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Biografia de Mokiti Okada

LUZ DO ORIENTE –

VOLUME
2

Título do Original:"Toho no Hikari - Guekan"


Editora:Sekai Kyusei Kyo – Atami, Japão
Copyright by Sekai Kyussei Kyo – Atami

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PREFÁCIO

A publicação de Luz do Oriente, biografia do fundador de nossa Igreja, pela qual ansiei durante
muitos anos, é para mim uma alegria insuperável. Ao relembrar, com todo respeito, o esforço de longa
data empreendido por todas as pessoas relacionadas a esse trabalho até que ele chegasse à publicação,
sinto-me profundamente agradecida.
O título Luz do Oriente foi tirado de uma das caligrafias feitas por Meishu-Sama (nome
religioso de Mokiti Okada), e eu acho que não existe nome mais adequado para enaltecer os feitos e a
espiritualidade de nosso Mestre. Com a publicação deste livro, grande número de pessoas poderá
conhecer tudo sobre Mokiti Okada — um grande praticante do amor e da justiça, o qual, tendo nascido
como cidadão comum, depois de inúmeras provações, tornou-se o manifestante da Glória de Deus.
"Em breve será iniciada a pesquisa sobre Mokiti Okada", disse Meishu-Sama. Creio, pois, que
também ele esteja se sentindo muitíssimo satisfeito ao ver concretizadas essas palavras, com a
publicação da presente biografia, por ensejo do seu Centenário.
Como filha de Meishu-Sama, vivi durante muitos anos perto dele. Diversas imagens suas vêm-
me naturalmente ao pensamento: às vezes, a figura do pai carinhoso; outras vezes, a figura do dirigente
que vivia unicamente para a Obra Divina e, ainda, a figura cheia de nobreza que se divertia com as
caminhadas ao lado de Nidai-Sama (Segunda Líder Espiritual), que fazia "ikebana" (vivificação floral)
e se interessava pelas obras de arte. Lendo este livro, fiquei admirada de ver reproduzidas, fielmente,
sem nenhum exagero ou adaptação, essas imagens de Meishu-Sama com as quais tive contato como
pessoa de sua família. Quanto mais lia, mais me sentia atraída, podendo novamente experimentar na
pele a grandiosidade daquele que viveu para cumprir sua missão, e o muito que lhe devemos. Pude,
ainda, conhecer diversos aspectos seus que até então eu desconhecia. Cheguei mesmo a ter a impressão
de que ele havia retornado a este mundo e de que eu ouvia bem perto a sua voz, o que me deixou ainda
mais saudosa.
Aprender com Meishu-Sama e dele nos aproximar é, para nós, que seguimos o caminho traçado
por ele em seus Ensinamentos, um grande desejo e também a meta de todo o nosso esforço. O livro Luz
do Oriente é um bom orientador para isso. Desejo que, daqui para a frente, o tenham sempre em mãos e
o utilizem como guia, para corresponderem ainda mais à Vontade de Meishu-Sama.

ITSUKI OKADA
Terceira Líder Espiritual da Igreja Messiânica Mundial

APRESENTAÇÃO À EDIÇÃO BRASILEIRA


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É imensa a minha alegria pela edição, em língua portuguesa, do livro "Luz do Oriente".
Em sua edição original, em japonês, o livro foi publicado em dezembro do ano passado, antecedendo o
ano comemorativo do centenário de nosso Mestre; desde então, tem sido muito apreciado pêlos fiéis
japoneses, que nele têm encontrado informações que lhes permitem conhecer, ainda mais
profundamente, o sentimento altruísta característico de Meishu-Sama. Através de sua leitura constante,
nele podemos, ainda, encontrar diretrizes que nos permitem um melhor posicionamento, nesta época
conturbada em que vivemos.
O fato de ele ter sido traduzido e editado em língua portuguesa e estar, agora, ao alcance de todos os
brasileiros é, para mim, motivo da maior satisfação.
Meishu-Sama fundou a nossa Igreja com o objetivo de concretizar o Mundo Ideal de Verdade-Bem-
Belo, um mundo de eterna paz. Paralelamente às atividades religiosas, entretanto, apresentou, divulgou
amplamente e, sobretudo, esforçou-se ele mesmo, desde a época inicial, na prática de teorias inovadoras
nos campos da política, economia, educação, arte, medicina, agronomia e em todos os demais campos
das ciências sociais e naturais. Hoje, por intermédio de seus seguidores em todo o mundo, o pensamento
de Mei-shu-Sama frutificou de diversas formas, através de atividades como as do Museu de Arte
M.O.A., voltadas para a salvação através do Belo; a Academia Sanguetsu de Vivificação pela Ror, que
impulsiona a formação do Paraíso através das flores; a Agricultura Natural, que visa a promover a
verdadeira saúde do homem; os trabalhos do Instituto de Pesquisas Ecológicas, voltados para a
proteção e preservação do meio ambiente etc.. Temos ainda a M.O.A. que, ultrapassando fronteiras e
diferenças étnicas e religiosas, vem desenvolvendo, com espírito de compreensão e ajuda mútua,
inúmeras atividades educacionais, assistenciais e culturais.
O pensamento e a filosofia de Meishu-Sama, que fundamentam essas atividades, são de uma amplitude e
profundidade imensas. Nem é preciso dizer que, para nós, fiéis da Igreja Messiânica Mundial, Meishu-
Sama é o modelo do qual procuramos nos aproximar mais e mais, estudando-O cons-tantemente. Nesse
sentido, tenho a certeza de que a publicação deste livro, que registra fielmente sua vida e suas reali-
zações — ao lado da publicação de obras como os Ensinamentos ("Alicerce do Paraíso") e as
"Reminiscências de Meishu-Sama" — representa mais uma Luz para seguirmos seus passos e assimilar-
lhe o comportamento, manifestação concreta de seu espírito.
Hoje, com o desenvolvimento das diversas atividades messiânicas, pessoas de todo o mundo — e não
apenas os membros de nossa Igreja — vêm despertando para o desejo de assimilar o pensamento e a
filosofia de Meishu-Sama. Assim, é grande a minha expectativa de que este livro sirva para apresentar
ao mundo a divina espiritualidade de nosso Mestre, servindo de ponte para guiar até ele toda a humani-
dade.
Finalizando, expresso meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas que, direta ou indiretamente,
colaboraram para que esta obra viesse a ser editado em língua portuguesa.

TSUTOMU NAKAMURA
Presidente da Igreja Messiânica Mundial

APRESENTAÇÃO DA REEDIÇÃO

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A publicação do livro Luz do Oriente partiu do desejo da nossa Segunda Líder Espiritual em
1961. Foi formada a Comissão de Compilação da História do Fundador Mokiti Okada e teve início a
coleta de dados para a sua execução.
Por ocasião da comemoração dos trinta anos da fundação da Igreja, em 1965, foi possível
lançar, como preparação, o livro Reminiscências sobre Meishu-Sama.
Posteriormente, objetivando a publicação de uma biografia completa do Fundador, como parte
das atividades comemorativas do seu Centenário, e graças ao desejo e apoio de inúmeras pessoas
ligadas à Igreja Messiânica Mundial, em 23 de dezembro de 1981, lançamos o livro Luz do Oriente.
Os 72 anos de vida de Mokiti Okada, que desejou ardentemente concretizar a Verdade e
construir a verdadeira civilização, foram repletos de experiências que abrangiam os campos religioso,
empresarial, educacional, artístico e filosófico.
Através de uma investigação o mais fiel possível à realidade, a presente publicação retrata a
ampla trajetória de Mokiti Okada. Embora ainda insuficiente, esta biografia engloba o cotidiano, o ideal
e a filosofia de Mokiti Okada e acreditamos que seja capaz de apresentar uma visão geral da vida do
Fundador.
Estamos convictos de que este livro oferecerá alimento espiritual e será um seguro norteador
para todos nós que, espelhados nos ideais do Mestre, almejamos incessantemente nossa elevação como
seres humanos e como participantes na construção do Mundo Ideal.
Atendendo ao desejo de um grande número de admiradores e adeptos de Mokiti Okada,
reeditamos o livro Luz do Oriente. Nesta segunda edição, corrigimos algumas datas e inserimos alguns
trechos para maior clareza textual. Modificamos, igualmente, expressões que, sob o prisma do respeito
aos direitos humanos, eram consideradas indevidas. Desejamos, sinceramente, que o presente livro faça
parte da leitura diária daqueles que, de uma maneira ou de outra, possuem afinidade com a Obra de
nosso Fundador.

Igreja Messiânica Mundial - Maio de 1994

NOTAS DO TRADUTOR

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1- Nos nomes em japonês, utilizamos as seguintes grafias:

a) n - para os sons nasais, mesmos antes de p e b.


b) ss - para representar o som de c, mesmo no caso das palavras que têm sido comumente
usadas com um s só, como por exemplo Osaka, que, neste caso, será escrita Ossaka, pois, do primeiro
modo, em português, seria normal pronunciar Ozaka.
c) z - para se representar esse som, mesmo quando não seja estritamente necessário. Por
exemplo: Kizaemon, que, por estar entre vogais, poderia ser escrito com s.
d) r - no início de palavra deve ser pronunciado com o mesmo som do r de Maria, e não de
Henrique ou rua.
e) sh - pronuncia-se como em inglês ( = ch em português.)
f) h - essa consoante, no início das sílabas, deve ser pronunciada com o som aspirado, como o r
de rico, e não como o h de híbrido, por exemplo, que é mudo.
g) j - deve ser pronunciado com o som dj.
h) g - pronuncia-se sempre com o som que ele tem na palavra guerra.

2 - Devido à diferença entre as divisões políticas e territoriais do Japão e as do Brasil, não foi
possível traduzir os endereços nos moldes brasileiros, dando a idéia exata dos termos. O endereço, por
exemplo, da casa onde o Fundador nasceu é:

Tokyo-to, Daito-ku, Hashiba 2 tyo-me 2 ban


Distrito Federal / distrito / localidade ou bairro / conjunto de quadras / número
Traduziríamos, então, para:
Hashiba, quadra 2, nº 2, Distrito de Daito, Tóquio D.F. , o que é apenas uma tradução
aproximada.

3 - No caso de trechos extraídos de obras que não são publicações da Igreja, foram citadas as
fontes.

4 - Os nomes aqui empregados nem sempre são os de registro. No caso da pessoa ser conhecida
por um nome que não é o de registro, utilizou-se esse nome.

ÍNDICE

PREFÁCIO........................................................................................................................................................................................................7
APRESENTAÇÃO À EDIÇÃO BRASILEIRA...................................................................................................................................................................7
APRESENTAÇÃO DA REEDIÇÃO...................................................................................................................................................................................8
NOTAS DO TRADUTOR...................................................................................................................................................................................................9
CAPÍTULO I....................................................................................................................................................................................................................12

A FUNDAÇÃO DA IGREJA.................................................................................................................................................................................12
1.A RELIGIÃO DA LUZ.................................................................................................................................................................................14
a)INSTITUIÇÃO DA DAI NIPON KANNON KAI (Associação Kannon do Japão)......................................................................................14
b)PROPOSIÇÃO.............................................................................................................................................................................................15
c)KANZEON BOSSATSU 3) E A BOLA DE LUZ........................................................................................................................................18
d)AS PUBLICAÇÕES......................................................................................................................................................................................20
2.A EXPANSÃO..............................................................................................................................................................................................21
10
a)MUDANÇA PARA O JIKAN-SO ("Casa de Jikan")6).................................................................................................................................21
b) A PUBLICAÇÃO DA "APOSTILA DA TERAPIA JAPONESA"...............................................................................................................22
c)A ELABORAÇÃO DOS TALISMÃS...........................................................................................................................................................23
d)O CURSO KANNON...................................................................................................................................................................................24
CAPÍTULO II....................................................................................................................................................................................................................26

DEZ ANOS DE CONTENÇÃO............................................................................................................................................................................26


1.GYOKUSSEN-KYO, O VALE DO RIO PERFEITO 8)...............................................................................................................................28
a)INAUGURAÇÃO DA NOVA SEDE............................................................................................................................................................28
b)A ATENÇÃO DA SOCIEDADE..................................................................................................................................................................30
2.AS PRESSÕES..............................................................................................................................................................................................33
a)INSTITUIÇÃO DA DAI NIPON KENKO KYOKAI (Associação Japonesa de Saúde)...............................................................................33
b)A DISSOLUÇÃO DA DAI NIPON KANNON KAI E A "ORDEM DE PROIBIÇÃO DA PRÁTICA DE TRATAMENTOS"...................34
c)O CASO "OMIYA".......................................................................................................................................................................................35
d)"PRIMEIRO CASO TAMAGAWA".............................................................................................................................................................36
3.A OBRA DIVINA SOB PRESSÃO..............................................................................................................................................................37
a)A KANNON HYAPUKU KAI (Associação dos Cem Kannon) E O FUJIMI-TEI (Solar de Contemplação do Monte Fuji)..........................37
b)O REINÍCIO DAS ATIVIDADES DE TRATAMENTO..............................................................................................................................39
c)BUSCANDO A LUZ....................................................................................................................................................................................40
4.DE MÃOS ATADAS....................................................................................................................................................................................44
a)"SEGUNDO CASO TAMAGAWA".............................................................................................................................................................44
b)OS MILAGROSOS QUADROS DE CALIGRAFIA...................................................................................................................................46
c)SOB A FORMA DE "CONFRATERNIZAÇÃO".........................................................................................................................................47
5.À ESPERA DO MOMENTO OPORTUNO.................................................................................................................................................50
a)A VIDA NO LAR.........................................................................................................................................................................................50
b)AGRICULTURA NATURAL.......................................................................................................................................................................53
c)MINERAÇÃO..............................................................................................................................................................................................56
d)VIAGENS A DIVERSAS REGIÕES.............................................................................................................................................................58
6.DIAS DE RESIGNAÇÃO............................................................................................................................................................................60
a)PUBLICAÇÃO DA OBRA "MYONITI NO IJUTSU" ("Medicina do Futuro")...........................................................................................60
b)ATIVIDADES DE SALVAÇÃO EM FORMA PROVISÓRIA.....................................................................................................................62
7.NOVENTA E NOVE POR CENTO.............................................................................................................................................................64
a)PROGNÓSTICO SOBRE A DERROTA NA GUERRA E CONSELHO PARA OS FIÉIS SE REFUGIAREM..........................................64
b)O PERÍODO FINAL DA GUERRA.............................................................................................................................................................65
CAPÍTULO III...................................................................................................................................................................................................................67

O JAPÃO RENASCIDO.......................................................................................................................................................................................67
1. TAMAGAWA PARA HAKONE E ATAMI..................................................................................................................................................69
a)RUMO À TERRA SAGRADA.....................................................................................................................................................................69
b)O SHINZAN-SO (Solar da Montanha Divina) E O TOZAN-SO (Solar da Montanha do Leste)..................................................................71
c)A VIGILÂNCIA...........................................................................................................................................................................................73
d)O FIM DA GUERRA...................................................................................................................................................................................75
2.A GRANDE EXPANSÃO............................................................................................................................................................................77
a)INSTITUIÇÃO DA NIPON KANNON KYODAN (Igreja Kannon do Japão)............................................................................................77
b)O OLHAR DESCONFIADO DA SOCIEDADE..........................................................................................................................................79
c)AS INVESTIGAÇÕES DA CRIMINAL INVESTIGATION DIVISION DAS TROPAS DE OCUPAÇÃO.................................................80
CAPÍTULO IV..................................................................................................................................................................................................................82

EVOLUÇÃO E APERFEIÇOAMENTO...............................................................................................................................................................83
1.CONSTRUÇÃO E DESTRUIÇÃO..............................................................................................................................................................85
a)INSTITUIÇÃO DA IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL............................................................................................................................85
b)O GRANDE INCÊNDIO DE ATAMI..........................................................................................................................................................86
2.A PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA..................................................................................................................................................................88
a)INÍCIO.........................................................................................................................................................................................................88
b)INVESTIGAÇÕES RESIDENCIAIS............................................................................................................................................................89
c)PRISÃO........................................................................................................................................................................................................90
d)AS TORTURAS MENTAIS.........................................................................................................................................................................91
e)CONSCIENTIZAÇÃO DO ESTADO DE UNIÃO COM DEUS.................................................................................................................92
f)SENTENÇA E REFORMA DA ORGANIZAÇÃO.......................................................................................................................................94
CAPÍTULO V....................................................................................................................................................................................................................98

CONSTRUÇÃO DO SOLO SAGRADO..............................................................................................................................................................98


1.SHINSEN-KYO (TERRA DIVINA) - SOLO SAGRADO DE HAKONE...................................................................................................99
a)O PROTÓTIPO DO PARAÍSO TERRESTRE.............................................................................................................................................99
b)O KANZAN-TEI (Casa de Contemplação da Montanha)...........................................................................................................................102
c)O HAGUI-NO-YA (Casa do Trevo)............................................................................................................................................................103
d)O NIKO-DEN (Palácio da Luz do Sol).......................................................................................................................................................104
e)O SANGUETSU-AN (Casa de Cerimônia de Chá Monte e Lua)................................................................................................................105
2.ZUIUN-KYO (TERRA CELESTIAL) - SOLO SAGRADO DE ATAMI...................................................................................................106
a)INÍCIO DA OBRA.....................................................................................................................................................................................106
b)O PLANO DE DEUS.................................................................................................................................................................................108
c)O BAIEN (Jardim das Ameixeiras) e a TSUTSUJI-YAMA (Colina das Azaléias)......................................................................................108
d)O KYUSSEI KAIKAN (Templo Messiânico).............................................................................................................................................110
e)O SUISHO-DEN (Palácio de Cristal).........................................................................................................................................................110
3.AS DIVERSAS INSTALAÇÕES DA IGREJA EM ATAMI.........................................................................................................................111
a)O TOZAN-SO (Solar da Montanha do Leste).............................................................................................................................................112
b)A SEDE PROVISÓRIA DO BAIRRO DE SHIMIZU................................................................................................................................113
c)A SEDE PROVISÓRIA DO BAIRRO DE SAKIMI...................................................................................................................................113
d)O HEKIUN-SO (Solar da Nuvem Esmeralda)............................................................................................................................................114
4.O SOM DA CONSTRUÇÃO.....................................................................................................................................................................114
a)O GRUPO DE DEDICAÇÃO....................................................................................................................................................................114
b)A CONSTRUÇÃO DOS JARDINS E OS PROFISSIONAIS....................................................................................................................116
11
CAPÍTULO I

A FUNDAÇÃO DA
IGREJA

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1. A RELIGIÃO DA LUZ

a) INSTITUIÇÃO DA DAI NIPON KANNON KAI (Associação Kannon do Japão)

O Fundador, que havia começado a trilhar um novo caminho a partir do dia 15 de setembro de 1934,
teve a intuição que, de acordo com a Providência Divina, havia chegado o momento de transmitir sem
hesitação os Ensinamentos de Deus. Apoiado pela grande sinceridade dos fiéis, que, embora em número
limitado, ofereciam uma dedicação fervorosa, ele passava o dia-a-dia compenetrado, tendo em mira a
fundação da Igreja.
Sabedor, por meio da Revelação Divina de 1926, do advento do Mundo da Luz, o Mundo
Paradisíaco, e consciente de que, como representante de Deus na Terra, ele era a pessoa que deveria
concretizar esse mundo, o Fundador realizou diversos estudos e pesquisas, preparando-se para a
ocasião oportuna. Especialmente depois da Revelação da Transição da Era da Noite para a Era do Dia
— recebida no Monte Nokoguiri em 1931, através da qual ficou sabendo que a época presente não passa
de uma fase transitória do Mundo da Noite para o Mundo do Dia — o propósito de fundar uma religião
permanecia em seu íntimo como algo definitivo, sólido e inabalável.
A Transição da Noite para o Dia, esclarecida pela Revelação de 1931, significa uma ampla revolução na
cultura, a qual inclui todas as atividades da humanidade. Nesse momento, será efetuada a grande
transição da civilização dirigida pela Cultura Material, que vigorava até agora, para a Nova
Civilização, dirigida pela Cultura Espiritual.
Atualmente, a sociedade humana enfrenta inúmeros problemas. Embora se observe um grande
progresso nos mais diversos campos, isso nem sempre se liga à felicidade do homem, o que,
evidentemente, é um paradoxo. E a causa desse paradoxo é que os homens contemporâneos, não
reconhecendo a existência do espírito, vieram caminhando como bem entendiam, esquecendo-se dos
Ensinamentos de Deus. Esse caminhar errado precisa ser corrigido a qualquer custo. A civilização
contemporânea entrou num beco sem saída e irá desmoronar por causa da contradição que encerra em
si mesma; após isso, construir-se-á uma nova civilização fundamentada na Vontade Divina. A
transformação será iniciada exatamente nesse momento. Compenetrado na sua missão de executor dessa
tarefa e repleto de orgulho e alegria por ser a pessoa encarregada de trazer ao mundo a Luz da
Salvação, o Fundador instituiu, no dia 1º de janeiro de 1935, no bairro de Koji, em Tóquio, a Dai Nipon
Kannon Kai, apresentando-a à sociedade.
O Fundador nasceu no extremo leste do Japão, no dia seguinte ao solstício de inverno. Tendo vindo ao
mundo nessa ocasião em que novamente os dias, radiantes da luz do sol, começam a ficar mais longos o
Fundador marcou o primeiro passo da ação salvadora de Kannon num ponto de Tóquio indicado pelo
Plano de Deus. Relembrando o mistério de seu destino desde que nasceu e a missão que lhe foi atribuída
de ser a "Luz do Oriente", ele extravasou o seu sentimento nos poemas abaixo:

"Penso profundamente
No meu destino
De escolhido
Como depositário de Deus,
Para salvar o mundo. "

“Finalmente
Chegou o momento
Em que todos os cantos do mundo
Serão purificados
Pela Luz de Deus. "

14
A expressão "Luz do Oriente" figura numa profecia sobre a vinda do Salvador divulgada, desde
os tempos antigos, numa região do litoral do Mediterrâneo. Representa o nome pelo qual era chamado o
"Soberano da Paz" que seria enviado do local da nascente do Sol e através de quem as pessoas seriam
salvas. Considera-se que essa é a primeira vez que a expressão aparece registrada na História.
O Fundador conscientizou-se de que o termo "Oriente" referido pela profecia significa o
extremo leste do Japão; "Luz" significa a Luz de Kannon, e a expressão "Senhor da Luz", ele próprio.
Descobrindo, na sua caminhada até ingressar no mundo da Fé, coincidências misteriosas que
sustentavam suas próprias convicções, ele disse, anos mais tarde: "A expressão ‘Luz do Oriente’ diz
respeito à minha pessoa. Existem diversas provas disso, mas a mais evidente é que o extremo leste do
mundo é o Japão, cujo leste é Tóquio. O nome ‘Tóquio’ significa ‘Cidade do Leste’, o que mostra que a
cidade está de fato no leste. O leste de Tóquio é Assakussa; por sua vez, o leste deste distrito é Hashiba,
local onde eu nasci. Nasci aí e depois vim me mudando gradativamente para o oeste (1).”Assim, a vida do
Fundador, exatamente como o Sol, que nasce no leste e avança em direção do oeste, foi uma trajetória
simbolizada, envolvida e guiada pela Luz. No dia 1º de janeiro de 1935, ele ergueu-se com a Luz da
Verdade, ou seja, com a Luz de Kannon.

b) PROPOSIÇÃO

"Fala-se
Na Luz do Oriente,
Mas trata-se
Da Luz Salvadora de Kannon. "

A Luz do Oriente
Finalmente está se expandindo
E, com o tempo, iluminará
O extremo oeste. "

A verdadeira salvação
Do Supremo Deus
É a Luz do Oriente
Que nascerá no Fim dos Tempos."

A instituição da Dai Nipon Kannon Kai — ponto de partida dos messiânicos — foi realizada às dezoito
horas do dia 1º de janeiro de 1935, numa sede provisória situada no bairro de Koji, quadra 1, nº 7-1, a
uma distância de apenas quinhentos metros do Ojin-Do.
Antes da cerimônia de instituição, foi realizada, à zero hora desse dia, a entronização da imagem de
Hinode Kannon, pintada pelo Fundador. Contrastando com a iluminação da Rua Utibori, as matas do
Palácio Imperial mostravam-se escuras, enquanto a chuva traçava linhas brancas. Na presença dos
principais fiéis, em número de dezoito, o Fundador entoou a oração Amatsu-Norito. Em seguida,
liderados por ele, todos entoaram respeitosamente a oração Zenguen-Sanji, além de outras orações e
salmos. Com essa solene vibração, abriu-se o ano de 1935 — ano da fundação da Igreja. Terminada a
cerimônia, cuja duração foi de uma hora mais ou menos, os fiéis tomaram rumo de casa. A chuva, que
caía até aquele momento, cessou, e todos chegaram a seus lares envolvidos por uma sensação misteriosa.

Figura

Cerimônia de instituição da Dai Nipon Kannon Kai. No fundo, à direita, vê-se o Fundador, de lado

O dia de Ano Novo foi muito tranqüilo. No pilar do portão da sede provisória da Igreja, foi colocada
uma grande placa de "hinoki" (cipreste), árvore cujo nome significa "árvore de fogo", ou "árvore de
sol", ou, ainda, "árvore de espírito" e que antigamente consideravam sagrada. Nessa placa, de um
metro e setenta, havia um letreiro escrito pelo Fundador: "Dai Nipon Kannon Kai - Sede Provisória".

- O Fundador morou em Assakussa, depois mudou-se para Kyo-bashi e, em seguida, para Omori. Mais tarde,
(1)

foi para Tamagawa e depois para Hakone, Atami e Quioto, sempre avançando na direção oeste.
15
À tarde, a pequena sede ficou lotada com a presença de aproximadamente cento e cinqüenta fiéis, que
chegavam uns após outros.
Às dezoito horas, com a nova música "Yamato Shimane" ("A Ilha Japão"), cantada entusiasticamente
ao som do"yagumo koto" (2), teve início a cerimônia. Ryozo Takemura, presidente da Kannon Kai e
chefe do cerimonial, entoou a oração "Amatsu-Norito" e, após a entrada do Fundador, outra oração.
Depois do ofertório de gratidão, todos, liderados pelo Mestre, entoaram a oração "Zenguen-Sanji" e
um salmo, encerrando-se, assim, a cerimônia de instituição da Kannon Kai.
Em prosseguimento, perante os fiéis ali presentes, o Fundador pronunciou as primeiras palavras após a
instituição da Igreja. Ele esperara por aquele momento durante longo tempo; assim, nessas palavras
vigorosas, estavam contidas a sua grande ansiedade por aquele evento e uma alegria irrefreável. Nesse
dia, em que foi dado o primeiro passo com base na Providência de Deus, cada palavra pronunciada pelo
Fundador tinha um importante significado, servindo de diretriz para a Obra Divina. Por isso,
compartilhando de sua alegria, os fiéis mostravam-se muito interessados e atentos, para não deixarem
escapar uma única palavra.

Figura

Aspecto do treino de "yagumo koto" na Sede Provisória, situada no bairro de Koji

A proposição apresentada na fundação da Igreja intitulava-se "A construção do Mundo da Grandiosa


Luz" e tinha o seguinte conteúdo:
"Feliz Ano Novo.
Com a graça de Deus, pudemos instituir a Dai Nipon Kannon Kai, fato que me parece muito
alvissareiro. Pretendia fazê-lo mais tarde, mas Kannon estava muito apressado. (...)
Hoje, gostaria de falar sobre a construção do Mundo da Grandiosa Luz, que é o objetivo da Kannon
Kai.
Conforme o seu nome indica, trata-se de um mundo sem trevas, construído através da Luz de Kannon, e
mundo sem trevas é um mundo sem sofrimento, um mundo sem pecados e males. Com o desejo de
verem surgir um mundo assim, há milhares de anos que santos, grandes religiosos e outros mentores
vêm pregando muitos ensinamentos e desenvolvendo grandes atividades. Entretanto, ele não se
concretizou até hoje; não apareceu sequer nada de semelhante. Considerando-se que esse mundo não
passava de um ideal da humanidade, até o presente duvidava-se de seu advento. Entretanto, eu afirmo
que ele vai se concretizar. "
O Fundador descreveu, ainda, o caminho que ele percorrera até aquele dia. Disse que, no início,
duvidara, mas que, através dos inúmeros milagres que recebera, adquirira absoluta convicção sobre a
possibilidade do Mundo Ideal e inabalável certeza de que Kannon o concretizaria por seu intermédio:
"Qual a base disso? É o Poder de Kannon.
Até o momento, esse poder nunca havia se manifestado realmente. Sakyamuni pregou a piedade, Jesus
Cristo, o amor, e diversos santos ensinaram ao homem o Caminho, mas nenhum deles tinha poder
suficiente para fazer com que seus ensinamentos fossem praticados. Ou melhor: conseguiram que muitas
pessoas os praticassem, mas não toda a humanidade. Assim, tudo se limitou a simples profecias e ideais,
e o mundo almejado não se concretizou até hoje. A sociedade humana se degradou, entrando num estado
de extrema confusão, porque essas religiões ou morais tinham bastante poder, mas não o Poder
Absoluto. Isto é, elas perdiam para o Mal por faltar-Ihes poder.
Finalmente chegou a hora: daqui para a frente, o Poder Absoluto vai se manifestar na Terra. Surgirá
um poder desconhecido pela humanidade durante milhares de anos e acontecerão fatos que ninguém
sequer imagina. (...)
O mundo é formado por países, constituídos pelo conjunto de seres humanos; os países são constituídos
de cidades, bairros e vilas; estes são compostos de famílias, e as famílias, de indivíduos. Por isso, se o
indivíduo, que é a unidade, não for salvo, não há condições para que o mundo o seja.
Conseqüentemente, assim como a Fé Shojo, que visa às vantagens individuais, é errada, a Fé Daijo, que
sacrifica o indivíduo, também o é. Torna-se, pois, imprescindível que ambas sejam corrigidas, para que
o todo seja salvo. O indivíduo é salvo e se aperfeiçoa; ampliando-se isto, o mundo será salvo e se

- Tipo de "koto" que mede cerca de um metro de comprimento, tendo 12,4 cm de largura na parte superior e
(2)

11,5 cm na parte inferior. Nesse corpo fino, comprido e reto, estão alinhadas duas cordas paralelas. Não se sabe
se esse tipo de "koto" existia no antigo Japão, mas a origem do que é utilizado atualmente, remonta aos meados
da Era Edo.
16
aperfeiçoará. Assim, em primeiro lugar, é preciso que o indivíduo seja salvo. Se o lar é o modelo do
mundo, este estará salvo quando aquele se tornar um paraíso e se salvar. (...)
Doravante, com o Poder de Kannon, isso irá ser concretizado. Explicando melhor, surgirão lares isentos
de doenças, miséria e conflitos, e, conseqüentemente, despontará um mundo isento desses males.
Doença, miséria e conflito é o mesmo que doença, fome e guerra, ou seja, as três pequenas calamidades,
mas acho mais adequadas aquelas denominações. Sem nenhuma sombra de dúvida, tudo isso será
totalmente eliminado. Até então, por melhor que fosse a Fé professada, não se conseguiam lares isentos
dessas desgraças, mas agora, professando a fé em Kannon, eles se tornarão uma realidade. (...)
A construção do Grandioso Mundo da Luz parece ser muito difícil, mas não é tanto assim; basta que o
mundo se encha de lares sem doença, miséria e conflito, pois, com isso, ficará banhado de verdadeira
paz.
O Poder Kannon é a Luz do Oriente, da qual se fala desde os tempos antigos. Essa expressão, surgida a
esmo, na antigüidade, encerra um grande mistério. A partir do dia 4 de fevereiro de 1928 — faz sete
anos, portanto — adquiri diversos conhecimentos sobre o assunto, por Revelação de Kannon.
Pacientemente, esperei pela chegada do tempo certo. Ou melhor, fiquei fazendo os preparativos. (. . .)
Mas vejamos por que a Luz do Oriente só se manifestou nos dias de hoje.
A cultura do Japão sempre foi importada do oeste, até a própria civilização vinda da China, pois este
país localiza-se a oeste do Japão. Creio que puderam compreendê-lo pelo salmo lido há pouco: ‘Vou
corrigir a civilização do oeste e construir o caminho do leste, que prosperará pela eternidade.’(...)
Retrocedendo no tempo, também se observa claramente que a política, a economia, a educação, enfim,
todos os setores da cultura japonesa entraram num beco sem saída, donde se conclui a falência do
espírito ocidental. Inicialmente, introduziu-se no Japão a cultura oriental, isto é, a civilização chinesa e o
budismo da Índia; quando ela já havia sido assimilada o suficiente, penetrou a civilização ocidental. Isso
é bastante significativo. (. . .)
As primeiras civilizações que surgiram no mundo foram a chinesa e a hindu. Como acontece atualmente
com a civilização européia, elas prevaleceram durante longo tempo, em todo o mundo. Depois, a
civilização oriental transportou-se gradativamente para o oeste, dando origem às civilizações egípcia,
grega, assíria etc. e, através da civilização romana, desenvolveu-se a civilização ocidental da atualidade.
O fato da civilização oriental ter surgido primeiro que a ocidental, encerra um profundo significado e a
Providência de Deus para governar o mundo. A civilização oriental é espiritual e vertical, e a civilização
ocidental é material e horizontal. Assim, já estava pronto o modelo das duas grandes civilizações.
Também no que se refere à ordem de grandeza, a oriental é uma civilização de caráter restrito, e a
ocidental é de caráter amplo. Podemos compreender isso ao observarmos que o pensamento oriental é
egoístico e isolacionista, ao passo que o pensamento ocidental é expansionista. Entretanto, ambas as
civilizações, crescendo o suficiente e atingindo a fase de maturação, entram num beco sem saída. É
exatamente essa a situação da civilização ocidental hodierna. Assim, tanto o caráter restrito de uma
como o caráter amplo da outra são impotentes. A questão, portanto, é saber para onde vão essas duas
grandes civilizações. Eis a missão da Kannon Kai. A sua união, no final, é a Providência de Deus. O
ponto de união é o Japão, e a hora da união é a partir deste momento. É como se formar um casal. O
noivo, chamado Oriente, e a noiva, chamada Ocidente, se casam, e o padrinho de casamento é Kannon.
A criança que nascerá dessa união é a ‘Verdadeira Civilização’, o ‘Mundo Ideal’, tão esperado pela
humanidade — o Paraíso Terrestre, o Mundo de Miroku. O poder, nunca visto antes, que executará a
grande tarefa de promover esse casamento, fazendo nascer uma criança bela e perfeita, é, em suma, o
Poder Kannon.
A época atual é o momento crítico do mundo para o nascimento dessa civilização. É o momento final e
também o momento inicial. A cruz gamada que constitui o emblema da Kannon Kai e existe desde os
tempos antigos, simboliza essa união do vertical e do horizontal. As pontas dobradas representam que,
depois de feita a união, a cruz começa a girar. Girar significa gerir, movimentar-se para a esquerda. (. . .
)
Quando a civilização que, até o presente, veio do oeste, atingiu os 99% de seu desenvolvimento, surgiu
uma Luz no extremo leste do Japão (. . .): a Luz do Oriente. Com essa Luz, a civilização que vinha
avançando para o leste e que estava destinada a desmoronar, será reformulada e aperfeiçoada, nascendo
a civilização ideal, caracterizada pela harmonia e pela fusão do vertical e do horizontal. Ela se tornará o
caminho da Luz, o caminho da eterna prosperidade, e, ao contrário de antes, avançará cada vez mais
para o oeste. (. . . )
O ponto de partida da atuação da Luz do Oriente é a instituição desta Igreja, que ora se realiza. Por
isso, daqui em diante, ela irá se expandir com grande impulso. O Kannon de Mil Braços é também

17
conhecido pelo nome de Kannon de Mil Olhos; com os mil braços, ele dá vida a todas as coisas, fazendo-
as renascer, e banha-as e salva-as com a Luz que irradia de seus mil olhos.
A partir deste momento, daqui da Kannon Kai, situada em Koji, no centro do Japão, tem início a
civilização que avança para o oeste. Será construído o Mundo Perfeito, isto é, o Mundo da Grandiosa
Luz, objetivado por nós. Por isso, trata-se de um movimento absolutamente inédito. (...) Deus vinha
preparando-o de forma latente há mais de dez mil anos, e finalmente esse momento chegou."
Assim, mostrando o avanço da civilização ocidental em direção do leste e o avanço da civilização
oriental em direção do oeste, o Fundador proclamou vigorosamente a chegada da civilização ideal,
resultante da fusão entre as duas. E essa observação histórica da civilização mundial não foi feita apenas
através de uma análise objetiva dos fatos. Ele visualizou aguçadamente o destino da História, que iria se
concretizar a partir daquele dia, quando a Luz do Oriente, irradiando-se de Koji onde estava situada a
Dai Nipon Kannon Kai, começaria a avançar para o oeste. Plenamente convicto dessa verdade, ele a
divulgou com palavras proféticas.

c) KANZEON BOSSATSU (3) E A BOLA DE LUZ

Por trás do fato de o Fundador ter instituído a Igreja com o nome Dai Nipon Kannon Kai, havia uma
dedicada trajetória em que ele fora despertando para a sua profunda afinidade com Kanzeon Bossatsu.
Desde o ano de 1926, este o acompanhava, protegendo-o e, às vezes, manejando-o livremente. Nessa
relação íntima e inseparável, atuavam em prol da salvação da humanidade.
O Fundador, que viera provando incontáveis milagres através da cura de um grande número de pessoas
enfermas, foi esclarecendo pontos básicos teológicos, tais como a fonte do poder de salvação que ele
próprio manifestava convictamente, a relação enhe Deus e Kanzeon e a sua relação com este.
Mas que nível hierárquico de Kanzeon Bossatsu se manifestou ao Fundador?
Nas escrituras budistas, Kanzeon Bossatsu era considerado como materialização da ilimitada piedade
que faz a salvação ansiada pelo povo. Não existe nenhuma outra divindade que tenha sido alvo tão
familiar de fé para os povos do Oriente, desde os tempos antigos, a começar pela Índia, China e Coréia.
A Fé Kannon, no Japão, foi professada indistintamente por todas as classes sociais, servindo de tema
para poemas e histórias, como divindade de grande poder.
Segundo os filólogos, o nome original de Kanzeon Bossatsu é Avalokitesvara, em sânscrito, antiga língua
da Índia. Este nome foi traduzido para o chinês como "Kanzeon" e "Kozeon", pelo bonzo e escolástico
Kumaraju, do período inicial da Dinastia Tang. "Kozeon" significa "possuidor do nome que concede
Luz ao Mundo", e "Kanzeon","pessoa que atende aos pedidos do povo sofredor". Assim, são
considerados como nomes que englobam a grande piedade e virtude de Kannon.
Kannon aparece em muitas escrituras budistas Daijo como encarnação da salvação do mundo,
recebendo nomes variados, de acordo com a sua atuação. Existe, por exemplo, o "Fukukensaku Kannon
("Kannon que não despreza os desejos das pessoas"), o Nyoirin Kannon ("Kannon possuidor do poder
de realizar todos os desejos") e outros, como Taissei, Bato, Byakue, Juitimen, Senjussengan etc. Dizem
que ele apresenta trinta e três faces, conforme o tipo, a hora e o local da salvação que realiza.
Como já mencionamos, antes de fundar a Dai Nipon Kannon Kai, o Fundador compôs a oração
"Zenguen-Sanji ". Ele explicou que ela é uma súmula do sutra "Kanzeon Bossatsu - Fumonbon", ou
simplesmente sutra "Kannon", o vigésimo quinto dos vinte e oito capítulos do sutra "Myo-horen-gue",
chamado comumente de sutra "Hoke".
O sutra "Hoke" influenciou não só a fé e a filosofia, mas também a arte e a literatura budista.
Muitas seitas, considerando-o como uma compilação completa das últimas pregações sistematizadas de
Sakyamuni, têm-no como centro máximo de todas as escrituras budistas. Quem lhe deu essa posição foi
Tendai Daishi (4), na China, e, no Japão, o Príncipe Shotoku (5). O "Hoke Guisho", onde este último
interpretou o sutra "Hoke" e fez uma minuciosa pesquisa ideológica, colocando-lhe observações, está
guardado, atualmente, no Palácio Imperial, como propriedade do Imperador. Nele está escrito: "Este
não é um livro de alguém de além-mar que se reúne a mim, Príncipe Shotoku, no Japão". Com isso, o
príncipe esclareceu que se trata de um livro de explicações elaboradas por ele próprio e não um livro de
interpretações budistas transmitidas por adeptos do continente chinês. Segundo pesquisas atuais, há
uma tendência a crer-se que essa frase inicial tenha sido acrescentada posteriormente. De qualquer
(3)
- Kanzeon Bossatsu é o nome completo de Kannon, Kanzeon ou Bossatsu.
(4)
-Terceiro Mestre da Religião Tendai da China. Nascido em 538 e falecido em 597.
(5)
- Nascido em 574 e falecido em 622.
18
forma, fazendo-se uma análise minuciosa do "Hoke Guisho", percebe-se que o sentido da frase é bem
preciso.
O sutra "Kannon" é considerado a parte mais importante do sutra "Hoke" e geralmente veio
sendo venerado como uma escritura independente. Tomando por base o sutra "Kannon" ao fazer, antes
da fundação da Igreja, uma oração para ser rezada perante Deus, o Fundador assumiu a mesma posição
que o Príncipe Shotoku: não é uma reprodução do pensamento budista; baseia-se na sua própria
subjetividade.
A visão de Kannon pregada por ele, ou seja, a visão de Deus segundo a nossa Igreja, está fundamentada
numa interpretação feita através da Inteligência Divina.
No dia 11 de janeiro de 1935, logo após a instituição da Igreja, o Fundador dirigiu aos fiéis uma palestra
sobre Kanzeon Bossatsu. Ensinou, então, que este é a encarnação de Deus, tendo ido do Japão para a
Índia, onde realizou diversas providências. No sutra "Kegon", das escrituras budistas, conta-se que
Zenzai Doji (considerado a encarnação anterior de Sakyamuni) foi procurar Kanjizai Bossatsu no
Monte Hodaraka, em busca de seus ensinamentos. Esse Bossatsu, explicou ele, é a encarnação de Deus
que foi do Japão para a Índia.
Na fase em que o budismo, introduzido no país, foi sendo assimilado pela sociedade japonesa, pregava-
se ao povo a teoria sobre a identidade entre Buda e Deus; segundo essa teoria, ambos possuem a mesma
raiz, sendo que Buda é a figura original, e Deus, a sua manifestação. Entretanto, baseado na Orientação
Divina, o Fundador pregou o contrário, ou seja, que Deus é a figura original, e Buda, a sua
manifestação.
Foi a primeira palestra oficial que ele fez sobre Kanzeon Bossatsu, o qual atuava em sua pessoa e é o
alvo da fé na Dai Nipon Kannon Kai. Desde então, sempre que tinha oportunidade, nas palavras
dirigidas aos fiéis ou nos artigos que publicava, o Fundador, com uma interpretação completamente
diferente dos sutras "Daijo", posicionou o Kanzeon pregado por ele acima de Amida e não como
acompanhante deste.
Conforme está escrito na oração "Zenguen-Sanji", relembremos respeitosamente o fato:
"Sesson Kanzeon Bossatsu desceu do Céu à Terra, manifestou-se como Komyo Nyorai e como Oshin
Miroku; tornando-se Gusse no Mikami, ele extermina os três males e as cinco impurezas do mundo,
realiza o seu grande desejo de salvar todas as criaturas, estabelece o Mundo de Eterna Luz e Gozo. . ."
Kanzeon é a encarnação de Deus, Criador do Universo, que, para salvar a humanidade, desceu
até o nível de Bossatsu (divindade incumbida da conversão e salvação das pessoas e que se situa logo
abaixo de Buda). Com o passar e a mudança dos tempos, transforma-se em Komyo Nyorai e depois em
Miroku Omikami, estado original de Deus, através do qual passa a atuar. Portanto, Kanzeon Bossatsu,
posteriormente Komyo Nyorai, é a própria figura do Criador do Universo, isto é, do Deus Supremo que
se manifesta e atua de acordo com cada época.
O Kanzeon Bossatsu, que é alvo da fé na Dai Nipon Kannon Kai, não se limita à concepção budista. Ele
não é outro senão o Ente Absoluto, fonte de todas as divindades, Deus Salvador que deseja vivificar
todos os seres. O Fundador explicou, ainda, a forma como se manifesta a grande virtude de Kanzeon
Bossatsu e como se desenvolve a Providência Divina de salvação, dizendo que, quando o poder de
Kanzeon Bossatsu se irradia através dele, é que se manifesta como o "Poder Kannon", capaz de salvar
as pessoas e o mundo.
Através de um grande número de misteriosas vivências religiosas, o Fundador conscientizou-se de que
esse poder de salvação atuava intensamente na Bola de Luz localizada em seu ventre, a qual é a fonte do
milagroso poder de salvação manifestado por ele. A esse respeito, ele escreveu: "Dessa Bola, irradiam-se
ondas de Luz infinitamente. E onde se localiza sua fonte? Localiza-se no poder concretizador da vontade
de Kanzeon Bossatsu, no Mundo Espiritual; dele me é fornecida uma Luz infinita. Esse poder nada mais
é que o ‘Poder Kannon’, também referido como ‘Misterioso Poder da Inteligência Suprema’. Essa Bola
de Luz é a que Nyoirin Kannon também possui. "
O Nyoirin Kannon mencionado pelo Fundador é uma das manifestações de Kanzeon Bossatsu, cuja
forma varia de acordo com a atuação que vai ter. Consideram-no como o Kannon encarregado de
concretizar todos os desejos e dizem que ele é capaz de atendê-los, de acordo com a sua vontade, graças
à misteriosa Bola de Luz que possui.
Na época, entre as pessoas que tiveram a oportunidade de contatar com o Fundador, havia algumas que,
tendo a faculdade da visão espiritual, enxergavam a Bola de Luz que estava localizada em seu ventre.
Através do poder manifestado por ela, a Obra Divina ia sendo desenvolvida conforme os desígnios de
Deus.

19
"A Bola de Luz
Que possuo,
A cada dia, a cada mês,
Vai se expandindo,
E um dia envolverá o Mundo. "

d) AS PUBLICAÇÕES

O Fundador, que vivia dias atarefadíssimos desde a instituição da Dai Nipon Kannon Kai, em janeiro de
1935, começou a publicar um jornal e uma revista periódica. Devido à missão Divina que recebera de
erguer-se, como Luz do Oriente, para a construção do Mundo de Luz, ele deu ao primeiro o nome "Luz
do Oriente", e ao segundo, "Mundo de Luz".
O jornal, publicado pela Editora Toko, foi lançado no dia 23 de janeiro, e a revista, no dia 4 de
fevereiro. Neles, o Fundador esclareceu o objetivo, o significado e as atividades da Dai Nipon Kannon
Kai, indicou os erros da civilização, lançou aguçadas críticas sociais etc., escrevendo ele mesmo sobre
amplos assuntos. Os fiéis, tendo-os como ponto de apoio para a elevação de sua fé, empenharam-se
bastante em estudá-los. No estatuto da Dai Nipon Kannon Kai, o Fundador orientou: "Os membros
devem, na medida do possível, adquirir e ler os Ensinamentos, revistas e boletins publicados por esta
associação, a fim de polirem a sua espiritualidade e estarem a par da situação geral das nossas
atividades." Ao mesmo tempo, distribuiu essas publicações de modo que fossem lidos pelo povo em
geral. Na época, as atividades por meio das letras tinham a grande finalidade de abrir o caminho para a
difusão.

Figura

Publicações da Dai Nipon Kannon Kai:


"Mundo de Luz" e "Luz do Oriente"

As pessoas que estiveram presentes à cerimônia de instituição da Dai Nipon Kannon Kai somavam
pouco mais de cento e cinqüenta. Mas, nessa época inicial, quando ela se apresentava como religião,
presume-se que chegava a muitas dezenas o número de membros que professavam a fé com todo o
entusiasmo, ao lado do Fundador. Com a fundação da Igreja, essas pessoas, servindo a ele de
instrumentos, esforçavam-se pela divulgação da Kannon Kai levando as sementes para a sua difusão
através das publicações.

No dia 5 de fevereiro de 1935, o Fundador registrou em seu diário:

"A partir de hoje,


Ficou decidido vender, nas casas,
O jornal ‘Luz do Oriente’.
E eu saí com esse objetivo,
Agora ao entardecer. "

Figura

Editora Toko, onde funcionava a redação dos órgãos informativos

Por aí se percebe que ele colocou grande empenho na publicação e distribuição desses informativos.
Shintaro Shimizu, encarregado da redação das publicações, disse: "Acho que ‘Luz do Oriente’ tinha
uma tiragem de aproximadamente três mil exemplares, e ‘Mundo de Luz’, duzentos."
O Fundador organizou grupos de propaganda da Dai Nipon Kannon Kai na Sede, na Editora Toko e
em cinco filiais, procurando fazer uma distribuição diligente. Cada grupo era formado principalmente
por jovens, rapazes e moças, os quais, batendo de porta em porta, empenharam-se na distribuição das
publicações e na difusão religiosa, centralizadas em Tóquio e nas cidades circunvizinhas, como
20
Yokohama e Omiya. Conforme já foi mencionado (Vide Luz do Oriente vol.1 p.365), Issai Nakajima,
responsável pela Filial Assagaya, e Otomatsu Araya, responsável pela Filial Setagaya, disseram que o
único meio de difusão da época era a distribuição de jornais e que a sua renda provinha de uma parte
da quantia obtida através dela. Assim, os ministros dedicavam sua vida a essa atividade, trabalhando
devotadamente na Obra Divina realizada pelo Fundador.
A Editora Toko, além de ser o local onde funcionava a redação dos órgãos informativos, era também o
alojamento do grupo masculino no jornal e dos componentes do grupo de propaganda. Em maio de
1935, foram instalados, em diversos locais da cidade, novos pontos de distribuição, que se tornou diária.
Juntamente com essas publicações, continuavam a ser desenvolvidas as atividades literárias. A
composição de "waka" e "kanku" humorístico, atividade realizada sob o nome de "Shofu-Kai" e
"Showa-Kai", renovou-se com a fundação da Igreja e passou a ser efetuada sob o nome de "Shion-
Kai".
Em seu diário, no dia 16 de janeiro de 1935, o Fundador escreveu:

"Realizamos a primeira sessão


De ‘waka’ e ‘kanku’ da ‘Shion-Kai’,
Da qual participaram
Cinqüenta e sete pessoas."

O caderno de "kanku" premiado na primeira reunião da "Shion-Kai" intitulava-se "O Esperado


Messias", título muito adequado à Igreja que se iniciava trazendo a Luz do Oriente.
O primeiro número da revista literária "Shion" saiu no dia 11 de fevereiro; os números dois e três
foram publicados respectivamente em abril e julho. Com o crescimento da difusão e o conseqüente
aumento de trabalho, a publicação dessa revista teve de ser interrompida. Mas as atividades literárias
continuaram. Os poemas passaram a ser publicados na seção literária do jornal "Luz do Oriente". Esse
periódico, muito propagado como transmissor de Luz, foi editado até o número nove; a partir do
número dez, teve o seu nome mudado para "Luz de Kannon", mas, no dia 11 de abril de 1936, foi
suspensa a sua publicação. Quanto à revista "Mundo de Luz", embora de forma não periódica,
editaram-na até o número cinco.

Figura

Altar da Editora Toko, no andar superior. Vê-se o quadro onde está escrito "Luz do Oriente",
caligrafia reproduzida na capa deste livro

Essas publicações deixaram de ser editadas porque, a partir do final de 1935, a Polícia Especial
começou a fazer freqüentes visitas à Editora, dando início a uma intervenção direta das autoridades; em
1936, intensificou-se o movimento para dissolver a Dai Nipon Kannon Kai, o que tornou difícil a
continuação das atividades religiosas, a começar pelas publicações.

2. A EXPANSÃO

a) MUDANÇA PARA O JIKAN-SO ("Casa de Jikan")(6)


Após a fundação da Igreja, a atividade de difusão expandiu-se de forma espantosa. Como já
mencionamos, aproximadamente cento e cinqüenta pessoas estiveram presentes à cerimônia de
instituição. No dia 1º de maio, quatro meses depois, o Fundador realizou, pela primeira vez, o Culto da
Primavera. Dele participaram mais de duzentas pessoas, que lotaram a Sede Provisória. No dia 1º de
cada mês, era realizado o Culto Mensal. Naquele 1º de maio estava completando um ano que o
Fundador fora para o Ojin-Do, situado em Koji, bairro do centro de Tóquio, iniciando suas atividades
sob o nome de "Tratamento Espiritual de Digitopuntura no Estilo Okada", para comprovar os
resultados da salvação por meio do Johrei. Nesse dia comemorativo, quando o nome do Fundador já se

(6)
- Jikan: um dos pseudônimos do Fundador
21
propagava fora de Koji e seu poder de salvação passava a ser alvo das atenções de muita gente, ele deve
ter sentido uma profunda emoção.
Após o ofício religioso, o Fundador fez uma palestra para os duzentos e poucos fiéis que estavam ali
reunidos e nela mencionou a grande expansão alcançada pelas suas atividades desde que inaugurara o
Ojin-Do. Ele disse que, assim como havia sido dado um novo passo no mês de maio de 1934, haveria um
grande avanço na Obra Divina dali por diante.
No mesmo mês, o Fundador transferiu sua residência para o Jikan-So. A partir de então, como se falará
mais adiante, o "talismã" usado pelos membros foi renovado. Em conseqüência, a ministração do
Johrei, que até ali só era permitida a um limitado número de pessoas, passou a ser permitida a qualquer
um que freqüentasse as aulas e recebesse o "talismã" com o poder de salvação. Essa era uma abertura
inédita.
Em abril, o Fundador pedira a Shimizu que lhe procurasse uma casa para morar, separado do Ojin-Do,
o qual se tornara pequeno com o crescimento da Obra Divina. Dois ou três dias depois, Shimizu achou
uma casa muito boa, no bairro de Koji, quadra 1. Era uma residência assobradada, em que se fundiam
os estilos japonês e ocidental. Tinha quase o mesmo tamanho da antiga sede provisória de Hanzo-Mon,
e o segundo pavimento, onde ficaria o Altar, era bem amplo: 16,20 m2 divididos em dois
compartimentos. As janelas do andar superior estavam pintadas de preto, e as paredes, de vermelho, de
acordo com a moda chinesa; o andar de baixo seguia o estilo ocidental. A casa era tão graciosa e o
Fundador gostou tanto dela, que logo resolveu alugá-la, pagando mensalmente 120 ienes. Mudou-se
para lá no dia 5 de maio, um ano depois que entrara no Ojin-Do, e deu-lhe o nome "Jikan-So" talvez
pelo desejo de torná-la o ponto focal para o amplo desenvolvimento da Obra Divina de Kannon a ser
efetuado por ele.
Um ano atrás, quando se mudara para o Ojin-Do, o Fundador deixara a esposa e os filhos no Shofu-So,
em Omori. Desta vez, chamou-os para o Jikan-So, onde passou a morar com a família. Na noite do dia
da mudança, realizada sem nenhum problema, fez uma comemoração no andar superior da casa, com a
participação dos quinze diretores, de Yoshi, sua esposa, e de Mitiko, sua filha mais velha.

b) A PUBLICAÇÃO DA "APOSTILA DA TERAPIA JAPONESA"


Além das atividades iniciais com a instituição da Dai Nipon Kannon Kai, o Fundador também se
dedicava ao método de tratamento que viera aplicando desde sua ida para o Ojin-Do, isto é, o
"Tratamento Espiritual de Digitopuntura no Estilo Okada", desenvolvido ativamente como processo de
cura por meio do Espírito Divino. Seus eficazes resultados iam aparecendo com o passar do tempo, e
tornavam-se cada vez mais numerosas as pessoas que buscavam a salvação. Paralelamente, aumentava o
número daqueles que se interessavam pelo princípio da cura da doença através da Fé e pelos princípios
de higiene. Então, depois de sua mudança para o Jikan-So, o Fundador planejou o estabelecimento e a
sistematização do princípio da cura da doença, o qual ele descobrira por meio do método de tratamento
praticado durante um ano. Mudando o nome desse método para "Terapia Japonesa", pensou em
derrubar, com ele, o extremismo da Ciência, que pendia exageradamente para o materialismo, e torná-lo
a chave para dar início à Nova Civilização. Com esse propósito, empenhou-se na formação de pessoas
habilitadas na terapia espiritual, fundamentando-se no que escreveu e elaborou de acordo a Orientação
Divina.

Figura

"Apostila da Terapia Japonesa" mimeografada

A "Terapia Japonesa", baseada no Espírito Divino do Fundador, recebeu esse nome por ser um poder
espiritual de salvação criado por ele, que é natural do Japão. Seu conteúdo foi reunido e publicado num
livro intitulado "Apostila da Terapia Japonesa". Esse livro não era impresso. Era uma cópia
mimeografada do texto manuscrito. No início, como proposição, ele escreveu sobre o princípio e o
objetivo do “Tratamento de Digitopuntura no Estilo Okada":
"Esse método de tratamento foi criado por desígnio do Deus Supremo, que deseja eliminar por
completo a doença, o maior dos sofrimentos da humanidade. Para concretizar esse objetivo, Ele passou
22
a manifestar um grande poder de perfeita união Deus-Homem através do corpo espiritual de Kannon,
Sua representação, e do corpo material de Jinsai (7).
Eu recebi Ordem Divina para executar essa grandiosa obra e, desde então, durante sete anos, em
contato com todos os tipos de doentes, vim fazendo estudos e passando por aprimoramentos. Nesse
período, graças à orientação espiritual de Kanzeon, consegui resultados surpreendentes, jamais
imaginados pela medicina tradicional. Portanto, sob o novo nome de ‘Terapia Japonesa’, resolvi, agora,
iniciar a grandiosa e fundamental providência de salvação da humanidade.
Esse tratamento pode ser efetuado por qualquer pessoa; uma vez recebendo a minha permissão, ela
conseguirá uma extraordinária capacidade de cura através do Poder Kannon, que se manifesta através
do seu corpo espiritual. "
Depois de publicar esse trabalho, o Fundador iniciou, na sede provisória da Dai Nipon Kannon Kai, a 4
de junho de 1935, o Curso de Terapia Japonesa, com base na apostila. Até ali, investido do Poder
Kannon de Salvação, adquirido por orientação espiritual de Kanzeon Bossatsu, o próprio Fundador
ocupara-se dos tratamentos, mas, com o desenvolvimento da Obra Divina, ele planejou a formação de
pessoas que também os praticassem.
Na época inicial da Dai Nipon Kannon Kai, a aplicação do método de salvação só era permitida a treze
diretores. Eles curavam as doenças colocando no local da enfermidade um papel ou leque chamado
"miteshiro" com palavras escritas pelo Fundador. Assim, na época em que foi fundada a Dai Nipon
Kannon Kai, apenas um limitado número de discípulos tinha permissão para ministrar Johrei.

Figura

Certificado de qualificação de terapeuta outorgado aos que concluíam o curso

Entretanto, captando que, a partir do dia 5 de maio, a Obra Divina caminhara para uma nova fase, o
Fundador resolveu permitir a ministração do poder de salvação a um grande número de fiéis. Foi para
formar elementos humanos que ele abriu o Curso de Terapia Japonesa, o qual deu origem,
posteriormente, ao Curso Kannon, mencionado mais adiante; o espírito deste último foi herdado pelo
atual Curso de Iniciação.
O Curso de Terapia Japonesa tinha a duração de uma semana, constando da observação de práticas de
Johrei e da leitura completa da apostila. Àqueles que o concluíam, era atribuída a qualificação de
terapeuta. Fazendo-se esse curso e usando-se o talismã com as palavras "Poder Kannon de
Tratamento" escritas pelo punho do Fundador, era possível manifestar-se infinito poder de salvação.
Assim, o poder do Johrei, até então manifestado através de leques, passou a sê-lo através de talismãs.
Como resultado, o Johrei, que só o Mestre ministrava diretamente, com as palmas das mãos, foi
permitido aos seus discípulos e a um grande número de fiéis.

"O misterioso Poder Kannon


Salva a humanidade
Através das pessoas. "
Figura

Diploma outorgado aos que concluíam o curso. Assinatura: Korin (pseudônimo do Fundador)

No boletim "Dai Nipon Kannon Kai", publicado no dia 11 de novembro de 1935, constam os nomes de
cento e uma pessoas que concluíram o curso de terapeutas até aquela ocasião.

c) A ELABORAÇÃO DOS TALISMÃS


"Até as letras escritas
A tinta carvão,
Em papel branco,
Emitem Luz
Pelo Poder Kannon. "

7)

- Um dos pseudônimos do Fundador.
23
“No poder
De cada uma das letras,
Está a misteriosa
Obra Divina que salva
A vida das pessoas. "

Figura

"Luz Intensa" e a imagem do Kannon de Mil Braços, o novo talismã protetor

Figura

Talismã que permitia a ministração do Johrei:"Poder Kannon de Cura"


figura
Figura

Caixa de paulóvnia para guardar o talismã

Figura

Talismã primitivo: "Luz"

Antes mesmo da fundação da Igreja, o Fundador criara um talismã que servia de protetor para a
pessoa. Depois da mudança para o Jikan-So, ele criou mais dois tipos: um novo talismã protetor e
aquele que permitia ministrar Johrei a outras pessoas e salvá-las.
O primeiro talismã protetor possuía a palavra "Luz" , escrita pelo Fundador; o novo continha as
palavras "Luz Intensa" e a imagem do Kannon de Mil Braços, colocadas num mesmo invólucro, e se
usava pendurado ao pescoço. Com esse talismã não se podia ministrar Johrei, mas, pelo simples fato da
pessoa enferma tê-lo no peito, ela ficava banhada pela Luz de Kannon e pela divina espiritualidade do
Fundador; havia ocasiões em que esse talismã podia ser emprestado a doentes graves, por exemplo.
O talismã que permitia a ministração de Johrei a terceiros continha as palavras "Poder Kannon de
Tratamento" ou "Poder Kannon de curar doenças", escritas em sentido vertical. Normalmente, ficava
guardado numa caixa feita de paulóvnia; na hora da ministração do Johrei, que se fazia através das
palmas das mãos, ele era pendurado ao pescoço. Pode-se dizer que esse talismã correspondia ao atual
"Ohikari”; que possibilita qualquer pessoa ministrar Johrei, quando ela se converte à Fé Messiânica.
Entretanto, como já foi dito, ele era outorgado apenas àqueles que, tendo cursado as aulas para se
habilitarem a praticar a cura das doenças por meio do Espírito Divino, recebiam do Fundador a
qualificação de terapeuta.

d) O CURSO KANNON

Tendo instituído a Dai Nipon Kannon Kai, seguindo a determinação Divina, o Fundador lançou-se à
obra de construção do Paraíso Terrestre. Ele estava convicto de que o poder de salvação atribuído por
Deus e a Verdade ensinada por Este eram os dois pilares para a concretização desse ideal. A "Apostila
da Terapia Japonesa" explicava da forma mais comprobatória possível o poder de salvação atribuído
por Deus; relacionado com ela, o Curso Kannon esclarecia a Verdade baseada na Revelação Divina,
como, por exemplo, a Providência de Deus, a verdadeira natureza de Kanzeon Bossatsu, a realidade dos
Mundos Divino, Espiritual e Material e a missão do homem.
O Curso Kannon teve início no dia 15 de julho de 1935. Quatro dias antes, o Fundador dissera,
explicando o seu conteúdo:

24
"Os ensinamentos da Kannon Kai — embora a palavra "ensinamento" não seja adequada —
são de compreensão muito difícil, devido aos costumes urgentes. Por isso, vou sistematizá-los e abrir o
Curso Kannon.
Explanarei algo que não existe em nenhuma religião ou organização similar. Trata-se do verdadeiro
aspecto da execução do Plano de Deus para o Céu e a Terra. Vou esclarecer, em todos os sentidos, que
Deus construirá o Mundo de Luz por meio desta Igreja.“

O conteúdo do Curso Kannon, bem como a data e o número de alunos, era o que consta na tabela
abaixo.
DATA CONTEÚDO Nº DE
ALUNOS
15/07/35 - 1ª aula - O objetivo de Deus Supremo e o verdadeiro aspecto da 114
execução do Seu Plano para o Céu e a Terra.
25/07/35 - 2ª aula - A origem da Religião e a vinda do Salvador. 127
05/08/35 - 3ª aula - A verdadeira natureza de Kanzeon Bossatsu. 112
15/08/35 - 4ª aula - A realidade dos Mundos Divino, Espiritual e Material 123 .
25/08/35 - 5ª aula - A essência do Bem e do Mal e a construção do Mundo de Luz. 120
05/09/35 - 6ª aula - A missão do Japão e dos outros países. 140
15/09/35 - 7a aula - A doença;princípios e métodos infalíveis para se obter a 140
saúde.

Assim, durante três meses, o Fundador ministrou, ele mesmo, o curso sobre a doutrina da Kannon Kai.
Àqueles que assistiram às sete aulas, foi atribuída a qualificação de "Sendo-shi" (missionário).
Esse curso tornou-se a base da doutrina da Kannon Kai e a maioria daqueles que concluíram o Curso
de Terapia Japonesa também participaram dele e se tornaram missionários.
No dia 5 de outubro de 1935, encontramos o seguinte poema registrado no diário do Fundador:

"Na primeira aula


Do segundo curso
Eu também palestrei
Durante cerca de uma hora. "

Após o término da sétima aula, no dia 15 de setembro, tivera início o segundo curso, a partir do qual o
Fundador designou sete pessoas — Mitsuo Massaki, Shinjiro Okaniwa, Shintaro Shimizu, Issai
Nakajima, Shiguenori Matsuhissa, Yoshihiko Kihara e Tomozo Hida — para ministrarem o Curso
Kannon como seus auxiliares. As apostilas acabaram não sendo editadas e por isso cada participante
anotava em seu caderno as aulas do Fundador. O curso posterior foi ministrado com base nessas
anotações.

25
CAPÍTULO II

DEZ ANOS DE
CONTENÇÃO

26
27
1. GYOKUSSEN-KYO, O VALE DO RIO PERFEITO (8)

a) INAUGURAÇÃO DA NOVA SEDE

A Dai Nipon Kannon Kai, instituída em janeiro de 1935 numa sede provisória situada no bairro de
Koji, crescia dia a dia, e, poucos meses depois, o prédio já se tornara muito pequeno. Ficou, então,
decidida a compra de um terreno e de um prédio adequados para lhe servirem de sede. Tamagawa, às
margens do Rio Tama, no extremo sul de Setagaya, subúrbio ao sul de Tóquio, foi o lugar mais
indicado, entre muitos outros. Havia muito tempo que o Fundador amava as límpidas águas desse rio e
desde o início da Era Showa compunha poemas sobre ele:

"Nas noites enluaradas,


O límpido Rio Tama
Dos mudados campos de Mussashi
Continua como nos tempos antigos."

“A bruma
No extremo
Dos campos de Mussashi,
O Monte Fuji e o Rio Tama. "

No dia 5 de junho de 1935, o Fundador saiu à procura de uma casa, pelas margens do Rio Tama:

"Decidido a procurar um local


Onde a sede viria a ser instituída,
Fui a Tamagawa,
Levando Shimizu
Em minha companhia.”

Entretanto, naquele dia ele não achou um local adequado. Dizem que o poema abaixo talvez tenha sido
composto nessa ocasião:
"Minha esposa disse:
Vamos construir
Uma casa na colina
Por onde corre o baixo Rio Tama
E morar lá. "

Dez dias depois, o Fundador foi novamente a Tamagawa, desta vez acompanhado de Yoshi, Shimizu,
Inoue e Ryozo Takemura, que era natural daquele lugar. Visitando o templo que abriga o jazigo da
família de Takemura, ficaram sabendo que a casa do conde Kenjiro Den estava à venda e imediatamente
se dirigiram para lá. Aproximadamente três meses depois, no Culto Mensal de setembro, o Fundador
relatou de forma minuciosa a impressão que teve por ocasião da ida a essa casa :
"Quando vi o local, minha surpresa foi enorme. Era tão magnífico, que fiquei paralisado. Exclamei,
então: ‘É esse! Já estava preparado por Deus!’ Situa-se no ponto mais alto da região, possuindo um
jardim de formato esplêndido; sua área é de 25 mil metros quadrados. Mais da metade do terreno
(cerca de 16 mil metros quadrados) é muito boa. Daí se avista, logo abaixo, um pomar de pêssegos,
seguido de um arrozal. Mais adiante fica o Rio Tama, dando para se ver uma ponte a partir da qual se
sucedem várias colinas dos campos de Mussashi. Posso afirmar que não há, na cidade de Tóquio, outro
lugar com um panorama tão magnífico como esse. "

(8)
- Nome do local onde estava situada a nova sede da Dai Nipon Kannon Kai, em Tamagawa, Tóquio.
28
Completamente embevecido com o local que encontrara, o Fundador extravasou seu sentimento neste
poema:
"O Gyokussen-Kyo
Adequado para a lua,
Para a flor
E também para a neve,
É a Flor do Paraíso. "

Figura

Foto tirada no dia 25 de junho, dez dias depois da visita a Tamagawa, quando o Fundador foi pescar no
Rio Tama com os fiéis

Para o Fundador, que, naquela época, passava dificuldades financeiras, a aquisição de uma propriedade
tão grande como aquela era uma utopia. Entretanto, de forma rápida e inesperada, abriram-se as
portas para essa transação. Uma pessoa que costumava receber Johrei com Shinjiro Okaniwa, o qual
fazia difusão em Omori, era muito íntima da família Den, e graças à sua ajuda o Fundador pôde
adquirir por um preço bem baixo os 16 mil metros quadrados que tinham a bela visão panorâmica
mencionada linhas atrás. Nesse local, havia glicínias brancas e lilás, coisa muito rara em Tóquio; havia
também o pinheiro plantado pelo Imperador Kinjo (9) quando lá estivera. Tratava-se, portanto, de uma
propriedade famosa.
O preço final ajustado era 98 mil ienes, e, na época, o Fundador só dispunha de 5 mil. Todavia,
como o proprietário se propôs a entregar a casa mediante 10 mil ienes de sinal, ele fez um empréstimo
de 5 mil e pagou a quantia estipulada, mudando-se para lá no dia 1º de outubro:

Figura

Parte da casa do Gyokussen-Kyo e a latada de Glicínias. À esquerda podia-se avistar, ao mesmo tempo,
o Rio Tama, a cordilheira Tanzawa e o Monte Fuji

"Mudamo-nos
Para o Gyokussen-Kyo
Num dia tranqüilo, de sol,
E nem vento havia. "

O contrato de venda da propriedade de Tamagawa firmou-se em condições extremamente favoráveis;


entretanto, depois que o Fundador para lá se mudou, as coisas não correram muito bem. No final de
1937, surgiu um desentendimento com a família Goto, que já havia adquirido metade da parte norte do
terreno, em torno dos direitos de propriedade da área onde ele se estabeleceu. A disputa, iniciada nessa
época, durou até 1955, pouco antes da ascensão do Fundador.

Figura

Portão principal do Gyokussen-Kyo

"Morando na tão desejada


Vila de Tamagawa,
Aprecio o Monte Fuji
De manhã e de tarde. "

No dia 10 de outubro de 1935, dez dias depois da mudança, foi realizada pomposamente, a partir das
treze horas, a cerimônia de inauguração da Sede Geral da Dai Nipon Kannon Kai.
Foi um dia agradável, abençoado por um tempo maravilhoso. No palco ao ar livre, instalado para
aquela cerimônia numa área de mais de 5 mil metros quadrados, foi construído um altar de
aproximadamente 1, 7 metro, e o som do"yagumo koto" ecoava solenemente.

(9)
- Imperador na época, tendo assumido o poder em 1926.
29
Após a palestra do Fundador, realizou-se uma festa. Todos os presentes passaram momentos alegres até
o entardecer. Da colina a que o Mestre deu o nome de Colina Bansho, puderam apreciar a paisagem
outonal do límpido Rio Tama, as montanhas de Tanzawa, que se erguem além do rio, e o sagrado Monte
Fuji, o qual podia ser avistado ao longe.
A cerimônia de inauguração da Sede Geral da Dai Nipon Kannon Kai ocorreu exatamente dez meses e
dez dias depois da cerimônia de instituição dessa entidade, na sede provisória, em Koji, no dia 1º de
janeiro daquele ano. Misteriosamente, o nascimento da nova sede levou quase o mesmo tempo que o ser
humano permanece no ventre materno. A partir de então, a Sede Provisória de Koji foi transformada na
Sede de Tóquio. O número de fiéis elevava-se, agora, a aproximadamente seiscentas pessoas, e o número
de filiais, a onze.

Figura

Cerimônia de inauguração da Sede Geral da Dai Nipon Kannon Kai

Figura

O Fundador pouco depois que se mudou para Tamagawa

Na primavera de 1936, o Fundador compôs um poema enaltecendo a beleza natural do Gyokussen-Kyo


e mostrando a importância desse lugar, que ele disse ser o ponto básico da Obra Divina, o local de onde
se expandiriam os Ensinamentos de Deus.
"Vigorosamente,
A Luz dos Ensinamentos da Verdade
Começa a se irradiar,
Partindo do Gyokussen-Kyo. "

Imbuído desse sentimento, o Fundador desenvolvia a grande obra de salvação do mundo com um
entusiasmo cada vez maior.

b) A ATENÇÃO DA SOCIEDADE

No dia 17 de outubro de 1935, uma semana depois da cerimônia de inauguração da nova sede, o
Fundador registrou em seu diário:

"Um indivíduo chamado Tizaki


Veio à minha procura
Com o desejo de entronizar
A Imagem da Luz Divina
Em Jossankei, Hokaido. "

Tizaki, cujo primeiro nome era Ussaburo, exercia, na época, o cargo de diretor e gerente da Jossankei
Otaru Estradas de Rodagem S/A, firma situada na cidade de Otaru, em Hokaido. Administrava,
também, uma empresa construtora chamada Grupo Tizaki, sua ocupação original, e lidava com os mais
diversos tipos de empreendimentos. Após a Segunda Guerra Mundial, foi eleito deputado federal, vindo
a falecer com cinqüenta e quatro anos, em 1951. Tizaki era um ardoroso fiel de Kannon, do qual
entronizou um total de trinta e três imagens: trinta e uma em Jossankei, estação de águas termais
localizada nos arredores de Saporo, e duas na praia de Assari, próxima daquele local. A décima oitava
imagem entronizada por ele, de Iwato Kannon, foi pintada pelo Fundador. No número cinco da revista
"Mundo de Luz", órgão informativo da Dai Nipon Kannon Kai, saiu um artigo relatando essa
entronização, realizada em Jossankei no dia 26 de outubro de 1935. A imagem de Iwato Kannon
continuou sendo cultuada naquele local e ainda hoje é visitada por muitos peregrinos.

Figura

Artigo sobre a entronização da imagem de Iwato Kannon, publicado na revista "Mundo da Luz"
30
Na nova sede, foram realizados, em seguida, os Cultos Mensais de novembro e dezembro e, no
dia 11 de novembro, o Culto de Outono, passando-se a desenvolver entusiásticas atividades religiosas.

Figura

Culto de Outono. O Fundador aparece no centro, de frente. Compareceu a esse Culto uma caravana da
Filial Omiya

"O primeiro Culto de Outono


Foi grandioso.
Participaram cerca
De trezentos fiéis. "

Por esse poema, registrado no diário do Fundador, podemos constatar a grande atividade que então se
desenvolvia. Justamente nessa época, foi publicado no Jornal Hibi, de Tóquio, datado de 17 de
dezembro, o artigo de Soiti Oya (10) sobre a Dai Nipon Kannon Kai.

Figura

O artigo sobre a Dai Nipon Kannon Kai publicado no Jornal Hibi. Esse artigo é o primeiro que aparece
sobre a Igreja nos meios de comunicação (Propriedade da Biblioteca do Congresso Nacional)

Com estas manchetes:

"O surto de religiões parecidas";


"O astro de sucesso atualmente";
"O Mestre possuidor do Poder Kannon";
"Misteriosas graças materiais" ,
foi publicada a foto do Fundador e a foto espiritual do Dragão Dourado. O texto era o que se segue:
"Hanzo-Mon, situado no bairro de Koji, em Tóquio, fica bem próximo do novo prédio do Congresso
Nacional e da Polícia Metropolitana. Indo um pouco mais adiante do ponto de ônibus Hanzo-Mon,
encontra-se um pilar quadrado onde está escrito ‘Dai Nipon Kannon Kai’. Como me disseram que
aquele era o local onde atuava o novo ‘deus’ de tanto sucesso ultimamente, experimentei ir até lá há uns
dois ou três dias atrás."
A seguir, Soiti Oya nos diz que, no andar térreo, ouviu de um senhor de aproximadamente trinta anos o
relato de vários casos milagrosos. E prossegue:
"Se ele é um ‘deus’ tão milagroso assim, quero vê-lo mesmo que seja apenas uns instantes", disse eu.
“Conduziram-me, então, à sala do ‘Grande Mestre’, no andar superior. No centro, estava um homem
parecido com o escritor Tosson Shimazaki, mas um pouco mais jovem, de cabelos bem brancos, e, ao
seu lado, alguns homens e mulheres.”
O jornalista diz que perguntou ao Fundador o motivo pelo qual fundara uma nova religião, a relação
entre ele e Kanzeon Bossatsu, entre a religião e a cura das doenças etc. E acrescenta:
"No alto, entre o teto e a porta, está afixado o preço do tratamento: na primeira vez, 2 ienes, e na
segunda, 1 iene. Também está afixado o preço do tratamento a domicílio: 5 ienes na primeira vez, e 2
ienes na segunda. Parece que o ‘deus’ também dá consultas domiciliares e é bem mais careiro que os
médicos da cidade. Apesar de ter iniciado esse trabalho no dia 1o. de janeiro do corrente ano, ele recebe
de quarenta a cinqüenta doentes por dia, contando com mais de dez filiais, dentro e fora da cidade. (. .
.)"
É interessante, porém, que esse artigo de Soiti Oya chegou ao conhecimento de Keijiro Takeuti, médico
que sofria de apoplexia e estava em tratamento. Takeuti foi procurar o Fundador no dia 6 de janeiro de
1936, menos de um mês após a leitura do artigo, e, através do Johrei, seu estado de saúde melhorou
muito. Ele imediatamente se tornou membro e, utilizando-se da sua posição de médico, passou a
colaborar com as atividades religiosas do Fundador.

- Nasceu em 1900, na cidade de Ossaka, e faleceu em 1970. Desde pequeno demonstrou habilidade para as
(10)

letras e, ainda jovem, depois de abandonar a Universidade de Tóquio, entrou para o mundo do jornalismo.
Através do "Jinbutsu Hyoron", revista fundada por ele em 1933, ficou conhecido pelas suas críticas mordazes.
31
Além de ocupar o cargo de conselheiro da Dai Nipon Kenko Kyokai (Associação Japonesa de Saúde),
instituída em maio daquele ano, Takeuti começou a difundir o Johrei em Morioka, cidade onde morava,
situada no Estado de Iwate, e, logo depois, chegou a pedir a ajuda dos terapeutas de Tóquio. Recebendo
esse apelo, o Fundador imediatamente enviou para lá Araya Otomatsu. Nessa ocasião, para desviar a
atenção da polícia, que continuava sempre alerta, Araya empenhou-se na ministração de Johrei
passando por aprendiz de Takeuti e salvou muitas pessoas.
Takeuti enviou, ainda, para uma revista popular chamada "Iwate Koron", um artigo intitulado "Os
resultados do tratamento de doenças pelo Estilo Okada vistos por um médico", no qual dizia o seguinte:
"Em 1907, formei-me pela Universidade de Medicina de Tóquio. Defendi tese de doutorado,
especializando-me em medicina química. Por meio de bolsas de estudo, fiz cursos em outros países, entre
os quais a Alemanha, e depois passei a dirigir um hospital na cidade de Morioka. Entretanto, em 1928,
repentinamente, sofri um derrame cerebral, sendo acometido de apoplexia. Fui examinado por vários
médicos categorizados e todos diagnosticaram: ‘Paralisia total - impossibilidade de recuperação’.
Mais tarde, entrei para o mundo da Fé e fui para Tóquio. Durante cerca de dois anos recebi um
tratamento ministrado através da palma da mão, mas não senti grandes melhoras. Exatamente no dia 17
de dezembro, li o artigo publicado pelo Jornal Hibi, de Tóquio, sobre a Dai Nipon Kannon Kai. Senti-
me muito bem após a leitura e dirigi-me imediatamente à sede dessa associação, naquela cidade.
Logo no início do tratamento ministrado pelo Mestre Jinsai Okada, fui surpreendido por um bem-estar
que nunca havia sentido antes e a cada dia ia me libertando da paralisia. Adquiri autoconfiança e em
breve me recuperei por completo.
O Mestre Jinsai não só curava todas as doenças sem o uso de remédios, como também estava formando
um grande número de ‘terapeutas’. Eu também, ao lado dele diariamente, como seu aprendiz,
acompanhava de perto todos os tipos de tratamentos e ficava admirado com os excelentes resultados
obtidos: doenças realmente incuráveis pela medicina iam sendo curadas umas após as outras. Posso,
pois, afirmar, por esses resultados, que o método de tratamento de doenças no Estilo Okada possui de
fato absoluto poder de salvar os sofrimentos da humanidade causados pela doença."

Figura

As revistas "Iwate Koron" e "Naigai Koron", para os quais o Fundador enviou artigos

Por sugestão de Takeuti, o Fundador enviou, para o número de julho de 1936 da revista "Iwate
Koron", o artigo intitulado "O que é o Poder Kannon" e, para o número de setembro da mesma
revista, o artigo "O grande erro da medicina ocidental". Colaborou, também, quase que todos os meses,
em 1935 e 1936, na revista "Naigai Koron", publicada mensalmente pela editora do mesmo nome,
sediada no Distrito de Shiba, em Tóquio. Ainda nos restam os seguintes números:
Outubro de 1935:
"A respeito da criação da terapia japonesa"
Novembro de 1935:
"O método de tratamento que supera a Ciência"
Dezembro de 1935 a fevereiro de 1936:
"Conheça a verdade a respeito das campanhas Kannon" (1), (2), (3)
Junho e julho de 1935:
"A construção de um Japão saudável e o grande erro da medicina ocidental" (1), (2)
Mais tarde, na época em que o Fundador estava proibido de exercer suas atividades, Takeuti teve
importantes incumbências, entre as quais criar oportunidades para ele receber permissão de reiniciá-las.
Entretanto, esse médico acabou deixando suas tarefas religiosas ao encargo de Otomatsu Araya e voltou
a dedicar-se exclusivamente à Medicina. Com o acirramento da guerra, mudou-se para Vila Shiba, no
Estado de Iwate, vindo a falecer em 1948, com a idade de sessenta e sete anos.
Assim, menos de um ano e meio após a instituição da Dai Nipon Kannon Kai, o conceito do Fundador se
elevara bastante, e a difusão crescia rapidamente. Motokiti Inoue registrou esse crescimento dizendo:
"A Dai Nipon Kannon Kai teve um desenvolvimento espantoso e em pouco tempo tornou-se a maior de
todas as religiões novas."
Todavia, à medida que crescia a difusão e se propagava, através de milagres, a "Terapia Japonesa",
surgiam algumas pessoas dos meios religioso e médico que, sofrendo as conseqüências desse êxito, agiam
ocultamente, junto à Polícia Especial, planejando pressionar a Dai Nipon Kannon Kai.

32
2. AS PRESSÕES

a) INSTITUIÇÃO DA DAI NIPON KENKO KYOKAI (Associação Japonesa de


Saúde)

No dia 26 de fevereiro de 1936, houve, na região de Tóquio, uma nevasca como não acontecia há trinta
anos. Na manhã desse dia, ocorreu um trágico incidente: mais de mil e quatrocentos militares, entre
suboficiais e soldados, comandados por vinte e dois jovens oficiais, atentaram contra autoridades do
Governo, assassinando o Ministro dos Negócios Internos Makoto Saito, o Ministro das Finanças
Korekiyo Takahashi e o Supervisor Geral de Ensino Jotaro Watanabe; além disso, feriram gravemente
o Chefe de Gabinete Kantaro Suzuki e depredaram a Polícia Metropolitana e o Jornal Assahi. Por
ocasião dessa terrível ocorrência, o então Primeiro-Ministro Keissuke Okada se salvou, mas, em seu
lugar, foi morto o Secretário de Estado. Esse é o conhecido "Caso 2.26". O grupo rebelde apoderou-se
de todo o bairro de Nagata, no Distrito de Kojimati, onde está situado o Palácio do Governo e outros
prédios governamentais.
Naquela manhã, o Fundador foi à sede de Tóquio da Kannon Kai, que ficava bem perto do local onde
estava reunido o grupo rebelde; entretanto, sentindo algo de estranho no ar, retornou a Tamagawa antes
do almoço. Conta-se que, quando estava para sair, ele disse ao Responsável: "Hoje, o dia não está muito
bom, por isso deixe a Imagem da Luz Divina guardada no armário. Caso aconteça alguma coisa, cubra-
o com vários ‘tatami’ e esconda-se dentro dele. Os detalhes, você ficará sabendo depois. . . "
No dia 27, o Fundador escreveu em seu diário:

"Nas proximidades da Sede,


Agruparam-se soldados fardados.
Tudo ficou como se fosse
Em tempo de guerra. "

Os jovens oficiais que lideraram o "Caso 2.26" assim se pronunciaram: "O nosso país está diante de
uma grande crise; no entanto as autoridades governamentais e os grupos financeiros, querendo obter
lucros pessoais, não fazem o mínimo de reflexão. É preciso acabar com isso o quanto antes." Após esse
pronunciamento e com o lema "Respeito à Família Imperial e Fim à Maldade", deram um golpe de
Estado. Entretanto, por trás desse movimento, ocultava-se a disputa interna existente no Exército. De
qualquer maneira, foi um incidente que teve grande influência na política japonesa. A partir de então, o
poder de pronunciamento do Exército aumentou ainda mais, crescendo a ponto de nada conseguir
controlá-lo.
Na primavera de 1935, o artigo "Tenno Kikan Setsu" ("Teoria sobre os órgãos
governamentais"), escrito por Tatsukiti Minobe, que dava conferências sobre legislação na
Universidade Imperial de Tóquio (atual Universidade de Tóquio), foi atacado pelos militares e pelos
direitistas; no outono de 1936, foi firmado o "Acordo de Mútua Defesa", entre o Japão e a Alemanha de
Hitler. Esses acontecimentos são representativos da época que se estava vivendo. Paralelamente, à
medida que o militarismo avançava, o controle ideológico foi se tornando rigoroso, principalmente em
relação às entidades religiosas.

Figura

Texto rascunhado pelo Fundador na qual ele informava aos fiéis o adiamento do Culto Mensal. Pode-se
ler:"Devido à lei proibitiva...”

No dia 8 de dezembro de 1935, ocorreu a segunda pressão à Religião Omoto; em setembro de 1936 e em
abril de 1937, as pressões à Igreja Hito no Miti; em novembro de 1938, a segunda pressão à Tenri
Hon'Miti. O líder e os dirigentes destas duas últimas foram detidos, passando por severos
interrogatórios, e só obtiveram a liberdade em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial. Nos
jornais de janeiro de 1936, antes mesmo do julgamento, apareciam manchetes que agitavam
propositadamente a opinião pública, como esta, por exemplo: "Onissaburo Deguti, da Omoto — Pena
33
de morte ou trabalhos forçados por tempo indeterminado?" O Fundador, que fora divulgador da
Omoto em tempos passados, já havia se desligado dela; no entanto, embora tivesse ficado reconhecido
que ele não possuía mais nenhuma ligação com a entidade, continuavam tratando-o como
"remanescente", de modo que a vigilância das autoridades tornou-se ainda mais rigorosa.
No dia 19 de março de 1936, dois policiais da delegacia de Omiya, no Estado de Saitama, foram ao
Gyokussen-Kyo. No dia 27 de maio, o Fundador foi chamado à delegacia de Tamagawa, onde o
interrogaram durante várias horas sobre o artigo "A Luz do Oriente", publicado com o título "A Luz
de Kannon". No dia 1º de junho, ele recebeu nova intimação para comparecer à delegacia.
Desde a instituição da Dai Nipon Kannon Kai a 1º de janeiro de 1935, o Fundador viera conciliando a
religião e a técnica medicinal, a fé e o tratamento, mas devido a essa corrente repressiva da época, foi
instituída, a 15 de maio de 1936, no Gyokussen-Kyo, a Dai Nipon Kenko Kyokai, com a finalidade de
dissociar da religião a técnica medicinal e o tratamento, tornando-os atividades independentes. Na
cerimônia de instituição da entidade, explicando seus objetivos, o Fundador disse que ela foi criada para
abrir, de forma ampla, o caminho da salvação, tornando-o acessível a qualquer pessoa, fosse qual fosse a
sua religião, inclusive às pessoas sem fé.
Entretanto, além desse sentido que possuía na Obra Divina, a associação fora organizada por causa do
rigoroso controle ideológico feito pelas autoridades da época, que tentavam pressionar inclusive as
atividades religiosas.
A Dai Nipon Kenko Kyokai teve sua sede provisória instalada na sede de Tóquio da Dai Nipon Kannon
Kai. Os membros, que, no momento da instituição da entidade, eram em número de duzentos e vinte e
nove, pagariam 50 "sen" de taxa de matrícula e uma mensalidade de 30 "sen". Naquele dia, foi editado
o folheto "Myoniti no Ijutsu" ("A Medicina do Futuro"), uma palestra feita pelo Fundador, na qual ele
explica o Johrei — poder de salvação atribuído por Deus — pelo aspecto científico e comprobatório,
evitando, na medida do possível, as expressões religiosas.

figura

O Fundador dirigindo-se aos fiéis na cerimônia de instituição da Dai Nipon Kenko Kyokai. A pessoa que
está anotando a palestra é Motokiti Inoue

Figura

Publicações da Dai Nipon Kenko Kyokai: a revista "Kenko" e o folheto "Myoniti no Ijutsu"

Pouco depois, no dia 15 de junho, foi editado o primeiro número da revista "Kenko" ("Saúde"),
constituído da "Saudação da Editora" e do artigo "A construção de um Japão Saudável", onde o
Fundador usa o pseudônimo "Jinsai".

b) A DISSOLUÇÃO DA DAI NIPON KANNON KAI E A "ORDEM DE


PROIBIÇÃO DA PRÁTICA DE TRATAMENTOS"

Logo após a instituição da Dai Nipon Kenko Kyokai, a intervenção das autoridades tornou-se maior. No
diário do Fundador, está registrado que no dia 30 de junho ele recebeu a visita de um indivíduo
chamado Shima, da Polícia Especial.
A maior preocupação das autoridades policiais era o rápido crescimento da Dai Nipon Kannon Kai que,
embora ainda fosse uma Igreja pequena, poderia vir a se tornar, um dia, um estorvo para os planos
nacionais. Por isso, ela foi alvo de diversas intervenções ostensivas por parte das autoridades, cuja
intenção era esmagá-la enquanto ainda estava pequena.
Assim, no dia 1o de julho, menos de um mês e meio após a criação da Dai Nipon Kenko Kyokai, o
Fundador com imenso pesar, viu-se forçado a dissolver, por iniciativa própria, a Dai Nipon Kannon Kai.
O Culto Mensal realizado nesse dia, no Gyokussen-Kyo, foi o último ofício religioso da instituição. No
diário do Fundador, foi registrado apenas um poema:

34
"Após a cerimônia
Do Culto Mensal,
Expliquei detalhadamente
O motivo da dissolução
Da Kannon Kai. "

Figura

Regulamento do "Curso Especial de Verão" rascunhado pelo Fundador

Após dez anos de estudos e buscas, sempre lutando contra censuras e difamações e levando uma vida
instável, ele instituíra a Igreja. Agora, quando finalmente as atividades começavam a engrenar, com que
sentimento a estaria dissolvendo?
O Fundador já fizera uma previsão muito clara sobre o futuro do Japão. No dia 17 de janeiro de 1934,
aproximadamente um ano antes da fundação da Dai Nipon Kannon Kai, falara, entre outras coisas,
sobre a guerra entre o Japão e o mundo, que viria a ocorrer. Obviamente, por ser demasiado perigoso
fazer uma afirmativa dessa natureza numa época como aquela, dirigiu-se apenas a um pequeno grupo,
centralizado nos discípulos, que sempre estavam ao seu lado. A dissolução da Dai Nipon Kannon Kai,
com certeza, foi uma providência que ele tomou com base nessa previsão.
Entretanto, apesar de ser uma época rigorosa, o Fundador não cruzou os braços pura e simplesmente.
Embora tivesse dissolvido pelas suas próprias mãos a Dai Nipon Kannon Kai como atividade religiosa,
colocou todo o seu empenho na Dai Nipon Kenko Kyokai, que continuava as atividades daquela na
forma de tratamentos. Tendo por marco o dia 6 de julho — pouco depois da dissolução da Dai Nipon
Kannon Kai — iniciou-se, no Gyokussen-Kyo, o "Curso Especial de Verão", sobre a técnica do
tratamento de doenças no Estilo Okada. Esse curso compunha-se de doze aulas intensivas e foi realizado
quase que em dias alternados. Perante os cinqüenta ou sessenta terapeutas que dele participaram, o
Fundador, encarregando-se de todas as aulas, criticou a medicina ocidental, apontando-lhe os erros.
Entretanto, o controle das autoridades era muito rigoroso e persistente. A Delegacia de Polícia
Metropolitana, alertada para a realização do curso, repentinamente, sem nenhum aviso prévio, baixou a
"Ordem de proibição da prática de tratamentos", no dia 28 de julho. Essa lei significava a dissolução
da própria Dai Nipon Kenko Kyokai. No diário do Fundador, estão registrados estes dois poemas:

"Como a tempestade
Que vem após a bonança,
Veio da Delegacia de Policia Metropolitana
A ordem de proibição de tratamentos. "

“Ainda não se sabe


O motivo da ordem.
Fico penalizado
Com a má política
Que faz o povo sofrer. "

c) O CASO "OMIYA"

No dia 4 de agosto de 1936, uma semana depois que o Fundador recebera aquela ordem,
chegou, também de forma repentina, uma intimação da delegacia de Omiya, no Estado de Saitama.
Naquela cidade, havia uma filial da Dai Nipon Kannon Kai, cujo responsável era Yoshihide Takei. Lá,
também existia uma fábrica, a Tecelagem Katakura, onde trabalhavam mais de mil operárias, algumas
das quais, doentes, ficaram curadas através do Johrei ministrado por ele. Esse fato causou celeuma, por
dizerem que contrariava a Lei da Medicina, e Takei foi denunciado à polícia. Naturalmente, ele foi
detido, e, mais tarde, como Presidente da Kannon Kai, o Fundador respondeu pela culpa. Aquela
intimação também teve por motivo a foto espiritual tirada por Mitsuo Azuma, a qual foi considerada
como sendo truque de fotografia (11).

(11)
- Vide página 369 de "Luz do Oriente", 1o volume.
35
Figura

O Fundador, por ocasião de sua ida à Filial Omiya, no dia 5 de maio, antes do acontecimento. Na
primeira fileira, da esquerda para a direita, Ryozo Takemura, o Fundador e Yoshihide Takei

No dia 5, o Fundador respondeu ao interrogatório do chefe do setor de Polícia Especial e de mais dois
policiais da delegacia. Esse interrogatório caracterizou-se pela parcialidade e brutalidade. Caso as
respostas não correspondessem exatamente aos seus desejos, eles apelavam para a agressão, puxando os
cabelos do Fundador ou ameaçando-o com uma espada de bambu. Na ocasião, ocorreram fatos
estranhos, como por exemplo a repentina dor de cabeça sentida pelo policial que o agredira, dor tão
forte que o obrigou a sair da sala. Sem se saber como, permaneceu no recinto apenas o chefe do setor de
Polícia Especial. Este, pouco depois, elaborou o depoimento, escrevendo: "A foto espiritual não passa
de uma foto artística feita por Okada." Como essa afirmativa contrariava a verdade, o Fundador
pensou em protestar, mas, ante o perigo de ser agredido, não teve outra alternativa a não ser assinar.
Assim, o documento foi parar na Polícia Metropolitana e o seu nome entrou para a lista negra. A esse
respeito, ele disse:
"Com um depoimento falso feito por meios forçados, acabam transformando um cidadão bom num
cidadão mau. Por isso acho que este mundo é realmente terrível. Através do fato em questão, podemos
ver o quanto as autoridades da época eram tiranas e feudais. A partir daquele momento, por ter entrado
para a lista negra, eu vivia pressionado. Todas as vezes que mudava de residência, tinha de comunicar à
polícia local, que não cessava de exercer vigilância sobre mim, fazendo tudo para me incriminar. Por
isso, além de nada poder fazer, eu estava sempre preocupado e nem sequer conseguia dormir tranqüilo,
por saber que a qualquer momento poderia ser preso ou ter a minha casa revistada. Dessa forma, pode-
se dizer que, até o fim da Segunda Guerra Mundial, as novas religiões recebiam o mesmo tratamento
que o comunismo.
Em face de tal situação, eu sempre pensava: ‘Embora esteja realizando ações tão benéficas para a
humanidade, sou oprimido desse jeito! Que tristeza! Entretanto, isso também é um aprimoramento que
Deus me dá’. Pensando assim, reprimia a ira."

d) "PRIMEIRO CASO TAMAGAWA"


Na delegacia de Omiya, o Fundador foi solto no dia seguinte ao de sua prisão. Logo em seguida, porém,
ele e Shimizu foram novamente intimados, desta vez pela delegacia de Tamagawa, que, entre outros
motivos, os acusava de atrapalharem os tratamentos médicos. Shimizu foi dispensado no mesmo dia,
mas o Fundador ficou detido do dia 10 ao dia 20 de agosto, para investigações. A principal razão
alegada — atrapalhar os tratamentos médicos — não passava de um pretexto. O verdadeiro motivo da
intimação era investigar a relação entre a Kannon Kai e a Omoto. O Gyokussen-Kyo foi revistado,
sendo apreendidos não apenas os livros, mas tudo que se relacionava às duas entidades. Esse
acontecimento recebeu o nome de "Primeiro Caso Tamagawa".

Figura

O Fundador, na época do "Primeiro Caso Tamagawa"

Na ocasião, Issai Nakajima também foi detido para investigações. Kisseko, sua esposa, assim que
recebeu o telefonema comunicando a detenção do Fundador, dirigiu-se imediatamente para Tamagawa.
Entretanto, lá chegando, soube que seu marido também havia sido preso. Yoshi, esposa do Mestre,
disse-lhe carinhosamente: "Não precisa se preocupar conosco. Volte logo para casa, pois seus filhos vão
precisar de você." E assim ela fez.
No Gyokussen-Kyo, a casa, que ficara na maior desordem após a revista, foi arrumada pelos familiares
do Fundador. Entretanto, os quadros que estavam na sala de estar e na sala de visitas e os quadros
caligrafados por ele foram todos apreendidos; desde o guarda-louças até o guarda-roupa, todos os
objetos foram revistados um a um. Os documentos e todas as outras coisas que se relacionavam à
36
Omoto foram colocados numa carroça relativamente grande e levados, como provas, até a delegacia,
que ficava a uma distância irrisória dali. Na ocasião, Issai Nakajima ficou preso durante oito dias.
Logo depois que, por iniciativa própria, dissolveu a Dai Nipon Kannon Kai, o Fundador recebeu a
notificação da proibição da prática de tratamentos, ficando, assim, com as suas rendas totalmente
cortadas. As sucessivas dívidas que acumulara desde 1919 ainda estavam sendo pagas e ele tinha muitos
dedicantes para sustentar, de modo que o futuro se apresentava sombrio. Sem outra alternativa, vendeu
o Shofu-So, onde funcionava a Filial Omori, empregando nas despesas diárias os 6 mil ienes que
recebeu.
Na época, Shinjiro Okaniwa, que era o Responsável daquela filial, não tinha paz de espírito. Ele sabia
que podia ser preso a qualquer momento, pois, no dia 10 de agosto, quando a residência do Fundador
foi revistada, um dos policiais da delegacia de Tamagawa Ihe havia dito: "Em breve, você e Inoue
também serão chamados; portanto, fiquem preparados.” Além disso, depois da venda do Shofu-So, a
Filial Omori foi fechada e ele teve de mudar-se para o Gyokussen-Kyo, não tendo outra alternativa
senão trabalhar em serviços diversos, como cuidar do jardim, por exemplo.
Os demais terapeutas também estavam na mesma situação. Nada podiam fazer abertamente. A única
exceção era Takeuti, de Morioka, que, aproveitando-se de sua posição de médico e sob o nome
"Tratamento de Digitopuntura no Estilo Takeuti", instalou em sua casa uma clínica de tratamento pela
"Terapia Japonesa", podendo desenvolver intensas atividades. Como já foi mencionado, ele expandiu o
Johrei com a ajuda dos terapeutas de Tóquio, que receberam excelente formação do Fundador. As
pessoas enviadas para auxiliá-lo, mais tarde se dispersaram pelas diversas regiões do nordeste do Japão
e foram ampliando o círculo da salvação através do Johrei.

3. A OBRA DIVINA SOB PRESSÃO

a) A KANNON HYAPUKU KAI (Associação dos Cem Kannon) E O FUJIMI-TEI


(Solar de Contemplação do Monte Fuji)
A partir de agosto de 1936, o Gyokussen-Kyo teve o seu nome mudado para Hozan-So (Solar da
Montanha Preciosa). Por trás desse fato percebe-se a intenção de eliminar o aspecto religioso da
instituição até mesmo no que se refere ao nome da sede. Entretanto, sem outra alternativa, ia-se
caminhando para a Segunda Guerra Mundial. Até maio de 1944, período agitado em que o obscuro
mundo entrava num clima turbulento de guerra, o Solar da Montanha Preciosa continuou sendo, para
os fiéis existentes nos vários pontos do país, o lugar da esperança, a fonte de alegria, tornando-se o
baluarte de seus corações, como a única luz a iluminar o mundo de trevas em que estavam vivendo.
Em setembro de 1936, pouco depois do "Caso Omiya", foi instituída, no Solar da Montanha Preciosa,
uma associação com o nome de Kannon Hyapuku Kai. No seu estatuto, consta o seguinte:
"Por serem as imagens de Kannon, pintadas com o máximo cuidado pelo Fundador, diferentes das
imagens pintadas pelos artistas e possuírem uma elegância altiva e delicada, não encontrada na
atualidade, ele recebeu muitos pedidos, mas, infelizmente, até o momento não foi possível atendê-los;
fato inevitável, porque o Mestre não dispunha de tempo.
Agora, tendo conseguido tempo disponível, o Fundador irá se empenhar na confecção de cem
imagens de Kannon, desejo que vem acalentando há longos anos. Tratando-se de obras confeccionadas
com todo o amor, nem é preciso falar sobre a excelência de suas qualidades, devendo ser preservadas
para as gerações futuras como tesouro de família. Acreditamos que uma oportunidade como esta jamais
se repetirá. Portanto, façam o seu pedido o quanto antes."
As imagens de Kannon foram desenhadas em papéis de aproximadamente 45 ou 67 cm de largura, e
foram vendidas a 50 ienes cada uma. Hoje, restam-nos pouco mais de dez, entre as quais a de Itiyo
Kannon, Dharma Kannon e Narihira Kannon, todas elas possuidoras de muita delicadeza, harmonia e
elegância, qualidades que, somadas ao colorido suave e às linhas expansivas e belas, transportam
aqueles que apreciam essas imagens ao estado de máxima felicidade.
A Kannon Hyapuku Kai foi um meio do qual se valeu o Fundador, que tivera as suas atividades
interrompidas, para, através da pintura de obras de arte, outorgar imagens de Kannon. Como o seu
nome indica, estava prevista a distribuição de cem imagens. (N.T.: O ideograma “hyaku”, que compõe a
palavra “Hyapuku”, significa “cem”)

37
Nesse período logo após os acontecimentos de Omiya e Tamagawa, muitos fiéis vacilavam, e a
distribuição não podia ser feita conforme se desejava. Entretanto, havia pessoas convictas que
continuaram ao lado do Fundador e receberam as imagens coloridas, de elevado teor artístico, como
objeto de fé. Assim, não obstante a época rigorosa, as imagens de Kannon pintadas por ele com todo
amor serviam de apoio e davam grande força e esperança às pessoas, que não se cansavam de venerar o
Mestre, sem se importar com o perigo que corriam.
Mas voltemos ao período que antecedeu a pressão ocorrida em 1936.
O número de dedicantes aumentava, assim como também era cada dia maior o número de
pessoas que vinham em busca do Johrei; além disso, muitos doentes se hospedavam no Hozan-So, que já
estava se tornando pequeno demais. Então, o Fundador teve a idéia de construir uma moradia
particular. Tendo resolvido edificá-la na parte sudoeste do Hozan-So, chamou um carpinteiro e deu-lhe
as instruções. Logo depois, por causa da pressão que sofreu, ele ficou em dificuldades financeiras, mas,
graças à ajuda de Rei, tia e mãe de criação de Yoshi, a obra foi iniciada no dia 5 de julho, ficando
concluída três meses depois, nos meados de outubro.

Figura

Aspecto externo do Fujimi-Tei, construído com a frente voltada para o oeste, para se ter um bom
panorama

A nova residência tinha aproximadamente 54 m2 , possuindo três compartimentos respectivamente com


16,2 m2, 9,72 m2 e 3,24 m2, "hall" de entrada e cozinha. Era uma casa bem pequena, mas foi
construída voltada para o oeste, de modo que, de seu interior, se pudesse ver o Monte Fuji; por essa
razão, recebeu o nome de Fujimi-Tei, ou seja, o Solar da Contemplação do Monte Fuji. No dia 15 de
outubro, encontramos o seguinte poema registrado no diário do Fundador:

"A partir de hoje


Passamos a morar
No Fujimi-Tei.
O final do dia
foi muito atarefado. "
Figura

O Fundador pintando imagens de Kannon no Fujimi-Tei

Desde que fundara a Igreja, por diversas vezes, o Fundador havia reformado e ampliado casas, mas
aquela era a primeira que ele construía. Além do mais, na época do Hozan-So, em que se edificaram os
alicerces da Igreja, o Fujimi-Tei foi o lugar onde ele viveu durante quase dez anos.
Valorizando o silêncio que ali reinava, o Fundador passou a fazer, nessa casa, as caligrafias a pincel e a
escrever os Ensinamentos. Sob a rigorosa vigilância das autoridades, o Fujimi-Tei adquiriu um
importante significado na Obra Divina, por sua localização nos fundos do terreno, o que o transformava
num ótimo lugar para as conversas com os discípulos.
Na época, existia no Hozan-So um grande número de árvores, entre as quais, enormes cerejeiras. O
jardim, onde havia um lago, era um lugar aprazível para as brincadeiras das crianças. A Terceira Líder
Espiritual da Igreja, Itsuki Okada, que ali passou sua infância, lembra aquela época:
"Em volta do lago, havia grandes ameixeiras e para ali também pendiam muitas árvores do vizinho.
Eram árvores grudadas umas nas outras, de modo que o local estava sempre escuro e úmido. Os ovos
de sapo enchiam a borda do lago, que, além de ser o paraíso das crianças, era também o habitat de
insetos e larvas.
Pensando agora, acho estranho que Meishu-Sama (12), a quem agradavam os ambientes alegres e claros,
tenha deixado aquele lugar quase como era, sem modificá-lo muito. Fico imaginando que talvez ele o
tenha deixado assim porque Nidai-Sama (13) gostava das coisas ao natural e ele não tivera outra
alternativa, diante da sua relutância um tanto persistente.

- Nome de respeito do Fundador.


(12)

- Nome de respeito de Yoshi, segunda esposa do Fundador, que, após a ascensão deste, tornou-se a Segunda
(13)

Líder Espiritual da Igreja Messiânica Mundial.


38
Do lago saíam dois caminhos. Subindo-se o do lado esquerdo, chegava-se bem em frente ao Fujimi-Tei,
onde Meishu-Sama residia. Daí, voltando-se os olhos para o oeste, via-se o céu abrir-se amplamente e,
bem na linha do horizonte, avistavam-se plantações verdes, canais de irrigação e casas rústicas; dali se
espalhavam atalhos, de onde às vezes subia poeira e, mais adiante, o Rio Tama corria brilhando. Do
outro lado do rio, via-se a cidade de Kawasaki, e, nos dias de céu límpido, podia-se distinguir, de forma
bem nítida, a Cordilheira Tanzawa, os Alpes Japoneses e o Monte Fuji.
Meishu-Sama sempre se deleitara com essa paisagem e, para poder apreciá-la, construiu o Fujimi-Tei
voltado para o oeste. No verão, ele passava apuros com o forte sol que ressecava quase tudo; no
inverno, ficava tremendo com o gelado vento noroeste, que chegava a fazer barras de gelo nas bordas
do telhado e entrava pelas frestas da janela. Apesar disso, não ia para a casa principal. Amava o Fujimi-
Tei e ali permanecia.
No entardecer dos dias ensolarados, quando um ar meio preguiçoso começa a envolver a cidade e as
vilas situadas lá embaixo, as montanhas em frente, repentinamente, têm os seus traços realçados pelo
pôr-do-sol, mostrando uma alegre vivacidade. Então o céu, que há pouco ainda estava esbranquiçado,
vai ficando dourado; quando já o está por completo, até as nuvens, que não tinham nada de especial,
passam a brilhar, tomando um formato arredondado e, ofuscadas pela sua roupagem folheada de ouro,
começam a dominar o firmamento. Na hora em que isso acontece, a Terra, respirando baixinho, nada
pode fazer senão ficar assistindo a essa breve comemoração celeste.

Figura

Poema e desenho do Fundador:


"O Fuji / Na manhã de Ano Novo, l Visto do Gyokussen-Kyo"

Que surpresa e alegria Meishu-Sama sentiu ao ver pela primeira vez o Hozan-So. . . Quanto empenho
ele fez para adquiri-lo dando uma entrada que não chegava nem a um décimo do preço total. . . Acho
que entendo seus sentimentos. Um local tão maravilhoso como esse, creio eu, não se consegue encontrar
em parte alguma de Tóquio. Assim, meu coração chega a doer quando penso na sua tristeza ao vender o
Hozan-So, embora o estivesse fazendo para adquirir o Pote de Glicínias (14)”. É considerada Tesouro
Nacional do Japão e pertence à Igreja Messiânica Mundial.

Figura

Poema escrito pelo próprio punho do Fundador:

"O luar, a neve, as flores


O bordo, o pico do Fuji. . . /
Não me canso de apreciar
A paisagem do Gyokussen-Kyo: "

O Fundador, que, possuindo aguçada sensibilidade religiosa, compenetrava-se na paisagem natural e


sentia-se totalmente envolvido em sua atmosfera de silêncio e tranqüilidade, viria, mais tarde, a
transformar em Solo Sagrado um lugar pitoresco, muito mais próximo do Fuji, que dali podia ser
apreciado entre tantos outros aspectos da natureza. Podemos dizer que sua afinidade com esse monte
sagrado já começava a nascer em seu íntimo naquela época.

b) O REINÍCIO DAS ATIVIDADES DE TRATAMENTO

No outono de 1936, o médico Keijiro Takeuti, que, tendo voltado para Morioka, sua terra natal,
colaborava com a Obra Divina, apresentou a Otomatsu Araya o General de Exército Saburo Yassumi, o
(14)
- Peça de cerâmica confeccionada por Ninsei Nonomura no início da Era Edo (1603 - 1867)
39
qual Ihe pedira para curar a doença de sua filha. Araya, sentindo que havia algum mistério no fato de
uma pessoa tão importante vir em busca de auxílio, disse-lhe que fosse procurar o Fundador. Yassumi
imediatamente foi ao Hozan-So com a esposa e a filha. A partir do dia seguinte, a menina, acompanhada
da mãe, passou a ir lá diariamente, e seu estado de saúde foi melhorando pouco a pouco.
Entretanto, o caso chegou ao conhecimento da polícia, e a senhora Yassumi teve de fazer um relatório
por escrito. O marido, que presenciava a melhora gradativa da criança, ficou indignado e, recorrendo à
Secretaria de Saúde do Ministério dos Negócios Internos, ao Superintendente Geral da Polícia
Metropolitana e a outras autoridades, empenhou-se intensamente em anular a ordem de proibição de
tratamento recebida pelo Fundador. No dia 22 de outubro de 1937, graças também à ajuda de Tago
Itimin, amigo de Yassumi, que tempos depois se tornou Ministro da Agricultura, essa ordem foi anulada.

"Finalmente,
Passado pouco mais de um ano,
A longa proibição de tratamento
Foi anulada. "

Assim, depois de um ano e três meses, o Fundador pôde praticar livremente os tratamentos. Entretanto,
talvez para determinar os meios de controle, a polícia exigiu-lhe que se definisse entre a religião e o
tratamento. Decidido a prosseguir com este último, ele reiniciou suas atividades sob o nome de
"Tratamento de Digitopuntura no Estilo Okada". Na ocasião, quase todos os membros da Dai Nipon
Kannon Kai estavam afastados, e por isso podemos dizer que ele partiu da estaca zero.

c) BUSCANDO A LUZ

Liberada a prática de tratamento, o Fundador esforçava-se ao máximo para recuperar o espaço


de um ano e três meses que ficara em branco. Nessa época, tornou-se fiel Sossai Shibui, cujo nome de
registro era Sossaburo e que, mais tarde, tornou-se Presidente do Conselho Administrativo da Nipon
Kannon Kyodan (Igreja Kannon do Japão). Shibui nasceu em 1886 e era natural de Kita Saitama, no
Estado de Saitama. Foi jovem para Tóquio, tornando-se administrador de uma loja de roupas. Na
ocasião em que se tornou fiel, possuía uma grande loja em Tsunohazu, próximo à estação ferroviária de
Shinjuku, e era um dos diretores da entidade religiosa chamada Guedatsu Kai. Foi apresentado a Issai
Nakajima por um parente seu que havia sido salvo através do Johrei e, por intermédio daquele, recebeu
Johrei do Fundador em novembro de 1937, tornando-se fiel em março do ano seguinte.
O primeiro encontro de Shibui com o Fundador ocorreu numa sala onde estavam presentes dez pessoas,
entre membros antigos e novos. Depois do encontro, o Mestre chamou Motokiti Inoue e perguntou-lhe:
"Como é aquele senhor gordo que veio hoje pela primeira vez?" Pelo fato de nunca o ter visto antes,
Inoue não sabia o que responder. Então, o Fundador disse: "Ele é uma pessoa de grande inteligência,
que será muito útil no futuro." Essas palavras tornaram-se realidade em poucos anos.
Naquela oportunidade, Shibui sentiu-se fortemente atraído pela divina espiritualidade do Fundador e
pelo Ensinamento da Transição da Noite para o Dia, que ele lhe transmitiu. Com o passar do tempo,
acabou deixando seus negócios, que ficaram ao encargo de um funcionário, e passou a dedicar-se
exclusivamente à Obra Divina, transformando em sala de Johrei os dois cômodos do segundo andar de
sua loja. Guardando uma fé inabalável em seu interior, Shibui atraiu as pessoas com sua personalidade
serena e sua forma habilidosa de conversar; mas, sobretudo por causa do grande poder de Johrei
manifestado por ele, os milagres se sucediam e grande número de pessoas se reuniam à sua volta. O
movimento era tal, que o segundo andar já não bastava, e Shibui teve de usar também o primeiro.
Naquela época, ele chegava a ministrar mais de cento e cinqüenta Johrei por dia.
Pouco tempo depois, Shibui passou a ir à cidade de Mito, no Estado de Ibaraki. Após ministrar Johrei
até o entardecer, ele tomava um trem com destino àquela cidade, onde chegava altas horas da noite e,
assim que desembarcava, ia dar assistência às pessoas que o esperavam. Retornava para Tóquio no
primeiro trem da manhã e logo começava as atividades em sua casa. Esse dia-a-dia rigoroso prolongou-
se por meio ano. Na época, ele repousava de duas a três horas por dia, e dizem que muitas vezes não
jantava, por falta de tempo. Assim, a difusão cresceu de forma admirável, surgindo, entre as pessoas
que o ajudaram na recepção e no Johrei, muitos elementos humanos que se dedicaram à Obra Divina
como pilares da Igreja Messiânica Mundial.

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Quando se tornou fiel, Shibui vendeu duas casas que possuía no bairro de Kashiwagui, situado no
Distrito de Shinjuku, e, com a quantia obtida, fez a Oferta de Gratidão. Em 1941, por ocasião da visita
do Fundador ao antigo santuário Isse (15), em Tanba, e a outros locais, ele vendeu a casa que alugava em
Suguinami, para pagar as despesas da viagem. Do começo ao fim, ele prestou um dedicado servir ao
Fundador.
Dizem que, depois que começou a fazer difusão, Shibui treinava sorrisos diante do espelho, para dar boa
impressão às pessoas, e praticava como agir sem cerimônia, para fazer com que elas se sentissem à
vontade. É fato muito conhecido que, quando ia visitar o Fundador, ele sempre usava um avental. A esse
respeito, o próprio Shibui comenta: "Quando eu ia visitar o Fundador, tinha como norma usar um
avental em cima do quimono. Parece que achavam isso muito esquisito, pois, certo dia, um fiel me disse:
‘Para se apresentar diante de alguém importante, o lógico é a pessoa tirar o avental. Assim, ministro,
por que o senhor sempre o coloca para se apresentar a Meishu-Sama?’ E eu respondi: ‘Posso ser
Ministro para todos os senhores, mas, perante Meishu-Sama, não passo de um guri ou aprendiz.
Procuro nunca me esquecer disso. O fato de eu me apresentar a ele com avental é a expressão desse
sentimento.
No verão de 1942, por causa de problemas relativos a remédios, eu fiquei preso durante cerca de uma
semana e fui submetido a terríveis interrogatórios. Parece que, na ocasião, Meishu-Sama ficou
preocupado, pois falou: ‘Nem mesmo Shibui conseguirá suportar os interrogatórios.’ Entretanto, eu
suportei tudo de dentes cerrados e não disse nem o ME de ‘Meishu-Sama’. Por ele, eu estava disposto
até a morrer, se fosse preciso."
Motoko, segunda filha de Shibui, relembrando aquela época, nos diz: "Na ocasião, meu pai falou:
‘Meishu-Sama é o Salvador. Por ele estou disposto até a morrer na cadeia, se for necessário. Por isso,
estejam preparados.’ Em seguida, foi para a delegacia. Ainda hoje me lembro perfeitamente do quanto
me tocou aquela séria decisão de meu pai."
Shibui faleceu aos sessenta e nove anos, no dia 17 de maio de 1955, três meses após a ascensão do
Fundador.
Quando foram iniciados os tratamentos, em 1937, iam receber Johrei aproximadamente dez pessoas por
dia; em 1938, esse número elevou-se a cerca de vinte e foi aumentando cada vez mais, de modo que, no
final do ano, já eram trinta ou quarenta pessoas. Entre elas, muitas receberam Johrei do Fundador,
vivenciaram milagres e a ele se ligaram por um forte elo espiritual.
Em abril de 1939, a filha mais velha de Sakae Iwamatsu, pintor de estilo japonês,
posteriormente Responsável da Igreja Daiai, foi acometida de um mal diagnosticado como cárie no
fêmur. Os médicos disseram, então: "Ela precisa ser internada imediatamente. Se fizer o menor
movimento com a perna, será preciso amputá-la a partir da junta com o tronco." Iwamatsu,
encaminhado por Sossai Shibui, de quem há muito recebia assistência, logo no dia seguinte foi ao
Hozan-So, levando a filha. O Fundador, aproximando a palma de sua mão da criança que estava de pé
diante dele, ficou de olhos semicerrados, prendendo a respiração por alguns segundos, e, como que em
prece, ministrou-lhe Johrei durante aproximadamente dois minutos. Iwamatsu, tocado por sua
inexprimível dignidade, ficou aguardando ao lado, com grande respeito. Ouvindo o Fundador dizer:
"Pronto, ela já está curada; não precisa vir aqui outra vez", ele caiu em si e, instintivamente, fez uma
profunda reverência com a cabeça; mas no íntimo, pela rapidez com que tudo se processara, duvidou do
que acabava de escutar. Como, porém, as crianças são espontâneas, a menina, que viera carregada, pois
não podia pisar no chão, de tanta dor, saiu da sala antes do pai, de cujo pensamento ela nem sequer
desconfiava, e foi correndo para a rua.
Vivenciando esse grande milagre, nasceu em Iwamatsu uma inabalável admiração pelo Fundador.
Profundamente impressionado com a concretização do prognóstico feito por ele — "O Japão, a
Alemanha e a Itália se desentenderão com os Estados Unidos e a Inglaterra, e esse desentendimento
resultará em guerra" — ingressou na Fé em setembro de 1940, abraçando imediatamente a carreira
sacerdotal. Em 1950, tornou-se diretor da sede da Igreja e, ao mesmo tempo, diretor do Departamento
de Atividades Sociais; daí em diante, continuou a ocupar cargos importantes.
No outono de 1939, na mesma época em que Iwamatsu foi pela primeira vez ao Hozan-So, Jiro
Minoura, posteriormente Responsável das Igrejas Kofu e Seiko, que trabalhava na Casa Kinoshita,
tradicional loja de objetos de aço situada em Tóquio, caiu numa prostração nervosa por excesso de
trabalho. Além dele, que era fraco por natureza, sua esposa e seus filhos também não gozavam de muita
saúde, de modo que a família toda estava freqüentando o hospital. Um amigo seu, não suportando ver
essa situação, apresentou-o a Issai Nakajima.

(15)
- Nome popular do Santuário Kotai, localizado no Estado de Quioto.
41
Sentindo-se muito bem logo ao primeiro Johrei, imediatamente Minoura desejou tornar-se membro e,
no Hozan-So, fez o curso de uma semana ministrado pelo Fundador. No talismã da época, estava
escrito: "Poder Kannon de Tratamento".
Logo depois que Minoura se tornou fiel, sua filha mais velha contraiu escarlatina e ele a levou
para repousar no Templo Shinko-ji, de Akabane, em Tóquio, dirigido por seu cunhado, Nobumassa
Takato, que, na época, era bonzo da Religião Shingon e, posteriormente, veio a ser o Responsável da
Igreja Showa. A seguir, chamou Issai Nakajima. Em menos de uma hora, ocorreu um grande milagre: as
feridas que se espalhavam por todo o corpo da criança, foram secando até ficarem reduzidas a farelo, e
desapareceram sem deixar nenhum vestígio; ao mesmo tempo, a febre baixou, os olhos recobraram o
brilho, e a menina sentiu fome.
Presenciando esse milagre e melhorando, ainda, da apendicite crônica da qual era portador, Takato
tornou-se membro naquele mesmo outono. Ele ficara encantado pela maneira extremamente delicada
com que o Fundador falava e procedia e, por outro lado, por seu porte austero. Diante da rapidez com
que o Mestre respondia às mais variadas perguntas, vencendo qualquer dificuldade, Takato perdeu o
orgulho que tinha, até então, de ser um grande religioso e sentiu nascer dentro de si um grande desejo
de segui-lo. Assim que se tornou fiel, começou a ministrar Johrei e, diante dos sucessivos milagres
ocorridos, começaram a vir muitas pessoas. Então, em abril de 1940, ele entrou para a carreira
missionária, transformando o Templo Shinko-ji em local de tratamento. Em junho desse ano, Minoura
também entrou para a carreira sacerdotal. Takato faleceu no dia 11 de novembro de 1974, aos sessenta
e nove anos incompletos, e o cunhado, no dia 14 de abril de 1978, com quase setenta e cinco.
Hidejiro Kobayashi, cujo nome de registro era Jiro Kura e que posteriormente foi Responsável da
Igreja Meissei, exercia o cargo de gerente da filial de uma companhia de seguros situada na cidade de
Hiratsuka, no Estado de Kanagawa. Era primo de Takato, mas não acreditava nos milagres narrados
por este e por outras pessoas. Devido a essa característica de não se deixar levar por ninguém, foi
visitar o Fundador com a seguinte intenção: "Vou até a origem, para desmascarar esse falso método de
tratamento." Entretanto, depois de ir ao Hozan-So por três dias, Kobayashi acabou abaixando a cabeça
para o Mestre e se tornou membro em maio de 1940. Dedicou-se com muita devoção, acatando
obedientemente as francas palavras do Fundador: "Você possui muitas máculas; por isso, precisa salvar
as pessoas, para somar méritos; caso contrário, não terá morte natural." Desde então, abandonando
tudo o mais, ele passou a segui-lo e a se dedicar à Obra Divina. Veio a falecer no dia 19 de dezembro de
1953, aos cinqüenta e cinco anos de idade.
Em julho de 1940, Teruko Horiuti, posteriormente Responsável da Igreja Shomei, e Naoko Hiramoto,
que veio a ser Responsável da Igreja Hikari no Miti, também se tornaram membros. Teruko era natural
do Estado de Yamanashi e casou-se com Morei Horiuti, que, mais tarde, tornou-se Vice-Almirante da
Marinha. Ela contraiu tuberculose intestinal, chegando a ser desenganada pelos médicos. Na ocasião,
guiada por sua vizinha Kie, esposa do então Capitão da Marinha Sokiti Nonoyama, foi ao Hozan-So,
onde ouviu do Fundador as seguintes palavras: "Não sei se o seu físico vai suportar. Caso vier a sair nos
jornais que você recebeu Johrei e morreu, muita gente deixará de ser salva. Ora, a vida de um grande
número de pessoas é muito mais importante que a vida de uma só. Por isso, recuso-me a tratá-la." Essas
palavras, ao contrário do que se poderia esperar, emocionaram Teruko profundamente. Tocada pelo
grande amor que elas encerravam, prometeu que nada seria publicado, mesmo que ela viesse a morrer.
Desse dia em diante, Teruko passou a freqüentar o Hozan-So. Talvez graças à sua atitude, foi pouco a
pouco melhorando e logo ficou totalmente restabelecida. Mais tarde, juntamente com a senhora
Nonoyama, que lhe apresentara o Fundador, expandiu os Ensinamentos deste entre militares, políticos e
componentes da família imperial, ministrou-lhes Johrei e encaminhou muitas pessoas à fé. Apesar de ter
sido desenganada pelos médicos, ela dedicou na Obra Divina durante quatro décadas, falecendo no dia
1o. de novembro de 1980, depois de cumprir uma vida de oitenta anos.
Quando Teruko estava recebendo as aulas no Hozan-So, uma senhora, carregando nos braços uma
criança pequena, foi procurar o Fundador no maior desespero. Era Naoko Hiramoto, residente no
Estado de Kanagawa. A criança, chamada Tiyoko, era sua filha mais velha, de três anos de idade; desde
aquela manhã, vomitava seguidamente, tendo começado a agonizar. Com a intuição de que se tratava de
cólera infantil, Hiramoto pegou a menina às pressas, de pijama mesmo, e foi correndo até o Hozan-So.
Como seu filho mais velho, atacado de meningite, havia sido salvo pelo Fundador, ela achou que só a
este poderia recorrer.
A criança estava como morta: os olhos cerrados, o corpo gelado e a respiração quase imperceptível.
Percebendo a gravidade do caso num relance de olhos, o Fundador disse: "Não é aqui que deveria
trazê-la." Desesperada, Hiramoto gritou: "O senhor não me falou que viesse a qualquer hora, quando
estivesse em apuros?" E colocou a menina diante dele. Compreendendo que a senhora estava muito
42
nervosa, o Fundador não a recriminou. Tirou rapidamente o "haori" (16) e, calado, estendeu as mãos em
direção da criança, que estava prostrada. Depois, deixou um dos braços de fora do quimono e,
concentrando-se mais, continuou a ministrar Johrei. Dizem que ele ficou assim durante mais ou menos
vinte minutos. Ao fim desse tempo, a menina abriu os olhos e balbuciou: "Mamãe, mamãe"; em seguida,
levantou-se e, sorrindo, abraçou sua mãe. Hiramoto, muito contente, pôs-se a chorar em voz alta. O
Fundador, que também ficou muito feliz, comentou: "Eu ficaria em má situação se essa criança
morresse aqui, sabe? Se a senhora tivesse demorado um pouco mais, teria sido tarde." Dizendo isso,
deu uma tragada gostosa no cigarro.
Como mencionamos anteriormente, Hiramoto tornou-se membro naquele mesmo mês. Um vizinho seu,
que ficou sabendo do milagre que lhe acontecera, começou a receber Johrei com ela e também recebeu
um grande milagre. Daí por diante, todos os dias, Hiramoto ministrava Johrei num grande número de
pessoas.
No dia 23 de novembro daquele ano, quando Hiramoto chegou ao Hozan-So, o Fundador, sem nenhum
motivo aparente, lhe disse: "Eu vou parar de ministrar Johrei. De agora em diante vocês é que irão
fazê-lo. Por isso, venham aqui todos os dias. Vou Ihes ensinar muitas coisas." No dia 28, ele foi preso
pela delegacia de Tamagawa, por suspeita de estar infringindo as leis da medicina. Vemos, pois, que,
cinco dias antes do fato acontecer, o Mestre já previra a intervenção das autoridades policiais.
Hiramoto abraçou a carreira sacerdotal em abril de 1941. Na ocasião, perguntando ao Fundador com
que sentimento se deveria fazer difusão, ele lhe ensinou três pontos: "Salve as pessoas esquecendo-se de
dormir e de comer"; "Gratidão é para se ter e não para se fazer as pessoas terem"; "Tudo deve ser
feito em conjunto comigo". A partir daí, Hiramoto entregou-se completamente à difusão, tendo essas
palavras como credo. Um ano e quatro meses depois, em agosto, obedecendo à ordem do Fundador,
deixou a terra em que nascera e crescera, e partiu sozinha, apenas com os seus dois filhos pequenos,
para a longínqua cidade de Hagui, no Estado de Yamaguti, localizado no extremo oeste da Ilha Honshu.
O que sustentava esse seu sentimento era unicamente a fé absoluta que depositava no Fundador.
Eiti Inagawa, que estudou biologia e era cristão fervoroso, sofria de asma desde criança. Apesar de ter
recorrido à medicina ocidental, à medicina chinesa, à acupuntura e à moxa, não ficara curado, sofrendo
há mais de dez anos. Em 1941, recebendo Johrei por incentivo de um conhecido, ficou admirado com a
sensação de bem-estar que nunca havia provado até então e, imediatamente, tornou-se fiel, sob os
cuidados de Issai Nakajima. Depois, abandonando a fé cristã e também o seu cargo de professor de
ginásio, abraçou a carreira missionária.
Suas crises de asma continuaram, mas toda vez que elas ocorriam, ele era abençoado com a
oportunidade de hospedar-se no Hozan-So, em Tamagawa, e receber Johrei do Fundador. A respeito
dessa época, Inagawa disse:
"Para minha felicidade, recebi Johrei várias vezes com o Grande Mestre; até mesmo à noite, quando as
crises eram violentas. Nessas oportunidades, ao chegar aos seus aposentos, muitas vezes, eu o
encontrava desenhando imagens de Kannon. Aí, ele interrompia momentaneamente o desenho que
estava fazendo, e me ministrava Johrei. A propósito, embora esteja um pouco fora do assunto, o Grande
Mestre, ao desenhar imagens de Kannon, confeccionava dez unidades de cada vez. Terminado o
trabalho, estavam prontas dez imagens.
Quando as minhas crises começavam e eu ia para o Hozan-So, ajudava na construção dos jardins e na
Agricultura Natural. Recuperando a saúde, voltava a ministrar Johrei e a dar aulas em vários lugares
cuja difusão estava centralizada na cidade de Tóquio."
Inagawa formou muitos fiéis entre a elite e a classe intelectual e, mais tarde, tornou-se Responsável da
Igreja Seiko. No diário de Inoue, está registrado que, no dia 4 de fevereiro de 1944, ele levou o escritor
Eiji Yoshikawa até à presença do Fundador e, em março e abril do mesmo ano, professores da Escola de
Cadetes do Exército. Infelizmente, Inagawa faleceu com apenas trinta e três anos de idade, no dia 22 de
junho de 1947.
Teruko Nihongui, que posteriormente foi Responsável da Igreja Nipon, recebeu o talismã na clínica de
tratamento de Shibui, em Shinjuku, no mês de novembro de 1941. Ela não conseguia se mover, por
causa das cáries nos ossos, mas foi salva, quando só lhe restava esperar pela morte. Ao vê-la pela
primeira vez, Shibui, que lhe outorgou o talismã, achou que ela não iria durar muito, dada a gravidade
do seu estado. Entretanto, quando Nihongui recebeu o primeiro Johrei do Fundador, no Hozan-So, em
1942, ela sentiu que o Mestre havia alongado sua vida. Constatando que em seu abdômen havia muito
pus, o Fundador disse: "Isso é terrível. Será expelido através de um furúnculo ou então pela urina, mas
seria melhor que fosse pela urina."

(16)
- Vestimenta que corresponde ao paletó.
43
O pus foi eliminado sem virar furúnculo e sem que Nihongui percebesse. Esse milagre serviu para que
os Ensinamentos do Fundador se propagassem muito pela Região de Yokossuka. Desde que foi salva,
Nihongui dedicou-se à difusão, vindo a falecer no dia 28 de agosto de 1973, com sessenta e dois anos
incompletos.

Figura

O Fundador ministrando Johrei numa criança

Assim, entre as pessoas salvas pelo Fundador, ia aumentando, com o tempo, o número daqueles que
decidiam seguir a carreira sacerdotal. Eram pessoas desejosas de salvar outras ministrando-lhes a
maravilhosa Força Divina, para retribuir, ainda que em pequena parcela, o grande benefício que haviam
recebido. Embora fosse permitido praticar o Johrei como tratamento popular, todas elas estavam na
mesma situação do Fundador. A vigilância e o controle da polícia continuavam rigorosos, e a difusão era
feita dentro de um clima de tensão, pois as pessoas sabiam que, a qualquer momento, poderiam ser
presas.
Entre o verão e o outono de 1940, o Johrei chegou ao auge como tratamento milagroso. Inoue,
encarregado da recepção, entregava às pessoas um cartão numerado, e elas ficavam esperando pela sua
vez. Primeiramente, recebiam Johrei de um dos discípulos e, depois, do próprio Fundador. Este não
fazia discriminação entre as pessoas que atendia; tratava a todas igualmente, e não de acordo com sua
posição ou condição social. Dizem que por isso ele granjeava o respeito e a admiração de todo mundo.
Podemos afirmar que essa sua característica e o calor com que ele envolvia aqueles que o rodeavam,
contribuíram grandemente para a expansão da Igreja.
Nessa época, o Fundador costumava acordar por volta das sete horas e, depois do desjejum,
pegava a tesoura e andava pelo jardim, apanhando flores e galhos. De sua casa, dirigia-se para a sala de
Johrei, que ficava em outro prédio, e fazia uma vivificação floral no "toko-no-ma", onde estava a
Imagem de Kannon. Em seguida, começava a ministrar Johrei. Não almoçava; às quinze horas, tomava
um lanche que constava apenas de doce e chá. Terminado o Johrei, por volta de dezoito e trinta ou
dezenove horas, tomava banho e jantava. Às vinte e duas horas mais ou menos começava a caligrafar a
palavra "Komyo" ("Luz Intensa") e a confeccionar os "ohineri" (17).
Devido, porém, a esse intenso trabalho físico e espiritual, desenvolvido a cada dia, o Fundador
ia ficando visivelmente cansado. Yoshi, sua esposa, estava preocupadíssima. Ele andava tão fatigado
que, certo dia, ao entardecer, voltando para o Fujimi-Tei, tentou vencer o cansaço bebendo saquê, mas
antes, ou logo depois de tomar uma dose, ficou pálido e desmaiou, vitimado por isquemia cerebral.

4. DE MÃOS ATADAS

a) "SEGUNDO CASO TAMAGAWA"

Com o trabalho do próprio Fundador e a atuação de seus discípulos, o "Tratamento de Digitopuntura


no Estilo Okada" foi se expandindo cada vez mais, e o número de pessoas que recebiam Johrei ia
aumentando em todas as regiões. Entre o verão e o outono de 1940, especialmente no Hozan-So, a
freqüência era tão grande que se tornava necessário distribuir cartões numerados. Entretanto, mais
uma vez, isso veio a incomodar as autoridades e, por volta de outubro desse ano, reiniciaram-se as
intervenções policiais.
Exatamente nessa época o Japão caminhava às cegas para a Segunda Guerra Mundial. Em setembro de
1940, organizaram-se os chamados "Tonari Gumi" (Grupo de Vizinhos) (18), formando-se assim um
sistema através do qual as autoridades poderiam ter controle sobre toda a sociedade. Nesse mesmo mês,
formou-se a Tríplice Aliança, entre o Japão, a Alemanha e a Itália; em outubro, foi instituída a"Taissei

- Vide página 337 de "Luz do Oriente", 1o. volume.


(17)

- Organização, situada abaixo da Sociedade dos Amigos de Bairros e Vilas, que prestava auxílio aos vizinhos
(18)

durante a Segunda Guerra Mundial.


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Yokussan Kai" ("Comissão de Assessoria Política ao Governo Imperial"), que tinha como presidente o
então Primeiro-Ministro Fumimaro Konoe. Tudo isso foi fortalecendo o regime fascista no Japão.
A partir do momento em que os policiais passaram a ir com freqüência ao Hozan-So, começou a
diminuir o número de pessoas que procuravam o Fundador. Havia muitos dias em que, à tarde, não
aparecia ninguém; mesmo assim, na solitária sala de Johrei, ele continuava sentado até o anoitecer.
Através dessa atitude, podemos entender o sentimento do Mestre, que nada podia fazer contra as
persistentes pressões.
Dois meses mais tarde, no dia 28 de novembro, dois policiais apareceram repentinamente no
Hozan-So e intimaram o Fundador a acompanhá-los. Chegando à delegacia de Tamagawa, disseram-lhe
apenas: "Você infringiu as leis da Medicina, não foi?", e colocaram-no atrás das grades. Passados três
dias, o investigador começou os interrogatórios, dizendo: "Você se lembra de ter falado a um doente
que ele ficaria curado sem precisar ir ao médico, não lembra?" Pelo seu jeito, estava evidente que,
desde o início, ele tinha a intenção de induzir o Fundador a reconhecer a infração de que o acusavam.
Diante da resposta positiva, o investigador falou: "Suas palavras mostram uma total infração às leis da
Medicina". O Fundador havia contado os fatos tal qual se haviam passado, e estava tranqüilo, porque
qualquer terapeuta diria a um cliente palavras semelhantes. Então, o investigador prosseguiu: "Aos
pequenos infratores nós perdoamos, mas aqueles como você, que agem abertamente, nós consideramos
elementos nocivos à sociedade e não podemos deixar que continuem prejudicando-a." Pela atitude do
investigador, o Fundador previu que seria proibido de exercer suas atividades. Assim, antecipando a
jogada, declarou, de livre e espontânea vontade: "Se, por causa disso, eu for processado pelo crime de
infringir as leis da Medicina, ser-me-á totalmente impossível continuar com o meu trabalho. Por isso, a
partir de hoje vou abandoná-lo."
Pouco dias depois, talvez indignado por ter sido passado para trás, o delegado intimou o Fundador a
comparecer novamente à delegacia e mandou que ele fizesse esta promessa por escrito: "Pelo resto de
minha vida, jamais voltarei a praticar a terapia". Reprimindo toda a sua indignação, o Fundador
entregou, no dia 24 de dezembro, o pedido e a promessa de extinção de suas atividades.
Entretanto, isso não significou o fim das pressões e intervenções da polícia. Era freqüente um policial
ficar vigiando do lado de fora da cerca da casa. Por isso, os discípulos que se reuniam com o Fundador,
tomavam cuidado para não irritar as autoridades, evitando, por exemplo, irem à sua casa em grande
número, para não dar muito na vista. Mas, mesmo assim, as suspeitas persistiam.
Em 1940, ano em que o Fundador entregou o pedido de extinção de suas atividades, Teruko
Horiuti levou ao Hozan-So a esposa do político Fumio Goto. Ele fora Ministro dos Negócios Internos no
governo do Primeiro-Ministro Keissuke Okada e, em 1936, quando este renunciou ao cargo, por ocasião
do "Caso 2.26"; foi o seu substituto temporário.
A senhora Goto, ouvindo Horiuti e conhecendo o Fundador, quis receber Johrei. Passou, então,
a freqüentar o Hozan-So e, mesmo depois que o Mestre entregou o pedido de extinção de suas
atividades, continuou indo lá, discretamente, quase todas as noites. Um policial que há muito tempo
vinha vigiando a casa, ficou desconfiado e, certo dia, seguiu-a até a mansão onde ela morava, em
Namikibashi, perto de Shibuya. Lá, havia um guarda na entrada, e o policial pensou consigo mesmo:
"Ah! Não há dúvidas de que ela é suspeita. Até a sua casa está sendo vigiada." Então, perguntou ao
colega: "Quem é a mulher que acabou de entrar nesta casa?" Ao que ele respondeu, com um olhar
indignado: "Veja lá como você fala! Saiba que é a esposa do Ministro Fumio Goto." Assustado com essa
resposta inesperada, o policial pediu mil desculpas e foi embora de mansinho, muito temeroso.
Mas a vigilância da polícia não se limitava ao Hozan-So. Em volta dos discípulos do Fundador, que
continuavam a agir como terapeutas de digitopuntura, e das clínicas de tratamento, a mesma rede era
alçada, com menor ou maior intensidade. Os policiais, vestidos à paisana, ficavam por perto e, parando
as pessoas que saíam depois de terem recebido Johrei, interrogavam-nas; se encontrassem a mínima
brecha, intimavam o terapeuta a comparecer à delegacia e o submetiam a interrogatórios.
Sabedores de que o Fundador fora preso e declarara extintas as suas atividades, seus discípulos, que
nele depositavam absoluta fé e por ele se esforçavam dia e noite, suportando também as rigorosas
pressões das autoridades, ficaram profundamente abalados e inseguros. Desejando certificar-se da
segurança do Mestre com os seus próprios olhos, para se tranqüilizarem, e querendo, além disso,
receber as diretrizes para o futuro, eles dominaram a vacilação que facilmente ocorre nessas situações e
reuniram-se no Hozan-So, no dia 1º de dezembro de 1940, dia seguinte àquele em que o Fundador foi
posto em liberdade pela delegacia de Tamagawa.
Com uma voz que não parecia de alguém submetido a interrogatórios até a véspera, o Fundador
declarou que, a partir do dia 1º de dezembro, não mais exerceria a terapia, deixando a linha de frente
dos trabalhos ao encargo deles. Explicou-lhes, também, o significado daquela ocorrência, sobre a qual,
45
mais tarde, escreveu: "Espiritualmente, significava que eu havia subido mais um degrau, e por isso, no
íntimo, fiquei contente. Em verdade, até então, o meu trabalho estava limitado ao tratamento; em outros
termos, era trabalho corporal, como o de um soldado na frente de batalha."
Ouvindo as palavras do Mestre, dissiparam-se as nuvens que seus discípulos tinham no coração, pois
eles compreenderam que as pressões, ao invés de uma catástrofe, eram, na realidade, a Providência dos
Céus para elevar a Obra Divina a uma nova fase. Todos os presentes ficaram apreensivos ante a
grandeza da missão que estavam recebendo, mas renovaram a decisão de cumpri-la.
O Fundador gozava de grande fama entre as pessoas influentes, de modo que, embora ele tivesse
entregue o pedido de extinção de atividades, políticos, empresários, militares e pessoas de suas famílias
continuavam indo ao Hozan-So em busca de Johrei. Entre essas pessoas, estava, por exemplo, a esposa
do Almirante Nobumassa Suetsugu, além da esposa de Fumio Goto, a qual mencionamos anteriormente.
Não podendo atendê-las, por estar proibido de exercer a terapia, o Fundador desculpava-se, dizendo:
"No momento, minhas atividades estão suspensas e, por isso, não posso fazer tratamentos. Se quiserem
mesmo que eu faça, obtenham a permissão da Polícia Metropolitana e eu as atenderei a qualquer hora."
Então, essas pessoas se dirigiram àquele órgão, e como elas eram muito influentes, seus pedidos não
puderam ser recusados. Depois de muitos apuros, foi comunicado ao Fundador que entregasse o
"Pedido de Prática de Tratamento". Isso aconteceu em 1941. Assim, ele passou a ministrar Johrei, mas
a um limitado número de pessoas.
Desde então, até o fim da Segunda Guerra Mundial, entre aqueles que procuraram o Fundador
e dele receberam Johrei, figuram as seguintes pessoas: o ex-Ministro da Educação Hatissaburo Hirao;
Hideo Hiraide, que, na época, era Capitão da Marinha e se tornou muito famoso como porta-voz do
quartel general do Exército Japonês; Koiti Kawakami, Presidente do Banco Nihon Kogyo; Riken, Rigu
e outros membros da família real da Coréia. Todos eles eram pessoas muito importantes naquela época.

b) OS MILAGROSOS QUADROS DE CALIGRAFIA


Durante vários anos, desde a fundação da Igreja, o Fundador servira de modelo para a difusão; mas
agora, finalmente, já começavam a se formar muitos discípulos que, assimilando os seus Ensinamentos,
conseguiam difundi-los. Exatamente na época em que foi se organizando esse sistema, ele deixou a linha
de frente da difusão e entregou aos seus discípulos as tarefas que vinha realizando sozinho, como, por
exemplo, a ministração das aulas e a outorga dos talismãs. Passou, então, a se dedicar à caligrafia e à
formação de terapeutas.

Figura

Talismã da época, entregue com a denominação de "lembrança"

A partir daí Nakajima, Shibui e os demais discípulos outorgavam o talismã às pessoas que vinham em
busca da salvação e, em seguida, encaminhavam-nas ao Hozan-So, para fazerem a entrevista com o
Mestre.
O talismã da época era uma folha de papel onde estava escrita, em sentido horizontal, a palavra
"KOMYO", caligrafada pelo próprio Fundador; entretanto, para evitar aborrecimentos com a polícia,
ele não era entregue com essa denominação, e sim, como "lembrança".

Figura

Figura

46
Sinetes confeccionados por Matsubayashi com autorização do Fundador. No de cima, está escrito:
"Bansho Daishu"; no de baixo, "Okamo-no-In"

O Fundador, que deixara de ministrar Johrei, passou a dedicar a maior parte de seu tempo às
caligrafias no Fujimi-Tei, onde, nas tardes de verão, batia um sol tão forte que suas costas ficavam
cobertas de suor. Até ali, ele só realizava esse trabalho à noite, mas nessa época, pegava no pincel a
qualquer hora. As caligrafias que fez então, e as imagens que pintou, somaram um número bastante
elevado.
Em abril de 1941, por intermédio de Shibui, o Fundador encontrou-se pela primeira vez com o calígrafo
e confeccionista de sinetes Tenjo Matsubayashi, natural do Estado de Nagano. Na época, este ainda era
um calígrafo principiante, mas o Fundador pediu-lhe orientação sem dar importância a tal fato.
O Fundador havia aprendido pintura, mas nunca aprendera caligrafia e por isso perguntou a
Matsubayashi qual a técnica correta dessa arte, ao que ele respondeu: "Existem pessoas que só se
desenvolvem com a orientação de um professor, e outras que escrevem magnificamente sem precisar de
nenhuma orientação. Eu acho que uma pessoa como o senhor não precisa de mestre. Por mais que
alguém tenha conseguido fazer caligrafias maravilhosas, se não praticar, não progredirá. Em suma, o
melhor mestre é a prática."

Figura

"Jitsuguetsu" ("Sol e Lua")


- caligrafia feita pelo Fundador. Na época, estava pendurada na parede de um dos cômodos do Hozan-
So

Alguns anos mais tarde, numa sessão de poesia realizada no Hozan-So, Hossui Matsumoto, calígrafo e
membro da Academia de Artes, que estava presente, ao ver o quadro"Jitsuguetsu", da autoria do
Fundador, elogiou-o muito, dizendo: "Em geral, letras como as que formam as palavras ‘Jitsu’ e
‘Guetsu’ têm os traços definidos e, por isso, as pessoas não conseguem escrevê-las muito bem; mas essa
caligrafia é esplêndida." Outro membro da Academia de Artes, Tiku-u Tsutiya, que também era
estudioso da literatura chinesa, teve a oportunidade de ver a caligrafia "Kyussei", feita pelo Fundador,
e achou-a extraordinária. Tempos depois, o Mestre disse a respeito de suas próprias caligrafias:
“Algumas pessoas elogiam as minhas caligrafias, mas o que terão elas de bom? Obras realmente boas
são as do bonzo Ikyu. Nelas, não se percebe a mínima intenção de escrever bem. Seu valor está
justamente no fato de serem obras despretensiosas.”
As caligrafias do Fundador, como podemos depreender por suas palavras de profunda admiração pelas
caligrafias de Ikyu, não se prendem a padrões e regulamentos; são a manifestação do seu amor pelo belo
e do seu ardente desejo de salvar o mundo, os quais lhe afluíam do fundo da alma, e resultam de
pinceladas despretensiosas. Originariamente, elas não possuem apenas valor artístico; o principal
objetivo do Fundador, ao confeccioná-las, era salvar a humanidade, encaminhando-a ao estado de bem-
aventurança, ou seja, executar a Obra Divina de salvação do mundo. Existem muitos episódios que
confirmam esse seu propósito, mesmo antes da fundação da Igreja.
Certo dia, na casa do Fundador, ao entrar na sala onde ele entronizara a imagem do Kannon de Mil
Braços, Kiyomi, filha de Ryozo Takemura, que, nos primórdios da Igreja, foi um dos seus diretores,
teve a faculdade da visão espiritual: viu, no "toko-no-ma", um grande palácio com um belo corredor e
uma bela sala, onde, num plano um pouco mais elevado, como se fosse um palco, o Mestre estava
sentado cerimoniosamente, com trajes solenes.
Existem, ainda, muitos episódios sobre pessoas que viram a luz emanada das imagens de Kannon e das
caligrafias feitas pelo Fundador, assim como o caso de muitos que foram salvos diretamente por estas
últimas. Na época em que as atividades religiosas estavam proibidas, essas imagens e caligrafias foram
objeto de secreta idolatria, como fonte do poder de salvação.

c) SOB A FORMA DE "CONFRATERNIZAÇÃO"

No dia 23 de dezembro de 1940, o Fundador completou cinqüenta e oito anos. Em seu diário, datado
desse dia, consta o seguinte registro: "Sendo dia do meu aniversário, fomos comemorá-lo no
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Restaurante Nihon, em Higashi Nakano. Além de mim e de Yoshi, havia mais vinte e cinco pessoas. Após
o jantar comemorativo do novo sistema, cantamos e compusemos ‘kanku’ humorístico, e as vozes de
alegria se tornaram fortes."
Como podemos ver por esse registro, o Fundador denominou "novo sistema" a modificação que fizera,
deixando a linha de frente da difusão e permitindo a seus discípulos a outorga do talismã. Ele a encarou
de forma positiva, de modo que o seu jantar de aniversário teve, na verdade, o objetivo de comemorar o
início do novo sistema. Pelas suas palavras, vemos que, embora controlando suas ações por causa da
pressão das autoridades, ele tinha, no íntimo, um entusiasmo muito grande; nessas palavras, não se
percebe o mínimo de tristeza.

Figura

O primeiro jantar realizado no Restaurante Nihon. Na primeira fileira, da esquerda para direita, a
primeira pessoa é Hidejiro Kobayashi; a terceira, Kisseko Nakajima; a quarta, Yoshi; a quinta, o
Fundador, e a sexta, Issai Nakajima. Na última fileira, na mesma ordem, a terceira pessoa é Motokiti
Inoue; a sétima é Nobumassa Takato e a oitava, Jiro Minoura.

A partir desse jantar, as orientações, que eram efetuadas na casa do Fundador, reunindo os
representantes dos membros, passaram a ser feitas através de jantares promovidos pelos principais
discípulos. Ele incumbira Issai Nakajima de promover esse primeiro jantar comemorativo. Nakajima,
muito contente, logo iniciara os preparativos, começando pela procura de um local. O Fundador
decidiu-se pelo Restaurante Nihon, situado em Higashi Nakano, no Distrito de Shinjuku.
Naquele dia, fez muito frio, mas o céu estava límpido e azul; um dia muito agradável.
Às dezessete horas, quando o Fundador se sentou à mesa, Nakajima fez a saudação como representante
de todos; depois do brinde, o Mestre deu uma explicação simples sobre o significado daquela
comemoração. Em seguida, foram apresentados por Motokiti Inoue os vinte e sete poemas que o
Fundador compusera especialmente para aquele dia. Neles, estavam expressos os mais diversos
sentimentos que afluíam ao seu coração naquela época, como, por exemplo, a ira em relação às
autoridades policiais, que atrapalhavam persistentemente a Obra Divina de salvação das pessoas e do
mundo; por outro lado, ele também expressou o seu desejo de ver esse fato com amplitude, de um plano
bem mais elevado, e, ainda, as suas esperanças em relação à época de atividades que haveria de chegar.

"Estando num mundo


Onde o Bem é visto como Mal,
O que posso fazer?
Vejo-me de mãos atadas."

“Em todas as épocas,


As pessoas sinceras
Que se dedicam ao bem da sociedade,
Percorrem caminhos espinhosos."

O sobre-humano poder ocultando,


Velo silenciosamente
Por este mundo
Que vai se degradando."

“O país se preocupa
Em construir um novo mundo,
E as pessoas sofrem
Sem saber o que é servir."

“Vendo Luz
No caminho que sigo,
Em meu íntimo aflora
A fonte da esperança."

48
Como se estava em regime de guerra naquela época, os alimentos tinham começado a escassear. A partir
de 1940, uma parte do vestuário e dos alimentos passou a ser controlada pelo sistema de cupons de
racionamento; em 1941, o arroz, alimento básico, entrou no sistema de distribuição. Tratando-se de um
jantar nessas condições, não era possível conseguir-se todos os ingredientes; assim, o que faltava teve de
ser trazido pelos fiéis.
Mas as dificuldades não eram só em relação à comida. O aquecimento era muito precário e, exceto no
lugar do Fundador e de sua esposa, não obstante estar-se em pleno inverno, só havia, nos braseiros, um
fino e longo carvão artificial, feito de pó de carvão mineral, devido à falta de carvão vegetal, e que nem
dava para esquentar as mãos. Todos, tremendo de frio, brindaram pelo aniversário do Fundador e,
depois, começaram a compor "kanku" humorístico. Estavam na maior alegria, por poderem receber os
seus ensinamentos nessa ocasião.
Assim que os participantes entraram no salão e ocuparam os seus lugares, a luz apagara. Voltou pouco
depois, mas apagou de novo por diversas vezes e, em todas elas, a comemoração foi interrompida. Para
as pessoas presentes, esse fenômeno, ligado à situação aflitiva da época, parecia simbolizar o destino do
Japão dali em diante.
A partir da comemoração de aniversário realizada no Restaurante Nihon, a orientação e os diálogos
através de jantares passaram a ser efetuados periodicamente, com a participação do Fundador, dos seus
discípulos e de outros membros. O controle ideológico tornava-se cada vez mais rigoroso e fora
proibido fazer reuniões. Nesse tempo, evitava-se reunir muitas pessoas no Hozan-So. Como era perigoso
o Fundador falar perante grande número de discípulos naquele local, os diretores, promovendo
jantares, criaram oportunidades para ouvirem os seus Ensinamentos com tranqüilidade. Na época, os
Ensinamentos impressos eram muito limitados, de modo que cada palavra dita pelo Fundador era uma
diretriz e uma salvação que não se trocavam por nada deste mundo.

Figura

Cerimônia de instituição do Grupo Toko. Na primeira fileira, a quinta pessoa da esquerda para a direita
é Takuji Moriyama; a seguir, Yoshi, o Fundador e Motokiti Inoue

Assim, formaram-se grupos cujos líderes eram os principais dirigentes. Convidando o Fundador, eles
promoviam os jantares. Havia cinco grupos:

Grupo Toitsu (posteriormente denominado Grupo Tengoku)


Responsável: Issai Nakajima
Grupo Outi (posteriormente denominado Grupo Hinode e, depois, Grupo Miroku)
Responsável: Sossai Shibui
Grupo Daiwa
Responsável : Takao Sakai
Grupo Toko
Responsável: Takuji Moriyama
Grupo Shinshin
Responsável : Otomatsu Araya.

Mais ou menos na mesma época, tornou-se um hábito convidar o Fundador não apenas para
jantares, mas também para assistir a sessões de cinema. Ele disse que, no seu tempo de empresário
cinematográfico, vivia muito atarefado, pois tinha de deslocar-se para vários lugares, toda vez que um
filme entrava em cartaz; mas depois de seu ingresso na vida religiosa — acrescentou ele — passara dez
anos sem ir ao cinema. Em abril de 1937, vinte e sete meses após a fundação da Igreja, assistiu a uma
película épica intitulada "Ossaka Natsu-no-Jin" ("A Batalha de Verão em Ossaka"). Daí por diante,
voltou a freqüentar as salas de projeção. Depois que obteve permissão de praticar novamente a terapia,
o Fundador passou a ir ao cinema nos dias de folga; a partir do "Segundo Caso Tamagawa", em 1940,
por ter mais disponibilidade de tempo, tornou-se ainda mais assíduo. Entre 1941 e 1943, viu muitos
filmes, entre os quais "Sob o Céu de Paris" e "Mimosa Kan", que ainda hoje são muito conhecidos.
Os jantares, em Tóquio, seguidos de sessões cinematográficas, continuaram até o início de 1944, quando
o Fundador se mudou para Hakone. Os restaurantes mais freqüentados foram: em Shiba, o Koyo-Kan e
o Hotel Imperial; em Ueno, o Seiyo-Ken, o Takara-Tei e o Hoshigaoka-Saryo; em Meguro, o Gajo-En, o
Daitoa-Kaikan e o Ritsu; em Marunouti, o Tyuo-Tei; em Shinjuku, o Tokio-Kaikan; em Yokohama, o
Itiraku, o Heian-Ro e o Kairaku-En.
49
Mitiko, a filha mais velha do Fundador, muitas vezes acompanhava os pais. Esses jantares, nos quais
havia palestras e orientações religiosas, constituíam também um local de diversão, onde, num ambiente
sereno, era possível conversar de perto com o Fundador enquanto se comia.
A cada ano, porém, o problema dos alimentos ficava mais sério, tornando-se difícil a aquisição de
ingredientes para o preparo dos jantares. Por isso, eles passaram a ser cedidos pelo "Suiko-Sha", o
clube dos oficiais da Marinha; e os fiéis, no caso da carne de frango, por exemplo, mandavam o frango
de suas casas. Assim, graças a dedicações sinceras, os jantares puderam continuar.
A essa fé tão sincera dos membros, o Fundador também correspondia com muito amor. Conta-se o
seguinte episódio:
Estava programado, para o dia 22 de julho de 1941, um jantar promovido pelo Grupo Outi, na
Hospedaria Iwamoto-Ro, localizada em Katasse, um lugar à beira-mar, de frente para a Ilha Eno. Nesse
dia, entretanto, por infelicidade, um furacão vinha se aproximando da Região Kanto, e o temporal
iniciado no dia anterior não mostrava o menor indício de cessar; muito pelo contrário, ficava cada vez
mais forte. Diante disso, o Fundador perguntou a Shibui, responsável por aquele grupo, se não achava
melhor transferir o jantar para outro dia, mas ele argumentou que os fiéis que moravam mais longe já
haviam saído de casa e que todos queriam participar da reunião custasse o que custasse. Pediu, então,
ao Fundador que pelo menos fosse fazer a palestra. Diante dessas palavras, o Mestre entrou no carro
que viera apanhá-lo e partiu, debaixo do forte temporal.
O mar, em Katasse estava muito violento; entre as pessoas que moravam nas suas proximidades,
algumas estavam se preparando para deixar o local. A Hospedaria Iwamoto-Ro, esperando pelo
furacão, mantinha as venezianas fechadas. Apesar da violência do temporal, todos aqueles que iam
participar do jantar encontravam-se lá. Alguns chegaram completamente molhados, por terem perdido
o guarda-chuva com o vendaval. Em Katasse, além do grupo, não havia nem sombra de turistas, de
modo que a hospedaria parecia exclusivamente deles.
A reunião começou, e o Fundador, no início de sua palestra, falou: "O momento atual não é nada
tranqüilo. Sinto que o temporal de hoje é uma amostra disso. Os que aqui se acham reunidos são
pessoas que ficaram curadas de suas doenças e, por essa razão, têm grande vontade de salvar aqueles
que sofrem por males físicos. Assim, precisam ficar sabendo, profunda e minuciosamente, por que o
nosso tratamento cura as doenças, de modo que eu vou procurar explicá-lo da forma mais clara
possivel."
Assim se posicionando, o Fundador falou sobre a relação entre a doença e o Johrei, focalizando os
aspectos espiritual e material.

Figura

O jantar realizado na Hospedaria Iwamoto-Ro, em plena ocorrência do furacão. Na primeira fileira, a


terceira pessoa da esquerda para a direita é Sossai Shibui; a seguir, Yoshi, o Fundador e Motokiti Inoue

Em seqüência à palestra, o jantar realizou-se conforme estava programado, e a reunião terminou sem
nenhum problema. Então, o Fundador saiu novamente pelo temporal adentro, tomando o caminho de
volta ao Hozan-So. A chuva estava ainda mais forte do que na ida e, à beira da estrada, que, em
diversos lugares, parecia o leito de um rio, já havia casas totalmente inundadas. Mas ele chegou ao
Hozan-So sem nenhum transtorno.

5. À ESPERA DO MOMENTO OPORTUNO

a) A VIDA NO LAR

Vivendo numa época difícil, o Fundador desenvolvia a Obra Divina sempre buscando o melhor caminho
possível, de acordo com o momento; ao mesmo tempo, como chefe da família, nunca se esquecia de dar
atenção aos seus.
Em relação aos filhos, tinha por lema ensinar o que ele próprio praticava. Entretanto, como achava que,
na educação no lar, o fundamental é dar importância à espontaneidade da criança, jamais se utilizou dos
poderes de pai para forçá-los a alguma coisa. Considerando que as crianças têm seus próprios
sentimentos, respeitava sua vontade e não se prendia a coisas pequenas. Velava pelos filhos em silêncio
50
e, se notasse algo errado, jamais deixava passar despercebido: com atitude muito rigorosa, ensinava-
lhes o caminho certo. Se eles, por exemplo, não o cumprimentavam de manhã ou à noite, repreendia-os
severamente, dizendo: "Por que é que não fazem os cumprimentos?" Conseqüentemente, o fato de criá-
los à vontade, não significa que os criasse de forma largada. Devido ao seu intenso trabalho de salvar e
guiar grande número de pessoas, não podia relacionar-se com os filhos como geralmente os pais o fazem,
mas sempre se preocupou com o futuro deles e dava muita atenção à sua educação.
Por diversas vezes, o Fundador foi com Yoshi à Escola Imperial de Belas-Artes Tama (atual
Universidade de Arte de Tama), freqüentada por Mihomaro, seu segundo filho, para vê-lo estudando.
Como ele próprio também pintava, dava-lhe várias opiniões, que, muitas vezes, se transformavam em
severas críticas; não em relação aos desenhos e pinturas em si, mas no sentido de que o filho desse
importância ao sentimento que se deve ter ao pintar ou desenhar. Nem por isso, entretanto, permitia que
Mihomaro negligenciasse a técnica. Certo dia, ouvindo-o falar: "Não gosto de fazer cópias", o
Fundador lhe disse: "É melhor fazer cópias. Depois de treinar bastante através delas, então, faça suas
próprias criações." Por muito tempo o filho não cedeu, mas depois compreendeu que, durante os
estudos, as cópias eram muito importantes. Assim, adquiriu capacidade para se tornar independente
como pintor.
Na primavera de 1941, o Fundador pediu ao professor primário Nobuyuki Yamato que desse aulas
particulares a seus filhos. Desde o final de 1939, vez por outra, Yamato ia ao Hozan-So; naquela
primavera, foi transferido para a Escola Primária Tamagawa, situada perto dali. A partir de então,
durante aproximadamente um ano, ele deu aulas para os filhos do Fundador. Este, todo dia 21 de cada
mês, colocava as mensalidades num envelope confeccionado por ele próprio com uma folha para
caligrafia a pincel onde escrevia "Agradecimento", e entregava-o pessoalmente a Yamato. De vez em
quando, ia ver os filhos estudando; às vezes, entrava na alegre conversa travada entre eles, Yamato e
Yoshi, permanecendo em sua companhia por alguns momentos.

Figura

O Fundador e sua família, no Fujimi-Tei. Da direita para a esquerda, Mihomaro, Shigueyoshi,


Kunihiro, o Fundador, Itsuki, Yoshi, Miyako e Mitiko

Para as seis crianças, três meninos e três meninas, encabeçadas por Mitiko, a primogênita, o domingo
era um dia esperado com muita ansiedade, pois, nesse dia, ganhavam a semanada. Reunindo-as, o
Fundador tirava a bolsa de dinheiro de dentro do quimono e dava, para o menino mais velho, 20 "sen";
para menina mais velha, 15, e assim por diante. A diferença da quantia era determinada pelo sexo e pela
idade. De acordo com a situação financeira do momento, as crianças ganhavam mais ou menos; dizem
que, nas ocasiões mais difíceis, quando os filhos iam pedir-lhe dinheiro, o Fundador resmungava com
uma expressão muito dolorosa. Na época, eles não ganhavam brinquedos e, por isso, ajeitavam-se
fazendo pipas e até telescópios.
Com o passar do tempo, quando a situação financeira já estava melhor, a família reunida ia
almoçar para os lados de Guinza. Um dos filhos do Fundador lembra sua figura como pai: "De um lado,
ele era muito rigoroso; de outro, era extremamente carinhoso. No período em que moramos no Hozan-
So, costumávamos passar momentos bastante divertidos com papai e mamãe após as refeições. Quando
começava a tocar música no rádio, papai, entrando no ritmo, acompanhava-a batendo as palmas da mão
com muito humor. Cantando, por exemplo, ‘Veja, abrindo o céu do leste no mar, e o sol do amanhecer
brilhando bem alto. . .’ (19), batia na parte de cima de uma lata de chá, virava-a e batia no fundo da lata;
em seguida, colocava a lata na mesa, pegava-a de lado, virava-a novamente, colocando-a na posição
primitiva, e voltava a bater na parte de cima. Assim, dava ‘shows’ muito engraçados, fazendo com que
todos dessem gargalhadas. "
A minuciosa atenção que o Fundador tinha para com Yoshi também era algo avançado para
aquele tempo e mesmo para os dias atuais. Podemos constatar isso inclusive pelo fato de ele sempre
levá-la consigo, quando saía. A esse respeito, Yoshi disse: "Na época, era uma grande novidade marido e
mulher andarem juntos, de modo que chamávamos muita atenção. Eu achava que não estávamos
procedendo muito bem, mas Meishu-Sama não se importava. Podemos dizer que também nesse ponto
ele era moderno." Tratava-se, porém, de uma atitude natural do Fundador, que não gostava de parecer
melhor do que era.

(19)
- Trecho de uma marcha que fez sucesso na época.
51
Figura

O Fundador e Yoshi passeando por Guinza, no verão de 1940. Após esse passeio, eles foram ao cinema

O Fundador também costumava consultar a esposa em tudo que ia fazer e respeitava


profundamente sua opinião e seus sentimentos. Yoshi tinha muito boa memória e, além de uma aguçada
sensibilidade, era possuidora de extraordinário senso de beleza. Por isso, freqüentemente emitia
opiniões sobre arte ou assuntos da vida diária, jamais recuando de sua posição; às vezes, o atrito criado
entre ela e o Fundador era tão grande, que as pessoas que estavam perto ficavam tensas. Nessas
ocasiões, entretanto, repentinamente, Yoshi dizia: "Está bem, querido." Com isso, ela desfazia por
completo a tensão de momentos atrás; logo a seguir, puxava assuntos alegres, serenando o clima do
ambiente. Aí, o Fundador também lhe respondia sem oferecer qualquer resistência, de modo que o atrito
caía em total esquecimento. A rapidez com que se processava essa transformação era realmente incrível.

Figura

O Fundador e Yoshi apreciando as cerejeiras

Durante o tempo em que residiu no Hozan-So, o Fundador nunca perdeu a alegria; continuava a
ter esperanças no futuro mesmo diante dos mais duros sofrimentos. Até o momento em que, devido às
seguidas pressões das autoridades, seu caminho foi fechado antes de ter sido totalmente percorrido, ele
viveu dias tranqüilos naquele local, pintando e fazendo caligrafias, envolvido pelo perfume das flores e
pela brisa. Freqüentemente, ia passear com Yoshi pelas margens do límpido Rio Tama, levando, assim,
uma vida muito serena. Foi num desses passeios que, pela primeira vez, falou à esposa sobre os seus
planos de construir o Museu de Arte. Enquanto caminhavam, ele voltou-se para Yoshi e disse: "Preste
atenção: em breve construirei um Museu de Arte." Ela o apoiou, dizendo: "Ótimo!"; mas, no íntimo,
não conseguiu levar o assunto a sério, porque Ihe parecia impossível construir um Museu de Arte com
uma simples coleção individual. Para Yoshi, aquilo era como querer apanhar as nuvens com as mãos, e
ela até achou uma tolice. Entretanto, dez anos depois, as palavras do Fundador tornaram-se uma
realidade.

Figura

O Fundador fotografando Yoshi com seus companheiros de "nagauta" (longa canção épica)

Anos mais tarde, o Fundador escreveu: "Desde jovem gosto de dar alegria ao próximo, a ponto de isso
se tornar quase um "hobby" para mim. Sempre estou pensando no que fazer para que todos fiquem
felizes. Por exemplo, quando acordo de manhã, a primeira coisa que faço é interessar-me pelo estado de
ânimo dos meus familiares. Se houver uma só pessoa mal-humorada, já não me sinto bem." E ele não
procedia assim apenas quando tudo estava tranqüilo, mas também nas situações mais adversas.

Figura

A foto tirada pelo Fundador

Tempos depois, Yoshi disse: "Meishu-Sama estava sempre voltado para um futuro alegre, nunca
mostrando a menor sombra de tristeza. Não é que ele não tivesse nenhum problema ou preocupação;
mas a verdade é que, mesmo nesses momentos, jamais mencionava uma só palavra desagradável, o que
me faz crer que era realmente um ser celestial. É natural que uma pessoa comum reclame ou fale de seus
sofrimentos, mas Meishu-Sama não agia assim. Nesse ponto, acho que devemos seguir o seu exemplo."

52
b) AGRICULTURA NATURAL

No início da Era Showa (1926 - 1986 ), por meio da Revelação Divina, o Fundador conscientizou-se de
que a criação da nova civilização era da maior urgência e importância e que essa era a sua missão.
Baseado nesse esclarecimento, sua primeira preocupação foi criar o "Método de Saúde segundo os
Princípios Divinos". Como resultado de pesquisas efetuadas durante longo tempo, deu início ao método
do Johrei, o qual, conforme já foi dito, ele começou a divulgar no bairro de Koji, em Tóquio, a partir de
maio de 1934.
Em seguida, o Fundador passou a cuidar da criação de um novo método agrícola, segunda grande
questão. Em julho de 1935, no Curso Kannon, iniciado logo após a instituição da Dai Nipon Kannon
Kai, ele pregou os princípios fundamentais da agricultura indicada por Deus e disse que, futuramente,
viria uma época em que se colheriam produtos em abundância.
A maior parte das fazendas daquele tempo estava numa situação incalculavelmente trágica em relação
às de hoje. Os agricultores que alugavam terras alheias, tinham muitos gastos, encontrando-se num
estado de extrema pobreza. Em 1934, especialmente na região nordeste, houve grandes danos devido à
friagem, e muitos agricultores não colheram sequer para comer.
A propósito das fazendas agrícolas da época, o Fundador, pensando seriamente num meio de salvar os
agricultores, compôs estes poemas:

"Não há um dia sequer


Que os jornais não publiquem
Artigos sobre a devastação
Das terras agrícolas.
Que peso no meu coração!"

“Com a inédita
Produção baixa do arroz,
Os agricultores
Nada podem fazer,
E o vento do outono está frio. "

Figura

Galinheiro do Hozan-So. A pessoa à esquerda é Mitiaki Okaniwa

Em fevereiro de 1936, pouco depois da mudança para o Gyokussen-Kyo, que tinha um quintal bem
amplo, ficou decidido iniciar o cultivo de verduras, assim como a criação de galinhas, para obtenção de
ovos frescos. Quem ficou encarregado desse trabalho foi Mitiaki Okaniwa.
Okaniwa retirou a grama de uma extensão aproximadamente de 1000 m2, na parte nordeste da
propriedade, à beira da rua, arou a terra e fez a roça. Com a chegada do verão, começou a cultivar
berinjela, tomate, pepino etc.. Nessa época, por ter recebido a primeira ordem de proibição de
tratamentos feita pela Polícia Metropolitana, o Fundador estava numa situação financeira extremamente
apertada. Nessa difícil conjuntura, o cultivo de verduras passou, então, a ter a importante finalidade de
suprir uma parte da alimentação dele e de sua família, assim como também dos dedicantes.
No início, o cultivo foi feito pelo método comum, utilizando-se fertilizantes químicos. Entretanto, apesar
do esforço de Okaniwa, a produção de verduras e de ovos não alcançava grandes resultados. O
desenvolvimento dos produtos era fraco e, além disso, começaram a aparecer pragas. Então, o
Fundador determinou que se fizesse o cultivo sem usar qualquer tipo de adubo. Em 1939, Okaniwa
andou à procura de mudas de verduras que tivessem sido cultivadas com a menor quantidade possível
de fertilizantes e plantou-as. Os resultados foram muito bons e, embora o crescimento fosse um pouco
demorado, evidenciou-se que o sabor dos produtos era excelente e que não surgiam pragas.
Através de uma observação minuciosa desses fatos e comparando a agricultura que utiliza fertilizantes e
defensivos químicos, assim como também fertilizantes de origem humana e animal, com o cultivo que só
usa unicamente matéria orgânica vegetal, o Fundador comprovou que o erro da agricultura tradicional
é negligenciar a natureza, tal como acontece com os tratamentos médicos em relação aos seres humanos.
Ou seja, ele obteve provas concretas de que os fertilizantes químicos, os excrementos de origem humana
e animal e os defensivos agrícolas intoxicam as plantações e o solo, constituindo a causa do
53
aparecimento de pragas e doenças; verificou, ainda, que eles são prejudiciais à saúde dos homens e dos
animais domésticos. Assim, pôde constatar que o cultivo que usa apenas matéria orgânica vegetal é a
agricultura indicada por Deus.
O Fundador fez, então, pesquisas sobre a parte técnica do método concreto desse tipo de cultivo.
Experimentou, por exemplo, plantar sementes de soja sem cobri-las com terra.
Só de caírem sobre o solo, as sementes das plantas e das árvores criam raízes e brotam, desenvolvendo-
se muito bem, sem ser preciso cobri-las com terra. Essa técnica fez com que se concluísse que seria mais
natural proceder à semeadura sem cobrir as sementes com terra, apenas colocando-as nos canteiros.
Com esse procedimento, inicialmente, elas foram comidas pelos corvos, mas, depois que se tomou
cuidado para evitar isso com a utilização de redes, o seu desenvolvimento foi normal, obtendo-se uma
colheita surpreendente.
A partir de 1942, também se experimentou o cultivo do arroz em campo alagado sem o uso de
fertilizantes, utilizando-se, para as pesquisas, o brejo que ficava à beira do lago existente na parte baixa
do declive do Hozan-So. Mais tarde, esse lugar foi aterrado, correspondendo, atualmente, à passagem
da parte sul do Lago Shobu.

Figura

Plantação de agricultura natural no terreno do Hozan-So

A partir de 1938, quando o Fundador começou a colocar empenho na atividade de mineração, Mitiaki
Okaniwa ficou responsável por ela e não pôde mais se dedicar à Agricultura Natural. Então, durante
algum tempo, a pesquisa desse método esteve nas mãos de diversos dedicantes, sob a orientação do
Fundador. Certo dia, no início de 1941, o Mestre chamou um fiel ao Fujimi-Tei e perguntou-lhe se tinha
experiência em agricultura. Diante da resposta que ele lhe deu — "Muito pouca, mas pelo menos sei
como usar a enxada" — pediu-lhe que substituísse Okaniwa naquele trabalho, dizendo: "Eu prefiro um
amador. Cuide das plantações e faça-me os relatórios."
O novo encarregado cultivou o arroz, a partir de 1942, no brejo a que nos referimos; na horta, cultivou
a berinjela, pepino e outras verduras, utilizando-se compostos naturais, como folhas caídas. Relatando
cada ocorrência ao Fundador e dele recebendo orientações, realizou um trabalho fiel e conseguiu
resultados admiráveis. Através disso, o Mestre fortaleceu a crença de que qualquer pessoa que praticar
a Agricultura Natural, despojando-se de todos os preconceitos, consegue colheitas consideráveis,
independentemente de ter ou não experiência.

Figura

O lago conserva o aspecto da época. O campo de arroz alagado ficava na parte sul, no lado direito da
foto, onde está a passagem

Durante vários anos, o Fundador continuou a pesquisa e a experiência do novo método agrícola
com diversos tipos de produtos: flores, frutas, verduras, arroz, trigo e até soja. E não deixou o trabalho
unicamente ao encargo dos dedicantes; às vezes, ele próprio pegava na pá e ficava todo sujo de terra.
Preocupava-se em verificar a maciez do solo, a forma com que os produtos se desenvolviam e outros
detalhes. No início, Yoshi nada percebera, mas, com o passar do tempo, começou a sentir que havia
alguma intenção especial na atitude do Fundador, que, diariamente, empenhava-se com entusiasmo no
controle da horta e do jardim. Foi durante uma refeição que ela soube dos seus verdadeiros propósitos,
quando, ele, provando a comida que estava na mesa, disse palavras de orgulho: "Isso foi plantado sem
fertilizantes. O que acham? Não é gostoso?"

Figura

O Fundador, junto à plantação de milho, no jardim do Hozan-So

O arroz e as verduras colhidas no Hozan-So iam melhorando de qualidade a cada ano, e o Fundador
pôde comprovar o verdadeiro valor do método agrícola natural; entretanto, como, na época, os fiéis
agricultores ainda eram poucos, quase não havia quem praticasse esse método. Ocasionalmente, ele
54
recomendou o cultivo sem fertilizantes a Kanzo Wakatabe, pai de uma dedicante, o qual era agricultor
no Estado de Totigui. Ao saber que Wakatabe seguiu seu conselho e obteve bons resultados, fortaleceu
ainda mais a sua convicção.
Mais tarde, em maio de 1944, um ano antes do término da Segunda Guerra Mundial, quando se
mudou para Gora, em Hakone, o Fundador adquiriu um terreno vizinho à sua casa e continuou as
experiências com o cultivo sem fertilizantes. O terreno era cheio de pedras, tinha um solo pobre, mas as
colheitas foram excelentes, tanto na quantidade como na qualidade, e melhoravam a cada ano. Com esse
fato, foi aumentando gradativamente o número de fiéis que aderiam ao novo método.
Nos primeiros tempos da Agricultura Natural, o Hozan-So era freqüentado por um floricultor que fora
administrador da Vila Kaminogue e cuja esposa ocupava o cargo de vice-presidente da Associação
Aikoku de Senhoras, do bairro de Tamagawa. Yoshi, esposa do Fundador, também era vice-presidente
dessa associação, fundada em 1901 com o objetivo de auxiliar soldados enfermos e familiares de vítimas
de guerra. Devido a esse fato, eles eram ligados por uma relação muito íntima.
Certo dia, o floricultor levou uma muda de rosa que o Fundador lhe havia pedido e, depois de plantá-la
como de costume, ia colocar fertilizante. Nesse momento, Shibui, que passava ali por acaso, disse: "O
Grande Mestre não gosta que usem fertilizantes, sabia?" Entretanto, sob a grama, a terra era vermelha
e, por isso, segundo o floricultor, as flores sairiam pequenas caso não se colocasse adubo. Nesse
momento, o Fundador apareceu, acompanhado de Yoshi. Ainda não convencido, o floricultor perguntou-
Ihe: "Não se pode colocar adubo?" O mestre confirmou: "É isso mesmo", ao que ele, firmemente
convicto, replicou: "Então, levarei essa muda de volta. Eu sou artista de jardinagem; se derem flores
pequenas, quem não vai gostar sou eu." Aí o Fundador lhe perguntou: "Você não teria outra idéia
melhor?" Nesse momento, o floricultor lembrou-se de um buraco existente no lugar onde ele enterrara
as folhas secas que catara na limpeza diária do jardim. Apontando naquela direção, ele disse: "Naquele
buraco, há bastante húmus; deixe-me colocá-lo na raiz da muda de rosa". O Fundador consentiu de
bom grado: "Ah, se for assim, está bem." Com isso, o floricultor pôde plantar a muda, que depois deu
belas flores.
Já durante a Segunda Guerra Mundial, portanto, o Fundador havia criado o método agrícola sem
fertilizantes e estabelecido a técnica de cultivo, mas a divulgação efetiva desse método só foi iniciada
após a guerra. Em dezembro de 1948, foi publicado o primeiro número da revista "Tijo Tengoku" e,
nele, o Fundador, sob o pseudônimo de "Shin-no-Sei", publicou pela primeira vez um artigo sobre o
assunto, intitulado "O cultivo sem fertilizantes". Mais tarde, publicou várias revistas que davam
enfoque ao novo método e empenhou-se em divulgá-lo, de modo que ele se expandiu gradativamente por
todo o país. A partir de outubro de 1950, foi definido o nome do método "Agricultura Natural" —
ficando decidido desenvolver essa atividade separadamente das atividades religiosas. Nessa ocasião, o
Fundador compôs vinte e sete poemas com o tema "Maná da Vida". Citamos dois:

"Chegou a hora
De salvar os agricultores
Respeitados como grande tesouro
Desde os tempos antigos. "

“Que tolice pesquisar


O tão profundo Mistério do solo
Através da tão supérflua Ciência!"

Nos anos dez da Era Showa (1934 -1942), quando o Fundador iniciou a pesquisa da Agricultura
Natural, já começavam a ser muito usados, no Japão, resíduos de soja importados do continente e
fertilizantes químicos, como o sulfato de amônia, além dos tradicionais adubos feitos com resíduos de
colza e de peixe (arenque, sardinha e bacalhau). Nessa época, teve início, também, o uso de defensivos
agrícolas para frutas e verduras. Pelo fato de os defensivos e os fertilizantes não serem usados em
grande quantidade, como acontece atualmente, seus malefícios não vinham à tona, e apenas se levavam
em conta os resultados imediatos, ou seja, a produção maior. Para o Japão, que estava entrando
realmente num regime de tempos de guerra, planejar o aumento da produção de alimentos e estabelecer
um sistema de auto-suficiência era o assunto urgente do momento, e o aumento da produção de
alimentos constituía uma das questões básicas da política nacional da época.
As críticas em relação à agricultura contemporânea, que utiliza fertilizantes químicos em grande
quantidade e ampla pulverização de defensivos agrícolas, começaram finalmente a agitar os meios de
comunicação após a guerra, a partir dos anos quarenta da Era Showa (1965 -1973), quando os
55
malefícios de tais produtos começaram a se evidenciar. Numa época como esta em que estamos vivendo,
a Agricultura Natural constitui um aspecto muito importante da Nova Civilização, como meio de
salvação através dos alimentos. Mais de trinta anos antes de tais acontecimentos, o Fundador captou,
por Orientação Divina, o clima de negligência em relação à natureza e à vida, o qual se oculta atrás da
civilização contemporânea e, sentindo os perigos oferecidos pela agricultura química, continuou a
pesquisar o caminho para solucionar o problema.
Ele pregou que a Agricultura Natural é um método agrícola que se baseia na Natureza e a segue. No
Mundo Natural, animais e vegetais se harmonizam e, através de uma interligação orgânica, mantêm a
vida. Tudo que existe no solo são bênçãos que Deus atribuiu ao homem, de modo que, segundo o
Fundador, praticando-se uma agricultura condizente com as Leis da Natureza, não há motivos para que
as colheitas não sejam fartas. Essas suas palavras mostram uma absoluta certeza de que a Agricultura
Natural é o método agrícola indicado por Deus e condizente com as Leis da Natureza; essa crença é
também sustentada pelos fatos que ele mesmo comprovou na época em que viveu em Tamagawa, através
de experiências conduzidas sob sua orientação.
Podemos dizer que a reação antecipada do Fundador referente aos problemas da poluição é um fato que
merece grande atenção na história do Japão. Além disso, é preciso observar que seus ensinamentos
sobre a salvação do mundo e do homem não ficaram limitados a palavras: ele mostrou o método
concreto para realizá-la e ele mesmo o praticou.

c) MINERAÇÃO

Durante sua vida, o Fundador dedicou-se a diversas atividades, e uma delas foi a mineração. Ele
a iniciou no verão de 1935, ano da fundação da Dai Nipon Kannon Kai. Na época, entre as pessoas que
foram salvas pelo Johrei, havia uma senhora chamada Yukiko, cujo marido, Yassuyoshi Nakane,
dedicava-se à mineração. Ele administrava a Mina Daikiti, situada no coração da Cordilheira Etigo, no
Estado de Yamagata. Naquela ocasião, estava sem capital de giro e, tendo conhecido o Fundador,
propôs-lhe que investisse em seus empreendimentos. Mais tarde, nos contatos entre os dois, durante
suas freqüentes idas ao Jikan-So para tratar de negócios, Nakane sentiu-se tocado pela personalidade e
pela virtude espiritual do Fundador e tornou-se um fiel ardoroso.
Interessado na proposta, o Mestre enviou Mitiaki Okaniwa ao local onde estava situada a mina e, diante
das informações recebidas, decidiu comprá-la. Em setembro de 1936, três meses após o "Primeiro Caso
Tamagawa", foi até lá com Shinjiro Okaniwa.
A Mina Daikiti produzia tungstênio e, durante algum tempo, as escavações foram intensas.
Qual seria o motivo pelo qual o Fundador resolveu administrar uma mina e dedicar-se a esse trabalho
com tanto ardor, ao ponto de ir a um lugar de difícil acesso? Para o desenvolvimento de uma atividade
como essa, é necessário um capital bem grande e, naquela ocasião, ele não estava absolutamente em boa
situação financeira. Devia, portanto, haver uma razão bem forte. Tempos depois, em diversas
oportunidades, o Fundador contou aos fiéis a sua intenção: em resumo, era a aquisição de capital para
as atividades da salvação da humanidade e da construção do mundo ideal na Terra.
Na época, além de ter uma família para manter, ele ainda se via perseguido por dívidas que
precisava saldar. E não possuía uma renda fixa, devido às pressões que estava sofrendo. Por outro lado,
tinha muitos outros encargos: formar ministros e enviá-los para diversas regiões; publicar os órgãos
informativos e editar livros; cuidar de um grande número de pessoas que, ao mesmo tempo em que
faziam dedicações, recuperavam-se da saúde; além disso, para o futuro, tinha o grande sonho de
construir um museu de arte. O desenvolvimento de todas essas tarefas exigia um grande capital, de
modo que, se ele fosse depender unicamente da Oferta de Gratidão dos fiéis, seria um peso muito
grande para eles. Como a Obra Divina não permite adiamentos, presume-se que o Fundador tenha
escolhido a administração da mina como um dos meios para vencer esse árduo caminho.
Além da aquisição de capital, havia, nesse empreendimento, um ponto muito vantajoso: proibido de
exercer atividades terapêuticas e religiosas, o Fundador pôde desviar um pouco a atenta vigilância das
autoridades, até o término da Segunda Guerra Mundial. Tratava-se de uma profissão a apresentar
perante a sociedade. Foi com esse cuidado que, a partir da época em que deu prosseguimento às
atividades messiânicas sob o nome de "Tratamento de Digitopuntura no Estilo Okada", ele colocou, no
portão do Hozan-So, uma placa com os dizeres: "Okada Minerações".

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Além da Mina Daikiti, o Fundador iniciou, antes da guerra, a administração da Mina Guero. Guero é
uma cidade de águas termais situada numa região montanhosa; segundo uma antiga lenda, um pássaro
branco ferido foi quem contou às pessoas da vila que ali havia águas termais.
Adquirida a Mina Guero, foram iniciados os trabalhos no local, em 24 de novembro de 1940. Nessa
oportunidade, o Fundador foi inspecioná-los, acompanhado de Shimizu e Inoue. A viagem teve a
duração de um dia apenas, mas dizem que, nela, ocorreu um milagre.
Para subir até a mina, o Fundador usou uma bengala preparada para ele de antemão, a qual
estava no escritório, situado no sopé da montanha. Quando desceu, deixou-a no lugar onde a apanhara e
retornou a Tóquio. Nesse escritório, morava um senhor idoso que sofria de reumatismo e caminhava
com dificuldade. Como aquela bengala era bem oportuna, ele começou a andar apoiando-se nela. De
repente, percebeu que estava se locomovendo com mais facilidade. Achando aquilo misterioso,
continuou a usá-la, e qual não foi a sua alegria pelo inesperado milagre, ocorrido sem que ele percebesse
quando, de ver-se curado do reumatismo que o atormentava há longo tempo.
Há, ainda, outro episódio relacionado com a Mina Daikiti.
Na época em que Yassuyoshi Nakane usava como escritório uma casa independente, mas que
ficava no mesmo terreno que a Hospedaria Minato-ya, situado em Funato, perto da mina, ele costumava
conversar, nas horas de folga, com Tatsumi Tsukahara, dono da hospedaria. Nessas conversas, Nakane
citava freqüentemente um conselho que o Fundador costumava dar: "Seja honesto e cumpra seus
compromissos". Tsukahara sentiu-se tocado por essas palavras e, desde então, seguiu-as como lema de
todos os dias. Anos mais tarde, relembrando com saudades aquela época, ele contava aos fiéis que iam
visitar o lugar: "Eu também tomei aquele conselho como diretriz de minha vida e, graças a isso, meus
negócios prosperaram; só de lembrar, fico muito agradecido."
Depois da guerra, o Fundador começou a administrar mais duas minas: a Morikiti, situada no
Estado de Akita, perto do Lago Tazawa, e a Minakami, no Estado de Gunma. Na primeira, as
escavações foram iniciadas por volta de 1947 ou 1948. Era uma mina bem antiga, cuja história
remontava a quatrocentos anos. Tinha ouro, prata, bronze, chumbo e sulfato de cobre e, na fase mais
próspera em que esteve sob a direção do Fundador, nela trabalhavam cerca de vinte mineiros. Quanto à
segunda, ele a comprou em agosto de 1951 e, logo em seguida, deu início às escavações. Nessa mina,
trabalhavam sete ou oito funcionários e aproximadamente quarenta jovens dedicantes, os quais tiravam,
em um mês, perto de oito toneladas de zinco e chumbo.
Com relação ao empreendimento das minas no período pós-guerra, também existem alguns episódios
que chegaram até nós.

O fato que se segue ocorreu quando um dos discípulos do Fundador foi inspecionar a Mina
Hossokura, situada no Estado de Miyagui, na qual o Mestre estava interessado. Ao chegar lá, soube que
a pessoa que ele deveria procurar estava ausente e só voltaria dali a uma semana. Achando que não
poderia esperar tanto tempo, resolveu ir embora e retornar numa outra ocasião. Então, o Fundador
chamou-o à sua casa, através de um telegrama, e perguntou-lhe: "Como ficou aquele caso?" Ele
respondeu: "Indo a essa mina dias atrás, fui informado de que o encarregado daquele setor estava
ausente e só voltaria dentro de uma semana. Pensando que era perda de tempo esperar durante tantos
dias, resolvi voltar." Aí, o Fundador, num tom severo, disse: "O quê!?" Repita!" O discípulo obedeceu:
"Sim, o responsável estava ausente e ..." Mas o Mestre o interrompeu: "Isso eu entendi. O que eu
quero ouvir é o que você disse a seguir. " E, num tom mais severo ainda, continuou: "Você acha que
realizar um trabalho para mim é perda de tempo?" Logo em seguida, acrescentou, repreendendo-o:
"Espere quantos dias tiver de esperar; enquanto não puder cumprir a incumbência que Ihe dei, deve ter
o que fazer no local. Você diz que é perda de tempo porque não dá muita importância às minhas
ordens." Com isso, o Fundador advertiu que era leviandade e falta de sinceridade usar à toa expressões
como "desperdício de tempo" ao realizar uma tarefa determinada por ele, que tudo desenvolvia como
Obra Divina.
Pouco depois desse acontecimento, Motokiti Inoue, também a serviço do Fundador, foi encontrar-se
com determinada pessoa e retornou por ela estar ausente. Entretanto, nessa ocasião, o Fundador não
disse nada.
Através dos episódios narrados, podemos ver que, ao orientar as pessoas, o Fundador não visava as
atitudes tomadas por elas, e sim, o sentimento que as guiava. Vemos, também, que ele dava orientações
de acordo com cada pessoa.

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Com um profundo significado dentro da Providência Divina, a atividade de mineração
prosseguiu até antes da ascensão do Fundador, mas os gastos foram grandes e não poderíamos dizer, em
termos conclusivos, que essa atividade foi um sucesso. Assim, as minas, usadas como recurso financeiro
para desenvolver a Obra Divina a partir do início da longa época de contenção, tiveram sua missão
concluída graças às sinceras contribuições vindas de todo o país, como resultado do espantoso
crescimento da Igreja.

d) VIAGENS A DIVERSAS REGIÕES

A partir da comemoração do qüinquagésimo oitavo aniversário do Fundador, em dezembro de 1940, as


reuniões feitas no Hozan-So, como já dissemos, foram interrompidas para desviar as persistentes
intervenções e pressões das autoridades. E, no lugar delas, sob a forma de "jantares", os fiéis passaram
a receber as orientações do Fundador em hotéis e restaurantes, formando-se grupos que se revezariam
para realizá-los.
Pouco depois, essa atividade ultrapassou os limites da cidade de Tóquio, transformando-se em viagens
oferecidas ao Fundador e sua esposa a diversas localidades. Isso se originou do desejo que os fiéis
tinham de contatar com ele e receber suas orientações através de visitas a santuários e templos, a
lugares famosos e históricos ou ainda a locais pitorescos, deleitando-se com a cultura e a arte de cada
lugar.

Iniciadas em maio de 1941, as viagens perduraram até abril de 1943, sendo visitados os seguintes
lugares:

Maio/1941 - Ayabe, em Tanba-Moto-Isse (atualmente, Estado de Quioto); Nara;


Quioto e Oumi (Estado de Shiga).
22/06 - Santuário Kashima (Estado de Ibaraki) e Santuário Katori (Estado de
Tiba).
30/06 a 02/07 - Santuário Isse (Estado de Mie) e Nagaragawa (Estado de Guifu).
22/08 - Santuário Tosho, em Niko, Santuário Futarassan e Termas Yunishikawa
(Estado de Totigui).
22 a 23/10 - Atami e Hakone.
25/ 11 - Santuário Mitake (Tóquio).
Maio/1942 - Santuário Hikawa, em Omiya, e Yoshimi Hyaketsu (Estado de Saitama).
14 a 15/07 - Atami, Costa de Izu, Templo Shuzen-ji (Estado de Shizuoka) e Hakone.
5 a 07/11 - Templo Zenko-ji, Togakushi (Estado de Nagano) e Termas Kussatsu
(Estado de Gunma).
23 a 24/12 - Hota e Sotoboshu (Estado de Tiba).
Abril/ 1943 - Península Miura.

Além de Yoshi, acompanhavam o Fundador, nessas viagens, o seu secretário Motokiti Inoue e os
representantes de cada grupo, sempre num total de dez pessoas aproximadamente. De acordo com o
lugar aonde iam, havia ocasiões em que retornavam no mesmo dia, e outras em que viajavam durante
três ou quatro dias. Entre os diversos locais visitados, ele registrou como importantes para a Obra
Divina, as viagens a Tanba-Moto-Isse, aos Santuários Kashima, Katori e Isse, e ao Templo Zenko-ji.
A viagem a Yunishikawa, no Estado de Totigui, em agosto de 1941, foi uma experiência valiosa para o
Fundador. Ele já havia tentado visitar essa vila em 1923, mas no meio do percurso, em Oku Niko,
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quando ia transpor a montanha, perdeu-se no caminho e acabou não chegando lá. Era, portanto, um
lugar ao qual se dirigia pela segunda vez.
Yunishikawa, uma vila bem distante, fundada por refugiados da família Heike, era habitada, na época,
por sessenta famílias, num total de mais ou menos novecentas pessoas, que viviam tranqüilamente. O
curioso é que lá não havia doentes. A única exceção era um velhinho que fora acometido de apoplexia
por causa da bebida. Interessado nesse fato, o Fundador fez diversas perguntas aos moradores do local
e ficou sabendo que ali não existia médico e que todos eram completamente vegetarianos. Apesar de
haver rios na região, as pessoas não comiam peixe e, como não criavam galinhas, também não comiam
ovos. A esse respeito, o Mestre escreveu: (. . .) "Esse fato torna evidente o quanto a comida vegetariana
e a não-utilização de remédios são benéficas à saúde, comprovando a tese que eu defendia. "
Na juventude, o Fundador tivera a experiência de se curar de tuberculose, doença considerada incurável
pelos médicos, fazendo um regime totalmente vegetariano; aprendera, assim, que o vegetarianismo é
extremamente importante para a saúde do homem. Na época em que era empresário, também tivera a
experiência de superar uma terrível dor de dente, experiência essa que se ligaria à descoberta dos
tóxicos contidos nos remédios. Mais tarde, com a Revelação Divina que recebeu, sua convicção a
respeito desses tóxicos tornou-se inabalável. A viagem a Yunishikawa, em 1941, ficou fortemente
gravada no seu íntimo, como exemplo vivo de tais verdades.

Figura

Carro de boi que o Fundador pegou para percorrer os quinze quilômetros até Yunishikawa. Da
esquerda para a direita, Yoshi, o Fundador e Sossai Shibui

Assim, para os dirigentes que acompanhavam o Fundador, as viagens realizadas de 1941 a 1943
constituíram uma oportunidade única de promoverem a elevação da sua espiritualidade recebendo os
ensinamentos do Fundador de viva voz e apreciando as paisagens naturais. Ao mesmo tempo, para o
Mestre, foram viagens de preciosas descobertas, nas quais ele pôde contatar com verdades de grande
importância para a execução da Obra Divina.

figura

"Visita ao Santuário Moto-Isse", poema escrito pelo próprio punho do Fundador e oferecido aos fiéis
que o acompanharam ao Moto-Isse, como lembrança da visita àquele local: "Chegando ao tão venerado
Moto-Isse / Fiquei a pensar / Em acontecimentos importantes / De tempos longínquos. "

Por ocasião da visita a Moto-Isse, o Fundador compôs estes versos:

"Com a força do tempo


Sinto que se abriu
A tão esperada
Porta do Céu."

Como se pode deduzir do poema acima, com as visitas a esses afamados e antigos templos e santuários,
verdadeiros símbolos do Japão, o Fundador, que já fizera diversas previsões sobre o rumo seguido pelo
país, antevendo os fatos com muita antecedência, certificava-se intimamente — através da comunicação
com divindades e espíritos considerados fonte da tradição religiosa japonesa — do secreto significado
contido no futuro do Japão e também no caminhar deste mundo, que se desenvolve com a marcha da
Transição da Noite para o Dia.

Figura

O Fundador e os componentes do Grupo Juikai, no pátio interno do Santuário Isse, em frente à Ponte
Kanbashi. Na primeira fileira, da direita para a esquerda, a senhora Nakajima, Yoshi e a senhora
Hassegawa. Na fileira de trás, na mesma ordem, Takato, Kobayashi, Nakajima, o Fundador, Narita e,
saltando duas pessoas, Minoura

No dia 23 de dezembro de 1942, o Fundador foi a Hota, na tentativa de escalar novamente o Monte
Nokoguiri. Entretanto, desde o início da Segunda Guerra Mundial, esse lugar havia se tornado região
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estratégica, estando proibido subir a montanha. Sem outra alternativa, ele desistiu da escalada e foi
passar a noite numa casa de veraneio situada próximo dali, pertencente a um fiel chamado Takeshi
Shihozawa.
Pelo fato de seu pai administrar uma empresa jornalística no Havaí, Shihozawa lá vivera até
entrar para a escola primária. Todavia, como os pais desejavam que ele estudasse no Japão, Shihozawa
foi sozinho para este país e, depois de terminar o curso universitário, tornou-se administrador de
algumas empresas. Ele estava ligado à Obra Divina por ter recebido Johrei do Fundador, pouco antes
do início da guerra, e ter-se curado completamente de peritonite. Após a guerra, deixou a administração
de suas empresas e tornou-se Presidente do Conselho Administrativo da Nipon Kannon Kyodan, cargo
que ocupou desde outubro de 1948 até o seu falecimento, em janeiro de 1950. Esse cargo, mais tarde,
corresponderia ao de Presidente.

6. DIAS DE RESIGNAÇÃO

a) PUBLICAÇÃO DA OBRA "MYONITI NO IJUTSU" ("Medicina do Futuro")


Retrocedamos no tempo. Em dezembro de 1940, com o "Segundo Caso Tamagawa", o Fundador, por
iniciativa própria, desistiu das atividades de difusão que realizava sob o nome de "Tratamento de
Digitopuntura no Estilo Okada". Por esse motivo, o curso que conferia o poder de salvação das doenças
pelo Espírito Divino, passou a ser dado pelos seus discípulos, e não mais por ele. Os discípulos que
receberam a permissão de substituí-lo, começaram a realizar os tratamentos e os cursos em diversas
regiões, tendo como base a "Apostila da Terapia Japonesa" (cujo nome, posteriormente, foi modificado
para "Apostila da Técnica do Tratamento de Doenças no Estilo Okada") e o Curso Kannon. Assim, a
difusão, que estava centralizada em Tóquio, passou a se desenvolver numa esfera bem mais ampla.
O talismã, que continha as palavras "Poder Kannon da Cura de Doenças", escritas verticalmente, e era
outorgado pelo Fundador aos que concluíam o curso, foi substituído por um talismã com as palavras
"Luz Intensa", escritas em sentido horizontal. Até o final da guerra, porém, evitava-se o nome
"talismã" e usava-se o nome "lembrança".

"Ocultando
Uma força sobre-humana,
Espero pela hora em que agirei
Para o bem do homem e do mundo. "

“Reprimindo a grande esperança


Que arde no meu peito,
Fico apenas a observar
As mudanças do mundo. "

Deixando, assim, a linha de frente da difusão, o Fundador viajava para diversas localidades, dedicava-se
à pesquisa da Agricultura Natural, à pintura e à caligrafia, vivendo dias tranqüilos, à espera do
momento oportuno. Além dessas atividades, escrevia muito. Mais tarde, esses escritos foram publicados
numa obra em três volumes, intitulada "A Medicina do Futuro". Nela, o ato do Johrei, que ele criou por
Revelação Divina e divulgou, foi explicado de forma comprobatória, do ponto de vista científico-
espiritual. Foi a primeira publicação editada tipograficamente e reunia a "Apostila da Técnica do
Tratamento de Doenças no Estilo Okada" revisada e enriquecida. Seu conteúdo, em termos gerais, era
o que figura na relação abaixo, consistindo de explicações centralizadas nas pesquisas e experiências do
Fundador; apresentava, ainda, dados estatísticos.

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1- O futuro do problema populacional e a sua solução básica.
2 - Os erros da medicina e explicação a respeito.
3 - Patologia e Higiene.
4 - Ciência Espiritual.

A esses ensinamentos, o Fundador chamou de Ciência Espiritual. Assim, as horas vagas que se lhe
apresentaram em conseqüência da pressão das autoridades, que o proibiram de praticar tratamentos,
ele as utilizou para escrever "A Medicina do Futuro".
Nesse livro, o Fundador escreveu: "A porcentagem de curas alcançadas na época em que eu me
dedicava a essa atividade era espantosa: 90% dos casos eram certos. Um dos motivos pelos quais deixei
de aplicar o tratamento, foi o meu físico não agüentar tamanho trabalho, pois em frente ao portão de
minha casa, sempre havia filas de pessoas. Talvez ninguém acredite que a porcentagem de cura fosse a
que estou afirmando; aqueles, principalmente, que se dedicam a esse campo como especialistas custarão
ainda mais a acreditar. Ora, se eu ainda me dedicasse à cura, todos poderiam pensar que estivesse me
valendo dessa afirmativa para fazer propaganda. Entretanto, eu já não realizo esse trabalho, de modo
que não há nenhuma necessidade de promoção."

Figura

Primeira edição do livro "A Medicina do Futuro", encadernada com tecido, em estilo japonês

Assim, a primeira edição de "A Medicina do Futuro" teve o primeiro e o segundo volumes publicados
no dia 28 de setembro de 1942, com venda proibida, sendo distribuídos apenas entre os fiéis e as
pessoas que estavam fazendo o curso para ingressar na Fé. O terceiro volume foi lançado em outubro do
ano seguinte. Nessa obra, o Fundador escreveu ainda: "Eu creio que não haja um livro com teorias tão
surpreendentes e inconcebíveis como este. Talvez até haja pessoas que as encarem como demagogia. (. .
.) O meu grande desejo de criar uma verdadeira medicina japonesa e salvar a alma de milhões de
pessoas que estão para sucumbir, transformou-se nesta obra."
Era seu propósito, caso fosse possível, dirigir-se amplamente às pessoas da sociedade colocando o livro
à venda nas livrarias; entretanto, estava-se em plena guerra e o controle de pensamento e de expressão
era rigoroso, havendo perigo de que ele não passasse pela censura das autoridades. Por isso, o
Fundador desistiu de sua idéia e, sem outra alternativa, distribuiu-o apenas aos membros.
No dia 13 de dezembro do mesmo ano, foi editada uma obra em um só volume intitulada "O Problema
da Tuberculose e a sua Solução". Para elaborá-la, o Fundador extraiu a parte relacionada à tuberculose
constante em "A Medicina do Futuro" à qual deu nova redação. Na época, a tuberculose pulmonar era
temida como doença incurável e própria de países em decadência, de modo que o governo estava
envidando todos os esforços para achar um meio de combatê-la. O Fundador censurou esse pensamento
cegamente dependente da ciência material e, objetivando mostrar um plano verdadeiro e fundamental
para eliminá-lo, escreveu um livro em forma de advertência. Nesse livro, citou dados reais sobre a cura
da tuberculose pulmonar, mostrando-os de maneira compreensível.
Em 1942, quando foi publicada a primeira edição de "A Medicina do Futuro", o Fundador determinou
a lssai Nakajima, a Shibui Sossai e a outros discípulos que escolhessem, em suas respectivas clínicas de
terapia, quatro pessoas que possuíssem a qualificação de terapeutas populares e estivessem se
dedicando ao Johrei; essas pessoas deveriam ser mandadas à fabrica de armamentos militares da
capital, para ministrarem Johrei nos seus funcionários. A experiência teve grandes resultados e, entre
aqueles que receberam Johrei, muitos desejaram receber o talismã.
Como dissemos, o Fundador, no livro "A Medicina do Futuro", tinha como fundamento a sua
própria experiência de salvar durante longos anos as pessoas sofredoras e também a comprovação de
fatos reais através da obra realizada pelo seu grande número de discípulos.
As duas obras, "A Medicina do Futuro" e "O Problema da Tuberculose e a sua Solução", conseguiram
passar pela censura graças a diversas intercessões junto às autoridades. O primeiro, com distribuição
gratuita, foi reeditado em fevereiro de 1943, e o segundo, em maio do mesmo ano.

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Figura

Comemoração da reedição de "A Medicina do Futuro", realizada no Restaurante Tyuo-Tei. Ao fundo,


em pé, o Fundador dirigindo-se aos fiéis

No diário do Fundador, com a data de 5 de fevereiro de 1943, consta: "A convite do Sr. Shibui, fui ao
Anfiteatro Toho e vi um filme ocidental; em seguida, entrando no Cinema Nitigueki, vi um filme
japonês. Depois, no Restaurante Tyuo-Tei, comemoramos a reedição do livro. Foi uma festa muito
alegre, da qual participaram mais de cem pessoas." Por esse registro, ficamos sabendo que ele se reuniu
com os discípulos para comemorar a reedição de "A Medicina do Futuro".
Dessa reunião participaram Sossai Shibui, Issai Nakajima e os outros principais discípulos, num total de
cento e quatorze pessoas, centralizadas no Fundador e sua esposa. A festa, que teve início às dezoito
horas, durou sessenta minutos e, em seguida, o Mestre fez uma palestra de aproximadamente uma hora
e meia. Após a palestra, Motokiti Inoue leu os vinte poemas compostos pelo Fundador para aquela
oportunidade, e a comemoração terminou. Desses poemas, citamos dois:

"Para construir um mundo


Sem doença, miséria e conflito,
Estou me esforçando
Dia e noite. "

“Vou construir
O mundo sem doença
O qual todos já renunciaram,
Pensando ser um desejo impossível. "

Os três volumes de "A Medicina do Futuro" foram distribuídos apenas aos fiéis, mas quem os leu pôde
encontrar ensinamentos que tornavam possível a solução de problemas bem familiares. Despertando
para a existência do espírito, que até então não reconheciam, as pessoas sentiram um forte impacto e
emoção e, além de abrirem os olhos para um novo mundo, receberam muita força. Através desse livro, o
grande número de ministros, a começar pelos responsáveis de Igrejas, que, estando perto do Fundador,
edificaram os alicerces da Igreja, ficaram com um desejo ainda mais ardente de salvar o mundo e,
assim, renovaram o seu sentimento em relação à importantíssima afinidade que lhes foi permitida na
qualidade de discípulos do Fundador.
"A Medicina do Futuro", que proporcionou o despertar de tão grande número de pessoas, teve sua
publicação proibida pela Polícia Metropolitana em fevereiro de 1944. Isso aconteceu apenas um ano e
meio depois do lançamento da primeira edição. O motivo da proibição era que o livro se fundamentava
em idéias que contrariavam a medicina vigente e se opunham aos órgãos governamentais de saúde.
Numa época em que o pensamento materialista crescia, é natural que o seu conteúdo não fosse bem
aceito, pois, com base na existência do espírito, pregava-se a impossibilidade de dar uma solução
definitiva à doença sem a eliminação das máculas do espírito.

b) ATIVIDADES DE SALVAÇÃO EM FORMA PROVISÓRIA

Após o "Segundo Caso Tamagawa", ocorrido em 1940, Nakajima, Shibui, Kihara, Sakai, Araya e mais
alguns diretores receberam permissão de ministrar as aulas e outorgar o talismã, o que até então era
feito pelo Fundador. Sakai fazia difusão em Tóquio; Kihara, em Kyushu; Araya, em Itino-Seki, no
Estado de Iwate; Nakajima e Shibui conseguiram encaminhar pessoas de diversas partes do país, dentre
as quais surgiram muitos elementos que contribuíram para o crescimento da Igreja.
Esses discípulos iam três vezes por mês ao encontro do Fundador, cada qual em dias determinados,
para fazer-lhes os relatórios rotineiros e receber diretrizes e orientações. Através do seu trabalho, as
imagens de Kannon, os quadros com caligrafias e os talismãs chegaram a todos os cantos do país e
também à Coréia, Formosa e Manchúria (região situada a nordeste da atual República da China), que
eram territórios japoneses na época, e até à China, salvando muitas pessoas. Obviamente, o trabalho
não assumia nenhum aspecto religioso, e como tudo era realizado sob o nome de "terapia", cada um
fazia individualmente o pedido para exercício dessa atividade em seu próprio nome, como por exemplo:
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"Clínica Terapêutica de Digitopuntura no Estilo Nakajima", "Clínica Terapêutica de Digitopuntura no
Estilo Shibui" etc., desenvolvendo as atividades sob o nome de terapeutas.
A esse respeito, conta-se um episódio muito interessante. Em 1944, Eitaro Ogawa (posteriormente
Responsável da Igreja Koyo) visitou Sakai, que tinha uma clínica de digitopuntura no bairro de
Kamata, em Tóquio. Até então, Ogawa trabalhava nesta cidade como terapeuta de acupuntura, mas
tendo ouvido falar muito bem sobre a digitopuntura, interessou-se em conhecê-la.
Ao chegar à clínica, notou que havia uma imagem de Kannon atrás do lugar onde Sakai estava sentado,
ministrando Johrei, e que ele vestia um "hakama" (20). Perguntou-lhe, então: "Por que de sua mão sai
uma luz misteriosa?" E Sakai respondeu com firmeza: "Não posso dizer agora, pois o significado é
muito profundo. É preciso que, antes, você experimente. Experimentando, entenderá."
Ogawa foi à clínica durante uma semana e, por mais que se esforçasse, não conseguia ver naquilo outra
coisa senão uma religião. Interrogando Sakai a esse respeito, recebeu uma resposta clara: "Não, não se
trata de religião." Aí, Ogawa perguntou: "Então por que pendura a Imagem de Kannon nesse lugar?"
Ao que ele respondeu: "Recebemos muitas pessoas diariamente e, na hora de aplicar a terapia, há casos
em que se faz necessário a pessoa ficar nua de cintura para cima. Obviamente, também tocamos no
corpo das mulheres. Portanto, como o homem tende a ter maus pensamentos, penduramos na parede a
Imagem de Kannon, para que isso não aconteça."
Vendo que ali também havia a fotografia de um senhor de cabelos brancos, Ogawa quis saber quem era
e novamente recebeu uma resposta bem clara: "É meu mestre. Graças a ele sou capaz de fazer o que
faço. Coloco aí a sua foto para que ele esteja sempre ao meu lado, e cumprimento-o pela manhã e à
noite. Isso não tem nenhuma ligação com religião."
Ogawa não ficou satisfeito com as respostas, mas observando a atitude autoconfiante de Sakai e vendo
as pessoas sofredoras serem realmente salvas, sentiu que descobrira um poder pelo qual procurara até
então e não havia encontrado. Assim, fez o curso com Sakai e, depois que recebeu o talismã, voltou para
Niigata, sua terra natal, onde imediatamente começou a ministrar Johrei.
Devido também ao fato de seu filho, que estava enfermo, ter melhorado misteriosamente através do
recebimento de Johrei, passou a ler com assiduidade livros como "A Medicina do Futuro", que, na
época, era lido às ocultas pelos fiéis. Fortemente impressionado com o princípio fundamental da doença
pregado pelo Fundador, dedicou-se à difusão.
Por esses fatos, podemos ver qual era o aspecto da difusão naquela época, em que, não obstante as
rigorosas limitações do regime de guerra, a essência da Fé era seguida fielmente e tudo era colocado em
prática com tenacidade, cedendo onde era preciso. Procurava-se evitar ao máximo o emprego de termos
religiosos e, tendo como intermediário o Poder de Deus chamado Johrei, os Ensinamentos eram
transmitidos de coração para coração, de espírito para espírito.
Por volta de 1943, a difusão começou a entrar no ritmo em diversas regiões; em Nagoya, teve início o
primeiro curso ministrado por Shibui, que passou a viajar para lá com essa finalidade. Tal expansão em
todo o país deve-se, em primeiro lugar, à rapidez com que o poder do Johrei era transmitido de uma
pessoa para outra. Os discípulos do Fundador, que, como medida de segurança, por se estar em tempo
de guerra, moravam separados uns dos outros, cada qual em sua terra natal, iniciaram intensa atividade
de difusão nesses locais. Dessa maneira, os alicerces da Igreja, que haviam alcançado rapidamente um
grande progresso, achavam-se firmemente edificados, após a guerra.
Entretanto, por trás dessa prosperidade, havia o sofrimento inexprimível dos discípulos, pois, apesar de
tomarem o máximo de cuidado, estavam constantemente sob o perigo de serem presos pela polícia. As
autoridades, talvez para mostrar jamais terem reconhecido oficialmente que eles continuassem a Obra
Divina na forma de terapia popular, constantemente arranjavam algum pretexto e os detinham na
delegacia. Nas aulas e nos locais onde se ministrava Johrei, às vezes, havia um policial vigiando e, se o
encarregado do curso, sem querer, tocava em assuntos religiosos, não conseguindo reprimir o seu
entusiasmo pela Fé, ele o advertia: "Orador! Cuidado!"
Estava-se, portanto, numa situação que se assemelhava a caminhar em cima de giletes; apesar disso, as
atividades da Obra Divina continuaram a ser desenvolvidas com muita persistência. Através da fé dos
discípulos, firmemente decididos a darem a vida pelo Fundador, se preciso fosse, seu ardente desejo de
salvação do homem e do mundo foi se expandindo amplamente.

(20)
- Traje japonês semelhante a uma saia-calça, o qual se usa sobre o quimono.
63
7. NOVENTA E NOVE POR CENTO

a) PROGNÓSTICO SOBRE A DERROTA NA GUERRA E CONSELHO PARA


OS FIÉIS SE REFUGIAREM

Desde que entrou na guerra contra as grandes potências mundiais, com o ataque a Pearl Harbour, no
Havaí, efetuado na madrugada do dia 8 de dezembro de 1941, o Japão, impulsionado pelos grandes
resultados obtidos em diversos combates, foi ampliando seguidamente os campos de batalha,
estendendo-os das ilhas do Pacífico Sul para a Península da Indochina e daí para a Indonésia. O povo,
por sua vez, vibrava com as seguidas vitórias, noticiadas pelos militares. Não havia nenhuma
dificuldade, e a vida no país transcorria tranqüilamente.
Entretanto, há muito que o Fundador prognosticava secretamente a derrota do Japão na guerra,
comunicando esse fato, conforme já dissemos, apenas aos fiéis de sua inteira confiança. Ele fazia esses
prognósticos através de expressões sem maiores detalhes, como por exemplo: "Eles perderão até
noventa e nove por cento, mas ganharão com o um por cento restante." Dependendo da pessoa com
quem estava falando, dizia palavras mais claras.
No dia 10 de dezembro, dois dias após o ataque Pearl Harbor, a marinha japonesa obteve uma
vitória nos mares da Malásia, afundando os couraçados britânicos "Prince of Wales" e "Repulse". A
esposa de Morei Horiuti, contra-almirante da Marinha que havia participado desse plano, foi visitar o
Fundador, a fim de Ihe agradecer pela vitória. Então ele falou claramente a respeito da derrota: "Desta
vez ganhamos, mas em breve perderemos. Se não perder a guerra, o Japão não se tornará
verdadeiramente Japão." A outro fiel, o Mestre disse: "As previsões para esta guerra são tenebrosas.
Agora não posso falar a verdade, porque seria pressionado, mas suas conseqüências serão calamitosas."
O fato que se segue, aconteceu no final de 1939, dois anos antes do Japão entrar na guerra. O Fundador
disse a Otomatsu Araya, que naquela época estava fazendo difusão em Kamaishi, no Estado de Iwate:
"Em breve Kamaishi tornar-se-á um mar de chamas. Vá logo para Ishinomaki ou para Iti-no-Seki."
Araya, depois de muito esforço, havia conseguido edificar as bases da difusão naquele local e vinha
obtendo grande progresso, de modo que, no íntimo, relutava em seguir as palavras do Fundador. Mas
acabou indo para Iti-no-Seki.
Aquilo seria mesmo verdade?
Seis anos depois, em 1945, no período final da guerra, ocorreu uma grande tragédia: Kamaishi, onde se
concentravam muitas fábricas de armamentos militares, foi inteiramente destruída pelos bombardeios
navais americanos. Araya relembra o fato com profundo respeito: "Meishu-Sama sabia que Kamaishi se
transformaria num mar de chamas, embora a guerra ainda nem tivesse começado. Ainda que me digam
para não pensar que ele é Deus, como poderia?"
Massajiro Ito, discípulo de Araya, dedicava-se à atividade de terapia em Kessen Numa, no Estado de
Miyagui. Antes da guerra começar, havia recebido do Fundador um "shikishi" (21) onde estava escrito:
"Sankyo Seikan" ("Moradia no mato - Contemplação tranqüila"). Certo dia, olhando para essas
palavras, teve o pressentimento de que a guerra se agravaria. Como Araya também previa uma situação
de emergência, por causa das palavras do Fundador, ele confirmou seu pressentimento. Assim, por volta
de fevereiro de 1941, instalou um refúgio nas matas de Shishiori, um lugar afastado de Kessen Numa, e
lá guardou os seus pertences de valor e também os dos fiéis. Entretanto, como essa providência foi
tomada antes do Japão ter entrado na guerra, houve pessoas que debocharam dizendo: "Quem foi o
louco que construiu aquela casa no mato?"

Figura

"Shikishi" recebido por Ito - caligrafia do Fundador:"Sankyo Seikan"

- Papel grosso, decorado ou liso, geralmente em formato quadrangular,onde se escreve poesia ou se faz
(21)

desenhos a fim de presenteá-lo a alguém ou usá-lo como decoração.


64
Nos meses de julho e agosto de 1945, pouco antes do término da guerra, Kessen Numa sofreu diversos
bombardeios navais, transformando-se num mar de chamas, mas Ito e seus companheiros, refugiados na
mata, conseguiram chegar ao final do conflito em absoluta segurança. Assim, tudo se passou conforme
as palavras que o Fundador escrevera no "shikishi".
Muito tempo antes, o Mestre havia dito a alguns fiéis: "Quando as conseqüências da guerra atingirem o
nordeste, ela estará perto do final." De fato, um mês após o ataque a Kamaishi e Kessen, a guerra
terminou.
Em abril de 1942, Naoko Hiramoto, a quem o Fundador incumbira de fazer difusão em Hagui,
no Estado de Yamaguti, mostrou-se preocupada com seu filho, que ela iria deixar em Tóquio. Vendo
isso, o Fundador procurou tranqüilizá-la: "Deixe seu filho por minha conta” Farei dele uma pessoa útil.
Quando ele tiver de se alistar, o alistamento militar acabará." Naquela ocasião, fazia cinco meses que a
guerra começara e, embevecido com as sucessivas vitórias, o povo estava todo entusiasmado; por isso
ninguém entendeu as palavras do Fundador. No dia 1º de agosto de 1945, ele disse a Hiramoto, que fora
visitá-lo: "O mais tardar no mês que vem, já não haverá nenhum avião inimigo sobrevoando os nossos
céus." De fato, duas semanas depois, a guerra terminou.
Desde 1942, o Fundador vinha aconselhando os fiéis que moravam nas grandes cidades a se refugiarem
no interior. Na época, se desse esse conselho abertamente, interpretariam que ele fosse contra a guerra;
assim, segundo dizem, o Fundador incentivava o refúgio disfarçadamente, dizendo: "Se tiver parentes
no interior, vá ministrar-Ihes Johrei." Muitas pessoas, seguindo-Ihe os conselhos, tiveram suas vidas
salvas, sendo inúmeros os milagres ocorridos durante o período da guerra. Entretanto, entre os fiéis,
houve alguns que morreram por não terem feito caso de suas palavras.
Entre os diretores da época, havia um, a quem chamaremos M, que fazia difusão no bairro Fukagawa,
situado em Tóquio. Há muito tempo, o Fundador o aconselhava a refugiar-se, dizendo: "Fukagawa é a
região que corre mais perigo." Mas M, não se sabe por quê, estava custando a se decidir e acabou não
seguindo esse conselho. Certo dia do verão de 1944, quando todos os fiéis residentes em Tóquio já
haviam se refugiado, Motokiti Inoue perguntou-Ihe se não iria fazer o mesmo, ao que ele respondeu:
"Estou procurando, mas não acho uma casa adequada." Em verdade, se M procurasse, ainda poderia
encontrar alguma casa, mas ele não dava mostras de querer sair de Tóquio.
Na noite do dia 10 de março de 1945, uma esquadrilha de aviões B 29, bombardeiros de grande porte,
sobrevoou o céu de Tóquio e bombardeou a cidade, centralizando-se nos bairros da zona industrial e
comercial. Esse ataque aéreo tornou-se uma grande tragédia, destruindo duzentas e trinta mil casas e
vitimando mais de um milhão de pessoas, das quais cento e vinte mil morreram.
Desde esse dia, M não mais apareceu, e não se sabia que fim ele levara. Algum tempo depois,
entretanto, o único parente seu que havia sobrevivido, por ter se refugiado, foi procurar o Fundador e,
com tristeza, relatou-lhe que M e sua família, composta de cinco pessoas, haviam morrido carbonizados.
Aconteceu, também, o seguinte fato:
O Fundador aconselhara muitas pessoas a que se refugiassem, mas nada disse a Nobumassa
Takato. Este, sentindo-se abandonado pelos companheiros, estava muito triste. Todavia, quando a
guerra terminou, a região situada entre Oji — bairro onde Takato tivera um templo budista — e Ueno
encontrava-se totalmente destruída pelos bombardeiros; apenas os arredores da casa de Takato,
misteriosamente, não haviam sido atingidos. Com certeza, o Fundador sabia, desde o início, que ela iria
ser poupada, devido à missão de seu proprietário.
Assim, em todas as oportunidades, o Mestre prevenia a seus discípulos que o Japão seria derrotado na
guerra, mas em sua mente, via o brilhante futuro do país após a derrota. No dia 5 de fevereiro de 1944,
ele compôs este poema:

"Após os sofridos dias


De guerra, de fome
E de doença,
Virá o Mundo da Luz. "

b) O PERÍODO FINAL DA GUERRA

Com a grande derrota sofrida na batalha naval de Midway em junho de 1942, a guerra tornava-se
rapidamente desvantajosa. Devido à sua vasta extensão, as terras ocupadas, onde se haviam obtido
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vitórias brilhantes até poucos meses atrás, começaram a pesar para os militares japoneses. Entretanto,
para manter a linha de guerra, eles supriam a falta de material e de tecnologia com a força da mente e
da união, continuando a se desgastar cada vez mais durante as batalhas.
No dia 1º de janeiro de 1944, o então Primeiro-Ministro Hideki Tojo, reconhecendo, pelo
noticiário dos jornais, as dificuldades por que o Japão estava passando na guerra, anunciou-as
publicamente a todo o país, pedindo a colaboração do povo através da contenção nos gastos, do
empenho nos estudos e da união, para poderem vencer essas dificuldades.
Entretanto, as tropas aliadas mudaram a tática e passaram para o ataque, firmando vitórias nas
batalhas do Arquipélago Marshal, em janeiro; da Ilha Saipan, em junho; da Ilha de Guam, em julho; e
na batalha naval do Mar Leyte, nas Filipinas, em outubro. E continuaram avançando para o norte,
rumo ao próprio Japão. A cada batalha, as tropas japonesas sofriam derrotas e perda total de seus
homens e de grande número de aviões e navios, sendo, pouco a pouco, encurraladas para um trágico
final. Chegando-se a tal ponto, o povo teve de suportar uma vida muito mais rigorosa que a de antes.
Intensificava-se a falta de energia, de matérias-primas e de alimentos, mas a produção de armas e de
outros equipamentos bélicos continuava a ter total prioridade. Até para se comprar lâmpadas
fluorescentes e pilhas novas, era preciso levar as já usadas. A fim de economizar energia, apelava-se às
pessoas que procurassem não viajar, e os moinhos d'água, para os quais há muito tempo ninguém nem
olhava, passaram a ser usados novamente como geradores.
Em abril de 1944, abriram-se, em Tóquio, restaurantes onde se vendia papa de arroz com verduras,
seguindo-se dias de longas filas de pessoas que procuravam adquirir uma travessa desse alimento.
Devido à falta de mão-de-obra, os estudantes e até as crianças foram mobilizados para trabalharem nas
fábricas de armamentos; paralelamente, a mão-de-obra feminina foi ganhando importância a cada dia.
Nessa época, raciocinando ser impossível evitar um ataque aéreo ao Japão, o governo incentivou o povo
em geral, especialmente as crianças, a refugiar-se em locais que se presumia não fosse atingidos pelos
bombardeios. A maioria da população foi para o interior, à procura de conhecidos e, de fato, a partir do
final de 1944, os ataques aéreos americanos começaram a se intensificar.

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CAPÍTULO III

O JAPÃO
RENASCIDO

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1. TAMAGAWA PARA HAKONE E ATAMI

a) RUMO À TERRA SAGRADA

Há bastante tempo o Fundador incentivava os fiéis a se refugiarem e, no início de 1944, ele próprio
também começou a procurar outro local para morar. Naturalmente, não se tratava de simples refúgio.
Havia uma razão de profundo significado na Obra Divina para o Fundador querer afastar-se de Tóquio:
procurar um lugar que se tornaria a base das suas atividades, preparando-se para a expansão da Obra
Divina. Podemos constatar isso pelas palavras que ele disse, nessa época, a uma pessoa relacionada com
o assunto: "Quero um pavilhão para expandir as Verdades que prego."
Os lugares que o Fundador teve em vista desde o início, para serem a sede da Obra Divina, foram
Hakone e Atami, cidades pelas quais ele sentia uma grande atração desde jovem. Amou-as como a
nenhuma outra, tendo-as visitado diversas vezes. Por dois anos consecutivos, em 1941 e 1942, fez uma
viagem de dois dias a essas localidades.
No dia 22 de outubro de 1941, foi a Atami acompanhado de cinco pessoas, entre as quais, Yoshi,
Motokiti Inoue e Shibui. Depois de almoçar no Hotel Ono-ya, dirigiu-se para Hakone, pernoitando no
Hotel Fuji-ya, situado em Miya-noshita. No dia seguinte, retornou a casa via E-no-Shima. Os treze
poemas da série intitulada "Viagem a Hakone e Atami", que compõem a coletânea "Akemaro Kin'Ei-
shu", são dessa ocasião. Citamos dois:

"Contemplei longamente
O Oceano Pacífico
Segurando o corrimão do quarto andar
Da Hospedaria Ono-ya, em Atami."

“Visitei o Santuário Hakone


Passando por um caminho
Sob velhos cedros, onde é escuro
Mesmo em pleno dia."

Figura

Foto tirada no percurso de Gotenba para o Pico Otome, no regresso da viagem a Izu, em 1942. A
segunda pessoa da esquerda para a direita é Motokiti Inoue; a seguir, Mitsuo Hayashi, o Fundador,
Seiiti Momomi e Yoshi; pulando uma pessoa, Sossai Shibui

Nos dias 14 e 15 de julho de 1942, o Fundador visitou vários locais situados enhe Izu e Hakone.
Primeiramente, parou em Atami; a seguir, passou pelas praias da parte leste de Izu e, depois de almoçar
nas termas do Templo Rendai-ji, percorreu as praias do oeste, pernoitando na Hospedaria Arai, das
termas do Templo Shuzen-ji. No dia seguinte, passou pela Praia de Mito, por Numazu, por Gotenba e
pelo Pico Otome, dirigindo-se, depois, para Hakone, onde almoçou no Hotel Gora. Em seguida, voltou
para casa, via Yokohama.
A região compreendida entre Hakone e Izu corresponde, atualmente, ao Parque Nacional Fuji-Hakone-
Izu, ponto turístico muito freqüentado. Hakone foi uma região determinada para Parque Nacional bem
antes dos muitos existentes. (Fuji e Hakone foram escolhidos em 1936, e Izu foi-lhes anexado em 1955).
Hakone é uma cidade conhecida pela sua bela paisagem de lagos, entre montanhas de aspecto ricamente
diversificado: o verde do início do verão, o bordo do outono etc.. Além disso, por ter um clima
agradável no verão e ser de fácil acesso para quem vem de Tóquio, desde os tempos antigos, é
considerada local de veraneio, juntamente com Karuizawa, constituindo um ponto turístico de fama
mundial.
Mas Hakone não se caracteriza apenas por paisagens pitorescas. Graças à sua situação geográfica, mais
ou menos no centro do território japonês, que é estreito e alongado, aí se reúnem os mais diversos tipos
de pássaros selvagens. É, também, um dos lugares do Japão onde existe maior variedade de musgos.
Possui, como vemos, uma natureza especialmente rica.
Depois da Segunda Guerra Mundial, parte de Atami foi incluída no então Parque Nacional Fuji-
Hakone. Atami é uma cidade de águas termais que, tal como Hakone, apresenta-se abençoada pela
paisagem natural. Estendendo-se no sopé da montanha, possibilita avistar-se o mar de qualquer ponto;
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além do mais, por estar rodeada de montanhas, tem um clima bem mais ameno que o das cidades
vizinhas, como Odawara, a leste, e Numazu, a oeste.
Além de Hakone e Atami terem uma paisagem pitoresca e serem excelentes pontos turísticos, devemos
atentar, ainda, para o fato de que, desde os tempos antigos, essas duas cidades possuem algo que as
diferencia de outras: são locais sagrados. Isto está esquecido pela maioria dos japoneses, mas,
pesquisando o passado, encontramos ocorrência de sentido extremamente misterioso.
A "pequena ilha do alto-mar", que se tornou conhecida através de um poema de Sanetomo Minamoto,
general da Era Kamakura — "Vencendo o caminho de Hakone, vejo a praia de Izu e as ondas batendo
na pequena ilha do alto-mar" — é a Ilha Hatsu, situada não muito longe da Baía de Atami. Olhando
dessa ilha, na direção do continente, avistamos o Santuário Messiânico e o Templo Messiânico, erigidos
no Solo Sagrado de Atami e voltados para o leste, de modo a receberem de frente a luz do Sol, que nasce
na Baía de Sagami.
No seguimento dessa linha vinda do leste, encontra-se a Montanha Higane (conhecida também
pelo nome de Pico Jikoku), de onde é possível divisar-se os dez estados da região leste, na antiga divisão
geográfica, e as ilhas de Izu. O nome "Higane" é uma corruptela de "hikari" (luz). Literalmente,
significa "dia dourado", mas seu sentido conotativo é "Hi-ga-Mine" (pico do fogo). As expressões "Izu-
no-Takane" (alto pico de Izu), que encontramos na obra "Manyo-shu, da Era Nara (645 - 794), e
"Hikari-ga-Mine" (pico da luz), que aparece em "Azuma Kagami", da Era Kamakura (1192 - 1333),
referem-se a essa montanha.
No pico da Montanha Higane, há um santuário onde se cultua Homussubi-no-Mikoto, o deus do
fogo. Ele está registrado na lista de santuários constante nas "Normas de Procedimento em
Cerimoniais", e daí se pode concluir sua importância. No registro chamado "Kamakura Jiki", consta
que, na Montanha Higane, foi cultuado Ninigui-no-Mikoto, um deus bravo, neto de Amaterassu-
Omikami. A leste, localiza-se a Montanha Iwato, cujo nome se relaciona a "Amano-Iwato" (portal dos
céus), local situado em "Taka-amahara" (campo dos altos céus), onde Amaterassu-Omikami se ocultou
por uns tempos. Assim, pelos deuses relacionados a essa região desde os tempos antigos, podemos
entender o significado misterioso dos locais situados nas proximidades da Montanha Higane.
Antigamente, a Península de Izu era denominada Província de Izu. Izu é uma palavra que tem o mesmo
sentido de "itsuku" (limpar as impurezas do corpo e da alma e cultuar Deus). A antiga Província de Izu
era considerada como "região sagrada onde está o assento de Deus". Por trás dela, ergue-se o sagrado
Monte Fuji.
Já dissemos que no terreno do Hozan-So, situado numa colina, em Tamagawa, foi construído o Solar de
Contemplação do Monte Fuji, projetado pelo Fundador. Negligenciando os costumes observados na
edificação das casas, segundo os quais se evitam o sol do verão e o vento noroeste do inverno, ele o
construiu voltado para o oeste, de modo que se pudesse avistar o monte. Antes mesmo de mudar-se para
Hozan-So, o Fundador já conhecia profundamente o significado espiritual do Monte Fuji. Ele o escalou
em 1930 e, na época em que residia no Hozan-So, amou intensamente a sua bela figura, que lhe serviu
de motivo para desenhos e poemas.

Figura

A Terra Celestial de Atami e o Monte Fuji, que se ergue por trás dela, vistos da Ilha Hatsushima.1-
Templo Messiânico; 2 - Museu de Arte M.O.A.

Nascido em Hashiba, o Fundador foi mudando de residência sempre para o oeste. Nesse fato, ele vê uma
prova da sua missão de "Luz do Oriente". Durante a Segunda Guerra Mundial, passou do Hozan-So
para Hakone e Atami, aí construindo locais sagrados. Essa linha espiritual do seu caminhar na direção
oeste, como Luz do Oriente, sempre objetivando o Monte Fuji, que ele amava há tanto tempo, encerra
um profundo mistério.
As regiões de Atami e Hakone determinadas pelo Fundador como Solo Sagrado possuem,
portanto, um significado misterioso, não só histórico como geográfico. A esse respeito, dizendo que tudo
segue a Providência Divina, ele escreveu:
"Quando o Criador fez a Terra, traçou um projeto baseado num plano eterno. Isso, com certeza, foi
feito há milhares ou bilhares de anos, mas ele determinou que, futuramente, haveria uma região
paradisíaca, no Parque Mundial chamado Japão; para tanto, preparou da forma mais perfeita o seu
clima, ambiente, beleza natural etc., e esperou pelo tempo certo. Obviamente essa região paradisíaca é a
nossa Atami, mas Hakone e o Fuji possuem a mesma missão.

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Assim, dentro do Plano do Criador, estava programado que Atami, em particular, seria um lugar ideal,
o mais elevado e mais belo. Quando o progresso da cultura material atingiu finalmente as condições
adequadas, Ele determinou que eu nascesse e, depois de diversas mudanças, viesse a morar nessa
cidade, dando, então, início à construção do protótipo do Paraíso Terrestre, Seu objetivo."
Atualmente, pela sua magnífica paisagem, a região que vai de Izu até Hakone e o Fuji, passando pelas
costas de Atami, constitui Parque Nacional, o que comprova suas maravilhosas condições naturais. Não
há outro lugar que possa ser a base da concretização do grande ideal de construção do Paraíso na
Terra. Convicto dessa verdade, o Fundador começou a procurar um terreno. Mais tarde, ele compôs:

"O Deus Criador,


Há milhares de anos,
Preparou a beleza
De Hakone e Atami. "

b) O SHINZAN-SO (Solar da Montanha Divina) E O TOZAN-SO (Solar da


Montanha do Leste)
Enquanto o Fundador fazia diversos preparativos, surgiu-lhe a oportunidade de negociar com
dois imóveis. O primeiro não foi de seu agrado; então lhe ofereceram uma casa de veraneio em Gora,
que havia sido construída antes da guerra, por Raita Fujiyama, uma importante figura do mundo
financeiro. Gora era um lugar pelo qual ele tinha um amor todo especial; no final da Era Taisho (1912
-1926), ali passara um verão, numa casa alugada. Portanto, quando lhe falaram sobre aquela
propriedade, foi vê-la imediatamente.
Por ser tempo de guerra, o estado de conservação da casa não era muito bom, e o jardim estava
estragado. Entretanto, da varanda do quarto — construído em plano mais elevado, aproveitando o
agrupamento natural das rochas — tinha-se, por entre as árvores, uma vista muito tranqüila e de
profundidade admirável, bem característica de Hakone, divisando-se o Monte Myojo, famoso pela
queima da letra "dai" (22). Além disso, misteriosamente, essa propriedade ficava bem próximo da casa
onde o Fundador estivera anteriormente, em veraneio. Tendo gostado muito do lugar, ele deu ordem ao
encarregado para que procedesse logo às negociações.
Sobre a casa em questão, à qual deu o nome de Solar da Montanha Divina, o Fundador assim se
expressou: "Apesar de ser bem velha, essa casa não deixa nada a desejar. O terreno tem
aproximadamente 2.000 m2, e a casa, por volta de 330 m2. A entrada está voltada para o sudeste.
Subindo-se cerca de vinte metros por uma escada de pedra natural e entrando-se no vestíbulo, vê-se
uma escada de três degraus. Subindo-se por ela e atravessando-se um corredor bem largo, encontra-se
outra escada, com oito degraus, ao final da qual há uma sala adequada para servir de nave. A vista que
se tem para os quatro lados, é pitoresca. Creio que não existe nada igual em toda a cidade de Hakone."
No Solar da Montanha Divina, à esquerda da escada que conduzia ao vestíbulo, havia uma sala de estilo
japonês; à direita, uma sala de estilo ocidental. A propósito, o Fundador escreveu: "Seria mais
adequado dizer que a casa tem o formato de asas de cegonha abertas. Além disso, a sala ocidental tem o
formato de navio, o que significa ‘avançar cortando as ondas’. Tudo é ideal. Algo que merece destaque é
que essa casa foi totalmente construída em cima de uma rocha; creio, pois, que a descrição contida
numa oração ‘uma casa de pilares grossos construída sobre as raízes das rochas’ — refere-se a ela. É
realmente adequada para Casa de Deus e, por isso, estou bem certo de que foi preparada por Ele.

Figura

Foto tirada no dia da mudança para o Solar da Montanha Divina. Na primeira fileira, da direita para a
esquerda, Takejiro Okada (irmão do Fundador), o Fundador, Yoshi e Rei Ota (tia de Yoshi). No canto
esquerdo, em cima, pode-se ver o telhado da casa

Figura

- Festividade anual que se realiza no dia 16 de agosto no Monte Myojo em Hakone. No aclive desse monte,
(22)

escavando-se o terreno, forma-se a letra"dai" ( ), cujo significado é "grande". Nessa escavação, faz-se uma
fogueira, com o objetivo de encaminhar os espíritos ao Mundo Espiritual. De longe, avista-se o maravilhoso
aspecto da letra em chamas.]
71
O Fundador e sua esposa descansando no compartimento superior do Solar da Montanha Divina, no dia
da mudança

"Olhando as grandes pedras


Cobertas de velhos musgos,
No jardim em volta de minha casa,
Fico a imaginar como foi a Era dos Deuses."

O desenvolvimento da região de Hakone remonta à Era Kamakura, quando os xoguns começaram a


peregrinar até o Santuário Hakone, situado à beira do Lago Ashino. Na Era Edo (1615 -1867), foi
instalado um posto fiscal na cidade de Hakone, a qual prosperou como cidade hoteleira. Quanto a Gora,
tornou-se conhecida como ponto turístico mais recentemente, depois que teve início a Era Meiji (1867 -
1912). Outrora, era um matagal cheio de rochas. Para expressar a idéia de abundância de pedras, os
japoneses usam a palavra "gorogoro", havendo quem diga que o local recebeu o nome de "Gora", ou
"Goro", por haver muitas pedras ali.
Mas retrocedamos no tempo. No final da Era Meiji, foi instituída a Companhia Ferroviária Hakone-
Tozan S/A, a qual propiciou o desenvolvimento de Gora e construiu uma estrada de ferro, inaugurada
em 1919, de Yumoto até lá. Com a instalação do bondinho de cabo de aço entre Gora e o Monte Soun,
em 1935, o bairro passou a ser muito conhecido como local de veraneio.
Mudando-se para Gora em 5 de maio de 1944, o Fundador, influenciado pela Montanha Divina, o pico
mais alto de Hakone, deu à sua nova residência, como já dissemos, o nome de Solar da Montanha
Divina. Essa montanha, considerada desde a antigüidade como "montanha onde reside Deus", é alvo de
devotada fé desde a Era Heian (794 - 1185).
No Pico Kanmuri, vizinho à Montanha Kami, situa-se o Templo Jinben-ji, que cultua os monges ascetas
En-no-gyoja (23) e Shin-no-gyoja, que dizem ser os pais do ascetismo das montanhas. Shin-no-gyoja é de
origem samurai, sendo natural de Vila Haga, região que inclui a atual cidade de Mooka, no Estado de
Totigui. Durante um aprimoramento no Monte Mihara, na Ilha de O, situada em Izu, ele recebeu uma
ordem espiritual de En-no-gyoja para desbravar as montanhas de Hakone, indo então para Miyaguino,
onde esteve aproximadamente de 1879 a 1890. Como resultado de seu aprimoramento, curou pessoas
doentes com o poder que adquirira, abriu estradas nas entranhas das matas etc. Dessa forma, granjeou
o respeito dos moradores da região. Anos mais tarde, em 1885, escalou o Pico Kanmuri, onde morreu
sentado à moda budista, fazendo jejum.
Shin-no-gyoja fez diversas previsões para o povo de Vila Haga. Uma delas foi que, em futuro próximo,
tornar-se-ia possível escalar as montanhas de Hakone num transporte muito cômodo o que faria a
cidade prosperar como ponto turístico. Outro fato que ele previu é que, em menos de cem anos, seria
construído, em Hakone, um santuário ultra-religioso e um monumento em homenagem aos espíritos dos
povos do mundo inteiro. Como que obedecendo a essas palavras, a cidade passou a ser servida por uma
linha de trem, instalou-se o bondinho de cabo de aço e, como resultado, Hakone foi se tornando um
ponto turístico de categoria mundial. Além disso, em Gora, o Fundador construiu o Solo Sagrado e,
concretizando sua vontade não realizada em vida, foi edificado, em 1958, o Santuário dos Ancestrais,
para sufragar os espíritos. Em 1971, inaugurou-se o Santuário da Divina Luz, como local espiritual
básico. E o fato de ainda existir a lápide de Shin-no-gyoja entre o arvoredo situado à esquerda desse
santuário, é muito significativo, se o associarmos à profecia feita por ele.
Anos mais tarde, a respeito do nome e da topografia de Gora, o Fundador disse:
"O centro da nossa Igreja é Gora, em Hakone. ‘Go’ é ‘cinco’ e também ‘fogo’; ‘ra’ é ‘espiral’. Por isso,
o nome Gora significa ‘expansão centrífuga da essência do fogo’.
É muito profundo o significado do assento em forma de flor de lótus (‘rengue-dai’) que constitui a base
onde repousam as estátuas budistas. Gora, situada em Hakone, é o próprio ‘rengue-dai’, porque está
formada de montanhas de alturas variadas em torno de uma montanha alta, assemelhando-se,
topograficamente, à flor de lótus."

- Místico do período inicial da Era Nara, nascido na antiga Província de Yamato. No livro "Shoku
(23)

Nihongui", consta que ele espalhou boatos ruins,que amedrontaram a sociedade, e, então, foi exilado para Izu.
É também mencionado nos livros "Nihon Ryoiki", "Konjaku Monogatari" e outros. Na Era Heian, à medida
que a seita budista Mikyo foi se expandindo, ele foi sendo santificado, e passaram a considerá-lo o pai do
ascetismo das montanhas.
72
Dessa forma, tanto pelo nome, como pela topografia e história, Hakone e Gora possuem um sentido
oculto, simbolizando a Obra Divina que as foi determinando como local espiritual básico.
Em agosto de 1944, três meses após mudar-se para Hakone, o Fundador comprou outra casa,
situada em Higashiyama, na cidade de Atami, e para lá se mudou em outubro. Ela fora construída por
volta de 1933, por Kengo Ishi, antigo Presidente do Banco Dai-iti e, em 1939, tornara-se propriedade de
Kamessaburo Yamashita, um empresário conhecido pela sua biografia de bem-sucedido na vida, o qual
fundou a companhia de navegação a vapor Yamashita. O Fundador deu a essa casa o nome de Solar da
Montanha do Leste, devido à sua localização.

Figura

Jantar realizado no salão anexo (local de entrevistas) do Solar da Montanha do Leste, em 23 de


dezembro de 1945, ano seguinte ao da mudança do Fundador para essa casa

Atami é a cidade de águas termais mais visitada por turistas em todo o Japão. Em virtude de sua
paisagem delineada por belas costas marítimas lembrar a famosa Riviera Italiana, chamam-na de
"Riviera do Oriente". Dizem que a Baía de Atami, cercada por montanhas, formou-se com o
afundamento da base da cratera do Vulcão Atami, que outrora era ativo. A história de Atami é bem
antiga e, após a abertura do Túnel Tan-na, em 1934, a cidade alcançou rápido progresso. Devido ao seu
clima abençoado, as flores das ameixeiras começam a brotar no final do ano, em pleno rigor do inverno
e, no final de janeiro, já se pode ver o "kanzakura", uma variedade de cerejeira que floresce antes das
demais espécies.
A respeito do nome "Atami", o Fundador explicou: " ‘A’ significa ‘céu’; ‘ta’ significa ‘centro’ e
expressa-se com o sinal ... (. . .) ‘mi’ significa ‘água’. Portanto, o nome ‘Atami’ significa ‘terras da Lua
no centro do céu’." Ele também costumava dizer: "O fogo arde em sentido vertical, e a água corre em
sentido horizontal. . . " Captando que a expansão ou crescimento horizontal é uma ação baseada na
propriedade da água, o Fundador explicou que o Solo Sagrado de Atami significa expansão da difusão
pelo mundo inteiro.

Figura

Foto tirada nas proximidades do atual Templo Messiânico, na ocasião em que o Fundador e seus
acompanhantes venceram a montanha a pé, vindo de Yugawara. Na primeira fileira, a terceira pessoa
da esquerda para a direita é Yoshi, e a quarta, o Fundador
"Não me canso de Atami.
A vista para o mar
E para a montanha
É magnifica.
E Atami também possui
Abundância de águas termais. "

A partir de 1944, era praxe o Fundador, do outono à primavera, realizar os trabalhos Divinos
em Atami, e nos quatro meses de verão, ou seja, de junho a setembro, em Hakone. Tendo adquirido
terrenos nessas duas cidades com o grande objetivo de construir protótipos do Paraíso Terrestre, dava
instruções para as obras de construção do Shinsen-Kyo (Terra Divina) (24) enquanto estava em Hakone
e, durante o tempo que passava em Atami, procurava, pelos arredores, o terreno mais adequado a se
tornar a sede do desenvolvimento da Obra Divina.
O local para a construção do Zuiun-Kyo (Terra Celestial) (25) foi escolhido no outono de 1945, quando,
depois de visitarem o Pico Jikoku, o Fundador e mais trinta pessoas, entre discípulos e fiéis, andaram a
pé desde Yugawara, venceram a montanha e, entrando em Atami, chegaram às proximidades do lugar
onde, posteriormente, foi construído o Templo Messiânico.

c) A VIGILÂNCIA

(24)
- Nome do Solo Sagrado de Hakone.
(25)
- Nome do Solo Sagrado de Atami.
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Mesmo depois que o Fundador se mudou de Tamagawa para Hakone e Atami, os olhos persistentes das
autoridades continuaram a perseguir seus passos. Até o término da guerra e a queda do regime de
vigilância estabelecido pela Polícia Especial, pela Polícia Militar e por outras corporações, o Fundador
era tratado como indivíduo suspeito, como elemento perigoso. Quando ele comprou o Solar da
Montanha do Leste, a notícia foi logo transmitida pelas autoridades de Tóquio às de Atami e, no outono
em que ele se mudou de Hakone para Atami, vez por outra, um policial militar vestido à paisana ia ao
Solar da Montanha do Leste para fazer investigações. Dizem que o Fundador pressentia o momento em
que o policial estava saindo de casa e que, se calhasse de estar fazendo caligrafia nesse momento, o
pincel parava sozinho. Entretanto, mesmo diante do policial, ele atendia as pessoas com a serenidade de
sempre.
Participavam das investigações não apenas policiais militares vestidos à paisana como também policiais
da delegacia de Atami. Na época, o controle de ideologias vinha sendo feito tanto pelos militares como
pela polícia. O Fundador, porém, não tomava nenhuma precaução especial. Servia-lhes doces raros e
atendia-os com um sorriso, apesar de se tratar de pessoas que estavam ali para fazer investigações.
Levava-os para o local de entrevistas, fazia com que ouvissem a palestra junto com os fiéis, presenteava-
os com imagens de Kannon pintadas por ele e até lhes ministrava Johrei.
Essa forma de atendimento indiscriminado provinha, em primeiro lugar, do seu desejo de não esconder
nada, fazendo com que os investigadores verificassem tudo com seus próprios olhos e ouvidos.
Entretanto, podemos dizer que era, também, uma manifestação do grande amor do Fundador, que, há
muito tempo, tratava todas as pessoas da mesma forma. Durante as visitas que lhe faziam, os
investigadores eram envolvidos pela sua personalidade e passavam a simpatizar cada vez mais com ele.
Essa simpatia ia se transformando em respeito e admiração pela sua pessoa.
Assim, por um lado, o Fundador dispensava às autoridades um tratamento amável; por outro, não se
esquecia de ter os devidos cuidados para evitar que eles se irritassem à toa. Os fiéis que vinham para as
entrevistas, entravam separadamente; uns pela porta da frente, outros pela porta lateral, pela cozinha
etc.. Tomava essa precaução porque, diariamente, cinco a seis elementos da Polícia Especial vigiavam às
ocultas. Às vezes, ele dizia aos fiéis: "Os agentes da Polícia Especial são exigentes; por isso, é melhor o
senhor não vir aqui.”
Pouco depois que o Fundador se mudou para Atami, um investigador foi visitá-lo e, suspeitando que ele
mantivesse contacto com os Estados Unidos, levou dois ou três rádios que havia em sua casa, para que
fossem examinados por um especialista. E não era só. Às vezes, ficava um investigador escondido na
casa em frente ao Solar da Montanha do Leste, tomando notas minuciosas sobre os fiéis que
freqüentavam o Solar.

Figura

Da esquerda para a direita, Kyuhei Kaneko, Rei Ota, o Fundador, Yoshi e Itsuki, num passeio pelos
arredores do Solar da Montanha do Leste

Certo dia, apareceu um investigador da Divisão Especial, o qual lhe disse: "Na sua casa, curam-se
doenças, mas não é Kannon quem as cura. Elas são curadas graças ao grande poder do Imperador; por
isso, vocês deveriam agradecer a ele." Acostumado com os métodos dos policiais, que tudo
relacionavam ao poder do Imperador, o Fundador respondeu com um pouco de ironia: "As pessoas que
foram curadas devem mesmo ir agradecer lá no Palácio Imperial, é?"
Entretanto, apesar das investigações insistentes, nada surgia que pudesse incriminá-lo. Dizem que o
policial, um tanto desapontado, se queixou: "Investiguei bastante, fazendo tudo para prender Okada,
mas estou em apuros, porque não consigo achar nenhuma prova." Essas palavras chegaram ao
conhecimento do Fundador, o qual registrou: "Eu não pude deixar de rir. Prende-se alguém quando há
motivos; se não há, é porque a pessoa é honesta. Ele, no entanto, diz que está em apuros porque quer
me incriminar a qualquer custo. Não consigo entender uma coisa dessas.”
Mesmo depois de sua mudança para Hakone e Atami, o Fundador costumava arranjar tempo para
passear em companhia dos familiares e dedicantes que o ajudavam diretamente. Um ano e pouco antes
do término da guerra, era comum ele fazer passeios aos picos e sopés das montanhas de Hakone; nessas
ocasiões, apanhava ervas e flores mimosas que encontrava pelo caminho, para fazer vivificações florais.
Quase sempre o Fundador estava trajado à vontade. Passeando pelas matas de Hakone e até mesmo
andando pela movimentada cidade termal de Atami, tinha o hábito de usar roupas comuns. Aparentava
ser um senhor idoso como outro qualquer. Mas essa postura de não se portar de maneira especial,

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levava as pessoas que o conheciam bem a sentir maior familiaridade com ele e compreender a grandeza
de sua pessoa.

d) O FIM DA GUERRA

A guerra se tornava mais acirrada e, em fevereiro de 1945, as tropas americanas começaram a


desembarcar na Ilha Io, ocupando-a após uma luta desesperada durante um mês.
Também nos campos de batalha da Europa, a Itália, já em setembro de 1943, havia se rendido
incondicionalmente às tropas aliadas. Isolada, a Alemanha começou a recuar a partir de 1944, e o
destino dos países do Eixo apresentava-se sombrio.
Após a ocupação da Ilha Io, as tropas americanas intensificaram seu ataque e, no dia 1º de abril, menos
de um mês depois, iniciaram a estratégia de desembarque na Ilha Okinawa. A batalha aí travada
envolveu não só os soldados como também muitos civis e, em menos de três meses, morreram duzentas e
dez mil pessoas, entre as quais cem mil não estavam em combate.
A partir de 1944, haviam-se intensificado os ataques aéreos ao Japão, que ficara sem qualquer defesa.
Especialmente após a ocupação de Okinawa, começaram bombardeios indiscriminados, que atingiam
não apenas as grandes metrópoles e as instalações militares, mas também as cidades pequenas e médias
de todo o país. Em maio, os alemães se renderam por completo, e então as tropas aliadas passaram a
atacar o Japão com força total. Nos meados de julho, cidades litorâneas como Kamaishi e Muroran
foram bombardeadas por canhões navais, sofrendo um golpe destruidor. Apesar de tal situação, o
governo continuava a preparar a batalha decisiva no território japonês.
Entretanto, o Japão foi vítima da tragédia histórica representada pelas bombas atômicas lançadas no
dia 6 de agosto em Hiroshima e no dia 9, em Nagasaki. Só então, por decisão do Imperador, o governo
resolveu se render, colocando um ponto final naquela guerra que durara quase quatro anos.
No dia 15 de agosto de 1945, estavam reunidos no Solar da Montanha Divina, em Hakone, cerca de
cinqüenta fiéis, que tinham vindo de todo o país para encontrar-se com o Fundador. Nesse dia, desde
cedo, o rádio anunciava repetidamente que, ao meio-dia, seria transmitida uma importante notícia, e o
Fundador ordenara que todos ouvissem essa transmissão. Pouco antes da hora determinada, ele sentou-
se cerimoniosamente diante do rádio, e todos fizeram o mesmo. Ao meio-dia, foi anunciada a declaração
do fim da guerra, e quem deu a notícia foi o próprio Imperador, fato inédito em toda a história do
Japão.
Naquele grupo, havia pessoas a quem o Fundador já tinha avisado que o Japão perderia a
guerra; no entanto, ao ouvirem o triste resultado a que o país chegara depois de ter empregado todas as
suas forças, a maioria ficou atônita e engoliu em seco. Passados alguns instantes de silêncio após o
término da transmissão, o Fundador disse aos fiéis, que o olhavam ansiosamente: "Foi bom assim. O
Japão irá melhorar." Falou apenas isso e deixou a sala. Essas palavras, ditas no tom costumeiro,
surpreenderam muito os diretores e fiéis, que estavam desapontados. No dia seguinte, comentou ainda
com aqueles que vieram para a entrevista: "Não posso falar abertamente, mas, na verdade, esse
resultado merece uma grande comemoração." Ouvindo isso, os discípulos sentiram desfazer-se aquela
intranqüilidade que os assaltara há pouco, e compreenderam que, com o término da guerra, por fim
chegava o momento em que o Japão se tornaria realmente um país correto.
Mas agora, mais do que nunca, quando haviam terminado os dias de tensão causados pela vigilância
incessante das autoridades e era possível falar abertamente à sociedade sobre a fé em Deus que ocultara
em seu íntimo durante longo tempo, a firmeza do Fundador precisava ser muito grande.
Ele, que, com o fim da guerra, vira-se livre das vigilâncias e reiniciara suas atividades, passou a ser
procurado por um grande número de pessoas. Entre elas, havia muitos militares profissionais,
designação dada àqueles que entravam para a carreira militar por intermédio de alistamento.
Pouco depois de terminada a guerra, um militar o visitou e, muito irado, desabafou toda a sua
insatisfação: “Não consigo entender o motivo da rendição. É uma vergonha!" Entretanto, o Fundador
nada disse para alimentar o assunto. Admirado, o militar lhe perguntou: "O senhor é japonês?", ao que
ele, imediatamente, respondeu: "Não; não sou japonês." O homem teve um sobressalto e começou a
tremer, mas perguntou: "Então de que país é o senhor?" Diante da resposta — "Eu sou universal" —
ficou sem ação. Então, o Mestre lhe falou sobre o amor à humanidade, que está acima da posição de um
único país.
O período pós-guerra do Japão começou com a ocupação do país pelas tropas aliadas. Com a
rendição firmada pela aceitação da Declaração Potsdam em 15 de agosto de 1945, todo o gabinete do
75
Primeiro-Ministro Kantaro Suzuki renunciou, sendo substituído pelo gabinete chefiado por
Higashikuni-no-miya Naruhiko, que se lançou à reorganização da situação de pós-guerra e à
restauração da ordem social. Na verdade, porém, tudo estava sob a direção do alto comando do quartel
general das tropas de ocupação. Essa situação durou cerca de sete anos, até que o Japão se tornou
independente, com o Tratado de Paz de São Francisco, firmado entre quarenta e oito países, entre os
quais os Estados Unidos.
A política das tropas de ocupação consistia em promover o desarmamento, liquidar o militarismo e
tornar o Japão uma nação pacífica; ao mesmo tempo, pretendia-se assegurar a liberdade dos indivíduos
e a democracia, e reorganizar uma atividade econômica capaz de contribuir para a paz mundial.
Entretanto, se analisarmos atentamente, veremos que a situação do Japão era a de um derrotado que
tem de cumprir a pena imposta pelos vencedores através do julgamento dos criminosos de guerra.
Mesmo a liberdade de expressão não era total: as notícias desvantajosas para as tropas aliadas eram
rigorosamente censuradas. De modo geral, porém, foi adotada uma política que visava à liberdade
ampla e à concretização da democracia. No campo da Religião, foi assegurada a liberdade de culto,
embora de forma relativa: as religiões não sofreriam intervenções desde que respeitassem a ordem
pública e os bons costumes. Conseqüentemente, podemos dizer que era a primeira vez que a primavera
chegava para o mundo religioso.
Antes e durante a guerra, as religiões sofreram terríveis pressões e intervenções, cuja base legal era a
"Lei de Preservação da Ordem da Nação", promulgada em 1925. Devido a essa lei, a Omoto e a Hito
no Miti sofreram duros golpes, conforme já foi dito. Finda a guerra, entretanto, na época do governo
indireto do alto comando do quartel-general das tropas de ocupação, todos os religiosos que se
encontravam presos, foram postos em liberdade. Passou-se, então, a desenvolver uma política de
separação entre Governo e Religião. Com base nessa política, em lugar da Lei das Organizações
Religiosas, existente antes da guerra, foi baixada a Lei das Pessoas Jurídicas de Natureza Religiosa.
Essa lei não indagava absolutamente nada sobre o conteúdo da Fé e estabelecia que os poderes públicos
não podiam interferir nela. Reconhecia-se a entidade religiosa desde que fossem feitos os registros.
Dessa forma, acabaram por completo as intervenções maldosas do Governo em relação às religiões.
Como resultado, a Omoto, por exemplo, que sofrera rigorosas pressões durante a guerra, reiniciou suas
atividades no mês de fevereiro de 1946, sob o nome de "Aizen-en" e, nessa mesma época, a Hito no Miti
também reiniciou as suas, sob o nome de Entidade Religiosa P.L. . Iniciava-se, de fato, a época da
liberdade religiosa e começaram a nascer novas religiões umas após as outras. Sayo Kitamura, da
Religião Tensho-Kotai Jingu, que ficou conhecida como "religião dançante", iniciou as pregações em
julho de 1945, e a Religião Jiu, que se tornou famosa por ter entre seus fiéis o ex-lutador de sumô
Futabayama, o sábio jogador de "shogui" (26) Seiguen Go e outros, passou a ser alvo de atenções em
janeiro de 1947.
Com a Lei das Pessoas Jurídicas de Natureza Religiosa, as religiões que até então tinham de agir às
ocultas, desenvolvendo suas atividades sob outros aspectos, chegaram ao fim dessa jornada obscura.
Para nossa Igreja também terminou a época adversa de proibição das atividades religiosas, e ela entrou
numa fase de grande mudança histórica. A propósito, existe um episódio que simboliza essa mudança.
Em setembro de 1945, um mês após o fim da guerra, um ministro foi a Hakone levar oferendas e passou
muito mal, chegando a desmaiar. Avisado do acontecido, o Fundador foi ministrar-lhe Johrei e, quando
ele melhorou, sentou-se cerimoniosamente e entoou em voz alta a oração Amatsu-Norito. A maioria das
pessoas que estavam à sua volta haviam se tornado fiéis na época da terapia popular, antes e durante a
guerra; assim, elas se surpreenderam com a oração, que ouviam pela primeira vez. Entretanto, sentindo
uma profunda admiração pela sua grande solenidade, curvaram-se respeitosamente.
Dessa forma, o caminho que vai tornando claro o trabalho de nossa Igreja como religião começa
a ser trilhado passo a passo, mas o Fundador ainda esperou durante dois anos, até que a Lei das
Pessoas Jurídicas de Natureza Religiosa se firmasse. Ou seja, durante os quase dois anos transcorridos
até que a liberdade religiosa fosse assegurada, de direito e de fato, pela nova Constituição, promulgada
em 1947, o Fundador continuou as atividades de salvação ainda sob a forma de terapia popular.
Com o final da guerra, a linha de difusão, que, apesar da liberdade limitada, fora consolidada durante o
conflito, expandiu-se de forma extraordinária, como uma correnteza que encontra passagem, e chegou a
todo o país. O Johrei salvava as pessoas que, no difícil dia-a-dia, sofriam com doenças, problemas
financeiros e conflitos, e os Ensinamentos do Mestre tornavam-se a Luz que ilumina o caminho daqueles
que perderam o rumo a seguir.

(26)
- Jogo japonês semelhante ao xadrez.
76
No dia 11 de fevereiro de 1947, o Fundador reformulou o sistema de atuação dos seus discípulos, cujas
atividades se desenvolviam sob o nome de "Tratamento de Digitopuntura no Estilo X", e organizou a
Nipon Joka Ryoho Fukyu-Kai (Associação de Divulgação da Terapia Japonesa de Purificação),
planejando a união da entidade. Ele próprio ocupou o cargo de Presidente; Sossai Shibui, o de Vice-
Presidente, e o escritório foi instalado em Atami.
A expansão da Associação era espantosa. Com a seqüência inumerável de milagres produzidos,
aumentou o número de pessoas que desejavam se tornar associadas. Abriram-se cursos nas mais
diversas regiões, e em todos eles havia muitos participantes, ligados a pessoas salvas pelo Johrei ou que
ali estavam por causa de comentários que ouviram. Houve um curso ministrado no Estado de Guifu em
que toda uma vila ingressou na Fé.
Entre as pessoas que assistiam a esses cursos, começou a crescer o número daqueles que, devido
à experiência emocionante de terem sido salvos, despertavam para a sua missão de servos de Deus e
desejavam se tornar exclusivamente terapeutas. Por outro lado, alguns não viam com bons olhos a
rápida expansão que a Associação vinha alcançando, e houve casos de denúncias à polícia, sob a
alegação de que ela infrigia as leis da Medicina; vez por outra, isso chegou a se tornar matéria
jornalística. Por causa dessas denúncias, as autoridades viram-se várias vezes obrigadas a deter os
terapeutas e submetê-los a interrogatórios. Entretanto, com a ardorosa fé dos dirigentes, tudo isso pôde
ser vencido. Aliás, esses fatos tornaram-se uma boa propaganda para atrair as pessoas, e a difusão
continuou a crescer de forma espantosa.

2. A GRANDE EXPANSÃO

a) INSTITUIÇÃO DA NIPON KANNON KYODAN (Igreja Kannon do Japão)

Após o término da guerra, as atividades da Obra Divina continuaram durante algum tempo sob o
aspecto de terapia popular. Entretanto, pouco depois, as tropas de ocupação americanas começaram a
fazer investigações sobre as ideologias existentes no Japão, naquela época. A Associação de Divulgação
da Terapia Japonesa de Purificação também foi objeto dessas investigações e quem as fez foi um
indivíduo chamado Nicholas. Quando este visitou a clínica de Shimizutyo, juntamente com sua esposa, o
Fundador deu-lhe diversas explicações sobre a nossa Igreja. Entretanto, como eles não conseguiam
entender que da palma da mão saísse uma luz espiritual, o Mestre os fez assistir a uma experiência.
Colocou algumas pessoas de pé à beira do lago e pediu a Issai Nakajima que, do outro lado, ministrasse
Johrei naquela direção. Quando Nakajima iniciou o Johrei, as pessoas começaram a tossir e a bocejar.
Suspeitando que tudo tivesse sido combinado, Nicholas mandou que elas ficassem de costas e que
Nakajima só ministrasse Johrei quando ele desse o sinal. Obviamente, o resultado foi o mesmo, e as
suspeitas de Nicholas se desfizeram por completo. O Fundador assistiu a tudo achando muita graça.
Nicholas ficou muito bem impressionado com essa visita e foi embora achando que a Associação pregava
coisas muito boas. Mais tarde, graças principalmente ao seu trabalho, a instituição da Igreja Kannon do
Japão pôde ser preparada sem tropeços; em 30 de agosto de 1947, ela foi instituída oficialmente, como
entidade religiosa.

Figura

Cerimônia de Instituição da Igreja Kannon do Japão. No centro, Sossai Shibui, Presidente do Conselho
Administrativo

A cerimônia de instituição foi realizada solenemente, no dia 11 de novembro do mesmo ano, no Hozan-
So, em Tamagawa, com a presença dos principais dirigentes e membros de todo o país. Na ocasião, o
Fundador fez a seguinte saudação:
"Em outubro de 1934, iniciei a campanha Kannon sob a denominação de Associação Kannon do
Japão, com o objetivo de construir um mundo isento de doença, miséria e conflito. Naquela época,
entretanto, as autoridades tinham como diretriz pressionar indiscriminadamente todas as religiões e
organização similares, e por isso a Associação Kannon do Japão também não foi poupada, recebendo
total repressão. Conseqüentemente, desde então abandonamos o aspecto religioso e viemos
desenvolvendo atividades terapêuticas, o que é do conhecimento de todos. Tudo isso está baseado na
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ação de Oshin-Miroku, uma das manifestações de Kannon, e o fato encerra um profundo significado.
Finalmente, com a marcha do tempo, chegou a oportunidade de manifestar a força virtuosa, ou seja, o
Poder da Inteligência Superior de Kannon. "
Na Igreja Kannon do Japão, o Fundador ocupou o cargo de Conselheiro, e Sossai Shibui, o de
Presidente do Conselho Administrativo. A Sede foi instalada no Hozan-So e compunha-se de quatro
departamentos: Administrativo, Assuntos Religiosos, Higiene e Saúde, e Empreendimentos Sociais.

A organização regional foi dividida em oito igrejas, a saber :

Igreja Miroku - Responsável: Sossai Shibui


Bairro de Kaminogue 110, Tamagawa
Distrito de Setagaya - Tóquio
Igreja Tengoku - Responsável: Nakajima Issai
Ashikawa 136, Izussan Nishi, cidade de Atami, Estado de Shizuoka.
Igreja Daiwa - Responsável: Takao Sakai
Yukinoshita 66 - cidade de Kamakura - Estado de Kanagawa.
Igreja Showa - Responsável: Nobumassa Takato
Quadra 3, nº 6, Distrito de Oji - Tóquio
Igreja Shinshin - Responsável: Otomatsu Araya
Bairro de Jinushi 25 - cidade de Iti no Seki - Estado de Iwate.
Igreja Meshiya (posteriormente mudada para Igreja Koho)
Responsável : Yoshihiko Kihara
Higashi Ueno 677, Mukaijima
Bairro de Okawa, Vila Mizuma - Estado de Fukuoka.
Igreja Ko-no-Hana - Responsável: Raku Naito
Shiroyama 1365, cidade de Fujinomiya - Estado de Shizuoka.
Igreja Taissei - Responsável: Teruhiko Onuma
Kitazawa, quadra 3, nº 1086 - Distrito de Setagaya - Tóquio.
Em julho de 1948 foi instituída a nona igreja filial: Igreja Jitsuguetsu (mais tarde denominada Igreja
Meissei)
Responsável: Hidejiro Kobayashi
Aratama, quadra 2, nº 224 - cidade de Odawara - Estado de Kanagawa.

Instituída a Igreja Kannon do Japão, as atividades de salvação foram totalmente reformuladas. Na nova
organização, que iniciou suas atividades como religião, o Johrei até então denominado "tratamento",
passou a ser chamado de "Purificação" e, logo a seguir, de "Johrei". Quanto ao talismã, este passou a
ter as palavras "Hikari" ("Luz"), "Komyo" ("Luz Intensa") e "Dai-Komyo" ("Luz Muito Intensa")
escritas verticalmente. A partir de janeiro de 1948, começou a ser entoada a oração Zenguen-Sanji e
também os salmos.
Foi nessa ocasião também que, por determinação do Fundador, os fiéis passaram a dirigir-se a Deus,
diante de Sua Imagem, pelo nome Miroku Omikami. Na Imagem de Deus estava escrito "Dai-Komyo
Nyorai" ("Divindade de Luz Muito Intensa"); mais tarde, na época da Segunda Líder Espiritual, essas
palavras foram mudadas para "Dai-Komyo-Shinshin" ("Deus Verdadeiro de Luz Muito Intensa"). Isso
significa que, desejando a salvação da humanidade, Deus, Criador do Universo, que descera até a
posição de Bossatsu e se manifestara sob o nome de Kanzeon Bossatsu, finalmente retornava à sua
posição original e começava a atuar para desenvolver a grande obra da salvação.
Assim, efetuou-se o grande salto da terapia popular denominada Tratamento de Purificação por
Digitopuntura, para a pessoa jurídica de natureza religiosa chamada Igreja Kannon do Japão.
Entretanto, houve alguns membros que vacilaram. Aqueles que pensavam unicamente em solucionar os
seus próprios problemas, sentiram muita insegurança ao ouvirem falar do ideal de salvar a humanidade
e transformar a Terra num paraíso. Entre as pessoas que se limitavam a pensar no Johrei como um
tratamento, não conseguindo reconhecer a existência de Deus e o Seu amplo desejo de salvação, muitas
interpretaram que tinham sido enganadas, quando se revelou seu aspecto religioso. Quanto aos
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intelectuais, havia os que, embora comprovando a grandiosidade do Johrei, achavam incoerente
reconhecer nele o Poder Divino, uma vez que tinham uma visão materialista do mundo. Havia, ainda,
aqueles para os quais era embaraçoso, perante a sociedade, ter ligação com uma religião nova.
Assim, quando foi instituída a Igreja Kannon do Japão, muitos membros da Associação de Divulgação
da Terapia Japonesa de Purificação se afastaram. Por outro lado, as pessoas que, desde a época da
Associação, haviam despertado para a missão de salvar seus semelhantes e que, por trás do Johrei,
captavam a Vontade Divina de construir o Mundo Ideal, sentiram uma alegria inexprimível ao verem
chegar a época pela qual tanto esperavam. Com seu ardente entusiasmo pela difusão, surgiam grandes
milagres em todo, o país e muitas outras pessoas foram sendo salvas. Assim, apesar de haver um grande
número de desligamentos, alcançou-se uma expansão que supria e ultrapassava esse número. O ano de
1947, em que se instituiu a Igreja Kannon do Japão, foi um ano de crescimento inédito em toda a
história da Igreja. O número oficial de membros que, na época do término da guerra, era de algumas
centenas, em dois anos chegou a dezenas de milhares.
Em outubro de 1948, o Fundador deu autonomia à Igreja Miroku, uma das nove filiais, a qual
recebeu o nome de Igreja Miroku do Japão. No primeiro número da revista "Hikari", editada pouco
depois, ele explicou a relação entre a Igreja Kannon do Japão e a Igreja Miroku do Japão: "Todas as
coisas têm positivo e negativo, masculino e feminino, vertical e horizontal; assim, se ambas as partes
caminharem suprindo suas falhas e defeitos, a expansão será mais rápida. É como ter braço direito e
braço esquerdo. Esta é a Verdade." A partir daquela data, comprovando as palavras do Fundador, as
duas Igrejas tiveram uma expansão assombrosa; em 1949, o número de fiéis elevava-se a mais de cem
mil.

b) O OLHAR DESCONFIADO DA SOCIEDADE

A linha da difusão expandiu-se por todo o país como o fogo de uma queimada, mas nem sempre a Igreja
obteve a compreensão de todos os setores da sociedade e foi recebida de bom grado. Pelo contrário. Era
criticada, desprezada ou então atacada. Como a expansão era admirável, a insatisfação de uma parte
das pessoas também aumentava.
Essa antipatia em relação à Igreja estava estreitamente ligada com a situação em que se encontravam as
religiões do Japão naquela época. No dia 28 de dezembro de 1945, logo após o término da guerra, foi
baixada a Lei das Pessoas Jurídicas de Natureza Religiosa, sendo reconhecida a liberdade de crença;
começaram, então, a surgir religiões novas umas após outras, na devastada sociedade japonesa. Entre
elas, havia algumas que, até o final da guerra, com a pressão sofrida, não tinham tido outra alternativa
senão colocar-se sob o manto das religiões reconhecidas, e agora, após esse período de submissão,
tornavam-se independentes. Havia outras que não eram reconhecidas e, finalmente, podiam apresentar-
se como religião. Entretanto, como a Lei das Pessoas Jurídicas de Natureza Religiosa, que vigorava na
época, era um ato muito simples, que não necessitava de qualquer aprovação do governo, bastando
entregar às autoridades local os papéis exigidos, houve muitas organizações criadas com finalidades
desonestas, visando a aproveitar-se do fato das entidades religiosas não pagarem impostos. Como essas
religiões começaram a criar problemas em diversos lugares, os olhos da sociedade tornavam-se cada dia
mais rigorosos em relação às novas religiões. Assim, a Igreja Kannon do Japão, que, não obstante a essa
conjuntura, continuava expandindo-se surpreendentemente, passou a ser olhada com uma antipatia
maior ainda.
Bem nessa época aconteceu um caso embaraçoso. O Ministério da Fazenda, desconfiando da
declaração de imposto de renda da Igreja relativa ao ano-base de 1947, realizou inspeções em cinco
instalações da Igreja, em novembro de 1948, por suspeita de sonegação de impostos.
Para a Igreja, esse acontecimento foi uma tempestade em dia de sol. Fazia pouco tempo que ela
fora instituída como pessoa jurídica, em agosto de 1947, e ainda não estava devidamente organizada.
Com o rápido crescimento da difusão, a Igreja se tornara grande, e a parte burocrática fora ficando
complexa. As pessoas que cuidavam dessa parte naquela época, dedicavam-se também à difusão e, além
disso, não possuíam conhecimentos e experiências suficientes, no campo jurídico e administrativo.
Assim, a Igreja imediatamente solicitou os serviços de dois advogados para tratarem do caso, sendo
apurado o seguinte: na construção da Terra Divina, em Hakone, as obras em grande escala tinham
acarretado gastos que atingiam altas somas; entretanto, devido à falta de experiência no serviço de
contabilidade, houvera falhas nos registros e isso foi interpretado como desvio de dinheiro para as
rendas individuais do Fundador e de Shibui. O caso em si ficou resolvido em maio de 1949, com o
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pagamento de uma multa, mas deu origem a diversos problemas, que influenciaram muito o destino da
Igreja.

Em dezembro de 1948, durante essas investigações a propósito da suspeita de sonegação de


imposto, o caso foi noticiado por um jornal de grande circulação. Nessa reportagem, elaborada com
base em boatos irresponsáveis e denúncias provocadoras, exagerava-se absurdamente os bens da Igreja,
dizendo que eles alcançavam 2 bilhões a 3 bilhões de ienes. Desde então, começaram a aparecer
repetidamente, nos jornais, artigos onde se dizia que a Igreja enganava pessoas inocentes, aproveitando-
se de sua infelicidade para obter lucros exorbitantes. E não foi só isso: faziam-se distorções dos
Ensinamentos do Fundador e publicavam-se notícias espalhafatosas ridicularizando o Johrei e a
Agricultura Natural.
As críticas em relação à Igreja começaram a aparecer não só nos jornais, como também no
rádio. Na cidade de Takayama, situada no Estado de Guifu, foi realizada, no dia 1º de março de 1949,
uma gravação de opiniões colhidas ao vivo; nos dias 3 e 5 do mesmo mês, ela foi transmitida a todo o
país por uma emissora, com o título de "Superstição e Religião".
Entretanto, o conteúdo desse noticiário era injusto. Do começo ao fim, tratava-se o assunto de forma
sensacionalista, dando-se a entender que a Igreja estava enganando o povo mal informado. Os
participantes constituíam um grupo reunido propositalmente por pessoas que não gostavam da Igreja.
Entre eles, havia fiéis corajosos que falavam abertamente sobre os milagres do Johrei, mas por estarem
entre pessoas ousadas, sua voz se perdia no tumulto.
Pouco tempo depois, em frente à estação ferroviária de Nagano, em Shinshu, foi realizada outra
gravação de opiniões colhidas ao vivo, desta vez sobre o tema "O homem pode ser salvo através da
Religião?" Como acontecera na vez anterior, o grupo envolvia pessoas críticas, cheias de revolta e
hostilidade. Tais programas, em síntese, eram planejados de antemão, de modo a dar a impressão de
que a Igreja Kannon do Japão era uma religião supersticiosa e trapaceira, que enganava o povo.
Esses noticiários propiciaram o aparecimento de muitos extorsionários e chantagistas, que sonhavam
com os bens da Igreja, publicados nos jornais. Era freqüente eles visitarem o Solar da Montanha do
Leste levando notáveis cartas de apresentação. Sobre o assunto, o Fundador escreveu: "É interessante
que existem chantagistas do tipo afável e do tipo ameaçador. O primeiro é muito dócil e mostra-se leal à
Igreja. Dizendo que certa entidade planeja colocá-la em má situação, que está confundindo os membros,
e outras coisas do gênero, fazem hábeis roteiros e exigem somas para promover campanhas. São bons
atores e, se estivermos desprevenidos, somos enganados. Mas os mais numerosos são aqueles cujo
método consiste em fazer ameaças, como por exemplo: ‘O Alto Comando e o Poder Judiciário estão
providenciando o fechamento da Igreja’; ‘Vou levá-lo à força, mandar revistar a casa e destruir a
Igreja’; ‘Vou mandar prender todos, inclusive das filiais’; etc.. Ultimamente, têm aparecido os que se
aproveitam do nome de membros do Congresso e até do Partido Comunista."
Os mais perigosos atuavam junto aos jornais, à polícia e às tropas de ocupação, através de cujo poder
queriam pressionar a Igreja. O método utilizado era o ataque escrito por meio de hábeis denúncias. Os
jornais não conseguiam discernir a verdade e, erroneamente, reconheceram o conteúdo dessas
denúncias como fato real; as autoridades, deixando-se levar por esses planos, partiram para as
investigações.

c) AS INVESTIGAÇÕES DA CRIMINAL INVESTIGATION DIVISION DAS


TROPAS DE OCUPAÇÃO

Os planos, traçados através das denúncias, manifestaram-se em forma de inspeção das instalações da
Igreja pela Criminal Investigation Division das Tropas de Ocupação, no dia 25 de agosto de 1949. Nesse
dia, por volta das vinte e uma horas, o Fundador estava fazendo caligrafia a pincel no Soun-Ryo,
quando, de repente, lá fora, soou um disparo de revólver. Um dedicante foi até o "hall" de entrada e
deparou com soldados das tropas de ocupação entrando na casa, empunhando pistolas.
Sem que se soubesse o motivo, por tratar-se de algo inesperado, o Fundador e Yoshi foram
levados ao Kanzan-Tei (Solar da Contemplação da Montanha), e as demais pessoas foram reunidas no
Soun-Ryo. Em seguida, os soldados retiraram o forro do teto, removeram as pedras do jardim e
realizaram uma inspeção completa com detector de metal.
Mais tarde, soube-se que esse acontecimento tinha por base uma denúncia enviada às tropas de
ocupação, segundo a qual a Igreja escondia materiais preciosos, como barras de ouro, platina,
80
diamante, etc. Contudo, apesar das buscas minuciosas, nada disso foi encontrado. Muito pelo contrário:
depois que os soldados se retiraram, verificou-se que alguns objetos, entre os quais obras de arte e
artigos pessoais de Yoshi, haviam desaparecido. Cerca de dois meses depois, num tom respeitoso, mas
firme, o Fundador foi pedir ao comandante da Criminal Investigation Division das Tropas de Ocupação
que investigasse aquele caso. Entretanto, os objetos perdidos não apareceram.
Na atitude do Fundador, que não cedia nem um passo para o que estava errado e mantinha-se firme
mesmo ao lidar com as tropas de ocupação, cujo poder, na época, era absoluto, podemos ver que ele era
uma pessoa que não se deixava intimidar.
No dia 21 de setembro, quase um mês após esse incidente, foi publicado o seguinte artigo no jornal
"Nihon Trivium":
"A Igreja Kannon do Japão era objeto das nossas investigações desde janeiro, devido a problemas
relativos à sonegação de imposto de renda, contribuições para partidos políticos, fundos e atividades
políticas, posição pela qual temos de aplicar-lhe as leis existentes. Havia, também, contra ela,
difamações provenientes de outras organizações religiosas, mas ficou esclarecido que o caso não era
nada daquilo que se alardeava. Como não se colheram provas suficientes, as investigações foram
encerradas.
O tratamento através do Johrei e do cultivo sem fertilizantes talvez possa constituir um problema, pelo
seu caráter anti-social; como, porém, isso não é da nossa alçada, não podemos considerá-los como
problema, desde que os fiéis tenham uma compreensão elevada sobre isso."
O conteúdo desse artigo favorecia a Igreja mas, ao mesmo tempo, mostra que sua doutrina e as
atividades nela baseadas eram objeto de muitas críticas por parte da sociedade.
Além dos problemas relativos às finanças, o Johrei e a Agricultura Natural também foram
objetos de equívocos e difamações. Hoje, finalmente, as limitações e as falhas da visão científico-
materialista começam a ser levantadas, e a harmonia e o poder da natureza começam a ser aceitos com
naturalidade. Mas na época, como as inovações técnicas se desenvolviam grandemente, apenas se
enalteciam as possibilidades da inteligência humana. Em conseqüência, tudo que não pudesse ser
provado pela Ciência, era rejeitado antecipadamente, como sendo superstição.
No tocante à agricultura, os fertilizantes químicos, que começaram a ser usados antes da Segunda
Guerra Mundial, passaram a sê-lo ainda mais. Entre os defensivos agrícolas, o D.D.T. e o B.H.C. eram
pulverizados em grande quantidade, mas devido ao mal que faziam ao corpo humano, pararam de ser
fabricados. Todavia, como, naquele tempo, os tóxicos contidos nos fertilizantes e nos defensivos
agrícolas ainda não se manifestavam, só se enalteciam os bons resultados obtidos com a utilização dessas
substâncias. A sociedade estava mergulhada na cega crença nos fertilizantes e defensivos, e é incalculável
a intensidade das censuras e risos que a Agricultura Natural provocou.
Nesse clima, ocorreu uma desavença entre os dois advogados a quem a Igreja encarregara de cuidar do
caso ocorrido por ocasião das investigações do Ministério da Fazenda; em novembro de 1949, essa
desavença cresceu ao ponto de ser levada a juízo. No início, os dois trabalhavam em conjunto, mas em
decorrência de um desentendimento que envolvia problemas sentimentais, gerou-se um equívoco em
torno dos honorários de ambos, até que um deles acabou recorrendo à Justiça.
Esse protesto chegou ao conhecimento de um jornal e foi noticiado espalhafatosamente, na edição
matinal do dia 20 de novembro, com as seguintes manchetes:
"Grupo financeiro Igreja Kannon: grande sonegador de impostos?”
"Quatro milhões e meio para abafar o caso"
"Advogados brigam pela partilha de honorários e o caso é levado à Justiça"
As investigações relativas à suspeita de sonegação de impostos e os fatos ocorridos até o final do caso
foram noticiados de maneira terrivelmente distorcida. Desde então, as críticas à Igreja, partidas dos
mais diversos periódicos, aumentavam cada vez mais. No dia 14 de dezembro, saiu um artigo
exagerando desmedidamente os fatos e até contendo difamações infundadas. No dia 31 de dezembro, no
número 42 do jornal "Hikari", o Fundador publicou um artigo de protesto contra esses noticiários.

Eis o artigo:
O jornal X infringe a ética do jornalismo.
"Como diz o adágio, quanto maior a árvore, mais sujeita ela está aos ventos. Assim, com o
surpreendente crescimento de nossa Igreja, começaram a surgir muitas calúnias e difamações contra
nós, por inveja ou por outro motivo. O Jornal X, que se considera e é considerado um grande jorna/,
apesar de ter sido refutado três vezes pela nossa Igreja, publica novamente, na edição do dia 14,
espalhafatosos artigos cheios de maledicência, o que só podemos interpretar como feito
81
intencionalmente. Não podemos deixar de ficar abismados com a falsidade do seu conteúdo, nem
tampouco de nos preocuparmos com a influência maléfica que um instrumento público, como é o jornal,
causa, ao tomar tal atitude. Pensando nisso, enviamos ao Jornal X as palavras de protesto da Igreja,
vítima direta, e do Prefeito So, da cidade de Atami, vítima indireta, e publicamos as mesmas palavras no
nosso jornal, para transmitir a verdade e para que façam uma profunda reflexão a respeito. "'
As autoridades suspeitavam da Igreja por causa de denúncias que vinham recebendo há muito tempo.
Em agosto de 1949, agentes da Criminal Investigation Division das Tropas de Ocupação foram revistar
a casa do Fundador. Não se encontrou nada que pudesse incriminá-los mas, em novembro do mesmo
ano, com a desavença dos advogados, as suspeitas das autoridades aumentaram e foram iniciadas
investigações sigilosas.

CAPÍTULO IV
82
EVOLUÇÃO E
APERFEIÇOAMEN
TO

83
84
1. CONSTRUÇÃO E DESTRUIÇÃO

a) INSTITUIÇÃO DA IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL

O rápido progresso que a Igreja Kannon do Japão alcançou, a ponto de se tornar alvo das atenções da
sociedade, está profundamente relacionado com a situação social da época. Nos anos 20 da Era Showa
(1945 - 1954), o povo japonês, recobrando suas energias da devastação, da pobreza, do caos e da
insegurança decorrentes da derrota na Segunda Guerra Mundial, arou a terra e construiu casas,
fazendo com que, nas metrópoles transformadas em escombros, começasse a ecoar o som da
restauração. Entretanto, além das cidades terem sido destruídas e de quase todas as instalações
industriais terem ficado reduzidas a cinzas, houve uma inflação nunca vista, sendo necessário muito
tempo para que o país saísse dessas péssimas condições e recuperasse o nível de vida que possuía antes
da guerra.
Em 1952, com o Tratado de Paz de São Francisco, teve fim a época de ocupação, e o Japão recuperou
seu direito de nação independente. Havia, porém, uma grande disputa dos poderes políticos entre
esquerdistas e direitistas, e os conservadores reformistas travavam uma luta partidária dentro de seus
próprios campos, de modo que a situação política apresentava-se extremamente conturbada. Dentro
desse caos, o que fez o país se erguer foi a guerra na Coréia, estourada em junho de 1950, em frente ao
Arquipélago do Japão. Ironicamente, essa guerra serviu para favorecer a reorganização da economia
japonesa; se olharmos apenas a posição do Japão, poderíamos dizer que foi como chuva em época de
seca. Ela serviu, ainda, para despertar a atenção dos japoneses e dos demais povos para a tensão que
existia no Extremo Oriente — local de disputa entre o comunismo e o liberalismo — fazendo com que
todos começassem a se conscientizar da posição extremamente importante que o Japão ocupava na
política internacional. Como resultado, apressou-se o acordo de paz entre ele e os países das Nações
Unidas, especialmente os Estados Unidos, sendo antecipada a reconquista dos seus direitos e o seu
retorno à sociedade internacional.
As lutas na Península Coreana tornaram-se intensas e o mundo começou a temer que elas se
transformassem na Terceira Guerra Mundial. Felizmente, o pior foi evitado, mas a Coréia teve a
infelicidade de se dividir em República da Coréia e República Democrática Popular da Coréia.
Na revista "Tijo Tengoku" de janeiro de 1950, o Fundador escreveu: "Finalmente, entramos no ano de
1950. Para as pessoas comuns, é um ano como outro qualquer; no nosso ponto de vista, é um ano muito
importante, porque corresponde a um nó no desenrolar da transição do Mundo da Noite para o Mundo
do Dia, preconizado por nós."
Como que comprovando essas palavras, naquele ano ocorreram fatos importantes, dentro e fora da
Igreja. Em janeiro, faleceu Issai Nakajima, grande discípulo do Fundador; no dia 4 de fevereiro, Dia do
Início da Primavera, foi instituída a Igreja Messiânica Mundial; em abril, houve um grande incêndio
que destruiu a maior parte do cenho de Atami; em maio, a sede provisória da Igreja, localizada no
bairro de Shimizu, também em Atami, o Hekiun-So, residência do Fundador, situada no bairro de
Minaguti, na mesma cidade, e outros prédios, foram revistados inesperadamente; pouco depois, o
próprio Fundador foi preso. No período em que esteve detido, ele teve uma experiência muito
importante relacionada à sua própria qualificação Divina, conforme será referido posteriormente. Um
mês após esse fato, eclodiu a Guerra da Coréia.
O dia 4 de fevereiro de 1950 foi uma data muito importante na história da nossa Igreja. As duas
organizações independentes — Igreja Kannon do Japão e Igreja Miroku do Japão — que durante mais
de um ano e três meses vieram funcionando como as duas rodas dianteiras da Obra Divina, foram
dissolvidas e unificadas, passando a constituir a Igreja Messiânica Mundial. Foi estabelecido um sistema
de grandes, médias e pequenas Igrejas, para desenvolver a atividade de difusão da Fé.

Inicialmente, criaram-se três grandes igrejas Tengoku, Miroku e Taissei — cujos responsáveis e
endereços eram:

Igreja Tengoku - Kisseko Nakajima


Nishi Ashikawa 136 - Izussan, cidade de Atami — Estado de Shizuoka.
85
Igreja Miroku - Sossai Shibui
Midori, quadra 4, nº 589, cidade de Odawara — Estado de Kanagawa.
Igreja Taissei - Teruhiko Onuma
Gora 1300, Vila Miyaguino, Circunscrição de Ashigara Shimo — Estado de Kanagawa.

Mais tarde, foi acrescentada a Igreja Koho, situada em Tossu, bairro da Circunscrição de Miyoki, no
Estado de Saga, cujo Responsável era Yoshihiko Kihara. Ligadas a essas quatro grandes igrejas foram
instaladas setenta e seis igrejas médias e, filiadas a estas, setecentas e dez pequenas igrejas. A
organização da Sede estava constituída por departamentos, entre os quais a Secretaria Interna,
Administração e Serviços Religiosos, tendo sido criados os cargos de conselheiro e diretor.
Naquele mesmo dia 4 de fevereiro, o jornal "Hikari" teve o seu nome mudado para "Kyussei". Na
primeira página, sob o título "A respeito do nascimento da Igreja Messiânica Mundial", o Fundador
publicou a saudação de inauguração da Igreja, que começava assim:
"A Igreja Kannon do Japão, fundada como pessoa jurídica de natureza religiosa a 30 de agosto de
1947, e a Igreja Miroku do Japão, fundada sob os mesmos termos a 30 de outubro de 1948, foram
dissolvidas espontaneamente e, com a união de ambas, sob um novo plano, criou-se a entidade religiosa
denominada Igreja Messiânica Mundial, no Dia do Início da Primavera deste ano, 4 de fevereiro de
1950."
Em seguida, o Fundador explicava que aquilo estava acontecendo de acordo com a Providência Divina;
que Kanzeon Bossatsu, atuando para a salvação da humanidade como Buda, passara a atuar como
Deus, que era a sua verdadeira natureza; que a sua função, até ali mais restrita ao Oriente, dava um
grande salto, passando a ser de âmbito mundial — salvar toda a humanidade — e que a Igreja
Messiânica Mundial era a manifestação de tudo isso.
Assim teve início o novo sistema e, como os trabalhos básicos da Obra Divina haviam ficado prontos, o
Fundador, que ocupava o cargo de Conselheiro desde 1947, quando foi fundada a Igreja Kannon do
Japão, passou a ocupar a posição de Líder Espiritual e a aparecer no primeiro plano da Igreja. A partir
desse momento, baseado na Ordem Divina, começou a usar o nome de Meishu, empenhando-se na
expansão da Grande Causa com o espírito e o corpo renovados.
Ao dar início à Igreja Messiânica Mundial e ao desenvolvimento da Obra Divina propriamente dita, o
Fundador escreveu: "Dei o primeiro passo em fevereiro de 1928. Faz, pois, exatamente vinte e dois
anos. Nesse período, ficaram prontas as obras básicas e, por fim, estou organizando o pessoal,
hasteando a grande bandeira da salvação do mundo e começando as atividades propriamente ditas. Ou
seja, é como se eu estivesse me preparando no meu camarim e, já pronto, subisse ao palco."

b) O GRANDE INCÊNDIO DE ATAMI

Dois meses depois que a Igreja, sob o novo sistema, iniciou a Obra Divina de salvação do mundo com
um vigor igual ao do nascer do Sol, Atami sofreu dois grandes incêndios. O primeiro ocorreu na tarde
do dia 3 de abril, no cenho comercial de Nakamisse, perto da estação, atingindo noventa e quatro casas.
Dez dias depois, aconteceu um incêndio como nunca se tinha visto antes: o fogo, surgido pouco depois
das dezessete horas numa empresa construtora situada no aterro perto do mar, começou a se propagar
com o forte vento que soprava, e logo as ruas do centro foram engolidas pelas chamas. Conta-se que as
labaredas que se elevavam no céu noturno, podiam ser vistas até em Kamakura e Oisso, cidades
litorâneas como Atami, mas bem distantes dela. As chamas vigorosas, depois de atravessarem a cidade,
finalmente enfraqueceram, apagando-se no sopé da Montanha Tenjin, na zona leste, por volta da meia-
noite. De acordo com as estatísticas, 979 casas foram queimadas, 1461 famílias ficaram desabrigadas, o
número de vítimas elevou-se a 5745, e os prejuízos foram avaliados em 3 bilhões de ienes.
Além do forte vento, a precariedade do fornecimento de água foi fatal. Devido à violência do fogo, os
bombeiros da cidade e os que vieram ajudar provenientes de cidades vizinhas, como Hayakawa e
Yugawara, não conseguiram trabalhar com eficácia, de modo que a situação chegou àquela grande
tragédia. Dizem que a causa direta do incêndio foi uma ponta de cigarro jogada por um operário, a qual
incendiou um tanque de gasolina.
Naquele dia, havia um grande número de dedicantes trabalhando nas obras de construção do Solo
Sagrado de Atami, junto com os profissionais. Na época, o terreno onde se ergue o atual Templo
Messiânico, os muros de pedra ao redor, o terreno do Palácio de Cristal e outros aspectos básicos na
Terra Celestial delineavam as suas formas. Dali, a duzentos metros acima do nível do mar, as labaredas,
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que começaram em determinado ponto da cidade, podiam ser vistas bem em frente, dando a impressão
de que era possível alcançá-las com as mãos. Quando as sirenes começaram a tocar persistentemente e o
incêndio parecia se agravar, os dedicantes, preocupados com a Sede Provisória, situada relativamente
perto do ponto onde irrompera o fogo, desceram a montanha. No momento em que eles chegaram lá, as
faíscas caíam como chuva e pareceu-lhes que era questão de tempo a Sede pegar fogo. A Imagem de
Deus já havia sido levada para um local seguro, juntamente com os quadros de caligrafia do Fundador.

Figura

Situação em que ficou o centro de Atami, atingido pelo fogo, visto de um planalto da zona oeste da
cidade

Foi mais ou menos nessa hora que o Fundador chegou, na companhia de Yoshi, vindo do Hekiun-So,
situado no bairro de Minaguti. Depois de dirigir palavras de agradecimento àqueles que
apressadamente carregavam os objetos, ficou em silêncio, ministrando Johrei na direção do fogo.
Logo em seguida as chamas atingiram a porta da frente, que caiu em poucos instantes. O transporte dos
objetos ainda continuou, e às pessoas que estavam desocupadas, foram distribuídos baldes, bacias,
panelas etc., a fim de transportarem água para os lugares que pareciam estar em perigo. Ela era jogada
ininterruptamente, no telhado e nas paredes; entretanto, com a intensidade do fogo, logo secava. Assim
que isso acontecia, jogava-se mais água.

Figura

Frente da Sede Provisória, no bairro de Shimizu. As árvores esturricadas mostram a violência do


incêndio

Enquanto repetiam esse trabalho às cegas, as pessoas não tinham nem tempo para sacudir as fagulhas
que caíam sobre seu próprio corpo. Além disso, uma intensa chuva de fagulhas caía sobre o telhado. As
casas e lojas situadas à volta vomitavam fogo; a Sede estava cercada de três lados pelas labaredas, e as
árvores do jardim já não tinham mais folhas. O prédio do jornal "Hikari", que ficava próximo, acabou
sendo envolvido pelas chamas. Todos jogavam água no corpo, para aliviar o calor, e até entravam no
lago, para poderem continuar o trabalho, mas as roupas logo secavam, parecendo que iriam pegar fogo
a qualquer momento. As pessoas que não tinham vasilhas para pegar água, subiam ao telhado e
estendiam desesperadamente a mão, ministrando Johrei na direção das chamas que se aproximavam.
Exatamente na hora em que se pensava que era o fim, devagarinho o vento começou a mudar de
direção. As labaredas, que pareciam prestes a engolir a Sede a qualquer momento, foram empurradas
para trás. Isso aconteceu por volta das vinte e duas horas, ou seja, cinco horas após o início do incêndio.

Figura

Exemplar do primeiro número do jornal "Hikari", atingido pelo fogo, que, contudo, não queimou a foto
do Fundador

Os avisos sobre a situação da Sede Provisória chegavam sucessivamente ao Fundador, que havia
retornado ao Hekiun-So: "Pegou fogo!" "Está queimando!" etc.. Mas o Fundador, sem demonstrar o
mínimo abalo, dizia, cheio de convicção: "Não, ela não vai pegar fogo não." Pouco antes, quando o
incêndio atingiu a Rua Guinza, ele orientara: "Os bairros de Shimizu e Assahi também correm perigo.
Por isso, avise a todos e mande que se preparem para a evacuação." Ao mesmo tempo, talvez convicto
da absoluta proteção de Deus, disse também: "Pelo menos a Sede Provisória será poupada."
Seria mesmo verdade?
O incêndio se alastrou de Guinza para Assahi e, em seguida, para Shimizu, mas a Sede Provisória, que
todos pensavam não escapar, continuou de pé, em meio de escombros. E o milagre não foi só esse. Na
manhã seguinte, arrumando o local onde estava sediada a redação do jornal "Hikari", os dedicantes
descobriram, entre as cinzas e restos de objetos destruídos pelo fogo, alguns jornais semiqueimados.
Eram exemplares do primeiro número daquele periódico e do número 53 do jornal "Kyussei", nome
para o qual ele fora mudado. Todos ficaram surpreendidos por eles terem sido poupados no meio do
fogaréu, e essa surpresa logo se transformou num sentimento de respeito, pois, na primeira página do
primeiro número do jornal "Hikari", havia sido publicada uma foto do Fundador ocupando a metade
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da folha, e o fogo, como que se desviando da foto, queimara apenas as bordas, em formato semicircular.
No número 53 do jornal "Kyussei", também na primeira página, havia sido publicada a figura de
Daimiroku, desenhada pelo Fundador. (Vide páginas com fotos coloridas, no início do 1º volume). As
pessoas que estavam realizando aquele trabalho, descansaram as mãos e, reunidas em volta dos jornais,
choraram de emoção.
Esse milagre ocorrido durante o grande incêndio de Atami foi pomposamente noticiado no jornal
"Kyussei", ampliando o redemoinho de emoção religiosa e dando coragem e esperança aos fiéis de todo
o país, os quais tendiam a ser malvistos, como integrantes de uma religião nova.

2. A PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA

a) INÍCIO

Pouco tempo depois do incêndio de Atami, quando a restauração da cidade ainda estava sendo iniciada,
um fiel chamado Hissashi Itino, que trabalhava na delegacia local, recebeu a seguinte ordem: "Amanhã
de manhã, às seis horas, chegarão policiais federais e você deverá servir-lhes de guia e levá-los aonde
eles pedirem." Não houve nenhuma explicação sobre o lugar aonde iriam nem sobre o motivo da ordem.
Isso ocorreu no dia 7 de maio de 1950, por volta das vinte horas.
O dia seguinte amanheceu frio. Conforme fora dito, chegaram a Atami mais de setenta policiais da Sede
de Shizuoka da Delegacia Regional da Polícia Federal. Ao ouvir o nome dos locais para onde deveriam
se dirigir, Itino duvidou de seus ouvidos, pois o objeto das investigações era o Hekiun-So, o Solar da
Nuvem Esmeralda, Tozan-So, o Solar da Montanha do Leste e mais sete prédios relacionados à Igreja
Messiânica Mundial.
Naquele ano, Itino fora salvo de tuberculose em estado grave e, tornando-se fiel, estava se empenhando
na difusão. Certo dia, entretanto, foi chamado pelo seu superior, do qual recebeu a severa ordem de
abandonar suas atividades. Sem outra alternativa, havia retirado o talismã. Caso tivesse ficado sabendo
um pouco antes o que os policiais vinham fazer, poderia ter avisado o Fundador — pensou ele — mas
agora era tarde.
Naquela manhã, o Mestre acordara num clima nada agradável. Aguçando os ouvidos de dentro das
cobertas, pareceu-lhe que o lado da cozinha estava muito agitado. Mal ele acabou de formular esse
pensamento, um dedicante entrou apressadamente no quarto e disse: "Chegaram muitos policiais e
estão dizendo que vieram fazer investigações." O Fundador, não se lembrando de ter dado motivos para
isso, achou o fato estranho, mas não ficou assustado. Nisso, ouviu-se uma voz de homem: "Aqui está
minha identificação." Provavelmente, ele deve ter mostrado o mandado de busca. Sua voz podia ser
claramente ouvida de dentro do quarto. Percebendo que a situação não era nada boa, o Fundador
levantou-se e abriu a porta. Viu, então, um policial vestido à paisana procurando alguma coisa por todos
os cantos. Esse policial lhe disse: "Não é necessário levantar-se. Continue deitado", e prosseguiu a
revista.
Os policiais, em número de doze ou treze, levaram oito horas revistando a casa e, depois de recolherem
documentos, correspondências, cadernetas de bancos, dinheiro etc., retiraram-se.
Naquele dia, as autoridades prenderam Motokiti Inoue, secretário do Fundador, e Kyuhei Kaneko,
diretor do Departamento de Obras. Além disso, revistaram todas as instalações da Igreja localizadas na
cidade de Atami e a Sede da Grande Igreja Miroku, num total de oito prédios. Foi um trabalho em
grande escala, mobilizando oitenta pessoas, entre investigadores e policiais. Todos os prédios foram
cuidadosamente revistados, especialmente a Sede Provisória, em que os policiais removeram até as
tábuas do assoalho. Através desse fato evidenciava-se que eles tencionavam encontrar alguma coisa que
achavam estar escondida.
Isso foi o início da perseguição religiosa que abalou a Igreja durante três anos.
Kaneko, preso naquela ocasião, era natural do Estado de Niigata. Começara a dedicar ao lado do
Fundador em 1940, quando este residia no Hozan-So, e, após prestar serviço militar durante dois anos e
retornar à vida comum, continuara a dedicar ao lado dele. Sua capacidade de ação e seu discernimento
granjearam-Ihe o cargo de diretor do Departamento de Obras, e ele foi de grande utilidade para a
compra e a construção da Terra Celestial.

88
b) INVESTIGAÇÕES RESIDENCIAIS

Mas por que a Igreja era alvo de tantas investigações?


Como foi dito no capítulo anterior, a atividade de difusão tornara-se mais intensa enhe 1946 e
1947. Os milagres se sucediam, e o número de fiéis aumentava gradativamente. Todavia, refletindo
sobre aquela época, vemos que as explicações sobre o Johrei e a Agricultura Natural, que eram as
principais atividades de difusão, foram insuficientes em alguns aspectos e que as orientações não foram
bem transmitidas a todos os pontos do país, sendo bem possível que houvesse exageros. Por isso, iam se
avolumando censuras e difamações contra a Igreja, e as pessoas que antipatizavam com ela fizeram
denúncias às autoridades. Era, pois, natural que estas mantivessem uma atitude de desconfiança; aliás,
esse era também o objetivo dos que faziam as denúncias.
Nisso, ocorreu o caso da investigação determinada pelo Ministério da Fazenda e, em seguida, a grande e
completa busca feita pela Criminal Investigation Division nas instalações da Igreja, especialmente na
Terra Divina de Hakone. Esta última não deu em nada, mas logo depois chegou ao conhecimento
público a desavença enhe os dois advogados contratados pela Igreja, o que supomos ter aumentado as
suspeitas das autoridades. Entretanto, mesmo dando busca na Igreja, não foi possível apreender nada
de concreto. Então, ocasionalmente, aconteceram dois ou três problemas dos quais as autoridades se
aproveitaram para prender os diretores da Igreja, conseguir provas e, com isso, prender também o
Fundador, averiguando assim, de uma só vez, a situação interna da entidade.

As suspeitas incidiam sobre cinco pontos:

Primeiro: Ter feito suborno por ocasião da compra de terras agrícolas para ampliar as ruas da Terra
Celestial.
Segundo: Ter construído ruas sem antes fazer a transferência de usufruto das terras, pois, na área
comprada para construir a Terra Celestial, havia também terras agrícolas.
Terceiro: Ter realizado, por duas vezes, reformas na Sede Provisória, em 1949, sem o necessário alvará
e, nessa oportunidade, ter subornado a autoridade encarregada do assunto.
Quarto: Na época, havia uma lei que controlava o fornecimento de produtos considerados
extraordinários e nela constava um regulamento relativo aos produtos derivados do petróleo, os quais
eram rigorosamente controlados. Pessoas da Igreja eram acusadas de terem adquirido, por diversas
vezes, gasolina, que estava sob esse controle.
Quinto: Um funcionário de determinado Banco, fiel da Igreja, era acusado de ter depositado parte do
dinheiro do Fundador numa conta corrente em nome de outra pessoa.

A grande investigação do dia 8 de maio fundamentava-se, aparentemente, nessas cinco


acusações, mas na verdade tinha por objetivo esclarecer as diversas suspeitas que pairavam sobre a
Igreja e, especialmente, encontrar os objetos secretos que se dizia terem sido escondidos pelo antigo
exército. Entretanto, não foram achados metais, pedras preciosas nem nada que pudesse servir de
prova. Como o resultado da investigação não foi o que as autoridades esperavam, os investigadores
resolveram interrogar severamente Motokiti Inoue e Kyuhei Kaneko, que já estavam detidos e, através
de confissão de ambos, conseguir provas para a prisão do Fundador.
Na delegacia de Shizuoka, Inoue e Kaneko sofreram constantes interrogatórios. Sobre Inoue, pairava a
suspeita de que, objetivando ocultar a fortuna pessoal do Fundador, tivesse pedido ao funcionário do
Banco para que colocasse seu saldo bancário em nome de diversas pessoas e dado a ele uma
gratificação. Quanto a Kaneko, era suspeito de ter dado dinheiro à comissão das terras agrícolas por
terem facilitado a transferência de usufruto, na ocasião em que o Fundador comprou terras agrícolas
para construir a Terra Celestial. Como ambos jamais haviam sequer pensado em semelhantes coisas,
negaram por completo as acusações. Entretanto, o investigador não se deu por satisfeito e prosseguiu
nos interrogatórios.
Com o passar dos dias, Inoue e Kaneko foram ficando exaustos física e mentalmente, em virtude da
violenta mudança de ambiente e dos incessantes interrogatórios ameaçadores. Principalmente para
Inoue, que era doentio de nascença, o baque foi grande. A nevralgia ciática de que sofria agravou-se e,
devido à insuficiência de sono e à falta de apetite, sua fraqueza era muito grande. Depois que saiu da
prisão, ele foi acometido ao mesmo tempo de insuficiência cardíaca e hepatite, e o médico lhe prescreveu
repouso absoluto durante um mês.

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Apesar de pressionados a tal ponto, Inoue e Kaneko suportavam tudo, unicamente pelo desejo de que,
acontecesse o que acontecesse, o Fundador não fosse incomodado. Percebendo isso, o investigador
contra-atacou habilmente, fazendo ameaças: "Se vocês não confessarem, vou mandar que tragam
Okada." Dispostos a sofrerem as conseqüências e a protegerem o Mestre mesmo que eles próprios
fossem incriminados, Inoue e Kaneko imaginaram o que o investigador queria e confessaram terem feito
aquilo de que eram acusados. Por ironia do destino, no entanto, esses pronunciamentos tornaram-se o
pretexto em que se fundamentaram as autoridades para dar ordem de prisão ao Fundador.

Figura

O Fundador, dois dias após sua prisão, sendo transferido da delegacia de Ihara para o Tribunal
Regional de Shizuoka

c) PRISÃO

Na madrugada do dia 29 de maio, três semanas depois da grande investigação, os prédios pertencentes
à Igreja foram novamente revistados. Um grupo de policiais foi ao Hekiun-So e pediu ao Fundador, que
ainda estava dormindo, para os acompanhar. Aquilo que todos temiam intimamente, acabara se
tornando realidade. O Mestre ficou abismado com o rumo dos acontecimentos, mas atendeu ao pedido
dos policiais, dizendo: "Deve haver algum ponto que não está sendo compreendido, para que meus
discípulos sejam interrogados por tanto tempo. Irei dar as explicações pessoalmente."

No dia seguinte, a prisão do Fundador foi noticiada em todos os jornais, sendo muito comentada em
todo o Japão.

"O Fundador Okada foi preso"


"A Igreja Messiânica sonega e suborna"
(Jornal Assahi)
"Detido o "Ohikari-Sama""
"Sonegou impostos por meio de suborno"
(Jornal Mainiti)
"O "Ohikari-Sama" foi preso"
"Suspeito de ter sonegado impostos"
"Invadida a Igreja Kannon em Atami e Hakone" (Jornal Yomiuri)

Figura

Noticias sobre a prisão do Fundador publicadas em jornais do dia 30 de maio

Antes da Segunda Guerra Mundial, o Fundador tivera a experiência de ser preso três vezes. Em agosto
de 1936, na delegacia de Omiya, chegara a sofrer torturas durante os interrogatórios, como por
exemplo ter os seus cabelos puxados. Entretanto, a respeito do caso ocorrido em maio de 1950, ele
disse: "Quando se fala em interrogatórios da Policia Especial, todos logo imaginam que sejam de
caráter extremamente feudal, mas o desta vez foi incomparavelmente brutal e rigoroso. Foi terrível.

O Mestre aceitara ser preso para dar explicações em favor de seus discípulos e esclarecer a verdade,
mas o que esperava por ele eram interrogatórios cruéis.
Antes de apelarem para a prisão, as autoridades haviam calculado uma maneira para induzirem a culpa
do Fundador. Inicialmente, os investigadores, entre os quais o próprio diretor do departamento de
investigação, trataram do problema relativo à suspeita de que ele tivesse pedido ao funcionário de um
Banco para fazer depósitos em nome de várias pessoas. Intimado a dizer a verdade, o Fundador disse o
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que sabia, negando terminantemente o que não sabia. Mas os investigadores não recuaram dizendo:
"Não há razão para que não saiba. Se tentar fingir ou mentir, não lhe perdoaremos. Uma vez que as
palavras de Inoue coincidem com as do funcionário do Banco, não adianta você negar. São dois contra
um; é claro, portanto, que você está mentindo." Ouvindo isso, ele retrucou: "Por mais que eu pense,
acho que eu é que estou certo."
Mas os três investigadores já haviam decidido que o Fundador tinha culpa e continuaram insistindo. Na
verdade, o que eles queriam que ele confessasse era como utilizara o dinheiro depositado no Banco e
que dera uma gratificação ao funcionário que o ajudara. Ora, como este era fiel da Igreja e estava
zelando pelo dinheiro do Mestre com a alegria de contribuir para Obra Divina, era totalmente inviável
que tivesse recebido propina para fazer isso. Assim, o Fundador não tinha como se lembrar das coisas
que não sabia. Diariamente, desde cedinho até tarde da noite, ele desenvolvia grande número de tarefas
da Obra Divina, não desperdiçando um segundo sequer. Por isso, era natural que não soubesse de
memória detalhes relativos à contabilidade. Entretanto, os investigadores não desistiram. Pelo
contrário: mostravam-se irritados, e os interrogatórios iam ficando cada dia mais severos.

d) AS TORTURAS MENTAIS

Durante o período em que esteve preso na Delegacia Regional de Ihara, no Estado de Shizuoka, o
Fundador recebeu a ajuda de Shin Makita, dona de uma hospedaria situada nas proximidades, que há
muito tempo vinha fornecendo refeições aos presidiários, como atividade secundária, nas horas de folga
do seu trabalho. Enquanto arrumava a cela do Fundador, ela pedia-lhe conselhos. As respostas dele
tocavam-na profundamente e, sem que se desse conta, Makita passou a sentir grande respeito por ele.
Mas isso não aconteceu apenas com essa senhora. Exceto o investigador, todos os elementos da
delegacia, a começar pelo delegado, aprendiam alguma coisa com suas atitudes do dia-a-dia e passaram
a chamá-lo de "professor" e a dispensar-lhes cuidados especiais.
Certo dia, quando levou o café da manhã para o Fundador, Makita não o encontrou na sala onde os
presidiários costumavam fazer as refeições. Achou aquilo estranho, mas ouvindo barulho de tamancos
no corredor do primeiro andar, para lá se dirigiu. Encontrou o Fundador andando de um lado para
outro, balançando os braços, e então lhe perguntou: "Que aconteceu, professor?" Acho que ele
respondeu: "Nada. Estou andando porque preciso fazer exercício. Aqui é um bom lugar para isso, uma
vez que não posso ir lá para fora." A amplitude de pensamento daquele homem que andava pelo
corredor do presídio para suprir a falta de exercício, numa vida de liberdade restrita, atraiu-a
misteriosamente.
Um fato que também tocou profundamente o coração de Makita foi o que aconteceu numa outra manhã,
quando ela foi levar-lhe a refeição de costume. Nessa oportunidade, o Fundador Ihe disse: "Em breve,
um indivíduo chamado Motizuki, que está preso aqui, será posto em liberdade. Esse homem é um
ladrão, mas eu Ihe prometi que, quando o libertassem, eu Ihe daria 5 mil ienes, e peço à senhora que
diga isso a alguém de minha casa. De manhã, quando eu estava lavando o rosto, Motizuki chegou perto
de mim e pediu-me dinheiro emprestado. Eu quis saber para que ele queria esse dinheiro e ele me disse
que, quando saísse da prisão, pretendia começar um negócio honesto, como vendedor de chá, e
precisava de capital. Tendo-Ihe eu perguntado de quanto necessitava, Motizuki me respondeu que de 5
mil ienes, e eu aceitei ajudá-lo."
Assim, mesmo na prisão, o Fundador conservava o coração aberto e o amor profundo que o
caracterizavam, causando boa influência nas pessoas à sua volta. Contudo, à medida que os dias se
passavam, ele ia ficando impaciente. Um dos motivos era a preocupação com os fiéis. Até então, alguns
já tinham vacilado em conseqüência de noticiários difamatórios, mas ele próprio pudera dar-lhes
orientações adequadas, de modo que as influências tinham sido insignificantes. Desta vez, entretanto,
como quem estava detido era ele, a insegurança e o sofrimento dos membros eram muito grandes. Desde
que fora preso, centenas de fiéis se reuniam diariamente, em frente à delegacia, para verem o que estava
se passando e rezarem por ele.
Outro motivo da impaciência do Fundador era a insuportável humilhação de ver-se obrigado a dizer
mentiras, ele que sempre evitara os sentimentos, as palavras e as atitudes falsas. Assim sendo, era
natural que ficasse cada vez mais impaciente diante da ameaça de permanecer preso para sempre, se
não confessasse aquilo que o investigador desejava. Chegando a tal ponto, o Fundador teve de tomar
uma decisão. Lendo o pensamento do investigador atrás das palavras que ele dizia, fez declarações
adequadas e, com isso, ficou encerrado o depoimento sobre o problema do saldo bancário. Entretanto, a
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sua tranqüilidade durou pouco. O interrogatório passou a versar sobre o problema das investigações
efetuadas pelo Ministério da Fazenda em 1948. Tratava-se de um caso extremamente complicado e não
era fácil fazer um pronunciamento favorável. Quando o investigador não ficava satisfeito com as
respostas do Fundador, atacava-o com palavras grosseiras: "Imagine se você não vai se lembrar de um
problema tão evidente! Seria tão fácil se falasse com franqueza! O negócio demora porque você tenta
distorcer as coisas!”

Figura

A bengala e os tamancos do Fundador diante de sua cela, fechada a cadeado. No canto esquerdo, pode-
se ver uma portinhola

Devido à raiva e à perturbação que sentia por ver-se forçado a prestar um depoimento falso, o
Fundador foi pouco a pouco ficando exausto. Fazia dez dias que fora preso e, somado ao fato de que
tinha sessenta e sete anos, estava se ressentindo da falta de exercício. Além do mais, sua mente e seu
corpo estavam completamente enfraquecidos em conseqüência da grande mudança de ambiente.
Durante um interrogatório, ele sentiu uma forte tontura e acabou desmaiando no local. Segundo o
diagnóstico do médico da polícia, o Fundador estava neurastênico.
No dia seguinte, o interrogatório recomeçou e, tal como antes, diziam: "Comece a lembrar!" O
Fundador se esforçava para manter a calma, mas acabou perdendo os sentidos novamente. Uma hora
depois, finalmente conseguiu ficar de pé, mas não podia andar. O chefe das investigações carregou-o nas
costas e levou-o até a cela. No percurso, sem querer, ele gritou: "Isso é uma tortura mental!" Ao ouvir a
palavra tortura, o investigador estremeceu.
A partir daquele momento, o Fundador passou a ser perturbado incessantemente por tonturas. Quando
tentava pensar em alguma coisa, ficava tonto. Chegando a esse ponto, tomou consciência dos limites do
seu corpo e da sua mente. Seu estado de fraqueza era tal, que ele não conseguiu sequer responder aos
interrogatórios do dia seguinte. Partiu, então, para a última alternativa que Ihe restava: invocou o
espírito de Mitio Shibui — irmão mais novo de Sossai Shibui — que, na época, havia se encarregado
daquele problema, e ficou sabendo da quantia aproximada. No outro dia, respondeu aos interrogatórios
enunciando com clareza a quantia da qual tomara conhecimento, e assim, finalmente, o depoimento ficou
encerrado.

e) CONSCIENTIZAÇÃO DO ESTADO DE UNIÃO COM DEUS

Os interrogatórios cessaram por algum tempo. No dia 15 de junho, o Fundador foi transferido para a
penitenciária de Shizuoka. Desde as pressões que sofrera antes da Segunda Guerra Mundial, havia
ficado detido várias vezes em delegacias, mas essa era a primeira vez que ia para um presídio. Ele sentiu
seu coração apertado de tristeza. Entretanto, a nova cela era bem mais limpa que a da delegacia. Tinha
paredes brancas e janelas amplas, proporcionando bastante claridade; possuía até uma pequena
cozinha. Ao olhar aliviado pela janela, o Fundador avistou pés de hortênsias com flores em botão, os
quais pareciam ter sido plantadas pelos presidiários. Já estando preso há um longo período, achou os
claros raios de sol e as flores extremamente belos.
Os interrogatórios complementares mais detalhados prosseguiram e, no dia 19 de junho, cinco
dias depois que ali entrara, o Fundador foi libertado, por volta das vinte e três horas. Foram vinte e
dois dias de interrogatórios, iniciados a 29 de maio.
A libertação do Fundador havia sido comunicada ao Hekiun-So, e os dedicantes mais próximos, entre os
quais o seu secretário, foram buscá-lo de carro na penitenciária de Shizuoka. No início estava previsto
que ele sairia às dezenove ou vinte horas; ao tomar conhecimento disso, um grande número de
jornalistas foi esperá-lo no portão da frente. Para despistá-los e evitar tumulto, a penitenciária atrasou a
saída do Fundador. Dessa forma, facilitaram-lhe as coisas, fazendo-o sair pela porta dos fundos, por
volta das vinte e três horas.
Ele nada levava consigo. Vestido com uma "yukata" (27) e de tamancos, entrou no carro. Podia-se-lhe
notar um pouco de desgaste físico, mas para quem ficara vinte e oito dias preso, seus passos foram
vigorosos. Mal entrou no carro, disse: "O pessoal está bem?" Assim, ao invés de preocupar-se consigo
mesmo, o Fundador quis saber como estavam os outros.
(27)
- Vide Luz do Oriente,1o. volume, pág. 80.
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Os jornalistas que foram despistados ficaram furiosos, mas de nada adiantou. Só um, do Jornal X, ficou
esperando perto do Pico Jikoku e conseguiu tirar uma foto de surpresa, que usou para uma notícia
exclusiva do dia seguinte. O carro, para evitar possíveis perseguidores, seguiu na direção do Hekiun-So,
aparentando levar o Fundador para sua residência, mas depois dirigiu-se para Hakone. Por volta das
três e trinta da madrugada, o Mestre conseguiu chegar sossegado à casa de um conhecido, em Sengoku-
Bara.
No período em que o Fundador esteve preso na penitenciária de Shizuoka, aconteceu um fato muito
importante para a Obra Divina. O primeiro sinal desse fato ocorreu no dia 13 de junho, quando ele
ainda estava na Delegacia Regional de Ihara. Na manhã desse dia, o Fundador começou a sentir dor de
barriga, a qual foi se intensificando e, à tarde, tornou-se insuportável. Ele ministrou Johrei em si mesmo
e com isso a dor amenizou um pouco, mas continuou até a manhã do dia 14. Achando estranho, ele
perguntou a Deus o que aquilo significava e recebeu a seguinte resposta: "Isso se deve à Grande
Providência e não pode ser evitado. Portanto, agüente um pouco." Naquele momento, o Fundador se
deu conta de que o dia seguinte seria 15 de junho, data em que recebera a Revelação Divina no topo do
Monte Nokoguiri, em 1931, no Estado de Tiba, quando fora dado o primeiro passo da transição da Era
da Noite para a Era do Dia no Mundo Espiritual.
Além disso, no mesmo dia 14, o Fundador teve um sonho maravilhoso. Sonhou que, no cume do Monte
Fuji, todo coberto de neve, havia um grande prédio que parecia um palácio. Ele entrou nesse prédio,
mas, quando estava para apreciar a magnífica paisagem de neve, despertou. Desde os tempos antigos,
todos gostavam de sonhar com o Fuji, com águia e com berinjela, pois isso era considerado sinal de boa
sorte. Assim, embora estivesse na prisão, o Fundador sentiu que algo de bom iria acontecer e esqueceu-
se da dor de barriga. "Não há dúvidas de que o meu ventre está sendo purificado para providenciar o
progresso da Obra Divina", pensou ele. Com essa convicção, ficou aguardando ansioso.
Chegou o dia 15 de junho. À medida que a consciência do Fundador foi se abrindo, um pensamento
começou a tomar forma definida. Relacionava-se à misteriosa Bola de Luz que havia em seu ventre e de
cuja existência ele se conscientizara em 1926, pela Revelação Divina. Posteriormente, ele esclarecera que
essa Bola de Luz era a fonte da Luz da Salvação. Mais de vinte anos depois, no dia 15 de junho de 1950,
o Fundador apreendeu que o Espírito do Supremo Deus havia se assentado nela.
Na tarde daquele dia, ele foi transferido para o presídio de Shizuoka. No dia seguinte,
amanheceu sem apetite e só à tarde conseguiu tomar um copo de leite, que achou delicioso. Segundo o
Mestre escreveu mais tarde, esse acontecimento expressava que o Espírito Divino que habitava a Bola
de Luz estava se desenvolvendo tal como um recém-nascido que toma leite. A esse respeito, no artigo
intitulado "Um mistério", ele disse: "À medida que o Espírito de Deus for crescendo e se tornando
adulto, a Bola de Luz irá aumentando o seu brilho e, no futuro, manifestará uma virtude
extraordinária.”

Figura

Caligrafia do Fundador: "Sanka Ketsujitsu"


("As flores caem e os frutos se formam").
O sinete é "Mei-i"

Até essa época de perseguição religiosa, o Fundador viera desenvolvendo a atividade de salvação de
acordo com a Orientação de Deus. Entretanto, após o fato misterioso ocorrido quando ele estava preso,
houve uma grande mudança na sua qualificação Divina. Assim, a Bola de Luz, ganhando maior
plenitude, passou a manifestar uma força ainda maior que até então. Ao mesmo tempo, a relação entre
Deus e ele tornou-se mais direta e inseparável: Deus passou a manejá-lo livremente. Por isso, tudo
aquilo que se realiza de acordo com a orientação do Fundador, é, em suma, a Vontade de Deus, a Sua
Providência. Depois desse acontecimento, ele tomou profunda consciência de que atingira o estado de
união com Deus.
Assim, esse fato de extrema importância dentro da Providência Divina aconteceu secretamente, dentro
da prisão, quando não havia nenhum discípulo sequer ao lado do Mestre.
Essa perseguição religiosa, em que o próprio Fundador foi humilhado, tornou-se um caso
inesquecível para a Igreja. A vacilação dos fiéis foi grande, e a difusão, que havia se desenvolvido de
forma impetuosa, estacionou por algum tempo. Entretanto, se pensarmos que, em meio dessa grande
dificuldade, o Fundador se conscientizou da elevação de sua própria qualificação Divina, veremos que
tudo não passou de um plano misterioso, baseado na Providência Divina.

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"O Grandioso Deus
Para realizar ocultamente
Uma obra misteriosa,
Escolheu a cela de uma prisão. "

Após ter sido libertado, o Fundador afastou-se de suas atividades por uns tempos e foi descansar em
Hakone, para recuperar-se da fraqueza mental e física em que se encontrava. Deixou também de fazer
as entrevistas com os membros e de ditar os Ensinamentos. Passava os dias tranqüilamente, ouvindo
música, por exemplo. Quando foi se recuperando, deu início à confecção de mil quadros com a caligrafia
"As flores caem e os frutos se formam", os quais outorgou aos fiéis. Eram quadros que expressavam
este mistério da Providência: assim como é preciso que as flores caiam para que os frutos se formem, em
meio do sofrimento, há ocorrências Divinas muito alentadoras.
Depois que Inoue, o secretário do Fundador, foi preso, no dia 8 de maio de 1950, data em que teve início
a perseguição religiosa, quem ficou no seu lugar foi Teruaki Kawai, que mais tarde se tornou Presidente
da Igreja. Sua principal tarefa era atender os chantagistas que apareciam seguidamente. Na época,
Kawai tinha apenas vinte e cinco anos e estava fazendo difusão sobretudo na Região Kansai. Como era
a primeira vez que iria dedicar ao lado do Fundador, perguntou a este com que espírito deveria fazê-lo,
ao que o Mestre respondeu: "Aqui não existe nada disso." Ouvindo essas palavras, Kawai falou que
tinha vontade de servir e de se aprimorar, mas o Fundador replicou: "Você deve se aprimorar naquilo
que for necessário em cada ocasião. Não pense neste ou naquele aprimoramento. Ficarei satisfeito se
fizer o que eu digo." Diante disso, Kawai comentou: "Dessa forma, parece que não há nada com que eu
precise me preocupar. É isso mesmo?" O Fundador então confirmou:"Sim. Isso é o que se chama de
aprimoramento celestial. Entretanto, como as pessoas que me procuram geralmente vêm atrás de
dinheiro, é preciso que seja suficientemente inteligente para enxergar a intenção delas e tomar-lhes a
dianteira. "
Pouco tempo depois, o Fundador fora preso e submetido a interrogatórios. Passara aproximadamente
três semanas detido e, sendo solto pela penitenciária de Shizuoka, fora repousar em Hakone por algum
tempo. Voltando a Atami, disse a Kawai e às outras pessoas que ficaram cuidando da Igreja durante a
sua ausência: "Será que os fiéis não estão vacilantes? O meu sofrimento é imposto por Deus e, por isso,
não é nada grave. Mas eles não sabem da verdade e devem estar preocupados." Ouvindo essas
palavras, todos ficaram comovidos com o amor do Mestre, que, embora ainda enfraquecido,
preocupava-se com os fiéis.
Kawai fora acometido de uma grave tuberculose pulmonar em 1943, quando cursava a Universidade de
Wasseda, só lhe restando esperar pela morte. Entretanto, recebendo Johrei com Issai Nakajima, pouco
a pouco, recuperara a saúde e, em contacto com os Ensinamentos do Fundador, despertara para um
novo mundo e decidira oferecer sua vida exclusivamente à Obra Divina. Na ocasião em que foi dedicar
ao lado do Mestre, em 1950, ocupava o cargo de Responsável da Filial Tyokushin, ligada à Igreja
Tengoku. Quando aquele ainda estava vivo, Kawai dedicava-se à difusão na Região Kansai; depois,
tornou-se um dos diretores da Igreja; mais tarde, após o falecimento do Fundador, ocupou o cargo de
Presidente do Conselho Administrativo e, em seguida, o de Presidente da Igreja.

f) SENTENÇA E REFORMA DA ORGANIZAÇÃO

A acusação do Fundador, de Shibui, de Inoue e de Kaneko foi definida no dia 12 de julho de 1950. O
Fundador foi acusado de infração da Lei dos Assuntos Econômicos e de suborno.
Por ocasião da grande investigação do dia 8 de maio, alegando algumas infrações legais, a promotoria
determinou a prisão dos diretores da Igreja e, com base na sua confissão, mandou prender também o
Fundador. Fundamentada numa confissão feita sob severa pressão, elaborou uma acusação de suborno a
autoridades públicas. Assim, de acordo com seu objetivo inicial, conseguiu levar o Fundador a
julgamento.

Figura

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A primeira sessão do julgamento. O Fundador aparece na primeira fileira, à direita. O banco dos réus
vai até a segunda fileira

A primeira sessão do julgamento foi realizada no Tribunal Regional de Shizuoka, no dia 11 de outubro,
três meses depois da libertação do Fundador. A Igreja foi bem preparada, sendo defendida por doze
advogados, enhe os quais o ex-Ministro da Justiça Naoshi Obara e o ex-reitor da Universidade Meiji.
Naoshi Obara era aquele advogado que atuara como investigador-chefe no chamado "Caso Siemens",
acontecimento que, conforme já foi mencionado, presume-se ter sido um dos motivos que levaram o
Fundador a criar uma empresa jornalística, na época em que era empresário, com o objetivo de corrigir
os males da sociedade. O julgamento da Igreja foi realizado em quarenta e uma sessões, durante dois
anos e dois meses. A disputa girou em torno da validade das confissões, e a defesa e a promotoria
permaneceram em pé de igualdade até o fim.
O Fundador escreveu um livro falando abertamente sobre a situação em que foram realizados os
interrogatórios e sobre a verdade desse caso de perseguição religiosa. Nesse livro, publicado em 30 de
outubro de 1950 com o título "Registros sobre a Perseguição Religiosa", ele esclarece que sua confissão
e a de todos os outros réus foi feita sob condições extremamente forçadas. As testemunhas e os
advogados da Igreja comprovaram o fato, mas a promotoria negou-o terminantemente, reforçando a
espontaneidade da confissão.
A sentença do julgamento foi dada no dia 24 de dezembro de 1952. Ao contrário do que se esperava, a
vitória da promotoria foi absoluta, e o Fundador e os outros réus foram condenados a prestar serviços
na prisão. Os fiéis, que acreditavam na inocência do Mestre, ficaram atônitos por algum tempo, mas,
como o cumprimento da pena foi adiado para três anos mais tarde, tranqüilizaram-se um pouco.
Como era de se esperar, o grupo de advogados ficou extremamente revoltado com a sentença. Mas a sua
revolta não provinha apenas do fato de terem perdido o caso. Para eles, uma vez que o reconhecimento
de confissão espontânea era a única prova contra a Igreja, não havia nenhuma infração da lei, pois não
admitiam a espontaneidade da confissão. Essa era a opinião uniforme do grupo. Assim, todos eles
incentivaram o Fundador a recorrer, pois, como o fundamento da acusação da promotoria era fraco,
pensavam que poderia ganhar em caso de novo julgamento. Entretanto, o Fundador acabou não
recorrendo. Na noite em que foi dada a sentença, ele disse a Yoshi: "Como até agora a Igreja teve uma
grande expansão em curto espaço de tempo, deve haver, na sociedade, muita gente que a inveje e odeie.
Entretanto, como ela foi condenada pela sentença decretada hoje, esses sentimentos irão se desfazer, o
que é benéfico para nós. Além do mais, ainda que tenhamos sido considerados culpados, a pena só será
cumprida mais tarde, não havendo, portanto, muitos danos."

Figura

Artigo de um jornal que noticiava a sentença: "Grande alvoroço e surge apenas um rato"

Entre as outras pessoas que foram condenadas, as que pertenciam à Igreja acataram a decisão do
Fundador e também não recorreram, mas as que não pertenciam imediatamente recorreram ao
Tribunal Superior de Tóquio, após a sentença. Dois anos depois, todos foram absolvidos. Isso aconteceu
porque surgiram suspeitas sobre a espontaneidade da confissão dos indiciados; por falta de provas, a
promotoria perdeu a causa. Assim, a inocência do Fundador e dos demais componentes da Igreja ficou
comprovada, mesmo que indiretamente, após quatro anos e alguns meses.
Em junho de 1950, a Igreja deu início à reforma da Organização, pois ficara claro que a perseguição
religiosa fora motivada pela falta de estruturação necessária à expansão da Igreja e pelo
desconhecimento das leis. Paralelamente, refletindo-se sobre a inesperada prisão do Fundador, concluiu-
se que ela ocorrera por ser ele o Líder Espiritual e, ao mesmo tempo, o Responsável e o Representante
da entidade jurídica denominada Igreja Messiânica Mundial.
Logo depois que ele voltou da prisão, todos os cargos foram extintos e, em seu lugar, foi instalada a
"Comissão Organizadora da Reconstituição da Igreja Messiânica Mundial", que, acatando as idéias do
Fundador, estabeleceu o seguinte projeto:
- Abolir o sistema em que o Líder Espiritual acumula o cargo de Representante e adotar o sistema de
Presidência do Conselho Administrativo;
- Estabelecer o sistema de diretores, em número fixo de onze pessoas (entre os quais, o Presidente do
Conselho Administrativo e três diretores executivos);
- Criar o cargo de fiscal, em número de três pessoas;
- Implantar o sistema de diversos conselheiros.
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Com isso, o Fundador deixou a posição de Responsável da Igreja, sendo substituído por Naoyoshi
Okussa. Assim, foi organizado um sistema em que todas as responsabilidades burocráticas ficavam ao
encargo dos fiéis.
Okussa, que nessa ocasião ocupava o cargo de Presidente do Conselho Administrativo, nasceu em 1894,
na cidade de Tóquio e, logo após se formar na Universidade Keio Guijuku, instalou uma firma
industrial naquela cidade. Em seguida, organizou empresas de mineração e comércio, manifestando,
desde jovem, seus talentos empresariais. Filiou-se à nossa Igreja em 1943. Entre os seus parentes, havia
uma senhora que sofria de tuberculose da laringe e podia morrer a qualquer hora; com o Johrei
ministrado pelo Fundador, ela viveu mais dois ou três anos. Atraído por esse fato, Okussa procurou
Issai Nakajima e, depois da conversa que manteve com ele durante uma noite inteira, resolveu tornar-se
fiel.
Alguns anos mais tarde Okussa, encarregou-se de tarefas importantes na Obra Divina. Após o término
da Segunda Guerra Mundial, a Igreja teve uma rápida expansão, mas seu relacionamento com a
sociedade era muito pequeno. Então, utilizando-se de sua vivência, ele apresentava ao Fundador
indivíduos que podiam ser úteis à Organização e, às vezes servia-lhe de consultor na parte
administrativa. Além de se sentir atraído pela personalidade do Mestre, era grande a sua admiração
pelo ideal que ele alimentava, de modo que, após organizar suas empresas, seguiu o caminho da
dedicação à Obra Divina como um dos componentes da sede da Igreja.
Okussa tinha uma natureza quieta e era de pouca conversa. Todavia, graças à sua fidelidade e
honestidade, gozava da inteira confiança do Fundador e das pessoas em geral. Especialmente depois que
se tornou Presidente do Conselho Administrativo, em 1950, contribuiu para a expansão da Igreja como
responsável pelos assuntos burocráticos, tendo servido ao Fundador com muita devoção. Anos depois
da ascensão deste, numa época em que a Igreja passou por sérias dificuldades, Okussa prestou grande
ajuda à Segunda Líder Espiritual, desenvolvendo um trabalho muito valioso como sustentáculo da Obra
Divina. Veio a falecer aos setenta e três anos, no dia 12 de junho de 1968.
O conteúdo da reformulação dos órgãos da Igreja foi anunciado pelo próprio Fundador, no
jornal "Eiko" de 23 de agosto de 1950. O jornal "Kyussei", cuja publicação havia sido interrompida
desde a prisão do Mestre, voltava a ser editado; agora, sob aquele nome, e na primeira página, foi
publicado um artigo sobre a reforma em questão, intitulado "A Respeito da Volta do Nosso Jornal".
Nesse artigo, o Fundador explicava que a perseguição sofrida pela Igreja representava uma profunda
bênção de Deus para polir o seu espírito. Estendia o assunto à guerra da Coréia, eclodida uma semana
depois que ele saíra da prisão, e, confrontando a com o que lhe acontecera, advertia que estava se
iniciando uma purificação de escala mundial. Assim, com base no significado da Providência Divina,
ficava esclarecido que, por trás daquela reforma, havia um profundo cuidado de Deus. A respeito desse
caso, o Fundador compôs poemas com o título
"Perseguição Religiosa"

"Com a intenção de fortalecer


O meu fraco espírito,
Deus me impôs
Essa perseguição religiosa."

“Acho misterioso o meu destino.


Fazendo um retrospecto,
Vim passando diversas vezes
Por caminhos espinhosos."

“É meu destino
Ter maiores sofrimentos
E maiores alegrias
Que as outras pessoas."

No dia 5 de fevereiro de 1951, meio ano após o início do novo sistema da Igreja Messiânica Mundial, o
Fundador anunciou seu desejo de modificar por completo o sistema de difusão, estabelecendo o sistema
regional.
Um ano atrás, no dia 4 de fevereiro de 1950, a Igreja Kannon do Japão e a Igreja Miroku do Japão
haviam se fundido, sendo instituída a Igreja Messiânica Mundial. Desde então, todas as unidades
religiosas ficaram ligadas às três Grandes Igrejas —Miroku, Tengoku e Taissei — e à Média Igreja
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Koho (logo elevada à categoria de Grande Igreja). Pela nova organização, elas foram divididas em
dezessete regionais, devendo formar-se, com a ligação direta dos fiéis ao Fundador, um sistema em que
todos pudessem ter o mesmo sentimento que ele. O quadro detalhado do pessoal foi publicado no dia 7
de março de 1951, no número 94 do jornal "Eiko". Entretanto, o sistema regional acabou não sendo
implantado nessa ocasião.
Teruaki Kawai, que não conseguia compreender a não-concretização do sistema regional, o qual visava
à elevação da fé e ao progresso da Obra Divina, perguntou ao Fundador por que isso havia acontecido,
e ele respondeu: "No início eu também concordei em implantar o sistema, mas não deu certo, porque
ainda é cedo." Por trás dessa decisão do Fundador, podemos concluir que ele achava cedo para
implantar o novo sistema não pela confusão que este poderia acarretar, mas pela situação que se
atravessava, dentro e fora da Igreja.
Assim, o sistema regional limitou-se à apresentação de um plano do Fundador e, até a ascensão deste,
em 1955, acabou não surgindo a oportunidade para concretizá-lo. A concretização da reforma da Igreja,
tornou-se, assim, uma tarefa deixada ao encargo dos messiânicos da posteridade. Misteriosamente, esse
sistema regional foi concretizado mais de vinte anos depois, em 1972, através do desenvolvimento da
Unificação da Igreja (28), realizada pelo então Presidente Teruaki Kawai.

- Reforma da Igreja no aspecto religioso, iniciada a partir de 1969 e realizada com o objetivo de se retornar
(28)

ao espírito do Fundador e estabelecer a fé centralizada no Solo Sagrado.


97
CAPÍTULO V

CONSTRUÇÃO DO
SOLO SAGRADO

98
1. SHINSEN-KYO (TERRA DIVINA) - SOLO SAGRADO DE
HAKONE

a) O PROTÓTIPO DO PARAÍSO TERRESTRE


Com o chocante acontecimento que foi a prisão do Fundador, a Igreja, durante algum tempo, sofreu o
dano de ver a linha de difusão recuar bastante. Entretanto, mesmo nesse período a construção do Solo
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Sagrado, em Hakone e Atami, continuou a ser desenvolvida a firmes passos, pelas mãos das pessoas de
sólida fé. A construção tivera início em maio de 1944, quando o Fundador se mudou de Tamagawa,
bairro de Tóquio, para o Solar da Montanha Divina, em Gora, na cidade de Hakone.
Assim que adquiriu aquela casa, definindo-a para sua moradia, o Fundador comprou um terreno com
cerca de 6.600 m2, o qual fazia parte de uma propriedade pertencente à Estrada de Ferro Hakone
Tozan e correspondia à área que vai do Museu de Arte até o Palácio da Luz do Sol. Nesse terreno,
estava situada a casa de veraneio que ele havia alugado tempos atrás e da qual guardava profundas
recordações.
O terreno estava incluído no Parque Gora-En, construído pela Estrada de Ferro Odawara Denki
(posteriormente Estrada de Ferro Hakone Tozan) no período que vai do final da Era Meiji ao início da
Era Taisho. O Gora-En era constituído de dois jardins, um em estilo japonês e outro em estilo francês, e
foi muito comentado, na época, por sua construção moderna. Entretanto, ele ficou bastante danificado
com o grande terremoto ocorrido na Região Kanto em 1923. Tendo permanecido longo tempo sem
cuidados durante a guerra, os galhos das árvores estavam todos desordenados, e por isso, mesmo
durante o dia, era um parque escuro. A área adquirida pelo Fundador correspondia ao jardim de estilo
japonês.
O objetivo do Mestre, ao comprar terrenos em Hakone e Atami numa época material e
psicologicamente difícil, ou seja, entre o final da guerra e logo depois do seu término, era construir, com
base na Providência de Deus, uma terra ideal caracterizada pela harmonia entre a beleza natural e a
beleza criada pelo homem e fazer dela a base da Obra Divina. Esse Paraíso Terrestre, onde se
concretizaria a Verdade, o Bem e o Belo, teria a função de protótipo, visando a mostrar a toda a
humanidade a imagem do Mundo Ideal que seria estabelecido na Terra quando chegasse a hora
oportuna. A propósito, o Fundador escreveu: "O Paraíso Terrestre que temos por ideal é um mundo de
perfeita Verdade, Bem e Belo." E ensinou, ainda: "Esse Paraíso Terrestre que é a Terra Divina, mostra
o futuro Paraíso Terrestre, de escala mundial."
A construção e a conclusão do protótipo idealizado pelo Fundador estão intimamente relacionadas com
o avanço da construção do Mundo Ideal. A esse respeito, ele nos ensinou: "As realizações Divinas são
elaboradas em forma extremamente pequena e vão se expandindo gradativamente, até que adquirem
amplitude mundial." Superando a grande dificuldade financeira daquela época e vencendo a escassez de
material, o Mestre desenvolveu a construção do protótipo do Paraíso Terrestre porque estava
absolutamente convicto de que ela possuía um profundo significado no desenvolvimento da Providência
Divina.
À medida que se iam adquirindo terras em Hakone e Atami e que a obra de construção avançava, foram
ocorrendo sucessivos fatos misteriosos, os quais mostravam que essas terras tinham sido
antecipadamente preparadas pela invisível Vontade Divina. O Fundador explicou isso dizendo: "É
interessante como os terrenos de que necessitamos vão chegando às nossas mãos uns após outros. E não
são terrenos dispersos: eles vão se ampliando de um vizinho para outro. O mesmo acontece com o
tempo. Quando está se aproximando a hora em que teremos necessidade do terreno, os proprietários
nos procuram, para vendê-los. Tudo se processa conforme desejamos." Ele escreveu, ainda: "As pedras
de que precisamos, surgem abundantemente, num só lugar. Parecem não ter fim, por mais que
escavemos."
Mas esses acontecimentos não se limitaram à ampliação dos terrenos e às pedras. Fatos misteriosos,
como, por exemplo, conseguir na hora certa as espécies de árvores desejadas, ocorreram um sem-
número de vezes, durante a construção do protótipo do Paraíso Terrestre. Não seria exagero dizer que
foi uma seqüência ininterrupta de milagres.
Sobre o desenvolvimento da grande construção determinada pela Vontade de Deus, o Fundador,
baseado na teoria da Transição da Era da Noite para a Era do Dia, escreveu:
"Desde 1931, o Mundo Espiritual tende gradativamente a clarear e por isso tornou-se fácil construir o
Paraíso. Não são os homens que o constroem, e sim, Deus. Assim, a construção avança naturalmente, de
acordo com o tempo, bastando que o homem trabalhe em conformidade com a Vontade Divina. Deus é
quem fez o projeto e inspeciona o trabalho, utilizando livremente grande número de pessoas; quanto a
mim, pode-se considerar que represento o papel de mestre-de-obras. Naturalmente, como parte de
minha função, também estou construindo um modelo do Paraíso, fato que é do conhecimento dos fiéis.
Sendo assim, os terrenos me são oferecidos inesperadamente, em lugares inesperados e por pessoas
inesperadas. Mal eu sinto que Deus me está dizendo para comprá-los, obtenho a quantia necessária sem
maiores sacrifícios. De acordo com o terreno, consigo não só o projeto mais adequado como o melhor
construtor, e o material necessário também entra na medida exata. Até um arbusto para jardim me é
trazido inesperadamente por alguém, e há sempre um lugar onde ele se encaixa com perfeição. Às vezes,
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aparecem-me várias árvores ao mesmo tempo e fico sem saber onde colocá-las; entretanto, como creio
que tudo isso é feito por Deus, ponho-me a estudar o jardim e começo a plantá-las uma a uma.
Resultado: elas vão se encaixando perfeitamente. Cada vez que isso acontece, vejo que tudo está sendo
feito por Deus. Quando desejo colocar uma pedra ou uma árvore em determinado lugar, em dois ou três
dias elas vêm às minhas mãos. Que poderá ser isso senão um milagre?"
A obra de construção propriamente dita dos jardins da Terra Divina foi iniciada em 1945, sob a
responsabilidade de um profissional especializado. O Fundador ia ao local todos os dias e dava
instruções nos mínimos detalhes, até sobre uma árvore, uma planta ou uma pedra. Sem se prender às
normas da construção de jardins, ele construiu a Terra Divina dispondo pedras, plantas e árvores com
um método inovador. Era a expressão da mais elevada arte, que combinava com a natureza de Hakone.

Figura

Poema escrito pelo próprio punho do Fundador:"Limpando matagais /Cobertos de plantas e arbustos, /
Construí, em Hakone, / Um jardim de flores. "

Nos jardins da Terra Divina foram usadas grandes quantidades de pedras em vários lugares. A
composição de rochas da corrente de água, que passa pelo jardim da Casa de Contemplação da
Montanha, e as inúmeras rochas dispostas em vários pontos dele formam um aspecto peculiar, em que
foi habilmente aproveitada a topografia de Gora, pois todas elas foram encontradas nesse mesmo
terreno. Através disso, o Fundador captou a cuidadosa preparação de Deus.

Figura

Composição de rochas da Cascata Ryuzu. Pendurando-se uma corrente no centro das toras de madeira
que se vêem à esquerda, levanta-se a rocha para movê-la. O prédio do centro, no fundo da foto, é a
Casa de Contemplação da Montanha

Dizem que as rochas soterradas em Gora caíram lá com a explosão do Monte Soun, situado atrás da
Terra Divina. Constatando que, durante a construção da Terra Divina, toda vez que ele queria colocar
uma pedra em determinado lugar, a pedra adequada aparecia perto dali, o Fundador concluiu que, na
longínqua antigüidade, Deus já havia preparado aquele terreno. Assim, pelos diversos fatos
relacionados à construção do protótipo do Paraíso Terrestre, ele solidificou ainda mais a sua crença de
que Deus desejava tal construção, esperando vê-la concluída o mais rápido possível. Os grandiosos
planos decorrentes dessa crença foram sendo concretizados seguidamente.
Em agosto de 1946 ficou pronta a Casa de Contemplação da Montanha, moradia do Fundador na Terra
Divina.
Em maio do ano seguinte, reformou-se uma das casas de aluguel que existiam na época do jardim em
estilo japonês, a qual recebeu o nome de Hagui-no-Ya (Casa do Trevo); mais tarde, na sua frente, foi
concluído o Hagui-no-Miti (Caminho do Trevo). Em 1948, iniciou-se a construção do Soun-Ryo
(Alojamento Nuvens Ligeiras), que posteriormente teve o seu nome mudado para Niko-Den (Palácio da
Luz do Sol) ; em maio desse ano, foi realizada a sua pré-inauguração, dando-se também início à
construção do jardim e do lago. Os fiéis haviam começado a dedicar desde 1945, mas foi a partir dessa
obra que se formou o Grupo de Dedicação, o qual passou a ajudar o trabalho dos profissionais. Em
maio de 1949, ficou pronto um jardim de rica variedade, que se estendia da Casa de Contemplação da
Montanha até o Alojamento Soun. No verão de 1950, inaugurou-se o Sanguetsu-An (Casa de Cerimônia
de Chá Monte e Lua), ao lado do qual foi construído o Jardim de Bambus.
De 1948 a 1950, a Igreja viu-se atingida por diversos acontecimentos funestos, mas isso não atrapalhou
o ritmo da construção. Esta continuou sendo firmemente desenvolvida e, na primeira metade de 1950, a
parte fundamental da Terra Divina estava quase pronta. Durante sete dias, a partir de 21 de setembro,
foi realizado solenemente o primeiro Culto de Outono, no Palácio da Luz do Sol. O número de
participantes que vieram de todo o Japão para essa cerimônia foi surpreendente: até o mezanino
especialmente construído na parte sul ficou lotado. No rosto dos fiéis, não havia nem vestígios dos
tenebrosos momentos vividos quatro meses atrás, isto é, dos dias dolorosos e inseguros decorrentes da
perseguição religiosa. Todos eles mostravam-se contentes por terem conseguido participar do Culto, no
qual se festejava a conclusão das bases da Terra Divina. O Fundador compôs dez poemas para essa
oportunidade, dos quais transcrevemos os que se seguem :

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"Finalmente está se formando
O Paraíso Terrestre.
O Culto de hoje
Festeja essa alegria. "

“A Terra Divina
Reflete-se aos olhos das pessoas
Como imagem de perfeita
Verdade, Bem e Belo. "

Para esse Culto foram convidados artistas de primeira categoria, entre os quais En'nossuke Itikawa (2a
geração) (1888 - 1963), Kossaburo Yoshizumi (4a geração) (1876 - 1972), Mussei Tokugawa (1894
-1971) e Kinba Sanyutei (3a geração) (1894 -1964). Após a cerimônia, foram apresentados diversos
números artísticos, e o Fundador e sua esposa passaram momentos alegres e divertidos junto aos fiéis.
No final do ano, teve início a preparação do terreno para a construção do museu. O trabalho ficou
concluído no verão de 1951 e, no outono, principiaram as obras de edificação dos alicerces, erguendo-se
fortes pilares para a construção de concreto armado. Assim que voltou de sua primeira viagem
missionária à Região Kansai, o Fundador apresentou o projeto do Jardim dos Musgos, para cuja
construção se aterraria a depressão do terreno na parte leste da Casa de Cerimônia de Chá Monte e
Lua, e pediu a todos os fiéis que oferecessem musgos de diversas regiões. Assim, o terreno coberto de
bambu "kumazassa" transformou-se por completo: em seu lugar, dando outro colorido raro à Terra
Divina, surgiu um belo jardim de musgos, enriquecido pelo Estilo Rin-pa. Em junho de 1952,
inaugurou-se o tão esperado Museu de Arte de Hakone, com o qual ficava concluída a Terra Divina.
Comemorando os dois eventos, foi realizado solenemente, durante três dias, o Culto do Paraíso
Terrestre.

b) O KANZAN-TEI (Casa de Contemplação da Montanha)

A primeira construção iniciada pelo Fundador na Terra Divina foi a Casa de Contemplação da
Montanha. Embora se estivesse em plena guerra, ele recebia muitos visitantes e, além disso, vários
dedicantes moravam com ele. Assim, o Mestre construiu essa casa pela necessidade de ter uma
residência mais reservada, a fim de poder realizar as tarefas Divinas com tranqüilidade.
Aplainando o terreno inclinado ao norte do Solar da Montanha Divina, ele conseguiu uma área de
aproximadamente 100 m2, onde iniciou a construção. Na época, as edificações estavam controladas, não
podendo ter mais de 50 m2 e, por isso, o Fundador viu-se obrigado a construir uma casa que não
ultrapassasse essas dimensões. Dada a impossibilidade de conseguir a madeira necessária, lembrou-se
daquela que havia comprado para construir um anexo no terreno do Hozan-So, madeira que não tinha
sido utilizada, pois, devido à disputa desse terreno, o tribunal o havia proibido de fazer construções
nele. Entretanto, embora a madeira estivesse assegurada, havia o problema do transporte. Para
transportar a quantidade de madeira necessária, seria preciso um caminhão e gasolina mas, durante a
guerra, até isso era difícil para um cidadão. Felizmente, graças à ajuda de um fiel relacionado ao
exército, o problema foi resolvido, tornando-se possível a construção.
Eis, porém, que, iniciada a obra, em março de 1945, surgiu outro problema: assegurar a alimentação
dos trabalhadores. Se não lhes fornecessem comida, eles teriam de parar o serviço para ir comprá-la, e
a obra sofreria atraso. Nessa época, a situação alimentar era péssima, mas na casa do Fundador,
felizmente, havia um estoque de arroz ofertado pelos fiéis do interior e ele o cedeu aos trabalhadores.
Certo dia, ao vê-lo comendo um simples pão feito de farinha de macarrão, alimento que na época
substituía o arroz, um discípulo imaginou que ele estava vendendo este último para empregar o dinheiro
nas despesas diárias. Talvez decifrando o seu pensamento, o Fundador lhe disse: "Vou trabalhar nesta
casa. Quando ela ficar pronta, a humanidade estará mais perto da salvação. Se deixarmos os
trabalhadores passarem fome, a obra atrasará. Por isso estou-Ihes fornecendo arroz."
Quando a construção finalmente se normalizou e um terço da obra já estava concluída, os
ataques aéreos se intensificaram e o estoque de arroz fornecido aos trabalhadores chegou ao fim.
Entretanto, exatamente nessa época, um discípulo chamado Otsuki Kyoji (posteriormente Responsável
da Igreja Kossei) comprou seis sacas de arroz branco e o enviou ao Fundador, que, através desse fato,
sentiu a vigorosa Vontade Divina de que a obra continuasse. Depois disso, a construção da Casa de
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Contemplação da Montanha prosseguiu normalmente, ficando concluída em agosto de 1946, um ano e
cinco meses após ter sido iniciada nas péssimas condições sociais do período durante e após a guerra.
Tratando-se de uma casa de apenas 50 m2, foi muito tempo, mas demonstra o esforço feito para vencer
os inúmeros obstáculos que surgiram.
Durante a construção da Casa de Contemplação da Montanha, ocorreu um episódio que comprova o
misterioso poder do Fundador. Foi no verão de 1945. Os alicerces estavam prontos, e os pilares de pé;
era hora, portanto, de fazer a cobertura. Três dias depois, entretanto, quando faltavam apenas 40 ou 50
cm para ela ficar terminada, o céu de repente começou a escurecer e surgiram nuvens negras. O tempo
muda com muita facilidade nas montanhas. Isho Murata, escultor de estilo Kamakura, que
ocasionalmente estava na obra para inspecionar o local onde iria construir o "biwa-toko" (29), ficou
olhando as nuvens, preocupado com a chuva. Nisso, o profissional que estava fazendo a cobertura, foi
correndo ao seu encontro e lhe pediu: "Sr. Murata! Estou em apuros. . . Se eu não terminar o trabalho
antes que chova, os pilares ficarão manchados. Por favor, diga ao Grande Mestre para fazer alguma
coisa!" Em seguida, ele acrescentou que, em trinta ou quarenta minutos, no máximo em uma hora, a
cobertura estaria pronta. Murata, por intermédio de Motokiti Inoue, imediatamente transmitiu o
pedido ao Fundador, que, no mesmo instante, foi lá fora.
- Que aconteceu?
- Parece que vai começar a chover a qualquer momento e. . .
figura
O Fundador e sua esposa, na Casa de Contemplação da Montanha. O quadro pendurado na parede é a
obra "Riqueza do Mar", de Suiho Takeuti
- Está bem. Quanto tempo ainda é necessário?
- Em uma hora, no máximo, a cobertura estará terminada.
- Sim, mas qual o tempo mínimo que ainda leva?
- Quarenta minutos.
- Ah, é?
Então, o Fundador fixou os olhos no céu durante dois ou três minutos, os quais, para Murata, que
estava ao seu lado, pareceram uma eternidade. Depois, voltando-se para o operário, disse: "Pronto,
termine logo a cobertura."
O profissional terminou o trabalho às pressas e, exatamente no momento em que ia descer a
escada, começou a cair uma chuva bem forte. Entretanto, não estava chovendo até cerca de cinco
metros ao redor da casa; dali para frente, era uma chuva torrencial. Murata, que se tornara fiel
recentemente, duvidara do resultado daquele olhar fixo do Fundador; constatando, porém, com seus
próprios olhos, o poder incomum do Mestre, sentiu por ele um respeito tão grande que estremeceu
instintivamente.
Da Casa de Contemplação da Montanha, como seu nome indica, avistava-se, entre outras elevações, a
Montanha Daimonji (Pico Myojo), a leste, o Pico Myojin e o Monte Senguem. Mesmo no escaldante
verão, os beirais bem largos proporcionavam uma sombra refrescante, e o vento trazia o ar fresco das
montanhas. Com a expansão da linha de difusão, a vida do Fundador ia ficando cada vez mais
atarefada, mas podemos imaginar quanta tranqüilidade e descanso esse panorama deve ter
proporcionado ao seu coração.
A casa foi usada para os encontros com os diretores da Igreja, com os comerciantes de obras de arte e
com muitas outras pessoas; aí, também, foram ditados e revisados um grande número de Ensinamentos.
Ela foi muito importante como ponto central da Obra Divina no Solo Sagrado de Hakone.

c) O HAGUI-NO-YA (Casa do Trevo)

Em maio de 1947, o Fundador transportou uma das casas de aluguel localizadas no antigo jardim em
estilo japonês do Gora-En para o declive existente atrás da Casa de Contemplação da Montanha.
Depois de reformá-la, deu-lhe o nome de Casa do Trevo. Ele guardava uma lembrança especial dessa
casa, pois no final da Era Taisho, quando a Terra Divina ainda era o jardim de propriedade da Estrada
de Ferro Hakone Tozan, passara um verão numa daquelas casas. Não conseguindo esquecer-se disso,
reformou uma delas para usá-la como anexo.
No início, a Casa do Trevo era utilizada para hospedar visitantes, mas depois passou a servir
exclusivamente para o Fundador fazer as caligrafias a pincel. Em frente a ela foi construído, mais tarde,
(29)
- Plano localizado ao lado do "toko-no-ma", com aproximadamente 30 cm de altura e uma área de 81 cm2.
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o Caminho do Trevo. No começo do outono, o trevo "miyaguino" dá flores vermelhas e brancas nos
seus galhos pendentes, os quais formam um túnel, proporcionando um espetáculo de graça e elegância
que deleita os olhos dos visitantes.

Figura

O Fundador passeando pelo caminho do Trevo

Nesse local, devemos atentar para a disposição das rochas que margeiam o caminho. O tamanho e a
altura de cada uma foram aproveitados habilmente, de modo a tornar o caminho harmonioso e fazê-lo,
por si mesmo, delinear reentrâncias e saliências. Um especialista em construção de jardins, vendo essa
composição, comentou: "Geralmente se utiliza o método de ‘enfileirar as faces’, que consiste em dispor
as rochas em fila, com a parte plana voltada para o caminho; aqui, entretanto, a composição é
totalmente diferente, o que me deixou muito surpreso. Na maioria das vezes, não se consegue aproveitar
e ordenar bem as rochas." De fato, colocando-nos no Caminho do Trevo e observando-o de forma mais
atenta, descobrimos nele um sabor muito especial. A sensibilidade com que o Fundador o construiu,
utilizando o trevo para esconder, de forma natural, a composição das rochas, a qual exigiu tanto
trabalho e tempo, causou admiração até mesmo a um especialista no assunto.
O Fundador disse: "Como sempre falo, não gosto de falsidade; por isso, além de achar que enfeitar ou
usar de artifícios é uma espécie de falsidade e também de esnobação, acho que, de certa forma, causa
má impressão aos outros." Esse seu sentimento está contido não apenas no Caminho do Trevo, mas em
toda parte dos jardins sagrados de Hakone e Atami.

d) O NIKO-DEN (Palácio da Luz do Sol)

Pouco tempo depois que a Casa de Contemplação da Montanha ficou pronta, as leis que
regulamentavam as construções tornaram-se mais tolerantes. O Fundador planejou, então, a construção
de um local para fazer as entrevistas com seus discípulos e com os fiéis e, com esse objetivo, comprou
aproximadamente 278 m3 de cedros, que eram propriedade de um templo situado no Estado de Akita,
transportou-os para Odawara em mais de vinte caminhões, a fim de transformá-los em madeira, e, em
seguida, levou-os para a Terra Divina. Pouco depois, vieram oferecer-Ihe um terreno de
aproximadamente 2.000 m2, localizado abaixo do Solar da Montanha Divina, e ele imediatamente o
comprou. Aplainando esse suave declive, conseguiu um terreno relativamente reto. Solucionado o
problema do material e do local, a obra ia ser finalmente iniciada.
Exatamente nessa ocasião, o Fundador conheceu o arquiteto Issoya Yoshida, por intermédio de
Kossaburo Yoshizumi (4a geração), expoente de "nagauta". Ele gostara muito da casa de Yoshizumi e,
sabendo que fora construída por Yoshida, quis conhecê-lo. Mais tarde, descrevendo a impressão que
teve sobre esse arquiteto, disse: "Ao conversar com ele, vi que tinha uma mente muito esclarecida e que
nossas opiniões coincidiam perfeitamente. Assim, achei que fora realmente enviado por Deus." Com
essa convicção, o Fundador pediu a Yoshida que fizesse o projeto do novo prédio que iria construir.
Issoya Yoshida nasceu em Nihon-Bashi, na cidade de Tóquio, em 1894. Após se formar arquiteto, quis
estudar a arquitetura ocidental, tendo ido à Europa e aos Estados Unidos. Maravilhado com a beleza
das construções do período inicial do Renascimento italiano, aprendeu a importância da tradição e
retornou ao Japão decidido a reconsiderar as construções tradicionais. Apresentando uma forte
tendência a seguir os modelos ocidentais, o mundo arquitetônico japonês teve um grande impacto com o
aparecimento de Yoshida, que, tomando por base o estilo Sukiya aliado ao estilo das casas de cerimônia
de chá, fez desabrochar uma nova beleza arquitetônica.

Figura

Da esquerda para a direita, as Sras. Yoshida e Kotaro, Issoya Yoshida, Kossaburo Yoshizumi, Kotaro
Yoshizumi, o Fundador, a Sra. Kossaburo e Yoshi

Até seu falecimento, em 1974, Yoshida fez muitos projetos, que ficaram na história da construção
japonesa, entre os quais o Edifício Yamato Bunka e o prédio principal do Templo Tyugu-ji, em Nara, o
Teatro Cabúqui de Tóquio e obras particulares. Em 1964, foi condecorado com o Prêmio Cultural. No
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livro intitulado "Jozetsusho", aproveitando as palavras de um célebre arquiteto, mostrou o aspecto
ideal das construções residenciais: "Indo à festa de inauguração de uma casa, não achei nada que
pudesse ser relevantemente elogiado; tampouco encontrei algo a criticar. Também não senti vontade de
ir logo embora e por isso acabei não me preocupando com as horas, tendo ficado lá um bom tempo.
Uma casa assim é o ideal."
"Sem supervalorizar a raridade, dar um toque especial, com despretensiosa serenidade. . . " Esse
pensamento de Yoshida em relação à arquitetura deve ter encontrado ressonância no coração do
Fundador, que também tinha desenvolvido uma apurada sensibilidade em relação às construções
tradicionais do Japão. Ainda no livro a que nos referimos, Yoshida escreveu sobre o sentimento que
deve caracterizar o arquiteto: "Ainda que tenhamos consultado pilhas e pilhas dos mais diversos livros
de arquitetura estrangeira, a construção que não foi feita com o sexto sentido parece ter alguma coisa
faltando. Os conhecimentos emprestados de terceiros, na maioria das vezes não servem. Quando se
pensa com toda a sinceridade e amor, tendo sido preenchidas todas as condições, o sexto sentido sempre
funciona." Esse pensamento também coincidia com o do Fundador, que respeitava a intuição e orientava
a construção do Solo Sagrado de acordo com as idéias que lhe vinham à mente em cada momento.
Na base do pensamento comum que identificava o Fundador e Yoshida, estava a profunda compreensão
que ambos tinham da Arte e o fato de terem estudado na mesma escola — Escola de Belas-Artes de
Tóquio — e serem possuidores do sentimento próprio dos "edoko" (30). E não eram "edoko" comuns.
Eram dois "edoko" ligados por um caráter extraordinariamente grandioso.
Assim, na construção do Palácio da Luz do Sol, como em todas as outras construções do Solo
Sagrado, o caminho se abriu graças à proteção de Deus. A obra, iniciada no dia 23 de fevereiro de 1948,
transcorreu normalmente, sendo pré-inaugurada em maio do mesmo ano e concluída em maio do ano
seguinte.
Figura

Interior do Palácio da Luz do Sol. O quadro no "toko-no-ma", ao centro, é o Hinode Kannon, pintado
pelo Fundador. No alto da parede, à direita, vê-se a caligrafia "Palácio da Luz do Sol", também feita
por ele

Inicialmente, esse salão foi denominado Soun-Ryo (Alojamento Nuvens Ligeiras), pelo fato de o Monte
Soun estar localizado logo atrás; em 1950, teve o seu nome mudado para Palácio da Luz do Sol. Na
época, como ainda havia leis regulamentando as construções, cujo limite era de 330 m2, ele começou a
ser construído obedecendo a essas dimensões, mas em 1951, com o abrandamento das leis, foi ampliado.
Assim, o Palácio da Luz do Sol adquiriu o tamanho que possui atualmente.
Yoshida também se encarregou do projeto de ampliação da Casa de Contemplação da Montanha,
quando foi construído o jardim de inverno e a sala de banho.

"Não há nada
Que possa comparar-se
A alegria que eu sinto hoje,
Vendo construída
A morada de Deus."

“Está radiante o rosto dos fiéis


Que, com a chegada do momento certo,
Vieram visitar pela primeira vez
O jardim que cultua Deus."

e) O SANGUETSU-AN (Casa de Cerimônia de Chá Monte e Lua)

Em 1947, o Fundador pediu a Seibe Kimura (2a geração), especialista no assunto, que construísse a
Casa de Cerimônia de Chá Monte e Lua. A idéia surgira no verão de 1946. Na época, o general Smith,
do exército americano, que ocupara o território japonês, e outros altos oficiais quiseram assistir a uma
cerimônia de chá. Atendendo ao pedido de uma pessoa influente de Atami que tomara conhecimento
disso, o Fundador cedeu-lhe a sala de chá do Solar da Montanha do Leste. Há muito tempo convicto da
(30)
- Pessoa natural de Edo, antigo nome da cidade de Tóquio.
105
chegada do dia em que se apresentaria ao mundo a beleza das construções tradicionais do Japão, ele
resolveu, nessa oportunidade, construir uma casa de chá, idéia concretizada dois anos depois.
Havia uma misteriosa afinidade entre o Fundador e Seibe Kimura. No ano de 1914, quando aquele era
empresário e participou da Exposição Taisho, realizada em Tóquio, com um adorno para cabelo,
recebendo o Prêmio de Bronze, Kimura participou da mesma exposição com uma sala de cerimônia de
chá. Quando aceitou o pedido para construir a Casa de Cerimônia de Chá Monte e Lua, Kimura já
estava perto dos oitenta anos. Não obstante, movido pelo entusiasmo e pelo ideal do Fundador, dedicou-
se de corpo e alma a esse trabalho, com a intenção de construir algo único em todo o mundo,
empregando a técnica e o sentimento que viera polindo durante longo tempo. No verão de 1950, após
três anos de trabalho, finalmente a casa ficou concluída, ocupando uma área de 82,5 m2.
Hamakiti Akiyama, o pedreiro que trabalhou nessa construção, disse :
"A Casa de Cerimônia de Chá Monte e Lua foi construída pelo Sr. Seibe Kimura, pelo marceneiro Oki
e por mim. Na época, eu freqüentava assiduamente, entre outras residências, a do empresário
Yassuzaemon Matsunaga (deputado estadual e presidente da Companhia de Eletricidade Kyushu), a do
Sr. Koyata Iwassaki (proprietário do Grupo Financeiro Mitsubishi desde a Era Taisho até logo após o
término da Segunda Guerra Mundial) e a do Sr. Ino Dan (membro do Conselho de Nobres, presidente
da Emissora Kyushu Assahi e conselheiro dos Pneus Bridgestone). Através desses contatos, acabei
participando também da construção da Casa de Cerimônia de Chá Monte e Lua. O Fundador vinha de
vez em quando ao local da obra e mostrava-se satisfeito: "Puxa! Está muito bom!" Por suas palavras,
podia-se perceber que ele era uma pessoa compreensiva e de fino gosto estético. A construção de uma
casa de chá comum requer de doze a treze marceneiros; para aquela, teriam sido necessários de
cinqüenta a sessenta por cada 3,3 m2. Provavelmente não será possível construir outra casa de chá tão
magnífica. O Fundador tinha uma profunda e calorosa compreensão pelo nosso trabalho, e por isso
conseguíamos executá-lo com muita satisfação e alegria."

Figura

O caminho e a vista da Casa de Cerimônia de Chá Monte e Lua

A Casa de Cerimônia de Chá Monte e Lua, atualmente, goza de muita fama na Região Kanto.
Terminada essa obra, foi construído, pegado a ela, o Jardim de Bambus, que, com suas rochas cheias de
musgos e com seus bambus crescidos de forma dispersa, possui a graça característica do estilo chinês.
Na Era Guen, existiu na China um pintor, chamado Shizui Dan, que pintou muitos quadros de bambus e
rochas. O Fundador admirava suas obras e, há muito tempo, adquirira algumas. No Jardim de Bambus,
está expressa a sensibilidade desse artista, com pedras e bambus verdadeiros. Os bambus criam
inúmeras raízes e dão muitos brotos, formando densos agrupamentos, o que lhes tira a graça. Para
evitar isso, teve-se o cuidado de enterrar blocos de concreto entre os bambus.
A graça do estilo chinês também foi expressa no aspecto exterior e no telhado azul do Museu de Arte,
construído mais tarde. Nessa parte da Terra Divina, expressou-se uma harmoniosa beleza oriental.

2. ZUIUN-KYO (TERRA CELESTIAL) - SOLO SAGRADO DE


ATAMI

a) INÍCIO DA OBRA

A construção da Terra Celestial foi iniciada em 1945, com a aquisição do terreno de aproximadamente
16.500 m2 onde está situado o atual Templo Messiânico. Na época, o local tinha o nome de Izussan Aza
Okubo. Em 1946, adquiriu-se um terreno de mais ou menos 10.000 m2, que compreendia a área onde se
ergue o Palácio de Cristal e a parte que vai do Jardim das Ameixeiras até o Alojamento Shinjin. Com
isso, a Terra Celestial tomou um aspecto semelhante ao que tem hoje.

Mapa resumido da Terra Celestial (1981)

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1 - Museu de Arte M.O.A
2 - Escada rolante subterrâneo
3 - Entrada para o Museu
4 - Local de descanso
5 - Alojamento para moças
6 - Internato "Tozankaku”
7 - Apartamento para funcionários casados
8 - Hospedaria Nuvem Auspiciosa
9 - Sede Administrativa
10 - Anexo da Sede Administrativa
11 - Templo Messiânico
12 - Monte Límpido
13 - Palácio de Cristal
14 - Colina das Azaléias
15 - Monte Paisagem
16 - Gabinete de Kyoshu-Sama
17 - Jardim das Ameixeiras
18 - Cabana de Cerimônia de Chá "Seiko-Tei”
19 - Alojamento “Shinjin”
20 - Monte Nuvem de Pedras
21 - Casa"Yomei"

Figura

Poema escrito pelo próprio punho do Fundador:

"Para construir o Paraíso Terrestre,


Escolhi Atami,
Que possui uma vista magnífica
Para o mar e para a montanha"

O local é muito pitoresco e de lá se pode avistar ao mesmo tempo a Baía de Sagami, com a Ilha Hatsu, e
as Penínsulas Miura e Bosso. Além do mais, é de fácil acesso, possuindo um clima ameno e abundância
de águas termais; apresenta, portanto, ótimas condições. A esse respeito o Fundador disse: "Que
poderia ser o Solo Sagrado senão uma grande obra de arte preparada por Deus quando criou o
mundo?"
Naquele tempo, entretanto, a região era um lugar montanhoso, fechado e de acesso muito difícil;
para se chegar lá, só havia um pequeno caminho de terra passando por entre as árvores. Certa ocasião,
durante uma entrevista realizada no Solar da Montanha do Leste, o Fundador expôs aos fiéis seus
planos para o futuro: "Em breve construirei, na montanha em frente, um prédio que comportará
milhares de pessoas." Para os fiéis, no entanto, era como se estivesse ouvindo falar de um sonho, pois,
na época, embora a difusão houvesse crescido, pouco mais de dez pessoas se reuniam para os encontros
com o Fundador; além disso, a "montanha em frente" a que ele se referia, podia ser avistada a noroeste,
do outro lado da estação ferroviária, a uma distância de centenas de metros em linha reta, e estava toda
coberta de densas matas.
Malgrado tais condições, a obra de construção do Solo Sagrado de Atami teve início naquele mesmo
ano de 1946, com a terraplenagem do local onde existe hoje o Alojamento Shinjin, para aí se construir a
casa de administração. Em seguida, a obra foi progredindo firmemente, do Templo Messiânico para o
Palácio de Cristal e para a Colina Sekiun (Nuvem de Pedra). O terreno era maior e mais acidentado que
o de Hakone, de modo que foi necessário um trabalho de grande escala, para cortar montes e aterrar
depressões. Na época ainda não se dispunha de máquinas, e a maior parte do trabalho teve de ser
executada com a força braçal dos grupos de dedicantes. A terra e as pedras, explodidas com dinamite,
eram retiradas com pás, colocadas em caixas e levadas até os vagões, para serem transportadas.

107
b) O PLANO DE DEUS

Na Terra Celestial aconteceu o mesmo que se deu em Hakone: as necessidades eram supridas no
momento necessário, numa seqüência de milagres. Por exemplo: para o preparo do terreno onde seria
erigido o Templo Messiânico, foi preciso cortar parte da montanha, surgindo, durante essa obra, grande
quantidade de pedras, que puderam ser utilizadas nos muros levantados em diversos pontos do Jardim
Sagrado. Se essas pedras tivessem sido compradas, as despesas com a sua aquisição e transporte teriam
sido enormes.

Aconteceu, ainda, o seguinte fato:

Figura

Preparação do terreno, feita com pás e picaretas, para a construção do Templo Messiânico

Por volta de 1948 ou 1949, quando o terreno do Templo Messiânico estava em pleno preparo, o
Fundador determinou que se construíssem estradas para automóveis, a fim de tornar o trabalho mais
prático. Para isso, entretanto, era necessário eliminar a inclinação do terreno, o que faria sair grande
quantidade de terra. O encarregado quis, então, saber o que deveria fazer com ela — preocupação
lógica de uma pessoa na sua posição. O Fundador respondeu: "Não se preocupe com coisas que ainda
estão por acontecer. É um cuidado desnecessário, porque Deus está conosco. Ele fará o que for melhor."
O encarregado ficou abismado com essa resposta. Pouco tempo depois, foi adquirido o terreno do
Jardim das Ameixeiras, situado num vale muito fundo, de modo que a terra excedente das obras da
estrada pôde ser utilizada para aterrá-lo. As pedras extraídas nessa oportunidade foram empregadas na
construção da muralha situada próximo ao Alojamento Shinjin.
Mais tarde, também, toda vez que havia necessidade de pedras, elas apareciam nas proximidades, e a
terra que sobrava, servia para aterrar depressões do terreno. Assim, foi um suceder de milagres: tudo
se encaixava perfeitamente. Através desses fatos, as pessoas a eles relacionadas passaram a
compreender que, se procedessem de acordo com as palavras do Fundador, não haveria erros; ao
mesmo tempo, essas pessoas fortaleceram a convicção de que Atami, tal como Hakone, era um Solo
Sagrado preparado por Deus.

Figura

Poema escrito pelo próprio punho do Fundador: "Nas terras de Hakone e de Atami /
Podemos reconhecer l O profundo Plano Divino"

Por volta do final da guerra, quando o povo, abatido pela crueldade da contenda, vivia perseguido pelas
dificuldades do dia-a-dia, o Fundador, com ardoroso entusiasmo, comprou terrenos uns após outros, e,
aproveitando-Ihes a beleza natural, foi dando a eles um aspecto ainda mais belo.
Nem é preciso dizer que o avanço ininterrupto da construção do Solo Sagrado deveu-se às rápidas
decisões e orientações precisas do Fundador, o qual sempre estava à frente de sua época. Por outro lado,
não podemos esquecer-nos da sinceridade dos membros, que se esforçavam por corresponder ao ardor
do Mestre. Com a união do amor oferecido pelos fiéis de todos os cantos do país, diariamente salvos
pelo Poder Divino, o Solo Sagrado foi sendo construído. A construção jamais se desenvolveu dentro de
boa situação financeira. Entretanto, quando e quanto necessário, chegavam às mãos do Fundador as
puras e sinceras ofertas de gratidão feitas pelos membros. Com elas, o círculo da salvação e da alegria
de receber maior proteção de Deus ia se expandindo. No final de outubro de 1948 o número de fiéis
elevava-se a oitenta e oito mil; em maio do ano seguinte, menos de meio ano depois, totalizava cento e
dez mil pessoas.

c) O BAIEN (Jardim das Ameixeiras) e a TSUTSUJI-YAMA (Colina das Azaléias)

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O terreno destinado à construção do Templo Messiânico ficou pronto no verão de 1950. Cortando-se
parte da montanha, conseguiu-se uma área de 3.960 m2. A grande quantidade de terra que então se
obteve, foi utilizada para aterrar uma depressão e até serviu para formar montes. É nesse lugar que fica
o atual Jardim das Ameixeiras, cuja construção teve início na primavera de 1950. Na época também foi
construída a estrada que, saindo do Alojamento Shinjin, passa ao lado do Edifício Nuvem Auspiciosa,
atravessa o Jardim das Ameixeiras, contorna a Colina das Azaléias e termina junto ao Templo
Messiânico.
Dois anos depois, em dezembro de 1952, foi construída uma estrada subterrânea ligando o Templo
Messiânico ao Palácio de Cristal. Sua construção foi feita com escavadeira. Quando a escavação
atingira a metade do túnel, começou-se a ouvir bem baixinho o barulho da máquina, a qual vinha
avançando pelo outro lado. Quando esse barulho se tornou mais nítido, a parede de terra que havia à
frente desmoronou e pôde-se ver o rosto preto de terra dos componentes do grupo de dedicantes. Nesse
momento, espontaneamente, ambos os lados soltaram vivas.
Na primavera do ano anterior, ficara concluído o Jardim das Ameixeiras, cuja construção levara um
ano. Da mesma forma que a Colina das Azaléias, iniciada em setembro de 1951 e concluída em abril de
1952, ele foi idealizado pela sensibilidade artística do Fundador, que admirava muito a arte do Estilo
Rin-pa. Esse jardim caracteriza-se pela graça de seus pequenos montes e pela elegância de suas árvores,
todas elas muito antigas. Representa nada mais nada menos que a concepção artística do Biombo de
Ameixeiras com Flores Vermelhas e Brancas — de Ogata Korin, pintor que o Fundador tanto apreciava
— transposta para a Natureza.
Antes da construção do Jardim das Ameixeiras, quando iam ser compradas as árvores, o Fundador
disse ao jardineiro Issao Morimoto: "As ameixeiras que só dão flores têm pouco perfume. Por isso
plante árvores que dêem frutos e que sejam velhas." Então, Morimoto andou por diversos locais, à
procura de ameixeiras com mais de cem anos. Das trezentas e sessenta plantadas nesse jardim, uma
parte foi adquirida na Mansão Mitsui, em Oisso, e o restante provém da plantação existente em Shimo
Soga, subúrbio da cidade de Odawara. Pelo fato de se ter gasto muito tempo com a procura das
árvores, foram necessários quatro anos para arrancá-las, transportá-las e plantá-las.
A Colina das Azaléias, anteriormente, era um declive cheio de mato, mas foi coberta com a terra
extraída durante a preparação do terreno onde seria construído o Templo Messiânico, e moldada no
formato que possui atualmente. De acordo com a orientação do Fundador, ela deveria apresentar um
formato arredondado vista de qualquer direção. Entretanto, a obra estava levando muito tempo e não
ficava conforme ele desejava. O Fundador ainda não havia dado sua aprovação, mas o jardineiro,
achando que o formato estava mais ou menos delineado e sentindo pena dos trabalhadores e do grupo
de dedicantes que faziam aquele serviço, pensou: "Como o formato está mais ou menos pronto, se eu
plantar as azaléias, ele não vai me dizer para arrancá-las." Assim, plantou cerca de trezentas mudas.
No dia seguinte, os profissionais e o grupo de dedicantes estavam muito tensos, esperando a inspeção do
Fundador. Quando este chegou, desceu rapidamente do carro, como de costume e, após um relance de
olhos para a Colina das Azaléias, ordenou: "O formato não está bom. Por isso arranque os azaléias e
comece tudo de novo." Essas palavras breves, mas denotadoras de que ele não admitia transigência,
fizeram com que todos sentissem uma confiança inabalável. Imediatamente, as azaléias foram
arrancadas, recomeçando-se o transporte de terra. Alguns dias depois, finalmente, ficou concluído um
magnífico monte, que, visto de todos os lados, apresentava o formato desejado pelo Mestre. Muito
contente, ele disse: "Agora está bem." E então as azaléias foram plantadas de novo. Assim, com a
orientação deste, surgiu uma arte de jardinagem baseada na beleza da superfície arredondada.
Dias depois, olhando para a Colina das Azaléias com profunda emoção, o Fundador dirigiu palavras de
conforto aos dedicantes e aos trabalhadores, pelo árduo trabalho executado: "Vocês conseguiram!
Obrigado pelo esforço que fizeram durante tanto tempo." E acrescentou: "Vocês devem ter se
preocupado com o tempo e com o dinheiro gasto para construir essa colina, mas isso não é problema.
Eu quero construir algo realmente magnífico e deixá-lo para a posteridade. Esse é o meu único
pensamento." Ouvindo tais palavras, todos ficaram impressionados pela vigorosa determinação do
Fundador quanto à construção do Solo Sagrado; ao mesmo tempo, sentiram que esta era uma obra
valiosa e de importante significado dentro da Providência Divina.
As dificuldades enfrentadas na construção da Colina das Azaléias não se limitaram ao delineamento de
seu formato. Anteriormente, na aquisição dos pés de azaléias, já houvera uma grande dificuldade. O
Fundador havia determinado que fossem plantados 3.600 pés; entretanto, as azaléias demoram muito
para crescer e não era nada fácil encontrar essa quantidade de arbustos com formato e tamanho
semelhantes. No início, procurou-se em Odawara, em Tóquio e até nas casas de plantas do Estado de
Saitama, mas as respostas eram negativas. Quando já se aproximava o dia da conclusão da colina, o
109
encarregado foi além de Amagui, visitou uma casa tradicional de Nakaizumoto e procurou também com
agricultores residentes entre Mishima e Hakone, até que finalmente completou a quantidade necessária
de pés de azaléias. Através desse fato, ele renovou sua crença de que as palavras do Fundador sempre se
concretizavam.

d) O KYUSSEI KAIKAN (Templo Messiânico)

O Fundador desenvolveu a construção da Terra Celestial dividindo esta em três partes, às quais deu o
nome de Seissei-Dai (Monte Límpido), Keikan-Dai (Monte Paisagem) e Sekiun-Dai (Monte Nuvem de
Pedras). O centro é o Templo Messiânico, erigido no Monte Límpido. Esse prédio, como se pode ver na
foto, é uma construção de concreto armado ao qual se adaptou o estilo de Le Corbusier (1887 - 1965),
que, na época, era o estilo arquitetônico mais moderno, tendendo a dominar o mundo das construções.
O Fundador adaptou-o à forma das construções religiosas e projetou-o de maneira ainda mais moderna.
Fez as paredes internas brancas e deu à fachada um desenho simples, utilizando linhas retas em branco
e cinza escuro. A área do terreno ocupado pelo templo é de 3.960 m2, sendo que o andar térreo tem
aproximadamente 2.300 m2, e o primeiro pavimento, cerca de 1.130 m2, com capacidade para
acomodar umas três mil pessoas. Ele foi projetado não apenas para a realização de ofícios religiosos,
mas para utilidades múltiplas, entre as quais, projeção de filmes e espetáculos de teatro e dança;
possuindo também um camarote para orquestra, destinado a concertos musicais.
Para a construção do Templo Messiânico, confeccionou-se, antes, uma maquete de dois metros
quadrados e fizeram-se muitos estudos. Diariamente, numa hora determinada, o Fundador ia à Terra
Celestial e dava instruções sobre a obra. Especialmente na ocasião de decidir a grossura dos pilares, a
medida que ele mencionou, por intuição, foi exatamente a mesma que o especialista no assunto calculou
para sustentar o peso de prédio. Terminados os alicerces, deu-se início à construção dos pilares. Ao
inspecionar oito que já estavam sendo edificados, o Fundador ordenou: "Reconstruam-no, porque está
faltando sinceridade." Derrubar, com força humana, pilares de concreto armado era um serviço muito
trabalhoso e demorado, mas eles é que iriam sustentar o prédio. Assim, captando, por intuição
espiritual, a falha que havia na obra, o Mestre determinou que ela fosse refeita, embora estivesse ciente
de que seria um trabalho muito custoso.

Figura

Vista externa do Templo Messiânico por volta de 1957

A construção do Templo Messiânico desenvolveu-se sob a direção do próprio Fundador e em


meio de acontecimentos misteriosos, mas só pôde ser concluída após sua ascensão, ocorrida em 1955. O
nome do prédio, que inicialmente era Meshiya Kaikan (Templo Messias), foi mudado para Kyussei
Kaikan (Templo Messiânico) em março de 1957. Na época, a construção foi efetuada com o pensamento
de se estar fazendo o melhor prédio possível; devido, porém, à pouca firmeza do terreno e como medida
de precaução quanto à segurança dos visitantes, ele foi reconstruído em 1972, mantendo a imagem do
Templo Messiânico construído pelo Fundador.

Figura

O Fundador, após uma inspeção das obras do Templo Messiânico. A senhora à direita é Rei Ota

e) O SUISHO-DEN (Palácio de Cristal)

No Solo Sagrado de Atami, a última construção dirigida diretamente pelo Fundador foi o Palácio de
Cristal. Eis um poema que ele compôs sobre o monte onde está edificado esse prédio :

110
"No Monte Paisagem,
Fico embevecido.
É como se fosse
Um desenho em rolo
Que vai se desenrolando."

O Fundador denominou Monte Paisagem o lugar de onde se descortinava o melhor panorama no Solo
Sagrado de Atami, e nele, mais tarde, construiu o Palácio de Cristal.

Figura

Armação de ferro do Palácio de Cristal, em que não se utilizaram pilares na parte frontal. As árvores à
esquerda foram retiradas posteriormente

O prédio tem um formato muito original. É uma circunferência de aproximadamente 22 metros de


diâmetro cortada ao meio. Para que os fiéis e todas as pessoas que visitassem a Terra Celestial
pudessem apreciar da melhor forma possível a paisagem que dali descortina, o Fundador construiu a
face sul do prédio todo em acrílico. O termo "Cristal" simboliza o mundo ideal, sem impurezas. A
transparência da parte da frente, bem ampla, sem nenhum pilar, é realmente muito adequada a esse
nome. Quando o terreno do Monte Paisagem ficou pronto, o Fundador mandou construir um patamar e,
subindo nele, estudou a direção para a qual ficaria voltado o Palácio de Cristal, a altura do chão etc., de
modo que a paisagem pudesse ser vista da forma mais perfeita possível.
O projeto do Palácio de Cristal foi todo idealizado pelo Fundador. Como seu formato arredondado e a
ausência de pilares eram muito raros num prédio independente, não se encontrou na época, em nenhum
lugar, alguém que pudesse calcular sua resistência. Conseqüentemente, o próprio chefe do Setor Técnico
do Ministério das Construções encarregou-se do trabalho e até escreveu uma carta de recomendação, de
modo que o pedido de "habite-se", entregue à repartição competente, no Estado de Kanagawa, foi
aprovado incondicionalmente.

Figura

Praia do leste da Península de Izu vista do Palácio de Cristal

A construção desenvolveu-se em ritmo acelerado, ficando pronta em apenas três meses, graças à
dedicação dos fiéis provenientes de todo o país. Após sua conclusão, em dezembro de 1954, o Fundador
disse: "O Palácio de Cristal não pertence exclusivamente a nós. Desejo que o maior número de pessoas
se deleite com este lugar pitoresco concedido por Deus." Por trás dessas palavras, percebemos o
sentimento do Mestre, que, preocupando-se até com os pormenores, queria fazer daquele local um
ambiente de lazer e tranqüilidade não só para os fiéis como para todos que o visitassem.
O Palácio de Cristal tornou-se famoso no mundo arquitetônico, e pessoas relacionadas a esse campo,
provenientes dos mais diversos locais, freqüentemente iam visitá-lo, para estudos. O Fundador explicou
que a muralha de pedra situada atrás do prédio, a qual forma uma reentrância, representa a Lua, e a
cor vermelha do tapete representa o Sol.

3. AS DIVERSAS INSTALAÇÕES DA IGREJA EM ATAMI

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a) O TOZAN-SO (Solar da Montanha do Leste)

Entre a aquisição do Solar da Montanha do Leste, situado em Atami, e a construção do Templo


Messiânico, na Terra Celestial, o Fundador comprou dois prédios, um no bairro de Shimizu e outro no
bairro de Sakimi, ambos na cidade de Atami, para usá-los como Sede Provisória. Como sua última
moradia particular, em substituição ao Solar da Montanha do Leste, adquiriu o Solar da Nuvem
Esmeralda, no bairro de Minaguti, também em Atami. Essas instalações, dispersas pela cidade e todas
elas relacionadas ao Fundador, desde antes do término da guerra, constituem valiosos prédios que
contam a história da Igreja e nos quais a Obra Divina foi desenvolvida durante mais de dez anos.
Conforme já foi mencionado, desde 1944 o Fundador passara a morar no Solar da Montanha do Leste
durante o inverno e, a partir deste local, desenvolveu a construção do Solo Sagrado na Terra Celestial.
Ao mesmo tempo, por um período de quatro anos, utilizou o anexo do Solar como local para entrevistas
com os fiéis. Nessa época, ele dividia os principais encontros entre os dias 1º e 9. As entrevistas eram
realizadas três vezes ao mês: no início, no meio e no final; o dia 10 era para descanso. Quando não havia
entrevistas, o Fundador geralmente fazia caligrafia a pincel ou ditava Ensinamentos durante a manhã,
na sala Komyo, no anexo do Solar e, na parte da tarde, cuidava do jardim. Com o mar claro
estendendo-se bem diante dos seus olhos, num jardim onde batia bastante sol, podava as plantas com
uma tesoura, para que ficassem redondas; no começo da primavera, quando a velha ameixeira situada à
beira do lago floria, ele ficava em pé na frente dela e não se cansava de apreciá-la.

"Com sua bela vista


Para o mar e a montanha,
Possui também
Fartura de águas termais.
Não me canso de Atami."

Figura

Vista externa do Solar da Montanha do Leste

"Abrigado do inverno
Em meu quarto,
Olhava todos os dias,
Pela janela,
O tranqüilo mar de Izu."

Na época do primeiro proprietário do Solar da Montanha do Leste — Kengo Ishu, presidente do Banco
Dai-iti — a família do jardineiro morava com ele. Depois de adquirir o Solar, o Fundador quis que essas
pessoas continuassem morando ali, e sempre se preocupava com elas. Durante e depois da guerra, no
período de dificuldade alimentar, dava-Ihes arroz e verdura e dizia-Ihes com carinho: "Em casa temos
tudo com fartura, de modo que, se houver algo que desejem comer, podem levar." O jardineiro e todas
as pessoas de sua família sentiam-se muito gratos por essas atenções e durante longo tempo o serviram
com muita devoção.

Fato semelhante ocorreu quando o Fundador adquiriu o Solar da Montanha Divina, em Hakone, e o
anexo do bairro de Shimizu, em Atami, comprado posteriormente. Para o zelador do Solar da
Montanha Divina, ele deu uma casa situada em Minotaira, local um pouco afastado de Gora; no caso do
anexo do bairro de Shimizu, permitiu que o zelador continuasse morando ali e cuidando do jardim.

Figura

Sala de entrevistas, no anexo do Solar da Montanha do Leste

112
Atualmente, o Solar da Montanha do Leste é conservado como Prédio em Memória do Fundador, sendo
visitado por fiéis de todos os países.

b) A SEDE PROVISÓRIA DO BAIRRO DE SHIMIZU

Cerca de três anos após o término da guerra, o crescimento da difusão continuava espantoso. O número
de pessoas desejosas de se entrevistarem com o Grande Mestre elevava-se cada vez mais, não só entre
os recém-ingressos na Fé, como entre aqueles que eram fiéis há muito tempo. Com isso, as entrevistas no
anexo do Solar da Montanha do Leste iam se tornando impraticáveis. A partir de agosto de 1948, depois
da inauguração provisória do Alojamento Nuvens Ligeiras, realizada em maio, elas passaram a ser
feitas aí. Nesse mesmo mês de maio, o Fundador comprara a casa de veraneio do Presidente da
Companhia Petrolífera Ogura, situada no bairro de Shimizu, no centro de Atami, onde instalou a Sede
Provisória; de outubro em diante, realizou as entrevistas nesse local.

Figura

Vista externa da Sede Provisória de Shimizu

O terreno da Sede tinha aproximadamente 3.300 m2, sendo que o prédio ocupava uma área de mais ou
menos 570 m2, parte da qual foi utilizada como sala de entrevistas. Comparando-se com o Solar da
Montanha do Leste, era bem mais amplo; entretanto, com o aumento cada vez maior do número de
pessoas, tornou-se pequeno em pouco tempo. Os fiéis que não conseguiam entrar, tinham de assistir aos
cultos e participar das entrevistas em pé no jardim, durante mais de duas horas. Assim, para que eles
pudessem desfrutar de maior comodidade, colocou-se ali, de início, um abrigo de lona e, posteriormente,
uma cobertura provisória, fazendo-se um corredor externo.
Por ocasião do grande incêndio ocorrido em Atami no dia 13 de abril de 1950, todos os prédios da
redondeza, conforme já se disse, foram destruídos pelo fogo; todavia, rodeada pelas árvores
carbonizadas, a Sede restou, o que constituiu um grande milagre.

Figura

O Fundador durante uma entrevista na Sede Provisória de Sakimi

c) A SEDE PROVISÓRIA DO BAIRRO DE SAKIMI

Na Igreja Miroku, há muito se planejava a construção de uma sede. Decidiu-se, então, construir, no
bairro de Sakimi, próximo da estação ferroviária de Atami, um sobrado de madeira onde também
haveria um local para hospedar os fiéis. Entretanto, quando os alicerces já estavam concluídos, ocorreu
o grande incêndio e, pouco depois, a perseguição religiosa, de modo que a obra esteve interrompida
temporariamente. Resolvido esse problema, foi reiniciada. Certo dia de outubro em que Shibui estava
lá, ocasionalmente o Fundador chegou, expressando-lhe seu desejo de usar o prédio como sede
provisória, porque a de Shimizu já se tornara pequena e ficara muito danificada pelo incêndio.
Acrescentou que pretendia utilizá-lo a partir do dia 23 de dezembro e por isso gostaria de que a
construção terminasse em tempo.
Obedecendo a essas palavras, Shibui desenvolveu a Obra com novo espírito. O Fundador deu ao prédio
o nome de Sede Provisória de Sakimi, começando a usá-lo como local para entrevistas no dia 23 de
dezembro de 1950.

Figura

Vista externa do Solar da Nuvem Esmeralda e a ameixeira branca que o Fundador tanto apreciava

113
d) O HEKIUN-SO (Solar da Nuvem Esmeralda)

As entrevistas na Sede Provisória de Shimizu tiveram início em outubro de 1948 e, desde então, o
Fundador morou lá durante certo período. Nisso, apareceu à venda uma casa muito boa, perto da
Estação Kinomiya, na linha Ito. Ela pertencera à família Kuninomiya e por esse motivo era uma
construção excelente. Estava situada num lugar pitoresco, de onde se avistava a Ilha Hatsu, além da
cidade de Atami, e sua parte leste era aberta. O Fundador gostou muito dessa casa e comprou-a
imediatamente, dando-Ihe o nome de Solar da Nuvem Esmeralda. Estabelecendo nela sua residência, ia
à Sede de Shimizu para dedicar-se às tarefas da Obra Divina. Entretanto, como, na época, os
chantagistas o viviam perseguindo, a existência da casa foi mantida em segredo por algum tempo.
Quando havia cultos em Shimizu, o Fundador entrava e saía discretamente pelos fundos.
O período em que o Fundador residiu no Solar da Nuvem Esmeralda, foi o mais atarefado de toda a sua
vida, devido à grande expansão da Igreja; ao mesmo tempo, foi a época em que se concretizaram
diversas Providências Divinas. Essa casa é muito importante por ter sido o local onde ele passou os
últimos anos de sua vida, desenvolvendo a Obra Divina de acordo com o Plano de Deus, e também o
local onde ocorreu sua ascensão.

4. O SOM DA CONSTRUÇÃO

a) O GRUPO DE DEDICAÇÃO

A construção dos Solos Sagrados de Hakone e de Atami foi executada por profissionais e por
integrantes do Grupo de Dedicação. Esse grupo era composto por homens e mulheres jovens e fortes,
provenientes de todo o país. Ao partirem de suas respectivas Igrejas, eles o faziam como seus
representantes. Por isso, incentivados a dedicarem também pelos que não podiam participar,
empenhavam-se na construção com imensa alegria e boa vontade, por terem recebido tal permissão. Os
homens estavam divididos de acordo com sua força física: os que trabalhavam no corte de montanhas,
no transporte de terra em carretas, no serviço de ajudante de jardineiro etc. As mulheres se
encarregavam dos trabalhos leves e do preparo das refeições. Nos dias de chuva, em que não era
possível trabalhar na construção, tanto os homens como as mulheres iam preparar a tinta carvão que o
Fundador utilizava para fazer caligrafias.
Entre os dedicantes, havia muitos que tinham sido desenganados pelos médicos e foram salvos pelo
Johrei, mas todos suportavam muito bem aquele trabalho pesado, conseguindo cumprir suas tarefas. Os
pedidos para dedicar na construção chegavam ininterruptamente, vindos de todo o Japão, e grande
número de fiéis foi enviado para o local das obras. Na ocasião de atender os pedidos, porém, tomou-se
cuidado para fazê-lo imparcialmente, não desfavorecendo nenhuma Igreja.

Figura

O Fundador durante uma inspeção pelos arredores da árvore situada abaixo da Escadaria Ziguezague

A situação conturbada do período pós-guerra perdurava, mas nada conseguia tirar daquelas pessoas a
alegria de poderem dedicar na construção do Solo Sagrado, sentindo de perto o Poder Divino e
convivendo com quem tinha os mesmos ideais. Especialmente o fato de poderem encontrar o Fundador,
que ia todos os dias inspecionar a obra, era motivo de imensa gratidão e alegria para elas, de modo que
seus problemas desapareciam.
Todos os componentes do Grupo de Dedicação, sem exceções, empenharam-se devotadamente,
considerando aquele lugar como o Sagrado Jardim de Deus. Durante o trabalho, tinham em mente
estarem concretizando o modelo da sociedade ideal que haveria de existir na Terra. Conseqüentemente,
como se tratava da construção do protótipo do Paraíso, estavam conscientes de que tudo que acontecia
de bom e de mau na Terra Divina e na Terra Celestial iria se refletir na sociedade. Mas isso não era
apenas uma convicção; era, também, motivo de orgulho para eles. Esse sentimento de missão refletia-se
na forma como trabalhavam. Quando recebiam do encarregado de obras um serviço fora da
114
programação, todos, mesmo que estivessem exaustos, corriam para o local, um querendo chegar antes
do outro, com o desejo de executar o trabalho custasse o que custasse. Na época, quando iam dedicar no
Solo Sagrado, os componentes do Grupo de Dedicação faziam-no com o espírito mais nobre de um fiel:
servir sem nada buscar em troca. Assim, levavam consigo arroz e dinheiro para suas necessidades.
Entretanto, de todo o país chegavam-lhes alimentos em grande quantidade, oferecidos pelos fiéis como
manifestação de sua gratidão por aquelas pessoas, que estavam dedicando na qualidade de seus
representantes. Os dedicantes, por sua vez, também os recebiam agradecidos, sentindo a sinceridade
dos fiéis nessas valiosas ofertas.
Havia, porém, entre os inúmeros componentes do grupo, alguns que, apesar de serem membros da
Igreja, constituíam um problema até mesmo para suas próprias famílias. Para que pessoas desse tipo
viessem dedicar no Solo Sagrado existia um motivo justificável: aqueles que as cercavam, embora
fizessem o máximo pensando no seu bem, não conseguiam mudar seu íntimo e então faziam-nas
participar da dedicação pela crença de que elas só poderiam mudar recebendo a Luz do Solo Sagrado.
Em abril de 1952 havia um grupo de vadios entre os dedicantes de Atami. Conquanto fossem jovens e
fortes, não tinham vontade de dedicar. Passavam as horas debochando do trabalho dos demais e não
obedeciam às instruções do encarregado, a quem chegavam a tachar de incompetente. Poucos dias após
o início da dedicação, começou a desaparecer seguidamente dinheiro, relógios e outros pertences dos
dedicantes. Segundo opinião geral, os culpados eram aqueles indivíduos vadios. Algumas pessoas se
exaltaram, querendo logo colocar tudo em pratos limpos, mas ficou decidido que todos iriam orar e
velar por eles, para que reconhecessem seus erros e mudassem de atitude.
Pouco tempo depois, a atitude dos jovens principiou a mudar. Eles começaram, então, a dizer:
“Não está certo que só nós fiquemos sem fazer nada, quando viemos aqui para dedicar." Assim,
passaram a participar dos trabalhos com os demais componentes do grupo. No momento em que se
empenharam para valer, apresentaram um rendimento admirável, dando conta do serviço de duas ou
três pessoas. E não foi só: o dinheiro e outros objetos que haviam desaparecido, foram sendo
devolvidos. Quando os outros dedicantes se ausentavam para o trabalho, eles os colocavam de novo em
seus lugares sem que ninguém visse.
No fim do período de dedicação do grupo, durante uma confraternização realizada no alojamento, o
indivíduo que era uma espécie de líder daqueles jovens, subitamente, levantou-se e, chorando, confessou
que, através do contacto com a postura de todos durante a dedicação, percebera que seu modo de vida
estava errado. Manifestando o propósito de mudar seu pensamento e viver com seriedade dali em
diante, ele se desculpou do fundo do coração, pela sua falta de respeito. Em seguida, seus companheiros
se levantaram sucessivamente e também se desculparam. Os demais componentes do Grupo de
Dedicação, tocados por esse quadro, cumprimentaram-nos pela mudança de pensamento, e a emoção foi
geral.
Houve muitos outros exemplos de pessoas que, tendo firmado o propósito de elevar-se espiritualmente
através de sua dedicação na construção do Solo Sagrado, iniciaram uma vida nova. Muitas sentiram
vontade de se dedicar integralmente à Obra Divina e voltaram para seus lares decididas a seguir a
carreira missionária. Vendo a atitude dedicada dos fiéis, os trabalhadores profissionais já não
executavam as tarefas apenas porque aquela era a sua profissão; passaram a realizá-las com alegria,
considerando-as como trabalhos atribuídos por Deus.

Figura

Primeira turma do grupo de dedicantes que participaram da construção da Terra Celestial de Atami

Pela absoluta confiança que depositava nos dedicantes, o Fundador não estabeleceu horário de entrada
e saída. Quanto ao prazo para o término de cada obra, também estava sob a responsabilidade deles, que
desenvolviam os trabalhos por iniciativa própria. Até os profissionais, que começaram a trabalhar como
se estivessem iniciando um serviço comum, foram tomando uma postura diligente à medida que iam
vivendo naquele ambiente. A propósito, o Fundador escreveu: "Todos estão tão entusiasmados que nem
querem saber de problemas trabalhistas. Executam as tarefas da melhor forma possível, com muita
vontade de que tudo esteja ao meu gosto, e por isso os resultados são de uma categoria como não se
encontra na sociedade. Dependendo do serviço, eles usam lâmpadas e ficam trabalhando até altas horas
da noite. Vejo isso acontecer com muita freqüência."

Figura

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Décima primeira turma de dedicantes que participaram da construção da Terra Divina de Hakone.
Atrás, vê-se o Museu de Arte em construção

Com base na sua experiência de empresário e na realidade do Mundo Ideal evidenciada por meio da
Revelação Divina, o Fundador depreendia, através da obra de construção do Solo Sagrado, a
verdadeira imagem do relacionamento entre patrão e empregado. Nessa obra, ficou patenteado que,
quando o empregado trabalha com todo afinco para engrandecer o patrão e este também tem por
objetivo a felicidade e o bem do empregado, o trabalho se desenvolve num ambiente celestial, rende
mais, e a empresa prospera.
A obra de grande escala efetuada em Hakone e Atami foi realizada logo após o término da Segunda
Guerra Mundial, quando os materiais e a maquinaria eram limitados. Conseqüentemente, como
dissemos, ela foi quase que totalmente executada pelas mãos humanas. Numa grande obra em que a
força humana é o elemento principal, costumam acontecer acidentes; aquela, entretanto, graças à
proteção Divina, desenvolveu-se sem a ocorrência de nenhum acidente considerável. Certa ocasião em
que se pensou que iria ocorrer um grave acidente, ele foi milagrosamente evitado. No dia 8 de março de
1949, o jornal "Hikari" noticiou o seguinte fato :
"A construção do templo no Monte Zuiun, em Atami, apresenta um adiantamento inesperado, graças à
fervorosa dedicação de todos os fiéis. Dias atrás, aconteceram dois milagres misteriosos, que
absolutamente não foram uma simples coincidência. Um deles ocorreu por ocasião da escavação de uma
montanha. Quando se escavam montanhas muito íngremes, ocorrem freqüentes desmoronamentos de
terra, os quais são extremamente perigosos. Ora, durante o trabalho de alguns dedicantes, houve um
desmoronamento bem em cima deles. Como isso aconteceu de repente, eles não tiveram tempo para
fugir. Assim, pensou-se que todos tinham ficado soterrados, mas qual não foi o milagre! Os dedicantes
estavam enterrados só até a cintura e seus ferimentos eram mínimos. Assim que foram socorridos pelos
companheiros, recomeçaram a trabalhar normalmente. O outro milagre evidenciou-se durante o
transporte de uma carreta, que caiu num barranco de mais de dez metros de altura. A pessoa que a
conduzia chegou a pensar que ficaria esmagada sob ela, mas, emaranhando-se no mato que havia no
barranco, foi salva por um triz."

O fato que se segue aconteceu no verão de 1945, quando se estava colocando o telhado da Casa de
Contemplação da Montanha.
Em Hakone, o transporte de rochas enormes era muito freqüente. Havia, portanto, um grande perigo.
Um jovem que dedicava na construção do jardim em volta daquela casa, prendeu a mão entre duas
rochas, e o sangue imediatamente começou a escorrer. O Fundador passava por ali bem nessa hora e,
tão logo viu o que estava ocorrendo, começou a ministrar Johrei do lugar onde se encontrava, a uns três
metros e sessenta de distância do rapaz. O sangue, que saía em grande quantidade, estancou em cerca
de três minutos. Vendo isso, o Mestre deixou o local como se nada tivesse acontecido, mas as pessoas
que ali estavam ficaram maravilhadas, sentindo-se tomadas por uma sensação arrepiante, semelhante à
emoção que se tem ao vencer uma guerra. Abismadas, permaneceram estáticas, olhando o Fundador se
afastar.

b) A CONSTRUÇÃO DOS JARDINS E OS PROFISSIONAIS

A partir de 1944, o Fundador costumava passar de quatro a cinco meses em Hakone (época quente do
ano), e o restante do ano, em Atami. Quando estava nesta cidade, quase todas as tardes, ele ia à Terra
Celestial, para dar instruções sobre a construção, e permanecia lá durante uma ou duas horas. Estando
em Hakone, saía várias vezes para o jardim, mas ao entardecer, sempre dava uma volta de uma hora
pela Terra Divina, andando bem devagar. Nessa ocasião, às vezes também dava instruções sobre a obra,
mas sem se deter em pormenores. Ao ver o que ficara pronto, dizia: "Está bom" ou "Não está bom", e
dava novas instruções. Uma vez dito "Está bom”, a coisa estava decidida, e ele jamais voltava a tocar
no assunto. De início, quando os profissionais recebiam suas orientações, ficavam aborrecidos,
pensando: "Ele é um amador e fica dando instruções." Entretanto, devido ao aguçado sexto-sentido que
o caracterizava e ao modo como ele dirigia o trabalho, jamais vacilando quando colocava um objetivo,
logo lhe tiraram o chapéu e, pouco a pouco, passaram a obedecer-lhe de boa vontade.

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O discernimento e as decisões do Fundador eram tão rápidos que as pessoas que recebiam suas
instruções, ficavam em apuros para seguir-lhe o ritmo. Os profissionais e os dedicantes, recebendo uma
ordem sua, mostravam-se preocupados com o prazo e o orçamento e, freqüentemente, achavam que
seria impossível executar a tarefa. Entretanto, quando eles se empenhavam com todas suas forças,
concluindo um trabalho depois de refazê-lo duas, três vezes, constatavam que ele havia ficado conforme
o Fundador determinara. Surpreendiam-se, então, com sua visão precisa e com a grandeza de sua
inteligência.
As instruções e os planos do Mestre tinham por base a previsão de um futuro bem distante e, por isso,
ouvindo suas palavras, as pessoas não percebiam sua verdadeira intenção, sentindo-se perdidas.
Entretanto, com o passar do tempo, aquilo que acreditavam não passar de um sonho, tornava-se
realidade, e elas compreendiam que a suposta utopia na verdade era um plano racional.
Ao executar uma tarefa, o Fundador costumava dizer: "Basta que façam como eu digo para
fazer." Entretanto, quando se tratava de pessoas experientes, a tendência era que elas colocassem suas
próprias idéias em ação, não conseguindo obedecer às instruções do Fundador. Havia algumas que
recebiam repreensões um tanto estranhas: "Você trabalha bem demais e, por isso, o trabalho não fica
bom. Aqueles que não conhecem o serviço de jardinagem ou qualquer outro, fazem conforme eu digo
para fazer. Quem o conhece, executa-o de acordo com a sua própria cabeça. Isso não é bom. "
O fato que se segue, aconteceu na época em que estava sendo construído o Jardim dos Musgos, na
Terra Divina, em 1952. O Fundador mandou que o jardineiro movesse, uns trinta centímetros, uma
grande rocha existente num canto do jardim, mas ele a moveu apenas alguns centímetros. O Fundador
mandou que refizesse o trabalho e, desta vez, o jardineiro moveu a pedra apenas dez centímetros.
Mandando-o executar o serviço de novo, o profissional ainda não o fez de acordo com suas instruções, e
então, sem outra alternativa, o Fundador chamou o chefe dos jardineiros. Este prestou bastante atenção
às suas palavras e, em três ou quatro horas, concluiu o trabalho conforme lhe fora indicado. A rocha em
questão encaixou perfeitamente no local.

Ensinando a importância da docilidade, o Mestre sempre dizia: "Ainda que o pessoa se julgue
com capacidade para realizar algo, ela deve fazer docilmente aquilo que eu digo para fazer. Agindo-se
assim, conseguem-se resultados magníficos." Esse era também o princípio que o norteava na vida do
dia-a-dia, mesmo estando no estado espiritual em acordo com a Vontade de Deus.
Além do fator docilidade, devemos ver, nesse episódio da rocha, o zelo que o Fundador tinha pela
construção do Solo Sagrado. Se a rocha estivesse bem no meio do jardim, estaria muito à vista das
pessoas e, por isso, seria até natural que fosse preciso refazer o trabalho duas ou três vezes. Mas não.
Ela estava em frente do salão de descanso do Museu de Arte, escondida atrás da ponte que vai dar no
Jardim dos Musgos, não ficando muito à vista das pessoas. Além disso, era tão grande, que duas ou três
pessoas não conseguiam movê-la. Para deslocá-la um pouco era preciso usar uma cremalheira montada
num cavalete formado de três toras. Se fosse atualmente, ela seria facilmente deslocada com máquinas,
mas, na época, tudo era feito com a força humana, de modo que o trabalho não era nada pequeno.
Na construção do Jardim Sagrado, como vemos, sem se importar com o trabalho e o tempo
despendidos, o Fundador esforçava-se para construir algo que realmente estivesse impregnado de amor,
até mesmo tratando-se de uma rocha situada num canto. Esse seu sentimento está contido profunda e
pormenorizadamente em cada árvore e em cada pedra dos Solos Sagrados de Hakone e Atami.

FIM DO SEGUNDO VOLUME

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