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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Vão-se os anéis: uma abordagem etnográfica do penhor

DÉCIO SOARES VICENTE


Orientadora: Profª. Drª. Lúcia Helena Alves Müller

Porto Alegre
2007
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

DÉCIO SOARES VICENTE

Vão-se os anéis: uma abordagem etnográfica do penhor

Porto Alegre
2007
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DÉCIO SOARES VICENTE

Vão-se os anéis: uma abordagem etnográfica do penhor

Monografia apresentada à banca examinadora


da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, como requisito para a obtenção
do título de Bacharel em Ciências Sociais.

Orientadora: Profª. Drª. Lúcia Helena Alves Müller

Porto Alegre
2007
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DÉCIO SOARES VICENTE

Vão-se os anéis: uma abordagem etnográfica do penhor

Monografia apresentada como requisito para


obtenção do grau de Bacharel, pelo curso de
Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas, Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul.

Aprovado em____de______________de______.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Mauro Roese - UFRGS

Prof. Dr. Airton Luiz Jungblut - PUCRS

Orientadora: Profª. Drª. Lúcia Helena Alves Müller - PUCRS


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A Pluralidade Humana

A pluralidade humana, condição básica da ação e do discurso, tem o duplo aspecto


da igualdade e da diferença. Se não fossem iguais, os homens seriam incapazes de
compreender-se entre si e aos seus antepassados, ou de fazer planos para o futuro
e prever as necessidades das gerações vindouras. Se não fossem diferentes, se
cada ser humano não diferisse de todos os que existiram, existem ou virão a existir,
os homens não precisariam do discurso ou da ação para se fazerem entender. Com
simples sinais e sons poderiam comunicar as suas necessidades imediatas e
idênticas.
Ser diferente não equivale a ser outro - ou seja, não equivale a possuir essa curiosa
qualidade de alteridade comum a tudo o que existe e que, para a filosofia medieval,
é uma das quatro características básicas e universais que transcendem todas as
qualidades particulares. A alteridade é, sem dúvida, um aspecto importante da
pluralidade; é a razão pela qual todas as nossas definições são distinções e o motivo
pelo qual não podemos dizer o que uma coisa é sem a distinguir de outra.
Na sua forma mais abstrata, a alteridade está apenas presente na mera
multiplicação de objetos inorgânicos, ao passo que toda a vida orgânica já exibe
variações e diferenças, inclusive entre indivíduos da mesma espécie. Só o homem,
porém, é capaz de exprimir essa diferença e distinguir-se; só ele é capaz de se
comunicar a si próprio e não apenas comunicar alguma coisa - como sede, fome,
afeto, hostilidade ou medo. No homem, a alteridade, que ele tem em comum com
tudo o que existe, e a distinção, que ele partilha com tudo o que vive, tornam-se
singularidades e a pluralidade humana é a paradoxal pluralidade dos seres
singulares.

Hannah Arendt
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AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos para a professora Lúcia Müller, que me


possibilitou a oportunidade de participar do Núcleo de Estudos de Empresas e
Organizações e que me orientou, com muita sabedoria e paciência, na execução
desse estudo.
Agradeço à Caixa Econômica Federal, que permitiu a realização desse
trabalho. Aos funcionários da empresa que me receberam muito bem. Aos clientes
que utilizam o setor de penhor que colaboraram nesse estudo com os seus relatos.
Agradeço aos professores que tive o prazer de conhecer no decorrer de todos
esses anos como estudante. Aos colegas e amigos que participaram de momentos
importantes ao longo desse curso.
Agradeço à minha família, pela confiança e pelo apoio. Agradeço
principalmente à minha mãe Susana, pois sem sua ajuda, nada teria sido possível.
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RESUMO

Este trabalho tem como tema a inserção do penhor nas estratégias


financeiras dos sujeitos no novo contexto de mercado de oferta de crédito. O penhor
é uma das modalidades mais antigas de empréstimo oferecidas à população.
Atualmente, esse serviço de crédito é oferecido pela Caixa Econômica Federal e tem
sido apontado como uma das alternativas mais atrativas para a população, em
função dos baixos juros cobrados.
Com a implementação de políticas públicas de inclusão, baseadas no acesso
ao crédito, crescem cada vez mais a disputa entre bancos, financeiras, cooperativas
de crédito, etc., para conquistar clientes de baixa renda. Mesmo assim, o penhor
segue concorrendo como modalidade de crédito, em função das características que
o diferenciam dos outros produtos financeiros existentes. “Colocar no prego” é uma
prática que possui especificidades econômicas e simbólicas em relação às novas
modalidades de crédito oferecidas no mercado. Além disso, no penhor, as
transações envolvem objetos, as jóias, que não são simplesmente coisas, elas
“possuem memória”, são partes da história de vida das pessoas (STALLYBRASS,
2000). Através de um estudo etnográfico, realizado na cidade de Porto Alegre, em
2007, buscou-se identificar as relações sociais envolvidas na busca pelo acesso ao
crédito via penhor, e compreender os sentidos que as pessoas que utilizam o penhor
atribuem ao crédito quando este é obtido através desse mecanismo financeiro.
O estudo sobre o penhor deverá contribuir para uma melhor compreensão da
dimensão simbólica dos processos (e dos efeitos) das políticas de incorporação das
populações de baixa renda no mercado financeiro e de consumo.

Palavras-chaves: Mercado de jóias. Penhor. Crédito. Consumo. Rituais. Inclusão


financeira. Políticas sociais.
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ABSTRACT

The present work’s theme is the inclusion of pawn broking in the financial
strategies of the individuals in the new credit-market context. Pawn broking is one of
the most antique forms of loaning. Currently, this credit service is being offered by the
federal savings bank and has been appointed as one of the most attractive
alternatives to the population, due to its low interest rates.
Along with the implementation of inclusion public policies, based on the
access to credit, there is a growing dispute among banks, loan offices, credit unions,
etc, in order to win over the low income clients. Even thus, pawn broking is still able
to compete as credit form due to its characteristics that differentiates it from other
financial products in the market. “Gír to pawn” is a practice that holds both economic
and symbolic specificities compared to the new forms of credit offered in the market.
In addition, in the pawn shop, the transactions involve objects, the jewelry, that are
not just things, they “hold memory”, they are a part of people’s life stories
(STALLYBRASS, 2000). Through an ethnographic study, in Porto Alegre city,
throughout the year of 2007, this investigation looked forward to identifying the social
relations involved in the search of access to credit through pawn, and to comprehend
the meaning that pawn brokers give to credit raised through financial mechanisms.
The study about pawn broking should contribute to a better comprehension of
the symbolic dimension of the incorporation of politic processes (and its effects) on
the low income population in the financial and consumer market.

Key-words: Jewel market. Pawn. Credit. Consumption. Ritual. Financial inclusion.


Social politics.
9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Banco de dados no programa Excel..........................................................20


Figura 2 - Banco de dados no programa Excel..........................................................20
Figura 3 - Penhor da CAIXA tem mais dinheiro.........................................................22
Figura 4 - Panfletos de empréstimos recolhidos - 2006.............................................31
10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Perfil do cliente do Penhor........................................................................41


11

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Motivos que levam as pessoas a usar o penhor e tipos de estratégia


econômica em que os objetos penhorados se inserem.........................45
Quadro 2 - Motivos que levam as pessoas a se desfazerem das jóias....................55
Quadro 3 - Rituais que envolvem jóias.....................................................................57
Quadro 4 – Valor de Uso (simbólico)........................................................................62
Quadro 5 – Valor de Troca (comercial).....................................................................63
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LISTA DE SIGLAS

ABECS - Associação Brasileira de Cartões de Empresas de Cartões de Crédito e


Serviços;
AOL – America On-Line;
CAIXA – Caixa Econômica Federal;
CPF - Cadastro de Pessoas Físicas;
CNPS - Conselho Nacional da Previdência Social;
FEE – Fundação de Economia e Estatística;
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada;
IPVA - Imposto sobre a propriedade de veículos automotores;
IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano;
MP3 – Aparelho de som e gravador de áudio;
NEEO – Núcleo de Estudos de Empresas e Organizações;
ONGs – Organização Não-Governamental;
PIB - Produto Interno Bruto;
PRONAF - Programa Nacional de Agricultura Familiar;
PUCRS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul;
SERASA - Sociedade anônima (S.A.) e privada, totalmente nacional, de serviços
especializados em pesquisas, análises e informações econômico-
financeiros para apoio a decisões de crédito e negócios;
SICLI - Sistema de Clientes da CAIXA;
SIPEN - Sistema de Penhor da CAIXA;
SINDILOJA - Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre;
SPC - Serviço de Proteção ao Crédito;
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
UOL – Universo On-line.
13

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................14

METODOLOGIA .......................................................................................................16

1 O ESTUDO DO PENHOR ......................................................................................21


1.1 Ciências sociais e instituições econômicas .....................................................23
1.2 Dinheiro, consumo e endividamento no Brasil hoje .........................................29

2 COMO FUNCIONA O PENHOR ............................................................................33


2.1 Leilões .............................................................................................................37
2.2 O universo do penhor ......................................................................................40
2.2.1 Gênero ......................................................................................................41
2.2.2 O hábito de penhorar ................................................................................43
2.2.3 A classe média no “sufoco” .......................................................................44
2.2.4 Estratégias financeiras ..............................................................................46
2.2.5 A poupança “sagrada”...............................................................................48
2.2.6 Bancos e financeiras .................................................................................48
2.2.7 “Quebra-galho”..........................................................................................51
2.2.8 Alternativa para autonomia .......................................................................51
2.2.9 No penhor é mais seguro ..........................................................................52
2.2.10 Jóias como investimento .........................................................................52
2.3 Visões negativas do penhor.............................................................................53
2.4 Jóias rejeitadas................................................................................................54
2.5 Jóias, rituais e vida econômica ........................................................................56
2.6 O significado das jóias: valor de uso e valor de troca......................................62

CONCLUSÃO ...........................................................................................................66

REFERÊNCIAS.........................................................................................................69

ANEXOS ...................................................................................................................75
ANEXO A - 1º Roteiro de entrevista e observação para o penhor...................76
ANEXO B - 2º Roteiro de entrevista e observação para funcionários do
penhor...................................................................................................................80
ANEXO C - 3º Roteiro de observação para o penhor........................................81
14

INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como tema a participação do penhor nas estratégias


financeiras dos sujeitos no novo contexto de mercado de oferta de crédito. Este
estudo faz parte da pesquisa Me dá um dinheiro aí? Crédito e inclusão financeira
sob a ótica de grupos populares, que está sob a responsabilidade da Profª. Dr. Lúcia
Helena Alves Müller. O projeto iniciou em agosto de 2006 no Núcleo de Estudos de
Empresas e Organizações (NEEO), do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Sociais, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humano da PUCRS.
O tema do projeto Me dá um dinheiro aí? Crédito e inclusão financeira sob a
ótica de grupos populares são as políticas públicas de caráter econômico e social
que utilizam os mecanismos financeiros como instrumentos, mais especificamente,
as políticas de acesso ao crédito para a população de baixa renda que vêm sendo
adotadas pelo governo brasileiro como medidas para a distribuição de renda e
promoção do desenvolvimento econômico, e implementadas através de mecanismos
como: microcrédito, crédito pessoal, crédito consignado, crédito para servidores
públicos, etc. O objetivo deste projeto é compreender o contexto simbólico a partir do
qual os indivíduos de classe popular estão incorporando em suas vidas os novos
mecanismos e recursos financeiros que lhes estão sendo oferecidos, bem como os
novos conhecimentos que esse acesso demanda e/ou proporciona. Além disso, a
pesquisa pretende, não somente estudar os novos mecanismos financeiros que
estão sendo criados e oferecidos para os grupos populares, mas também entender
como os diferentes grupos utilizam os mecanismos já existentes, como crediário
oferecido pelo comércio, carnês, penhor, cheques pré-datados, caderno de compras,
crédito informal, formas tradicionais de poupança, redes de reciprocidade familiar, de
vizinhança, etc., que já fazem parte da vida de grande parte da população brasileira
(MÜLLER, 2006).
No âmbito dessa pesquisa, entre agosto de 2006 e julho de 2007, trabalhei
como Bolsista de Iniciação Científica do CNPq no NEEO. Meu trabalho enfocou um
dos instrumentos de crédito disponíveis à grande população: o penhor. No Brasil,
esse serviço financeiro existe desde 1861. Atualmente, ele é oferecido pela Caixa
Econômica Federal (CAIXA) e tem sido apontado como uma das alternativas mais
atrativas para a população, em função dos baixos juros cobrados.
15

Com as políticas de incentivo ao crédito, implementadas pelo governo federal,


cresce cada vez mais a disputa entre Bancos, Financeiras, Cooperativas de crédito,
etc. Essas instituições criam diferentes produtos financeiros para atrair clientes
oriundos de grupos populares. O penhor consegue concorrer com as novas
modalidades de crédito em função das características que o diferenciam dos outros
produtos financeiros existentes, apesar de ser um mecanismo tradicional. Através de
um estudo etnográfico, realizado na cidade de Porto Alegre, em 2007, buscou-se
identificar as relações sociais envolvidas na busca pelo acesso ao crédito, via
penhor, e compreender os sentidos que as pessoas que utilizam o penhor atribuem
ao crédito quando este é obtido através desse mecanismo financeiro.
O objetivo principal do estudo do penhor é compreender as especificidades
econômicas e simbólicas envolvidas na prática da modalidade de crédito conhecida
como penhor, em relação aos demais produtos financeiros existentes no mercado.
Esta monografia está organizada em uma breve introdução, descrição da
metodologia utilizada no estudo, dois capítulos e conclusão. No segundo e terceiro
capítulos são apresentados o foco da pesquisa; a relação entre proprietário das jóias
e o crédito. E, por fim, a conclusão, retomando algumas considerações do estudo do
penhor e a situação do crédito no Brasil.
16

METODOLOGIA

Esse estudo foi realizado a partir de uma abordagem etnográfica, propondo-


se a construir aquilo que GEERTZ (1989) denomina de “descrição densa”. Algumas
considerações sobre o método interpretativo podem ser encontradas na obra A
interpretação das Culturas. Para ele, a ciência antropológica deve realizar
interpretações da sociedade, como um estudo de uma obra literária. Essa analogia
significa que a investigação da sociedade deve ser encarada como uma leitura de
um texto cheio de significados. Cabe ao antropólogo entender a textualidade da
sociedade.
Segundo OLIVEIRA (1996), o olhar e o ouvir etnográficos cumprem uma
função fundamental na pesquisa empírica e, assim como o escrever, são atos de
interpretação. É a partir desses “atos cognitivos” que se pode construir o
conhecimento antropológico. O olhar disciplinado pela teoria social é fundamental
para que o pesquisador entenda as lógicas dos sistemas simbólicos e das estruturas
sociais. O ouvir não se reduz ao ato de fazer entrevistas, mas, sim, tentar
compreender os sentidos da ação dos sujeitos. Saber ouvir é apreender os “idiomas
culturais”, próprios do nativo e, assim, ser capaz de dialogar com os “informantes”
sobre o contexto da observação. Assim, o pesquisador integra-se e participa na vida
de um grupo para compreender o sentido de dentro, o que se constitui numa
observação participante. Entretanto, o pesquisador deve sempre manter uma certa
distância para tornar possível o estranhamento. Já o ato de escrever se configura na
análise do olhar e do ouvir. Ao escrever, o antropólogo estará refletindo sobre as
diferentes informações recolhidas no campo e dialogando com as diferentes
explicações teóricas. Escrever é o trabalho final, a “descrição densa”. Para
MAGNANI (2002, p. 12):

(...) o método etnográfico não se confunde nem se reduz a uma técnica;


pode usar ou servir-se de várias, conforme as circunstâncias de cada
pesquisa; ele é antes um modo de acercamento e apreensão do que um
conjunto de procedimentos. Ademais, não é a obsessão pelos detalhes que
caracteriza a etnografia, mas a atenção que se lhes dá: em algum
momento, os fragmentos podem arranjar-se num todo que oferece a pista
para um novo entendimento.
Em suma: a natureza da explicação pela via etnográfica tem como base um
insight que permite reorganizar dados percebidos como fragmentários,
informações ainda dispersas, indícios soltos, num novo arranjo que não é
17

mais o arranjo nativo (mas que parte dele, leva-o em conta, foi suscitado
por ele) nem aquele com o qual o pesquisador iniciou a pesquisa. Este
novo arranjo carrega as marcas de ambos: mais geral do que a explicação
nativa, presa às particularidades de seu contexto, pode ser aplicada a
outras ocorrências; no entanto, é mais denso que o esquema teórico inicial
do pesquisador, pois tem agora como referente o "concreto vivido".

Para a realização dessa etnografia foi necessário entrar em contato com a


instituição financeira Caixa Econômica Federal (CAIXA), pois é ela que detém a
exclusividade deste serviço financeiro.
Através da superintendência da agência central de Porto Alegre, foi possível
agendar uma reunião com o gerente responsável por essa instituição. Na reunião,
ocorrida no dia 09 de fevereiro de 2007, foram discutidas as intenções da pesquisa
sobre o crédito e a proposta de observação no penhor. Posteriormente, fui
encaminhado para conversar sobre as possibilidades de observação com a Gerente
de Comunicação, que me sugeriu a elaboração de um documento contento todos os
esclarecimentos a respeito da pesquisa no setor de penhor. O objetivo do
documento era solicitar aos dirigentes a licença para a realização de observações no
interior das agências da CAIXA, em Porto Alegre. Após três meses de espera, a
CAIXA autorizou a observação em duas agências. Por medidas de sigilo, sobre os
clientes que participaram dessa pesquisa, não serão fornecidos os endereços de
localização dessas agências.
A partir de 2007, foi possível realizar as seguintes atividades:
1. Informações e dados coletados em jornais e outras fontes: Antes de
desenvolver a pesquisa de campo, foi realizado um levantamento de fontes e
de informações referentes ao tema da pesquisa, as formas de crédito que são
oferecidas aos grupos populares. Com o objetivo de procurar referências
bibliográficas e reportagens sobre os temas: família e classe popular; crédito,
consumo, financiamento, empréstimo, inclusão financeira, crédito pré-
aprovados, micro-crédito, economia doméstica, crédito para aposentados,
penhor, pensionistas, agricultura familiar, crédito para militares e funcionários
públicos, créditos em lojas, bancos, financeiras, etc. As principais áreas de
interesse foram ciências sociais, assistência social, políticas públicas,
finanças e economia.
Foram consultados diferentes sites da web:
a) Banco Central. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/>;
18

b) Biblioteca da PUCRS. Disponível em:


<http://www.pucrs.br/biblioteca/>.
c) Biblioteca da UFRGS. Disponível em:
<http://www.biblioteca.ufrgs.br/.
d) CAIXA. Caixa Econômica Federal: Disponível em:
<http://www.caixa.gov.br/>.
e) FEE. Fundação de Economia e Estatística. Disponível em:
<http://www.fee.tche.br>;
f) IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/>;
g) IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/>;
h) Jornal Online O Valor Econômico: Disponível em:
<http://www.valoronline.com.br/>.
i) Serasa. Sociedade anônima (S.A.) e privada, totalmente nacional,
de serviços especializados em pesquisas, análises e informações
econômico-financeiras para apoio a decisões de crédito e negócios.
Disponível em: <http://www.serasa.com.br/>;
j) Sindiloja. Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre.
Disponível em: <http://www.sindilojas-poa.com.br/>;
k) SPC. Serviço de Proteção ao Crédito. Disponível em:
<http://www.acsp.com.br/servicos/serv_pf_scpc.htm>;
l) Telelistas. Disponível em: <http://www.telelistas.net/>.

2. Consulta em documentos fornecidos pela instituição – A CAIXA forneceu


alguns dados referentes à situação do penhor no Brasil. A maioria desses
dados é referente a uma pesquisa sobre o perfil dos clientes do penhor, que a
CAIXA levantou em todas as regiões do Brasil no ano de 2006. Esses dados
foram analisados e contribuíram para o levantamento de algumas hipóteses
da pesquisa;

3. Observações na sala de espera de atendimento do penhor – Para a


realização das observações, foi proposto um cronograma de visitas às
agências autorizadas. Por medidas de segurança dessas agências, a
19

observação ficou restrita a uma visita semanal em cada uma dessas


agências. No período de maio a julho de 2007, foram realizadas dez
observações. Para conseguir aproveitar essas observações, adotei como
estratégia visitar agências em horários e dias da semana com maior
atendimento ao público;

4. Entrevistas com funcionários da agência – As entrevistas com funcionários


do setor de penhor ocorreram no momento das observações nas agências, de
forma que não prejudicasse as atividades do setor. Foram entrevistados 4
(quatro) avaliadores, sendo que somente de dois foram gravados os relatos.
As entrevistas foram realizadas segundo um roteiro semi-estruturado (em
anexo), que permitia o desenvolvimento de uma conversa livre. Os nomes dos
funcionários entrevistados foram substituídos por motivo de sigilo;

5. Entrevistas com usuários do penhor - Devido ao pouco tempo autorizado


para as observações dentro das agências da CAIXA, foi necessário realizar
entrevistas fora das agências. Ao todo, foram realizadas seis entrevistas com
pessoas que utilizavam o penhor e que foram indicadas por conhecidos,
amigos, parentes, vizinhos, colegas, etc. Todas as entrevistas foram
agendadas e realizadas na residência das pessoas ou no seu local de
trabalho. Os nomes das pessoas entrevistados foram substituídos por motivo
de sigilo.

Durante as observações, nas agências da CAIXA, foram coletados


depoimentos de cerca de 40 (quarenta) clientes. Os depoimentos eram realizados na
sala de espera dos caixas do penhor e duravam entre cinco e dez minutos cada.
Tanto as entrevistas como os depoimentos seguiram um roteiro (ver em anexo).
O objetivo principal das entrevistas, dos depoimentos e das observações foi
registrar opiniões, valores, sentimentos, vivência e interesses e formas de cálculos
envolvidos nas negociações do empréstimo através do penhor. As entrevistas foram
gravadas em aparelho de MP3.
Para organizar os dados registrados no diário de campo, obtidos nas
entrevistas e depoimentos, foi criado um banco de dados no programa Excel. O
programa Excel facilitou a consulta e a interpretação dos dados, através de
20

planilhas, linhas e colunas dinâmicas. Outros recursos interessantes do programa


para os dados qualitativos são os filtros dos dados. Com esses recursos foi possível
agrupar frases e palavras chaves para melhor análise dos dados. Além disso, dentro
do banco de dados foi criada uma maneira de registro que indica a localização exata
nas entrevistas sobre o tema de interesse. Assim é possível ouvir somente o tema
de interesse. Isto é, com os programas destinados principalmente para escutar
músicas em formato MP3, é possível indicar o tempo de localização na entrevista e
escutar apenas o trecho de interesse.

Figura 1 - Banco de dados no programa Excel


Fonte: O autor (2007)

Figura 2 - Banco de dados no programa Excel


Fonte: O autor (2007)
21

1 O ESTUDO DO PENHOR

No Brasil, o serviço financeiro conhecido como penhor existe desde 1861. A


CAIXA possui exclusividade em oferecer esse tipo de serviço financeiro, que tem
sido apontado como uma das alternativas mais atrativas para a população, em
função dos baixos juros cobrados.
Segundo informações da própria CAIXA, a taxa de juros para o penhor varia
entre 2,60% e 3,25% ao mês, e o prazo para o pagamento pode ser de até 120
(cento e vinte) dias, sempre em múltiplos de 30 (trinta). O objeto a ser penhorado
deve ser avaliado entre 50 (cinqüenta) reais e 50 (cinqüenta) mil reais. Já na
modalidade micropenhor, o prazo de pagamento é o mesmo, mas as taxas de juros
giram em torno de 2,00% ao mês. Nesse caso, o objeto a ser penhorado pode ser
avaliado entre R$ 50,00 e, no máximo, R$ 600,00. Quem escolher o micropenhor
não precisa ter conta bancária, mas, se tiver, tem que ter o saldo médio inferior a R$
1.000,00 (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL: Disponível em:
<http://www.caixa.gov.br/).
Os juros baixos do penhor e micropenhor tornam essa modalidade de crédito
atrativa para as diferentes classes sociais, e o que chama atenção é o sucesso que
este tipo de serviço financeiro, tão tradicional, vem alcançando recentemente:

RECORDE HISTÓRICO EM EMPRÉSTIMO EM PENHOR (...) A linha de


penhor da Caixa Econômica Federal alcançou em maio deste ano o maior
volume já aplicado em sua história. Foram, ao todo, R$ 425,56 milhões em
empréstimos em 750.091 contratos, o que representa um acréscimo de
11,5% em relação ao valor médio de aplicação mensal do ano de 2006. A
CAIXA tem disponível para 2007 recursos da ordem de R$ 6,5 bilhões para
aplicação em penhor. O montante pode representar um crescimento no
saldo de até 22% em relação ao ano anterior. A expectativa da instituição é
de realizar cerca de 10 milhões de contratos, aproximadamente 20% a
mais que em 2006 (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 2007).

Em outubro de 2007, o jornal Correio do Povo pública a matéria Penhor da


Caixa Econômica Federal tem mais dinheiro. Segundo a reportagem, a CAIXA tem
R$ 7 bilhões disponíveis para aplicação em empréstimo de penhor. Em relação à
matéria sobre o Recorde Histórico em Empréstimo em Penhor, são mais quinhentos
milhões do que o previsto. Outra informação que a reportagem fornece é que houve
22

um crescimento de cem mil contratos assinados, só no Rio Grande do Sul, no


primeiro semestre, formando R$ 34,4 milhões emprestados.

Figura 3 – Penhor da CAIXA tem mais dinheiro


Fonte: Jornal Correio do Povo (21/10/2007)

O crescimento da busca pelo empréstimo conhecido como penhor chama a


atenção por se tratar de uma modalidade de crédito tradicional que persiste em uma
sociedade que caminha para o domínio do “dinheiro virtual”. A reportagem de
RIBEIRO (25/07/2006), do jornal Valor On-line, apresenta dados da Associação
Brasileira de Cartões de Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) que
mostram a tendência para o crescimento do crédito, através de modalidades de
“dinheiro de plástico”:

(...) nos primeiros seis meses do ano o número de cartões de crédito


emitidos na praça aumentou 20%, para 73 milhões de unidades, com 948
milhões de operações e transações totais de R$ 69,4 bilhões (+24%)
(RIBEIRO, jornal Valor On-line, 25/07/2006).

Além do crescimento, existe a tendência dos cartões de crédito e débito


substituírem os demais produtos financeiros do mercado. RIBEIRO (25/07/2006) traz
dados da indústria do cartão de crédito referentes ao crescimento da substituição do
cheque pelo cartão de crédito:

(...) Cerca de 70% a 75% desse crescimento se deve à mudança de hábito


dos consumidores, que têm trocado com freqüência o uso do cheque e do
23

dinheiro pelos plásticos na hora de pagar suas compras, inclusive as de


baixo valor.
(...) A previsão mais recente é de que o faturamento da indústria de cartões
de crédito some R$ 55,6 bilhões nos primeiros quatro meses deste ano, o
que representará um crescimento de 18,3%, em relação ao mesmo
quadrimestre do ano passado. A projeção está abaixo dos 20% estimados
para todo o ano de 2007, mas a perspectiva é de que no segundo semestre
o faturamento avance a taxas mais significativas, acima de 20%, e
compense as variações entre 18% e 19% de alta que têm sido registradas
nesta primeira metade deste ano (RIBEIRO, jornal Valor On-line,
25/07/2006d).

A substituição do cheque pelo cartão de crédito e sua expansão dão indícios


de mudança no comportamento do consumidor. Outro fator que contribui para a
mudança na forma do consumidor lidar com o dinheiro é o crescimento da
diversidade de agentes financeiros oferecendo novas modalidades de crédito. Além
da política de juros, um dos motivos para esse crescimento é o incentivo dado pelas
atuais políticas adotadas pelo governo. Bancos, cooperativas de crédito e,
atualmente, financeiras estão sendo utilizados como instrumentos para a
implantação de políticas sociais de inclusão e de crescimento econômico, baseadas
no incentivo ao consumo. Essas políticas reforçaram a disputa das diferentes
agências financeiras pela conquista de clientes, inclusive entre grupos sociais que
até então não tinham acesso ao crédito. Entretanto, mesmo com esses incentivos,
que fizeram com que novos agentes financeiros entrassem no mercado, o penhor
segue concorrendo como modalidade de crédito, em função das características que
o diferenciam dos outros produtos financeiros existentes e ganha importância entre
os novos atores do Sistema Financeiro Nacional.

1.1 Ciências sociais e instituições econômicas

“Colocar no prego” é uma prática que possui especificidades econômicas e


simbólicas em relação às novas modalidades de crédito oferecidas no mercado, na
medida em que a transação envolve a avaliação de objetos. Pode-se supor que as
jóias possuem memórias, não são simplesmente coisas, são parte da história de
vida das pessoas (STALLYBRASS, 2000).
Em sua análise, STALLYBRASS (2000) usa conceitos centrais da teoria
marxista: valor de troca, valor de uso, de mercadoria e de fetiche. O autor vai tratar
24

da subjetividade dos sujeitos que se encontra impregnada nos objetos de uso


pessoal e das relações sociais que envolvem esses objetos.
Segundo MARX (1988), os trabalhadores que vendem sua força de trabalho
no mercado estão alheios ao produto de seu trabalho. O mercado seria o espaço da
troca entre as coisas. Para STALLYBRASS (2000), as coisas (objetos) são parte da
história dos seus proprietários. Isso significa dizer que, no universo simbólico que
estão inseridos, os objetos possuem um pouco da vida dos sujeitos, e é por esse
motivo que as pessoas dão sentido a eles. Para uma melhor explicação desse
fenômeno, Stallybrass traz para sua obra um dos momentos mais significativos da
vida de Karl Marx. Para poder escrever O Capital, durante o verão, Marx penhora
seu casaco. Assim poderia ter dinheiro para comprar folhas e ir à biblioteca estudar.
No inverno, Marx já possuía algumas economias ou o amigo Engels lhe emprestava
o dinheiro para retirar o casaco do “prego”. Então, ele podia continuar indo à
biblioteca estudar. Marx vivencia os conceitos de valor de troca e valor de uso, isto
é, o casaco tem seu valor de troca ao conseguir dinheiro no penhor, mas também
tem seu valor de uso, ao proteger-lhe do frio do inverno. As coisas possuem vida
dupla.
As considerações de STALLYBRASS (2000) sobre os objetos, mais
especificamente as roupas, inseridas num universo simbólico, trazem contribuições
sobre as relações entre os sujeitos e as coisas. As roupas são mais do que peças do
vestuário das pessoas, pois elas se amoldam, não apenas ao corpo, mas à sua
sensibilidade, carregando marcas profundas de quem as usa. As roupas e os
objetos carregam a memória, informações da vida das pessoas que as utilizaram.
Ao conhecer a história desses objetos, estaremos interpretando e resgatando
os pedaços de uma história de vida de uma pessoa. Nesse resgate pode-se
compreender os valores, sentimentos, o modo de vida, os hábitos, as ideologias e os
rituais que revelam as transformações na vida.
Para entender um pouco mais a relação dos objetos na vida pessoal e social
dos sujeitos, o autor MAUSS (2001), na obra O ensaio sobre a Dádiva, traz
contribuições fundamentais para o estudo do penhor. Esse autor está preocupado
com o regime contratual, isto é, qual a base em que se organiza a economia e as
relações contratuais? e busca a resposta nas pesquisas de Malinowski sobre os
Trobriandeses. A partir desses estudos, Mauss percebe que as obrigações do
contrato, das trocas econômicas, estariam expressas por um princípio universal, o
25

da reciprocidade, constituído pelo ato de dar, receber e retribuir. A reciprocidade é


garantida pelo sentido que as coisas trocadas possuem no âmbito social e simbólico
dos grupos, como, por exemplo, os objetos presenteados entre os grupos da ilha
Trobiand, que possuem significados relacionados a esses grupos, possuem a alma
das pessoas, “o espírito das coisas”, hau. Nesse sentido, o grupo presenteado pelos
objetos dos outros grupos ficava na obrigação de retribuir as coisas dadas. Assim,
se estabelecia um sistema de trocas, baseado nessa forma de reciprocidade.
Outro autor que retoma os estudos de Malinowski é POLANYI (1980). Esse
autor coloca em pauta a visão do mercado como instituição social. Segundo Polanyi,
os acontecimentos sociais não podem ser vistos a partir de um ponto de vista
econômico. Ao contrário, os acontecimentos econômicos é que devem ser vistos
pelo ponto de vista social. Em sua obra A grande transformação, Polanyi desenvolve
uma crítica às teorias liberais, que surgiram no final do século XIX, também
conhecidas como teorias econômicas neoclássicas que se baseavam na idéia de um
mercado auto-regulável, formado por indivíduos que agem pelo próprio interesse. As
bases do pensamento teórico sobre o indivíduo auto-interessado e/ou homos
economicus, que busca racionalmente maximizar os ganhos e diminuir os prejuízos,
está na obra A riqueza das nações, de Adam Smith, publicada em 1776. SMITH
(1985) supunha que o resultado de sujeitos movidos pelo auto-interesse levava ao
benefício coletivo. Por exemplo, um sujeito que monta um estabelecimento
comercial, visando ter lucros, estará beneficiando a comunidade com mantimentos
(produtos e mercadorias) e gerando emprego. Além disso, os benefícios seriam
maiores para o coletivo, quando existisse competição, no caso do estabelecimento
comercial, a concorrência entre os comerciantes levaria à queda do preço dos
mantimentos. Assim, Smith defendia a idéia de que a iniciativa privada deveria agir
livremente, sem intervenção governamental, pois “naturalmente” as relações
econômicas tenderiam para um equilíbrio.
Para POLANYI (1980), as teorias neoclássicas afastavam os economistas dos
fatos reais da vida cotidiana. Segundo o autor, a economia auto-regulável,
independente, é um fenômeno na história da humanidade que nunca existiu antes
do início do século XIX. O que Polanyi verifica na história são as economias que
estavam sempre atreladas a questões sociais e culturais. O próprio modelo de
economia capitalista que está surgindo no século XIX baseia seus contratos na
confiança mútua e responsabilidade entre os sujeitos. Assim, o sistema auto-
26

regulado defendido pelos teóricos neoclássicos é uma ficção. Portanto, segundo


Polanyi, a economia está submersa em relações sociais. Então, os sujeitos são
homens sociais que agem não em seu próprio propósito, mas sim por interesses
coletivos.
O interesse econômico individual só raramente é predominante, pois a
comunidade vela para que nenhum de seus membros esteja faminto, a não
ser que ela própria seja avassalada por uma catástrofe, em cujo caso os
interesses são ameaçados coletiva e não individualmente (POLANYI, 1980,
p. 62).

O capitalismo industrial, que se desenvolve no início do século XIX, realiza


uma grande transformação na mentalidade da sociedade. Para POLANYI (1980), é
nesse momento da história do capitalismo que as pessoas começam a agir conforme
as regras do mercado. Há uma separação, não total, entre o social e o econômico.
Isso é ocasionado principalmente porque a terra, o trabalho e o dinheiro passam a
ser tratados como se fossem mercadorias, que devem ser vendidas no mercado. O
resultado disso, segundo o autor, é a “corrosão” do tecido social que mantinha as
obrigações recíprocas e que dão a base para a existência da economia.
Mas, segundo POLANYI (1980), a sociedade não é passiva a crises e aos
efeitos corrosivos do capitalismo industrial, ela responde aos efeitos do mercado.
Polanyi mostra que, ao final da década de 40 do século XIX, surgiram leis de
proteção para a classe trabalhadora, o que representou uma barreira para o
mercado auto-regulável. As conclusões que chegamos ao lermos o trabalho de
Polanyi é que a sociedade tende sempre a criar formas de se proteger dos efeitos
desumanos do capitalismo.
A autora ZELIZER (2005), no seu estudo sobre as indenizações das vítimas
do atentado de 11 de setembro, no Wold Trade Center, nos Estados Unidos, em
2001, traz contribuições importantes no sentido de entender de que forma o
mercado é submerso em relações sociais. Zelizer analisou como foram conduzidos
os pedidos de indenizações às vítimas. Os resultados de sua pesquisa identificam
que a fronteira entre a “esfera econômica” e a “esfera social” não são tão nítidas.
Segundo a autora, o que existe é uma construção social de ”esferas distintas” que
se adaptam e se misturam. Os valores morais que poderiam barrar a atuação do
mercado, ao contrário, podem acabar por legitimá-lo. “Contabilizar a vida” (calcular
quanto vale a vida de uma pessoa) não é de todo um fator condenável. A
indenização das vítimas do atentado de 11 de setembro foi uma forma de
27

reconhecimento dessas pessoas. Esse ato é socialmente valorizado, é uma forma


de se fazer justiça à família das vítimas que perderam seus parentes no desastre.
Portanto, o mercado nem sempre corrompe a esfera do social. Nesse sentido,
Zelizer se diferencia das concepções de Polanyi, ao contrário dele, vê mercado e
sociedade como esferas distintas, com o surgimento do capitalismo industrial.
Além dos autores citados acima, para compreender as relações sociais
envolvidas no empréstimo de penhor, também foi consultado o trabalho de
ABRAMOVAY (2004). Em seu estudo sobre o PRONAF (Programa Nacional de
Agricultura Familiar), Abramovay aponta as falhas das políticas de acesso ao crédito
para grupos populares que não levam em conta a diversidade de formas e maneiras
de uso dos recursos monetários por essa população, principalmente em relação à
combinação entre a economia de produção e a economia familiar. Segundo o autor,
a forma como é oferecido o crédito para a produção dos pequenos agricultores não
é adequada à sua realidade de vida, pois eles tendem a utilizar o financiamento para
outros fins, como por exemplo, financiar tratamentos de eventuais doenças ocorridas
na família. Nesse sentido, os resultados desse trabalho, sobre o microcrédito,
apontam as falhas das políticas de acesso ao crédito para grupos populares, que
não levam em conta a diversidade de formas pelas quais a população utiliza os
recursos e mecanismos financeiros.
Já o trabalho de WEBER (2002) propõe que, para compreendermos o tipo de
raciocínio das populações, é necessário identificar as categorias nativas de
classificação que são utilizadas para o cálculo nas negociações e avaliações
econômicas. A autora tem como objetivo mostrar aos economistas a necessidade de
se criarem novas fórmulas matemáticas, que contemplem as condutas humanas
concretas. Deve-se compreender a maneira como os grupos populares pensam as
transações financeiras, o que é uma forma de entender a economia e seus efeitos.
Outro autor que contribui para analisar os fenômenos da sociologia
econômica é SWEDBERG (2005). Este autor analisa as idéias de Max Weber sobre
a sociologia econômica. Um dos pontos da teoria de Weber que Swedberg chama a
atenção é a relação entre teoria econômica e sociológica. Weber leva em
consideração fenômenos que não são exclusivamente econômicos, mas que são
“economicamente orientados”. Ou seja, a racionalidade na esfera da economia difere
da racionalidade em outras esferas da vida social, e a economia pode ser
racionalizada por causa de interesses distintos.
28

Na obra de FONSECA (2004), Família, fofoca e honra, os resultados da


pesquisa realizada entre 1981 e 1983, na Vila Cachorro Sentado, em Porto Alegre,
apresenta os aspectos importantes das famílias de classe popular. Nesse trabalho, a
autora faz algumas críticas aos teóricos, que estipulam tipologias para compreender
o contexto de famílias de baixa renda. Segundo Fonseca (2000), não há somente
um contexto de pobreza, há maneiras e maneiras de sobreviver, e o investigador
deve levar em consideração cada caso em seu contexto, cada contexto em seus
múltiplos aspectos. O contexto dos moradores da Vila Cachorro Sentado possui uma
lógica própria, em que a instabilidade conjugal, entre casais, não significa o
rompimento da relação de apoio mútuo.
Para SARTI (2003), nos grupos populares, as escolhas individuais são
sempre pensadas no âmbito familiar. As relações familiares são constituídas por
obrigações mútuas entre os indivíduos pertencentes. Portanto, as práticas
econômicas dos grupos populares não podem ser pensadas pela lógica do
individualismo. Na família existe um projeto de vida comum, com papéis a serem
desempenhados, a partir dos quais as práticas econômicas são elaboradas.
BRUSKY e FORTUNA (2002), na pesquisa Entendendo a demanda para as
micro-finanças no Brasil, propõem que os estudos sobre a relação econômica devem
satisfazer o desenvolvimento dos serviços financeiros úteis e adequados ao público.
Para esses autores, a pesquisa auxilia no fortalecimento das microfinanças. Ao
entendermos as dinâmicas sociais do grupo e os fatores culturais que sobre elas
influem, entenderemos a maneira como o público utiliza o dinheiro e os diferentes
produtos financeiros. O trabalho de pesquisa auxilia na criação e adaptação de
produtos e procedimentos, em concordância com formatos aceitáveis do público
alvo.
Na literatura brasileira, pude encontrar um drama social relacionado com o
penhor. Na obra Os Ratos, MACHADO (2006), publicado em 1935, é retratado um
pouco do imaginário social da dívida. O enredo da história se inicia com a cobrança
de uma dívida que o personagem principal (Naziazeno) tem com o leiteiro. A dívida
deve ser saldada em 24h. Nesse prazo, o personagem principal busca
angustiantemente pelo dinheiro. A necessidade de conseguir dinheiro é reforçada
com a doença do filho. Naziazeno, após tentativas frustradas, ao pedir dinheiro para
o patrão, amigos e agiotas, consegue um anel de bacharel penhorado. O anel acaba
se tornando a solução para o problema da dívida.
29

Levando em consideração os trabalhos aqui analisados, podemos pensar que


os estudos das práticas econômicas, como práticas culturais, podem contribuir para
se pensar melhor a política social de inclusão financeira para os grupos populares,
uma nova forma de tratar os fenômenos econômicos e sociais. A sociologia
econômica tem novos desafios pela frente, faltam trabalhos e estudos de
investigação em muitas áreas em que ela deveria ser central. Portanto, o estudo do
penhor contribui para entender as relações econômicas em torno do crédito, a partir
dos fenômenos sociais; conhecer a maneira como os sujeitos agem em relação às
mudanças do mercado; perceber a existência de novos comportamentos, novos
hábitos de consumo e escolhas ao lidar com os produtos financeiros. A teoria
escolhida pode revelar em que medida a fronteira entre mercado e sociedade é
delimitada no contexto do público que utiliza o penhor. A teoria escolhida também
pode contribuir para explicar as dimensões simbólicas dos objetos penhorados.

1.2 Dinheiro, consumo e endividamento no Brasil hoje

No Brasil, vem crescendo a oferta de crédito para a população. Os principais


motivos desse crescimento são as políticas de acesso ao crédito, adotadas pelos
últimos governos. É também o incentivo a bancarização, que tem como objetivo
incluir a população de baixa renda no Sistema Financeiro Nacional. Os estudos
realizados por ZOUAIN e BARONE (2007) apresentam algumas considerações
sobre a expansão do crédito no Brasil. Para esses autores o Plano Real,
implementado no governo do presidente Itamar Franco, em 1994, foi a principal base
para o crédito, pois a nova moeda conseguiu estabilizar a economia e eliminar a
inflação. Nos governos que se sucederam, a estratégia política foi direcionar o
acesso ao crédito para dentro de um contexto de desenvolvimento local e
sustentado. Ou seja, além dos Bancos comerciais e financeiras, também passaram a
oferecer crédito às cooperativas e ONGs. Assim, foi possível expandir para um
público maior a oferta de empréstimos.
Segundo MÜLLER (2006), as políticas públicas de promoção do acesso ao
crédito para a população de baixa renda incentivaram os agentes do Sistema
Financeiro a criarem novos produtos, como contas bancárias, cartões, linhas e
30

modalidades de crédito dirigidas para os grupos populares. Por exemplo,


microcrédito, crédito consignado para aposentados e pensionistas, crédito para
funcionários públicos, apoio a projetos de implementação de moedas de circulação
local, etc. O acesso ao crédito como mecanismo de inclusão social também passou
a ser uma forma de distribuição de renda e de estímulo ao desenvolvimento
econômico. Através das políticas de acesso ao crédito para a população de baixa
renda, o governo conseguiu baixar as taxas de juros oferecidas no mercado.
Entretanto, o efeito da política ocasionou um grande mercado competitivo que
disputa clientes oriundos de grupos populares. O resultado dessa competição foi à
associação entre grupos varejistas e instituições que oferecem crédito. Atualmente,
podemos encontrar lojas que vendem produtos e oferecerem financiamento.
Ao analisar os panfletos distribuídos nas ruas da cidade de Porto Alegre,
pode-se perceber a variedade de serviços financeiros que estão sendo oferecidos.
São produtos como seguro de vida, seguro de acidentes pessoais, consórcio, crédito
rural, cartões de crédito (para diferentes perfis), crédito pessoal, empréstimo para
aposentados, servidores públicos (com desconto em folha de pagamento). Há,
também, opções de financiamento de bens, como de veículos, motos,
reformas/construção (também casas pré-fabricadas), máquinas, telefone celular,
equipamentos (microinformática, eletrônicos e peças), conversão de gás, piscinas,
material escolar, móveis e, além desses, financiamento para urnas funerárias. O
financiamento não se limita somente a bens. Também estão entre as ofertas os
financiamentos de plano odontológico, pagamentos de impostos (Imposto de Renda,
IPVA, IPTU, 13º Salário), turismo, estética, carteiras de habilitação, etc. O mercado
de empréstimo no Brasil expandiu tanto que já é possível afirmar que há crédito para
tudo, ou quase tudo.
Mas não é só isso, no “pacote” dos produtos financeiros a concorrência
promete um atendimento personalizado, tratamento diferenciado para seus clientes,
crédito de forma ágil e rápida. Em muitas organizações financeiras chegam a
anunciar créditos sem consulta ao SERASA e ao SPC, o chamado “dinheiro sem
burocracia”.
31

Figura 3 - Panfletos de empréstimos recolhidos - 2006


Fonte: O autor (2007)

Os dados levantados pelo Banco Central mostram que entre 2005 e 2006 o
crédito expandiu de 20,7%, atingindo R$ 732,835 bilhões, equivalente a 34,3% do
Produto Interno Bruto (PIB). Os principais agentes apontados como responsáveis
por essa expansão foram o crédito consignado e as pequenas e médias empresas.
Há uma expectativa de que esse crescimento seja maior no ano de 2007:

Redução dos juros e aumento de prazos foram fatores a contribuir para o


crescimento do crédito bancário que, segundo o Banco Central, apresenta
uma nova composição. Em primeiro lugar, a evolução dos recursos à
pessoa física, a partir da “grande mola propulsora” do crédito com desconto
em folha de pagamento, surgida em 2004. Esses empréstimos cresceram
pela queda no custo médio dos empréstimos às famílias.
Assim, o crédito tomado por pessoas físicas subiu 37,6% em 2005 e 25,2%
no ano passado. Depois de uma elevação de 84% no ano anterior, em
2006 o consignado continuou se expandindo, marcando uma alta de 52%.
A segunda mudança foi nos financiamentos a empresas, que apresentaram
crescimento de 22,1% sobre 2005, mesmo com a "fuga dos bancos" pelas
grandes corporações, que no ano passado buscaram, fortemente, fontes
alternativas de captação, como o lançamento de papéis no mercado de
capitais (RODRIGUES, Jornal Valor On-Line, 29/01/2007).

O que chama a atenção é o crédito consignado para os aposentados e


pensionistas. A reportagem da Agência Brasil traz alguns dados do Ministério da
Previdência Social:

Nos últimos três anos, foram realizados 20,7 milhões de operações de


empréstimo com desconto em folha por aposentados e pensionistas do
INSS. De acordo com balanço divulgado pela assessoria do Ministério da
32

Previdência Social, de maio de 2004 até agosto deste ano, 8,4 milhões de
pessoas recorreram aos empréstimos e os recursos liberados totalizaram
R$ 27,3 bilhões.
Somente em agosto, o valor de empréstimos foi de R$ 904,1 milhões.
Segundo a assessoria do Ministério, a taxa de juros para empréstimo com
desconto em folha na rede bancária chega até a 2,64% ao mês ou 36,66%
ao ano. A taxa é definida a cada dois meses pelo Conselho Nacional da
Previdência Social (CNPS).
Do total de empréstimos, estão ativos cerca de 13 milhões de operações,
no valor de R$ 21,1 bilhões. O total de empréstimos quitados é de quase
5,3 milhões, o equivalente a R$ 1,9 bilhão. O restante refere-se a
empréstimos cancelados ou liquidados, o que pode ocorrer quando o
segurado decide fazer um novo empréstimo antes de encerrar o primeiro
(REBELO, Jornal Agência Brasil, 2007).

No contexto apresentado pode-se perceber a presença de novos padrões de


consumo que, se incorporam na vida de alguns grupos de baixa renda, em razão
dos baixos custos de financiamento e dos prazos a “perder de vista”. Faltam estudos
que possibilitem o impacto da expansão do crédito no Brasil. Outra questão
importante é avaliar a metodologia empregada nas políticas públicas de acesso ao
crédito.
33

2 COMO FUNCIONA O PENHOR

O penhor é um serviço de exclusividade da Caixa Econômica Federal


(CAIXA) e é oferecido em aproximadamente 400 (quatrocentos) agências em todo o
país. O serviço prestado no penhor se resume à avaliação das peças, à concessão
do empréstimo, ao resgate das jóias e à renovação do contrato. A operação é
simples: a pessoa entrega a jóia e a avaliação da peça é feita na hora. Logo após, o
contrato é assinado, autenticado, o dinheiro é entregue e a jóia é guardada no cofre
do banco.
Na primeira vez que vai ao penhor, a pessoa apresenta carteira de identidade,
CPF, comprovante de residência atualizado, e faz um cadastro, no Sistema de
Clientes da CAIXA (SICLI) e no Sistema de Penhor da CAIXA (SIPEN). Ela não
precisa ter conta bancária. Nas próximas idas ao penhor, a pessoa só apresenta
identidade, CPF e a jóia a ser empenhada. Não há consulta ao SPC ou SERASA,
para a disponibilização do empréstimo. A garantia do negócio é a jóia. Isso faz com
que a obtenção desse tipo de crédito seja rápida. Em, no máximo, dez minutos o
cliente cadastrado no penhor é atendido e recebe o dinheiro. O tempo no
atendimento depende sempre da quantidade de jóias que o cliente trouxer para ser
avaliada.
As jóias penhoradas são as mais variadas: anel, anel de formatura, aliança,
brinco, bracelete, colar, corrente, gargantilha, medalhas, pingente, piercing, pulseira,
tornozeleira, etc. Em minhas idas ao penhor, tive a oportunidade de assistir à cena
do funcionário da CAIXA avaliando algumas peças preciosas. Uma cena quase
“arcaica”, se não fosse um que outro instrumento mais moderno para confirmar a
qualidade da peça. O avaliador cumpre algumas etapas: primeiro, o peso da jóia é
sentido na palma da mão. Segundo, se a peça apresentar pedras preciosas, então é
utilizada uma régua que mede o seu tamanho. Terceiro, a peça é posta em frente a
uma lâmpada fluorescente de uma pequena luminária e o avaliador posiciona uma
lupa entre seu olhar e a jóia. Não satisfeito com as primeiras informações, o
avaliador segue para o quarto teste com ácido. O ácido faz com que o ouro
apresente uma reação ao ser raspado em uma pedra. E, por fim, na sexta etapa o
avaliador pesa a peça em uma balança e anota as informações.
34

Para realizar a avaliação das jóias, todos os avaliadores devem possuir curso
superior nas áreas financeira e matemática. Mas, para trabalhar nesse setor também
é necessário saber química, gemologia, etc. Segundo um dos avaliadores, que tive a
oportunidade de entrevistar, o teste do ácido junto com a pedra revela os “diversos
tipos” de ouro. São pingadas algumas gotas de ácido no metal e a jóia é raspada na
pedra para se ver a velocidade da reação. Quanto mais rápida ela for, menor será o
valor. Quanto mais devagar, mais o ouro vale.

O instrumento mais importante de todos é a nossa sensibilidade, é o nosso


conhecimento. Não se trata de uma auto-valorização do profissional. No
penhor, com o tempo, tu adquires um refino bastante apurado. Quando a
gente pega na mão uma aliança, até pelo peso aparente, tu percebes que é
ouro baixo ou ouro 18. O ouro é um dos metais com maior densidade que
existe, maior densidade que o ouro só o urânio. Então uma peça em ouro
pesa mais que qualquer outro metal. O ouro é uma liga... o ouro que
usamos em jóias no Brasil tem 75% do metal e 25% de outros metais,
como cobre, prata e qualquer outro metal de tons de cores diferentes. Por
exemplo, se eu trocar cobre por ferro sabe o que vai acontecer? Vou
conseguir ouro azul, se eu diminuir a quantidade de cobre e colocar mais
prata, vou ter ouro amarelo. Se eu ponho mais cobre e menos prata, vou
ter ouro vermelho. Então, através dessas mudanças de metais, eu tenho
ouro de diversas cores, mas o importante é que ¾ do metal presente na
liga tem que ser ouro, para ser ouro 18. E quando tu pegas na mão já
sente, pois já adquiriu o costume. Mais pesado, ou seja, a propriedade é a
densidade. A aspereza vem da qualidade do trabalho. Existem trabalhos
que a gente pega grosseiros, que são de ouro quase que puros. Vou te dar
um exemplo bem simples, se tu pegares jóias do Afeganistão, do Irã, do
Iraque, eu já tive em mãos, às vezes são artesãos que fazem de maneira
manual, com pouquíssima instrumentação. Tu olhas são jóias bastante
toscas, mas feitas de ouro puro, ouro 24, mas têm um peso incrível, com
muita densidade. Então, o que eu quero te dizer, o principal instrumento
que nós contamos é a nossa experiência. Quando um avaliador pega na
mão a jóia, ele já sabe que é ouro baixo, pelo tamanho, pelo volume e
densidade. Se for ouro deve pesar mais, mas se for leve, então significa
que é “ouro baixo”, que tem menos ouro e mais outros metais presentes
(relato do avaliador).

Além disso, o avaliador me explicou que a lupa é um instrumento que


possibilita vinte aumentos, ela é aplanática e acromática, ou seja, a lente não tem
cor e não causa nenhum tipo de deformação no momento da avaliação. A lâmpada
fluorescente fornece uma luz que revela a transparência do diamante, quando há
peças cravadas de pedras preciosas. O avaliador descreve o brilho como
inconfundível. A dispersão, ou seja, como a luz entra e sai da pedra é diferente para
cada mineral. Segundo o avaliador, embora existam diferentes instrumentos para
auxiliar na avaliação da pedra preciosa, 90% se identifica a olho nu. Como o
diamante é muito duro para ser lapidado, ele só pode ser lapidado com pó de
35

diamante, logo, quando a pedra possui arestas incrivelmente retas, e não


arredondadas, percebe-se que é diamante. Segundo um dos avaliadores da CAIXA,
as ferramentas são importantes, mas o principal, para se chegar à conclusão de que
as pedras são diamantes, é o conhecimento de quem as está avaliando. Se o
profissional não consegue chegar à avaliação adequada, ele corre o risco de
superavaliar ou de desvalorizar a peça.
Segundo o avaliador Caio:

Se o profissional superavaliar a jóia, e a peça for a leilão e vendida a um


valor inferior ao que foi emprestado, o avaliador se torna responsável pelo
prejuízo. Isso são regras da CAIXA. Nunca aconteceu comigo porque eu
tenho “bastantes horas de vôo”. Para não dizer que nunca aconteceu, teve
uma vez que eu errei no cálculo por centavos. E também porque realmente
foi uma daquelas situações que você decide em “dúbio prol do réu”, em
favor de uma pessoa que precisava. Mas, foi entre R$10,00 ou R$15,00
reais e isso não podem dizer, ao longo de uma vida profissional, que
significa que tenha sido prejuízo.

O tipo de jóia que é levada ao penhor depende do público que a agência


atinge. Em Porto Alegre, segundo os avaliadores de jóias de diferentes bairros,
pode-se perceber a predominância de determinados grupos étnicos, por exemplo, na
agência São João há bastante ciganos, no bairro Bom Fim tem uma grande
quantidade de judeus, em Teresópolis a maioria dos usuários é de origem alemã,
etc. Além disso, em muitos lugares do Rio Grande do Sul não se oferece penhor
porque não há a “cultura” da utilização das jóias, entretanto, em outros lugares,
podemos encontrar muitas agências da CAIXA oferecendo esse serviço.
Mesmo sendo um serviço oferecido há mais de 146 anos, o penhor conserva
quase as mesmas características do passado. As jóias penhoradas servem como
garantia e, assim, possibilitam taxas de juros baratas. Entretanto, mesmo sendo uma
forma de empréstimo tradicional, o penhor se adapta ao mundo moderno. As
operações envolvidas no contrato, que eram feitas manualmente, passaram a ser
realizadas parcialmente via on-line, pois a avaliação da jóia continua sendo feita por
um profissional treinado. Segundo LIMA (2006), no passado, as liquidações de jóias
poderiam ser feitas somente na agência de origem do contrato. Atualmente, um dos
avaliadores me explicou que a liquidação das jóias pode ser feita em qualquer
agência que tenha penhor, em qualquer agência ou caixa eletrônico que tenha o
programa internet explorer, que possibilita o acesso à rede de computadores. Na era
dos computadores, também é possível corrigir a maior parte dos contratos de forma
36

automática, de acordo com a oscilação do preço do ouro, isto é, quase todas as


amortizações são feitas pela máquina, em questões de segundos. Antigamente,
quando ocorria oscilação no preço do ouro, o funcionário tinha que liquidar o
empréstimo (contrato antigo), pegar a jóia e fazer outro contrato, tudo de forma
manual (digitação de todos os dados).
Além disso, o avaliador me explicou que, até alguns anos atrás, o preço do
ouro era muito valorizado porque os processos de mineração eram mais precários e
a quantidade do metal em circulação era menor. Assim, os contratos de
empréstimos eram de maior valor, com uma quantidade menor de jóias envolvidas e
os clientes retiravam mais dinheiro no penhor. Atualmente, o preço do ouro está
estável porque os processos de extração estão muito sofisticados, sendo possível
retirar da natureza grandes quantidades do metal, mesmo em pequenas áreas, e
isso fez com que as peças produzidas com ouro se tornassem mais baratas. Ao
contrário do que se via no passado, agora o cliente tem que penhorar mais jóias
para adquirir empréstimos de maior valor.
Segundo os avaliadores do penhor, não somente os métodos para extração
do ouro na natureza estão mais sofisticados, o que interfere no preço das jóias, mas
também os modelos das jóias, que também interferem no seu valor. Antes, as jóias
mais pesadas eram as mais valorizadas pelos consumidores, sendo que, em sua
maioria, elas eram produzidas com técnicas artesanais. Com esse tipo de jóia se
obtinham contratos de empréstimos maiores. Atualmente, valorizam-se jóias mais
leves, com desenhos mais simples e discretos. Com esse tipo de jóia se obtêm
contratos de empréstimos menores.
Outro elemento que mudou no penhor foi o tipo de objeto que pode ser
penhorado. Até 1991 era possível penhorar, além das jóias, outros metais preciosos,
eletrodomésticos e utensílios domésticos, como garantia para receber empréstimo.

(...) No início de 1992, a instituição realizou um “megaleilão” para livrar-se


do acervo. Entre milhares de artigos colocados à venda, havia
enceradeiras, máquinas de costura, panelas, abajur, sapatos gastos,
colchões de molas frouxas, instrumentos musicais e até muletas. Objetos
que podem ser empenhados: jóias (ouro, prata, platina e diamante), pedras
preciosas e objetos de metais nobres. Em algumas agências também são
aceitos objetos do tipo: pratarias, equipamentos de informática, máquinas
fotográficas, televisor de pequeno porte, videocassetes, aparelho de DVD,
filmadoras, instrumentos musicais e outros objetos confeccionados em
materiais nobres. Assim, faça contato prévio com a agência para verificar
se aquela unidade da Caixa opera com o tipo de objeto que pretende
oferecer em garantia (JORNAL DO COMÉRCIO, 2006).
37

Hoje, o penhor só aceita como garantia jóias em ouro e diamantes. Os


aparelhos eletrodomésticos e demais utensílios não servem mais para operações no
penhor porque, segundo os técnicos da instituição, esse tipo de mercadoria trouxe
muitos prejuízos para a CAIXA. Com as mudanças da tecnologia, as mercadorias
desvalorizavam muito rapidamente e os objetos também ocupavam muito espaço
para serem guardados.
A questão da desvalorização dos produtos aponta para uma mudança no
“ciclo de vida das coisas”. Isso faz parte de um de um fenômeno recente da
sociedade do consumo. Não somente as empresas produzem novidades para
concorrer no mercado, mas para manterem uma imagem de inovação. Um aparelho
de televisão, por exemplo, produzido há seis meses atrás, não oferecerá os mesmos
recursos que um televisor que está sendo produzido atualmente. Por trás dessa
obsolescência planejada dos aparelhos e utensílios está a tentativa de filiação da
imagem da marca dos produtos à inovação tecnológica, o valor de uso se associa as
ao universo simbólico. Porém, isso pode significar uma perda para a economia, a
perda do valor de troca, pois agora muitos objetos são descartados e não mais
voltam para o mercado, isso pode provocar impactos em muitas alternativas de
sobrevivência que se baseiam em trocas comerciais.

2.1 Leilões

Para compreender melhor o funcionamento dos leilões das jóias que não
foram resgatadas, analisei as informações contidas nos editais. O leilão é uma forma
de “licitação”, para venda de jóias recebidas em garantia de empréstimo. As jóias
são dispostas em lotes numerados, conforme o catálogo. A exposição das jóias é
feita em um dia e os lances são feitos em outro. Os lances são dados nos horários
de atendimento ao público, nas salas de auto-atendimento, em qualquer Agência da
CAIXA ou, na sua impossibilidade, apresentados em formulário fornecido pela
CAIXA no local da licitação. O licitante poderá oferecer lances para todos os lotes
constantes do Catálogo de Licitação de Jóias, inclusive para os lotes que não
estejam expostos.
38

O preço mínimo de venda para cada lote de jóias consta no Catálogo de


Licitação de Jóias. No terceiro dia há sorteio de lotes empatados. Depois disso, é
divulgado o nome dos vencedores de lotes empatados. O pagamento é feito no
mesmo dia.
Segundo o edital, as informações estão disponíveis no site da CAIXA
(disponível em: <www.caixa.gov.br>) onde poderá ser encontrado o Mapa de
Classificação dos Licitantes e o Relatório de Lotes Empatados, bem como o
resultado do sorteio, que serão afixados na data e horário previstos. Em caso de
desistência, do todo ou parte dos lances oferecidos, o licitante perderá o direito de
arrematar todos os lotes em que tiver se sagrado vencedor e estará sujeito às
penalidades previstas.
A confirmação dos lances se dá mediante o pagamento da Nota de
Arrematação, inerente aos lotes vencidos pelo licitante. O licitante receberá a Nota
de Arrematação para pagamento, no local da licitação/exposição das jóias.
O edital revela as regras de como os indivíduos devem competir no leilão.
Basicamente, a formalização descrita no documento é um meio de estabelecer as
regras “eqüitativas” de concorrência, sem privilégios no momento da negociação.
MÜLLER (2006a), no seu estudo antropológico sobre Bolsa de Valores, descreve “as
regras do jogo”, regras formais do pregão. Para a autora, essas regras estão
baseadas no modelo teórico do mercado perfeito, formulado pela escola econômica
neoclássica. São as condições de como os participantes devem agir. Entretanto, a
autora aponta que é difícil perceber espaços sociais em que vigore plenamente o
modelo de mercado perfeito.
Com a evolução da tecnologia bancária, a forma de realização dos leilões de
objetos não resgatados também mudou. As jóias vão a leilão quando os clientes não
renovam ou liquidam o contrato de penhor. Segundo os avaliadores entrevistados,
anteriormente, cada agência era responsável por realizar seu próprio leilão. As jóias
eram expostas ao público. Quando alguém se interessava, tinha que dar lances em
sigilo (usando envelopes fechados com o valor proposto). Levava a jóia quem desse
o lance maior. No caso de haver sobras de jóias, se abria o “pregão”. Os lotes que
sobravam eram colocados em cima da mesa, sob a vigilância de um segurança, e as
pessoas interessadas faziam os lances, novamente em sigilo. Nesse sistema, existia
mais flexibilidade, pois o cliente poderia trocar informações e opiniões com os
funcionários, e também visualizar melhor a jóia. Todos os lotes eram vendidos.
39

MOTT (2000), nas suas observações sobre feiras populares na Bahia,


percebeu como era importante nas negociações dos preços o contato face-a-face.
Na verdade, um ritual de barganha em que o cliente pode propor um valor menor
que o preço oferecido. Nos leilões do passado, o chamado “pregão” possuía um
pouco das negociações face-a-face porque o objetivo era vender o máximo de peças
possível. Com as sobras das jóias, os clientes tinham a possibilidade de tirar suas
dúvidas, conversar novamente com o avaliador, visualizar e tocar na jóia.
Com a modernização do sistema, hoje, tudo é centralizado, ou seja, os leilões
de todos os contratos de penhor são realizados em uma única agência. Nesse
sistema, as informações sobre as jóias estão disponíveis em catálogos on-line. No
dia do leilão, a exposição das jóias é feita em estantes de vidro, onde as peças são
apresentadas dentro de sacos plásticos. O contato dos interessados com a jóia é
somente visual, não sendo possível sua manipulação. O lance também é feito on-
line, ou seja, através dos terminais eletrônicos. Nesse sistema prevalece a relação
formal e impessoal. A informação dada pelos avaliadores entrevistados é que
sobram muitos lotes não vendidos.
Como no passado, a realização de leilão ainda é uma forma da CAIXA não ter
prejuízos com as dívidas não pagas. Porém, mais do que evitar prejuízos, o leilão é
uma forma de controlar a inadimplência, pois o penhor se insere em uma estratégia
econômica, dentre outras formas de crédito que participam do orçamento doméstico.
Em média, os juros do penhor são os mais baixos do mercado, por isso, para quem
possui outras dívidas a pagar, liquidar o contrato das jóias acaba não sendo
prioridade. É preferível pagar com urgência dívidas sobre as quais incidem juros
mais altos do que dívidas menores e que têm possibilidades de serem negociadas.
Não é uma questão de desvalorizar pequenos valores, mas os riscos são menores.
Os juros maiores podem se transformar num grande problema, na expressão
popular, “eles podem virar uma bola de neve”. O que está em risco é o “nome limpo
na praça”, a única coisa de valor que muitas pessoas possuem. Para Weber (2002),
os cálculos podem ter uma dimensão cognitiva, as pessoas podem avaliar a compra
por uma lógica prática, sem uma avaliação técnica, apenas utilizando o bom senso.
Assim, o leilão tem também a função de fazer com que as pessoas saldem
suas dívidas. Para a avaliadora Luíza:

A gente, como avaliador, percebe quando a inadimplência é alta, porque a


agência fez poucos leilões. Quando se aproxima do leilão as pessoas
40

retiram suas jóias. E é o momento que a gente tem mais trabalho, pois
muita gente vem resgatar as jóias.

Para que o leilão sirva como controle da inadimplência, as pessoas devem


valorizar as jóias que lhe pertencem. Na verdade, as pessoas que utilizam o penhor
não querem se desfazer dos bens, salvo em alguns casos, porque aquelas jóias,
além de possuírem valor sentimental, também podem significar a garantia de um
empréstimo futuro. Segundo o avaliador Caio:

As pessoas enxergam assim: “Assim como me faltou hoje, pode me faltar


amanhã, então eu tenho que continuar com aquela jóia”. Nós temos
clientes aqui com quinze e vinte mil em penhor, então não podemos dizer
que são pessoas pobres, e são jóias da Vivara, da Cusari, são bem atuais,
não é só aquelas jóias da vovó.

2.2 O universo do penhor

O penhor é um setor diferenciado dentro das agências bancárias. Nas duas


agências observadas existe uma sala de espera própria para esse setor, com sofás
e folhagens decorativo, diferente dos demais espaços da agência bancária, em que
o público espera pelo atendimento do serviço em pé, normalmente em uma fila.
Ao sentarem-se nos sofás, as pessoas ficam de frente para vários cartazes
que chamam a atenção pelo conteúdo dos textos:

Para quem quer dinheiro rápido a juros baixos, o penhor da Caixa é uma
opção valiosa.
Quem tem jóia em casa, tem dinheiro na Caixa. Crédito rápido, fácil e sem
burocracia.
Penhor é um negócio precioso.

Todos os cartazes mostram uma mensagem positiva da relação entre dinheiro


e jóias, justificada principalmente pelas vantagens dos juros baixos, do “dinheiro
rápido” e da falta de burocracia do serviço. Logo, entendo que o penhor não é
apenas um setor de atendimento diferente, mas também atende a um público
diferenciado.
Em setembro de 2006, a CAIXA divulgou algumas informações sobre o perfil
dos clientes que utilizam o penhor, referentes à pesquisa realizada pela própria
41

instituição, em todo o Brasil, nos meses anteriores. Entre os dados fornecidos pela
instituição estão:

Tabela 1 - Perfil do cliente do Penhor

Mulheres 81,4%
Na faixa etária dos 30 aos 49 anos 46,3%
Donas de Casa 21,1%
Autônomo ou tem seu negócio próprio 23,8%
Funcionário dos setores público e privado 26,4%
Aposentados 18,5%
Tem renda média mensal familiar entre cinco e vinte salários 51,7%
mínimos
Tem renda média mensal familiar superior a vinte salários mínimos 4,7%
Nível de escolaridade (Ensino Superior) 32,4%
Nível de escolaridade (Ensino Médio) 49,1%
Nível de escolaridade (Somente Ensino Fundamental) 14,1%
Já utilizou esse tipo de empréstimo mais de uma vez 78%
Fonte: Caixa Econômica Federal (2006)

A seguir, análise de alguns aspectos contidos no quadro:

2.2.1 Gênero

Pelo quadro apresentado acima, podemos traçar um perfil do público que


utiliza o penhor. Percebe-se que a maioria é do sexo feminino (81,4%), um dado
evidente, pelo fato de que o uso das jóias é mais comum no gênero feminino. A
monografia de MALLMANN (2006) mostra que o “plenarinho” da Corretora de
Valores do Banco Banrisul é um espaço predominante masculino. Segundo a autora,
a maioria dos clientes que freqüentam a corretora são homens, isso faz com que o
ambiente se torne masculinizado. Em suas observações foram percebidos os
homens falando alto, contando piadas, etc. O próprio universo simbólico que
possuímos sobre a bolsa de valores é configurado como o de um espaço
masculinizado, de homens aos encontrões e empurra-empurra, disputando o melhor
negócio. Em suma, o “plenarinho” é uma construção social masculinizada.
O penhor, ao contrário, é um espaço feminino. É um ambiente tranqüilo, onde
entre um e outro atendimento, pode-se observar algumas mulheres conversando
42

discretamente. Já no leilão, existem mais homens que mulheres. Segundo dados do


Jornal Folha On-Line (30/12/2005), os homens são 61% do público que participa dos
leilões do penhor da CAIXA. No quadro acima, 23,8% dos clientes são classificados
como autônomo/com negócio próprio, ou seja, podemos supor que há uma parcela
significativa de empresários do ramo de jóias e ouro que utiliza o penhor como
negócio ou investimento. Para esse público, o penhor da CAIXA fez às vezes de
fornecedor de jóias e/ou matéria prima (ouro).
Mas, a participação feminina no campo financeiro não se restringe ao penhor.
Ao buscar dados sobre a vida financeira das mulheres, pode-se encontrar
informações interessantes sobre o crescimento do público feminino na utilização dos
produtos financeiros.
Segundo reportagem de RIBEIRO, do Jornal Valor On-line (2007), as
mulheres são as que mais utilizam cartões de crédito no país. De acordo com os
resultados da pesquisa setorial feita pelo Itaucard, elas somam 50,2% dos que
utilizam “dinheiro de plástico”.

(...) a previsão do Itaucard é de que a receita derivada do público feminino


deve crescer 21% neste ano - mais do que a média prevista para a
indústria como um todo (20%). Assim, os gastos das mulheres devem
somar R$ 86,4 bilhões, perante um total de R$ 188,3 bilhões previstos para
o setor em 2007. Com isso, a participação da mulher em volume financeiro
crescerá de 45,6%, para 45,9% (RIBEIRO, jornal Valor On-line, 2007c).

No entanto, a matéria da jornalista RIBEIRO (2006b) aponta que, mesmo


havendo crescimento no uso de cartões de crédito entre as mulheres, elas ainda
gastam menos com cartões do que os homens. As informações divulgadas pela
Credicard Itaú mostram que as mulheres, naquele mês, desembolsaram o
equivalente a 46% do montante do faturamento previsto pela agência, sendo que os
homens gastaram 54% do mesmo.

(...) Na avaliação de Fernando Chacon, diretor de Marketing de cartões


Itaú, esse comportamento está associado à renda, que é maior entre os
homens, mas também demonstra um uso mais consciente por parte do
público feminino no uso de cartões de crédito. Embora não possam ser
quantificadas no estudo, não podem ser descartadas as situações em que
as mulheres vão às compras com o cartão do companheiro e/ou marido,
sobretudo para as compras de supermercados e outras despesas do lar.
Mesmo assim, as titulares dos plásticos no país são classificadas pela
indústria como consumidoras mais "conscientes". "Elas tomam a maior
parte das decisões de compra da família, são provedoras do lar e usam
melhor a opção de parcelamento sem juros do que os homens" (RIBEIRO,
Jornal Valor On-Line, 28/09/2006).
43

Em seu estudo sobre famílias de classe popular, SARTI (2003) propõe que se
compreenda a família como uma instituição moral. A autora aponta para o fato de
que os homens provedores de famílias pobres sentem-se responsáveis pelos
rendimentos domésticos. Em contrapartida, as mulheres, como donas-de-casa,
administram os ganhos dos maridos, mesmo que esses sejam de pequena monta,
fazendo que o dinheiro dê para pagar os gastos com alimentação (prioridade
fundamental) e controlando as despesas da família. A autora mostra que, no seio
familiar, a obrigação mútua se estabelece através dos papéis que cada um
desempenha. Portanto, é de se supor que as mulheres, responsáveis por administrar
os rendimentos familiares, venham incorporando, na lógica do orçamento doméstico,
diferentes produtos financeiros, como cartões de crédito, cheques, carnês, etc.
Assim, utilizando esses produtos mais do que os homens.

2.2.2 O hábito de penhorar

Também podemos ver no quadro acima, que as pessoas que buscam esse
tipo de empréstimo conhecido como penhor, se concentram na faixa etária entre 30
aos 49 anos. Esse dado é um indicativo de que essas pessoas, dessa faixa etária, já
constituíram famílias e conseguiram adquirir algum patrimônio.
No quadro acima, o público se distribui de forma equilibrada entre as
ocupações de donas de casa (21,1%), autônomo/com negócio próprio (13,8%),
funcionário dos setores público e privado (26,4%) e aposentados (18,5%). Em
relação ao dado sobre a freqüência ao utilizar o penhor (78%), podemos supor que
existe uma “cultura” própria do público indicado acima.
Em minhas observações pude ver que penhor possui um atendimento
“informal”, mesmo com toda a formalidade da atividade bancária. As pessoas
chegam no setor de penhor e vão diretamente cumprimentar os caixas, chamando-
os pelo primeiro nome. Nesse instante, ocorria sempre uma pequena conversa de
descontração. Às vezes, um que outro cliente opta por ceder sua vez na ordem de
atendimento porque quer ser atendido por um funcionário específico. Um dos
avaliadores me relatou que a maioria do público é sempre o mesmo. Muitas vezes
as pessoas falam sobre seus problemas de família, puxam conversa durante a
44

operação da avaliação da jóia. Segundo o avaliador: “Quando eu troquei de agência,


muitas das pessoas que eu atendia acabaram vindo atrás de mim, e eu continue
atendendo elas”. Na maioria dos casos, os clientes estabelecem laços de confiança
com o avaliador, eles se sentem mais seguros com alguns avaliadores do que com
outros.

2.2.3 A classe média no “sufoco”

Pelos dados da CAIXA pode-se verificar que a maior parte do público que
utiliza o penhor pertence à classe média ou alta, tendo renda média mensal familiar
entre cinco e vinte salários mínimos (51,7%). Seria interessante tentar responder por
que razão essa classe social está buscando crédito, e em relação às outras classes
sociais, o que este fenômeno no penhor pode nos dizer? Que tipos de motivos
levam as pessoas a usar o penhor? E em que tipo de estratégia econômica o penhor
se insere?

Para tentar responder a essas perguntas, foram agrupados os principais


motivos que levam as pessoas a buscar o penhor:
45

Quadro 11 – Motivos e levam as pessoas a usar o penhor e tipos de


estratégia econômica em que os objetos penhorados se inserem

Motivos Descrição
Imprevistos Desemprego, divórcio, doença, morte e roubo.

Alteração de renda O penhor é uma alternativa para complementar o orçamento. Muitos


trabalhadores não tiveram reajuste salarial no período dos últimos
governos, isso representou a perda de poder aquisitivo de boa parte
da população.

Independência O penhor pode servir como uma alternativa para pessoas que não
querem prestar satisfação de seus atos financeiros, para os
familiares (cônjuges, pais, filhos, etc.).

Alternativa para não O penhor pode servir como uma alternativa para que pessoas não
utilizar outros utilizem investimentos que se destinem a projetos futuros, como por
investimentos exemplo, poupança para a compra da casa própria, de um carro,
estudo dos filhos.

Diminuir o custo das O penhor pode servir como uma alternativa para as pessoas
dívidas conseguirem dinheiro para saldar dívidas adquiridas através do
cartão de crédito, do cheque especial, etc., diminuindo, assim, o
montante de juros a serem pagos.

Segurança O penhor pode servir como uma alternativa para pessoas guardarem
suas jóias, em vez de mantê-las em casa ou pagarem um cofre em
um banco.

“Quebra-Galho” O penhor pode servir como uma alternativa para cobrir os custos de
eventos especiais, como por exemplo, o aniversário do filho, viagens,
etc.

Dar utilidade às jóias Ao tomar as jóias como garantia de empréstimo, o penhor permite
que as pessoas tornem úteis as jóias que não são mais utilizadas
como peças de adorno pessoal e/ou ostentação.

Investimento no mercado O penhor serve como uma alternativa de lucro, através da compra de
de jóias jóias a baixos preços nos leilões do penhor e revenda das mesmas a
consumidores, através do uso do ouro das jóias antigas para a
confecção de novas jóias, com modelo atualizado.

Liquidação de estoques Comerciantes do mercado de jóias utilizam o penhor para vender as


jóias de seus estoques e obterem uma parte do lucro que não foi
obtido através das vendas no mercado ou diminuir os prejuízos.

Fonte: O autor (2007).

1
Os quadros foram elaborados conforme a descrição e classificação das situações pelos próprios
entrevistados
46

Um dos motivos principais que leva as pessoas a buscarem o penhor é a


alteração na renda. Isso é um indicativo de que grupos de classe média e alta estão
perdendo o padrão econômico. Muitos trabalhadores, dentre eles os funcionários
públicos, não tiveram reajuste salarial no período dos últimos governos, isso
representou a perda do poder aquisitivo de boa parte da população. Para esses, o
penhor pode servir como alternativa econômica para complementar o orçamento.
Mas, também nesses casos, o penhor se insere na estratégia de diminuir o custo
das dívidas já adquiridas. O empréstimo de penhor pode servir como uma alternativa
para as pessoas saldarem dívidas adquiridas através do cartão de crédito, do
cheque especial, etc., diminuindo, assim, o montante de juros a serem pagos.
Segundo um dos clientes do penhor:

A vantagem do penhor é quando tem que pagar uma conta. Não vale a
pena abrir outra forma de empréstimo. Eu sou aposentado, “e quando a
coisa aperta”, venho no penhor. Eu utilizo o penhor para resolver coisas
rápidas.

2.2.4 Estratégias financeiras

A diferença entre os juros de um e outro empréstimo é chamada de spread,


um conceito muito utilizado na economia. Os juros do cartão de crédito estão em
torno de 7% a 10%. No penhor, os juros variam de 2% a 3%. Assim, se levarmos em
consideração a diferença entre os juros cobrados pelo cartão e os juros do penhor, a
pessoa ganharia um spread de 5%, isto é, na verdade é o que ele deixaria de pagar.
Fazer uma dívida com juros menores para pagar outra dívida com juros maiores é
agir de uma forma utilitária. Aqui poderíamos localizar o homos economicus, a
racionalidade e a maximização do ganho. Mas, a maioria das pessoas somente
percebe essa situação no momento do “sufoco”, pois de todas as opções para saldar
as dívidas, as jóias acabam sendo submetidas ao penhor porque estão ao alcance.
Mas, não será sempre que essa estratégia será priorizada, pois o penhor é usado
para resolver problemas imediatos, somente quando os prazos de outras dívidas
devem ser saldados.
47

Na reportagem Consumidor trocando de carro para pagar dívida, dos


jornalistas CUCOLO e NAIME (03 de abril de 2007), do Jornal on-line G1
(pertencente à Rede Globo) mostrou como os brasileiros colocam em prática a
lógica do spread. Segundo a reportagem, os brasileiros estão comprando cada vez
mais carros, devido às facilidades de financiamento. Os juros também estão cada
vez mais baixos, fazendo com que surja uma nova modalidade de negócio que está
sendo chamada de “troca com troco”. Os consumidores estão indo atrás das
concessionárias porque podem trocar de carro e ainda obter algum dinheiro vivo
para quitar uma dívida. Também pode trocar os juros altos cobrados pelos bancos
por um financiamento mais barato, sem ter que ficar sem automóvel.

Existem diversas modalidades de troca com troco. Uma das opções é


trocar aquele carrão de mais de R$ 40 mil, por exemplo, por um modelo
mais barato. Nesse caso, a concessionária devolve a diferença, que pode
ser usada para abater uma dívida ou reforçar o caixa da família.
O mais comum, no entanto, é a troca de dívidas. Uma pessoa que tem um
carro avaliado em R$ 20 mil, por exemplo, pode sair da concessionária
com até 100% desse valor no bolso. Para isso, ela terá de comprar outro
veículo (mais caro ou mais barato, não importa), que será totalmente
financiado.
O objetivo, nesse caso, é usar o dinheiro da venda do carro para abater
outra dívida, que seja mais cara ou que tenha prazo menor de pagamento.
Assim ele troca a dívida no banco pela dívida com a montadora.
O cliente também pode usar uma parte desse dinheiro para reduzir o valor
do financiamento automotivo e sair com um “troco” menor, de R$ 15 mil ou
R$ 10 mil.
“Se você não quiser dar nada de entrada, deixa o seu carro antigo e leva o
carro novo e os R$ 20 mil de troco. Se você quiser dar R$ 5 mil de entrada,
leva R$ 15 mil de troco”, diz o vendedor Waldemir Moreira, da Fiat Itavema.
Segundo ele, o valor do troco depende do “crédito” que o cliente tem na
praça. Quem consegue um financiamento maior no banco da montadora,
leva um troco maior.
Alguns clientes, segundo Moreira, utilizam o dinheiro do troco para abater
dívidas bancárias – como cartão de crédito ou cheque especial –, que
possuem taxas de juros mais altas. Enquanto o cheque especial fica em
torno de 10% ao mês, os juros das montadoras são de cerca de 2% ao
mês (CUCOLO e NAIME, Jornal on-line G1, 03/04/2007).

O único problema nesse negócio é o valor do carro usado, que acaba ficando
mais baixo, além disso, o dinheiro que o consumidor recebe de troco é apenas o
dinheiro que ele irá pagar com juros por ter antecipado o acesso. A troca com troco é
um bom negócio para quem tem necessidade momentânea de saldar alguma dívida.
48

2.2.5 A poupança “sagrada”

Além de servir como forma de buscar o equilíbrio do orçamento, o uso do


penhor pode significar uma estratégia para proteger outros tipos de investimento.
Muitas vezes, um investimento como a poupança pode adquirir grande importância
pelo fim a que ele se destina: pode significar a realização do sonho da casa própria,
do carro, dos estudos dos filhos e/ou "daquela" viagem. O dinheiro investido em uma
conta-poupança não deve ser utilizado, deve-se garantir o acúmulo do investimento,
mesmo sendo mínimo, e para isso, o penhor serve como alternativa.
Entretanto, no Brasil, a poupança é um investimento raro. Um dos principais
motivos para isso é que o dinheiro não sobra no fim do mês, no orçamento das
classes populares. Na verdade, ele acaba antes do fim do mês. Como o salário é
muito baixo, o crédito acaba sendo uma espécie de poupança invertida. Nas
análises de BRUSKY e FORTUNA (2002), sobre as microfinanças no Brasil,
observaram que existe o desejo e a intenção, por parte da população, de realizar
uma poupança, mas, segundo os entrevistados no estudo, existe uma incapacidade
de poupar devido ao pagamento das diversas prestações que devem ser saldadas
durante o mês, não sobrando dinheiro. Outra questão importante é que a poupança
não significa algo muito importante na vida das pessoas, pois ela não traz benefícios
em curto prazo.

2.2.6 Bancos e financeiras

O trabalho desenvolvido por MATTOSO (2005), um estudo realizado na favela


da Rocinha, localizada no Rio de Janeiro, trata da identidade, inserção social e
acesso a serviços financeiros. Segundo a autora, os problemas financeiros dos
pobres são causados principalmente por imprevistos, como por exemplo:
desemprego, divórcio, doença, morte, roubo, etc., que levam as pessoas a buscarem
as organizações financeiras. Nesse sentido, pode-se dizer que as financeiras são
procuradas nos momentos de falta de opção e de urgência. No penhor ocorre algo
semelhante, pois as jóias se tornam alternativas para a busca de um tipo de crédito
49

que dê conta de imprevistos, embora elas sejam possam ser justamente uma
alternativa ao uso das financeiras, em função de seus juros altos. Em seu
depoimento, uma cliente do penhor explica os motivos que a levaram a buscar esse
recurso:

Utilizo o penhor quando a coisa está “num arroxo total”. Eu já tinha


penhorado uns anos atrás e tive que utilizar novamente. Foi no final de
novembro. Não é freqüente, é quando aperta mesmo. (...) São minhas as
jóias. Ganhei quando era moça e depois eu adquiri algumas. Não consulto
o meu marido quando vou penhorar, mas como ocorre imprevisto, até para
aliviar ele, eu penhoro. O que eu resolvo, eu resolvo. Eu tenho a solução.

Muitos dos depoimentos coletados ao longo das observações no setor de


penhor da CAIXA mostraram como os clientes diferenciam os bancos das
financeiras. Para os clientes do penhor, os bancos oferecem diferentes produtos
financeiros, como os investimentos, enquanto que as financeiras atuariam na oferta
de crédito, baseada na necessidade dos indivíduos, principalmente em casos de
imprevistos, como doenças de família, desemprego, etc.
O trabalho de MATTOSO (2005) apresenta algumas considerações do
universo simbólico dos moradores da Rocinha, em relação aos empréstimos em
financeiras. Para eles, o empréstimo em financeiras assume significado negativo, ao
contrário do crédito para empreendimentos, de investir em negócios, que é visto
como uma coisa boa. Segundo a autora, muitos moradores da Rocinha se orgulham
de nunca precisarem ter usado o empréstimo de financeiras. As financeiras são
sempre lembradas pelos juros altos.
Para entender um pouco a diferença entre os bancos e financeiras, realizei
algumas observações no bairro Centro da cidade de Porto Alegre. As observações
ocorreram na Rua dos Andradas, também conhecida pelos gaúchos como “Rua da
Praia”. A Rua dos Andradas é um dos pontos mais movimentados da cidade de
Porto Alegre. Pode-se dizer que esta rua é um grande centro comercial. Nela,
milhares de pessoas compram mercadorias das mais diversas. O que chama a
atenção nesse grande local de negócios é o crescente surgimento das agências
especializadas em crédito, isto é, cada vez mais encontramos financeiras
oferecendo vantagens na concessão de empréstimos à população.
A abordagem das financeiras é quase sempre a mesma: um rapaz ou uma
moça vestindo a camisa de alguma dessas instituições, distribuindo panfletos e
50

informando sobre os diferentes tipos de créditos para a população que transita na


“Rua da Praia”. Esses rapazes e moças fazem um exercício constante para entregar
os panfletos. A abordagem é feita de forma educada e acompanhada de um
discurso atrativo sobre as vantagens dos diferentes tipos de crediário que a
financeira está representando. Os panfletos sempre vêm com o nome da pessoa que
está distribuindo, o que indica que deve haver algum tipo de “comissão” para
estimular a abordagem desses “panfleteiros”. Ao caminhar por essa rua, podemos
recolher diversos panfletos de financeiras existentes nessa área, como Losango,
Caixa Alta, BV Crédito Pessoal, Finasa e IBI. Os “panfleteiros” buscam na multidão
possíveis futuros clientes, já os bancos partem de uma venda indireta, ou seja, o
cliente deve se dirigir à agência bancária e a abordagem pode ser feita através de
contato telefônico e/ou por correio. As financeiras buscam os clientes na rua e a
abordagem é sempre pessoal. Dona Maria, cliente do penhor, conta como percebe a
abordagem das financeiras:

Quando a gente passa na rua e eles vêem que a gente tem cabelo branco,
vem com aquele monte de panfletos para dar para a gente. Mas nenhuma
financeira foge à regra, todas elas têm o juro muito alto. Triste da pessoa
que pede empréstimo nestas financeiras. Eu tenho um caso de família: o
meu genro fez um empréstimo e depois fez outro para cobrir o primeiro
empréstimo, mas como não conseguiu pagar, ele se “atocaiou” em um
terceiro para tentar liquidar a dívida. Eu sei que ele está com uma dívida
muito alta e não conseguiu liquidar nenhum dos empréstimos. Eu vejo as
pessoas se arrependerem amargamente.

A arquitetura das agências dos bancos são orientadas para a segurança:


portas giratórias com detectores de metais, cofres, guardas. Podemos dizer que os
bancos oferecem um serviço em que o cliente deve provar que está em condições
legais em relação à receita federal para adquirir crédito, salvo no penhor. Mas
mesmo sendo uma instituição que oferece diferentes produtos e serviços financeiros,
a maioria dos brasileiros utiliza somente a conta corrente e, em casos mais raros,
fazem uma poupança como investimento. Já as financeiras são mais flexíveis,
acontecendo de oferecerem crédito a pessoas inadimplentes. A estrutura física das
financeiras também é diferente em relação à dos bancos. Elas têm agências abertas,
sem portas giratórias, que parecem mais lojas do que instituições financeiras.
Entretanto, as financeiras são vistas de forma negativa por sua maneira de atuar,
como se elas buscassem os clientes somente em seus momentos de “sufoco”.
51

2.2.7 “Quebra-galho”

Diferente de quem busca o penhor por causa de imprevistos não


premeditados, é a modalidade de busca por esse tipo de crédito que pode ser
classificada como “quebra-galho”. O “quebra-galho” é uma decisão que não envolve
situações de sofrimento, ele é uma alternativa para ocasiões que cobrem os custos
de alguns eventos, como por exemplo, o aniversário do filho, viagens, etc. O penhor,
nesse sentido, é procurado para resolver, não necessariamente uma urgência, mas
cobrir custos que estão fora do orçamento, e não implica perdas, pois as jóias
podem ser resgatadas em outros momentos.

2.2.8 Alternativa para autonomia

Penhorar as jóias pessoais também pode ser uma alternativa de


independência. Pessoas que possuem uma vida financeira em conjunto com outras,
como, por exemplo, os casais, principalmente as esposas, podem buscar o penhor
para não ter que prestar satisfação de seus atos particulares para os demais
membros da família. Para Ana:

Eu não preciso fazer penhor, mas para meu marido não saber de meus
gastos, então venho aqui e penhoro algumas jóias. Eu ganho mesada do
marido e, às vezes, gasto demais por causa de minha filha. Como eu
não uso jóias na rua, acho que vale a pena fazer o penhor porque
preciso do dinheiro para cobrir algumas despesas. Mas não é bom fazer
sempre, pois os juros podem ir além do valor da jóia.

No caso da esposa, que não queria prestar contas de seus atos financeiros
ao marido, sua decisão foi pode ser classificada como emocional. Existia o interesse
de evitar constrangimento com o acordo conjugal nos gastos do orçamento
doméstico. Portanto, a relação com o penhor possui fenômenos não
“economicamente orientados”, segundo a teoria de SWEDBERG (2005).
52

2.2.9 No penhor é mais seguro

Não somente o penhor pode estar inserido nas estratégias familiares, mas
também pode servir como uma maneira das pessoas guardarem suas jóias, em vez
de mantê-las em casa ou pagarem um cofre em um banco. Os objetos ficam seguros
no cofre do banco, sendo oferecido o serviço de renovação do contrato, em que o
cliente pode optar por pagar somente os juros cobrados, evitando assim que as
peças vão a leilão. Segundo dados da CAIXA, 10% das pessoas pesquisadas
penhoram suas jóias apenas para guardá-las com segurança nos cofres. Uma
reportagem sobre como o penhor está sendo utilizado pela classe média brasileira,
da jornalista EMÍLIA (Jornal on-line AOL, 2/10/2003) ilustra bem esta situação:

Por mais inusitado que pareça, há também aquelas pessoas que deixam
as jóias no prego por segurança. Elas correspondem a 10% do total de
usuários do crédito. "Eu fui assaltada quando estava com um conjunto de
brincos e colar de ouro português. Eles me machucaram e eu jurei que
nunca mais iria ter nenhuma jóia comigo", diz Sandra Pujol da Silva. "Eu
uso o dinheiro e fico sempre renovando a cautela do empréstimo, o que é
uma vantagem, pois não preciso vender as coisas, que ficam aqui
guardadinhas no cofre" (EMÍLIA, Jornal on-line AOL, 2003).

Também por questões de segurança, as jóias deixaram de ser usadas na vida


cotidiana. Muitos relatos informam sobre o perigo de se usar jóias hoje em dia. Uma
peça de ouro ostentada no pescoço pode representar um convite para ser assaltado.
Nesse sentido, as jóias perdem seu valor de adorno e acabam recebendo outros
sentidos. Um deles é o de utilizá-las como garantia de empréstimo. Assim, o penhor
permite que as pessoas tornem úteis as jóias que não são mais utilizadas como
peças de adorno pessoal e/ou ostentação.

2.2.10 Jóias como investimento

Existe um mercado de jóias que se utiliza dos serviços prestados pelo penhor
da CAIXA. O penhor serve como uma alternativa de lucro, seja através da compra
de jóias a baixos preços nos leilões do penhor e da revenda das mesmas a
53

consumidores, seja através do uso do ouro de jóias antigas para a confecção de


novas jóias, com modelos atualizados. Além de pessoas que investem nesse tipo de
negócio, também se pode supor a existência de grandes comerciantes do mercado
que usam o penhor para liquidar seus estoques de jóias não vendidas. Para esses
profissionais, o penhor é um meio de garantir uma parte do lucro não obtido através
das vendas no mercado, ou de diminuir os prejuízos. Portanto, este item deve ser
melhor explorado em próximas investigações, pois a pesquisa necessita de dados
mais apropriados para confirmar a presença de comerciantes de jóias no penhor.

2.3 Visões negativas do penhor

Mesmo tendo crescimento dos empréstimos na modalidade de crédito


conhecida como penhor, existem visões negativas em relação a esse tipo de
serviço financeiro. Essas visões fazem com que os indivíduos evitem buscar essa
forma de crédito, fazendo dele um tabu.
Por envolver bens (as jóias) como garantia para a aquisição de empréstimo,
a atividade do penhor entra no imaginário social associada à idéia de falência ou
de perda de status social de certos indivíduos, ou seja, associada à pessoa que
não soube administrar suas dívidas e acabou buscando, por necessidade,
penhorar as jóias. O penhor assume o sentido de desonra. A penhora das jóias é
vista como moralmente inaceitável.
A falta de informação sobre o serviço também contribui para uma visão
negativa desse tipo de empréstimo. Desconhecendo principalmente que as jóias
penhoradas servem somente como garantia do contrato, não significando a perda
dos objetos, salvo em caso de leilão, muitas vezes, as pessoas entendem que as
jóias estão sendo vendidas para a CAIXA.
Também contribui para a visão negativa sobre o penhor a sua identificação
como um negócio para velhos2. Este termo “rotular”, às vezes preconceituoso, foi
utilizado pela grande maioria dos entrevistados, que em muitos casos eram
pessoas que estavam na mesma faixa etária de pessoas consideradas idosas. Ou

2
O termo freqüentemente utilizado pelos entrevistados.
54

seja, na forma como algumas pessoas estão pensando o penhor, como sendo um
recurso somente utilizado por pessoas com uma faixa etária mais avançada.
Entretanto, em minhas análises e observações percebi que o público de pessoais
com menos idade também é freqüentador do penhor. Portanto, necessita-se de
maior análises do fenômeno e aqui exposto.
O penhor também é visto como um negócio para a classe alta ou média
alta, pois os pobres, as classes populares, não teriam condições econômicas nem
interesses em adquirir jóias. No entanto, ao analisarmos dados sobre essa
questão, veremos que as jóias também se inserem na vida dos grupos populares,
através de diferentes meios, em especial, através dos rituais.
Mas, de todos os motivos que favorecem à visão negativa do penhor, o
constrangimento ainda é o mais apontado pelos entrevistados do penhor, ou seja,
precisar penhorar o bem de uso é uma demonstração de incompetência ou
descontrole moral. Em depoimento coletado na CAIXA pela jornalista Andreza
EMÍLIA (UOL, 2003), muitos clientes confessam o drama de penhorar jóias:

"É ruim vir aqui, você tem a sensação de se desfazer das coisas, um
sentimento de derrota, sabe? Mas fazer o quê, não dá para deixar a
situação ficar pior", lamenta a cliente Elizabeth. Casos como o de
Elizabeth são cada vez mais comuns (EMÍLIA, UOL, 2003).

Os dados da CAIXA mostram que está havendo um crescimento considerável


na procura desse tipo de crédito. Apesar disso, os dados dessa etnografia nos levam
a supor que quem utiliza esse instrumento, já possui uma familiaridade que é fruto
de hábitos familiares, o que é retratado na pesquisa realizada pela Caixa Econômica
Federal, cujos dados mostram que esse tipo de empréstimo é utilizado mais de uma
vez por 78% dos entrevistados.

2.4 Jóias rejeitadas

Um dos dados fornecido pela CAIXA é o de que mais de 95% dos clientes do
penhor conseguem resgatar as jóias empenhadas. Esse dado mostra que as
55

pessoas possuem estima pelos objetos preciosos. Mas, então, por que muitas jóias
chegam a ir a leilão e chegam até a ser vendidas?

No quadro abaixo serão indicados os motivos de rejeição dos objetos:

Quadro 2 - Motivos que levam as pessoas a se desfazerem das jóias

Tipos Motivos
Jóias achadas Na rua ou em casa. São peças encontradas dentro de casa, na rua,
perdidas por outras pessoas. A pessoa que encontra ou acha esse tipo
de jóia pode escolher entre ficar com a peça ou procurar o penhor para
tentar obter algum dinheiro;

Jóias de casamento Divórcio, separação;

Jóias de herança De parentes não muito próximos. As jóias recebidas de herança


possuem um valor sentimental muito grande para a maioria das
pessoas. Porém, se os objetos pertenciam a parentes não muito
próximos, as jóias recebidas não possuem maior valor sentimental,
podendo ser penhoradas sem intenção de resgate;

Jóias desatualizadas O penhor é uma forma das pessoas trocarem as jóias por outras. Para
pessoas que possuem o hábito de comprar e utilizar as jóias, o penhor
pode ser uma alternativa para trocar as peças por outras com modelos
mais atualizados;

Jóias liquidadas Joalheiros que precisam renovar os estoques. Joalheiros que precisam
renovar seus estoques e recorrem ao penhor para se desfazerem das
jóias não vendidas;

Jóias esquecidas Por falta de organização, as pessoas acabam esquecendo dos dias do
leilão, perdendo, assim, a oportunidade de resgatar suas jóias
penhoradas.

Fonte: O autor (2007).

Aqui podemos destacar a presença de uma lógica não econômica na


transação financeira. Tudo leva a crer que o que existe não são jóias que deixaram
de ser resgatadas, mas sim, peças que foram rejeitadas. Os motivos que levam as
pessoas a se desfazerem das jóias são os mais variados. No caso dos divórcios ou
separações matrimoniais, as pessoas se desfazem das jóias que são associadas à
relação conjugal do passado, em especial as alianças de casamento, que trazem
lembranças dessa relação. FONSECA (2000), apresenta uma descrição do ritual do
fim de uma relação conjugal no capítulo Aliados e Rivais na Família. O fim do
relacionamento é marcado com o ato de abandono ou demolição da casa. Todavia,
56

nos grupos populares, segundo a autora, as casas são de baixo custo porque são
construídas com materiais de construção recuperados.
Segundo STALLYBRASS (2000), os objetos adquirem uma aura
fantasmagórica, eles trazem recordações de pessoas que usaram esses objetos.
Recordações que magoam e trazem dor, portanto, as jóias devem ser sacrificadas,
rejeitadas, como o passado que ficou para trás.
Alguns dados coletados sobre o casamento e o divórcio dão uma idéia do
contexto dos relacionamentos conjugais no Brasil. Segundo reportagem de SPITZ
(05/12/2006), existe uma relação ente o divórcio e o aumento do índice do
casamento. À primeira vista, a relação dos dados pode ser contraditória, mas o que
a repórter chama a atenção, com os dados coletados do IBGE, é que está
crescendo no Brasil o segundo casamento. O número de casamentos no Brasil subiu
3,6% em 2005. De acordo com o IBGE, o percentual de mulheres solteiras que se
casaram com homens divorciados passou de 4,1% para 6,2%, entre 1995 e 2005. Já
o percentual de mulheres divorciadas que se uniram legalmente com homens
solteiros cresceu de 1,7% para 3,1%. Os casamentos entre cônjuges divorciados
também aumentaram de 0,9% para 2,0%.
Mesmo ocorrendo um crescimento significativo de divórcios, os índices de
casamento continuam crescendo, pois existe a segunda união conjugal. Logo, o
penhor receberia muitas alianças de divórcios e os leilões forneceriam matéria-prima
para novas demandas de casais.

2.5 Jóias, rituais e vida econômica

Com 146 anos, o penhor continua existindo e convivendo com fatores que
tenderiam a extingui-lo; como o desenvolvimento da tecnologia (“dinheiro virtual”,
desvalorização do ouro, etc), a violência (empecilho para o consumo de jóias), as
visões negativas do serviço e a concorrência com outros produtos e instituições
financeiras. Mesmo assim, o empréstimo de penhor cresce e é cada vez mais
utilizado como uma alternativa e/ou estratégia econômica. O que faz ele ser tão
procurado nesse contexto?
57

Para POLANYI (1980), as atividades econômicas do mercado estão


“submersas” em relações sociais. O penhor ratifica esta tese, pois as jóias não são
adquiridas para obtenção de crédito. Na verdade, as peças preciosas entram na vida
dos sujeitos, e/ou no contexto familiar, de diferentes formas. Elas podem ser
adquiridas através de presentes, serem herdadas ou transferidas através de rituais.
As jóias continuam fazendo parte de rituais importantes na vida social das pessoas.
No quadro abaixo, podemos ver alguns rituais que envolvem jóias:

Quadro 3 - Rituais que envolvem jóias

Rituais Tipo de jóia


Nascimento de uma criança do Presenteada pelos padrinhos com um par de brincos
sexo feminino

Aniversário de quinze anos de Presenteada pelos pais com um anel de brilhantes


uma moça (Debutante)

Formatura Universitária Anel com símbolo da profissão

Casamento Os noivos usam aliança

Premiação esportiva Medalhas olímpicas e troféus que simbolizam a conquista e/ou


vitória

Premiação de mérito Troféus, estatuetas, placas de dedicação e reconhecimento do


mérito profissional

Fonte: O autor (2007).

Para PEIRANO (2003), os rituais revelam representações, valores, o que é


comum em uma sociedade. Os rituais são eventos de comunicação simbólica que
demarcam a passagem de uma situação para outra.
Segundo a autora SEGALEN (2002), o ritual não é um fenômeno meramente
repetitivo, ao contrario, é uma experiência de linguagem e conteúdo mutável, com
outras formas e reinterpretada dentro de certos limites. Nesse sentido, a mutação
dos rituais indica a manutenção da sociedade. Um exemplo de rito que a autora
trabalha é o casamento. Para Segalen, o casamento se realiza entre famílias e é
apoiado pela comunidade, que celebra a passagem do rito. O casamento simboliza
a aliança entre duas famílias, a fusão entre elas. Já antes da cerimônia do
casamento, o noivo pede a mão da noiva aos pais dela. Logo, o noivo presenteia a
58

sua noiva com um anel, assim se passa do estágio de namoro para o noivado. O
anel de noivado, de costume, é usado no dedo anelar da mão direita. Na cerimônia
de casamento, a posição do anel muda, da mão direita para a esquerda, também no
dedo anelar.
A escolha dos anéis também é um acontecimento importante na vida do
casal. O valor da jóia, simbolicamente, pode significar proporcionalmente o amor que
está envolvido na relação. Jóias mais caras simbolizam um grande amor. O mercado
se aproveita dessa situação, capta e expressa esse código simbólico. As joalherias
oferecem cada vez mais diferentes modelos de jóias, com ou sem uma pedra
preciosa cravejada e tendo a possibilidade de personalizar o objeto, marcando as
letras do nome da noiva ou do noivo. No cotidiano, podemos ver algumas pessoas
com alianças enormes no dedo.
Se o mercado é uma construção social, como afirma ZELIZER (2005), o
mercado de jóias é o resultado de uma construção social que depende dos rituais
para existir. Não existe uma barreira moral para a comercialização de jóias
destinadas aos ritos, muitas vezes a preços maiores do que o de sua matéria-prima.
A comercialização das jóias entra no circuito de consumo estipulado pela própria
demanda da sociedade. Assim, o capitalismo se adapta, se mistura com a cultua. O
mercado de jóias é o resultado de relações sociais.
Para MAUSS (2001), o dom está na base de um sistema de troca recíproca
entre os sujeitos e/ou grupos. Nesta troca, material e simbólica, o ato voluntário de
presentear estabelece a obrigatoriedade de aceitar e retribuir. Portanto, a doação de
um presente não é necessariamente um ato desinteressado ou apenas generoso,
pois um vínculo entre pessoas é estabelecido, um contrato, uma dívida de honra que
não terá um prazo específico para ser saldada, mas que deverá ser honrada. Mauss
também mostra que o sujeito tem muito a perder com a dívida não saldada. Ele
perde prestígio, posição social entre os membros da comunidade a que pertence.
Na sociedade contemporânea, um ritual interessante que podemos
compreender a partir do conceito de reciprocidade está relacionado com o
nascimento de uma criança. No caso das meninas recém-nascidas, os padrinhos
costumam presentear a criança com um par de brincos. No caso dos meninos recém
nascidos o presente é cada vez mais raro, mas era de costume eles ganharem
correntes ou escapulários de ouro. Todavia, nestes casos, não é a criança que está
em dívida com os padrinhos, mas ao contrário, são eles que devem moralmente algo
59

à criança. O presente inicial não é o par de brincos ou o escapulário. Na verdade, as


jóias são parte da retribuição que os padrinhos dão pela criança, que é de fato o
presente oferecido. Na tradição judaico-cristã, os padrinhos têm como papel guiar o
afilhado para o caminho de Deus e de ajudá-los no que for preciso. Eles são pais e
mães espirituais da criança. No batismo, eles têm como obrigação auxiliar os pais da
criança, na educação religiosa. Mas, também, em alguns casos a importância dos
padrinhos é fundamental para a sobrevivência da criança.
No estudo sobre a circulação de crianças, FONSECA (1993) mostra como
esse sistema pode ter múltiplo significado. Para a autora, além da sobrevivência, as
crianças são usadas como elementos de trocas, para consolidar redes já existentes.
A circulação de crianças chega a ser uma tática para reatar a relação entre parentes
que estão longe do grupo de parentesco. Parentes que se distanciaram com a
mobilidade social. Segundo a autora, as pessoas que ficam responsáveis pela
criação das crianças são os beneficiários da troca, estando em dívida com os
verdadeiros pais, e não ao contrário. Os padrinhos se enquadram nessa mesma
lógica.
Já no aniversário de quinze anos, tradicionalmente, a moça (debutante) é
presenteada pelos pais com um anel de brilhantes. Os pais organizam uma festa de
comemoração para a filha. O evento representa a passagem da adolescência para a
vida adulta.
O baile de debutantes é um rito de passagem ao qual as jovens são
submetidas, geralmente sendo realizado quando essas completam quinze
anos. Completando o décimo quinto aniversário de uma mulher, pedia-se
uma linda festa de comemoração, onde ela seria apresentada oficialmente
à sociedade, começando assim uma nova fase de sua vida. (...) A jovem
moça passava a freqüentar reuniões sociais, a usar roupas mais adultas e
tinha permissão para namorar (DEBUTANTE, Dicionário Aurélio de Língua
Portuguesa, 1989).

No momento da festa de comemoração, a moça irá trocar de sapatos, dançar


a valsa com os convidados e apresentar o anel de brilhantes ao público. Um
presente de valor que ressalta o prestígio dos pais à comunidade.
Outro rito social em que as jóias participam é na cerimônia de formatura. O
evento de formatura representa a conclusão de um curso de qualificação
profissional. Significa o término de uma fase de estudos, em que o aluno foi
submetido a avaliações de sua aprendizagem. No rito, o estudante passa a ser um
profissional, que possui habilidades e competências específicas para atuar no
60

mercado de trabalho. O mérito foi alcançado. O que chama a atenção no mundo da


qualificação profissional são os ritos que simbolizam o mérito, eles ocorrem em dois
momentos: no primeiro, o estudante, ao entrar no curso, deve passar pelo “trote”,
normalmente o aluno passa por uma “humilhação” feita pelos colegas veteranos. O
estudante novo é pintado, sujo, descalço e deve pedir trocados nas ruas. Já no
segundo momento, no fim do curso, o estudante é prestigiado e louvado pelo
esforço. A formatura de conclusão de curso pode ser uma ocasião para a aquisição
de um anel (ANÉL, Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, 1989).
Tradicionalmente, esse anel contém o símbolo da profissão.
Além do “trote” e da formatura, o mundo da qualificação profissional possui
outras formas de rituais que simbolizam o mérito. Os profissionais são reconhecidos
pelo bom desenvolvimento de seus trabalhos. Normalmente são concedidos aos
profissionais de destaque jóias como troféus, estatuetas, placas de dedicação. Na
verdade, o prestígio público é a “jóia preciosa”.
Outra ocasião ritualizado em que as jóias se inserem ocorre no esporte. Nos
jogos esportivos os atletas disputam o primeiro lugar no pódio, a vitória, a busca pelo
prêmio. O esporte representa a ideologia da superação física do homem, quebrar
recordes e vencer limites da capacidade do corpo humano. Para alcançar o lugar no
pódio, os atletas se dedicam a uma rotina diária de exercícios físicos, tentando
alcançar a perfeição. Porém, às vezes, a capacidade de vencer limites não depende
somente de um corpo saudável e treinado, o emocional e o social do atleta também
são fundamentais. Isso pode significar “os segundos” necessários da vitória. No
sentido emocional, o atleta deve estar preparado às pressões que o “peso” da
competição pode exercer na sua personalidade. Na parte social, a torcida pode fazer
a diferença em motivar o atleta a buscar a vitória, ou fazê-lo não desistir da
competição.
O papel da torcida revela a subjetividade dos homens. GEERTZ (1988), ao
descrever a briga de galo, estava também descrevendo a forma como o homem de
Bali pensa e age. Em Bali, os galos de rinha são animais que representam o
universo simbólico da masculinidade. Isso é tão forte, que os animais são chamados
de Sabung, de acordo com Geertz, na linguagem nativa significa “herói”, “guerreiro”,
“campeão”, “homem de valor”, “Don Juan”, “cara durão”, etc. Aqui temos a
expressão simbólica da personalidade desejada pelos homens: moral, estética e
metafísica. Nesse sentido, podemos comparar os atletas com o Sabung. Os atletas
61

representando um ideal de homem. Mas, além disso, os atletas podem representar o


modelo de uma sociedade. Nas Olimpíadas, evento que ocorre de quatro em quatro
anos, os melhores atletas do mundo representam suas nações. A vitória desses
atletas tem um significado de afirmação de identidade nacional, identidade coletiva.
As premiações esportivas como medalhas e troféus deverão simbolizam a vitória,
não somente de um atleta, mas de uma nação.
Mas, na sociedade atual, o rito sofre uma plasticidade. Segundo SEGALEN
(2002), os rituais mantêm o sentido geral, mas tomam outras formas específicas.
Segundo a autora, cada vez mais os rituais viram um espetáculo, um show. No
casamento, na festa de debutante, na formatura e em cerimônias de premiação, os
organizadores buscam realizar um evento de sucesso, e quanto mais publicizado
melhor, pois irá representar prestígio perante a família, amigos e comunidade. Isso é
possível com o trabalho de profissionais especializados no ramo de organização de
eventos. Conforme Segalen, esses profissionais oferecem um pacote de serviços e
produtos para incrementar o rito. Da taça, que deverá ser servido o champanhe, aos
detalhes do convite. Para a formatura, as joalherias possuem catálogos de design de
símbolos, que caracterizam as diversas profissões. Esses anéis podem ser
cravejados de pedras, conforme o gosto do consumidor.
Portanto, os rituais são ocasiões sociais que dão sentido à aquisição de jóias.
Jóias que passam a ser os traços da história dos sujeitos. Objetos que são
lembrança de um evento passado na vida social das pessoas (STALLYBRASS,
2000).
Rituais, instituições, comércio e crédito estão ligados ao penhor. Logo, o
penhor não estabelece uma separação entre mercado (lógica financeira dos juros e
o valor do ouro) e sociedade (lógica da aquisição e uso das jóias). Não existe uma
fronteira no sentido que POLANYI (1980) descreveu, uma separação entre mercado
e os valores humanos. O penhor funciona incrustado em relações sociais, os ritos se
legitimam porque as jóias que deles fazem parte possuem valor reconhecido no
mercado. Uma coisa depende da outra. O penhor pode ser pensado como uma
esfera econômica engendrada na esfera social (ZELIZER, 2005).
62

2.6 O significado das jóias: valor de uso e valor de troca

O conceito elaborado por MARX (1988) diz que o valor de uso é definido pela
utilidade das mercadorias. Usamos algum bem ou produto pela sua propriedade
porque temos alguma necessidade, física ou material. Já o valor de troca é um
conceito baseado pelo tempo de trabalho socialmente gasto para a produção de
bens. A princípio, a relação entre o tempo gasto com a mão-de-obra do trabalhador
equivaleria ao resultado do produto do trabalho. O valor de troca é a expressão
monetária. Entretanto, segundo Marx, esse resultado é uma ilusão porque oculta as
relações desiguais de trabalho. O fetiche da mercadoria é o conceito que define
essa ilusão, pois não revela nas trocas comerciais a injustiça da desigualdade na
etapa da produção. O mercado capitalista é o resultado das trocas de mercadorias,
ou seja, as relações humanas são disfarçadas nas relações entre as coisas. Marx
quer chamar a atenção para o fato de que as coisas possuem valor de troca porque
foram produzidas socialmente.
No quadro abaixo, a partir das observações no penhor, foram sintetizados os
conceitos de valor de troca e valor de uso:

Quadro 4 - Valor de Uso (simbólico)

Categorias Descrição
Poder, status, prestígio Jóias representam posição/classe social
Estético, beleza, elegância, glamour Jóias servem como acessório no vestuário
Romance, sedução Jóias podem significar um ato de amor e
conquista
Lembranças Jóias podem representar lembranças, ser
referência de acontecimentos do passado, da
vida das pessoas

Símbolo de vínculos e de pertencimento Jóias podem ser demarcadores de relações de


familiar parentesco, representando alianças entre
familiares, objetos que são transmitidos de uma
geração para outra (herança)

Fonte: O autor (2007).


63

Quadro 5 - Valor de Troca (comercial)

Categorias Descrição
No momento da avaliação para a O design, forma e modelo da jóia não agrega valor no
concessão do penhor momento da avaliação para se adquirir o empréstimo. O valor
do objeto é medido por seu peso de ouro.

Nos leilões Na hora da revenda, o design, a ausência de marcas de uso e


que personalizam a jóia é fator de valorização da mesma.

O penhor como fornecedor O penhor serve como uma alternativa de obtenção de lucro
para comerciantes de jóias.

Amortecedor de custos do As jóias que não são mais utilizadas são tomadas como
crédito patrimônio que pode ser usado para diminuir o custo dos
empréstimos.
Fonte de recursos para eventos O penhor pode servir como uma alternativa para pessoas
extraordinários conseguirem dinheiro para garantir diversas situações, como
por exemplo, o aniversário do filho, viagens, material escolar,
urgência médica, datas comemorativas (páscoa, natal, etc.),
etc.

Complemento no orçamento O dinheiro adquirido no penhor equilibra as despesas


domésticas.

Fonte: O autor (2007).

O estudo sobre o crédito conhecido como penhor permitiu perceber que


diferentes sentidos e valores são atribuídos às jóias. Os atributos dados às jóias
fazem parte de uma fronteira, às vezes, não muito nítida entre valor de troca e valor
de uso. A utilização das jóias explicada pelo conceito de valor de uso possui alguns
problemas. O principal é que as jóias não possuem a finalidade de suprir uma
necessidade, como o casaco que pode nos proteger do frio. Portanto, qual a
utilidade de usar um pedaço de metal no dedo? O uso das jóias se dá através da
dimensão simbólica, existe um código sendo transmito, um signo. O valor de uso das
jóias é simbólico. As alianças comunicam ao mundo o comprometimento mútuo do
casal. Além disso, as jóias preciosas também podem representar poder, status,
prestígio e posição/classe social. As jóias servem como acessório no vestuário,
podem significar um ato de amor e de conquista, fazem parte dos jogos de sedução.
Às vezes, as jóias vão revelar o status social dos homens. Ou seja, a mulher
presenteada com jóias é um indicativo de ostentação de poder e prestígio
masculino.
64

As jóias no Brasil, como em diferentes lugares do mundo, possuem valor


estético, elegância e glamour. As jóias cumprem um papel importante na vaidade
feminina, significam parte da identidade pessoal. No universo moral, as jóias
valorizam as mulheres.
Conforme STALLYBRASS (2000), as “lembranças”, a que nos remetem os
objetos, têm valor simbólico, pois elas fizeram parte de momentos da história da vida
das pessoas. As jóias podem representar essas lembranças como, por exemplo, a
de um romance, de uma conquista, de uma perda de um membro da família.
Portanto, os objetos são a referência de acontecimentos do passado da vida das
pessoas. Para Stallybrass, o não-desapego pelo objeto pode representar saudade
de eventos e/ou pessoas do passado.

(...) As roupas são, pois, uma forma de memória, mas elas são também
pontos sobre os quais nos apoiamos para nos distanciar de um presente
insuportável: o presente da infância, por exemplo, quando somos
protegidos pelos nossos pais (STALLYBRASS, 2000, p. 42).

A construção simbólica do valor das jóias também está associada à existência


de vínculos e ao pertencimento familiar. Jóias podem ser demarcadores de relações
de parentesco, representando alianças entre familiares, objetos que são transmitidos
de uma geração para outra (herança). PISCITELLI (2006) estudou a transmissão
das empresas através da herança. Para a autora, o conceito de herança refere-se à
transmissão de patrimônio espiritual, moral e material. Portanto, a transmissão da
propriedade (a empresa) não deverá ser para qualquer herdeiro, filho ou parente. Os
sucessores da empresa são escolhidos por critérios de responsabilidades e
atribuições pessoais, adequados à gestão empresarial. Da mesma forma, as jóias
que deverão ser transmitidas por herança, não deverão ser entregues para qualquer
pessoa da família. Além da qualidade de merecimento, vão estar envolvidas
questões de responsabilidade dos herdeiros. As jóias devem permanecer na família,
os herdeiros terão a obrigação de repassar as peças para a próxima geração.
Portanto, a transmissão das jóias é uma forma de reorganizar a rede familiar, quase
a preservação de uma linhagem. Podemos entender essa relação através da
descrição que Stallybrass faz das roupas, quando elas eram objeto de penhor por
parte de indivíduos da classe trabalhadora inglesa, na época da revolução industrial:
65

(...) as roupas têm uma vida própria: elas são presenças materiais e, ao
mesmo tempo, servem de código para outras presenças matérias e
imateriais. Na transferência de roupas, as identidades são transferidas de
uma mãe para uma filha, de um aristocrata para um ator, de um mestre
para um aprendiz. Essas transferências são freqüentemente representadas
no teatro da Renascença em cenas em que um servo ou uma serva veste-
se como seu mestre, um amante veste-se nas vestimentas emprestadas de
outro amante, uma caveira habita as roupas que sobreviveram a ela
(STALLYBRASS, 2000, p. 38).

Além do valor simbólico, as jóias possuem uma segunda vida, aquela em que
possuem o valor de troca ou comercial. No valor de troca, as jóias possuem o poder
de adquirir crédito, transformar-se em dinheiro. No momento da avaliação para a
concessão do empréstimo, o design, forma e modelo da jóia, não agregam valor. O
valor do objeto é medido exclusivamente por seu peso de ouro. O dinheiro é
equivalente ao valor do peso do ouro.
Em suma, variam muitos os valores agregados às jóias preciosas. Poderá
haver distinção entre o valor de uso (simbólico) e o valor de troca (comercial). Em
outros casos não, as jóias podem agregar maior valor comercial por possuírem uma
característica simbólica específica. Tudo vai depender do tipo de situação e do tipo
de pessoa ou público que estão sendo negociadas as jóias.
66

CONCLUSÃO

A expansão do crédito no Brasil foi possível com a estabilidade financeira do


Plano Real. As políticas de acesso ao crédito adotadas pelos últimos governos, com
o objetivo de incluir a população de baixa renda no Sistema Financeiro Nacional,
provocaram um crescimento concorrencial da oferta de empréstimos. O mercado de
empréstimo no Brasil expandiu tanto que já podemos encontrar uma variedade muito
grande de serviços e produtos financeiros oferecidos para diferentes públicos.
Com essa expansão, um novo cenário se configura. Novos padrões de
consumo se incorporam à vida da população. Faltam pesquisas e estudos que
avaliem melhor o impacto da expansão do acesso ao crédito no Brasil. A forma
como o consumidor lida com o dinheiro muda, pois passa a ser incorporado ao seu
cotidiano uma diversidade de produtos financeiros.
Nesse sentido, a realização do estudo sobre penhor revelou algumas das
diferentes formas da população lidar com o crédito. Levando-se em conta as
hipóteses da pesquisa, foi possível entender alguns mecanismos da economia e
seus efeitos a partir de uma dimensão social e simbólica. Especificamente, o penhor
como forma de crédito - o uso das jóias como garantia.
As jóias entram na vida dos sujeitos, e/ou no contexto familiar, de diferentes
formas. Elas podem ser adquiridas através de presentes, serem herdadas ou
transferidas através de rituais. Por esses motivos, as jóias materializam os traços da
história dos sujeitos, são objetos que lembram eventos passados na vida social.
Penhorar as jóias pessoais é uma forma de adquirir crédito, transformar os
objetos em dinheiro, dar a elas um outro sentido. Além do valor simbólico, pelo
penhor, o objeto volta a ter valor de troca. Ao sofrer essa transformação, as jóias
permitem que o seu proprietário obtenha crédito, um recurso para equilibrar o
orçamento doméstico, principalmente para a parcela da população que vem
perdendo poder aquisitivo e status econômico, em função de não ter havido
reajustes salariais para algumas categorias nos últimos anos. As jóias se tornam
alternativas para a busca de um tipo de crédito que dê conta de imprevistos
urgentes. Esse serviço pode servir como meio para cobrir custos que estão fora do
orçamento, como, por exemplo, uma viagem ou o aniversário de um filho. O penhor
também pode servir como uma alternativa para as pessoas saldarem dívidas
67

adquiridas através do cartão de crédito, do cheque especial, etc., diminuindo, assim,


o montante de juros a serem pagos. O penhor serve ainda como uma alternativa de
lucro, seja através da compra de jóias a baixos preços nos leilões e da revenda das
mesmas a consumidores, seja através do uso do ouro de jóias antigas para a
confecção de novas jóias, com modelos atualizados.
Além das questões puramente financeiras, com o estudo do penhor pude
verificar a articulação da lógica econômica com outras lógicas. O penhor pode servir
como um meio do indivíduo adquirir autonomia no seio familiar. Pessoas que
possuem uma vida financeira conjunta podem buscar o penhor para não ter que
prestar satisfação de seus atos particulares para os demais membros da família.
O serviço de empréstimo de penhor também pode servir como uma maneira
das pessoas guardarem suas jóias, ao invés vez de mantê-las em casa ou pagar um
cofre em um banco.
Também chamam a atenção no estudo desse universo as jóias que vão a
leilão por terem sido rejeitadas. Nesse caso o penhor serve como um meio para as
pessoas se desfazerem das jóias, como acontece, por exemplo, nos divórcios, em
que as pessoas se desfazem das jóias que são associadas à relação conjugal do
passado.
No estudo também foi possível identificar algumas “barreiras simbólicas” ao
uso do penhor que fazem parte do imaginário social. Algumas pessoas associam o
uso do penhor à idéia de falência ou de perda de status social dos indivíduos. Essa
visão do serviço pode trazer constrangimento a quem faz o uso dessa modalidade
de crédito.
Mas, a questão fundamental do penhor é o fato de que o serviço se insere
nas estratégias familiares. Portanto, é um erro definir o comportamento humano,
através das teorias sobre o homo economicus, para explicar o contexto do uso
financeiro de crédito no Brasil. A lógica do indivíduo que toma suas decisões, a partir
da análise de custo e beneficio, não dá conta da realidade em que se inserem as
práticas relativas ao crédito. As teorias sobre o individualismo distorcem o contexto
em que predominam escolhas baseadas em lógicas e projetos de vida familiares. No
contexto familiar os indivíduos possuem obrigações mútuas.
Através dessa pesquisa pode-se perceber que o penhor é mais uma opção de
crédito como tantos outros produtos financeiros que estão sendo incorporados à vida
financeira da população, embora tenha significados e funções diferentes,
68

dependendo da situação e da necessidade envolvida. O penhor funciona incrustado


em relações sociais, os ritos se legitimam porque as jóias que deles fazem parte
possuem valor reconhecido no mercado. O penhor não estabelece uma separação
entre mercado e sociedade. Através do estudo do penhor pode-se perceber que o
mercado do capitalismo se adapta, se articula com a cultura e valores da sociedade.
Podemos compreender o mercado como construção social.
A presente pesquisa sobre o penhor pode contribuir para indicar algumas
hipóteses no âmbito das políticas de acesso ao crédito. Mais do valor comercial ou
simbólico, a prática financeira de penhorar as jóias levanta questões que se referem
às diferentes formas como a população brasileira, que não possui uma cultura da
poupança, vem administrando suas dívidas. Nesse contexto, podemos supor que o
desenvolvimento econômico brasileiro segue a lógica da aquisição de riquezas
através da dívida, e não pela poupança.
Essa monografia representa apenas a primeira etapa de investigação no
penhor. O estudo deverá ser retomado com a autorização da Caixa Econômica
Federal nos próximos meses.
69

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75

ANEXOS
76

ANEXO A - 1º Roteiro de entrevista e observação para o penhor

1) Data e hora da entrevista;


2) Conhecer um pouco sobre a história de vida do entrevistado;
3) Saber a ocupação;
4) Saber onde trabalha;
5) Identificar a naturalidade do entrevistado;
6) Falar sobre a família (quantas famílias já teve);
7) Conhecer os papéis sociais dos membros da família;
8) Origem étnica da família;
9) Identificar o tipo de religião;
10) Identificar aposentados na família;
11) Saber com quem mora;
12) Identificar quem toma as decisões em casa;
13) Identificar os tipos de conta: Aluguel, Luz, Água, Telefone, Veículo, etc.;
14) Identificar quem paga as contas;
15) Identificar o tipo de planejamento no uso de dinheiro (estratégia de como a
família organiza os recursos e o que fazem com o dinheiro emprestado?);
16) Conhecer os motivos que levou a usar o penhor (necessidade urgente);
17) Como conheceu o penhor da Caixa;
18) Identificar fatores que levaram a utilizar o penhor como meio de crédito, para
que a pessoa (entrevistada) não recorresse a dever um favor para “terceiros”
(parente, amigo, etc.);
19) Que tipo de conhecimento tem em relação às jóias;
20) Identificar que tipo de jóia já penhorou: Anel, A. de Formatura, Aliança,
Bracelete, Brinco, Colar, Corrente, Gargantilha, Linha infantil, Medalha,
Moedas, Piercing, Pingente, Pulseira, Relógio e Tornozeleira;
21) Identificar o momento em que as jóias devem ser penhoradas (que tipo de
estratégia econômica os objetos se inserem);
22) Conhecer a história da jóia (em que momento o objeto entrou na vida do
entrevistado, por exemplo, herança, presente, adquirida em leilão, comprada
em joalheria, etc);
23) Saber se o entrevistado compra jóias;
77

24) Identificar a utilidade da jóia (racional – um acessório);


25) Saber se as jóias estiveram presentes em rituais de passagem;
26) Identificar a relação de jóias com o sexo feminino (valorização da mulher,
modelação do objeto no corpo, etc.);
27) Conhecer a vaidade feminina no uso das jóias;
28) Identificar os sentidos das jóias (poder, prestígio, beleza, luxo, status, glamour,
objeto de desejo, sedução, romance, de elegância);
29) Identificar os sentidos negativos do uso de jóias (cafona, brega, “fora de
moda”);
30) Identificar os momentos em que as jóias são usadas (eventos familiares,
casamento, aniversário, dia das mães, natal, nascimento de uma criança na
família, namoro, festas, cotidiano, etc.);
31) Identificar se a jóia é um patrimônio administrado pelo gênero feminino (quem
tem o poder sobre os bens?);
32) Identificar se o entrevistado conhece marcas de jóias;
33) Identificar se o penhor é um investimento;
34) Identificar a pessoa que “abre mão do bem”, se sacrifica de não usufruir a jóia,
para poder adquirir crédito através do penhor;
35) Identificar se a jóia pertenceu à outra pessoa da família;
36) Identificar a importância que têm as jóias herdadas;
37) Identificar as obrigações daquela pessoa em relação a jóias herdadas;
38) Identificar o sentido da perda da jóia;
39) Saber do entrevistado sua opinião enquanto a substituição da jóia por outros
objetos (celular, câmera digital, “objetos de desejo”);
40) Identificar as vantagens e desvantagens do penhor;
41) Saber como se dá o resgate das jóias (prataria, etc.), se acontece de
renovação do objeto para continuar no penhor;
42) Entender a importância da jóia para o entrevistado;
43) Conhecer as dificuldades que teve o entrevistado em sua história de vida;
44) Identificar as vantagens que o crédito dá ao antecipar a “possibilidade de
consumo”;
45) Identificar os diferentes tipos de crédito que o entrevistado realizou: crediário,
carnês, cheques pré-datados, penhor, caderno de compras, crédito informal,
78

formas tradicionais de poupança, redes de reciprocidade familiar, de vizinhos,


etc.;
46) Entender como são organizadas as diferentes modalidades financeiras de
crédito (qual a lógica da escolha do tipo de crédito?);
47) Compreender como é utilizada cada modalidade de crédito;
48) Compreender o conhecimento dos juros para o entrevistado;
49) Saber como funciona a organização das contas (tipos de registros);
50) Identificar em que circunstancias o pagamento à vista ocorre;
51) Identificar quando o pagamento à prazo é mais vantajoso que o pagamento à
vista;
52) Quando as prestações são aceitas;
53) Identificar que tipo de percepção de risco o entrevistado tem;
54) Compreender a situação de não adiar a compra, pagamento da dívida, etc. e
pagar à vista para buscar antecipar o pagamento através do crédito;
55) Conhecer os motivos pela procura do crédito (penhor);
56) Saber a freqüência do uso do penhor;
57) Saber se o penhor é utilizado ao mesmo tempo que outras alternativas de
crédito;
58) Identificar os problemas financeiros;
59) Identificar quem é o responsável pela dívida;
60) Identificar os critérios que o entrevistado leva em consideração quando
escolhe a instituição que oferece crédito;
61) Saber se o entrevistado utilizou empréstimo em Financeiras;
62) Saber se já utilizou empréstimos em Banco;
63) Compreender a diferença entre Banco e Financeira, segundo o entrevistado;
64) Que tipos de serviços bancários ou financeiros a pessoa conhece;
65) Identificar se somente pela mídia a pessoa conhece os serviços financeiros;
66) Identificar os tipos de investimentos da pessoa;
67) Saber se o entrevistado possui meios de reservas;
68) Saber com que freqüência o entrevistado busca crédito;
69) Saber se o entrevistado realiza algum tipo de pesquisa antes de adquirir algum
produto financeiro;
70) Conhecer os Imprevistos que surgiram antes da aquisição do crédito;
71) Conhecer os Imprevistos que surgiram após a aquisição do crédito;
79

72) Saber como o entrevistado negocia a dívida;


73) Saber os motivos para a não utilização do crédito (penhor), segundo o
entrevistado;
74) Identificar os fins do dinheiro adquirido com o penhor (por exemplo, quitar
contas de despesas pessoais, materiais escolares, impostos, férias, etc);
75) Identificar se o penhor serve como um modo de segurança para as jóias;
76) Saber se o entrevistado utilizou o crédito (penhor) para ajudar alguém
(terceiro);
77) Conhecer a maneira como é organizado o orçamento doméstico do
entrevistado;
78) Identificar se existem cortes no orçamento em caso de excessos nos gastos;
79) Identificar se o entrevistado já fez algum tipo de trabalho (“bicos” ou hora extra)
para pagar as dívidas;
80) Conhecer do entrevistado sobre os custos da operação de crédito (juros e
taxas);
81) Conhecer os projetos futuros do entrevistado (“sonhos” de consumo: viagens,
estudo, negócio, casa própria, veículo, etc.);
82) Compreender como o entrevistado se classifica como pagador (Honra);
83) Saber se o entrevistado pede crédito com a possibilidade de pagar (condições
de empréstimo);
84) Saber qual a importância o entrevistado atribui para o sentido do “nome limpo
na praça”;
85) Saber se o entrevistado já “emprestou o nome”;
86) Saber se o entrevistado já pediu o “nome” de alguém para fazer crédito;
87) Identificar o tipo de pessoa que o entrevistado não “emprestaria o nome”;
88) Identificar as formas de autocontrole com gastos e sacrifícios (do que já abriu
mão para quitar a dívida);
89) Saber se o entrevistado estipula um limite nos gastos, por exemplo o salário;
90) Identificar os recursos utilizados quando ocorre atraso/impossibilidade de
pagamento;
91) Identificar sentimentos de angústia e sofrimento relacionados ao crédito;
92) Nível de escolaridade;
93) Idade;
94) Renda.
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ANEXO B - 2º Roteiro de entrevista e observação para funcionários do penhor

1) Saber como funciona o penhor;


2) Classificar o perfil do cliente através do contexto da negociação: dia da
semana, mês, hora, roupa que veste, gênero, idade, acompanhado, sozinho,
atitude, etc.;
3) Identificar o tipo de cálculo utilizado pelos avaliadores;
4) Conhecer o tipo de classificação dos clientes através dos avaliadores;
5) Conhecer casos contados por avaliadores e clientes;
6) Saber o que as pessoas contam enquanto o funcionário avalia a peça;
7) Conhecer os dados sobre inadimplência;
8) Conhecer o histórico do penhor;
9) Conhecer os equipamentos para a avaliação das peças;
10) Conhecer a questão do comércio de ouro – “compra ouro e vende ouro”;
11) Conhecer sobre o funcionamento do leilão e casos (outras épocas);
12) Saber como foram os leilões (antes da tecnologia da informação);
13) Como funciona o penhor com a tecnologia da informação;
14) Conhecer a marca das jóias;
15) Saber quanto é a média de dinheiro que os clientes pegam no penhor;
16) Identificar perfil de pessoas do Micropenhor.
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ANEXO C - 3º Roteiro de observação para o penhor

1) Saber com que freqüência a pessoa utiliza o penhor da CAIXA;


2) Saber como a pessoa ficou sabendo do penhor;
3) Conhecer os motivos que levou a usar o penhor (necessidade urgente);
4) Identificar que tipo de jóia já penhorou;
5) Identificar os padrões femininos no uso das jóias;
6) Identificar se a jóia pertenceu à outra pessoa da família;
7) Identificar as vantagens e desvantagens do penhor;
8) Identificar os diferentes tipos de crédito que o entrevistado utilizou;
9) Compreender o conhecimento dos juros para o entrevistado;
10) Saber se o entrevistado possui meios de reservas (poupança).

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