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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA AULA: 01

ALUNO: TURMA:

TEN RONEY DEMOCRACIA GREGA E MODERNA

O histórico da democracia remonta à Grécia Clássica. É dela


que surgem os fundamentos elementares para o regime que domina
o ocidente moderno.
A palavra DEMOCRACIA deriva de:
DEMOS = POVO KRATOS = PODER; AUTORIDADE
Significa poder do povo. Não quer dizer governo pelo povo.
Pode estar no governo uma só pessoa, ou um grupo, e ainda
tratar-se de uma democracia – desde que o poder seja do povo.
O fundamental é que o povo escolha o indivíduo ou grupo que governa, e que controle
como ele governa.
As funções de poder são delegadas.
 Pela organização em GENOS, famílias coletivas que reuniam descendentes de um
antepassado comum. Cada geno era chefiado pelo membro mais velho, o pater, com
autoridade militar, religiosa e política;
 Economia sustentada na agricultura e no pastoreio. A terra era propriedade coletiva. A
produção destinava-se à subsistência da família. Comércio pouco desenvolvido e à base de
trocas. Não havia desigualdade econômica e nem social.

Atenas e outras cidades-estados implantaram um sistema de governo por meio do qual


todos os cidadãos livres podiam eleger seus governantes e serem eleitos para tal função.
Imaginemos o que é uma pólis grega. Uma assembléia a cada nove dias. A Democracia
Clássica era direta, ou seja, a cada semana e meia, o povo de Atenas se reunia e decidia todo
tipo de questão.
Mas o que esses cidadãos mais decidem? A sociedade ateniense não conhece a
complexidade da economia moderna. Os cidadãos tratam da guerra e da paz, de assuntos
políticos, mas parte razoável das discussões parece girar em torno da religião e das festas,
também religiosas.
As funções de poder (administração) na Grécia Antiga eram delegadas a um indivíduo ou a
um grupo de indivíduos (Conselhos de Anciãos).
A Democracia Grega durou apenas duzentos anos: dos séculos VI ao IV antes de Cristo.
Com frequência ocorriam situações em que a normalidade democrática era interrompida.
Quando havia algum conflito com uma região ou cidade vizinha, eram atribuídos a alguns
generais poderes absolutos enquanto durasse a guerra.
Às vezes, ao encerrar-se esta, aproveitando o prestígio popular conquistado, os generais
apossavam-se do poder como ditadores.
Uma situação desse tipo acabou com a "democracia de notáveis" dos primeiros tempos de
Roma.
O sistema democrático durou menos tempo em Roma do que na Grécia e, mesmo durante
o período republicano, o poder permaneceu nas mãos da Aristocracia.
Eram excluídos os escravos, as mulheres e os estrangeiros.
Na verdade, os cidadãos formavam um grupo numericamente reduzido e privilegiado.
Legislação Espartana
A legislação espartana teria sido criada por Licurgo, personagem legendária, e se baseava
no monopólio político dos cidadãos-guerreiros, os espartanos, e na marginalização dos demais –
muito embora os periecos tivessem obrigações militares em caso de guerra.

Política Espartana
Politicamente, Esparta era baseada na oligarquia.
Diarquia: formada por dois reis, com autoridade religiosa e militar;
Gerúsia: também conhecida como conselho dos Anciãos, era composto por 28 esparciatas
com mais de 60 anos. Fiscalizavam a administração e decidiam sobre a maior parte dos assuntos
do governo;
Ápela: era a Assembléia popular, formada pelos cidadãos com mais de 30 anos. Sua
principal função era eleger os éforos.
Eforado: composto por cinco éforos, com mandato de um ano. Eram os verdadeiros
administradores da cidade. Fiscalizavam os reis, controlavam o sistema educacional e distribuíam
a propriedade entre os esparciatas.
Atenas
O BERÇO DA DEMOCRACIA: Atenas destacou-se como o maior centro cultural, político e
econômico da Grécia.
Cidade de origem jônica, tornou-se m padrão de desenvolvimento para as cidades-estado
gregas.
Atenas era formada pelas seguintes camadas sociais.
Eupátridas: os bem nascidos, camada aristocrática que detinha os privilégios, constituída
pelos grandes proprietários de terras;
Georgóis, pequenos proprietários de terras em regiões pouco férteis;
Thetas: não possuíam terras. Eram trabalhadores assalariados;
Demiurgos: artesãos e comerciantes concentrados no litoral;
Metecos: estrangeiros que moravam em Atenas dedicando-se ao comércio e ao artesanato.
Não possuíam direitos políticos e nem podiam comprar terras.
Escravos: prisioneiros de guerra ou por dívidas.
Política Ateniense
1. Eclésia (assembléia popular que aprovava as medidas da Bulé)
2. Bulé (ou Conselho dos 400 que elaboravam as leis a serem votadas pela assembléia
popular)
3. Arcontado (exerciam a justiça e administração)
4. Estrategos (cuidavam do exército)
5. Helieu (tribunal de justiça popular)
Em Atenas, a ação dos legisladores marcaram profundamente o processo de
democratização da sociedade.
Drácon: redigiu as leis – até então orais -, dificultando sua manipulação pelos eupátridas.
Político revolucionário em sua época e legislador ateniense excessivamente severo, quando
não sanguinário, que viveu em Atenas e passou a história pela publicação de um severo código
de leis que impediam os nobres, os eupátridas, de interpretarem as leis segundo seus interesses
(624 a. C.), quando exercia o cargo de tesmoteta, nome do magistrado que redigia e interpretava
a lei, de onde se originou o adjetivo draconiano para qualificar a norma que exacerba o rigor
punitivo.
Caracterizado por sua imparcialidade, mas essencialmente uma legislação considerada
muito severa, que punia com pena de morte os delitos mais triviais, correspondia aos costumes
da época.
Seu principal mérito consistiu em proporcionar leis determinadas e iguais para todos, foi o
primeiro passo para diminuir os privilégios da aristocracia, que a época provocavam contínuos
conflitos sociais, desordens e instabilidade política.
Uma peculiaridade de seu código era que não apenava o homicídio involuntário e punha nas
mãos do estado a administração da justiça em caso de assassinato. Com isso, pôs-se termo às
disputas e intrigas familiares. Posteriormente, os próprios atenienses consideraram insatisfatório
esse código e Sólon substituí-o (594 a. C.) mantendo somente as leis referentes ao homicídio.
Sólon:
 Aboliu a escravidão por dívidas
 libertou os devedores da prisão
 determinou a devolução de terras confiscadas pelos credores eupátridas.
 dividiu a sociedade de forma censitária em quatro classes sociais
 instituiu o princípio da eunomia (igualdade perante a lei).
 Criou órgãos legislativos; a Bulé (ou Conselho dos 400), que preparava leis, e a
Eclésia (Assembléia Popular), que as votava.
Psístrato
Governador e tirano grego de Atenas (561-556 a. C./546-527 a. C.). As desordens e a
instabilidade política resultantes das reformas de Sólon levaram à sua tirania (561-527 a.C.), que
impôs e ampliou as reformas de Sólon, realizando uma reforma agrária em benefício dos
camponeses pequenos em Ática.
Alcançou notoriedade pública numa das guerras que a cidade manteve contra Megara (565
a.C.), e organizou um partido próprio para entrar na política. Conseguiu, assim, uma guarda
pessoal de cidadãos, que usou para chegar ao poder, mas logo foi forçado a exilar-se.
Dedicou-se então à exploração de prata e ouro no norte da Grécia por alguns anos.
Financiou uma invasão à Ática (546 a. C.), venceu o exército ateniense na batalha de Palene e
tornou-se novamente governante de Atenas.
Desarmou os cidadãos, manteve uma guarda pessoal mercenária e exigiu reféns das
principais famílias, que confinou na ilha de Naxos. Seu governo, no entanto, foi proveitoso para
os atenienses. Manteve a constituição ateniense e buscou fazer a máquina do estado funcionar de
modo eficaz.
As instituições políticas continuaram em vigor e a justiça não sofreu restrições. Como
urbanizador mandou construir uma fonte pública em Enneacrounos, com nove bicas. Impulsionou
o comércio ateniense no estrangeiro, especialmente na área de Mar Negro. Também fortaleceu a
religião por meio de uma série de reformas e pela renovação dos edifícios sagrados de Elêusis.
Financiou todos os seus projetos com o produto das minas de ouro do monte Panageu. Com o
controle do Helesponto, proporcionou a Atenas o acesso ao trigo e aos produtos da Europa
oriental.
Chegou-se a dizer que sua época constituiu a era dourada de Atenas. Ele foi sucedido pelo
filhos Hippias e Hipparchus, os denominados pisistrátidas, mas o dinastia não resistiu às lutas
entre aristocratas e trabalhadores livres que conduziram a novas reformas (510-507 a. C.),
quando terminou a tirania pisistrátida.
Hiparco e Hípias: filhos de Pisístrato, não deram seguimento as reformas.
Clístenes:
 O direito de cidadania foi ampliado.
 Passaram a ser considerados cidadãos os filhos de pai ateniense.
 Criou a lei do ostracismo, que era a condenação ao exílio de Atenas, por dez
anos, às pessoas consideradas perigosas pelo Estado.
A democracia ateniense atingiu se apogeu no século V a.C., com Péricles, que
governou 14 anos e promoveu Atenas tanto politicamente como culturalmente.

DEMOCRACIA MODERNA
A democracia grega era direta e limitada aos ricos proprietários.
O próprio cidadão defendia os seus interesses políticos.
Nossa democracia é representativa, escolhemos os candidatos que vão nos representar.
Todos com maior de 18 anos estão obrigados a exercer seus direitos políticos.
Deve-se perceber que quando a democracia foi inventada pelos atenienses, surgiram três
conceitos fundamentais que definiam a situação do cidadão:
a- Igualdade significava, perante as leis e os costumes da pólis, que todos os cidadãos
possuem os mesmos direitos e devem ser tratados da mesma maneira. A partir disso,
Aristóteles afirma que a primeira tarefa da justiça era igualar os desiguais, seja pela
redistribuição das riquezas sociais, seja pela garantia de participação no governo. Por
esse motivo, Marx afirma que a igualdade só se tornaria um direito concreto quando não
houvesse escravos, servos e assalariados explorados, mas fosse dado a cada um
segundo suas necessidades e segundo o seu trabalho.
b- Liberdade implicava que todo cidadão tem o direito de expor em público os seus
interesses e suas opiniões, vê-los debatidos pelos demais e aprovados ou rejeitados pela
maioria, e deve acatar a decisão tomada publicamente. Na modernidade, com a
Revolução Inglesa de 1644 e a Revolução Francesa de 1789, o direito à liberdade
ampliou-se. Além da liberdade de pensamento e de expressão, passou a significar o
direito à independência para escolher o ofício, o local de moradia, o tipo de educação, o
cônjuge, em suma, a recusa das hierarquias supostamente divinas ou naturais.
c- Participação no poder onde todos os cidadãos têm o direito de participar das discussões
e deliberações públicas da pólis, votando ou revogando decisões. Esse direito possuía
um sentido muito preciso. Nele afirmava-se que, do ponto de vista político, todos os
cidadãos têm competência para opinar e decidir, pois a política não é uma questão
técnica, nem científica, mas uma ação coletiva.
Nas sociedades modernas, são bastante reduzidas as possibilidades de participação direta,
de todos os cidadãos, dado o número e a complexidade das diversas instituições e dos assuntos
públicos em geral. Na verdade, só é possível o exercício direto da democracia em algumas poucas
instituições tradicionais - administração municipal ou assembléias populares, por exemplo. Assim,
na maioria dos países democráticos, é comum o exercício da democracia por meio de um sistema
indireto ou sistema representativo.
Normalmente, esse sistema é regulado por uma lei fundamental ou constituição. Os
cidadãos elegem representantes, cuja participação nas diversas instituições governamentais
garante a defesa de seus interesses.
De maneira geral, esses representantes fazem parte de vários partidos políticos, que se
identificam com os interesses de uma classe ou grupo social e sustentam diferentes opiniões a
respeito de como se deve solucionar os problemas da comunidade. Os candidatos que recebem
mais votos nas eleições passam então à categoria de membros dos organismos parlamentares -
congresso, senado, câmara de deputados, parlamento, cortes, assembléia nacional etc. - nos
quais, por um determinado período (mandato), devem defender as opiniões do partido pelo qual
se elegeram, apoiando, criticando, reelaborando e votando os projetos de lei que forem
submetidos à discussão.
Só no século XVII começaram a ser elaboradas as primeiras formulações teóricas sobre a
democracia moderna.
O filósofo britânico John Locke foi o primeiro a afirmar que o poder dos governos nasce de
um acordo livre e recíproco e a preconizar a separação entre os poderes legislativo e judiciário.
Locke foi um filósofo que atacou a concepção absolutista de Thomas Hobbes = o mundo
vivia num caos, mas o homem criou o governo e formou-se a sociedade civil, essa sociedade foi
feita em um acordo entre o governante e o governado e esse acordo jamais poderia ser rompido
e essa impossibilidade de romper o contrato caracterizava o absolutismo. Locke concorda com a
sociedade civil (o contrato), porém o contrato não só pode como deve ser rompido se o
governante mostrar ser um mau governante = acaba o absolutismo. Se o rei é ruim, tira-o e põe
outro.
Isso existe até os dias de hoje.
O primeiro país que trouxe na sua constituição o princípio de Locke foram os Estados
Unidos.
Locke também disse que os direitos individuais são dons, são nossos, ninguém pode mexer, as
nossas habilidades e aquilo que conseguimos através delas também é nosso. Fala-se do
individualismo das pessoas na sociedade e sobre a propriedade privada que pertence a uma
determinada pessoa.
A teoria de Locke serve corretamente para a burguesia: direitos individuais assegurados,
propriedade privada inviolável e a possibilidade de tirar os governantes se não estiverem
atendendo a seus interesses.
Em 1748, foi publicado livro DO ESPÍRITO DAS LEIS, do filósofo e moralista francês Barão
de Montesquieu.
 distinguia três tipos diferentes de governo:
 Despotismo - temor
 República – virtude
 Monarquia – honra
Defendia a monarquia constitucional como opção mais prudente e sábia. A liberdade política
seria garantida pela separação e independência dos três poderes fundamentais do estado:
legislativo, executivo e judiciário. Assim, Montesquieu formulou os princípios da democracia
moderna.
Voltaire é o mais irreverente. Expõe sua filosofia em romances (mais fácil de ler). Ele diz
que o Estado (monarquia) deve ser dirigido por um rei filósofo, ou então, um rei que tenha
ministros filósofos, então ele defende a razão e os princípios iluministas para dirigir o Estado.
Rousseau é o mais radical de todos, ao invés de ver os problemas da burguesia, ele vê os
problemas do povo. Ele vai analisar as causas da pobreza e vai chegar à conclusão de que os
problemas da sociedade na qual vivia eram causados pela propriedade privada (depois que ela
veio, veio junto a pobreza) = isso vai contra os desejos da burguesia que defendia a propriedade
privada, então Rousseau será um filósofo pobre (quem patrocinava os filósofos era a burguesia e
como ele era contra os interesses desta, não receberá dinheiro).
Rousseau é um filósofo romântico, porque propõe a volta antes dos maus acontecerem. Por
isso ele cria o mito do Bom Selvagem = o índio que vivia feliz e contente sem a propriedade
privada. Esse mito pode ser comparado a uma criança que é pura, mas depois ela se torna
ambiciosa (por causa da sociedade competitiva e da propriedade privada) e começam os
problemas da sociedade.
Ele propõe a democracia = o governo do povo. É o único que fala em República (coisa do
povo). "Devemos obedecer a voz da maioria". Ele é tão radical que vão considerá-lo o 1.º
socialista, mas não foi. Socialismo só no séc. XIX (ainda está no XVIII).
A REPRESENTAÇÃO é a primeira grande diferença entre a democracia antiga e a democracia
moderna.
A Democracia Direta da Grécia Antiga é impraticável numa sociedade como a nossa, não só
porque em países grandes não há como reunir a população toda num único lugar, mas,
sobretudo, porque poucos se disporiam a deixar seus afazeres privados e os prazeres pessoais
para discutir política toda semana.
A segunda grande diferença entre a democracia antiga e a democracia moderna é que as
jovens repúblicas representativas, Estados Unidos e França, proclamam uma declaração de
direitos.
Sofrendo algumas mudanças como a passagem de direta para representativa e, se poderia
dizer, com alguns avanços; a atual democracia, em tese, envolve todo cidadão com direitos
iguais ante o Estado Jurídico. Porém, as representações democráticas modernas enfrentam
desafios quanto à legitimidade dos representantes o que sugestiona uma crise da própria
representação em benefício de novas alternativas que emergem na geopolítica contemporânea.
A literatura aponta os gregos como o primeiro povo a desenvolver uma estrutura política na
qual qualquer cidadão livre teria poder de deliberar e participar das decisões. Para alguns esse
período se compõe numa face pura do chamado governo do povo: a democracia. Entretanto, a
sociedade grega estava dividida, grosso modo, em três grupos: os cidadãos livres, os escravos e
as mulheres. Na Ágora apenas os homens livres tinham voz e vez e poderiam defender quaisquer
direitos bem como contestar argumentos apresentado. Esse era o direito de todo cidadão grego.
Condição da qual estavam excluídos as mulheres e os escravos.
A partir desse cenário podemos sugerir que na democracia direta dos gregos da era
antiga havia traços, ainda que muito tênues, de representatividade. Pois, apesar de não haver o
consentimento deliberado, por parte das duas últimas camadas sociais gregas ou ser-lhes negada
essa preliminar, a condição dos escravos e das mulheres cabia aos cidadãos livres manter ou
deliberar. Mesmo que sob justificativa da existência de uma lei natural determinante.
Naturalmente que aquilo que pode ser chamado de representatividade, no contexto da Grécia
Antiga, não possui os mesmos elementos tais como são vistos na representação democrática
moderna. Sendo de extrema ousadia pretender, enfim, afirmar ser, esse feito helênico,
efetivamente, representação democrática.
E como legado do ocidente helênico antigo o ocidente contemporâneo resguardou ou
recuperou a democracia como forma de governo. Não obstante, diferentemente dos gregos que
entre seus cidadãos praticavam a democracia direta os regimes ocidentais vigentes optam pela
representatividade e pode se dizer, uma representatividade fruto de um consentimento
deliberado.
Mas é conhecido de todos que entre aquele e este período histórico houve uma difusa e
antitética interrupção no que diz respeito às estruturas políticas. Desde o V século do calendário
cristão o regime feudal se instalou e estendeu-se por dez séculos seguidos. Ao que também ficou
conhecido de período das trevas. A derrocada do feudalismo ou o fim da Idade Média no século
XV não resultou num retorno imediato às estruturas democráticas, mas surgia, juntamente com
as raízes do capitalismo, o absolutismo. E numa parceria promissora reis e capitalistas
dominaram o Estado numa relação de troca.

Segundo Nadia Urbinati os princípios de uma democracia representativa vão surgir na


Inglaterra do século XVII. A menção anteriormente feita acerca de possíveis indícios de
representatividade na política democrática grega arcaica é justificada pelo que diz a autora
estadunidense: a história moderna sugere que a genealogia da democratização começou com o
processo representativo (URBINATI, 2006: 195). A partir dessa visão histórica não se veta a
possibilidade de, nas raízes da democracia, também haver algum sinal de representatividade.
Entretanto, para Urbinati vale olhar a partir dos acontecimentos que abalizaram o surgimento do
processo eleitoral entre os ingleses, o que elegeu a separação entre Estado e sociedade, ou seja,
estabeleceu uma relação simbiótica entre representante e representados.
Em linhas gerais a representação se torna democrática quando forem características desta
relação a contestação, a revisão e reconstrução da legitimidade do representante. Isso num
processo dinâmico e contínuo. E assim entende a autora citada acima porque se dissemina a
presença de um soberano e passa a ser enfatizada a soberania popular vista por ela como um
motor central para a democratização da representação (URBINATI, 2006: 192).
E como sustentação desta estrutura democrática Jürgen Habermas sugere que esta esteja
organizada sobre a base da comunicação que seria responsável por sua plenificação. É evidente
que a comunicação de que fala o filósofo alemão trata-se de algo imparcial gerido por uma
lógica rigorosa que busque o consenso nas deliberações entre Estado de Direito e Estado jurídico.
Deve-se evitar a confusão da comunicação de que fala Habermas com o que a mídia
moderna apresenta e que a autora Verônica Vaz de Melo vai apontar como elemento, de fato
demonstrativo, da crise da democracia de representatividade. A manipulação da mídia para
forjar a opinião popular segundo interesses econômicos privados ou mesmo objetivo particulares.
O cidadão é transformado em massa de manobra porque a soberania popular está comprometida.
As últimas guerras empreendidas pelos Estados Unidos dão conta de demonstrar empiricamente
estes argumentos, segundo Vaz de Melo. Um outro ponto de crise da democracia de
representatividade assinalada pela autora seria a unificação, em um bloco, dos Estados
Europeus. Para ela as relações deixam de ser entre cidadão e Estado e passam a ser entre Estado
e União Européia (MELO, 2007: 04) distanciando os elementos – sociedade e Estado - na esfera
da representação democrática, ou seja, coloca em questão a legitimidade do representante.
Um outro ponto de singular proeminência a se destacar e que está relacionado à
legitimidade do representante embora pertença ao âmbito psicológico é a confiança. A
legitimidade não depende exclusivamente da proximidade ou distanciamento nas relações
Estado-cidadão, mas também depende da relação de confiança que faz com que o representado
reconheça e aceite o representante como tal. O caso Collor pode ilustrar isso. Claro que se faz
necessário ressalvar que também houve, nesse caso, os jogos de interesses privados. Todavia,
como ficaria a relação do povo estadunidense caso viesse a se tornar notório as artimanhas
midiáticas utilizadas por seu governante para obter a aprovação popular para os interesses
particulares em questão? Incontestavelmente, isso afetaria sua legitimidade enquanto
representante pela ausência de confiança por parte de seus representados.
Enfim, o surgimento e o fortalecimento de iniciativas não governamentais e populares que
pleiteiam mais diretamente o cumprimento de seus direitos e a elaboração de leis que atendam
mais justamente as demandas enfrentadas pela sociedade está como uma alternativa
caracteristicamente participativa em meio a este cenário de crise da representação, como
entende Verônica Vaz de Melo. Grupos e movimentos compostos por cidadãos civis,
desvinculados de agremiações partidárias, e que se ocupam em fiscalizar o poder político
institucional; tomar iniciativas de avaliar contextos, sugerir projetos e melhorias ou mesmo
criação de leis que supram, efetivamente, as necessidades sociais crescem, exigindo o direito de
participar e condenando a ilegitimidade da representação.
Em face do discorrido acima se faz pertinentes algumas questões. A democracia na Grécia
Clássica não apresentava uma estrutura inclusiva, mas tendia a ver por uma ótica natural
determinista segundo a qual escravo era escravo. Atualmente a estrutura democrática parece ter
evoluído para a superação dessa forma de pensar helênica e todos passam, teoricamente, a ser
cidadãos livres: homens e mulheres e não há mais escravos. Na prática, porém, nota-se
inúmeros desafios que contrariam a teoria. O que estaria, e não mais um determinismo natural,
impossibilitando a inclusão, de fato, de todos nas deliberações e decisões democráticas?
Um outro desafio está em como aperfeiçoar gradativamente essa democracia, isto é, como
democratizar o que no meio popular ainda é recebido como democracia, ou seja, adolescer
mecanismos que permitam à democracia representativa, vítima do marketing, da essência do
regime econômico vigente e da opinião pública, ser mais democrática do que ela já pôde ser em
tempos passados? E nesse sentido ainda poderíamos lembrar o autor Tarso Genro, em seu livro
Crise da Democracia, ao rememorar um fato da história do filósofo Hegel que no seu leito de
morte ouviu de um de seus discípulos que poderia morrer tranqüilo, pois sua filosofia já estava
em todas as escolas e no mundo todo. A resposta do pensador moderno foi a seguinte: “nenhum
discípulo meu me compreendeu, exceto um, e este me compreendeu mal”. Segundo Genro isso
serviria de parábola para a indagação: será que os teóricos da democracia moderna como
Rousseau, Montesquieu entre outros, não teceriam comentário semelhante ao verem o que se faz
como democracia na contemporaneidade? (GENRO, 2002:13). Vale, porém, lembrar que tal
como a teoria ensina a democracia nunca se efetivou, desde suas origens, enquanto sistema
igualitário. Não foi muito além de ideia e enquanto houver divisão de classe sofrerá fortes
resistências ao seu amadurecimento.
Tudo indica que há um esforço para se produzir a apatia política como estratégia
democrática de países desenvolvidos e, olhando mais atentamente, se poderia constatar esse
fenômeno em nações vista como em desenvolvimento, como é o caso do Brasil onde milhares e
milhares de cidadãos desconhecem seus representantes e expressam uma rejeição àquilo que
lhes é apresentado como política.

CONCEITOS BÁSICOS

1- Política (pólis=cidade grega, cidade-estado)


É uma forma de gestão da pólis. Ou seja, é tudo que se refere ao coletivo, que diz respeito
a todos - ou a uma parte significativa, evidentemente. A política seria uma alternativa às outras
formas de gestão da cidade (como a tirania ou a anarquia). A política estaria para a tirania como
a diplomacia está para a guerra: é uma forma de se resolver os problemas sem recorrer à
violência. Pelo contrário, utilizando aquilo que nos é tão precioso: a razão.
2- Isonomia: (iso=mesmo, igual / nomia=regras, normas)
Todos os homens estão sujeitos às mesmas leis e normas - ou seja, ninguém é "semi-
deus", somos todos homens, e os homens devem ter os mesmos direitos e deveres na sociedade.
Começa, aqui, uma busca pela objetividade da "gestão do coletivo". As normas e leis não podem
ser mudadas, como as vontades de um imperador: elas são compartilhadas por todos.
3- Isegoria:
Todos os cidadãos têm igual direito de manifestar sua opinião política para todos os outros.
A palavra de dois homens têm igual valor perante a sociedade. Quando as opiniões divergem, é
preciso que se discuta a questão. Através do discurso, da fala, os cidadãos têm o direito de
convencer os outros sobre seu ponto de vista.
4- Persuasão:
Nenhum homem detém toda a verdade sobre as coisas. Assim, os homens não conseguem
falar verdades, podem ter apenas opiniões (doxa). E muitas vezes essas opiniões divergem
quanto a problemas comuns. Para o madeireiro é bom estimular o desenvolvimento frenético da
Amazõnia, enquanto para os índios, seringueiros e a opinião midiática global isso não é desejável.
Mas todos gostam de comprar produtos amazônicos.
Não há uma verdade clara. As pessoas precisam discutir, com inteligência e clareza, para
chegar num acordo. Neste processo, cada um utiliza os meios disponíveis para persuadir o outro.
Mudar a opinião do outro. Sem o esforço de persuasão, a democracia não é possível.
5- Isocracia:
Um ideal aparentemente simples e trivial, que até hoje estamos tentando praticar - e
mesmo formular.
6- Oligarquia:
Regime político em que o poder é exercido por um pequeno grupo de pessoas,
pertencentes ao mesmo partido, classe ou família; preponderância de um pequeno grupo no
poder, especialmente para praticar corrupção e governar em interesse próprio.
7- Plutocracia:
A plutocracia (do grego ploutos: riqueza; kratos: poder) é um sistema político no qual o
poder é exercido pelo grupo mais rico. Do ponto de vista social, esta concentração de poder nas
mãos de uma classe é acompanhada de uma grande desigualdade e de uma pequena mobilidade.
8- Aristocracia
Significa governo dos melhores(do grego αριστοκρατία, de άριστος (aristos); e κράτος
(kratos), poder, Estado), literalmente poder dos melhores, é uma forma de governo na qual o
poder político é dominado por um grupo elitista.
9- Autocracia
Autocracia literalmente significa a partir dos radicais gregos autos (por si próprio), cratos
(governo), governo por si próprio. É uma forma de governo na qual um único homem detém o
poder supremo.
10- Fisiocracia
Doutrina dos economistas que, com Quesnay (autor de um Quadro econômico, 1758),
consideram a terra como a única fonte da riqueza.
11- Ideocracia
Sistema de organização política e social baseado na predominância de ideologias (no
sentido de conjunto de ideias dogmaticamente organizado como instrumento de domínio político).
12- Anarquia
Inexistência de qualquer forma de autoridade política ou governo; Inexistência de
hierarquia, poder e autoridade; Sem regras ou leis impostas pelo Estado, e sim pela Sociedade;
Autogoverno; Sistema político baseado na abolição da propriedade privada e no fim do Estado.

DEMOCRACIA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL


Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
I - a soberania
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
V - o pluralismo político
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos
ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I- Constituir uma sociedade livre, justa e solidária
II - Garantir o desenvolvimento nacional
III - Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais
IV - Promover o bem de todos, sem preceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.

Art. 5º- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Art. 14 – A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e
secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - Plebiscito
II - Referendo
III - Iniciativa Popular. (CONSTITUIÇÃO FEDERATIVA DO BRASIL, 1988)

Referências bibliográficas
GENRO, Tarso. Crise da Democracia: Direito, Democracia direta e Neoliberalismo na Ordem Global. Ed. Vozes:
Petrópolis-RJ, 2002.
MELO, Vânia Vaz de. Democracia Representativa e Democracia Participativa no Contexto Internacional. Revista
FACULDADE DE DIREITO MILTON CAMPOS. http://www.mcampos.br/servicos/centrodeextensao/textos/venicavaz.pdf.
Acesso em: 31 de julho de 2007.
URBINATI, Nadia. O que Torna a Representação Democrática. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ln/n67/a07n67.pdf. Acesso em: 02 de agosto de 2007.

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