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Rocha, Délcio. C. C. Agroeconegócios - A Realidade Brasileira da Criação de Animais Silvestres.

V
Semana Acadêmica de Zootecnia UNIOESTE, Campus de Marechal Cândido Rondon/PR, de 08 a 12 de
maio, 2006.

AGROECONEGÓCIOS - A REALIDADE BRASILEIRA DA


CRIAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES
Délcio César Cordeiro Rocha 1

Resumo:
Com o objetivo de mapear os principais problemas enfrentados pelos criadores
atuantes na pecuária alternativa na região sul do Brasil e verificar as possibilidades de
perspectivas de mercado na Cadeia Produtiva de Animais Silvestres - CPAS efetuou-se
um estudo de caso onde foram caracterizados os principais agentes a atores envolvidos
no processo. Observou-se que houve um significativo aumento na demanda de criação
de espécies silvestres (capivaras, catetos, queixadas, emas, pacas, etc.), a partir de 1996
e uma posterior estabilização na implantação de criadouros após 1998, provavelmente
devido ao "gargalo" decorrente das dificuldades de colocação do produto no mercado,
sobretudo pela ausência de abatedouros de fauna silvestre autorizados dentro dos
padrões requeridos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa.

Palavras-chaves: pecuária silvestre, gargalo produtivo, abatedouros, mercado


consumidor, animais silvestres.

AGROECOBUSINESSES THE PRODUCTIVE CHAIN OF WILD


ANIMALS IN BRAZIL

Abstract:
With the objective of mapping the main problems faced by the active creators in
the alternative livestock in the south area of Brazil and to verify the possibilities of
market perspectives in the Productive Chain of Wild Animals - CPAS occurred a case
study where the main agents were characterized actors involved in the process. It was
observed that there was a significant increase in the demand of creation of wild species
(capybaras, cathetus, jaws, emus, pacas, etc.), starting from 1996 and a subsequent
stabilization in the implantation of nurseries after 1998, probably due to the" bottle
mouth" due to the difficulties of placement of the product in the market, above all for
the absence of slaughterhouses of wild fauna authorized inside of the patterns requested
by the Ministry of the Agriculture, Livestock and Provisioning - Map.

Word-keys: wild livestock, productive bottle mouth, slaughterhouses, consumer


market, wild animals.

1
Zootecnista – ESUCARV/GO. Especialista em Ciências Biológicas – UNICENTRO/PR.
Mestre em Agronegócios – UFRGS/RS. Doutorando em Zootecnia UFV/MG na área de produção e
comportamento animais silvestres.
Consultor em Agroeconegócios - Pecuária Alternativa Silvestre ou Exótica e Ecoturismo Cinegético.
Diretor-presidente da Associação Paranaense de Criadores de Animais Silvestres e Exóticos/ACRIASE.
E-mail: delciorocha@yahoo.com.br sites: www.animaissilvestres.com e www.ambienteemfoco.com.br

1
Introdução

A abertura do mercado fez com que práticas de gestão adotadas em outros


países passassem a ser aplicadas também no Brasil, no caso dos animais silvestres, pode
proporcionar formas de obter vantagem competitiva através do gerenciamento logístico
da atividade, visando alcançar uma fonte de vantagem em termos de preferência dos
clientes, apresentando propostas alternativas para diferenciar o produto através dos
serviços e da redução dos custos.
Segundo os dados obtidos da pesquisa, verificou-se que a participação da
produção sulista 2 na pecuária alternativa silvestre é significativa, pois fornece 19.95%
do total de criadouros registrados no país. Pode-se dizer que a região sul, assim como as
demais regiões brasileiras, não são auto-suficientes no abastecimento dos produtos de
origem silvestre, não chegando a abastecer ao próprio mercado regional pela falta de
produtos (devido ao pequeno número de criadores legalizados junto ao IBAMA) e
déficit na escala de produção. A quantidade de animais criados em cativeiro ainda não é
suficiente para atender o mercado de matrizes e reprodutores. Por questões técnicas e
culturais as criações de animais silvestres no território brasileiro concentram-se no eixo
do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Cerrado Goiano.
Segundo as informações disponíveis sobre o registro na categoria de
criadouros comerciais de fauna silvestre por espécies ou grupos, o Brasil contava até o
ano 2000 com cerca de 382 criadouros registrados no Ibama, com tendência a serem
mais de 400, o que dependeria da atualização de informações, que inclui a inclusão de
novos empreendimentos e a atualização daqueles que sequer deram inicio na criação e
permaneceram somente como referência de registro (Neo,2003).

“Esses dados são passíveis de revisão, uma vez que muitas das informações
não foram atualizadas pelas unidades descentralizadas que sofrem, conforme
citado anteriormente, de dificuldades decorrentes da desconcentração de
atividades, agravada pela erosão de recursos humanos sofridos pelo órgão
nos últimos sete anos e pela dificuldade de reciclagem técnico/administrativa
(NEO,2003).

Quando se buscou compilar as informações dos criadouros, as espécies e


grupos criados foram computados de forma global, já que muitos empreendimentos
apresentam projetos de criação para mais de uma espécie ou grupo, o que totaliza, no
final, cerca de 440 exemplos de criação comercial.
A seguir são apresentados os gráficos (01, 02, 03, 04, 05,) que demonstram a
situação dos criadouros comerciais implantados no país, a distribuição dos criadouros
por espécie/grupos e região, a distribuição das espécies por Estado e a evolução dos
criadouros de três espécies. Esses gráficos visam elucidar o que aqui está sendo
apresentado para delinear um retrato da atual situação do manejo implantado para as
espécies silvestres no país e dessa forma servir como contribuição para que a sociedade
e os poderes públicos constituídos possam auxiliar o IBAMA no cumprimento de sua
missão institucional (Rocha, 2004).

2
A criação de animais silvestres da região sul do Brasil tem maior concentração no Rio Grande
do Sul englobando participação de 11,22% de toda a produção nacional (dados de pesquisa).

2
Criadouros Brasileiros de Animais Silvestres
legalizados junto ao IBAMA
Região Norte
23 ,0% 15,4%
Região Nordeste
5,3%
Região Centro-
Oeste
Região Sudeste
24,0%
Fonte : Vida à venda (2003).
32,3%
Região Sul

Gráfico 01 - Criadouros Brasileiros de Animais Silvestres legalizados junto ao IBAMA


Fonte: Adaptado de Vida à Venda (2003) In: Rocha (2004).

Criadouros de animais silvestres na


região norte do Brasil
3,0%
Tartarugas / Tracajás
3,0%
1,0%
7,0% Capivaras
6,0%
Jacarés -tinga

Serpentes

Emas
80,0%
Borboletas

Gráfico 02 - Criadouros de Animais Silvestres legalizados junto ao IBAMA na Região Norte do


Brasil.
Fonte: Adaptado de Vida à Venda (2003) In: Rocha (2004).

Criadouros de Animais Silvestres na Região Nordeste


do Brasil

8,0% 4,0% Emas


9,0% 35,0% Capivaras
Catetos / Queixadas
Jabutis
10,0% Cutias
Serpentes
17,0% 17,0% Antas

Gráfico 03 - Criadouros de Animais Silvestres legalizados junto ao IBAMA na Região Nordeste do


Brasil.
Fonte: Adaptado de Vida à Venda (2003) In: Rocha (2004).

3
Criadouros de Animais Silvestres na Região
Centro-Oeste do Brasil
2,0% 2,0% 1,0%
3,0% Jacaré do Pantanal
3,0% 1,0%
Capivaras
4,0% Emas
Passeriformes
8,0%
Catetos /Queixadas
Psitacídeos
Cervideos
Pacas
14,0% Tartarugas
Serpentes
62,0%

Gráfico 04 - Criadouros de Animais Silvestres legalizados junto ao IBAMA na Região Centro-oeste


do Brasil.
Fonte: Adaptado de Vida à Venda (2003) In: Rocha (2004).

Criadouros de Animais Silvestres na Capivaras

Emas
Região Sudeste do Brasil Catetos/Queixadas
1,0% 1,0% 1,0%
2,0%
Serpentes
3,0% 1,0%
Pacas
3,0%
4,0% Psitacídeos

Passerif ormes
6,0%
Jacarés-do -Pantanal

Cervideos
7,0%
Perdizes

Cutias
7,0%
56,0% Jacarés-tinga
8,0%
Anatídeos

Gráfico 05 - Criadouros de Animais Silvestres legalizados junto ao IBAMA na Região Sudeste do


Brasil.
Fonte: Adaptado de Vida à Venda (2003) In: Rocha (2004).

Em as
Criadouros de Animais Silvestres na Capivaras

Região Sul do Brasil Pacas


2,0% 2,0% 1,0% Ratões -do- banhado
2,0%
2,0% 1,0% Ps itacídeos
2,0%
Catetos / Queixadas
4,0%
Pas s eriform es
4,0%
Jacarés - do- papo -
5,0% am arelo
Jacarés - do -Pantanal

5,0% Perdizes

Trigre-d'água
8,0% Serpentes
23,0% 39,0%
Cutias

Borboletas

Gráfico 06 - Criadouros de Animais Silvestres legalizados junto ao IBAMA na Região Sul do Brasil.
Fonte: Adaptado de Vida à Venda (2003) In: Rocha (2004).

4
Percentual de criadouros comerciais de
fauna silvestre brasileira legalizados no
1,17%
2,76% 5,54%IBAMA Capivaras
3,24% Jacarés-do-Pantanal
28,35% Emas
3,94%
Tartarugas / Tracajás
4,85%
Pacas
Catetos/ Queixadas
5,78%
Serpentes
Psitacídeos
12,44% Passeriformes
16,36% Cervídeos
15,57%
Outros
Gráfico 07 – Percentual de Criadouros Comerciais de Fauna Silvestre legalizados junto ao IBAMA
no Brasil. Fonte: Adaptado de Vida à Venda (2003) In: Rocha (2004).

Porém, segundo dados fornecidos pelo IBAMA (DF), existem atualmente, no


Brasil, apenas 842 criadouros implantados, sendo: 83 criadouros comerciais (pessoas
jurídicas), 401 criadouros comerciais (pessoas físicas), 279 criadouros conservacionistas
e 79 criadouros científicos registrados junto ao IBAMA. Existem aproximadamente 500
em fase de aprovação, e 83 pessoas jurídicas possuem registro como exportadores de
fauna, produtos e subprodutos 3 .
Assim sendo, a criação de animais silvestres das espécies: catetos, queixadas e
capivaras, na região sul do Brasil se concentram com a seguinte distribuição no 1º lugar
o Rio Grande do Sul com 56,25%. 2º lugar Santa Catarina com 23,75% E 3º lugar o
Paraná com 20%00 (gráfico 08).

Rio Grande do S ul

23,75% P araná
S anta Catarina

56,25%
20,00%

Gráfico 08 - Participação de Criadouros de Animais Silvestres legalizados junto ao IBAMA na


Região Sul do Brasil (OBS: que recebem um único número de registro, porém são criadores de uma
ou mais espécies)
Fonte: ROCHA (2004).

O IBAMA fornece apenas uma numeração por criadouro independente do


número de espécies criadas, fato este, que dificulta a análise dos dados observados, uma
vez que encontra-se vários criadouros com mais de duas espécies a exemplo da capivara

3
O uso de subprodutos oriundos de animais selvagens, exóticos e silvestres, provenientes de
criadouros comerciais e reservas de caça, vêm se difundindo legalmente em diversos países do mundo,
demonstrando a utilização racional da fauna (ROCHA & HOSKEN, 2001).

5
no Rio Grande do Sul (gráfico 09); e do queixada no Paraná. Dada à diversidade
climática e biológica destes Estados, há, ainda, a possibilidade de se criar novas
espécies silvestres como vem ocorrendo com a ema no Rio Grande do Sul e a paca em
Santa Catarina e cutias, teus e jacarés no Paraná. Com um mix variado de animais de
torna possível ampliar o calendário de oferta de produtos de origem silvestre.
Segundo Neo (2003), do total de registros que dispomos compilados, 261
pessoas físicas ou jurídicas manejam a fauna em sistemas de criação intensiva ou semi-
intensiva, com base na Portaria Ibama n° 118/97. Um percentual de quase 47% desse
total refere-se à criação de capivaras, Hydrochaeris hydrochaeris, concentrada
principalmente no Estado de São Paulo, que possui registro de 66 estabelecimentos.
A Coordenação Geral de Fauna aguarda por subsídios, técnicos que auxiliem
na definição de planos de manejo específicos que possam conciliar a extração de
parcelas da população da natureza e sua recria em cativeiro como alternativa
econômica, sobretudo para as espécies consideradas problema, devido ao citado
desequilíbrio populacional (Neo, 2003; Rocha 2003).
A comercialização de fauna silvestre e de seus produtos somente foi
regulamentada em 1997, através da Portaria IBAMA n° 117/97, de 15 de outubro de
1997, e o poder público ainda têm dificuldades para viabilizar sua implementação no
que se refere à definição de parâmetros técnicos aplicáveis à comercialização de
produtos que tem origem na fauna silvestre.

Apenas capivaras

Capivaras e emas
16,67%
Capivaras e ratão do
5,55% banhado
Capivara consorciada
com outras espécies

55,56%
22,22%

Gráfico 09. Percentual de Criadouros de Capivaras e Criadouros Consorciados no Rio Grande do


Sul. (OBS: que recebem um único número de registro no IBAMA).
Fonte: ROCHA (2004).

Resultados e discussão
Observou-se que houve um significativo aumento na demanda de criação dessa
espécie a partir de 1996 e uma posterior estabilização na implantação de criadouros
após 1998, provavelmente devido ao "gargalo" decorrente das dificuldades de colocação
do produto no mercado, sobretudo pela ausência de abatedouros de fauna silvestre
autorizados dentro dos padrões requeridos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento - Mapa.
Pesquisas de mercado (tais como o levantamento dos locais mais produtivos,
consumo destes produtos, quantidades comercializadas, espécies preferidas pelo
consumidor, etc.) devem ser feitas, para que os técnicos tenham mais subsídios para a
orientação dos melhores locais de instalação de novos criadouros e também na tomada
de decisão de quais as espécies mais indicadas em função dos locais de produção,
tamanho da propriedade e preferências de consumo (Pelá, 2004).

6
Verificou-se que a comercialização normalmente é feita por empresas
denominadas como empórios (Empório Silvestre, Capivarema, Pró-fauna, Mãe-Terra
(ONG) em São Paulo; Savana Safari no Paraná, Java-parque no Rio Grande do Sul,
Faunatec e Zooway em Minas Gerais), através das associações de criadores (Associação
Paranaense de Criadores de Animais Silvestres e Exóticos- ACRIASE, a Associação
Mineira de Criadores de Animais Silvestres - AMCAS) ou associações específicas
(Associação Gaúcha de Criadores de Emas - AGCE). São instaladas próximas às
regiões de produção, que realizam o link entre os elos da cadeia produtiva silvestre
(CPAS) ou em alguns casos, apenas o beneficiamento dos produtos e subprodutos
oriundos da pecuária alternativa (da implantação dos criadouros até o abate). A partir
daí, o produto destina-se ao segmento atacadista e varejista.

Referências Bibliográficas:
Neo, Francisco de Assis – Diagnóstico do Manejo de Fauna Silvestre em Criadouros Comerciais no
Brasil – Perspectivas quanto à Sustentabilidade. Vida à Venda – RENCTAS. Brasília, Dupligráfica 2º
edição 2003.
Pelá, L. T. S. & Telles M. P. C.& Matos C. R. Distribuição Espacial dos Criadouros Comerciais de
Mamíferos e Aves Silvestres e Exóticos no Estado de Goiás ZOOTEC2004, 28 a 31 de maio de 2004 –
Brasília, DF.
Rocha, Délcio César Cordeiro. Caracterização da Cadeia Produtiva de Animais Silvestres (capivara,
cateto e queixada) no Sul do Brasil In: Dissertação de Mestrado para obtenção do titulo de Mestre em
Agronegócios UFRGS. Porto Alegre R.S. 2003.
____________________Agroeconegócios de Animais Silvestres no Brasil. ZOOTEC2004, 28 a 31 de
maio de 2004 – Brasília, DF.
____________________. Manual Técnico Como montar um Parque de Caça CPT, Viçosa /MG 2001.
Rocha, D. C. C. & HOSKEN, F. Como montar um Parque de Caça (Filmado no Paraná e São Paulo).
In: Fitas de Vídeo CPT, 2001
Vida à Venda – RENCTAS. Brasília, Dupligráfica 2º edição 2003.

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