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Prescrição e decadência - conceito e diferenças

A prática de um fato definido na lei como crime


traz consigo a punibilidade, isto é, a aplicação da pena que é
cominada em abstrato na norma penal. Ou seja, quando o sujeito
comete um crime aparece o Estado com o Direito de punir. Sendo
que este direito não é ilimitado, em virtude de o próprio legislador
ter relacionado no art. 107 do Código Penal, várias hipóteses de
causas de extinção de punibilidade, cujo rol é exemplificativo, pois,
existem outras no próprio código penal ou em leis extravagantes.
Prescreve o art. 107 do Código Penal:

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:


(...);
IV - pela prescrição, decadência1 ou
perempção.

Da Prescrição.
Na lição de Fernando Capez 2a prescrição é a

“perda do direito-poder-dever de punir pelo


Estado em face do não-exercício da
pretensão punitiva (interesse em aplicar a
pena) ou da pretensão executória (interesse
de executá-la) durante certo tempo. [...] O
não-exercício da pretensão punitiva acarreta
a perda do direito de impor a sanção. Então,
só ocorre antes de transitar em julgado a
sentença final. O não-exercício da pretensão
executória extingue o direito de executar a
sanção imposta. Só ocorre, portanto, após o
trânsito em julgado da sentença
condenatória”.

Desse conceito se extrai também as espécies de


prescrição existentes no Direito pátrio, quais sejam: a) Prescrição
da Pretensão Punitiva (PPP); b) Prescrição da Pretensão
Executória (PPE).
1
Sem grifo no orignal
2
Fernando Capez. Curso de direito penal – parte geral, v. 1. 6ª ed. São Paulo :
Saraiva, 2005, p.561.
Da Decadência

Segundo Fernando Capez3 decadência é:

“a perda do direito de promover a ação penal


exclusivamente privada, a ação privada
subsidiária da pública e do direito de
manifestação da vontade de que o ofensor
seja processado, por meio da ação penal
pública condicionada à representação, em
face da inércia do ofendido ou de seu
representante legal, durante certo tempo
fixado por lei. a.Efeito – a decadência está
elencada como causa de extinção da
punibilidade, mas, na verdade, o que ela
extingue é o direito de dar início à persecução
penal em juízo. O ofendido perde o direito de
promover a ação e de provocar a prestação
jurisdicional, e o Estado não tem como
satisfazer o seu direito de punir. A
decadência não atinge diretamente o direito
de punir, pois este pertence ao Estado e não
ao ofendido; ela extingue apenas o direito de
promover a ação ou de oferecer a
representação. Assim, a decadência, embora
não afete diretamente a punibilidade, torna
impossível o seu exercício, extinguindo-a
indiretamente”.
Diferenças entre Prescrição e Decadência4
Prescrição atinge o direito de punir do Estado, enquanto a
decadência atinge o direito do ofendido de promover a ação penal
privada ou de oferecer representação.

A prescrição atinge, portanto, em primeiro lugar o direito de punir


do Estado e, em conseqüência, extingue o direito de ação (a ação
se iniciou para a satisfação do direito; não existindo mais “jus
puniendi”, o processo perde o seu objeto); a decadência (e a

3
Fernando Capez. Curso de direito penal – parte geral, v. 1. 6ª ed. São Paulo :
Saraiva, 2005, p.558
4
Fernando Capez. Curso de direito penal – parte geral, v. 1. 6ª ed. São Paulo :
Saraiva, 2005, p.561. e 562
perempção), ao contrário, alcança primeiro o direito de ação, e, por
efeito, o Estado perde a pretensão punitiva. (...).

Já a decadência não afeta o “jus puniendi” do Estado, mas o direito


do particular de dar início à persecução penal, por meio da ação
penal privada ou da representação.

A decadência não é suspensa nem interrompida e só é impedida


pelo exercício do direito a ela sujeito. A prescrição pode ser
suspensa ou interrompida pelas causas expressamente colocadas
na lei.

O prazo de decadência pode ser estabelecido pela lei ou pela


vontade unilateral ou bilateral, uma vez que se tem em vista o
exercício do direito pelo seu titular. O prazo de prescrição é fixado
por lei para o exercício da ação que o protege.

A decadência pressupõe ação cuja origem é idêntica à do direito,


sendo por isso simultâneo o nascimento de ambos. A prescrição
pressupõe ação cuja origem é distinta da do direito, tendo, assim,
nascimento posteriormente ao direito.

A decadência deve ser reconhecida de ofício pelo juiz e independe


da argüição do interessado. A prescrição das ações patrimoniais
não pode ser decretada ex officio, e depende sempre da
alegação do interessado.

A prescrição admite renúncia ( art. 191) por parte dos


interessados, depois de consumada. A decadência, em qualquer
hipótese, não pode ser renunciada.

A decadência opera contra todos, já a prescrição não opera para


determinadas pessoas elencadas pela lei (art. 168).

Não se confunde a prescrição, em que o direito


de punir, é diretamente atingido, com a decadência, em que é
atingido o direito de ação e, indiretamente, o direito de punir
do Estado.

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