. Ademais, não foi identificado membro do comitê
ou empregado legislativo com a responsabilidade explícita de lidar com questões ambientais
relacionadas à política e ao desempenho do setor elétrico.

Entretanto, todas essas questões passam pela comissão que avalia de forma unitária os
projetos de lei referentes às questões ambientais relacionadas à política e ao desempenho do
setor elétrico (tanto no Senado como na Câmara Federal).

Instância executiva - Ministérios

Considerando a relevância da interação do Ministério de Minas e Energia - MEE em


questões ambientais e atividades responsáveis pelas autoridades ambientais, a interação entre
os processos políticos do setor elétrico e as responsabilidades ambientais do MME é considerada
um indicador para mensurar a importância destas questões para o executivo (WRI, 2008).

Os documentos que descrevem o papel da agência executiva (Ministério de Minas e Energia


- MME) definem as responsabilidades ambientais específicas do executivo. A Lei Federal n.
8.422 de 1992 define quais são as áreas de competência do MME, aliada ao Decreto n. 5.267 de
2004.

O MME é seccionado em vários órgãos para melhor desempenhar suas funções. Assim
sendo, cabe a cada um destes órgãos atender as responsabilidades bem definidas e delimitadas.
Dentre os órgãos que compõem a estrutura organizacional do MME e que têm relação
específica com o setor elétrico, podem ser destacadas a Secretaria de Planejamento e
Desenvolvimento Energético e a Secretaria de Energia Elétrica.
Dentre as competências estabelecidas no Decreto no 5.267 de 9 de novembro de 2004, para
a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético (art.9º), está incluída a
responsabilidade ambiental de “coordenar ações de gestão ambiental, visando orientar os
procedimentos licitatórios do setor energético e acompanhar as ações decorrentes”.
São estabelecidas responsabilidades específicas relativas à questão ambiental para alguns
dos departamentos desta Secretaria. Para o Departamento de Planejamento Energético, cabe
“promover as articulações demandadas pelas ações de gestão ambiental, com vistas às licitações
para a expansão do setor energético”.
No âmbito das competências do Departamento de Desenvolvimento Energético, além de
diversas responsabilidades voltadas para a conservação e uso racional de energia, são
registradas as seguintes especificamente ambientais:
V-levantar e gerenciar as demandas de sustentabilidade
ambiental nos estudos energéticos, tais como,
inventários, análise da viabilidade de empreendimentos
e outros;

IX-estimular e induzir linhas de fomento para a


capacitação, formação e o desenvolvimento tecnológico
sustentável no setor elétrico, por meio de parcerias,
cooperação e investimentos privados;

XII-promover e estimular a elaboração de


levantamentos, estudos e pesquisas sobre energias
alternativas e a interface energia-meio ambiente;

Considerando as orientações propostas para a avaliação dos indicadores


correspondentes à essa temática, foram encontradas as orientações para o desenvolvimento da
política e para a avaliação do impacto do setor ou de projetos visando a sustentabilidade da
expansão: em relação à cooperação com outas autoridades, o MME possui sistemas claros de
como o ministério coopera com outras autoridades e instituições de regulamentação.
A própria estrutura organizacional do ministério prevê que são entidades vinculadas a
este a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP e a Agência Nacional
de Energia Elétrica – ANEEL. Além disso, é comum o relacionamento com o Ministério de Meio
Ambiente – MMA, Ministério Público e associações dos agentes setoriais.
Não foi identificada uma sistemática ou procedimento padrão de rotinas de consultas e
cooperação entre as autoridades. No entanto, ressalta-se que apesar de não ter sido identificado
um banco de dados específico com informações sobre data e local, foi constatada, de acordo com
entrevistas realizadas, a cooperação entre as autoridades com um caráter habitual entre as
mesmas.

Ademais, são realizados seminários e eventos para apresentação dos Planos elaborados,
após serem aprovados pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética). O público alvo, de
um modo geral, além de eventuais consumidores interessados é composto por empreendedores,
universidades, associações técnicas e de grupos de interesse diretamente ligados ao setor
elétrico.

Órgãos de assessoramento

O compromisso e a capacidade do executivo para lidar com a questão de sustentabilidade


são medidos através da existência de recursos financeiros e do conhecimento necessário por
parte dos empregados para trabalhar com questões ambientais dentro da instituição executiva
responsável pela eletricidade ou na da execução de sistemas e processos claros para utilizar os
recursos e empregados dos ministérios/ departamentos relacionados (WRI, 2008).

A Lei Federal n. 9.478 de 1997 criou o Conselho Nacional de Política Energética-CNPE, um


órgão de assessoramento do Presidente da República na formulação de políticas e diretrizes de
energia destinadas a promover o aproveitamento racional dos recursos energéticos do País, em
conformidade com o disposto na legislação aplicável. O CNPE é vinculado à Presidência da
República e é presidido pelo Ministro de Estado de Minas e Energia.

Para a formação do CNPE, foi editado o Decreto 3.520/2000 que determina, em seu artigo
2º, que a composição deste órgão se dará com a participação de: 9 ministérios, um
representante dos Estados e do Distrito Federal, um representante da sociedade civil, especialista
em matéria de energia, um representante de universidade brasileira, especialista em matéria de
energia, e o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Ressalta-se ainda que o
CNPE trabalha concomitante a outros órgãos, como o Ministério de Minas e Energia, em
pesquisa e da investigação de questões ou problemas ambientais.

Pela própria composição do CNPE, considera-se que existem sistemas em funcionamento


para que o executivo utilize os seus empregados e o conhecimento das instituições
governamentais relacionadas. E isto facilita a colaboração com os ministérios responsáveis pelo
meio ambiente, agricultura, minas e energia, desenvolvimento, indústria e comércio, ciência e
tecnologia, entre outros.

Além dos representantes dos ministérios e dos outros membros do CNPE, podem também
participar das reuniões os Presidentes da Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRÁS), da Centrais
Elétricas Brasileiras S.A. (ELETROBRÁS) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), bem como os dirigentes máximos de outros órgãos ou entidades.

De acordo com o diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético da Secretaria de


Planejamento e Desenvolvimento Energético (2008), a responsabilidade explícita de lidar com
questões de política e desempenho ambiental do setor elétrico, no âmbito do Ministério de
Minas e Energia, é da Coordenação de Sustentabilidade Ambiental Pró Setor Energético.

Considera-se que durante os últimos anos houve um aprimoramento no que tange ao


crescimento de conhecimento sobre assuntos ambientais para funcionários. Como o Comitê
Interministerial de Mudanças do Clima é constituído por vários ministérios, dentre eles o MME,
alguns funcionários do ministério são responsáveis por analisar a viabilidade de projetos
ambientais (por exemplo no contexto do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo).
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se considerar que uma condição administrativa relevante para a qualidade da


regulação é a capacidade de seleção de ferramentas políticas mais eficazes e transparentes à
sociedade. A utilização de alternativas para regulação no Brasil, no entanto, ainda não é muito
aplicada quando propostos os atos normativos.

A experiência internacional agregada à realidade brasileira na execução de políticas


energéticas e na criação de atividades e mercados energo-eficientes têm mostrado que o grau de
sucesso aplicado à essa área corresponde diretamente à existência de mecanismos regulatórios
compatíveis e adequados à natureza das atividades e ao objetivo da política.

O público tem informações precisas sobre as decisões tomadas no âmbito do setor elétrico,
no entanto, ainda predomina na sociedade (com exceção dos agentes diretamente interessados)
o caráter cultural e educacional de pouca participação ativa nos debates para a formação de
uma decisão política dentro do setor elétrico. A sociedade ainda não está devidamente
estruturada de forma a analisar este tipo de procedimento, então a participação ainda é
pequena, se considerado o potencial de interação.

Somada a essa variável comportamental, ressalta-se a importância de um aprimoramento


da divulgação desses mecanismos de participação, de forma a induzir e fomentar uma maior
participação da sociedade.

De uma maneira geral, considera-se que os avanços analisados em matéria de política e


regulação energética são razoavelmente ponderáveis. As diretrizes/incentivos utilizados pela
ação política/ reguladora incorporam os mecanismos persuasivos que tendem a dissuadir
condutas indesejáveis e a firmar compromissos às metas definidas pelas políticas de eficiência
energética.

No âmbito da instância reguladora, por exemplo, identifica-se algumas tentativas para


reduzir as demias já mencionadas. Embora a ANEEL não tenha constituído uma
superintendência específica para questões ambientais, considera-se alguns esforços
sistemáticos para divulgar informações sobre as suas responsabilidades ambientais para
grupos representando questões ambientais (energia renovável, eficiência de energia, impactos
da geração de energia na qualidade atmosférica, etc.), bem como para aprimorar os
mecanismos de participação da sociedade.
O país encara o desafio de estabelecer um marco regulatório que estimule seu crescimento
a longo prazo. A pesquisa realizada demonstra a forte ligação entre o desempenho sócio-
econômico de um país a longo prazo e a qualidade de seu marco regulatório, não apenas no
setor elétrico mas de maneira geral.
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bajay, Sergio; Rosillo-Calle, Frank; V.; Rothman, Harry. Uso da Biomassa para Produção de
Energia na Indústria Brasileira. Campinas: Editora Unicamp, 2005.

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos- CGEE. Manual de Capacitação sobre Mudança do


Clima e Projetos de. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) – Brasília, 2008

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos- CGEE. A iniciativa para governança em eletricidade .


CGEE: Brasília. Entrevista realizada em 20 de Setembro de 2008.

Consultor CPFL. A iniciativa para governança em eletricidade . CPFL: Campinas. Entrevista


realizada em 09 de Setembro de 2008.

Departamento de Desenvolvimento Energético da Secretaria de Planejamento e


Desenvolvimento Energético. A iniciativa para governança em eletricidade . DDE:
Brasília. Entrevista realizada em 20 de Setembro de 2008.

DME Energética Ltda. A iniciativa para governança em eletricidade . Ex Diretor ANEEL: São
Paulo. Entrevista realizada em 10 de Setembro de 2008.

Especialista em Regulação da ANEEL. A iniciativa para governança em eletricidade . ANEEL:


Brasília. Entrevista realizada em 19 de Setembro de 2008.

European Renewable Energy Council. Energy Revolution: A sustainable world energy outlook,
2007.

Haddad, J. . Embasamento Legal e Institucional. In: Jamil Haddad; Sérgio Catão Aguiar. (Org.).
Eficiência Energética Integrando Usos e Reduzindo Desperdícios. 1 ed. Brasília: Agência
Nacional de Energia Elétrica / Agência Nacional do Petróleo, 1999

Instituto Nacional de Eficiência Energética -IEE: A eficiência energética e o novo modelo do


setor energético. Rio de Janeiro, 2001.

International Energy Agency – IEA :Energy Technology Perspectives: Scenarios & Strategies to
2050. OECD, Paris, 2008

International Energy Agency – IEA: Worldwide Trends in Energy Use and Efficiency- Key
Insights from IEA Indicator Analysis. Paris, 2008UNEP Risø Centre on Energy, Climate and
Sustainable Development. Development First: Linking Energy and Emission Policies with
Sustainable Development. Roskilde, 2007

Lei Federal nº. 9.427 de 1996 – Lei de criação da ANEEL


Lei Federal nº. 8112 de 1990 - Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União

Martins, A. A possível revolução energética. Alternativas ao aquecimento global. São Paulo: Gera
Gráfica – Instituto Paulo Freire/Le Monde Diplomatique, 2007.

Superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento e Eficiência Energética da ANEEL. A iniciativa


para governança em eletricidade . ANEEL: Brasília. Entrevista realizada em 19 de
Setembro de 2008.

Prado, Otávio. Agências reguladoras e transparência: a disponibilização de informações pela


ANEEL. RAP: Rio de Janeiro, 2006.

Speck. B.W. Caminhos da transparência. Campinas:Unicamp, 2002.

World Resources Institute – WRI. A iniciativa para governança em eletricidade. Junho, 2007.

You might also like